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Sólo una decidida apuesta por la ética en la vida de las empresas y las organizaciones puede contribuir a generar dosis crecientes de humanización en la vida socioeconómica. Sólo así irán los individuos creciendo en su humanidad y configurando un entorno más rico y habitable. José Luis Fernández Fernández ÉTICA EMPRESARIAL UNIVERSIDADE DO ALGARVE FACULDADE DE ECONOMIA Mestrado em Gestão Empresarial Maria Margarida Nascimento Jesus E-mail: mmjesus@ualg.pt Novembro 2018 3 SUMÁRIO ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL Conceitos de Ética, Moral e Deontologia, Valores, Axiologia e Cultura ÉTICA EMPRESARIAL A Ética Empresarial A Responsabilidade Social da Empresa A Teoria dos Stakeholders Os Códigos de Ética ESTUDOS EMPÍRICOS O Caso do Algarve O Caso do CHBA A Responsabilidade Social das Empresas no Algarve 4 O que é a Ética? Poderá parecer-nos fácil apresentar uma definição de ética uma vez que todos nós cremos saber o que é: Respeitar o próximo, dizer a verdade, ser bom, ser justo. Princípios elementares que nos são incutidos desde crianças pela família, pela escola, pela sociedade. Mas… deveremos dizer sempre a verdade! Será que, por vezes, não é melhor que a verdade não seja dita? "Como agir melhor, quando é impossível agir perfeitamente?" 5 O que é a Ética? Viver em sociedade é inerente à condição humana. Contudo, o facto de as pessoas fazerem parte da mesma sociedade não implica que sejam iguais, que pensem ou que actuem de forma idêntica. Cada pessoa, dentro dos constrangimentos gerados pelo seu grupo, tem a sua própria liberdade de agir. É precisamente nessa relação entre a liberdade individual e a necessidade de respeitar os valores coletivos, que se situa toda a problemática da ética. 6 O que é a Ética? O facto das pessoas terem objetivos diferentes e se comportarem de forma desigual, pode conduzir ao aparecimento de conflitos de interesses, o que implica que, em certos momentos, tenham que decidir sobre o que é justo ou injusto, certo ou errado, bom ou mau. São muitas as situações do quotidiano que, em virtude de determinados comportamentos adotados, as pessoas podem causar prejuízos individuais ou coletivos. Por exemplo: Conduzir um carro tendo ingerido excesso de álcool; Furtar algo que não lhe pertence; Deitar para o chão o resto de um cigarro aceso… 7 O que é a Ética? A ética, enquanto ramo do conhecimento, tem por objecto o comportamento livre do ser humano no interior de qualquer sociedade. O estudo desse comportamento, no sentido do agir que possibilite a convivência pacífica entre os homens, é o objectivo da ética. Ética é a disciplina do conhecimento humano que engloba o conjunto de reflexões acerca do bem e do mal, do certo e do errado, do permitido e do interdito. Estuda, portanto, a acção humana e a sua adequação a uma moral. 8 O que é a Ética? Ética é o ramo da FilosofIa que se preocupa com o que é moralmente bom ou mau, certo ou errado, justo ou injusto. Podemos também dizer que ética e filosofia da moral são dois conceitos sinónimos. 9 O que é a Ética? A forma de agir em sociedade determina, portanto, o comportamento de um indivíduo como ético ou não ético. Ser ético ou agir de forma ética refere-se a um comportamento baseado em valores morais. É o comportamento definido socialmente como bom. Deve-se, no entanto, ter em conta que cada sociedade possui as suas próprias regras morais resultantes da própria cultura. Um comportamento não ético traduz-se num comportamento moralmente incorreto, ou seja, no incumprimento de normas morais estabelecidas na sociedade. 10 O que é a Ética? 11 O que é a Ética? 12 Falta de ética 13 Falta de ética 14 Falta de ética 15 Falta de ética 16 Falta de ética 17 Falta de ética MJ1 MJ2 Diapositivo 17 MJ1 (Calvin & Hobbes em Portugal, Calvin e Haroldo no Brasil) é uma série de banda desenhada escrita e ilustrada pelo autor norte-americano Bill Watterson e publicada em mais de 2000 jornais do mundo inteiro entre 18 de novembro de 1985 e 31 de dezembro de 1995[1], tendo ganho em 1986 e 1988 o Reuben Award, da Associação Nacional de Cartunistas dos Estados Unidos. Margarida Jesus; 09/10/2018 MJ2 Calvin é um garoto de seis anos de idade cheio de personalidade, que tem como companheiro Hobbes, um tigre sábio e sardónico, que para ele está tão vivo como um amigo verdadeiro, mas para os outros não é mais que um tigre de peluch. De acordo com algumas visões, as fantasias mirabolantes de Calvin constituem frequentemente uma fuga à cruel realidade do mundo moderno para a personagem e uma oportunidade de explorar a natureza humana para Bill Watterson. Ao fim de dez anos de publicação, os fãs consideram Calvin & Hobbes uma obra prima pela sua visão única do mundo, pela imaginação do protagonista e pelas situações insólitas que se estabelecem. Margarida Jesus; 09/10/2018 18 As Teorias da Ética Ao longo da história, vamos encontrar um numeroso grupo de filósofos e pensadores para os quais as questões ligadas à ética ocuparam um lugar central nas suas reflexões. Desde os antigos gregos, Sócrates, Platão, Aristóteles (a quem a Ética deve o estatuto de disciplina filosófica), Epicuro e Séneca; Passando por S. Tomás de Aquino, pelos modernos Hobbes, Hume, Smith, Kant, Bentham, Hegel, Stuart Mill, Nietzche, até Durkheim, Weber, Ortega y Gasset E pelos contemporâneos Heidegger, Aranguren, Ricoeur, Rawls, Habermas, Nozick, muitos pensadores deram importantes contributos à problemática da ética. As teorias da ética surgem como propostas de alguns destes pensadores e filósofos definirem a eticidade de uma acção. 19 As Teorias da Ética Os Clássicos... A ética como ciência nasceu com o advento das cidades gregas, no “Século de Péricles” (Sec.V a.C.), primeiro com os sofistas, depois com Platão e Aristóteles. MJ1 MJ2 MJ3 Diapositivo 19 MJ1 Com o tempo, começaram a acusar os sofistas de arrogarem uma capacidade para o ensino de virtudes. Houve sectores que assinalaram os sofistas como enganadores que, fazendo uso da retórica e da dialéctica, enganavam as pessoas. Margarida Jesus; 06/11/2017 MJ2 Desta forma, começou-se a qualificar como sofistas aqueles que recorriam aos sofismas para desenvolver os seus raciocínios e convencer os demais/outros. Um sofisma é uma falácia: algo que, pelas aparências, se apresenta como válido, ainda que, na realidade, não seja falso. Margarida Jesus; 06/11/2017 MJ3 Porém, a partir das posturas de Platão, Sócrates e outros sábios, começou-se a associar os sofistas ao engano. Assim, pode-se tomar a definição de sofista como aquele que, usando sofismas e falácias, engana as pessoas e até obtém um rédito da sua capacidade para confundir o outro através dos seus argumentos. Margarida Jesus; 06/11/2017 20 As Teorias da Ética Para os Sofistas (a.C.) A virtude de um homem é funcionar bem como homem. Para isso deve ser um bom cidadão. Mas ser bom cidadão significa ser aceite pela multidão, proveniente de muitas origens distintas, e para isso é preciso saber impressionar a plateia. Sofistas com Gekko, colocavam o objetivo da moral na busca do sucesso da felicidade. Mas não se podem abandonar outros valores como justiça e equilíbrio, indispensáveis à virtude. 