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TRABALHO PROCESSOS GRUPAIS

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
AQUINOÃ LIMA DO NASCIMENTO GARCIA
A TÉCNICA DE GRUPOS OPERATIVOS À LUZ DE PICHON-RIVIÈRE E HENRI WALLON.
QUEIMADOS
2018
AQUINOÃ LIMA DO NASCIMENTO GARCIA
A TÉCNICA DE GRUPOS OPERATIVOS À LUZ DE PICHON-RIVIÈRE E HENRI WALLON.
Trabalho do Curso de Pós Graduação EAD Psicopedagogia Clínica Universidade Estácio de Sá, como parte dos requisitos necessários à disciplina: Processos Grupais
Professor (a): Flaviany Ribeiro
QUEIMADOS
2018
A técnica de grupos operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri Wallon.
Resumo
Na técnica dos grupos operativos pode existir uma conexão entre o Psicopedagogo e o psicólogo em suas atuações com o objetivo esclarecer sobre a promoção da saúde, caracterizando-se como possibilidade de intervenção em diferentes processos de aprendizagem. No Brasil e no mundo, atualmente são muitos os profissionais que trabalham com pequenos grupos. Ao menos entre nós, o trabalho é muito frequentemente realizado de modo empírico, sem o suporte de uma teoria de grupo. O referencial de Grupos Operativos é muito evocado, porém pouco conhecido de fato.
 Pichon-Rivière era médico psiquiatra e a partir de uma experiência no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires, onde atuava, por ocasião de uma greve de enfermeiras tomou a iniciativa em uma tentativa no trabalho da técnica de grupos operativos onde um ajudaria ao outro, mesmo sendo todos pacientes pois a greve inviabilizaria o atendimento aos pacientes portadores de doenças mentais no que diz respeito à medicação e aos cuidados de uma maneira geral. Diante da falta do pessoal de enfermagem, Pichon-Rivière propõe, para os pacientes "menos comprometidos", uma assistência para com os "mais comprometidos". A experiência foi muito produtiva para ambos os pacientes, os que cuidavam e os que eram cuidados, na medida em que houve uma maior identificação entre eles, pôde-se estabelecer uma parceria de trabalho, uma troca de posições e lugares, trazendo como resultado uma melhor integração. Com isso podemos analisar a valia deste tipo de trabalho que tem dentre seus objetivos a promoção do bem-estar psíquico dos membros do grupo nos remetendo a concepções mais ou menos conscientes sobre o estar humano em conjuntos e sobre os modos e objetivos de intervenções.
	Conteúdo e citações
Conforme Pichon-Rivière observava a influência dos grupos familiares em seus pacientes como sendo positiva, começou a trabalhar a técnica com grupos. A sua prática psiquiátrica esteve baseada principalmente pela psicanálise e pela psicologia social, sendo ele o fundador tanto da Escola Psicanalítica Argentina (1940) como do Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953). Para Pichon-Rivière, o objeto de formação do profissional deve estar preocupada e devidamente instrumentada para o sujeito em uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos. Para ele, a aprendizagem é sinônimo de mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e objeto e não uma visão unilateral, estereotipada e cristalizada. Os grupos operativos se dão fundamentalmente em aprender à aprender, pensar na aprendizagem e não apenas armazenar conteúdos.
Podemos ver a influência da teoria da Gestalt, através dos trabalhos de Kurt Lewin sobre os grupos, é inegável ao discutirmos esse assunto. Não que haja um consenso sobre a Gestalt no campo grupal, mas entre acordos e desacordos ela se faz sempre presente nas discussões sobre grupo em geral, tanto na psicanálise quanto fora dela. Para Pichon-Rivière, a Gestalt é um importante ponto de apoio para suas próprias ideias.
