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DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE

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DIREITOS FUNDAMENTAIS EM ESPÉCIE
O direito à vida está previsto no caput do art. quinto. Abrange o direito de não ser morto, tanto é que a pena de morte, salvo caso de guerra, é vedada no Brasil. Abarca o direito de continuar vivo, o que não impede a ortotanásia (a morte que não é induzida, mas simplesmente não é evitada). Não basta ter vida, é preciso ter um padrão digno de vida.
O princípio da igualdade está previsto no inciso I do art. quinto. A igualdade formal, do liberalismo, significa tratar a todos sem distinção da lei, diferente da igualdade substancial, na qual os desiguais devem ser tratados na medida de sua desigualdade. O princípio da igualdade veda, por exemplo, discriminações em concursos públicos por idade, salvo se a atividade a ser desenvolvida permitir tratamentos desiguais. São decorrências do princípio da igualdade a igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, nos termos da Constituição. Neste sentido, garante-se à mulher condições para que as encarceradas permanecem com seus filhos durante o período de amamentação (art. quinto, L), a licença maternidade de 120 dias .
 Ainda sobre o princípio da igualdade, é importante destacar as ações afirmativas, medidas de compensação em face da marginalização social. Um exemplo disto é a reserva de cotas em universidades.
O princípio da legalidade, inscrito no art. quinto, II, é contra o autoritarismo. Sob o manto de tal princípio, vige a idéia de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. No âmbito das relações particulares, pode-se fazer tudo o que a lei não proíbe, ou seja, vigora a idéia da autonomia da vontade, porém tal ditame não é absoluto, sendo limitado pela dignidade da pessoa humana. 
A proibição de tortura está prevista no art. quinto, III. A prática de tortura é considerada crime inafiançável (art. quinto, XLVIII). O uso de algemas, quando necessário, sem arbitrariedade, sendo usada excepcionalmente, não configura tortura.
A liberdade de manifestação do pensamento está expressa no art. 5, IV e V, vedando o anonimato. Os excessos não são tolerados, garantindo-se aos lesados direito de resposta proporcional ao agravo, além de indenização por dano material e moral.
A liberdade de consciência, crença e culto estão garantidas no art. 5, VI a VIII. Neste sentido, deve-se garantir o livre exercício de culto. Outra premissa é a de que ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa, convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir de obrigação legal a todos imposta (ex: serviço militar obrigatório- CF/88, art. 143) e recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada em lei. A prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva é assegurada.
A liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação são garantidas pelo art. quinto, IX e X, gerando até direito de indenização aos lesados. Com isto, veda-se a censura. Contudo, lei federal pode regular diversões e espetáculos públicos, podendo o Poder Público informar sobre a natureza, faixa etária recomendável, locais e horários inadequados. Também pode tomar posturas de restrição e punição a programações de rádio, tv e outros meios, bem como propagandas de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.
A inviolabilidade domiciliar está prevista no art. quinto, XI. A casa é asilo inviolável do indivíduo. Só se pode nela adentrar com consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou prestar socorro, e, durante o dia, por ordem judicial. (Para Celso Antônio, dia vai das 06 às 18:00 horas. O conceito de casa é amplo e há orientações jurisprudenciais garantindo a inviolabilidade de escritório, oficina, garagem e quarto de hotel).
O sigilo de correspondência e de comunicações está previsto no art. quinto, XII. Não é um direito absoluto. Pode ser quebrado por ordem judicial para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. O sigilo de correspondência pode ser quebrado nos casos de estado de defesa e estado de sítio, bem como, em alguns casos concretos, em interceptação de carta enviada por sequestradores. Idem para o sigilo de comunicações telegráficas. O sigilo bancário pode ser quebrado por ordem judicial, MP, CPI e Receita Federal. O sigilo fiscal pode ser quebrado por ordem judicial ou pelo Fisco. Já o sigilo das comunicações telefônicas, segundo a Lei 9296/96, pode ser quebrado por ordem judicial para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
A liberdade de profissão é assegurada pelo art. quinto, XIII. É assegurada para o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Logo, em alguns casos, pode funcionar como norma de aplicabilidade contida. Um exemplo é a exigência de prova da OAB para o exercício da advocacia pelo Bacharel em Direito (Lei 8906/94). Destaca-se ainda julgado do STF que considerou desnecessário o diploma de curso superior de Jornalismo para o exercício da atividade.
