Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno Filo Platyhelminthes ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA 1. Intro à Helmintologia - A helmintologia estuda os vermes em geral, muitos dos quais têm vida parasitária e são bastante evoluídos. • São parasitas de plantas e animais mais evoluídos (de moluscos e crustáceos até vertebrados, incluindo o homem) • Nossos filos de interesse neste curso são o Platyhelminthes e o Nematoda • Independente de filo, a maioria das espécies parasitas são parasitos gastrintestinais (alojam-se no TGI), com 2 exceções + importantes em humanos (parasitos teciduais ou do sistema circulatório): --- O Schistosoma mansoni (em veias mesentéricas) --- E o Wuchereria bancrofti (parasita da rede de drenagem linfática). - Estão relacionados a parasitoses de ↓ gravidade do que, p.ex., a Malária. • Mas ↑↑ prevalentes em diversas populações, sobretudo em regiões de ↓ desenvolvimento socioeconômico. • As helmintíases são doenças amplamente negligenciadas, mesmo em havendo confirmação diagnóstica, e com ↑ taxa de reincidência. - É fato que os dados epidemiológicos são imprecisos –> fraca estimativa do percentual da população efetivamente infestada por helmintos. - Mas, embora seja de difícil avaliação / quantificação o sofrimento da população com essas doenças, reconhece-se que elas trazem danos principalmente ao desenvolvimento físico e cognitivo de crianças • Prejuízo contínuo, pessoal e social. - Alguns fatores envolvidos: • Pobreza –> ↓ acesso a fontes de água e alimentos de qualidade • Más condições de higiene e educação sanitária insuficiente –> contaminação de alimentos • Métodos inadequados na desinfecção dos alimentos (higienização de frutas, legumes e hortaliças à base de vinagre; contaminação de carnes, etc.) 2. O filo Platyhelminthes - Os platelmintos são animais invertebrados, vermes de corpo achatado dorso-ventralmente (característica principal do filo) e simetria bilateral. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - Outras características do filo: • Possuem 2 ventosas: oral e ventral (ou “acetábulo”) –> que são responsáveis pela fixação e pelo deslocamento do parasita no hospedeiro, por vezes contra o fluxo no interior de vasos sanguíneos. • Apresentam uma “casca” chamada tegumento, tecido vivo que contribui tanto para a identificação do hospedeiro quanto para a proteção do parasita o Revestimento com camadas externa e interna, tendo feixes musculares entre as duas, também para conferir mobilidade ao verme (salvo aos ovos). o Se agredido pelo sistema imune do hospedeiro, é capaz de se recompor o E sua camada mais superficial, o glicocálice, tem por função interagir com o meio externo –> identificação dos tecidos do hospedeiro. • Seu sistema digestório é incompleto (apenas a boca como orifício) * Só as tênias que sequer apresentam sistema digestório, alimentando-se por difusão. • A maioria das espécies é hermafrodita • E são heteroxenos = têm mais de um hospedeiro – no caso do S. mansoni, seu 1º hospedeiro é um molusco. Porém, o Schistosoma mansoni é uma exceção para algumas das características do filo e apresenta particularidades em outras: o Apresenta dimorfismo sexual (machos e fêmeas bem distintos, sendo necessária a presença de ambos para haver a postura de ovos férteis) o O corpo do macho é achatado e se dobra formando o canal ginecóforo (ver adiante) o E a fêmea, que se aloja no canal, tem corpo cilíndrico o Seu tegumento é coberto de tubérculos, e através dele o parasita consegue modular o sistema imune do hospedeiro. • A espécie pertence ao filo Platyhelmnithes pelo fato de o macho ter corpo achatado, pela organização interna do verme e por ter um molusco como 1º hospedeiro. • Muitas das características peculiares são aquisições evolutivas de vermes – relação parasita x hospedeiro o No hospedeiro definitivo, eles se alojam em estreitos vasos venosos (mesentéricos), resistindo à força de arraste do fluxo sanguíneo e ali se reproduzindo. - Dentro do filo, cabe distinguir as espécies segundo a presença ou não de segmentação corporal: (1) Classe Trematoda (ex. S. mansoni) – não apresenta o corpo segmentado (2) Classe Cestoda (ex. Taenia sp.) – tem o corpo dividido em segmentos: as proglótides. - Entre os trematódeos, a família Schistosomatidae é aquela que apresenta 3 espécies causadoras da esquistossomose = todas são parasitas do homem o Schistosoma mansoni (única presente no Brasil*) o S. japonicum o e S. haematobium. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno * A existência de uma e/ou outra espécie, em dado território, depende basicamente da disponibilidade do hospedeiro intermediário (no caso de S. mansoni, molusmos do gênero Biomphalaria, principalmente o B. glabrata, que tem maior distribuição geográfica no Brasil e também é encontrada na África) * Até hoje, não foi encontrado outro hospedeiro intermediário para o S. mansoni no território nacional. 3. Schistosoma mansoni – características biológicas e ciclo - Parasita de vênulas mesentéricas (principalmente em reto e sigmoide) * Adultos eventualmente encontrados no fígado, jovens ou devido ao efeito de “arraste” da corrente sanguínea. Mas não encontrados em outros locais, já que o fígado como grande barreira mecânica à disseminação de estruturas > os ovos. - Parasita heteroxeno obrigatório, como outros do filo • Hospedeiro intermediário = moluscos aquáticos, Biomphalaria sp. (reprodução assexuada) • Hospedeiro definitivo = mamíferos, como o homem, ratos domésticos, roedores aquáticos e outros –> reservatórios do parasita. * De toda forma, platelmintos de vida parasitária não infestam exclusivamente o homem - Formas evolutivas encontradas: M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno (1) no ambiente (I) –> ovo com miracídio, e miracídio (1ª forma larval, de vida livre) (2) no H.I. –> esporocisto primário e secundários (3) no ambiente (II) –> cercária (outra forma larval – a forma infectante em humanos) (4) no H.D. –> esquistossômulo e verme adulto (macho e fêmea) + ovos 3.1 – Fases do ciclo no molusco - Etapas a vencer: o Conquista do hospedeiro o Obtenção de energia para a sua manutenção o Obtenção de espaço suficiente e desenvolvimento o Evasão do sistema imune do HI - Ovos de S. mansoni são eliminados junto às fezes e podem ser conduzidos até coleções d’água • Ali, por serem hipertônicos, absorverão água e eclodirão • Livres, os miracídios buscarão o hospedeiro intermediário (capacidade natatória) * Não há contaminação em solo úmido –> o deslocamento e a sobrevivência do miracídio dependem da existência de uma massa de água * Também não há contaminação pela concha –> o miracídio invade o HI pelas partes moles - O miracídio tem forma cônica, sobrevive por 12-24h na água e apresenta: o Uma massa embrionária compondo a ↑ parte do corpo o Um tegumento recoberto de cílios –> para movimentação na massa d’água (função natatória) o Manchas ocelares, estruturas fotossensíveis que explicam seu fototropismo. o E um terebratorium, uma espécie de complexo apical onde se abrem glândulas importantes à adesão e penetração do miracídio no molusco. - Ele invade o molusco ativamente, com movimentos giratórios • Nesse momento, o miracídio perde seu tegumento e a massa embrionária passa a ser chamada esporocisto primário • E cada esporocisto primário dá origem a massas menores: os esporocistos secundários • Que, por sua vez, darão origem a várias cercárias. Cada miracídio que penetra com sucesso(1/3 do total) no molusco vai dar origem a milhares de cercárias, todas de um único sexo – justamente porque sua reprodução no molusco é assexuada (gerando, portanto, clones) Esse tipo de reprodução assexuada, da forma larvar, não se observa em outros platelmintos como a Taenia sp. –> o “hospedeiro intermediário” simplesmente abrigará formas imaturas, sem que haja proliferação. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno Moluscos jovens parasitados pelas formas larvares do S. mansoni perdem ou ↓ sua capacidade reprodutiva –> impacto sobre a população de moluscos. • Mas raríssimos moluscos Biomphalaria glabrata chegam à castração total –> contribuição contínua à persistência do verme no meio. - A cercária só sobrevive no ambiente aquático, de forma que moluscos encontrados em margens dos rios ou mesmo ingeridos não oferecem risco de transmissão. • Vive no ambiente 36 a 48h, tendo ↑ capacidade infectante nas primeiras 8h • Também nada ativamente como o miracídio • E pode penetrar em vários mamíferos, mas só se desenvolve no humano (fecha o ciclo) - Essa forma larval também apresenta fototropismo positivo, o que facilita o encontro com o H.D. • Por isso, permanece na superfície da água (↑ luminosidade e temperatura) • E são as horas + quentes do dia que oferecem ↑ probabilidade de penetração ativa de cercárias na pele do hospedeiro – instruir pessoas a evitarem os açudes nesse momento * Outros fatores que atraem cercárias são: --- Composição lipídica e temperatura da pele --- E grau de agitação (pessoas que nadam ou brincam nas águas com cercárias) M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno 3.2 – Fases do ciclo no hospedeiro vertebrado - Penetração das cercárias na pele em cerca de 15 min • Elas perdem a cauda no processo, transformando-se em esquistossômulos jovens - Depois, caem na corrente sanguínea (ou, primeiro, na linfática) e fazem o trajeto coração –> pulmão –> coração –> vasos portais do fígado. • Ali amadurecem às formas adultas (macho e fêmea), para então migrarem em pares até as vênulas mesentéricas do intestino e reto. • Só assim, em infecções por cercárias de ambos os sexos, haverá postura de ovos pelos adultos. - Morfologia e nutrição dos adultos: • As fêmeas (1,5 cm) são ↑ do que os machos (1 cm), mas estes têm características mais marcantes = corpo robusto, com tubérculos na superfície, ventosas maiores e o canal ginecóforo. • Alimentam-se ambos de hemácias (comportamento hematófago) –> obtêm hemoglobina para seu crescimento o Consumo ↑↑ por fêmeas, que porão até 300 ovos/dia. - Os ovos, apesar de apresentarem espícula lateral, não são capazes de “caminhar”; todo o seu deslocamento ocorre de forma passiva. • Ou eles se fixam nas ↓ vênulas de cólon direito e reto, onde poderão (40%) cair na luz intestinal M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno • Ou serão levados pela circulação portal até o fígado, onde se alojarão no parênquima e causarão processo inflamatório crônico. - Em infecções com cargas parasitárias ↑, os ovos podem transpor a barreira mecânica hepática e atingir a microcirculação em outros órgãos. • De toda maneira, os ovos são os grandes “vilões” da infestação por S. mansoni => indutores de reação inflamatória crônica granulomatosa, obstruções vasculares e complicações decorrentes de isquemia e/ou hemorragia (ver patogenia e clínica adiante) São fatores químicos e físicos que contribuem à perfuração da parede vascular e passagem de parte dos ovos para a luz intestinal, provavelmente: (1) A postura dos ovos nas ↓ vênulas encontradas pela fêmea, adelgaçando a parede daquele vaso. (2) A reação inflamatória local, associada à presença dos ovos, que dispersam metabólitos e enzimas do processo de amadurecimento do miracídio em seu interior. (3) E a própria “pressão dos ovos” que se acumulam, postos continuamente pela fêmea ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ * Um adendo: Parasitismo x Doença parasitária - É incorreto falar em “transmissão de doença” –> transmite-se o patógeno, que será ou não capaz de causar doenca em um novo hospedeiro. - Aqui, como em outros casos, a doença é multifatorial, dependendo, principalmente: (1) da carga parasitária (2) e da resposta desenvolvida pelo hospedeiro, lembrando que o parasito é capaz de modular e “enganar” o sistema imune, p.ex., absorvendo e expondo moléculas circulantes do hospedeiro - Teremos, assim, situações tão diversas como: • Casos de cura espontânea • Hospedeiros assintomáticos • E doentes crônicos