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Idade Média e o Desenvolvimento da Filosofia do Direito em Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e Guilherme de Ockham

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro 
Centro de Ciências Jurídicas e Políticas 
Direito 
 
 
 
 
Idade Média e o Desenvolvimento da Filosofia do Direito em Santo 
Agostinho, São Tomás de Aquino e Guilherme de Ockham 
 
 
 
 
 
 
 
Lucas Bastos Vieira 
Pedro Henrique Calazans de Araujo 
Rodrigo Figueiredo da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2014 
Lucas Bastos Vieira 
Pedro Henrique Calazans de Araujo 
Rodrigo Figueiredo da Silva 
 
 
 
 
 
Idade Média e o Desenvolvimento da Filosofia do Direito em Santo 
Agostinho, São Tomás de Aquino e Guilherme de Ockham 
 
 
 
 
 
Professor: Luiz Otávio 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2014 
Aos professores Flora Strozenberg e Luiz Otávio, pelos temas e orientação que 
tornaram possível а pesquisa e realização deste trabalho. 
Também nossos sinceros agradecimentos ao professor Daniel Pêcego e a Marcos 
Paulo Fernandes pela orientação da bibliografia a ser utilizada 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“As pessoas costumam amar a verdade 
quando esta as ilumina, porém tendem a 
odiá-la quando as confrontam.” 
Santo Agostinho 
 
RESUMO 
 
 
 
O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar e delinear a mudança de 
pensamento no mundo jurídico através da Idade Média, suas contribuições e 
avanços, através de uma investigação histórica da filosofia do Direito,.A investigação 
se dará a partir do pensamento de três autores que mais contribuíram para a 
formação do pensamento das épocas seguintes a eles: Agostinho de Hipona, Tomás 
de Aquino e Guilherme de Ockham. Santo Agostinho aparecerá como principal 
influenciador do pensamento da Alta Idade Média e a mudança de visão de mundo a 
partir da queda do Império Romano do Ocidente e a introdução dos costumes dos 
povos bárbaros na vida europeia. Santo Tomás surge no meio da revolução 
escolástica trazendo uma releitura dos textos aristotélicos que marcará 
profundamente o pensamento da Baixa Idade Média. E por fim, Guilherme de 
Ockham como preparador do caminho para as reformas de pensamento que 
culminarão no positivismo jurídico moderno. 
 
Palavras-chave: Filosofia, Direito, Idade Média, Cristianismo, Catolicismo, Santo 
Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Escolástica, Guilherme de Ockham 
ABSTRACT 
 
 
 
The overall goal of this work is to demonstrate and outline the change in thinking in 
the legal world through the Middle Ages, their contributions and advances, through a 
historical investigation of the philosophy of law.'s Investigation will take place from 
the thought of three authors who contributed most to the formation of thought to them 
the following times: Augustine of Hippo, Thomas Aquinas and William of Ockham. 
Augustine appears as the main influencer of thought of the High Middle Ages and the 
change in worldview from the fall of the Western Roman Empire and the introduction 
of the customs of the barbarians in European life. St. Thomas appears in the middle 
of scholastic revolution bringing a reinterpretation of Aristotelian texts that score 
deeply the thought of the Middle Ages. And finally, William of Ockham as preparer of 
the way for reforms of thought culminating in the modern legal positivism. 
 
