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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE RONDONÓPOLIS/MT. Processo n° GABRIEL MATOS, filho de ........... e , nascido em 00/00/0000, portador da Cédula de Identidade Civil RG nº........., inscrito no CPF sob nº , brasileiro, casado, residente e domiciliado na Rua......, nº....., bairro , cidade de Rondonópolis vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar RESPOSTA À ACUSAÇÃO com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código de processo Penal, às acusações que lhe são imputadas na denúncia pelo Ministério Público. Para tanto expõe e requer: Em decorrência da peça vestibular, firmada pelo ilustre representante do Ministério Público, o acusado está sendo processado como incurso nas sanções do Artigo 147 - Ameaça, do Código Penal, requerendo a Absolvição Sumária, do artigo 397, inciso III do Código de Processo Penal. I– DOS FATOS No dia 03 de março de 2018, por volta das 20h00min, no bar Mendes, situado na Avenida Amazonas n.º 310, nesta Comarca, o denunciado ameaçou causar mal injusto e grave contra Maria, sua esposa e companheira há 12 (doze) anos. Isso porque, conforme consta dos autos de investigação em anexo, na data e local dos fatos, o denunciado teria encontrado sua esposa acompanhada de um sujeito desconhecido. Questionada sobre sua identidade, a vítima revelou ao denunciado que seria Marcos, sujeito com o qual mantinha um relacionamento extraconjungal há 8 (oito) meses. Ainda, a vítima também revelou ao acusado que desejava se separar. Surpreendido com tais revelações, o denunciado disse em alto e bom tom que “jamais aceitaria a separação”, causando à vítima fundado temor de mal injusto e grave, afinal, segundo informações repassadas pela própria vítima aos policiais, o denunciado estaria bastante irritado com toda aquela situação (termos de depoimentos de fls. 07/09). Após a ameaça, o acusado evadiu o local. Entretanto, por volta das 23h00min do mesmo dia, a vítima, acompanhada por Policiais Militares, encontraram o acusado quando ele se encontrava em sua residência. E, neste momento, foi imediatamente autuado em flagrante. II – DO DIREITO Ademais, os dispositivos enunciados acima são corolários do princípio constitucional da presunção de inocência e do devido processo legal, estabelecidos, respectivamente, no art. 5º, LIV e LVII, ambos da Constituição Federal de 1988. Da leitura da peça acusatória em cotejo com o conjunto probatório produzido na fase policial, verifica-se que a edição do decreto absolutório é medida que se impõe, conforme se demonstrará. II.1 – Preliminarmente II.1.a – Da inépcia da denúncia – Art. 335, I, do Código de Processo Penal. Primeiramente, cumpre salientar que a denúncia oferecida pelo Ministério Público padece de flagrante inépcia. O Código de Processo Penal, traz em seu artigo 564, inciso III, alínea e inciso IV a nulidade absoluta por falta de formalidade essencial do ato: “Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: ............. III – por falta das fórmulas ou dos termos seguintes; e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos concedidos à acusação e à defesa; IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato”. A jurisprudência existente com relação ao acima mencionado: APELAÇÃO CRIMINAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA. NULIDADE DO PROCESSO. INVESTIGAÇÕES REALIZADAS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. POSSIBILIDADE. TITULAR DA AÇÃO PENAL PÚBLICA. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS. INOCORRÊNCIA. NULIDADE DA SENTENÇA. ENCERRAMENTO DA INSTRUÇÃO SEM A JUNTADA DE CARTA PRECATÓRIA. INOCORRÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 222 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NULIDADE DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO REALIZADA SEM A PRESENÇA DO RÉU. OCORRÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA CONFIGURADO. 1. Na esteira dos recentes precedentes do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público, titular da ação penal pública que é, pode realizar investigações preliminares, colhendo elementos probatórios indispensáveis a legitimar o oferecimento de eventual ação penal. 