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Fundamentos da Bioquímica Aula 05: Introdução à Enzimologia Prof. Luís Fernando Costa Jorge Enzimas • Os sistemas vivos são formados por uma variedade enorme de reações bioquímicas, e quase todas elas são mediadas por catalisadores biológicos conhecidos como enzimas; • A maioria das enzimas são proteínas, com exceção de um pequeno grupo de moléculas de RNA catalíticas; • Como toda proteína, a sua função está intimamente relacionada com a sua estrutura; • Portanto, a atividade catalítica de uma enzima depende da integridade da sua conformação nativa. Enzimas • Se uma enzima for desnaturada, ou dissociada nas suas subunidades, a sua atividade catalítica estará perdida; • No nosso corpo, as enzimas possibilitam que diversas reações que não ocorreriam ao acaso aconteçam em apenas alguns segundos, ou mesmo em fração deles; • A reação de catalisação mediada pela enzimas ocorre confinada em uma região específica denominada de sítio ativo; • A molécula que se liga no sítio ativo e sobre qual a enzima age, é denominada de substrato; • Toda enzima é específica para um substrato e o complexo enzima- substrato, é fundamental para a ação enzimática. Enzimas Uma reação enzimática simples pode ser escrita como: E + S ↔ ES ↔ EP 3 + P Onde: E = Enzima S = Substrato P = Produto ES e EP = Complexos transitórios da enzima com o substrato e com o produto No final de uma reação enzimática, a enzima (E) permanece inalterada, enquanto o substrato (S) sofre alterações transformando-se em um produto (P). Enzimas • Algumas enzimas necessitam de componentes químicos adicionais para exercerem a sua função; • Esses componentes são chamados de cofatores; • Eles podem se dividir em 3 grupos: Grupos Prostéticos São considerados como um cofator firmemente ligados às proteínas enzimáticas. Ex.: o grupo heme da hemoglobina. Coenzimas São moléculas orgânicas pequenas, termoestáveis que facilmente dissociam-se da proteína enzimática. Ex.: as vitaminas. Ativadores Metálicos São representados por cátions metálicos mono ou divalentes como K+, Mn2+, Mg2+, Ca2+ ou Zn2+. São indispensáveis para atividade de um grande número de enzimas. Esses íons podem estar fraca ou firmemente ligados a uma proteína enzimática. Energia de Ativação Enzimática • Grande parte do conhecimento sobre o modo como as enzimas catalisam as reações químicas é proveniente da teoria do estado de transição; • O estado de transição é um momento molecular transitório no qual eventos como a quebra de ligação, a formação de ligação ou o desenvolvimento de carga ocorrem com a mesma probabilidade de seguirem tanto para formar novamente o substrato como para formar o produto; • A diferença entre os níveis energéticos do estado basal e do estado de transição é chamada de energia de ativação (∆G+); • A energia de ativação é, portanto, a energia necessária para levar um mol de uma substância até seu estado de transição. Energia de Ativação Enzimática • Quanto maior a energia de ativação, mais difícil torna-se a reação; • Uma substância não pode chegar à sua energia de ativação sem um agente ou um fator que possibilite o aumento dessa energia por parte da molécula; • Os catalisadores atuam reduzindo a energia livre do estado de transição da reação catalisada. Energia de Ativação Enzimática Diagrama mostrando a energia livre de uma reação sem catalisador e com catalisador. Energia de Ativação Enzimática • As enzimas conseguem acelerar as velocidades das reações químicas por meio de diferentes mecanismos catalíticos, incluindo, por exemplo, a catálise ácido-básica, catálise covalente e catálise por íons metálicos: Catálise Geral Ácido-Básica É um processo no qual a transferência ou a remoção parcial de prótons de um ácido reduz a energia livre do estado de transição de uma reação. Catálise Covalente Acelera as