A liberdade de informação assegura o acesso à informação, resguardando, quando necessário, o sigilo de fonte. Abarca o direito de informar e ser informado (art. quinto, XIV e XXXIII). Abrange o direito de receber informações a serem prestadas por órgão público.
A liberdade de locomoção é assegurada nos tempos de paz (art. quinto, XV e LXI), salvo nos casos de crimes de transgressão militar, bem como nos casos de crime de flagrante delito ou ordem de prisão judicial devidamente fundamentada (art. quinto, LXI). A liberdade de locomoção pode ser restrita nos casos de estado de defesa, bem como no estado de sítio.
O direito de reunião, de forma pacífica, sem armas, em locais abertos ao público, é assegurado no art. quinto, XVI. Tais reuniões devem ter breve pedido e autorização, até para não frustrar outras reuniões anteriormente convocadas. O direito de reunião pode ser restrito nos casos de estado de defesa e suspenso nos casos de estado de sítio.
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O direito de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar, é pleno, assim como ninguém é compelido a se associar, nem a se manter associado. (art. quinto, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI). As associações são de livre associação, sem interferência estatal. Podem ser dissolvidas por decisão judicial, se mantiverem fins ilícitos. As associações, quando expressamente autorizadas, tem legitimidade para representar filiados judicial e extrajudicialmente.
O direito de propriedade deve atender à função social (art. quinto, XXII, XXIII, XXIV, XXV e XXVI). Não é um direito absoluto. A propriedade pode ser desapropriada por necessidade ou utilidade pública, sendo paga, em regra, justa e prévia indenização em dinheiro. Cabe também falar na desapropriação sanção, caso a propriedade não atenda função social, com pagamento em títulos da dívida pública (art. 182, par. Quarto, III), com títulos da dívida agrária, para fins de reforma agrária (art. 184). A desapropriação sanção é a última medida a ser tomada, só em casos extremos, pois cabe falar em parcelamento ou edificação compulsórias e IPTU progressivo. O direito à propriedade também pode ser restrito em caso de iminente perigo público, cabendo falar em indenização. Pode ocorrer ainda a expropriação, sem indenização, no caso de cultivo de plantas psicotrópicas (art. 243). 
A Constituição também se preocupa com o direito de herança e os direitos sucessórios (art. quinto, XXX e XXXI), assegurando a sucessão de bens de estrangeiros situados no país, que será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
A Constituição fala na necessidade de tutela da propriedade intelectual (art. quinto, XXVII, XXVIII E XXXIX). Trata-se de direito transmissível aos herdeiros. Protege os autores, garantindoo direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras. 
A defesa do consumidor está tutelada no art. quinto, XXXII. È competência quanto à responsabilização por danos concorrente da União, DF e Estados (art. 24, VIII). Também é mencionada no art. 129, 150, p. quinto e 170, V. Na esfera infraconstitucional, o direito dos consumidores é tutelado pelo CDC, Lei 8078/90. O CDC, segundo o STF, se aplica em relações bancárias. Normas consumeristas são de ordem pública, que não admitem preclusão e podem ser conhecidas de ofício.
O direito de petição e obtenção de certidões está previsto no art. quinto, XXXIV. O direito de petição aos Poderes Públicos se exerce em defesa ou contra ilegalidade ou abuso de poder. O direito de petição emana da Magna Carta, de 1215. É isento do pagamento de taxas e sua não concessão pode redundar em abuso de autoridade. Pode ser concedido a pessoas físicas e estrangeiras. Não demanda necessidade de capacidade postulatória. Não carece de demonstração de lesão, o que o difere do direito de ação. Cabe mandado de segurança em caso de denegação de informação em prazo razoável. Entende-se como prazo razoável 15 dias. O direito de petição e certidão não é absoluto, havendo sigilo no caso de informações que versem sobre a segurança da sociedade ou do Estado.