2. A Teoria dos Poderes Implícitos consubstancia a ampliação dos poderes investigatórios do Ministério Público e a desnecessidade de inquérito policial. 3. O inquérito policial é peça meramente informativa, não constituindo pressuposto indispensável à formação da opinio delicti. 4. A realização da audiência de instrução e julgamento antes da devolução da carta precatória expedida para oitiva da testemunha de defesa não configura nulidade, vez que o artigo 222 do Código de Processo Penal é claro ao prever que além de a expedição da precatória não suspender a instrução criminal, findo o prazo marcado, poderá ocorrer regularmente o julgamento. 5. Observar a defesa técnica, sem, contudo, permitir a autodefesa, garantindo-se ao acusado seu direito de presença na audiência, gera nulidade absoluta, já que evidente o prejuízo causado, nos termos do artigo 564, inciso III, e do Código de Processo Penal. 6. A participação do réu na instrução criminal é direito público subjetivo deste e legitima a própria jurisdição, que deve ser imparcial, justa e legal, com observância das garantias constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal. (TJ-MG - APR: 10439140029786001 MG, Relator: Maria Luíza de Marilac, Data de Julgamento: 12/05/2015, Câmaras Criminais / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 22/05/2015) Por fim Eminente Relator e Ínclitos Julgadores, para encerrar essa preliminar, a Defesa requer a nulidade de todos os atos realizados após a audiência. Caso não seja esse o entendimento de Vossas Excelências, em homenagem ao princípio da eventualidade, passa-se a demonstrar o conteúdo abaixo descrito. II.2 – No Mérito II.2.a – Da ausência de tipicidade – Art. 397, III, do Código de Processo Penal. À denúncia o Ministério Público imputou ao acusado a prática do delito de ameaça, conforme previsto no art. 147 do Código Penal. Da lição da doutrina tem-se que O crime de ameaça consiste na promessa feito pelo sujeito ativo de um mal injusto e grave feita a alguém, violando sua liberdade psíquica. O malameaçado deve ser injusto e grave. (...) A ameaça para constituir o crime tem que ser idônea, séria e concreta, capaz de efetivamente impingir medo à vítima.[2] Nota-se, portanto, que o crime de ameaça contempla elementares que não foram preenchidas no caso em debate: resta ausente a seriedade do mal prometido, capaz de influir negativamente no ânimo da ofendida, causando-lhe temor e receio de que a promessa venha a ser cumprida. É o que leciona Guilherme de Souza Nucci sobre o tema: Inexiste ameaça quando o mal anunciado é improvável, isto é, liga-se a crendices, sortilégios e fatos impossíveis. Por outro lado, é indispensável que o ofendido efetivamente se sinta ameaçado, acreditando que algo de mal lhe pode acontecer; por pior que seja a intimidação, se ela não for levada a sério pelo destinatário, de modo a abalar-lhe a tranquilidade de espírito e a sensação de segurança e liberdade, não se pode ter por configurada a infração penal. Afinal, o bem jurídico protegido não foi abalado. O fato de o crime ser formal, necessitando somente de a ameaça ser proferida, chegando ao conhecimento da vítima para se concretizar, não afasta a imprescindibilidade do destinatário sentir-se, realmente, temeroso.[3] (sem destaques no original) II.2 – Ausência de Justa Causa A justa causa como condição da ação penal aparece como um dos instrumentosimprescindíveis ao Estado para evitar o adensamento das lides penais viciadas por falta de provas ou indícios, assim reza o artigo 395 e seus incisos do Código de Processo Penal. A denúncia oferecida, não fornece todos os elementos básicos para a sua aceitação, visto a fragilidade probatória e a ausência de dolo, como restará demonstrado a seguir. A denúncia oferecida pela Douta Representante do Ministério Público não merece prosperar, tendo em vista que os fatos não se coadunam com a verdade real dos fatos. O delito de ameaça não restou configurado em suas elementares. Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci acerca da figura típica em debate: Elemento subjetivo: Em uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível que as pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de preencher o tipo penal. Excelência, para justificar a condenação pelo crime previsto no artigo 147 do Código Penal, é necessário que a ameaça seja idônea, sem qualquer animosidade entre a vítima e o acusado, vejamos: APELAÇÃO. AMEAÇA. DÚVIDA QUANTO AO ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO. ABSOLVIÇÃO. Ameaça consiste no dito: "a vida é uma só e é fácil de se tirar", desprovida de seriedade e em contexto conturbado, com animosidade e altercações, não enseja um substrato probatório sério a dar suporte a um juízo de condenação. Precedentes do STF. RECURSO PROVIDO. (Apelação Crime Nº 70050576313, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nereu José Giacomolli, Julgado em 22/11/2012) Nesse sentido, restou demonstrada a fragilidade das alegações feitas pela suposta vítima e pela testemunha, sendo que conviveram durantes 12 (doze) anos de casados e a vítima estava com uma relação extraconjugal há 8(oito) meses. Ainda, a vitima também revelou ao acusado que queria se separar. Desse modo, resta à dúvida sobre tal ocorrência, o que enseja sua absolvição. Vejamos o entendimento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais: O crime de ameaça à mulher deve ser levado a sério e sancionado com eficácia e efetividade, mas é preciso cautela quanto a isso, por que muitos podem ser julgados como culpados, uma vez que, não são. É pacífico o entendimento dos Tribunais no que se refere ao “princípio do in dubio pro reo”. Vejamos: APELAÇÃO CRIME. AMEAÇA. ARTIGO 147 DO CP. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. SENTENÇA CONDENATÓRIA REFORMADA. Ausente prova segura e conclusiva acerca da efetiva ocorrência do fato descrito na denúncia e de sua conformação típica, impositiva a absolvição do réu, tudo em observância ao princípio da prevalência de seu interesse - in dubio pro reo. A ameaça é delito formal que não exige resultado naturalístico, e sua comprovação se dá pela prova oral colhida, a qual, na espécie, não é suficiente para ensejar a condenação. RECURSO PROVIDO. (Recurso Crime Nº 71004640371, Turma Recursal Criminal, Turmas Recursais, Relator: Cristina Pereira Gonzales, Julgado em 27/01/2014). II. 4 Ofensas mútuas com ânimos alterados – Ausência de dolo – Atipicidade de conduta Com clareza, percebe-se que o contexto, narrado na denúncia, ocorrera quando ambos estavam com ânimos alterados. E isso, sem qualquer dúvida, afasta a lucidez das palavras e, via de consequência, a vontade de praticar o ato delituoso. Das lições do professor Guilherme de Souza Nucci, extraímos a seguinte passagem: “Em uma discussão, quando os ânimos estão alterados, é possível que as pessoas troquem ameaças sem qualquer concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de preencher o tipo penal. “ De toda conveniência salientar o seguinte julgado: APELAÇÃO. MPM. ART. 223 E 298, AMBOS DO CPM. GESTO DE PEGAR PEDRA E JOGÁ-LA NA MESA. ATITUDE DE DESABAFO EMOCIONAL. DOLO DE AMEAÇAR NÃO CARACTERIZADO. DESACATO. AUSÊNCIA DE INTENÇÃO DE OFENDER A DIGNIDADE, DECORO OU DEPRIMIR AUTORIDADE. NÃO CARACTERIZADO. APELAÇÃO NÃO PROVIDA.I. Militar que, em estado de cólera, após discussão com superior, pega uma pedra e joga em uma mesa, não comete o crime de ameaça, sendo o gesto característico de um desabafo emocional. II. A conduta de não acatar prontamente determinações da superior durante uma discussão, a realizando apenas com a intervenção de terceiros, só pode ser considerada desacato se configurado o dolo do subordinado em deprimir a autoridade da oficial ou atingir-lhe o decoro ou a dignidade. III. Caracterizado que o desrespeito ao superior se deu em face de profundo assomo emocional, potencializado por uso de medicação para tratamento psiquiátrico, fragiliza a formulação de um juízo positivo acerca do dolo de desacatar. Apelo desprovido. Decisão unânime. (STM; APL 221-25.2012.7.01.0201; RJ; Tribunal Pleno; Rel. Min. José Coelho Ferreira; DJSTM 26/02/2016) APELAÇÃO CRIMINAL. PRELIMINAR. INAPLICABILIDADE DA LEI MARIA DA PENHA. HIPOSSUFICIÊNCIA E VULNERABILIDADE PRESUMIDAS. PRELIMINAR REJEITADA. NULIDADE PROCESSUAL POR OFENSA AO ARTIGO 16 DA LEI Nº 11.340/06. RETRATAÇÃO POSTERIOR AO OFERECIMENTO DA