21 As Teorias da Ética Platão O maior discípulo de Sócrates, aceitava que o bem e a virtude estão ligados à felicidade e ao sucesso. Mas pensava que tal só pode funcionar numa sociedade ideal – dualismo existencial (dois mundos: o mundo de ideias, perfeito, ideal e o mundo das sombras, em que vivemos). Introduz a teoria do significado e a lógica na ética. 22 As Teorias da Ética Aristóteles Discípulo de Platão, revolucionou o sistema do seu mestre exigindo o realismo na análise. Eliminou o dualismo dos mundos, recusando a existência de elementos que a nossa percepção não tem a capacidade de captar. Tudo aquilo que o ser humano deseja, todas as ações que pratica dirigem-se para um bem. 23 As Teorias da Ética Aristóteles Autor das três obras básicas da ética no Ocidente: - Ética a Nícomano - Ética a Eudemio - Magna Moralia (Grande Moral) 24 Podemos englobar as teorias tradicionais da ética em dois grandes sistemas: teleológicos e deontológicos. As teorias teleológicas determinam a eticidade de uma ação tendo em conta as suas consequências (ou fins); As teorias deontológicas determinam se um acto é ético tendo em conta os processos de tomada de decisão (ou meios). As Teorias da Ética 25 As Teorias da Ética Entre as teorias teleológicas mais representativas podemos citar: A teoria do utilitarismo (Jeremy Bentham 1748-1832 e Stuart Mill 1806-1873): a eticidade de uma acção é julgada pelos seus resultados para a sociedade. Um acto ou uma decisão são considerados correctos se deles resultar benefício para as pessoas e são incorrectos se, pelo contrário, lhes causarem danos ou prejuízos. O objectivo do utilitarismo é criar o maior benefício possível para o maior número de pessoas, com o menor prejuízo . A teoria da justiça distributiva (concebida por John Rawls, filósofo americano contemporâneo da Universidade de Harvard) é baseada no conceito de equidade. A justiça distributiva defende que os actos ou decisões éticas são aqueles que conduzem a uma distribuição equitativa dos bens e serviços, tornando-se fundamental determinar um método justo de distribuição dos mesmos. 26 As teorias deontológicas baseiam-se em regras ou princípios que comandam as decisões. Kant (1724-1804), um dos percursores destas teorias, entendia que a rectidão de um acto depende pouco (ou nada) do resultado desse acto. A pessoa moral tem “boa vontade” e toma decisões éticas baseadas naquilo que é correcto independentemente das consequências da decisão, isto é, obedece a um dever. Kant formulou o conceito de imperativo categórico de acordo com o qual cada pessoa deve agir somente segundo aqueles princípios que poderão ser considerados como leis universais, aplicáveis a toda a humanidade (razão pela qual esta abordagem também é conhecida por universalista). As Teorias da Ética 27 Para Kant os princípios da ética são imperativos categóricos: São imperativos porque a lei moral não aconselha, manda! São categóricos porque são juízos absolutos e não hipotéticos. As Teorias da Ética 28 Uma das formulações do imperativo categórico de Kant pode ser enunciada da seguinte forma: “Só devo agir de maneira que possa aceitar que o critério que me orientou se possa converter em lei universal" ou seja uma acção pessoal é moralmente justa numa determinada situação, se e só se, o princípio que guiou a execução dessa acção possa ser aplicado em todas as situações semelhantes. Teorias da Ética 29 Outra abordagem deontológica da ética, resulta da religião. A avaliação de todas as acções é baseada em regras. A perspectiva religiosa não é muito diferente da perspectiva Kantiana, excepto no que respeita à origem dos princípios universais, que resultam, não da razão, mas directamente de crenças religiosas. Ainda integrada nas teorias deontológicas alguns filósofos defenderam, nos anos mais recentes, a ética da virtude, afirmando que a eticidade de uma acção está, não nas regras, direitos e responsabilidades, mas na noção clássica de carácter. Deve ser dada atenção às actuações que estimulem os aspectos desejáveis do carácter tais como a honestidade, a lealdade, a compaixão e a generosidade. As Teorias da Ética 30 Muito antes de Kant, já o filósofo chinês Confúcio (551 a.C.) tinha estabelecido um sistema moral baseado em regras e direitos que deviam conduzir a vida das pessoas. Algumas dessas regras parecem-nos bastante familiares: Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti. Não desejes resultados rápidos nem procures pequenas vantagens. Se vires resultados rápidos não atingirás o objectivo final. Se te deixas levar por pequenas vantagens, nunca atingirás as grandes coisas. Quando vires alguém com valor, pensa como o podes imitar. Quando vires alguém sem valor examina o teu próprio carácter. Riqueza e posição social é o que as pessoas desejam, mas se não forem obtidas de maneira correcta, não devem ser possuídas. Sê simpático para toda a gente, mas amigo íntimo apenas dos virtuosos. As Teorias da Ética 31 Importa, ainda, que façamos referência à noção de: Relativismo moral, na base da qual está a postura do relativismo cultural, que argumenta que as práticas éticas diferem entre as culturas, ou seja, o que é considerado justo numa cultura pode ser considerado injusto noutra. O relativismo moral defende que o que é realmente bem ou mal é o que a cultura estabelece como bem ou mal. Se uma cultura adopta um princípio moral básico, então os membros dessa cultura actuarão de acordo com esse princípio moral. Em consequência, a conduta de cada indivíduo deve orientar-se segundo as normas da cultura onde está inserido e actuar de acordo com os princípios morais dessa cultura. Perante uma situação semelhante, pode portanto haver diferentes comportamentos igualmente éticos, desde que apoiados pelo ambiente cultural em que essa situação acontece. De acordo com esta posição, não faz sentido impor como moralmente mais válidos os princípios de uma certa cultura sobre os de outra, independentemente do seu desenvolvimento social, económico ou científico. As Teorias da Ética 32 Levando em conta princípios morais mais superficiais, o relativismo moral parece merecer uma aprovação generalizada. No entanto, quando pretende aplicar-se de forma absoluta sobre qualquer tipo de princípio moral, torna-se alvo de contestação por muitos pensadores que afirmam que há sempre valores universais que subsistem em qualquer cultura. Princípios genéricos como a defesa da vida, o respeito pelos mais velhos, a procura do bem para a sociedade, etc., parecem incluir-se num conjunto de princípios universais, embora possam em certas culturas ter aplicações aparentemente contraditórias. Uma tentativa de codificar um conjunto de valores universais e tornar explícita a sua aceitação em todo o mundo é a Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU; contudo, a dificuldade da sua implementação nalguns países, pelo menos em parte, resulta da resistência em alterar padrões de comportamento que não são considerados incorrectos nessas culturas. As Teorias da Ética 33 A Ética e a Moral No discurso comum as palavras ética e moral são muitas vezes usadas alternadamente para referir os conjuntos de normas que governam as ações dos indivíduos. O mesmo significado atribuído a estes dois vocábulos, advém do facto de ética e moral terem uma etimologia vizinha: a palavra ética deriva do grego ethos e a palavra moral deriva do latim mores, ambas significando hábitos e costumes. Contudo, podemos dizer que a ética tem um significado mais amplo que a moral. 