O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional está expresso no art. quinto, XXXV. Também pode ser denominado como princípio do direito de ação, livre acesso ao Judiciário ou ubiqüidade da Justiça. Segundo Kazwo Watanabe, não se esgota na possibilidade do mero ajuizamento de ações, mas também exige o acesso a uma ordem jurídica justa. Traz consigo o enfoque das ondas renovatórias do acesso à Justiça de Cappelletti e Garth, isto é, a assistência judiciária gratuita, a representação em juízo de interesses difusos e coletivos, bem como um novo enfoque do acesso à Justiça. Com o acesso à Justiça, a jurisdição não mais fica condicionada. Assim sendo, mesmo havendo processo administrativo cujo eventual recurso ainda não foi apreciado, cabe o ajuizamento de ação judicial. Uma exceção a isto é a Justiça Desportiva (CF/88, art. 217), que tem o prazo máximo de resolver suas contendas em 60 dias. Findo tal prazo, mesmo sem decisão final, cabe ajuizamento de ação. Outra exceção é a reclamação em sede de súmula vinculante, que só pode ser interposta após esgotamento das vias administrativas (art. 7, p. primeiro da Lei 11417/06).
Em nome da segurança jurídica o art. quinto, XXXVI estipula, para garantir a estabilidade das relações jurídicas, impõe limites para a retroatividade da lei, que não pode ferir o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Tais premissas, explicadas no art. 6 da LICC, se fundam no seguinte:
O direito adquirido é aquele em que seu titular, ou alguém por ele, pode exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixado, ou condição preexistente inalterável, a arbítrio de outrem. Difere da mera expectativa de direito. Não cabe direito adquirido contra Poder Constituinte originário. Não cabe, segundo o STF, direito adquirido a regime jurídico para servidores públicos;
O ato jurídico perfeito é o ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou;
Coisa julgada material é a decisão judicial que não mais comporta recurso.
O princípio do juiz natural ou legal, expresso no art. quinto, XXXVII e LIII, estabelece a vedação ao tribunal de exceção, ad hoc, assegurando que ninguém pode ser processado, nem sentenciado, senão pela autoridade competente. Todos tem direito a julgamento imparcial. Tal princípio não veda a existência de ramos de Justiça especializada, tampouco prerrogativa de foro, tribunais de ética, foro de eleição e juízo arbitral. 
O Tribunal Penal Internacional é previsto no art. quinto, p. quarto. O TPI complementa jurisdições penais nacionais e não pode ofender a soberania nacional, vedando-se, por exemplo, no Brasil, a prisão perpétua. O TPI é regido pelo princípio da cooperação, ou seja, todos os Estados partes devem cooperar plenamente com tal tribunal. A competência do TPI é para analisar crimes ligados a genocídio, crimes contra a humanidade, guerra e agressão.
A federalização dos crimes contra direitos humanos, criada com o advento da EC 45/04, é corolário do princípio da dignidade da pessoa humana, da prevalência dos direitos humanos, do repúdio ao terrorismo, racismo e da necessidade de cooperação entre os povos. O termo grave violação de direitos humanos é vago e indeterminado. Crimes deste perfil são deslocados para a Justiça Federal com requerimento da Procuradoria Geral da República. Para servir como norte para fixação de tais deslocamentos, entende-se que isto é possível nos casos de tortura, homicídio doloso por grupo de extermínio, crimes praticados contra comunidades indígenas, homicídio doloso fundado em preconceito de ração, sexo, opção sexual, religião, homicídio doloso fundado em conflitos fundiários e trabalho escravo. Para Flávia Piovesan, a federalização de tais crimes tem vantagens. Assegura maior proteção à vitima, estimula o melhor funcionamento de instituições locais em casos futuros, gera a expectativa de resposta efetiva das instituições federais e coloca a União no contexto da responsabilidade internacional em matéria de direitos humanos.