M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 4. A doença – Esquistossomose mansônica - Esquistossomose = doença parasitária também chamada popularmente “barriga-d’água” ou “xistose”, que tende a persistir por toda a vida se não tratada. • Afeta muitos países em desenvolvimento • ≈ 207 M pessoas parasitadas (estimativa), mais da metade (120 M) sintomáticos Além do S. mansoni, são espécies de interesse médico: (A) S. japonicum –> também se aloja no sistema porta –> moléstia de Katayama (B) S. intercalatum –> idem –> mais comum em África Central (C) S. haematobium –> aloja-se em ramos pélvicos, levando a hematúria –> Hematúria do Egito * Mas que só seriam de importância em Saúde Pública, no Brasil, se comprovadamente adquiridos de forma autóctone, o que não se observa –> importância da origem - Só contrai a doença, possivelmente, quem tem contato direto com a água de lagos, lagoas, rios e represas (doce ou levemente salobra) que receberam dejetos humanos e são habitat de caramujos Biomphalaria = reservatórios do verme. • Coleções d’água cheias de miracídios, mas sem H.I. –> não há transmissão do patógeno • Embora não seja clássico, há hospedeiros intermediários encontrados em regiões litorâneas –> certos moluscos desenvolveram adaptação a águas com algum grau de salinidade. P.ex. Houve surto de esquistossomose em Porto de Galinhas-PE em 1998-2000 (período da especulação imobiliária). Naquele momento, contribuíram para o evento as ↓ condições de infraestrutura, presença do homem (hospedeiro definitivo) pela primeira vez em um ambiente onde havia condições propícias ao desenvolvimento do molusco. - No passado, a esquistossomose mansônica matou milhares de pessoas em poucos anos (1950-1970) - Hoje, são exemplos de localidades endêmicas no Brasil os açudes do Vale do Jequitinhonha-MG e áreas de cachoeira na região do Sumidouro-RJ – entre muitas outras principalmente em Sudeste e Nordeste, com focos em outras regiões. • Em áreas de ↑ endemicidade –> 5-11% da população está infectada = fator importante à perpetuação da doença. 4.1 – Patogenia e manifestações - A intensidade dos sintomas vai variar conforme: o A carga parasitária e/ou infectante o A viabilidade do material infectante M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno o O estado nutricional do hospedeiro o E a linhagem do parasito – S. mansoni – em diferentes regiões do país (distribuição geográfica) É possível sermos infectados por cercárias de outras espécies, mas a resposta do nosso sistema imune é suficiente para anular a atividade biológica dessas espécies - Manifestações imediatas da doença • São alterações cutâneas (pápulas eritematosas, com prurido associado) ocorrendo por 2-3 dias desde a penetração dascercárias = um exantema maculopapular pruriginoso, dito dermatite cercariana. • Em indivíduos hipersensíveis, as cercárias que ficaram retidas na pele causam reações + intensas (= urticária) - Manifestações gerais da doença (forma leve ou aguda) • Podem nem sequer ocorrer => infecção assintomática Ocorrer e desaparecer => resposta eficiente Ou evoluir para a fase crônica (a seguir) • Quando estão presentes, surgem dentro de 15-25 dias após a penetração de cercárias –> sintomas inespecíficos, que dificultam o diagnóstico: o Febre ↓ (ou de até 40o), mal-estar, náuseas, vômitos o Some-se a isso alguma perda ponderal • Traduzem a reação a esquistossômulos circulantes; portanto, são ainda anteriores à existência dos vermes adultos e ovos (“fase pré-patente”) Para que haja progressão à fase crônica, os vermes devem chegar ao sistema porta-hepático, ali se alojar e amadurecer • A fêmea só estará apta a pôr ovos (aqueles 300/dia) a partir de 6-8 semanas de infecção, já tendo migrado junto ao macho para uma vênula mesentérica. • E esses ovos estarão presentes nas fezes 1 semana depois (7-9 semanas pós-infecção) - Manifestações da doença crônica • Ainda aqui, em presença dos vermes adultos, os principais sintomas não traduzem a importância da infestação em boa parte