Keywords: Philosophy, Law, Middle Ages, Christianity, Catholicism, St. Augustine, 
St. Thomas Aquinas, Scholasticism, William of Ockham 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6 
2 SANTO AGOSTINHO E O PENSAMENTO JURÍDICO DA ALTA IDADE MÉDIA ... 7 
3 A BAIXA IDADE MÉDIA E A REVOLUÇÃO ESCOLÁSTICA ................................. 12 
4 A PREPARAÇÃO DO CAMINHO PARA O POSITIVISMO EM GUILHERME DE 
OCKHAM................................................................................................................... 15 
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 17 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18 
6 
1 INTRODUÇÃO 
O primeiro passo para uma investigação como esta que é proposta neste 
trabalho é o afastamento da visão errônea e inautêntica de que não houve produção 
cultural e filosófica durante o período conhecido como Idade Média. Ao contrário, 
como será mostrado, a produção foi tão rica que se torna tarefa muito difícil estudar 
todos os aspectos e avanços da vida intelectual desta era. 
A quebra na visão de mundo que se deu com a crise da Antiguidade Clássica 
surge com uma ebulição de tradições e costumes riquíssimos em expressão através 
da vida camponesa da sociedade feudal, sempre envolta numa nova áurea de vida 
religiosa, com a ascensão e consolidação do cristianismo como principal religião 
europeia. 
A reflexão desse novo modo de vida no continente também é profunda na vida 
intelectual através dos séculos. Surge uma nova maneira de enxergar a ciência e 
sua relação com o mundo, já que se passa a ter a preocupação com a verdade 
última das coisas, consequência do ambiente altamente religioso. 
As investigações filosóficas, teológicas e científicas se revestiram de tamanha 
seriedade e compromisso que suas consequências foram enormes para os séculos 
seguintes. 
Neste rico ambiente de novidades e seriedade, surgem autores que marcarão 
fortemente a vida de todos os ocidentais a partir deles, mesmo que os indivíduos 
não tomem consciência disso. Alguns são os autores que trazemos neste trabalho. 
Como não poderia deixar de ser, devido ao ambiente político da época, o 
pensamento destes autores também incidiu e marcaram mudanças pesadas no 
mundo jurídico, mudanças que podem ser percebidas até hoje. 
É de suma importância a compreensão da natureza destas mudanças, a sua 
relação com as novas visões do Direito e sobre como elas marcaram a vida das 
pessoas da Idade Média e continua marcando até hoje as nossas vidas. 
 