34 A Ética e a Moral A moral é um conjunto de regras, valores e proibições vindos do exterior ao indivíduo, ou seja, impostos pela política, religião, filosofia, ideologia, costumes sociais, que impõem ao indivíduo que faça o bem, o justo nas suas esferas de atuação. Por outro lado, a ética é uma crítica sobre a validade da conduta humana. A ética implica sempre um reflexão teórica sobre qualquer moral, ou seja, a moral é a aceitação das regras, a ética é a reflexão racional e crítica dessas mesmas regras. Não existe, contudo, por parte de muitos analistas, unanimidadeno que respeita aos conceitos de ética e de moral. Poderemos, assim, utilizar indistintamente os termos ética e moral no sentido do agir correto. 35 Deontologia Um outro conceito que habitualmente encontramos relacionado com o de ética e o de moral é o de deontologia, vocábulo com base etimológica nas palavras gregas déon que significa dever e logia que significa conhecimento No sentido atual, deontologia designa a ciência ou tratado dos deveres. A ética moderna utiliza o termo para aplicá-lo à vida profissional. Deontologia pode ser definida como o conjunto de regras comummente aceites no seio de uma profissão. 36 Valores Nos fundamentos básicos do comportamento humano estão os valores e, como tal, os valores são os fatores chave na tomada de decisões éticas (ou no comportamento ético). 37 Valores De uma forma genérica, valor é entendido como tudo aquilo que deve ser objeto de preferência ou de escolha. “Um valor é uma convicção que determina a escolha de uma forma de agir“ Os valores éticos são convicções que orientam a pessoa a agir entre o "correto" e o “incorreto". 38 39 40 Valores 41 Valores e Axiologia A axiologia, enquanto ramo da filosofia, é entendida como a reflexão em torno dos valores, em especial dos valores morais. A axiologia pode igualmente ser entendida como a ciência que estuda a natureza dos valores. A reflexão sobre a temática dos valores conduz-nos a constatar o facto evidente de que qualquer sociedade, possui um sistema de valores do qual emana uma ética, uma forma de regular as condutas dos indivíduos. Esses valores contribuem para a formação da identidade de cada um dos atores sociais e das instituições oferecendo um forte contributo para a padronização dos comportamentos e, desse modo, para a ordem social. No fundo, os valores são parte integrante daquilo que comummente se designa por cultura. 42 Cultura Distinguiremos à partida os dois sentidos da palavra cultura: Um sentido restrito a que chamaremos "humanista" Um sentido lato que designamos por "antropológico" No sentido restrito, a palavra cultura é utilizada para se referir às produções humanas "sofisticadas" ou, de uma forma geral ao "conhecimento": a Literatura , a Ciência, o Teatro, a Ópera, etc. Cultura opor-se-á, então, a "incultura". No sentido antropológico, cultura refere-se a todas as atividades especificamente humanas que são inventar, aprender e partilhar. Neste sentido lato, não só não há indivíduos ou grupos "incultos", como a cultura é inerente a toda e qualquer atividade coletiva humana. 43 Cultura A cultura é, portanto, tudo aquilo que é apreendido, transmitido e partilhado na vida em sociedade. Não resulta de uma herança biológica ou genética, mas de um processo de aprendizagem socialmente condicionado que a Sociologia designa por processo de socialização e a Antropologia por endoculturação: o processo através do qual os indivíduos adquirem os códigos colectivos, os internalizam e incorporam tornando-se assim "produtos" do meio sociocultural onde crescem. Como resultado, adquirem formas de agir, de sentir e de pensar comuns, o que os leva a ser facilmente identificáveis em contextos culturais diferentes dos seus. 44 Cultura A cultura de um grupo é, assim, composta pela totalidade dos seus modos de agir, fazer e pensar, pelas suas maneiras de ver o mundo e de o transformar, por todos os ritos, mitos e símbolos, por todos os artefactos produzidos e reproduzidos no seu seio, bem como, pela sua identidade enquanto grupo. Torna-se, então, evidente, que toda a problemática da ética, dos valores, da axiologia pode ser inscrita nessa instância mais alargada que é a problematização da cultura. Interrogarmo-nos sobre os valores partilhados por determinado grupo, sobre as suas noções de bem e de mal, de virtude e de vício, sobre a sua produção, reprodução e mudança é, claramente, colocar a questão do funcionamento e da dinâmica da sua cultura. 45 Ética Empresarial 46 Ética Empresarial Desde há algum tempo que a gestão de empresas deixou de se orientar exclusivamente para o lucro tendo em conta apenas os interesses de proprietários ou acionistas. Outras questões, nomeadamente sociais, culturais, ambientais e éticas têm vindo a integrar as novas preocupações da gestão. Nas últimas décadas do século XX, o mundo empresarial assistiu ao aparecimento de movimentos de ideias que marcaram decisivamente novas maneiras de encarar a gestão. Merecem especial destaque no âmbito da ética empresarial, o emergir do movimento ético, da responsabilidade social da empresa e da teoria dos stakeholders. 47 Ética Empresarial Ética é a disciplina do conhecimento humano que engloba o conjunto de reflexões acerca do bem e do mal, do certo e do errado, do permitido e do interdito. Estuda, portanto, a acção humana e a sua adequação a uma moral. No plano empresarial, a ética prende-se com a reflexão em torno das atitudes e condutas humanas orientadas para o mundo dos negócios, na sua vertente moral. 48 Ética Empresarial 49 Ética Empresarial Como consequência das profundas transformações políticas, sociais e económicas ocorridas ao longo do século XX, as empresas contemporâneas têm vindo a confrontar-se cada vez mais com problemas de natureza ética: corrupção, fraudes fiscais, abusos no campo laboral, desrespeito pelo ambiente, são alguns dos muitos exemplos que podem ser apontados. Contudo, paralelamente, vimos assistindo a uma procura crescente de normas e de comportamentos éticos por parte das empresas. 50 Ética Empresarial Assistimos a um "acordar" do sentido ético, ou seja, a uma busca de referenciais éticos por parte das empresas, que, em número crescente, vão reconhecendo a importância e o valor de comportamentos éticos e socialmente responsáveis e dos riscos e custos que os desvios em matéria de ética por vezes envolvem. É neste contexto que se pode situar a emergência do que podemos designar por movimento ético. 