dos casos: o Hiporexia e mal-estar o Desconforto abdominal / dores abdominais difusas o Quadro intestinal variado (ora diarreia, ora constipação por ↓ do peristaltismo) M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno • Possivelmente, a diarreia é mucosanguinolenta = hemorragias digestivas bem baixas provocadas pelo rompimento de vênulas abarrotadas com ovos. • Em infecções com ↑ carga parasitária: hepatite crônica e complicações o oclusão de vênulas do espaço-porta + inflamação crônica –> levam a isquemia, fibrose e disfunção hepática o evoluindo com hipertensão portal, hepatoesplenomegalia e manifestações relacionadas Resposta imune, Formação de granulomas e Evasão Ao longo das etapas da infecção, nos diferentes tecidos, o S. mansoni passa por alterações morfológicas e bioquímicas para “escapar” do sistema imune Desde a fase de dermatite cercariana, há destruição ↑ de cercárias e esquistossômulos (1ª linha de defesa), mas também sobreposição dos mecanismos de defesa pelo parasito –> P.ex.: • Por um lado, os esquistossômulos removem L-arginina do tecido e liberam NO reativo => efeito citotóxico sobre células da defesa da pele e vasos, que favorece a disseminação. • Por outro, epítopos sacarídicos do parasito são reconhecidos por receptores de lectinas de células dendríticas e macrófagos => modulação da resposta imune = indução da secreção de IL-10, citocina anti-inflamatória Depois, os esquistossômulos podem causar focos de arteriolite e necrose, na passagem pelos pulmões; e ao chegarem ao fígado provocam hepatite aguda, com infiltrado leucocitário misto. • Tudo isso explica aqueles sintomas da fase aguda, por vezes leves ou subclínicos. Se o verme sobreviver, ocorre a fase de amadurecimento no fígado – o que agrava a hepatite – seguida da migração de adultos para o plexo mesentérico. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno • Até este momento, tínhamos a fase pré-patente da esquistossomos, onde predominava a resposta TH1 (mesma que ocorre contra protozoários, com produção de IL-1, IL-6, TNF-α, etc.) e não há ovos detectáveis nas fezes. • Na fase pós-patente (com presença de vermes adultos e ovoposição nas veias mesentéricas), já há predomínio da resposta TH2 (que favorece a formação dos granulomas de corpo estranho) e ovos detectáveis nas fezes. Como todo platelminto, S. mansoni expressa moléculas ↑ imunogênicas – daí a reação às cercárias e esquistossômulos – mas não são tão virulentos quanto parasitos como T. cruzi, Leishmania sp. ou Plasmodium sp. Fato é que os vermes adultos de S. mansoni vivem relativamente bem em seu habitat. • Eles desenvolvem uma “camuflagem” hospedeiro-específica –> absorvem moléculas do próprio hospedeiro, modelam seu glicocálice e secretam moléculas anti-inflamatórias*. * Algumas em estudo para uso em terapia de doenças autoimunes. • Isso retarda a deposição de anticorpos e proteínas do complemento –> granulomas muito ↓ extenso do que aquele induzido por ovos. 1. E torna a fase crônica da infecção marcada por robusta resposta anti-inflamatória, com predominância de TH2, e tolerização M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno Em suma, são eventos patogênicos mais importantes na esquistossomose crônica: (1) Alterações intestinais –> presença de numerosas úlceras necróticas e hemorrágicas (para muitos ovos que não caíram na luz intestinal, o miracídio morre e há ↑ reação no entorno). (2) E a formação dos granulomas hepáticos, com fibrose hepática periportal. Benefícios da reação granulomatosa para o hospedeiro –> só enquanto a carga parasitária se mantém ↓ • Em dado momento, o acúmulo de granulomas leva à disfunção hepática, de outro órgão, ou colapso do organismo inteiro (cada vez ↓ frequente hoje em dia) - Pacientes compensados apresentam adaptações, entre elas: • Hiperplasia e hipertrofia do sistema fagocitário mononuclear • Neovascularização assegurando a circulação arterial em fígado • Função hepática rel. preservada, apesar do acúmulo de pigmento hemozoína