O Tribunal do Júri é previsto constitucionalmente (art. quinto, XXXVIII). Tem como balizas a plenitude da defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos, a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Tal competência não é absoluta. Pode haver competência especial por prerrogativa de função, como no caso dos Prefeitos (julgados pelo TJ- art. 29, X); juízes e promotores (julgados pelo TJ- art. 96, III), bem como os casos especiais de competência do STF (art. 102, I, b), STJ (art. 105, I) e Tribunal Regional Federal (art. 108, I). Segundo a Súmula 723 do STF, a competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro de prerrogativa de função estabelecido em Constituição Estadual. Nos crimes do júri praticados em co-autoria, tendo um dos autores foro privilegiado, haverá separação dos processos.
A segurança jurídica em matéria criminal determina o seguinte:
Segundo o art. quinto, XXXIV, não há crime sem lei o que defina, nem pena sem cominação legal. Trata-se de reserva legal, íntima ligação com o princípio da legalidade;
Segundo o art. quinto, XL, a lei penal mais rígida não retroage; só retroage a lei mais benéfica;
Segundo o art. quinto, XLI a XLIV, a discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais é punida por lei. A prática de racismo configura crime inafiançável e imprescritível. São crimes inafiançáveis e imprescritíveis a prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e crimes definidos em lei como hediondos (Lei 8072/90). Na mesma medida, são inafiançáveis e imprescritíveis os crimes praticados por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado democrático;
Segundo o art. quinto, XLV a XLVIII, a pena é personalíssima e não passará da pessoa do condenado. Contudo, pode haver a obrigação de reparação do dano e até perdimento de bens, nos limites da herança, para sucessores. As penas são individualizadas. São vedadas as penas de morte (salvo caso de guerra), de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e penas cruéis. O cumprimento da pena deve ser em estabelecimentos distintos, atentando-se para a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;
Segundo o art. quinto, XLIX a LXIV, são direitos assegurados aos presos o respeito à sua integridade física e moral, bem como são assegurados às presidiárias condições para que possam permanecer com os filhos durante o período de amamentação. O preso deve ser informado de seus direitos, bem como pode se comunicar imediatamente sobre sua prisão com a família. Tem direito de permanecer calado e os responsáveis por sua prisão devem se identificar.
O brasileiro natonunca poderá ser extraditado. O brasileiro naturalizado é passível de extradição por crime cometido antes da naturalização ou crime de tráfico de entorpecentes cometido antes ou depois da naturalização. Estrangeiros podem ser extraditados, salvo em casos de crime político ou de opinião (art. quinto, LI e LII);
A idéia de presunção de inocência, ou seja, não culpabilidade, inscrita no art. quinto, LVIII, diz que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Segundo a Súmula 716 do STF, admite-se progressão de regime antes do trânsito em julgado.
Segundo o art. quinto, LXI a LXVII, a prisão só pode ser efetuada em flagrante ou por ordem judicial, salvo nos casos de transgressão militar (art. 136, p. terceiro, I). A prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária. Admite-se a liberdade provisória, nos contornos da lei, com ou sem fiança. A prisão civil não é admitida, salvo nos casos de inadimplemento involuntário de alimentos e depositário infiel;
Segundo o art. quinto, LVIII, o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses legalmente previstas. A Lei 10054/00 prevê como hipóteses de identificação criminal, datiloscópica, os seguintes casos: estiver indiciado ou acusado pela prática de homicídio doloso, crimes contra o patrimônio praticados mediante violência ou grave ameaça, crime de receptação qualificada, crimes contra a liberdade sexual ou crime de falsificação de documento; fundada suspeita sobre falsificação ou adulteração do documento de identidade; estado de conservação ou distância temporal do documento impossibilite a plena identificação; constar registros policiais com o uso de outros nomes; extravio de documento de identidade; indiciado ou acusado não comprovar, em 48 horas, sua identificação criminal. Para Damásio de Jesus, a primeira hipótese narrada é inconstitucional, uma vez que o fere o princípio da igualdade ao fixar um rol estreito;
A ação penal privada subsidiária é possível nos casos de inércia do Ministério Público para oferecer denúncia (art. quinto, LIX).
O devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa estão previstos no art. quinto, LIV e LV. Pelo devido processo legal, ninguém será privado da sua liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. O devido processo legal tem a dimensão processual, pautada em processos judiciais e administrativos com procedimentos adrede conhecidos, ou seja, com íntima ligação ao princípio da legalidade, bem como tem dimensão substantiva, consubstanciada no princípio da razoabilidade, servindo como mecanismo para coibir arbitrariedades estatais. Também deve se ter em mente que aos acusados deve ser garantido em processo judicial ou administrativo o contraditório e a ampla defesa com os meios e recursos a eles inerentes. O contraditório simboliza dialética, direito de ser ouvido, representando democracia no processo. Uma polêmica diz respeito ao interrogatório por videoconferência. Estão em jogo a ampla defesa x segurança da ordem pública, a presença x eficiência. Inobstante previsão legal, o STF tem se inclinado a não acatar o interrogatório por videoconferência. Um paradigma disto são os entendimentos do Ministro Cezar Peluso. O interrogatório por videoconferência viola a idéia de publicidade e defesa efetiva.
As provas ilícitas (art. quinto, LVI) são, em regra, vedadas. Prova ilícita é a prova que ofende o Direito Material, ao passo que prova ilegítima é aquela que ofende o Direito Processual. Provas lícitas derivadas de provas ilícitas também são vedadas, tudo em nome da teoria dos frutos da árvore contaminada. São exceções à vedação de prova ilícita a prova pro reo e a necessidade inexorável de obter provas respaldada por eventual conflito de interesses decidido pelo princípio da proporcionalidade (ex: carta de seqüestrador, gravação de babá espancando criança).
A publicidade dos atos processuais está inscrita no art. quinto, LX, e traz consigo a necessidade de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX). A lei só pode restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social assim determinarem. A publicidade garante a imparcialidade, a legalidade e tem função política.
A assistência judiciária gratuita e integral aos que comprovem insuficiência de recursos é prevista no art. quinto, LXXIV. É uma das ondas renovatórias do acesso á Justiça de Cappelletti. Neste sentido, destaque para EC 45/04 e o fortalecimento das Defensorias Públicas.
O Estado deve indenizar o condenado por erro judiciário, bem como o que ficar preso além do tempo fixado em sentença (art. quinto, LXXV). Tal regra também está inscrita no CPC, art. 133 e CPP, art. 630. A responsabilidade estatal é objetiva, independente de culpa (CF/88, art. 37, p. sexto).
A gratuidade das certidões de nascimento e óbito para os reconhecidamente pobres está disposta no art. quinto, LXXVI. Segundo o art. 236, os serviços notariais são de caráter privado, mas são providos por concurso público. A Lei 9534097, que regula a matéria, é declarada pelo STF como constitucional. Os atos de nascimento e óbito são vitais para o exercício da cidadania. Os oficiais exercem um serviço público, inobstante a natureza privada de sua atividade. São delegados de funções públicas, não havendo direito constitucional a percepção de emolumentos por todos os atos praticados.
Vários outros atos para exercício da cidadania são gratuitos, tais como:
Hábeas corpus;
Hábeas data;
Alistamento militar;
Pedidos de informações ao Poder Público;
Impugnação de mandato eletivo por abuso de poder econômico, corrupção ou fraude;
Petições que visam garantias individuais e a defesa do interesse público;
Em nome da celeridade processual, a EC 45/04, ao estipular a Reforma do Judiciário, incluiu no art. quinto o inciso LXXVIII, que, em busca da efetividade do processo, fixa prazo razoável para processos no âmbito administrativo e judicial. É um direito a todos garantido, inclusive estrangeiros. Tal previsão, em verdade, já era implicitamente abarcada por nosso constitucionalismo, considerando o firmado no Pacto de San José, do qual o Brasil é signatário. A duração não razoável do processo gera aquilo que Bedaque chama de dano marginal. A medida em tela gera desburocratização e simplificação dos processos judiciais. Acompanhando o espírito desta reforma, várias leis foram editadas. A Lei 11448/07 permite que a Defensoria Pública possa ajuizar ações civis públicas. A Lei 11441007 permite a partilha e a separação judicial consensual feitas extrajudicialmente. A Lei 11419/06 dispõe sobre a informatização do processo. A Lei 11418/06 regula a repercussão geral como filtro para recursos extraordinários. A Lei 11417/06 regula a súmula vinculante. A Lei 11382/06 trouxe reformas significativas para o processo de execução. A Lei 11341/06 tornou possível que decisões disponíveis em mídia eletrônica possam ser usadas para divergência jurisprudencial. A Lei 11280/06 alterou dispositivos do CPC, dentre eles alguns concernentes à competência, meios eletrônicos, prescrição, etc... A Lei 11277/06 acresceu ao CPC o art. 285-A, buscando evitar julgados repetitivos. A Lei 11276/06 criou no processo civil a súmula impeditiva de recursos. A Lei 11232/05 trouxe ao processo civil o cumprimento de sentença. A Lei 11187/05 modificou no processo civil o agravo. O que se verifica é a busca constitucional de um novo cenário para a atividade jurisdicional, com o implemento da cultura da conciliação e a abertura de um diálogo maior com o cidadão comum.