DENÚNCIA. AUDIÊNCIA NÃO OBRIGATÓRIA. PRELIMINAR REJEITADA. MÉRITO. EXISTÊNCIA DO FATO COMPROVADA. PLEITO AFASTADO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. AMEAÇA PROFERIDA EM MOMENTO DE EXALTAÇÃO. AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. ABSOLVIÇÃO NECESSÁRIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Preliminar de inaplicabilidade da Lei nº 11.340/06: 1. Não há necessidade de comprovação da vulnerabilidade ou hipossuficiência da mulher, já que esta é presumida na Lei Maria da penha, sendo suficiente para sua incidência que a relação entre as partes seja íntima e a mulher oprimida nesse vínculo afetivo. 2. Preliminar rejeitada. Preliminar de nulidade por desrespeito ao artigo 16 da Lei nº 11.340/06: 1. A audiência prevista no artigo 16, da Lei nº 11.340/06 não é de natureza obrigatória, estando sua realização condicionada a manifestação da vítima, antes da denúncia, de retratar-se, o que não se observa na espécie. 2. Preliminar rejeitada. Mérito: 1. As provas dos autos são claras no sentido de que o apelante teve discussão acalorada com a vítima, chegando a proferir palavras interpretadas pelo juiz sentenciante como suficientes para qualificá-lo como incurso no delito de ameaça, sendo certa a existência do fato. 2. A conduta típica do delito de ameaça consiste em anunciar mal grave e injusto, o qual seja capaz de amedrontar a vítima. Pressupõe dolo específico de incutir medo, de modo que quando os ânimos estão alterados, não raro, são proferidas ameaças sem concretude, incapazes de configurar o tipo penal. 3. A frase tida como caracterizadora do crime de ameaça não é capaz de configurar o delito em apreço, visto que foi genérica e proferida em momento de fúria efêmera. 4. As provas reforçam que o acusado não era pessoa agressiva, e que tal fato foi isolado em sua vida, portanto, ainda que a discussão tenha passado dos limites, e as palavras proferidas sejam reprováveis, estas não são capazes de configurar o ilícito penal previsto no artigo 147 do Código Penal. 5. Recurso conhecido e provido. (TJES; APL 0003688- 54.2013.8.08.0021; Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Ewerton Schwab Pinto Junior; Julg. 16/12/2015; DJES 22/01/2016) APELAÇÃO. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO. AMEAÇA PROFERIDA EM PROFUNDO ESTADO DE CÓLERA. AUSÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE. RECURSO PROVIDO. No delito de coação do curso do processo, a ameaça precisa seridônea e séria, não se configurando o crime quando proferida em momento de cólera, revolta ou ira. (TJMG; APCR 1.0267.11.000023-4/001; Rel. Des. Alexandre Victor de Carvalho; Julg. 14/10/2014; DJEMG 20/10/2014) Desse modo, por mais esse motivo não assiste razão ao Ministério Público. II.5 Pretensa ameaça de mal presente Outra situação fática descrita na denúncia afasta por completo o suposto crime de ameaça, no caso uma ameaça atual e não futura. Veja que há a seguinte passagem: “… jamais aceitaria a separação.” Percebe-se, desse modo, que o suposto mal era de realização naquele momento do quadro narrado. É dizer, inexistiu qualquer promessa de mal futuro. Diante do acontecido, fazia 8 (oito) meses que Maria mantinha um relacionamento extraconjugal com Marcos. Ainda, a vitima também revelou ao acusado que desejava se separar. Portanto, o que foi falado foi em um momento de raiva, tendo em vista a não aceitação do divórcio. Assim, tem-se que: PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CRIME DE AMEAÇA. AUSÊNCIA DE ÂNIMO CALMO E REFLETIDO. PRÉVIA DISCUSSÃO ENTRE OS ENVOLVIDOS. NÃO CONFIGURAÇÃO DO DELITO. RECURSO PROVIDO. Para a configuração do delito tipificado no artigo 147, do CP, é indispensável que a ameaça seja proferida pelo autor com ânimo calmo e refletido, o que não ocorre quando os dizeres são proferidos logo após grave discussão, em que o réu fora agredido com socos e chutes pelo filho da vítima. Recurso provido. V.V.:APELAÇÃO CRIMINAL. AMEAÇA EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRELIMINAR. AUDIÊNCIA PRELIMINAR PREVISTA NO ART. 16. DESNECESSIDADE. MÉRITO. PROVAS SUFICIENTES. CONDENAÇÃO MANTIDA. 