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Corporeidade e Motricidade Humana UNIDADE 1 A visão histórica do corpo Em cada sociedade o corpo é visto de uma forma A forma pela qual o homem lida com sua corporeidade é resultado de uma construção social, consequência de um processo histórico em que o contexto social interage de uma forma extremamente dinâmica, direcionando e modificando a maneira de o corpo se expressar. Platão Dualismo : oposição corpo e alma Mundo sensível X Mundo Inteligível Alma comanda o corpo Alma Imortal x Corpo mortal 3tipos de alma: dois de natureza inferior, totalmente ligados ao corpo, portanto imperfeitos e mortais, e o terceiro, ligado a uma natureza superior, ao mundo ideal, ou seja, perfeito e imortal Três tipos de caráter: concupsível , irascível e racional Os tipos de caráter determinam como seria a educação das crianças, a partir da identificação da alma predominante, uma vez que essa identificação direciona para o lugar na sociedade. ARISTÓTELES Contrário à ideia de Platão Alma e Corpo inseparáveis (Hilemorfismo) A alma é aquilo que anima o corpo gerando o movimento, ou seja, qualquer movimento físico só é realizado por intermédio da alma É importante que o corpo se mantenha ativo e seja educado desde a infância, porém sem excessos e esgotamentos físicos, evitando problemas, inclusive danos físicos IDADE MÉDIA O corpo acaba sofrendo um processo de descorporalização, em que se tem uma evolução contínua da racionalização, ideia muito semelhante à do filósofo grego Platão Corpo como instrumento de trabalho Essa descorporalização se dá principalmente por questões religiosas impostas na Idade Média, uma vez que a Igreja tinha grande influência no sistema social, comercial e político nessa época SANTO AGOSTINHO Corpo como um cárcere da alma, sendo uma parte orgânica, concebida ao homem como forma de punição dualismo, que tinha a oposição entre bem e mal, graça e pecado, corpo e matéria, Deus e homem e, principalmente, luz divina e trevas eternas A alma deveria governar e manter vigilância constante sobre o corpo e seus sentidos para que estes não impedissem que se conhecesse a verdade divina e somente a alma pudesse salvar o corpo, colocado no caminho da divindade DESCARTES Método como ponto principal da construção do saber Método: instrumento que ajuda a controlar cada um dos passos dados e a deduzir algo desconhecido de algo conhecido Separação entre corpo e mente Ideia semelhante a Platão, porém nesta nova forma de se separar corpo e alma é colocada uma concepção cartesiana – quase matemática – em que a alma é o pensamento e o corpo é somente uma extensão da alma – um não depende do outro O que move o corpo é a alma Modelo mecanicista Alma em detrimento do corpo Corpo como objeto de estudo (avanço da medicina) NIETZSCHE Contradiz Descartes Concepção do corpo vivo – corpo dentro de um contexto social investiga os estados de saúde e doença, bem como a vida afetiva e fisiológica que dominam as experiências de um homem vivo. A mente não sobrepões mais o corpo, interage com ele por meio dos sentidos e das emoções Necessidade de conhecer a linguagem que o corpo transmite é por meio do corpo que se conhece a alma, e não o inverso MARX Corpo interage om o meio em que vive O trabalho é a ideia central para se entender o homem e sua corporeidade, pois no trabalho o homem exerce movimentos que pertencem à sua corporalidade Capitalismo: alienação do corpo, sendo mero reprodutor de movimentos produtivos Pensamento Contemporâneo MERLEAU-PONTY Contrário ao dualismo O homem é um ser vivo, inserido em um meio definido, que parte de um desenvolvimento de projetos e atua na mudança desse meio A percepção como algo distinto das sensações, mesmo sendo uma casualidade na questão de uma resposta condizente com um estímulo dado pelo mundo Compreensão do homem de forma integral – “ser no mundo” Intencionalidade, refletida pelo movimento, que é uma concepção principal, trazendo a ideia de que a percepção do corpo é uma inabilidade na falta de movimento. Não concebe o corpo em partes, ou um conjunto de órgãos de sentido com funções e atitudes passivas de somente captar os estímulos, mas o corpo de um indivíduo/sujeito que olha, observa e sente Ambiguidade de um ser humano com uma intencionalidade – não somente uma máquina de representação da alma, mas também com consciência e corpo –, tendo uma unidade de raiz sensível, corpórea e da experiência original de ser no mundo. FOCAULT O corpo sofre os efeitos do poder, e os principais procedimentos de como o poder é manifestado sobre o corpo são a disciplina e a regulamentação O poder intervém no corpo do indivíduo (interferência