7 
2 SANTO AGOSTINHO E O PENSAMENTO JURÍDICO DA ALTA IDADE MÉDIA 
Seria tarefa impossível analisar a mentalidade medieval sem considerar a 
influência Agostiniana. Seus livros e homilias serviram como guias para a vida tanto 
de imperadores quanto de monges e camponeses. Carlos Magno ordenava que a 
Cidade de Deus fosse lida em todas as refeições. Essa influência também se deu no 
mundo jurídico, com as novas visões sobre justiça, ordem e paz. 
Para começar, é importante não esquecer que Agostinho não era um jurista, nem 
tinha pretensões de tal. Todos os seus textos são pastorais, orientações para a vida 
de seus fiéis na comunidade cristã de que era bispo. Sua preocupação era orientar a 
vida dessas pessoas no meio das mudanças que estavam acontecendo no mundo 
ocidental, reavivando a esperança cristã e o sentido de vida e de mundo, para que 
não se percam na grande ebulição que acontecia de filosofias pagãs e heréticas. 
Por isso se fará uma análise de seu pensamento e influência não só através de 
seus escritos mais célebres, A Cidade de Deus e As Confissões, mas também de 
outros escritos polêmicos que são ricos em implicações para o mundo do Direito, 
como a obra contra o maniqueísmo (Contra Faustum) e a carta Ad Ilarium, em que 
faz a defesa da propriedade. 
Um ponto importante para podermos entender o pensamento desse autor é 
compreender seu rompimento com o movimento maniqueísta, que pregava o mundo 
como um constante conflito entre forças opostas, o bem e o mal. A consequência 
dessa filosofia é uma negação de mundo e da vida cotidiana, uma vez que qualquer 
fenômeno material, como a propriedade e até o nascimentode uma criança, é 
originado da força negativa, o mal. 
Agostinho passa combater esse movimento quando o entende como negação da 
própria natureza, já que o mundo material é derivado do mal. Então ele parte numa 
investigação filosófica, sustentado pelo conhecimento que adquiriu com os textos 
platônicos, e faz a conclusão que reverteria esse jogo: o mal não existe como 
substância, ele não tem essência. O que entendemos como "mal" é apenas a 
ausência do Bem, que existe como essência de Deus. 
Essa conclusão se mostra extremamente importante para toda a filosofia 
ocidental. Michel Villey aponta o santo como responsável pela "reabilitação da 
natureza", consequência que vai sustentar todos os fundamentos da vida ocidental 
8 
após a queda de Roma, e é fundamental para a filosofia do Direito, pois sem ela 
nenhuma lei teria fundamento, pois seria essencialmente má por estar presa no 
mundo material. 
A partir daí, Agostinho consegue sustentar várias defesas que antes, com a visão 
maniqueísta, não eram possíveis. No escrito "De Bono Conjugali" ele faz a defesa do 
direito do casamentos, nas cartas contra os donatistas faz a explanação de como 
deve ser a relação entre Igreja e Estado, faz a defesa da propriedade em Ad Ilarium, 
disserta sobre o conhecimento humano e o lugar da ciência em De Magistro e nas 
cartas contra os pelagianos. 
Ainda escreve uma obra que irá marcar toda a educação na alta idade média: De 
Doctrina Christiana. Nesta obra aparecerá novamente a temática da ciência e da 
razão e seu lugar no mundo. Junto com as cartas contra os pelagianos, essas obras 
botarão em xeque o pensamento jurídico e político da antiguidade clássica e do 
Império, pois afirmam a insuficiência do homem, inclusive em pretensão de paz, 
ordem e principalmente, justiça. 
O motivo dessa linha de pensamento agostiniana é fácil de ser entendido. Para o 
autor, todo o bem e justiça provêm de Deus, e somente Ele os possui. Assim, toda 
pretensão de justiça humana é falha, pois é movida por interesses e está num plano 
imperfeito por causa do pecado, o homem é incapaz de alcança-la pois não pode ter 
pretensões divinas. 
Nesta linha também se encontra a magnum opus agostiniana: A Cidade de Deus, 
que vai influenciar fortemente a mentalidade política medieval. Nesta obra o santo 
nos apresenta duas cidades, não materiais, antagônicas, a citas Dei e a citas 
peccati. Ocorre que a vontade humana é como um pêndulo, que ora pende para a 
cidade de Deus, onde está a Justiça e o Bem, e ora para a cidade do pecado, onde 
prevalece a concupiscência e a imoralidade. Neste contexto que é possível 
compreender o que é a cidade terrestre real para Santo Agostinho, é imperfeita 
porque seria impossível o pêndulo humano permanecer sempre na citas Dei. Reflete 
uma ordem temporal imperfeita. Porém, cabe aos homens e aos seus governantes 
se esforçarem para que essa cidade real seja parecida ao máximo à cidade celeste. 
Explicando ainda como a cidade terrestre deve refletir a celeste, o bispo 
desenvolve um conceito que mais tarde vai ser muito importante para os 
escolásticos desenvolverem suas teses sobre o direito natural. Santo Agostinho traz 
a ideia de Lei Eterna, a lei divina que existe na natureza antes dela mesma, que 
9 
permeia todas as coisas, é universal, e por isso não pode estar sob o jugo de 
costumes locais. Essa lei está presente na revelação, nas sagradas escrituras. 
Surge então um novo entendimento de Justiça: a cristã, bem diferente em 
essência da grega e da romana. Para os cristãos, agora se orientando por 