 	A teoria da Gestalt postula que o todo é mais do que a soma das partes. Por exemplo, se uso quatro retas para desenhar um quadrado, o quadrado não é a mera soma das quatro retas, o que fica claro se as disponho de modo paralelo. Mais do que isso, postula-se que elementos podem ser suprimidos da ou adicionados à percepção em função de leis de formação da figura (ou Gestalt) percebida. É fácil notar que, no campo em questão, uma concepção fundada nesses princípios diria que o grupo é mais do que a soma de seus participantes. Investigar o grupo inspirado por essa perspectiva implica em considerações específicas sobre metodologia. Ao discutir como fazer a observação de um grupo, Kurt Lewin comenta:
Podemos assumir que o grupo tenha cinco membros e que cinco observadores estejam disponíveis. Pode parecer que o caminho mais simples seja sempre o de designar um observador para cada membro do grupo. Entretanto, o resultado seria, na melhor das hipóteses, cinco microbiografias paralelas de cinco indivíduos. Esse procedimento não permitiria um registro satisfatório mesmo de fatos tão simples da vida do grupo como a sua organização, seus subgrupos e as suas relações líder-membro, sem falar de fatos tão importantes como a atmosfera geral. Portanto, ao invés de designar um indivíduo para cada observador, um observador foi encarregado de registrar de minuto em minuto a organização do grupo em subgrupos; outro, as interações sociais etc. Em outras palavras, ao invés de observar as propriedades dos indivíduos, as propriedades do grupo foram observadas enquanto tais (LEWIN, 1948, p. 73,)
Também inspirado pela Gestalt, e diferentemente de Kurt Lewin, preocupado com o desenvolvimento e exercício de uma psicoterapia de grupo, encontramos S. H. Foulkes. Foulkes iniciou seu trabalho em Londres, no hospital de Northfield, na mesma época e local que W.R. Bion realizava seus experimentos com grupos. Entretanto, ambos desenvolveram suas teorias e práticas de modos paralelos.
É interessante notar a clareza com que Foulkes define seu objeto de estudo em um texto escrito em parceria com seu seguidor Anthony:
Essas relações e esses eventos existem literalmente entre duas ou mais pessoas; eles não ocorrem em uma pessoa ou em outra, mas podem apenas vir a existir através da interação de duas ou mais pessoas (FOULKES, ANTHONY, 1965, p. 258,)
A maneira de compreender a aplicação do conceito de Gestalt aos grupos varia, e muitas vezes os autores que trabalham com essa concepção sentem a necessidade de negar o caráter "transcendental" ou "místico" que o conceito assume para muitos de seus críticos. É nesse sentido que Bion faz questão de dizer que o grupo é mais do que a soma de seus membros, do mesmo modo que um relógio é mais do que a soma de suas peças. Para Foulkes, a analogia é com o sistema nervoso: o grupo é uma entidade distinta da soma dos indivíduos do mesmo modo que a soma dos neurônios não nos dá a compreensão direta sobre o psiquismo.
O termo Gestalt é bastante empregado por Pichon-Rivière no início de seu trabalho com grupos, vindo depois a ser substituído pelo termo Gestaltung.
O abandono do termo Gestalt se dá por seu caráter "estático", que falha em transmitir algo absolutamente central no pensamento pichoniano, o movimento contínuo da dialética. Dialética esta que Pichon-Rivière gostava de representar como uma espiral ascendente, de onde a referência ao "caráter espiralado do processo".
Tradicionalmente, a psicanálise, através de seu método e de seu aparato teórico, constituiu e tomou a categoria do sujeito particular como seu objeto primordial de intervenção. O sofrimento psíquico a ser tratado é aquele "localizado" em determinada pessoa que se apresenta ao tratamento. O pensamento de Pichon-Rivière altera essa percepção ao propor um olhar duplo sobre o grupo e os sujeitos. Pichon-Rivière propõe que, ao pensarmos o que ocorre em um grupo, tenhamos em mente sempre dois eixos, assim nomeados e definidos:
1) vertical: assinala tudo aquilo que diz respeito a cada elemento do grupo, distinto e diferenciado do conjunto, como, por exemplo, sua história de constituição e seus processos psíquicos internos;
2) horizontal: refere-se ao grupo pensado em sua totalidade.
Para Abduch(1999), Cada integrante do grupo comparece com sua história pessoal consciente e inconsciente, isto é, com suaverticalidade. Na medida em que se constituem em grupo passam a compartilhar necessidades em função de objetivos comuns e criam uma nova história, a horizontalidade do grupo, que não é simplesmente a somatória de suas verticalidades pois há uma construção coletiva resultante da interação de aspectos de sua verticalidade, gerando uma história própria, inovadora que dá ao grupo sua especificidade e identidade grupal.
A aprendizagem centrada nos processos grupais coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que aprendemos a partir da relação com os outros. A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações.
Para Gayotto [1992], a psicologia social estuda o sujeito contextualizado, a partir de suas interações, no inter-jogo entre a vida psíquica e a estrutura social. A constituição do sujeito é marcada por uma contradição interna: ele precisa, para satisfazer as suas necessidades, entrar em contato com o outro, vincular-se a ele e interagir com o mundo externo.
Henri Wallon (1968) O meio é compreendido como o complemento indispensável do ser humano. Para este autor, as interações são fundamentais tanto para a construção do sujeito como do conhecimento, e ocorrem ao longo do desenvolvimento de acordo com as condições orgânicas, motoras, afetivas, intelectuais e socioculturais.  Pode-se perceber que as interações, desde o nascimento, são as molas propulsoras para a evolução do psiquismo e responsáveis pela constituição do sujeito e de seu conhecimento. Na teoria walloniana, a criança é compreendida como um ser social que, por meio das relações que vai estabelecendo com as pessoas, com os objetos, com o espaço e com o tempo, gradativamente vai diferenciando-se do outro, constituindo-se como sujeito e construindo sua identidade. Portanto, é por meio da interação que se dá a construção do eu, que é condição fundamental para a construção do conhecimento (BASTOS, 1995).