velocidades das reações por meio da formação transitória de uma ligação covalente entre o catalisador e o substrato. Catálise por Íons Metálicos Metais, tanto ligados firmemente à enzima quanto tomados da solução juntamente com o substrato, podem participar da catálise das reações. Os metais participam dos processos catalíticos de três maneiras principais: ligando-se ao substrato para orientá-lo apropriadamente para a reação; mediando reações de oxidação-redução por intermédio de mudanças reversíveis no estado de oxidação do íon metálico ou estabilizando eletrostaticamente cargas negativas. Fatores que influenciam na atividade Enzimática • Um fator chave que afeta a velocidade das reações enzimáticas é a concentração do substrato [S]; • Quando o substrato é adicionado a uma enzima (E), a reação rapidamente atinge um estado estacionário no qual a velocidade pela qual o complexo ES se forma é compensada pela velocidade pela qual ES se decompõe; • Em uma concentração fixa de enzima, à medida que a concentração de substrato aumenta, a atividade do estado estacionário aumenta de maneira hiperbólica até se aproximar de uma velocidade máxima característica denominada de Vmáx na qual, essencialmente, toda a enzima formou um complexo com o substrato. Fatores que influenciam na atividade Enzimática • A concentração de substrato que resulta em uma velocidade de reação igual à metade da Vmáx é a constante de Michaelis (Km) a qual é característica para cada enzima agindo sobre determinado substrato; • Esta equação relaciona a velocidade inicial de uma reação (V0) com [S] e Vmáx por meio da constante Km. A cinética de Michaelis-Menten também é denominada cinética do estado estacionário. Fatores que influenciam na atividade Enzimática • Da mesma forma que um substrato interfere com a velocidade de uma reação enzimática, a temperatura e o pH em que a reação ocorre também influenciam; • As enzimas têm um pH (ou uma faixa de pH) ótimo no qual a atividade catalítica é máxima; • Da mesma forma, a temperatura também pode ser um fator limitante para a atuação das enzimas; • Em uma temperatura perto de 0°C a enzima praticamente não apresenta nenhuma reação, ao se aumentar a temperatura a reação enzimática torna-se favorecida; • Entretanto, a temperatura também é um fator que pode quebrar as ligações peptídicas das proteínas tirando a enzima de sua conformação nativa, e, portanto, sua função catalítica. Fatores que influenciam na atividade Enzimática • A temperatura e o pH, dessa forma, são responsáveis pela boa atuação enzimática, podendo alterar a conformação da molécula em casos de alterações bruscas, bem como podendo tornar a enzima muito mais eficiente no seu mecanismo de ação. Inibidores Enzimáticos • Inibidores de enzimas são moléculas que interferem com a catálise, diminuindo ou interrompendo as reações enzimáticas; • Uma só enzima pode ter muitos inibidores e a forma como eles atuam em uma determinada enzima também pode variar; • Uma vez que as enzimas catalisam quase todos os processos biológicos em uma célula, os inibidores enzimáticos apresentam grande importância médica. Inibidores Enzimáticos • Os inibidores enzimáticos podem ser classificados em dois grupos: • inibidores reversíveis • inibidores irreversíveis • Os inibidores irreversíveis reagem quimicamente com as enzimas, deixando-as inativas permanentemente; • Já os inibidores reversíveis podem ser classificados de acordo com a forma como atuam na enzima; eles podem ser classificados como inibidores reversíveis competitivos ou não competitivos. Inibidores Enzimáticos • Os inibidores reversíveis competitivos possuem uma estrutura molecular muito semelhante à do substrato; • Dessa forma, podem se ligar ao centro ativo da enzima formando um complexo enzima-inibidor semelhante ao complexo enzima-substrato; • Entretanto, o complexo enzima-inibidor