1. A audiência preliminar prevista no art. 16 da Lei nº 11.340/06 só deve ser designada quando a vítima manifestar desinteresse em prosseguir com a ação penal, antes do recebimento da denúncia. Assim não ocorrendo, inexiste nulidade, sobretudo quando presente a representação. 2. A palavra da vítima, aliada aos depoimentos de testemunhas presenciais, forma arcabouço probatório suficiente da materialidade e autoria da lesão corporal, devendo ser mantida a condenação. 3. Demonstrado que a promessa de um mal futuro e injusto foi suficiente para impor temor à vítima, resta configurado o crime de ameaça, não havendo que se falar em atipicidade da conduta, por falta de dolo específico, mormente se restar demonstrado que o réu compreendia perfeitamente o caráter ilícito de seus atos. 4. Ânimo calmo e refletido não constitui requisito do elemento subjetivo do delito de ameaça. 5. Recurso não provido. (TJMG; APCR 1.0024.12.318002- 8/001; Rel. Des. Corrêa Carmargo; Julg. 10/03/2015; DJEMG 18/03/2015) Com a mesma sorte de entendimento, leciona Cezar Roberto Bitencourt, verbo ad verbum: Caso não seja este o entendimento deste Douto Juiz, a absolvição ainda é medida que se impõe conforme o artigo 386, inciso VI, do Código de Processo Penal e assim aplicado o princípio. “Só a ameaça de mal futuro, mas de realização próxima, caracterizará o crime, e não a que se exaure no próprio ato; ou seja, se o mal concretizar-se no mesmo instante da ameaça, altera-se a sua natureza, e o crime será outro, e não este. Por outro lado, não o caracteriza a ameaça de mal para futuro remoto ou inverossímil, isso é, inconcretizável. “ (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 11ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2011, vol. 2, p. 408) Bem adverte André Estefam que prepondera, na doutrina e na jurisprudência, a linha de entendimento aqui lançada, in verbis: “Significa, no contexto do art. 147 do CP, um mal que possa ser cumprido em tempo breve. Discute-se nos tribunais, se a promessa de inflição de mal presente (isto é, no exato momento) configura crime. Prepondera o entendimento negativo, ao argumento de que o mal deve ser sempre futuro. “ (ESTEFAM, André. Direito penal. 2ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, vol. 2, p., 308) Por esse norte, não há que se falar no crime de ameaça, maiormente quando a denúncia descreve um quadro fático de mal atual, ou seja, ocorrido na ocasião do desfecho do pretenso delito. III – DO PEDIDO REQUERIMENTO DE PROVA Protesta o denunciado pela produção de todas as provas em direito admitio especial, prova documental e testemunhal 1- xxx, endereço 2- xxx, endereço PEDIDOS · Preliminarmente, requer seja declarada a nulidade absoluta do processo, pela inépcia da denúncia. Alternativamente, a denúncia deve ser rejeitada por ausência de justa causa, em atenção ao art. 395, III do CPP. · No mérito, requer-se a absolvição sumária do acusado, com fundamento no art. 397, III do CPP, uma vez que o fato narrado na denúncia não constitui crime. Diante do exposto requer seja anulada ab initio a presente ação penal ou, caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, que seja decretada a absolvição sumária, com fulcro no artigo 397 do CPP esteja presente: Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A e parágrafos, deste Código, o juiz absolver sumariamente o acusado quando verificar: I - a existência manifesta de causa de excludente da ilicitude do fato; II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV – extinta a punibilidade doa agente ou ainda, se não acolhido o pedido de ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA do Acusado, em face da atipicidade da conduta delitiva. Ante o exposto, está o denunciado Gabriel Matos como incurso nas iras do artigo 147, “caput” do Código Penal, pelo que requer o Ministério Público seja recebida a presente denúncia, com a consequente citação do réu para apresentar defesa no prazo legal, designando-se em seguida audiência de instrução, para que ao final seja condenado pela prática do crime de ameaça. Apresenta-se o competente rol de testemunhas, requerendo sua intimação para oitiva em juízo: Nesses Termos, pede deferimento. Rondonópolis, 12 de abril de 2018. Advogado OAB n°
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