51 Movimento ético Um movimento de ideias que tem procurado formalizar e fornecer respostas às principais situações geradoras de dilemas éticos que se colocam na vida empresarial. Resultante deste processo tem sido, por um lado, o crescente número de obras dedicadas ao tema da relação entre ética e negócios e, por outro lado, a adopção de códigos de ética ou códigos de boa conduta por parte de cada vez maior número de empresas. Ética Empresarial 52 Mas… Constituirá esta procura de ética uma simples moda, ou tratar-se-á de um movimento duradouro, como resposta às transformações por que está a passar a sociedade contemporânea? Ética Empresarial 53 Este movimento, relativamente recente na Europa, pois data de meados dos anos oitenta, afigura-se bastante enraizada nos EUA, donde sopraram os primeiros ventos; Este movimento parece ir ao encontro de uma exigência cada vez mais generalizada das sociedades modernas e dos seus diferentes grupos, o que sugere que se trata de um movimento duradouro, explicado em larga medida pelas profundas transformações vividas pela sociedade em geral e pelo meio empresarial em particular. Ética Empresarial 54 Ética Empresarial Avizinha-se uma nova forma de olhar para as organizações empresariais; assistimos a um "acordar" do sentido ético, ou seja, de uma busca de referenciais éticos por parte das empresas, que, em número crescente, vão reconhecendo a importância e o valor de um comportamento ético ou socialmente responsável e dos riscos e custos que os desvios em matéria de ética por vezes envolvem. Sinais visíveis destas preocupações são a crescente importância dada à reflexão e investigação acerca do tema da ética empresarial ou ética nos negócios. 55 Podemossituar as origens do movimento ético na sequência das transformações verificadas no meio empresarial desde o início do séc. XX que conduziram ao aparecimento de grandes empresas, com uma organização formal e hierárquica e com separação entre os poderes dos gestores e os dos proprietários, bastante diferentes da pequena empresa tradicional. Como consequência destas transformações, assistimos, a partir dos anos cinquenta, ao crescimento de uma reflexão ética, centrada sobretudo na actuação e na gestão destas grandes empresas. Ética Empresarial 56 Questionam-se as actividades destas empresas a partir das suas consequências sociais, nomeadamente, aquelas que, em nome do desenvolvimento industrial, provocam danos ecológicos importantes, ou as que, fazendo apelo ao consumismo, provocam alterações significativas no estilo de vida das pessoas. As preocupações relacionadas com as consequências sociais das actuações empresariais está na base do movimento que veio ser designado por responsabilidade social da empresa. Este movimento, que viria a constituir uma nova forma de perspectivar a empresa, entendia que era necessário ter em conta outros interesses para além dos interesses dos accionistas e dos proprietários. Ética Empresarial 57 Assiste-se a uma mudança na atitude dos gestores, levando a uma alteração da relação empresa/sociedade. A empresa é chamada a dar um maior contributo para a qualidade de vida dos cidadãos. Definitivamente, deixaram de ser sustentáveis ou aceites atitudes ou posições sintetizadas nas emblemáticas frases de Rockfeller: “ winning at all costs” “the business of business is business not ethics” Ética Empresarial 58 A consolidação da ética nos negócios, enquanto disciplina dotada de uma relativa autonomia observa-se na primeira metade da década de oitenta, quando se dá uma verdadeira explosão de iniciativas que demonstram a existência de uma sólida dedicação a este objecto de estudo. Exemplos disso são o crescimento e a sistematização formal da produção científica sobre o tema. O aparecimento de revistas da especialidade e de centros de investigação em ética nos negócios regista-se precisamente no começo dos anos oitenta e, naturalmente, tem início nos EUA. Ética Empresarial 59 Assim, entre outros, podemos citar o aparecimento: Em 1981, do Business and Professional Ethics Journal editado pelo Centre for Applied Ethics da Universidade da Florida; Em 1982, do Journal of Business Ethics, revista de referência no campo da ética nos negócios; Em 1985, do Economics and Philosophy, editado pela Universidade de Winsconsin; Em 1991 da Business Ethics Quaterly, editada pela Society for Business Ethics, etc. Ética Empresarial 60 De referir ainda, o aparecimento, desde meados dos anos oitenta, de vários centros de investigação na Europa, nomeadamente: O Business Ethics Research Centre e o Institute of Business Ethics em Londres; O Centre d'Éthique de l'Entreprise em Paris; A Chaire Hoover d'Éthique Économique et Sociale, em Lovaina; O Institute of Business Ethics em Saint Gallen; O Seminario Permanente Empresa y Humanismo, em Pamplona; A Fundação ÉTNOR, em Valencia. Ética Empresarial 61 Dada a importância para a visibilidade e para o desenvolvimento da ética nos negócios na Europa, merece também destacar a existência da European Business Ethics Network (EBEN). Fundada em 1987 como resultado da 1ª Conferência Europeia em Ética nos Negócios, esta rede foi criada com a intenção de potenciar as relações entre o mundo académico e o mundo empresarial. Os seus principais objectivos eram promover a qualidade moral no processo de tomada de decisões nos negócios e servir como espaço aberto de troca de ideias e de experiências. A EBEN, para além de outras actividades, proporcionou a promoção de cursos, publicações, conferências, contactos entre instituições e centros de investigação, etc. e potenciou a criação de diversas redes de âmbito nacional, nomeadamente em Itália, França, Alemanha, Holanda, Suíça e Espanha. Ética Empresarial 62 A nivel internacional O caso Enron A Enron era uma das maiores empresas de energia dos Estados Unidos. Os seus principais responsáveis foram condenados por diversas fraudes contabilísticas e financeiras que conduziram a empresa à falencia, ocultando as suas verdadeiras contas para maquilhar perdas de cerca muitos milhões de euros. O caso Parmalat Caso muito parecido ao da Enron, mas em Itália. Contudo, o governo italiano não permitiu que a empresa entrasse em falência. O caso Madoff Um dos escândalos financeiros recentes, de grande envergadura, foi cometido pelo financeiro norte americano Bernard Madoff. Este gestor de carteiras cometeu fraude de 50.000 milhões de dólares, apoiando-se no esquema piramidal de Ponzi. Em 2009 Madoff foi condenado a 150 anos de prisão por varios crimes de fraude. Exemplos de falta de Ética Empresarial A falta de ética é um péssimo negócio.htm 63 O caso Volkswagen O caso de corrupção protagonizado, recentemente, pela empresa Volkswagen evidencia também a falta de ética a nivel mundial, em que para alcançar metas financeiras os responsáveis empresariais pervertem as boas práticas empresariais e passam por cima do bem comum. Embora a Alemanha seja uma grande potência económica e com uma das melhores leis anticorrupção, a Volkswagen concordou com a manipulação de motores com um software em 11 milhões de veículos, para simular a repetição de gases contaminantes, o que afetou a sua credibilidade. O impacto da notícia deve-se a que a Volkswagen é um dos principais fabricantes e vendedores de automóviles a nível mundial. Não obstante, um crítico comentou o seguinte: “surpreendeu-nos o caso Volkswagen porque somos