Agostinho, a Justiça é fazer a vontade de Deus. 
Essa visão de mundo foi quase hegemônica no ocidente durante toda a Alta 
Idade Média, o que trouxe problemas práticos quando foi traduzido no pensamento 
jurídico da época. O primeiro problema é a incapacidade de formulação da Justiça 
bíblica, pois esta é demasiado abstrata para poder ser utilizada nos tribunais 
seculares. Como julgar um criminoso se a bíblia nos manda perdoar setenta vezes 
sete? Surge assim mais um problema: a inaptidão para a sanção da justiça cristã. 
Também se pode apontar a exigência moral que tal visão traz. A vida de todas as 
pessoas devia se pautar pela lei divina, ou seja, todos em busca da santidade. Isso 
funcionou no ambiente de caráter monástico da idade média, mas começaram a 
haver conflitos e choques quando era necessário tratar com os pagãos, seja no 
comércio ou em outros aspectos da vida prática. Era difícil lidar com transações 
comerciais devido a essa alta exigência moral. Por exemplo: qual seriam trocas 
comerciais justas? Lucro e juros são legítimos? Pela moralidade agostiniana, não. 
Santo Agostinho sabia desses problemas, então acaba por desenvolver um 
paradoxo para soluciona-los, e garantir certa ordem temporal política, mesmo que 
imperfeita, já que a perfeição é impossível neste plano. Acaba por estabelecer o 
seguinte princípio: as leis de origem profana não podem ter pretensão de justiça, 
pois são essencialmente injustas. Contudo, devem ser obedecidas. Resolve-se o 
problema da política, mas há de se resolver este novo paradoxo. Como obedecer a 
uma lei sabendo que esta é injusta? 
O excelentíssimo autor então nos dá três argumentos para a validade das leis 
terrenas. O primeiro é uma justificação bíblica: em toda a história do povo hebreu 
Deus benzia um líder para guiar e ordenar a vida da população, e era justo que este 
fosse obedecido. Assim foi com o Rei David e o Rei Salomão, este último 
considerado um dos reis mais sábios que já existiu. No novo testamento, o próprio 
Cristo se apresenta como profundo respeitador da lei dos judeus e até do 
pagamento de tributos aos romanos: dai a César o que é de César. 
A partir daí, Agostinho desenvolve dois conceitos importantíssimos para o 
medievo, que depois chamarão de teoria do gládio duplo: a Potestas e a Auctoritas. 
10 
Aí fica clara a sua posição no que tange a relação Igreja e Estado. A primeira possui 
o gládio da Auctoritas, o que significa que seu poder está apenas no campo 
espiritual, na relação indivíduo-Deus. Ou seja, a Igreja não teria poder sobre leis 
terrenas, sua relação com o Estado é apenas de cooperação mútua. Já o Governo 
secular detém o gládio da Potestas, e é responsável por manter a ordem e a paz 
temporal, que deve auxiliar os indivíduos a buscar a salvação eterna, apenas como 
fato indireto. 
Com isso se desenvolve o segundo argumento, o do Estado como garantidor da 
paz, mesmo imperfeita. O autor explana em diversos escritos a existência de 
diferentes níveis de paz. A Paz perfeita não pode ser alcançada pelos homens e 
pelos seus governos, pois ela é de Deus e não possível no nosso plano imperfeito. 
Mas essa Paz pode ser refletida em níveis menores aqui no plano material, e assim 
é dever do governo perseguir o nível de paz mais próximo possível do divino. Assim 
também acontece com a justiça, que também terá um nível imperfeito, mas que 
servirá provisoriamente à ordem temporal. 
O terceiro argumento é teológico. Para Santo Agostinho, tudo o que ocorre em 
nosso mundo e na história tem a permissão de Deus. Ele nos deu a razão e o livre 
arbítrio, e sua graça atua de modo que mesmo nos atos ruins dos homens, Ele 
consegue tirar coisas boas. Se não permitisse ao homem pecar e a fazer escolhas 
ruins, não existiria livre arbítrio, o homem seria um fantoche guiado pela vontade de 
Deus. Deste modo, se existem governos seculares, mesmo que esses não possam 
ter pretensão de Justiça perfeita, é assim porque Deus o permite. E se Deus, em sua 
infinita sabedoria, o permite, então há algo de bom na existência de governos 
seculares, mesmo que nossa razão e intelecto humanos limitados não possam 
enxergar.São várias as consequências da filosofia agostiniana e cristã para o pensamento 
jurídico. Miguel Reale aponta como a mais importante a nova separação entre as 
áreas do Direito e da Moral, que não eram possíveis na antiguidade. O jurista diz 
que com o advento do cristianismo, o individuo deixou de valer apenas como 
cidadão para passar a valer como Homem. Isso se dá por conta da separação dos 
gládios, a potestas e a auctoritas, uma vez que o indivíduo estará submetido a 
regras temporais e também, independentemente, de regras morais e religiosas. 
Mais tarde surgiriam novos problemas a ser solucionados, com o aparecimento 
de centros urbanos e o contato com outras filosofias. Aparecerão dilemas e embates 
11 
em um novo choque entre fé e razão, Estado e Igreja, Moral e Lei, que terão 
consequências fortes para o mundo do Direito. O trabalho de solucionar isto ficará 
para os debates nas universidades da baixa Idade Média e para o movimento 
Escolástico, que trará uma visão revolucionária e uma nova mudança na noção de 
justiça. 
 
