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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS - LICENCIATURA MICHELE COELHO MODESTO O ENSINO DA ARTE E A INCLUSÃO: DIFICULDADES DE ATUAÇÃO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS COM ALUNO DEFICIENTE MÚLTIPLO CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. MICHELE COELHO MODESTO O ENSINO DA ARTE E A INCLUSÃO: DIFICULDADES DE ATUAÇÃO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS COM ALUNO DEFICIENTE MÚLTIPLO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Licenciada no Curso de Artes Visuais - Licenciatura da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Profª.Esp.Maria Neiva Mezari Borges CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2010. MICHELE COELHO MODESTO O ENSINO DA ARTE E A INCLUSÃO: DIFICULDADES DE ATUAÇÃO NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS COM ALUNO DEFICIENTE MÚLTIPLO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Licenciada, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Educação e Arte. Criciúma, 03 de Dezembro de 2010. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________ Prof ª. Maria Neiva Mezari Borges - Especialista - UNESC – Orientadora _________________________________________________________ Prof ª. Edna Regina Baumer - Mestre - UNESC _________________________________________________________ Prof ª. Mileine Crispim Baum Joaquim - Especialista - UNESC Dedico esta pesquisa a meus pais e irmãos que sempre estiveram presentes na minha vida, acreditando em mim, me ajudando de forma direta e indireta e, acima de tudo, confiando na minha capacidade de concretizar esta pesquisa. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por me dar forças e paciência, para conseguir concretizar esta pesquisa. Aos meus pais que sempre me deram o maior apoio para realizar o meu sonho. Ao meu irmão Saimon que sempre esteve do meu lado nos momentos bons e ruins me mostrando que a vida é feita de baixos e altos e que sempre com muito esforço conseguiremos ir longe. Ao meu irmão Cristian que, com a sua alma de criança me faz enxergar um mundo colorido como o arco-íris. Aos meus tios e tias que indiretamente fizeram parte da minha vida acadêmica sempre me incentivando e dando total apoio nos meus estudos. A minha madrinha Madalena e meu padrinho Daniel que estiveram presentes nesta jornada e que sempre me deram forças para chegar á reta final do curso. Aos meus primos e primas, mas, em especial, para minhas primas Gisele, Carla e Deise que sempre acreditaram no meu potencial, me deram o maior apoio em tudo que eu fosse realizar. Fica aqui o meu muito obrigado a todos. Dedico também, esta pesquisa, para meus colegas de classe que de certa forma nestes quatros anos sempre me apoiaram e me deram forças nos momentos em que pensei desistir, mas, em especial, a minhas amigas que levarei para sempre em meu coração Suzana e Marielen. Aos meus amigos que mesmo distantes sempre me apoiaram. Dedico também, aos meus alunos da APAE Caminho da luz de Criciúma que tornaram as minhas manhãs mais alegres e, em especial, ao meu aluno José que estuda no ensino regular que, com sua alma de criança e o seu amável sorriso me fez aprender muito e acreditar em mim. Com ele passei dois anos trabalhando e conquistando pequenos gestos de amizade e amor que significaram muito para mim. A todos os meus professores do curso que contribuíram para a minha formação, mas, em especial, a minha orientadora Neiva, que teve uma paciência incrível comigo, que confiou na minha capacidade de realizar este estudo. Agradeço também, a professora Édina que, quando pensei em desistir, esteve ali para me mostrar o caminho, e dedicou seu tempo para contribuir na minha pesquisa. Fica aqui a minha eterna gratidão por tudo. “Temos o direito a sermos iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a sermos diferentes quando a igualdade nos descaracteriza”. Boaventura de Souza Santos RESUMO A presente pesquisa é proveniente de minhas vivências de trabalho e aborda como tema “O Ensino da Arte e a inclusão: dificuldades de atuação nas práticas pedagógicas inclusivas com aluno deficiente múltiplo”. Refere-se às dificuldades que as professora de artes e eu encontramos perante a educação deste aluno no ensino regular, buscando afirmar essas dificuldades com autores mencionados na pesquisa. Mesmo sabendo das dificuldades dos professores em trabalhar no ensino regular com alunos que tem deficiência múltipla e