Tratando dos remédios constitucionais, habeas corpus tem inspiração íntima na Magna Carta, de 1215. Na CF/88, está previsto no art. quinto, LXVIII. Já era previsto em nossa Constituição em 1891. Garante a liberdade de locomoção diante de ilegalidades e abusos de poder. Pode ser impetrado por qualquer pessoa, física ou jurídica, não só em nome próprio. Não exige capacidade postulatória de advogado. Pode ter tambémcomo escopo trancar ação penal ou inquérito e pode até se voltar para retirada de hospital psiquiátrico de internado. Pode inclusive ser concedido de ofício. A competência é fixada conforme a autoridade coatora. O habeas corpus preventivo, ou seja, o salvo conduto, existe no caso de ameaças à liberdade de locomoção. O hábeas corpus repressivo ou liberatório ocorre quando a restrição à liberdade foi concretizada. Punições disciplinares militares em regra não admitem habeas corpus (CF/88, art. 142, p. segundo). Ao Judiciário não é possível o mérito de tais posturas, mas cabe análise de pressupostos de legalidade. Habeas corpus impetrados em face de decisões de Turma Recursal de Juizados Especiais são apreciados pelo STF, não por Tribunais de Justiça, sendo superado o entendimento da Súmula 690 do STF. 
O mandado de segurança surgiu no Constitucionalismo de 1934. Não foi previsto em 1937 e retornou em 1946. Tutela direito líquido e certo, nos casos nos quais não cabe hábeas corpus e hábeas data, contra ilegalidade ou abuso de poder. Deve ser impetrado com prova pré-constituída, até porque não admite dilação probatória. Se posta em face de ato de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Serve para conter tanto atos vinculados, quanto atos discricionários. No pólo ativo, pode contar como legitimados pessoa física, jurídica, órgãos públicos despersonalizados, universalidade de bens e agentes políticos. No pólo passivo deve contar com a autoridade coatora, que pode ser inclusive delegado, como o diretor de estabelecimento de ensino particular. A competência é fixada conforme a autoridade coatora. Cabe nas modalidades preventivo e repressivo. Segundo a Súmula 624 do STF, são competentes para julgar mandado de segurança os próprios tribunais que julgam os mandados de segurança impetrados contra seus atos e omissões. O mandado de segurança é ação que comporta liminar. Seu prazo decadencial é de 120 dias. Não cabe mandado de segurança contra lei em tese (Súmula 266 do STF), tampouco contra ato judicial passível de recurso (Súmula 267 do STF). Não cabe condenação de honorários advocatícios em mandado de segurança (Súmula 512 do STF). Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar de mandado de segurança (Súmula 622 do STF). Não compete ao STF originariamente conhecer dos mandados de segurança dos atos de outros tribunais (Súmula 624 do STF). A suspensão da liminar em mandado de segurança, em regra, vigora até o trânsito em julgado da decisão definitiva ou, havendo recurso, até sua manutenção pelo STF (Súmula 623 do STF). No mandado de segurança contra nomeação de magistrado pelo Presidente da República, este é o a ser considerado autoridade coatora (Súmula 624 do STF). Extingue-se o mandado de segurança se o impetrante, no prazo legal, não promove citação de litisconsorte necessário (Súmula 631 do STF). Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública (Súmula 333 do STJ).