no tecido (da digestão de hemoglobina e regurgitação de seus produtos principalmente pelas fêmeas adultas) * Porém, a circulação venosa continua deficiente, até o desenvolvimento da hipertensão portal –> e, mais adiante, insuficiência hepática, com extravasamento de líquido e ascite. - Na fase avançada da doença, temos: (1) hemorragias digestivas importantes – somando-se o risco de ruptura de varizes (2) derrame cavitário –> ascite (que deu nome a doença). (3) hepatoesplenomegalia congestiva (4) possíveis danos a outros órgãos, como lesões cardiopulmonares (5) caquexia e coma hepático * E o quadro será agravado se houver co-infecção com o vírus da hepatite B 5. Diagnóstico - A suspeição ocorre: (1) no exame clínico (anamnese e exame físico) –> relato dos sintomas descritos nas fases aguda e/ou crônica + sinais obtidos por palpação e percussão do abdome na fase avançada (visceromegalia, ascite, aranhas vasculares) * Na fase da dermatite cercariana, só a história (banho em coleções de água doce em área endêmica) pode levantar a suspeita. (2) e por exames complementares, principalmente laboratoriais o P.ex., eosinofilia é evidenciada em hemograma (mas ocorre em qualquer helmintíase) o A retossigmoidoscopia é desnecessaria por ser inconclusiva –> mucosa edemaciada, possivelmente com protuberâncias (os granulomas) + ulcerações sanguinolentas. M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - E só há confirmação pelo exame de fezes, na fase pós-patente: • O Kato-Katz é uma técnica cara e eficaz (quase sempre positiva em havendo infecção), mas nem sempre empregada pela ↑ prevalência do parasitismo • Tem como alternativa o simples Método de Lutz, ou técnica de sedimentação espontânea para ovos de helmintos ou cistos de protozoários: (dissolução das fezes –> filtração –> decantação –> recolhimento do material no fundo –> confecção do esfregaço –> corar com lugol e observar) o Desenvolvido por Adolpho Lutz e hoje de uso generalizado - Ao microscópio de luz, corados por lugol, os ovos grandes de esquistossoma têm morfologia singular, pela visualização da espícula. - Limitações (falsos negativos): (1) No período pré-patente–> ausência de ovos em até 4-6 semanas pós-infecção (período em que os vários sintomas de fase aguda podem ocorrer, a depender da carga parasitária inicial) (2) Em infecções unissexuais (= sem postura de ovos) (3) Em infecções leves (= ↓ carga parasitária) (4) E havendo uso de medicação insuficiente para a cura, que bloqueia a ovoposição mas não elimina o parasito adulto. - Em casos muito restritos, pode ser realizada biópsia retal e análise ao microscópio para pesquisa de ovos retidos do verme. - E não são indicados testes imunológicos como ELISA ou IF, embora existam 6. Tratamento e prevenção - Aplicado de forma ideal no início da infestação • Praziquantel por 3 dias consecutivos – tratamento de eleição há muitos anos • Mecanismo de ação: (1) ↑ a permeabilidade da membrana dos helmintos –> causa perda de Ca++ intracelular, (2) Contrações e paralisia da musculatura dos parasitas, que se soltam da parede dos vasos (3) Vacuolização e desintegração do tegumento, que não se regenera nesse caso –> morte - 2ª escolha: Oxaminiquine diariamente, por 1 semana • Mais eficaz no combate aos machos • Porém, as fêmeas que sobrevivem não poderão mais colocar ovos, interrompendo a evolução da doença e a transmissão do agente. - Critério de cura pós-tratamento: exame de fezes negativo por + de 4 meses (indicador + utilizado) M4_2017.1 – PARASITO, Bloco 3 – Notas de aula do Dinno - Porém, em fases mais avançadas, o tratamento NÃO REVERTE os danos causados pelo parasito ao hospedeiro (lesões hepáticas e hipertensão portal associada, p.ex.) • Daí a importância da prevenção: o Evitar o banho em coleções d’água nas áreas endêmicas, ou pelo menos nas horas mais quentes do dia o Não fazer uso doméstico da água de represas e açudes sabidamente contaminados o Utilizar banheiros com rede de esgoto o Educação em Saúde!
Compartilhar