12 
3 A BAIXA IDADE MÉDIA E A REVOLUÇÃO ESCOLÁSTICA 
A filosofia escolástica surge como uma importante alternativa a duas formas 
extremistas de se pensar que começavam a se consolidar pela Europa a partir da 
Alta Idade Média, sendo uma a que ignorava toda forma de pensar, que não 
estivesse pautada na Teologia e a outra que explorava ao máximo a concepção 
racionalista do mundo, desprezando toda a possível contribuição da Teologia. Eis o 
cenário para um rico debate que teve nos grandes filósofos escolásticos, não uma 
opinião taxativa que aceita ou rejeita uma das correntes, mas uma proposta muito 
concisa e bem estruturada que visa conciliá-las, ou seja, se propõe no momento a 
conciliação entre fé e razão como opção ao caráter absoluto da plena rejeição de 
uma dessas. A Escolástica começa a se estruturar como uma ideologia muitíssimo 
forte durante o período medieval e tem na Igreja Católica o principal agente 
disseminador e produtor de conhecimento através, principalmente das universidades 
que nascem como palco para os debates que serviram para lapidar e sedimentar as 
bases dessa filosofia. Isso nos remete ao fato de que, ao contrário do que se 
costumava pensar, a Igreja foi um catalisador de grande valor para o 
desenvolvimento do conhecimento humano. 
Como já se tem dito, o desenvolvimento da Escolástica se pautou no debate 
entre razão e fé, porém um questionamento bastante cabível está no modo como a 
razão surge para passar a explicar o mundo medieval, mesmo em um momento em 
que a Igreja se mantinha fortemente presente em todas as esferas da sociedade. A 
origem dessa racionalidade está em filósofos como Aristóteles e Platão, ou seja, a 
Escolástica surge assim da união entre a herança clássica greco-romana e a 
Teologia a que os filósofos medievais já estavam acostumados a lidar. Essa união, 
ainda que improvável, resultou num momento de extrema importância para a história 
do conhecimento humano, além de deixar contribuição muitíssimo rica às áreas, 
sobretudo, da Política e também do Direito, como se propõe a discutir aqui. 
Pensando nisso, podemos elencar Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino 
como dois grandes colaboradores do movimento da Escolástica, justamente por 
serem eles os responsáveis pela compilação, tradução e organização de toda a obra 
de Aristóteles, graças a eles foi possível o acesso a todo o material que pôde levar a 
filosofia da Idade Média ao patamar que chegou. 
13 
Vale ressaltar antes de tudo que nunca foi propósito de nenhum dos autores a 
que se faz menção estudar determinado objeto em específico, como por exemplo, o 
Direito. Estavam todos apenas buscando entender o que se passava ao seu redor, 
porém deixaram todos inúmeras contribuições para diversos setores do saber, 
inclusive para o próprio Direito. Seguindo essa linha, começamos agora a tratar 
desse autor (Santo Tomás de Aquino) sob a ótica do Direito. Já é sabido que 
Aristóteles foi grande influenciador da obra de Santo Tomás de Aquino e a ideia de 
Direito Natural é uma das que corroboram com essa aproximação entre os dois, 
apesar de a mesma também ter sido inspirada de diversos outros autores, inclusive 
os antigos jurisconsultos romanos. Para Santo Tomás de Aquino, bem como para 
Aristóteles, a ideia de natureza implica num ordenamento que está para além do 
indivíduo em si e gera uma série de responsabilidades e funções que diferem de 
indivíduo para indivíduo e isso é o mesmo que dizer que não é possível haver 
igualdade entre um rei e um servo, uma vez que eles ocupam posições 
completamente diferentes, em termos de responsabilidades, dentro de uma 
sociedade. 
Com primazia no legado que Santo Tomás de Aquino deixa para o Direito está a 
ideia de “lex”. O mesmo escreve a esse respeito: A Lei é “uma ordenação da razão 
no sentido do bem comum, promulgada por quem dirige a comunidade”. Nesse 
enunciado ele faz menção a duas características muito relevantes para a prática do 
Direito, sendo uma o exercício da razão e a outra a importância do legislador. Aquino 
define três tipos básicos de Lei, a Lei Eterna, a Lei Natural e a Lei Humana. Para 
ele, a Lei Eterna pode ser tida como a expressão máxima da razão e pode ser 
confundida até mesmo com a própria razão divina, essa lei é, portanto, algo que está 
para além do ser humano, porém não o desconsidera, pelo contrário, a Lei eterna é 
participada aos homens através da Lei natural. A Lei natural, então, pode ser 
considerada derivação imediata da Lei Eterna, que decorre do uso da razão. E essa 
Lei Natural é a que dá origem à Lei humana, a Lei Natural é justamente quem vai 
propor os limites para a lei humana, os limites para a passagem do Direito Natural 
para o Direito Positivo. Surge então a ideia do Legislador, que é a pessoa incumbida 
de escolher entre todas as opções que o Direito Natural fornece a que melhor se 
aplica à realidade do grupamento social a que ela se destina. 
Santo Tomás de Aquino fala ainda sobre a Lei Divina ou Lei Revelada, que seria 
a própria Escritura, porém a desconsidera para termos do exercício do Direito, pois 
14 
segundo o mesmo ela só é válida para os que seguem o cristianismo e não deve 
interferir no Direito, enquanto um fenômeno que deve se estender a todas as partes 
da sociedade. Essa ideia de separação entre a 
esfera cristã e a secular de uma sociedade e a importância de que haja um 
tratamento diferenciado para elas pode ser considerada a ideia embrionária do hoje 
conhecemos como laicidade jurídica do Estado, ou seja, o Estado se encarrega de 
julgar matérias de direito sem a influência de uma ou outra religião. 
Santo Tomás de Aquino procurou ainda discorrer sobre a ideia de Justiça, porém 
agora ele propõe um contraponto às ideias de Aristóteles, pois para Aristóteles a 
virtude justiça sempre esteve atrelada a um comportamento individual do homem 
que vai se reverter em felicidade para o Estado, já para Santo Tomás de Aquino a 
justiça não pode se realizar individualmente. Para ele, a justiça implica 
necessariamente o outro, só se pode ser justo se você estiver sendo justo com 
alguém, em outros termos. Santo Tomás de Aquino inaugura ainda o conceito de 
“Justiça social”, que o mesmo classifica como a verdadeira justiça, sendo a que se 
traduz em ações do Estado em prol do povo, e não do povo em prol do Estado, 
como era o entendimento de Aristóteles. 
 