estudiosos das empresas alemãs e não se pode falar de um padrão de abuso, não creio que haja uma razão cultural", contudo é um problema ético e de valores dos agentes económicos Exemplos de falta de Ética Empresarial 64 A nivel nacional: Os casos PBN; BCP; BES; PT; Operação Marquês, entre outros O caso PBN O caso BPN considerado a Maior Burla de Sempre em Portugal terminou com o colapso do Banco, sua posterior nacionalização e descoberta de um prejuízo de vários milhões de euros, que os contribuintes tiveram que suportar. O Que aconteceu ao dinheiro do BPN? Foi aplicado em bons negócios que geraram lucros e que Oliveira e Costa dividiu, generosamente, pelos amigos e seus homens de confiança em prémios, ordenados, comissões e empréstimos bancários. Um comentador da TV refere em fevereiro de 2013: “Isto é um escândalo sem fim. Não se percebe por que só Oliveira e Costa está em casa com uma pulseira eletrónica. Houve várias pessoas que usufruíram de milhões daquele banco, que pediram empréstimo para as operações mais inacreditáveis, que não pagaram os empréstimos, que ficaram com esse dinheiro, e esse dinheiro está todo a ser pago pelos contribuintes portugueses, que por sua vez ouvem diariamente afirmações de políticos de que não há dinheiro para nada” Exemplos de falta de Ética Empresarial 65 Apresentámos alguns dos muitos casos de falta de ética empresarial, o que leva a que muitas pessoas insistam na necessidade de se recuperar a ética e a confiança no mundo dos negócios e que nos leva também a reafirmar que: A FALTA DE ÉTICA NÃO COMPENSA, PELO MENOS A LONGO PRAZO! Exemplos de falta de Ética Empresarial 66 Responsabilidade Social da Empresa 67 A Responsabilidade Social da Empresa Durante muito tempo, foram quase exclusivamente as responsabilidades económicas as grandes preocupações de empresários e economistas. Contudo, as dinâmicas socioculturais e a evolução tecnológica aliadas à emergência de novas concepções das organizações em geral, conduziram a uma redefinição e ampliação dosparâmetros da responsabilidade empresarial. Começa a delinear-se a ideia de que existe uma responsabilidade social que é inseparável da atividade económica. 68 A problemática da responsabilidade social da empresa, remete para a resposta à questão fundamental: “Qual é o papel da empresa na sociedade atual?” A Responsabilidade Social da Empresa 69 A Responsabilidade Social da Empresa Visão clássica da responsabilidade da empresa: A única obrigação da empresa consiste em realizar o máximo lucro possível para os seus proprietários ou accionistas, não lhe sendo exigida qualquer outro tipo de responsabilidade. Para Milton Friedman, "existe uma e apenas uma responsabilidade social das empresas – usar os seus recursos e aplicá-los em actividades projectadas para aumentar os seus lucros desde que elas se confinem às regras do jogo, que são envolver-se em competição livre e aberta, sem logro ou fraude." MJ4 Diapositivo 69 MJ4 Alguns autores designam esta visão clássica por visão conservadora. Margarida Jesus; 07/11/2017 70 A Responsabilidade Social da Empresa Visão contemporânea da responsabilidade da empresa: A empresa tem responsabilidades para com um conjunto mais vasto de entidades, os grupos mais directamente com ela relacionados ou envolvidos na sua actividade: os seus stakeholders. Foram, contudo: A obra de Howard Bowen (1953), intitulada “Social Responsibility of the Businessman” E o livro “Primavera Silenciosa” de Rachel Carson (1962) que abordava os efeitos nocivos da utilização de pesticidas e inseticidas no meio ambiente e na saúde humana Que originaram o subsequente debate em torno do tema da responsabilidade social da empresa e das questões ambientais e ecológicas. 71 A Responsabilidade Social da Empresa Visão contemporânea da responsabilidade da empresa: A ideia central é a de que a empresa já não pode permanecer alheia aos impactos sociais e ecológicos que a sua actividade produz no ambiente humano e natural que a envolve. Trata-se de uma forma ética de perspetivar a empresa, na qual se salienta, para além da importância da dimensão económica a necessidade de integrar as dimensões social e ambiental na sua atividade. O que deu origem à expressão “Tripé da Responsabilidade Social” (Triple Botom Line). 72 A Responsabilidade Social da Empresa Visão contemporânea da responsabilidade da empresa O que está em causa com a questão da responsabilidade social é a atitude da empresa face ao reconhecimento da sua missão económica, admitindo simultaneamente as suas responsabilidades de natureza social e ambiental. Esta atitude compreende o carácter fundamental da produção em termos de eficiência económica e, paralelamente, a sua vinculação à sociedade em que está inserida, aos seus objectivos, necessidades, aspirações e valores. 73 Entre os vários analistas que se debruçaram sobre esta questão, Carrol (1991) propõe um modelo em pirâmide onde expressa as quatro dimensões principais que caracterizam as responsabilidades que a empresa deve assumir perante a sociedade: económicas, legais, éticas e "discricionárias". A Responsabilidade Social da Empresa 74 A Responsabilidade Social da Empresa Na perspetiva de Carrol, uma empresa socialmente responsável deverá realizar lucros, obedecer à lei, ser "ética" e apoiar as "boas" causas sociais. 75 A Responsabilidade Social da Empresa As empresas mais dinâmicas e mais atentas ao futuro estão, hoje em dia, a adotar esta atitude, como forma possível de garantir a sua sobrevivência a longo prazo, face a uma realidade externa caracterizada por fortes e constantes mudanças e a uma sociedade global composta por cidadãos cada vez mais informados e mais exigentes. 76 A Responsabilidade Social da Empresa Conceito O que é a Responsabilidade Social da Empresa (RSE)? A Comissão Europeia define no seu Livro Verde (2001): “A responsabilidade social das empresas é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais nas suas operações e na sua interacção com todas as partes interessadas” 77 A Responsabilidade Social da Empresa De destacar o carácter voluntário das actividades de responsabilidade social, ou seja a RSE traduz-se no conjunto de práticas de natureza social e/ou ambiental que a empresa exerce sem, para tal, estar obrigada por lei. Ou seja, ser socialmente responsável não se restringe ao cumprimento de todas as obrigações legais, implica ir mais além através de um “maior” investimento em capital humano, no ambiente e nas relações com os outros stakeholders. 78 A Responsabilidade Social da Empresa Dimensões da RSE (Livro Verde 2001) A dimensão interna possui como principal alvo de atenção os trabalhadores e diz respeito às práticas relacionadas com a saúde e segurança no trabalho, com a gestão dos recursos humanos, com a formação, com a melhoria do nível de informação, com a adaptação à mudança e com a motivação, entre outras. Na dimensão externa a intervenção da organização direcciona-se principalmente para os clientes e para a comunidade. Poderá participar em actividades que vão desde a oferta de espaços físicos para colóquios/formação ou sessões de esclarecimento para a comunidade, apoio em acções de promoção ambiental, recrutamento de pessoas em situação de exclusão social, patrocínio de eventos culturais e desportivos a nível local ou regional até doações para actividades filantrópicas. 