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AESVF - AUTARQUIA EDUCACIONAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO FACAPE – FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS E SOCIAIS DE PETROLINA COLEGIADO DE DIREITO DANILO DOS SANTOS GUIMARÃES MEIRE CELI PEREIRA RODRIGUES ROSEANE ARAÚJO BEZERRA O DIREITO ESTÁ INSERIDO EM DINÂMICAS SOCIAIS SEM MUTAÇÃO, ENTRETANTO NÃO PODE PRESCINDIR DE LEGITIMIDADE Petrolina 2018 DANILO DOS SANTOS GUIMARÃES MEIRE CELI PEREIRA RODRIGUES ROSEANE ARAÚJO BEZERRA O DIREITO ESTÁ INSERIDO EM DINÂMICAS SOCIAIS SEM MUTAÇÃO, ENTRETANTO NÃO PODE PRESCINDIR DE LEGITIMIDADE Ensaio jurídico apresentado à AEVSF – FACAPE, como requisito avaliativo à Disciplina de Sociologia Jurídica, do 2º Período Noturno, do Curso de Direito, orientada pela Professora Dra. Anna Christina. Petrolina 2018 RESUMO: o presente ensaio tem como objetivo discutir a atuação do direito no campo social. Demonstrando a mutabilidade e suas influências, bem como a atuação precípua do direito de dizer o direito, e a interpretação. Ainda, demonstra as vertentes inerentes ao campo jurídico, abordando em parte de sua obra a sociedade brasileira. 1.INTRODUÇÃO O direito é um fenômeno social, e sofre influências do contexto social em que surge. Sendo uma construção da racionalidade humana, e por um indivíduo utilizado, não se trata de um fenômeno natural percebido pelo sistema sensorial dos indivíduos. Ele se apresenta como uma instituição que se abstém da inteligência humana, da racionalidade, estando atrelado a aspectos de formação de uma determinada cultura, sendo entendido, pois, como um elemento cultural. 2. DESENVOLVIMENTO Na vertente cultural do direito, ele está atrelado à condição humana, bem como sua percepção se dar por vias da interpretação. A partir daí, evidencia-se que a percepção do fenômeno jurídico pela sociedade não prescinde do processo interpretativo. Além disso, tanto a interpretação como a concretização do direito, não pode ser descrita como uma atuação exclusiva de uma parcela social, qual seja, dos interpretes do direito, como diria Pierre Bourdieu. Faz-se, necessário, atribuir o desenvolvimento prático a todo o corpo social, que influência pela busca do direito a interpretação e aplicabilidade do mesmo. Destarte, com lastro nas premissas traçadas, demonstra-se, com maior amplitude nos intérpretes do direito, a contribuição para o fortalecimento da democracia e da consolidação de uma sociedade aberta. Ainda, na qualidade de elemento cultural, o direito é detentor de características e atributos diversos, sendo ainda passível de transformações, é mutável. O direito não é finito, um “produto” acabado. Desse modo, é verdadeira a afirmação de R. A. Amaral Vieira quando afirma: “O direito não é, está sendo”. Outrossim, como um fenômeno fluído, o direito serviu e foi servido pela humanidade em sua galgada civilizatória. Sob esta óptica é analisado os vários enfoques, quais sejam, a análise econômica do direito; a análise sociológica; a análise jurídica, dentre outras. O que não se percebe, todavia, é que se trata do mesmo exemplar. Um olhar viciado de uma estrutura que não é senão uma mescla cultural de per si. O direito é linguagem que se encontra por toda parte. O pensamento humano busca elaborar uma representação dessa linguagem e o faz por meio da interpretação. Dito isto, o que se deve indagar é: quem deve interpretar o Direito? Pessoas escolhidas por um consenso? Pessoas escolhidas por critérios meritórios? Uma pessoa? Alguma pessoa? Todas as pessoas? Ninguém? Não obstante, a legitimidade da função judicial é baseada na legalidade da norma, como também nas garantias da posição institucional do juiz e dos recursos instrumentais e procedimentais de que dispõe para solucionar as demandas. Em um Estado liberal, os postulados tendem a limitar o exercício do poder de acordo com a vontade geral expressa pela lei, assim como potencializar os direitos individuais do cidadão para que o mesmo possa expressar-se livremente. Nesse contexto, formado pelo reinado das leis, é inerente que a mesmo tenda a se opor a três princípios básicos: princípio do monarca; princípio objetivo e princípio da vigência de uma justiça administrada diretamente pela sociedade (sem a participação de um mediador da lei). Essa oposição levou a uma desestruturação da função judicial pelo fato desses princípios além de serem contraditórios entre si terem força maior dentro do campo jurídico. As escolas de direito têm acompanhado essas transformações de maneira menos responsável, apropriando-se de uma metodologia jurídica apoiada na doutrina e nos corpos legais. Ainda, fazendo com que a interpretação e aplicação do direto siga por um caminho onde se dá margens para a subjetividade e antecipação do direto na solução dos casos concretos. Contudo, a lei não oferece todos os critérios de solução e neste sentindo tem-se buscado novos parâmetros de legitimidade capazes de compensar as deficiências