15 
4 A PREPARAÇÃO DO CAMINHO PARA O POSITIVISMO EM GUILHERME DE 
OCKHAM 
• Reforma no pensamentofilosófico Ocidental 
Guilherme de Ockham foi essencial para o desenvolvimento do pensamento 
filosófico Ocidental durante a Baixa Idade Média, com reflexões a frente de seu 
tempo Ockham revolucionou e por isso foi perseguido. 
 Guilherme entrou para a Ordem Franciscana ainda cedo e isso permitiu que 
tivesse contato com obras que então não tinham tanta expressão entre os 
intelectuais da época, como as obras de Aristóteles cujos escritos eram em maioria 
proibidos pela Igreja. A partir disso Ockham começa a desenvolver seus próprios 
pensamentos e desenvolve uma filosofia baseada na economia, chamada de 
Navalha de Ockham. Tal filosofia afirmava que elementos inúteis de qualquer 
fenômeno deveriam ser descartados, e quanto menos elementos tiverem, mais perto 
da verdade estaríamos, ou seja, usar elementos mais simples em detrimento de 
mais complexos para explicar os fenômenos. “Se em tudo o mais forem idênticas às 
várias explicações de um fenómeno, a mais é a melhor” (Guilherme de Ockham). 
 Para ele o conhecimento é abstrato e intuitivo partindo da experiência, ou 
seja, o conhecimento parte do pressuposto de uma experiência exterior e não mais 
fruto de uma revelação divina. 
“Se vejo um cavalo branco, recebo uma notícia intuitiva da existência 
“daquele cavalo branco”, imediatamente formulo um juízo evidente entre os 
dois termos: “este cavalo é branco”. O conhecimento é intuitivo enquanto 
apreendo as atualidades existenciais da coisa, todavia, admite-se o 
conhecimento também como abstração quando prescinde da existência, 
operando apenas com a marca do signo na hipótese de composições ou 
decomposições.” Barros, Marco. Guilherme de Ockham e o Direito 
Subjetivo. Disponível em: 
<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=c24cd76e1ce41366> Acesso 
em: 17 Mar 2014. 
 Ockham revoluciona quando baseia seu pensamento em obras aristotélicas e 
não nas tradições neoplatônicas como era de costume em seu tempo, e é ainda 
mais ousado quando fala de liberdade e igualdade, aonde chega a dizer que todos 
os homens são iguais através de interpretações literais dos textos bíblicos inclusive 
Cristo e o Papa. 
16 
 Embora estes tenham papeis fundamentais e diferentes enquanto Deus e 
representante divino, respectivamente, enquanto homens passíveis e mortais são 
tão iguais quanto a nós mesmos. 
 E quando fala sobre liberdade Ockham diz que todos são livres para traçar 
distintos caminho, e que isso pode e deve ser feito sem a intervenção de terceiros, 
de que o homem tem o direito de escolher seu caminho e que nada lhe deveria ser 
imposto contra sua vontade. O conceito de liberdade individual é bastante explorado 
por Ockham, que faz esforços para não desvencilhar suas ideias da doutrina cristã, 
porém ele também credita o livre arbítrio (liberdade) ser um presente divino e natural 
e embora possamos fazer o que nos for mais conveniente existe diferença entre as 
faculdades mentais e animais, ou seja, a razão e os instintos e que embora cada um 
tenha o direito de fazer o que quiser deve-se fazer o uso da razão para decidir se é a 
forma correta ou não de agir. Sendo assim ninguém seria obrigado a fazer boas 
ações, mas pelo uso de sua razão e amor a Deus o faria da mesma forma. 
 Ockham acrescenta muito ao Direito moderno e um de seus maiores escritos 
é quando ele fala sobre a propriedade. Sua concepção de propriedade além de estar 
surpreendentemente ligada a religião, este seria também um pensamento bem a 
frente de seu tempo, onde ele relaciona a necessidade da propriedade, um domínio 
próprio para se defender da avareza e ganância dos homens, pois após a queda de 
Adão teria se despertado a maldade nos homens. 
 Guilherme de Ockham contribui diretamente para a formação do Direito 
moderno quando elabora uma concepção subjetivista do conceito de liberdade, uma 
vez que o indivíduo tem autonomia para decidir seus caminhos e que essas 
decisões trariam consequências, também acrescenta quando trata do individual e 
não do coletivo, Ockham acrescenta muito na questão do ser como indivíduo e de 
suas particularidades, também faz duras críticas ao Vaticano e suas condutas da 
época, principalmente na questão de tentar cercear a liberdade individual e por isso 
é uma das principais figuras do movimento de laicização do Estado. 
“Os direitos subjetivos dos indivíduos preencheram o vazio resultante da 
perda do direito natural. A ordem social aparece agora constituída, não por 
uma rede de proporções entre os objetos partilhados entre as pessoas, mas 
por um sistema, por um lado, de poderes subordinados uns aos outros e, 
por outro, de leis provenientes dos poderes” (VILLEY, 2005, p.287). 
 