79 A Responsabilidade Social da Empresa Razões que justificam as práticas de RSE Potencia o reconhecimento das empresas perante a sociedade, melhorando a imagem e a notoriedade dessas organizações, o que se repercute nos negócios Atrai investidores, os quais dão preferência a empresas estáveis, sob o ponto de vista jurídico, social e ambiental Ajuda a legitimar a actividade das empresas perante a sociedade, o que é mais significativo quanto maior for o impacto que essa actividade provoca em termos sociais, económicos e ambientais, melhorando, assim, o relacionamento entre essas empresas e os seus stakeholders Aumenta a projecção mediática das empresas. Empresas mais conhecidas e por boas razões, têm grande probabilidade de aumentar a sua quota de mercado Conduz à fidelização dos clientes e à conquista de novos Possibilita aumentos na produtividade das empresas, quando actua ao nível da educação 80 A Responsabilidade Social da Empresa Razões que justificam as práticas de RSE Proporciona incentivos fiscais às empresas Beneficia directamente os accionistas, pois ao conferir a uma empresa uma imagem forte, contribui para o aumento das vendas, valorizando as acções da empresa na bolsa. E mesmo para as empresas que não estão cotadas na bolsa, o retorno para os accionistas também se faz sentir, pelo referido aumento das vendas Conduz a aumentos na produtividade, na medida em que os colaboradores se sentem mais motivados para fazer o seu trabalho, devido ao retorno psicológico proporcionado pelo envolvimento em projectos sociais Ajuda as empresas a captar e a manter talentos e a assegurar a lealdade dos seus colaboradores, dado o aumento da satisfação destes, o que leva à redução da taxa de rotatividade e de absentismo Torna as empresas mais flexíveis, devido ao desenvolvimento da tendência para acompanhar as necessidades da sociedade Faz com que as empresas poupem em recursos ao adoptarem formas de consumo mais conscientes Contribui para o bem-estar global e para o desenvolvimento sustentável da sociedade, o que é benéfico para todos, nomeadamente para as empresas, na medida em que uma sociedade mais educada e com um maior poder de compra, contribui para a longevidade empresarial. 81 A Responsabilidade Social da Empresa A Responsabilidade Social é: (Dimensão interna) Promovera diversidade e a igualdade de oportunidades entre todos os colaboradores, independentemente da raça, sexo, idade ou crença política ou religiosa Promover o emprego de pessoas com deficiências Proporcionar o desenvolvimento profissional dos colaboradores, tendo por base o mérito e a atribuição de recompensas pelo desempenho profissional Promover a formação e a educação contínua dos colaboradores (quer pela atribuição de bolsas de estudo, quer pela atribuição de um estatuto especial aos que estudam ou frequentam acções de formação) Proporcionar a harmonia entre a vida profissional e familiar dos colaboradores Desenvolver uma comunicação eficaz e transparente entre todos os integrantes da organização Encorajar a capacidade de iniciativa e de envolvimento com as questões da empresa, entre todos os colaboradores; 82 A Responsabilidade Social da Empresa A Responsabilidade Social é: (Dimensão interna) Incutir valores éticos e socialmente responsáveis em todos os stakeholders da organização Facilitar a todos os colaboradores a prática de trabalho voluntário, remunerando- - o, se possível, quando realizado fora do horário laboral Zelar pela higiene, qualidade e segurança no dia-a-dia dos trabalhadores Proporcionar cuidados de saúde a todos os colaboradores Fazer dos despedimentos a última alternativa à redução dos custos empresariais e, caso o despedimento seja inevitável, fazê-lo da forma menos penosa para o funcionário, não deixando de lhe prestar todo o apoio necessário à sua reinserção no mercado de trabalho Diminuir, sempre que possível, o nível de discrepância entre as remunerações dos vários colaboradores, sobretudo entre aqueles que se encontram em condições idênticas 83 A Responsabilidade Social da Empresa A Responsabilidade Social é: (Dimensão interna) Proporcionar aos colaboradores a alimentação gratuita ou a um preço simbólico, dentro da empresa e durante o horário de trabalho Promover condições que facilitem a mobilidade dos colaboradores, sobretudo quando estes moram longe das instalações da organização (aqui, as acções podem ir desde a prestação de um serviço de transporte, até à atribuição de residências perto da empresa) Promover apoios especiais aos colaboradores que possuam filhos, como a flexibilidade no horário ou até mesmo a criação de creches nas instalações da empresa Promover actividades recreativas para os colaboradores e familiares Não negligenciar os colaboradores com contratos precários Promover o acompanhamento contínuo dos ex-colaboradores desempregados ou aposentados. 84 A Responsabilidade Social da Empresa A Responsabilidade Social é: (Dimensão externa) Não poluir o meio ambiente e contribuir para a sua preservação (esta actuação passa pela utilização de métodos não poluentes, pelo uso racional de recursos, pelo apoio a projectos ambientais e pela consciencialização ambiental de todos os stakeholders da empresa) Escolher os fornecedores com base em critérios socialmente e ambientalmente responsáveis Colaborar com a criação de projectos na comunidade, nas mais diversas áreas (educação, desporto, cultura, saúde e emprego) Proporcionar apoios a determinados segmentos da população como crianças, adolescentes, deficientes, mulheres em situação de risco social, mães solteiras, idosos, desempregados e pessoas com uma situação económica desfavorecida Trabalhar em parceria com entidades sem fins lucrativos Apoiar projectos de interesse público Participar em campanhas públicas e comunitárias. 85 Delta Cafés DHL Portugal Grupo Auchan Salvador Caetano Millennium BCP Grupo Portucel Soporcel REN Siemens Portugal Zoomarine Quesdata Grupo Sonae: Modelo Continente SGPS, S.A. AXA Portugal Vodafone Brisa Algumas Empresas Socialmente Responsáveis em Portugal A Responsabilidade Social da Empresa 86 O paradigma das sociedades modernas exige o desafio da empresa para a mudança, tendo presente a ideia de que a performance de uma empresa deve ser medida com base na sua contribuição para a prosperidade económica, qualidade ambiental e capital social (Comissão Europeia, 2001). O esgotamento progressivo dos recursos naturais, o agravamento das tensões sociais e a deterioração das condições ambientais do planeta têm sido motivo de constante preocupação da sociedade. O relatório Brundtland, elaborado em 1987 pela Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento, defende que somente a responsabilidade social empresarial fundamentada no conceito do desenvolvimento sustentável pode criar novas perspectivas de um mundo melhor, segundo um modelo que procura eliminar o impacto nocivo da actividade empresarial para a espécie humana. Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável e Cidadania Empresarial A Responsabilidade Social da Empresa 87 Entende-se por práticas de cidadania empresarial todo o tipo de acções da iniciativa de empresas ou em eventual associação com outras organizações, que visem promover a coesão social, a qualidade do emprego e a qualidade de vida dos trabalhadores, a igualdade de oportunidades relativamente a pessoas ou grupos sociais vulneráveis, ou, ainda, acções que tenham como finalidade apoiar dinâmicas locais e regionais de desenvolvimento económico e social sustentável, nomeadamente, a preservação do ambiente, dos recursos naturais e do património colectivo, pela mobilização dos cidadãos para uma efectiva participação cívica e pela redução das desigualdades sociais. Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável e Cidadania Empresarial A Responsabilidade Social da Empresa 88 Em complemento ao esforço individual das empresas desenvolveram-se, (tendo início na década de 90) em Portugal, associações empresariais com a finalidade de promover a RSE, entre elas: BCSD Portugal – Conselho Empresarial Português para o Desenvolvimento Sustentável GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial RSE Portugal – Associação Portuguesa para a Responsabilidade Social das Empresas A Responsabilidade Social da Empresa 89 Pacto Global da Organização das Nações Unidas- Global Compact (www.unglobalcompact.org) Constitui “uma rede internacional voluntária de cidadania empresarial iniciada com a participação quer do setor privado quer de outros atores sociais para promover a cidadania responsável de empresas e princípios universais sociais e ambientais para enfrentar o desafio da globalização.” Teve início em 1999, quando a 32 de janeiro, Kofi A. Annan, enquanto secretário-geral da ONU apresentou a ideia e desafiou os líderes mundiais. A Responsabilidade Social da Empresa 90 Princípios do Global Compact (Direitos Humanos) 1. Apoiar e respeitar a proteção dos Direitos Humanos internacionais dentro do seu âmbito de influência 2. Certificar-se de que as suas próprias empresas não estão a ser cúmplices de abusos de Direitos Humanos (Padrões laborais) 3. Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva 4. Apoiar a eliminação de todas as formas de trabalho forçado e Compulsório A Responsabilidade Social da Empresa 91 Princípios do Global Compact 5. Apoiar a erradicação efetiva do trabalho infantil 6. Eliminar a discriminação com respeito ao emprego e cargo (Ambiente) 7. Adotar uma abordagem preventiva para os desafios ambientais 8. Tomar iniciativas para a promoção de maior responsabilidade ambiental 9. Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente sustentáveis (Corrupção) 10. Trabalhar contra todas as formas de corrupção, inclusive extorsão e suborno A Responsabilidade Social da Empresa 92 Uma abordagem com grande destaque nas modernas teorias éticas e da responsabilidade social é ateoria dos stakeholders. A ideia central desta teoria é a de que a condução das empresas não deve apenas pautar-se pelos interesses dos seus accionistas ou proprietários, mas também pelos interesses de outros stakeholders (partes interessadas) designadamente, os empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os fornecedores. Teoria dos Stakeholders 93 Esta teoria encara a empresa como o centro de uma constelação de interesses de indivíduos e grupos que afetam, ou podem ser afetados pela atividade da empresa, e que legitimamente procuram influenciar os processos de decisão, com vista a obter benefícios para os interesses que representam ou defendem. Uma empresa eticamente responsável deve ter uma elevada preocupação com as necessidades e com os direitos de todos os seus stakeholders. Teoria dos Stakeholders 94 Teoria dos Stakeholders 95 A palavra stakeholder surge como uma transformação da palavra stockholder (accionista) para indicar que as empresas devem passar a estender as suas obrigações a um conjunto mais amplo de entidades do que aquele a que tradicionalmente a teoria económica se referia: os accionistas. Teoria dos Stakeholders 96 Em 1963, o Stanford Research Institute definia o conceito de stakeholders como "Os grupos sem o apoio dos quais a organização não poderia existir". Os stakeholders eram então os proprietários ou accionistas, os empregados, os clientes, os fornecedores, os financiadores e a sociedade. Em 1984, Freeman amplia a definição para "qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela prossecução dos objectivos da empresa". Teoria dos Stakeholders 97 Na tentativa de alargar a perceção de que existe apenas um interesse dominante na empresa - o dos acionistas - esta teoria contesta a opinião de que o primeiro ou mesmo o único propósito de uma empresa, seja a de maximizar os lucros e desafia a visão predominante na legislação de muitos países, que dá a primazia aos acionistas, introduzindo a noção de que, em qualquer negócio, existem vários stakeholders. Teoria dos Stakeholders 98 Um código de ética pode ser entendido como o conjunto de regras de conduta ética que devem ser observadas pelos membros de uma profissão, de um sector de actividade ou de uma empresa. As regras e os princípios de um código de ética empresarial estabelecem o enquadramento normativo da empresa, ou seja, os critérios de orientação para decidir o que é correcto e o que não é, pretendendo assim assegurar o comportamento ético dos seus membros. Códigos de Ética 99 As primeiras referências aos códigos de ética empresarial situam-se no princípio do século passado, mas só a emergência do movimento ético nos negócios irá proporcionar a sua generalização. Durante os anos sessenta, como resultado das incorrectas actuações empresariais, tais como os pagamentos ilegais ou discutíveis, a falsificação dos livros e dos registos empresariais, tanto nos EUA como no estrangeiro, a atenção pública sobre as empresas aumentou. Discute- se a forma de moderar essas actuações. A comunidade empresarial interessou-se, então, pelos códigos de conduta especificamente empresariais como um meio de definir e comunicar normas de conduta. Códigos de Ética 100 O desenvolvimento dos códigos de ética nas empresas deve-se à coincidência dos seguintes factores: 1. O crescimento da falta de confiança na actividade empresarial. 2. O aumento da importância da qualidade de vida nas expectativas das pessoas, levando-as a uma crescente exigência para com as empresas no tratamento de questões ambientais. 3. A exigência, por parte da sociedade, de sanções significativas para os comportamentos não éticos dos dirigentes empresariais. 4. O aumento do poder de alguns stakeholders. 5. O crescimento da divulgação pública dos comportamentos não éticos. 