intelectual, vemos a importância que a arte tem na vida destes educandos, e o quanto eles tem o direito de uma educação de qualidade. A escolha do tema surgiu quando comecei a trabalhar no ensino regular, como estagiária, com um aluno que tem deficiência múltipla. O objetivo desta pesquisa é analisar o despreparo dos professores de artes do ensino regular em trabalhar com alunos que sofrem de deficiência múltipla, apresentando como problema: quais são as dificuldades do professor de arte em contato com o aluno com deficiência múltipla no ensino regular? A abordagem é qualitativa sobre os dados obtidos na pesquisa bibliográfica e pesquisa participante, onde relato a minha vivência e experiência. A pesquisa demonstrou que falta capacitação para os professores e estagiários se sentirem mais preparados para dar uma educação de qualidade para os alunos com deficiência, e também o apoio das partes envolvidas sobre a inclusão. Palavras Chaves: Ensino da Arte. Inclusão. Deficiência Múltipla. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APAE – Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais LDB – Lei de Diretrizes de Base MEC – Ministério da Educação ONU – Organizações das Nações Unidas SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ........................................................ 11 2.1 Deficiência ........................................................................................................... 13 2.2 Deficiência Física ................................................................................................ 13 2.2.1 Caracterização da Deficiência física ................................................................ 14 2.3 Deficiência Intelectual.......................................................................................... 15 2.3.1 Caracterização da Deficiência Intelectual ......................................................... 15 3 ARTE E EDUCAÇÃO ESPECIAL ........................................................................... 17 3.1 Inclusão Escolar .................................................................................................. 21 3.2 Arte no Contexto Escolar Inclusivo ...................................................................... 25 3.3 Atendimento Educacional Especializado para Deficiente Físico e Intelectual ..... 26 4 METODOLOGIADA PESQUISA ........................................................................... 30 5 APRESENTAÇÃO DE ANÁLISE DE DADOS ........................................................ 32 6 PROJETO DE CURSO........................................................................................... 38 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 41 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 43 APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............. 46 9 1 INTRODUÇÃO O meu interesse de pesquisa nasceu quando comecei a trabalhar como estagiária no ensino regular com um aluno que sofre de Paralisia Cerebral, o José. Um aluno com deficiência múltipla que, além de frequentar o ensino regular, estuda também na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). O Trabalho de Conclusão de Curso que desenvolvi fala sobre essa vivência e experiência. Nesse tempo de convivência, José e eu criamos um elo de amizade e carinho muito forte. José estuda na escola regular desde o jardim e atualmente frequenta o 2º ano; duas a três vezes por semana ele ainda vai para a APAE de Içara, no período inverso ao da escola. Essa rotina acaba tornando-se cansativa para a criança, que precisa acordar cedo para ir para a APAE e enfrentar a jornada de um dia inteiro estudando. Em seu atual estágio de desenvolvimento, ele não fala, não anda, não tem coordenação motora, não fixa o olhar nas coisas, enfim, é disperso. Então surge o problema desta pesquisa: quais são as dificuldades do professor de arte, em contato com o aluno com deficiência múltipla no ensino regular? As professoras que trabalham com o José, e eu, na função de estagiária, conversamos muito sobre sua situação de inclusão e de sua aprendizagem na escola e muitas vezes me sinto incapaz, pensando que não há resultados da parte dele; outras vezes parece que eu sou uma babá e não uma professora estagiária. Essa frustração me leva a questionar se, na universidade, o fato de termos somente dois créditos da disciplina de Fundamentos e Metodologia da Educação Especial, nos deixa despreparada para oportunizar a aprendizagem desses alunos