externa) Corpo adestrado para inserção na sociedade Esse corpo dócil está relacionado a uma política de controle da energia produtiva individual cuja disciplina se baseia em quatro elementos Segundo Foucault (1987), a origem da disciplina se configura por meio de três formas de adestramento do corpo: a vigilância hierárquica, as sanções normalizadoras e o exame. Vigilância hierárquica O que o corpo pode e não pode fazer Qual corpo produz mais ou menos Exemplo: fábricas Sanção normalizadora Punições para educar o corpo Exemplo: escola Exame Relaciona vigilância e sanção cujas relações de poder constroem o saber e constituem o sujeito de relações de poder e saber Ponto máximo do controle Corpo como objeto de submissão Formado para o exercício de tarefas específicas e assim aumentando a força dos corpos em questões econômicas de utilidade O corpo é confronto bélico, sem liberdade A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA O que é motricidade? Sinal da corporeidade que está no mundo para algum objetivo O movimento está relacionado a um entendimento e interação com o mundo e o sujeito Respeitando a complexidade do ser humano Fenômeno de inserção no plano da convivência Área de pesquisa científica A motricidade revela a intencionalidade operante do homem de se movimentar com sentido e conteúdo, relacionado à existência do ser humano, que tem como objetivo sempre se superar, e não apenas uma mera reprodução de movimentos preestabelecidos A educação não pode observar o corpo somente como uma estrutura composta por músculos, esqueleto e articulações, que compõem o sistema locomotor, ou seja, não deve se preocupar somente com o movimento produzido, mas também com o sujeito, o ser humano que produz o movimento Para educar corpo: Entender o corpo em sua totalidade Entender quais são as influências culturais que formam a corporeidade daquele indivíduo Criar recursos para conseguir que o corpo se supere e busque o seu máximo Dessa forma, motricidade é muito mais do que um organismo composto por um conjunto de conceitos, é o homem integral em movimento, expressando a sua corporeidade nos belos movimentos corporais, sempre com intencionalidades, em consonância com o mundo, relacionando-se com as coisas e inserindo o ser humano em um processo construtivo. Características da Motricidade Fenômeno complexo Não nasce pronta Não apresenta estágios Construção social, depende da interação A motricidade é a corporeidade representada pela intencionalidade de movimento. A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FISICA E NO ESPORTE A Educação Física está relacionada à corporeidade e ao movimento do ser humano, ou seja, na intencionalidade do homem de um ser corpóreo e motriz, tendo como abrangências as diversas formas de atividades físicas, por exemplo, as ginásticas em geral, os jogos e as manifestações rítmicas, que incluem diversos tipos de danças, e os esportes em geral Por trás do coro existe uma totalidade desse ser, não podemos trata-lo somente como forma segregada e nem só ficar filosofando sobre ele. CORPO-OBJETO Tratar corpo como SUJEITO e não como OBJETO Visão de corpo-objeto pode ser encontrada em conceitos estéticos das sociedades modernas, em que se tem um padrão a ser seguido na questão corporal segundo um modelo preestabelecido, por exemplo: se estão faltando seios, implanta-seorganismos não pertencentes ao corpo; falta volume nas nádegas, também se implanta, tratando o corpo como um objeto passível de manipulação em busca de uma beleza padronizada Por exemplo, correr em volta da quadra, realizar movimentos preestabelecidos de alongamento sem saber o motivo e quais as funções desse movimento em processo repetitivo, em alguns casos até a exaustão, e, quando não se consegue obter os resultados esperados, apela-se para o uso de anabolizantes com o intuito de passar o limite imposto pelo corpo Quais fatores culturais afetam a corporeidade? Questões sociais (práticas de beleza, manipulação, significado superficial e cimbólico Padrões de beleza (busca pelo corpo magro e com formas definidas) Somente esse padrão é aceito Problemas de autoimagem Supervalorização do externo e desvalorização do interno O conceito de autoimagem ou imagem corporal envolve três componentes: • Perceptivo: relacionado à forma precisa da aparência física, que envolve estimativa do tamanho e do peso corporal. • Subjetivo: relacionado à satisfação da aparência, associado à preocupação e à ansiedade. • Comportamental: relacionado a situações de fuga pelo indivíduo, por ter momentos de desconforto ligados à aparência corporal. Com essa percepção deturpada da autoimagem, podem ocorrer os transtornos de conduta alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia, que têm as mulheres como principal vítima, acarretando problemas clínicos de comprometimento da saúde, levando ao afastamento de atividades profissionais e, em casos extremos, à morte Como profissional de educação física temos que trabalhar para que o indivíduo aceite sua própria corporeidade. Ele não pode ter a ideia de um corpo perfeito ou a ser melhorado para um rendimento, mas sim de um corpo vivo, que tem uma existência racional e sensível Não pode desprezar as experiências do sujeito, o sistema social e a cultura em que ele está inserido Procurar contribuir para o desenvolvimento deste corpo real e existente, que irá se movimentar em busca de uma superação Saber trabalhar o sujeito racional, criativo, dependente do conhecimento de si, dos outros e do mundo SE O PROFISSIONAL ENTENDER ISSO ELE AGREGARÁ DIVERSOS VALORES QUE DARÃO SUPORTE À SUA ATUAÇÃO UNIDADE 2 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE O termo foi usado pela primeira vez nos anos 60 pelo presidente dos EUA Lyndon Johnson “Os objetivos não podem ser medidos através de balanços de bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas.” O conhecimento popular se apropriou dessa expressão como uma forma de simplificar a melhora ou um padrão elevado de bem-estar nas vidas dos indivíduos, seja de ordem social, emocional ou econômica Para tanto, de acordo com Seidl e Zannon (2004), o termo qualidade de vida é utilizado em duas vertentes de pensamento: I – Na linguagem cotidiana, representando a população de uma forma geral, jornalistas, políticos, profissionais de diversas áreas e gestores de políticas públicas. II – Em pesquisas científicas, em diferentes áreas de conhecimento, como Economia, Sociologia, Educação, Medicina e demais áreas da saúde. Relaciona ao grau de satisfação pessoal Capacidade de refletir uma síntese dessa cultura de todos os diversos elementos que a sociedade determina como padrão de um conforto e bem-estar O grupo de estudos da Organização Mundial da Saúde (WHOQOL group) sobre qualidade de vida define-a como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores, e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações (WHOQOL group, 1995). Inclui, ainda, seis domínios principais, quais sejam: saúde física, estado psicológico, níveis de dependência, relacionamento social, características ambientais e padrão espiritual Se todas as esferas estiverem em perfeito equilíbrio maior será sua qualidade de vida. Todos temos qualidade de vida, umas maiores outras menores, mas não é porque ela é mais rica que tem maior qualidade de vida! O indivíduo tem dois tipos de percepções: Objetivas: moradia, alimentação, acesso a saúde, emprego São necessidades que garantem a sobrevivência do indivíduo ou sociedade e que geram índices de referência sobre características sociais e econômicas da população e norteiam políticas públicas. Subjetivas: fatores emocionais, prazer, felicidade e tristeza Expectativas e possibilidades de um grupo social ou de um indivíduo quanto às suas realizações e percepção de vida INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA IDH Visão global de determinada população, não consegue capitaras questões subjetivas Um instrumento muito utilizado como percepção objetiva é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele tem o propósito de apresentar uma perspectiva sobre o desenvolvimento humano, porém não compreende todas as vertentes pertencentes à complexidade do desenvolvimento do ser humano, principalmente a percepção subjetiva do indivíduo. Segundo o PNUD (2016), o IDH é formado por três pilares: saúde, educação e renda, os quais são avaliados da seguinte forma: • Uma vida longa e saudável (saúde) – mensurada pela expectativa de vida. • Acesso ao conhecimento (educação) – medida por alguns fatores: — Média de educação dos adultos avaliada pela média de anos de estudos recebidos durante a vida, após os 25 anos. — Expectativas de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar. • Padrão de vida (renda) – avaliado pela renda nacional bruta per capita , que é expressa em poder de paridade de compra. A classificação para determinar se um local tem um alto ou baixo desenvolvimento humano varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento humano (PNUD, 2015) WHOQOL Subjetividade Multidimensionalidade Dimensões positivas e negativas Durante os anos 1990, ocorreu um crescimento de instrumentos objetivando mensurar a qualidade de vida e seus componentes, com destaque para os Estados Unidos, e com isso um interesse em traduzir esses instrumentos para outros países. Porém, somente replicá-los em outras culturas