6. A mudança nos objectivos dos negócios, com a crescente aceitação de que os seus objectivos não se reduzem à maximização do lucro a curto prazo. Códigos de Ética 101 As empresas começam a sentir a necessidade de adoptar códigos de ética, com o objectivo de: 1. Adoptar uma auto-regulação em vez da regulação do estado 2. Melhorar a imagem pública da empresa 3. Guiar e orientar os membros da empresa, protegendo-os de cometer actos imorais 4. Servir como meio de penalizar os que não cumprem, satisfazendo assim as expectativas de justiça dos seus membros e do público em geral 5. Promover e incutir os princípios e os valores que caracterizam a empresa, desempenhando assim um papel formativo. Assiste-se, assim, a partir da segunda metade do século XX, ao crescimento do número de empresas que adotam códigos de ética. Códigos de Ética 102 Pode distinguir-se três formas diferentes de códigos de acordo com a sua extensão: códigos de ética profissionais, códigos de ética sectoriais e códigos de ética empresariais. Os primeiros definem as atividades e os comportamentos de uma determinada atividade profissional, isto é, estabelecem o seu enquadramento deontológico; são próprios dos grupos profissionais (p. ex. o Código Deontológico dos Contabilistas). Os segundos são códigos específicos de um sector empresarial que têm como finalidade evitar as práticas incorrectas que perturbam o ambiente ético desse sector, aproveitar as sinergias entre as empresas do sector e evitar os custos resultantes da má imagem. Os códigos de ética empresarial definem o projeto comum que caracteriza e une a empresa. Códigos de Ética 103 Em muitos casos os códigos de ética empresariais são informais, sendo implicitamente assumidos pelos membros da empresa. Contudo, os códigos de empresa que nos interessa estudar são códigos formais, escritos, que constituem um instrumento de gestão. Um código de ética empresarial pode então ser definido: "como um documento formal que estabelece os valores principais de uma organização e as regras éticas que espera que os seus empregados sigam" Códigos de Ética 104 Funções internas: 1. Institucionalizar os valores, normas e critérios de decisão que definem o projecto da empresa e que devem regular toda a actividade empresarial. 2. Criar uma cultura e um clima ético que potencie a identificação dos dirigentes e do resto do pessoal com o projecto comum que define a empresa. 3. Servir de ponto de referência ou critério de orientação, para a tomada de decisões em todos os níveis empresariais que elimine as incertezas e as ambiguidades. 4. Definir a responsabilidade, os direitos e as obrigações, de todos os grupos de interesses. Evidenciar o compromisso da empresa com a satisfação dos interesses internos em jogo. 5. Servir como instrumento estratégico para a criação, manutenção e desenvolvimento do capital confiança. Códigos de Ética 105 Códigos de Ética Funções externas: 1. Comunicar a imagem pública, o carácter próprio da empresa, perante o mercado, perante o Estado e perante a sociedade. Dar a conhecer o que é a empresa e quais são os seus objectivos. 2. Explicitar as linhas de actuação com que a empresa se compromete perante os seus clientes, fornecedores e concorrentes. 3. Evidenciar as obrigações legais da empresa, assim como o grau de compromisso com o cumprimento dos direitos humanos. 4. Possibilitar a credibilidade social da empresa através da definição da sua responsabilidade social e ecológica perante a sua envolvente social e da declaração das medidas que está disposta a seguir para o seu cumprimento. 5. Desenvolver uma cultura de aproximação à sociedade, procurando detectar as suas necessidades, para incorporá-las e para ser líder na sua satisfação. 106 Códigos de Ética A elaboração de um código Um código de ética pretende ser um instrumento que facilite o reconhecimento e a eventual resolução dos problemasde natureza ética que surjam numa empresa, sendo de admitir que cada empresa adopte regras de acordo com as suas características próprias (actividade, objectivos, meio envolvente, etc.) Não existem regras fixas para elaborar um código; este deve adaptar-se às especificidades da cada empresa. García-Marzá considera que um moderno sistema de direcção e organização empresarial deve incluir um código de ética no qual se possam distinguir três componentes básicas: a filosofia, a cultura e a política empresarial, de acordo com o seguinte esquema: 107 Códigos de Ética ESTRUTURA DE UM CÓDIGO DE ÉTICA FILOSOFIA EMPRESARIAL Definição da empresa, do seu objectivo e do lugar económico e social que quer ocupar. Grau de compromisso com a qualidade. CULTURA EMPRESARIAL Conjunto de normas gerais e valores que definem o projecto comum que é a empresa. Possibilita a identificação corporativa de todos os seus membros e é um ponto de referência para a tomada de decisões. POLÍTICA EMPRESARIAL Concretização dos objectivos gerais, normas e valores em estratégias e linhas de actuação perante os seus próprios membros, perante o mercado, perante o estado e perante a sociedade. + BALANÇO SOCIAL Elaboração, análise e interpretação do cumprimento por parte da empresa dos compromissos adquiridos que definem a sua responsabilidade social. 108 Códigos de Ética Empresarial Aspetos gerais a ter em consideração na elaboração e na implementação de um Código de Ética: 1.Deverá ser o presidente da organização a avaliar e autorizar o Código de Ética. 2. Deverá estar bem integrado no negócio da empresa, no momento em que for criado. 3. Dará garantia que todos os colaboradores têm acesso a este documento. 4. Garantirá formação à equipa de colaboradores de forma a responderem às solicitações do código. 5. As chefias e supervisores devem ter a capacidade de responder a dúvidas na aplicação do código. 109 Códigos de Ética Empresarial Aspetos gerais a ter em consideração na elaboração e na implementação de um Código de Ética: 6. Considerará a adesão ao Código de Ética como algo obrigatório nos procedimentos disciplinares. 7. Deverá indicar os procedimentos que garantam a revisão e atualização do código com regularidade. 8. No caso de a empresa ter filiais em vários países, apresentará a tradução do código de ética para as várias línguas. 9. Deverá rarantir que todos os stakeholders têm acesso e aderem ao Código de Ética da empresa. 10. Deverá ser introduzido no relatório anual da empresa. 110 Códigos de Ética Alguns aspetos a considerar aquando da elaboração do Código de Ética, relativos à tolerância, liberdade, justiça e individualidade que podem ser aplicados à generalidade das empresas, independentemente do setor de atividade: dar e receber ofertas/ presentes de clientes/ fornecedores conflito de interesses tráfico de informação confidencial (insider trading) privacidade e segurança dos empregados preocupações ambientais. 111 Códigos de Ética Em termos de estrutura, é comum os Códigos de Ética estarem divididos em duas partes: I. O preâmbulo, em que a empresa expressa ideias motivadoras, os ideais, a cultura da organização e um conjunto de valores. II. As normas de ética propriamente ditas onde estão incluídos os princípios que deverão ser seguidos pela empresa 112 Códigos de Ética Um código de ética para ser efetivo, deve ser muito mais do que um documento escrito. Deve, não só, estar presente nas práticas e comportamentos dos membros da empresa e em primeiro lugar dos seus responsáveis, mas também, deve corresponder a um generalizado sentido do dever em toda a comunidade empresarial.
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