do princípio liberal. O juiz tem o dever de apropriar-se de outras fontes além das leis propriamente ditas, procurando entender os costumes, as jurisprudências dos tribunais, a doutrina, os princípios gerais do direito, a analogia e a equidade. Uma norma é considerada legitima quando se é orientada a passar por um processo onde exista uma discursão e um consenso ideal, que fundamenta a legitimação democrática do direito e do Estado. Desse modo, mister que tanto na formação da norma como em sua aplicação pelo judiciário, ocorra a atuação efetiva da sociedade, não visando grupos dominantes, mas o campo social como um todo, abrangendo todas as suas necessidades. Segundo Max, o direito era visto como instrumento legitimador dos interesses da classe social dominante, uma vez que, o mesmo exprimia através das normas jurídicas os valores, conceitos e interesses das classes existentes conforme a sua época, seja social, capitalista ou feudal. Em um contexto mais atual, pode-se traduzir que o direito passou a ter um vínculo cada vez mais particular com as estatais. Já Michel Foucault, outro filosofo e historiador, tinha um pensamento diferente, segundo ele o poder era apenas aplicado de cima para baixo, ou seja, o poder só se exerceria em função dos dominantes de modo a subjugar os dominados. De fato, Foucault não nega as realidades da dominação de classe, entretanto, argumenta que a dominação não seria a essência do poder. Isso pelo o fato de que diferentes grupos estão emaranhados nas relações de poder, desiguais e hierárquicas, nenhum desses grupos possui, realmente, o controle acerca dessas relações. Nesse contexto, é necessário que toda a população, ou melhor, os agentes do Campo Social, participe ativamente na consolidação do entendimento do judiciário quanto às aplicações do ordenamento jurídico. Noutra vertente, tem se procurado buscar meios de como melhorar a formação acadêmica dos juristas e juízes fazendo com que suas qualificações sejam aprimoradas dentro de um contexto de leis e fatos sociais que atendam de forma justa à sociedade. Pondera-se que nos últimos tempos têm-se observado que os cursos jurídicos implantados no Brasil estavam mais preocupados em atender os interesses do Estado, e dos dominantes, em detrimento dos anseios da sociedade brasileira. Em face desse cenário e procurando superar uma visão fechada e dogmática de compreensão do fenômeno jurídico, necessita-se reformular o ensino jurídico brasileiro no sentindode nortear o indivíduo a compreender e perceber o direito em toda sua pluralidade e complexidade, engajando-o pelas diferenças sociais, as desigualdades, as minorias, os conflitos, os abismos e os demais aspectos relacionados a vivencia do homem em sociedade. Em um Estado democrático de direito, a interpretação é algo que reflete diretamente na dinâmica da sociedade, vez que só existe após ser interpretado, devendo ser pluralista. De modo que, a legitimação da interpretação do direito só será alcançada se no procedimento concretizador do mesmo se buscar, de forma otimizada, abarcar todos os pontos de vista da sociedade regulada por ele. Neste contexto, verifica-se que a democracia, também elemento cultural, é mutável e, dessa forma, não deve ser vista mais como a tirania da maioria, mas, sim, um mecanismo de respeito às posições das minorias que expõe suas vontades através do processo. 3. CONCLUSÃO Quando se busca o que o direito é, deve-se levar em consideração, sob o aspecto de uma mutação social e jurídica, as transformações que passa, de forma constante, o seu conteúdo e sua forma, sendo ele, por fim, o resultado de uma manifestação concreta do mundo histórico, cultural e social. Eugen Ehrlich retrata a norma como aquilo que é posto em prática, além daquilo que está prescrito, positivado, ponderando-se pela vivacidade do direito. Desse modo, mesmo que a sociedade pareça regredir, o direito tem o dever legítimo de garantir as conquistas fundamentais e difundi-las por todo Campo Social. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Trad. Fernando Tomaz (português de Portugal). 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. 322 p. DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 484 p. EHRLICH, Eugen. Fundamentos da sociologia do direito. Trad. René Ernani Gertz. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986, cl1967. 390 p. GOMES, Matheus Barreto. Por uma interpretação aberta do Direito. 2012. Disponível em: <http://egov.ufsc.br/portal/conteudo/por-uma-interpretação- aberta-do-direito>. Acesso em: 10 jun. 2018. REVISTA MÚLTIPLAS LEITURAS. Ensaio sobe a noção de poder em Michel Foucault. São Paulo: Metodista, v. 4, 2, 2011, p. 1-2. ROCHA, Markson Valdo Monte. Interpretação do direito e crítica jurídica: legitimidade social do direito. 2014. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/35041/interpretacao-do-direito-e-critica-juridica/2>. Acesso em: 09 jun. 2018.
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