No trabalho com os grupos temos que caminhar no sentido da explicitação do implícito em que predominam as resistências à mudança representadas tanto pelo medo da perda do referencial como do ataque em que uma situação nova passa a ser vivida como perigosa. É justamente a explicitação do implícito que faz o grupo caminhar em direção à tarefa como no movimento de uma espiral dialética. Podemos destacar a importância em determinadas situações de aprendizagem, saúde mental e até física o melhoramento e crescimento do indivíduo reportado pelo outro. Com interferência ou não de um professor ou gerenciador, a intenção da liberdade de expressão de um para com o outro, trabalhando a escuta, as ideias divergentes até se chegar a um acordo de compreensão de um determinado a assunto, traz a importância da implicação com o outro no que diz respeito individualidade. Entendendo que cada um tem seu espaço e um pode contribuir na vida do outro.
Comentário
A aprendizagem centrada nos processos grupais coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que aprendemos a partir da relação com os outros. Primeiramente, é útil a distinção entre um uso genérico e outro restrito do termo "grupo operativo". Em um sentido abrangente podemos chamar um grupo de operativo na medida em que nele identificamos o acontecer da espiral dialética. Já em um sentido estrito, nos referimos a "grupo operativo" como técnica de intervenção. Portanto, deve ficar claro que o "grupo operativo de aprendizagem" não tem sua aplicação restrita aos contextos de educação formal, mas diz respeito a uma possibilidade de intervenção em qualquer campo da vida social.
Ideação
O grupo operativo de aprendizagem pode se estabelecer em diferentes termos de duração, tarefa, local etc. É importante que o coordenador ou professor, ao iniciar o grupo, deixe claras todas as regras que forem as constantes do processo. A fundamentação do grupo operativo de aprendizagem é um grupo verbal cuja tarefa assume a forma de um tema para discussão. O coordenador ou professor normalmente não participa da tarefa, ou seja, não entra na discussão, não participa do seu conteúdo, procura apenas ver a "estrutura" que o processo toma, tentando verificar o andamento dialético do grupo. Porém, a importância do mesmo estar atento se o grupo fica preso em um certo nível da espiral, se não é possível a superação dialética, ou seja, se há uma paralisia do movimento no grupo, haverá a necessidade da intervenção para ajudar a restabelecer o ciclo dialético. Mas se o grupo trabalha de modo a permitir o aparecimento e a superação das contradições tanto em seus aspectos racionais quanto emotivos, não há a necessidade de uma intervenção, pois entendemos que a expectativa do trabalho da técnica do grupo está sendo atendida.
 Lembramos que Pichon-Rivière acredita que as fantasias inconscientes seriam os obstáculos a esse movimento; nessa perspectiva, a explicitação dos conteúdos latentes seria uma forma privilegiada de atuação do coordenador. No entanto, o que caracteriza a intervenção adequada é seu caráter operativo, ou seja, a possibilidade de restituir o movimento dialético ao grupo, independentemente do modo ou conteúdo da intervenção.
Referências:
PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1988. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
PICHON-RIVIÈRE, E. Diccionario de Términos y Conceptos de Psicología y Psicología Social. Buenos Aires: Nueva Visión, 2000a. El Proceso Grupal. Del psicoanálisis a la Psicología Social (1). Buenos Aires: Nueva Visión, 1985.
GAYOTTO, M. L. Conceitos básicos que facilitam a compreensão do início de um grupo. Artigo referente ao curso de especialização em Coordenação de grupos operativos do Instituto Pichon-Rivière. [S.l.: s.n.], 1992. (Xerocopiado).
WALLON, H. A Evolução Psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.
 Foulkes, S.H.; Anthony, E.J. Group Psychotherapy: The psychoanalitical approach. Harmondsworth, Baltimore, Ringwood: Penguin Books; 1965.
ABDUCH, C. Grupos Operativos com Adolescentes. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde do Adolescente e do Jovem. Cadernos, juventude, saúde e desenvolvimento. v. 1 Brasília, DF, ago. 1999.v. 1.
LEWIN, K. Resolving Social Conflicts, selected papers on group dynamics. New York: Harper and Brothers, 1948.
BASTOS, A. B. B. Interações e desenvolvimento no contexto social da creche à luz de Henri Wallon. 1995. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1995.

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