O mandado de segurança coletivo, previsto no art. quinto, LXX, tem por objeto interesses transindividuais, ou seja, interesses individuais homogêneos, coletivos e difusos. A legitimidade ativa provém de partido político com representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidades de classe ou associações que existam há pelo menos 01 ano. No que diz respeito aos partidos políticos, basta a representação no Congresso por 01 deputado, podendo os mesmos defender em direito qualquer direito inerente à sociedade, não só a filiados. O STJ é contrário a tal posicionamento de Pedro Lenza. As associações, organizações sindicais, etc, só podem ajuizar mandado de segurança coletivo se tiverem pertinência temática, isto é, pertinência com seus objetivos institucionais. Trata-se de modalidade de substituição processual. Não carecem de autorização específica de seus associados para ajuizarem ação (Súmula 629 do STF). Basta a previsão no estatuto social. Podem ajuizar mandado de segurança ainda que a pretensão esteja veiculada apenas a uma parte da respectiva categoria (Súmula 630 do STF).
O mandado de injunção, previsto no art. quinto, LXXI, busca evitar a inviabilidade de direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade. Trata-se de ação que tenta dar efetividade plena a casos de falta de norma regulamentadora. Age especialmente nos casos de norma de eficácia limitada, atuando contra omissões do Poder Público. Busca curar a síndrome da inefetividade das normas constitucionais. Pode ser interposto por qualquer pessoa. Pode ser inclusive interposto por pessoa jurídica de Direito Público. No pólo passivo, só pode constar pessoa jurídica estatal, nunca pessoa particular. No que couber, adota-se o rito do mandado de segurança. A posição atualmente adotada pelo STF é a concretista individual intermediária, que fixa um prazo para o Legislativo omisso elaborar a norma e, caso isto não seja feito, o autor passa a ter o direito pleiteado. Esta mudança supera a tendência antiga do STF, de não concretismo, isto é, a decisão apenas decretava a mora do Poder omisso. Um exemplo disto é que o STF declarou omissão legislativa e determinou aplicação analógica da lei de greve vigente no setor privado para servidor público.
O hábeas data, previsto no art. quinto, LXXII, busca o conhecimento de informações em registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, bem como a retificação de dados. É regido pela Lei 9507/97. Pode ser ajuizado por pessoa física ou jurídica. Havendo recusa no fornecimento de certidão, não cabe, de imediato, o hábeas data. O hábeas data exige a certidão negativa de informação. A ausência de certidão pode ser sanada por mandado de segurança. Há casos nos quais o hábeas data é vedado, tais como hipóteses nas quais o sigilo é imprescindível para a sociedade e para o Estado (art. quinto, XXXIII). No pólo passivo, além de entes estatais, pode constar cadastros públicos, tais como o SPC e o SERASA, embora tenham natureza privada. Trata-se de ação sem custas, gratuita.
A ação popular, prevista no art. quinto, LXXIII, foi prevista inicialmente na Constituição de 1934, sendo vedada na Constituição de 1937 e retornando no Constitucionalismo de 1846. Tutela casos de lesividade ou ilegalidade que atinjam o patrimônio público ou de entidades das quais o Estado participe (podendo exercer controle inclusive sobre subvenções do Estado a particulares), a moralidade administrativa, o meio ambiente e o patrimônio histórico e cultural. É um mecanismo de reforço da democracia direta, do zelo pela res publica, por interesses difusos. Pode ser interposta pelo cidadão, isto é, aquele com direitos políticos. Logo, não pode ser interposta por estrangeiros, apátridas, pessoas jurídicas (Súmula 365 do STF), brasileiros sem direitos políticos e português (pela não existência de reciprocidade). O Ministério Público atua como custos legis, mas pode atuar no lugar do autor, no caso de desistência deste. O rito da ação é regido pela Lei 4717065. A competência é firmada conforme a origem do ato impugnado. A ação popular pode ser preventiva ou repressiva. Trata-se de ação isenta de custas, salvo caso de má-fé. Cabe liminar. No caso de pedido procedente, tem eficácia erga omnes. A apelação, no caso de pedido procedente, terá duplo efeito. No caso de julgamento improcedente por deficiência de provas, a ação pode ser novamente intentada.