nunca formará o produto,portanto, a ação da enzima estará bloqueada, diminuindo assim a velocidade da reação. Inibidores Enzimáticos • Os inibidores reversíveis não-competitivos não apresentam nenhuma semelhança estrutural com o substrato da reação que eles inibem; • Na verdade, nesse tipo de inibição os inibidores atuam com ligações em radicais que não pertencem ao centro ativo da enzima; • Esta ligação modifica a estrutura da enzima, afetando também a estrutura do centro ativo, não permitindo portanto que essa enzima se ligue ao seu substrato. Isoenzimas • O termo isoenzima faz referência às diferentes formas moleculares (alelos) que uma determinada enzima pode apresentar, porém, reagindo sempre com o mesmo substrato, ou seja, são enzimas que diferem na sua sequencia de aminoácidos porém apresentam funções catalíticas iguais ou semelhantes; • As isoenzimas resultam de mutações ao nível do DNA e que podem provocar diferenças significativas nas cargas iônicas das cadeias polipeptídicas e, ainda, nas suas dimensões e formas. Isoenzimas • Segundo a União Internacional dos Bioquímicos, a definição de isoenzimas seria: “Múltiplas formas de uma enzima apresentando, entre si, diferenças na estrutura primária, determinadas geneticamente” • As isoenzimas podem ocorrer em uma mesma espécie, em um mesmo tecido, ou até mesmo em uma mesma célula, podendo ser expressas em organelas distintas ou variar de acordo com o estágio de desenvolvimento da célula; • As diferentes formas de isoenzimas podem ser distinguidas umas das outras por propriedades bioquímicas, tais como propriedades cinéticas ou de regulação, qual o cofator utilizado por elas (NADH ou NADPH, por exemplo), ou na sua distribuição subcelular (solúveis ou ligadas à membrana). Isoenzimas • A existência de isoenzimas permite o ajuste fino do metabolismo para satisfazer as necessidades particulares de um determinado tecido ou determinado estágio de desenvolvimento do organismo; • Considere o exemplo da lactato desidrogenase (LDH), uma enzima com funções no metabolismo da glicose anaeróbia e síntese de glicose; • A LDH foi uma das primeiras enzimas descobertas a possuir isoenzimas; • Em tecidos de vertebrados existem pelo menos cinco diferentes isoenzimas da LDH; • Os seres humanos apresentam duas cadeias polipeptídicas isoenzimáticas para esta enzima: a isoenzima H altamente expressa em coração (H de heart em inglês) e a isozima M (M de muscle em inglês) encontrada no músculo esquelético. Isoenzimas • As sequências de aminoácidos dessas duas enzimas são 75% idênticas; • A enzima funcional é tetramérica e muitas combinações diferentes das duas subunidades (H ou M) são possíveis de se encontrar; • A isoenzima H4, encontrada no coração, tem uma maior afinidade para determinados substratos do que a isoenzima M4, por exemplo. Isoenzimas • Estas diferenças no conteúdo de isoenzimas nos tecidos celulares podem ser uma importante ferramenta para diagnóstico clínico; • Voltemos ao exemplo da LDH novamente. É possível de se avaliar a época e a extensão de danos causados ao coração devido a enfarte do miocárdio (ataque cardíaco) pela avaliação da liberação de isoenzimas de LDH do coração para o sangue; • Pouco tempo depois de um ataque cardíaco, o nível sanguíneo de LDH total aumenta, havendo mais isoenzima LDH2 do que a isoenzima LDH1; • Após 12 horas, as quantidades de LDH1 e LDH2 são muito semelhantes, e, após 24 horas há mais LDH1 do que LDH2; • Essa mudança na proporção entre LDH1/LDH2, combinada com o aumento no sangue de outra enzima do coração, a creatina quinase, é uma forte evidência de um recente infarto do miocárdio. Isoenzimas Em geral, a distribuição das diferentes isoenzimas de uma determinada enzima reflete, pelo menos, quatro fatores: 1. Diferentes padrões metabólicos em diferentes órgãos. Por exemplo, para a glicogênio fosforilase, as isoenzimas presentes no músculo esquelético e no fígado apresentam diferentes propriedades reguladoras, refletindo os diferentes papéis de quebra de glicogênio nestes dois tecidos. 