especiais. Questiono, também, se a Secretaria Municipal de Educação não deveria preparar seus professores e estagiários para trabalhar com alunos especiais, por meio de cursos de capacitação ou aperfeiçoamento, contribuindo assim com a inclusão. Dessa forma, o objetivo desta pesquisa é falar sobre a inclusão e investigar as dificuldades que as professoras, em especial a professora de arte, apresentam no processo de ensino e aprendizagem do aluno com deficiência múltipla no ensino regular. Para alcançar este objetivo utilizei a metodologia do estudo de caso por meio de observação nas aulas com as professoras que se encontram lidando com o 10 José nesse semestre. O referencial teórico para fundamentar a análise dos dados envolve os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Saldanha et al, (1999), Tibola (2001), Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial (2005), Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial (2006), Ministério da Educação: Secretaria de Educação Especial (2007), Revista de Educação Especial: Inclusão (2006). Iniciamos a pesquisa trazendo algumas informações sobre a trajetória da educação especial; de como eram tratadas as pessoas com deficiência na antiguidade, até os dias atuais. Nos capítulos seguintes apresentamos o que é deficiência, esclarecemos a diferença e a caracterização entre deficiência física e intelectual. Falamos também, sobre a arte e a educação especial, a inclusão escolar refletindo sobre o ensino da arte no contexto escolar inclusivo e o atendimento educacional especializado para deficientes físicos e intelectuais. Nos últimos capítulos descrevemos a metodologia usada nesta pesquisa. Em seguida as análises de dados coletados durante algumas vivências com o José. Logo após, trago um projeto de curso que tem como título: A arte no contexto escolar inclusivo: trabalhando com diversas adaptações de materiais pedagógicos para incluir alunos com deficiências múltiplas nas atividades. Este projeto tem o objetivo de possibilitar que os professores de artes possam ter uma ampliação de referencial teórico e que troquem experiências e depois confeccionem materiais que servirão de apoio nas atividades que forem trabalhar. Ao final deste trabalho concluímos a pesquisa dando o nosso parecer e trazendo propostas para a reflexão do assunto abordado neste trabalho. 11 2 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Todo o ser humano tem o direito à educação, saúde, entre outros, porém, nem sempre foi assim no passado. Até o século XV, as crianças com qualquer tipo de deficiência eram jogadas em esgotos, precipícios, ou seja, excluídas totalmente da sociedade. Como afirma Nascimento (2009), para Martinho Lutero eram seres diabólicos que deveriam ser castigados para ganharem a purificação. Essas crianças com deficiência, ainda entre o século XVI e o século XIX, continuavam sendo isoladas da sociedade, porém, não mais jogadas em precipícios, mas sim, em abrigos, conventos, entre outros. Essas crianças não tinham nenhum tratamento, viviam como prisioneiras; a estrutura desses lugares não era propícia para atender essas crianças. Já no século XX, as crianças com deficiência passam a ser tratadas como cidadãos de direitos, porém a sociedade ainda os discrimina. Nos anos 60, parentes e pessoas lutam pela causa dos deficientes para a normalização que permita a integração na sociedade. Com isso surge pela primeira vez, na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n. 4.024 de 1961, a educação especial. Em 1988, a nova constituição brasileira garante o atendimento educacional especializado para deficientes, preferencialmente na rede do ensino regular. Como coloca Nascimento (2009), no ano de 2000 foi aprovada a Lei n. 10.098 que trata de normas e critérios para a acessibilidade das pessoas com deficiência a modalidade reduzida. Já, no ano de 2001, houve uma convenção na Guatemala, onde o documento final foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo 198, de 13 de julho de 200,1 e tornado público no Decreto n. 3.956, de 08 de outubro de 2001, cujo princípio é que todas as crianças estejam inclusas no ensino público regular, buscando a eliminação de todas as possíveis formas de discriminação contra a pessoa com deficiência. Comungando com Nascimento: As pessoas com deficiência têm o mesmo direito que qualquer cidadão ao acesso de bens e serviços públicos e algumas leis vieram para formalizar estes direitos que, na maioria das vezes e, cotidianamente são negados, ainda não há efetividade no cumprimento destes, mas houve épocas em que eles não existiam (NASCIMENTO, 2009, p.8). 