17 
5 CONCLUSÃO 
É inegável a importância das mudanças de visão no mundo jurídico ocorridas ao 
longo da Idade Média, e de suas consequências práticas que podem ser sentidas 
até hoje. 
Investigações históricas como estas nos ajudam a compreender nosso mundo e 
também a nós mesmos, pois a nossa história também é parte de nós, por mais que 
não a percebamos, e por vezes a rejeitemos. 
Santo Agostinho dizia que nada está perdido enquanto ainda existe a busca. Por 
esse caminho que desejamos que este trabalho perpetue na busca pelas nossas 
raízes filosóficas e históricas, tão caras ao universo do Direito, e mais ainda às 
nossas vidas. 
Que não percamos de vista essa busca. 
 
"Mesmo que já tenha feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um 
caminho a percorrer." Santo Agostinho. 
 
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REFERÊNCIAS 
 
REALE, Miguel - Filosofia do Direito - 20ª Ed. 2002, ed Saraiva 
VILLEY, Michel - A Formação do Pensamento Jurídico Moderno, 2° ed. Martins 
Fontes 
 
VILLEY, Michel. Filosofia do direito: definições e fins do direito. Trad. 
Alcidema Franco Bueno Torres. Rev. Tec. De Francisco Bueno Torres. São 
Paulo: Atlas, 1997 
 
OCKHAM, Guilherme de. Sobre o poder dos imperadores e dos papas. In: 
 
OCKHAM, Guilherme de (1999). Obras Políticas. Vol. II. Trad. José Antô- 
nio de Camargo Rodrigues de Sousa. Porto Alegre: EDIPUCRS/ EDUSF, 
1999. 
 
LE GOFF, Jacques. Uma longa Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 2008. 
AGOSTINHO. A Cidade de Deus Volume II. Trad. de J. Dias Pereira. Lisboa: 
Fundação Calouste Goulbekian, 2000. 
 
S.TOMÁS AQUINO - Tratado da Justiça. Porto.Rés-Editora.1989 
CHESTERTON, G.K.. Santo Tomás de Aquino. Braga: Livr. Cruz, 1957.

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