2. Diferentes locais e funções metabólicas para as isoenzimas em uma mesma célula. Por exemplo a isoenzima da isocitrato desidrogenase presente no citoplasma e na mitocôndria, exercendo diferentes papéis em cada local. 3. Diferentes estágios de desenvolvimento em tecidos embrionários ou fetais e em tecidos adultos. Por exemplo, o fígado fetal tem uma distribuição característica da isoenzima LDH, que muda conforme o órgão se desenvolve na sua forma adulta. Algumas enzimas do catabolismo da glicose em células malignas (cancerosas) ocorrem como sua fetal, e não como sua forma em adultos. 4. Respostas diferentes de isoenzimas para moduladores alostéricos. Esta diferença é útil para o ajuste fino de taxas metabólicas. Por exemplo, a hexoquinase IV (glicoquinase) do fígado e as isoenzimas hexoquinase de outros tecidos diferem na sua sensibilidade à inibição por glucose-6-fosfato. Atividade para a Próxima Aula Laboratório em Casa Tema: Propriedades das proteínas e cinética enzimática Atividade para a Próxima Aula Para essa atividade você irá precisar de: • Uma batata pequena; • 100 mL de peróxido de hidrogênio – H2O2 (Água oxigenada 10 a 30 volumes). A CREMOSA NÃO SERVE. Um frasco é suficiente; • Quatro copos; • Uma panela pequena; • Aquecedor (fogão, micro-ondas ou “banho maria”); • Um garfo e uma faca; • Meio copo de suco de limão ou meia xícara de café ou meio copo de refrigerante à base de cola; • Detergente; • Quatro pires ou pratos pequenos; • Papel e caneta; • Celular para fazer fotos e vídeos. Atividade para a Próxima Aula Siga as instruções abaixo por etapas: 1. Descasque a batata; 2. Corte a batata em cubos médios (uma batata pequena pode ser cortada em seis e até em oito pedaços); 3. Prepare em cada copo os seus “Meios de Reação”, com volume suficiente para cobrir os pedaços de batata: a. Água a temperatura ambiente (condição controle); b. Água fervendo (condição experimental 1); c. Suco de limão ou café ou refrigerante (condição experimental 2); d. Detergente (condição experimental 3); 4. Adicione um ou dois pedaços de batata em cada um dos copos e marque o tempo. Deixe-os por um minuto; 5. Retire os pedaços de batata e coloque-os sobre os pires separados, de modo que saiba identificar cada um, as diferentes condições em que estiveram. Atividade para a Próxima Aula 6. Agora, adicione cerca de 20 mL de água oxigenada sobre as batatas (não precisa cobrir toda a batata), espere um pouco e observe; 7. Registre todas as suas observações, compare o que você está vendo acontecer em cada pedaço de batata; 8. Faça vídeos e fotos, compartilhe com os seus colegas e leve para a aula para conversar a respeito; 9. Descarte o material utilizado, limpe tudo, lave, seque e guarde seus equipamentos; 10.Responda às questões a seguir. Atividade para a Próxima Aula Questões 1. Defina o que é Sítio Ativo ou Sítio Catalítico. 2. Identifique quais são os substratos e produtos da enzimas peroxidase. 3. Correlacione a formação do produto da reação enzimática às observações feitas a partir das diferentes condições. 4. Como você espera que esteja a estrutura tridimensional da enzima em cada uma das condições? 5. Explique o que houve com a enzima em cada condição testada. Atividade para a Próxima Aula Recomenda-se a leitura no livro proprietário da disciplina (seguintes unidades e páginas): 2.2 Proteínas 32 2.2.1 Estrutura das Proteínas 32 2.2.2 Função das Proteínas 36 2.3 Enzimas 39 2.3.1 Energia de ativação enzimática 40 2.3.2 Fatores que influenciam na atividade enzimática 42 2.3.3 Inibidores Enzimáticos 43 2.3.4 Isoenzimas 44 Atividade para a Próxima Aula Obrigado!
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