12 As primeiras iniciativas brasileiras de serviços para atendimento das pessoas com deficiência ocorreram com a criação dos Institutos: Imperial Instituto dos Meninos Cegos, hoje, Instituto Benjamin Constant (IBC) e o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, atualmente com o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), ambos no ano de 1857. A primeira APAE em Santa Catarina foi organizada em 1955, na cidade de Brusque. No entanto, a iniciativa pioneira na implantação de serviço, voltado ao atendimento da pessoa com deficiência mental ocorre no ano de 1926, com a sociedade Pestalozzi, na cidade de Canoas (http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=45&I temid=91). De acordo com Carvalho, na nova LDB, aprovada em 1996: a luta pela qualidade da educação e pela integração é uma luta pedagógica e social, concomitantemente. A escola para todos,a escola inclusiva, tem como princípio fundamental que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter (CARVALHO, 1998, p. 59). As pessoas com deficiências lutam pela igualdade e respeito desde os séculos passados; eram discriminadas e não tinham o direito de ir e vir, direito de estudar ou ter uma vida comum como qualquer ser humano. Porém, nos dias atuais, elas ganharam o tão merecido espaço na sociedade e com isso o direito de uma educação de qualidade, escola para todos, onde aprendem juntos nas dificuldades e superações do dia a dia. Para Brasil, em seu artigo 3°, Art. 3° Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende-se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegura recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente pra apoiar, complementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2006b, p. 48). Sabendo que a inclusão escolar representa um direito de todas as pessoas com deficiência de estarem frequentando o ensino regular, temos que entender qual o papel que a escola fará e, qual o papel que as escolas especiais farão, pois uma educação para todos, não negará nenhuma delas (BATISTA, et al, 2006). 13 2.1 Deficiência A pessoa que possui alguma deficiência tem o seu direito, isso é fato. Ela existe, sente, pensa e cria. Tem uma limitação, seja ela corporal ou mental, que pode afetar os aspectos de comportamento, que muitas vezes são fortes e adaptativos, outros fracos e pouco funcionais, que lhe dão um perfil de intraindividual e especial (FONSECA, 1995). De acordo com Fonseca (1995, p. 9) “o deficiente pode não ver, mas não tem dificuldades em orientar-se ou em fazer música. Não ouve, mas escreve poesia. Não aprende matérias escolares, mas pode ser excepcional numa atividade profissional ou num desporto”. Como salienta Fonseca (1995), a pessoa que possui algum tipo de deficiência se desvia da média ou da pessoa dita normal. Essas deficiências são classificadas da seguinte forma: características mentais, aptidões sensoriais, características neuromusculares e corporais, comportamento emocional, aptidões de comunicação, múltiplas deficiências. Segundo Carvalho, Deficiência - é qualquer perda de função psicológica, fisiológica ou anatômica. Tem como características: anormalidades temporárias ou permanentes em membros, órgãos, ou outra estrutura do corpo, inclusive os sistemas próprios da função mental. Servem como exemplos, sob a ótica orgânica, a perda da capacidade de ver, ouvir, andar, decorrentes de deficiências visuais, auditivas e motoras, respectivamente (CARVALHO, 1998, p. 38). Como diz a Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais (1994), a expressão “necessidades educativas especiais” diz respeito a todas as pessoas cujas necessidades decorrem de sua capacidade ou dificuldades de aprendizagem. 2.2 Deficiência Física A deficiência física acontece quando o comprometimento da função física 14 se limita a falta de um membro (amputação); a má-formação ou a deformação; as alterações que acometem o sistema muscular e esquelético. Sendo assim, como se refere Brasil (apud BERSCH; MACHADO et al), A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grandes limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os seguimentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida (BRASIL, 2006, apud BERSCH; MACHADI et al, 2007, p. 23). A deficiência física, como já foi dito, apresenta comprometimentos diversos nas funções motoras do organismo físico que variam em número e grau, de pessoa para pessoa, pois isso dependerá da causa do problema. O deficiente físico apresenta comprometimentos relativos, tais como: o cambalear no andar, necessidades do uso de muletas ou andador adequados para melhor locomoção, uso de cadeiras de rodas que poderá ser manobrada pela pessoa com deficiência ou cadeira de rodas manobradas por outras pessoas pelo fato da impossibilidade da pessoa. Também o uso de cadeiras motorizadas que poderá ser acionada por qualquer parte do corpo que predomine alguma função voluntária, como diz Brasil (2005). 