não refletiria a sua realidade, pois se correria o risco de que os aspectos aferidos nos instrumentos não retratassem a cultura mensurada (FLECK, 1998). Desta forma, o WHOQOL group , um grupo de estudos e pesquisa em qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde, em um trabalho colaborativo multicêntrico, ou seja, abordando diversas culturas, desenvolveu o WHOQOL-100, um instrumento de qualidade de vida composto por 100 itens, divididos em 6 domínios e 24 facetas. Problemas: Muito longo Solução: WHOQOL – Bref com 26 questões QUALIDADE DE VIDA E CORPOREIDADE Quando refletimos sobre a construção da corporeidade na sociedade ocidental, temos a separação ou a dicotomia corpo e mente, passando pelo cartesianismo até chegar ao conhecimento mais aprofundado de Foucault e Merleau-Ponty, que considera a corporeidade como a dinâmica de uma um indivíduo em um mundo, interagindo e modificando-o por intermédio e aprendizado do corpo integral: “O mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou aberto ao mundo, comunicome indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável” (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 14). Já a ideia de qualidade de vida também tem um caráter abrangente, que pode ser abordado por diversas áreas de estudo e conhecimento; todavia, para se obter um entendimento da qualidade de vida de uma maneira integral, não se pode ter uma compreensão apenas a partir de dados estatísticos, que acabam apresentando uma realidade reducionista de uma população ou sociedade heterogênea, como os índices produzidos pelo IDH. NÃO SE PODE SUBESTIMAR QUALQUER ESFERA DE VIDA DO INDIVÍDUO, E ISSO INCLUI SUA QUALIDADE DE VIDA. Indivíduo como ser transformador e não reprodutor Corpo só pode ser compreendido através de sua integração na estrutura global O homem não é um ser composto de apenas de sua inteligência, mas também de seu corpo,sua sensibilidade e sua imaginação O corpo não é nada mais que um símbolo da sociedade em que ele vive, que reproduz em escala menor os perigos e poderes que são atribuídos à estrutura social vigente A qualidade de vida é um processo que deve ser incorporado pelo sujeito, por meio da corporeidade que tenta entender o ser humano em seu sentido mais amplo, relacionado com a sua história e sua cultura. Contudo, para que isso ocorra, não é possível reduzir o ser humano a uma única esfera de compreensão de maneira objetiva. Em nossa sociedade o conceito de qualidade de vida aparece deturpado, referindo-se a imagem de corpo, ao bem estar econômico, e isso reflete-se na corporeidade do indivíduo. A corporeidade junto à incorporação de uma qualidade de vida significante promove uma transcendência, que exigirá um processo de entendimento e aprendizado significativo da cultura, pois com isso se constrói a história, e a partir disso se perpetua a cultura, que auxilia na construção do corpo UMA CORPOREIDADE PLENA IRÁ REFLETIR NA QUALIDADE DE VIDA E VICE-VERSA EDUCAÇÃO FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA Relação entre Ed. Fisica e promoção de saúde e bem-estar Será que atividade física é igual saúde? Saúde é somente ausência de doença? O Conceito de SAÚDE: Resultante social da construção coletiva dos padrões de conforto e tolerância que determinada sociedade estabelece, e o estado de saúde de um indivíduo sofrerá interferência de numerosas variantes, dos domínios funcionais até os elementos físicos, sociais, ecológicos e de hábitos pessoais Prevenção em Saúde x Promoção em saúde Prevenção em saúde: encorajamento da associação direta e predominante da relação entre hábitos do sujeito e sua condição de saúde Promoção em saúde: união de interesses em promover a saúde em diversas esferas da sociedade A saúde apresenta um sentido mais amplo e uma questão social mais extensa, que vai além da perspectiva individual. Logo, o estilo de vida positivo é determinante para a promoção da saúde, assim como a prática regular de uma atividade física e esportiva, fazendo parte de um processo que integra diversos fatores, porém não são a solução dos problemas de saúde A adesão a atividade física sistematizada não pode ocorrer por modismo ou por imposição de algum sistema ESPORTE E QUALIDADE DE VIDA O esporte é uma das atividades entre as muitas disponíveis. O esporte tem função para a vida do homem em sociedade. O esporte é uma manifestação cultural que passou por diversas épocas, refletindo as características da sociedade. Influências mercadológicas e da mídia. Sofrem um processo de criminalização por uma parcela dos profissionais de Educação Física. O esporte apresenta diversas facetas.
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