2.2.1 Caracterização da Deficiência física Segundo Brasil (2005), a deficiência física se constitui em vários tipos e caracterizações, como a lesão cerebral, que consiste em uma paralisia cerebral; lesão medular, que causa a tetraplegia e a paraplegia; miopatias que consistem em distrofias musculares, amputações, lesões nervosas periféricas, sequelas de politraumatismo, as malformações congênitas, os distúrbios posturais da coluna, sequelas das patologias da coluna, entre outros. 15 2.3 Deficiência Intelectual A deficiência mental ou intelectual se define na condição do cérebro (órgão essencial da aprendizagem) que fica impedido de atingir um desenvolvimento adequado onde dificulta a aprendizagem da pessoa. Segundo (Mantoan et al., 2007, p. 16) “o aluno com deficiência mental tem dificuldades de construir conhecimento como os demais e de demonstrar a sua capacidade cognitiva”. Comungando com o artigo de Santana, A deficiência intelectual ou mental é conhecida por problemas com origem no cérebro e que causam baixa produção de conhecimento, dificuldade de aprendizagem e um baixo nível intelectual. Entre as causas mais comuns deste transtorno estão os fatores de ordem genética, as complicações ocorridas ao longo da gestação ou durante o parto e as pós-natais (SANTANA, http://www.indianopolis.com.br ...,). Com isso a pessoa que tem deficiência intelectual irá encontrar várias barreiras na sua vida, por causa da sua deficiência, porém, nada que possa impedi-lo de ter uma vida social inclusiva. 2.3.1 Caracterização da Deficiência Intelectual A deficiência intelectual tem na sua caracterização um funcionamento global inferior à média, juntamente com limitações unidas em duas ou mais das habilidades como a comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, habilidades escolares, administração do ócio e trabalho. A pessoa que tem essa deficiência, dependendo do grau, ás vezes depende integralmente de outra para cuidá-la, pelo fato de ter classificações da deficiência como profunda que se caracteriza por pessoas que tem incapacidade total de autonomia. A aguda grave se refere às pessoas que necessitam que se trabalhe para instaurar alguns hábitos de autonomia já que a sua capacidade de comunicação é muito primária. Tem também a deficiência moderada que se limita a capacidade de conseguir alcançar a sua 16 autonomia sozinho e a leve onde os casos são perfeitamente educáveis. O atraso no desenvolvimento dos portadores de Deficiência Mental pode se dar em nível neuro-psicomotor, quando então a criança demora em firmar a cabeça, sentar, andar, falar. Pode ainda dar-se em nível de aprendizado com notável dificuldade de compreensão de normas e ordens, dificuldade não aprendizado escolar (DEFICIÊNCIA MENTAL, http://gballone.sites.uol.com.br ...). Essas características irão afetar o aprendizado do aluno com deficiência intelectual pela sua dificuldade de compreender as coisas,que muitas vezes não será reconhecida e valorizada pelas pessoas que o cercam. 17 3 ARTE E EDUCAÇÃO ESPECIAL A arte tem a sua importância na formação escolar do ser humano, contribuindo para que possam conhecer a si mesmos, conhecer o outro e seu espaço na sociedade em busca da cidadania. Sendo assim, a arte faz parte da vida de qualquer pessoa, seja ela deficiente ou não, contribuindo para que o ser humano seja mais sensível, tenha uma percepção aguçada e possa usar a sua imaginação sem medo de ser criticado. Arte não é apenas básico, mas fundamental na educação de um país que se desenvolve. Arte não é enfeite. Arte é cognição, é profissão, é uma forma diferente da palavra para interpretar o mundo, a realidade, o imaginário, e é conteúdo. Como conteúdo, arte representa o melhor trabalho do ser humano (BARBOSA, 2004, p. 4). Como diz Barbosa (2004), se pretendemos uma educação não apenas intelectual, mas principalmente humanizadora, a necessidade da arte é ainda mais crucial para desenvolver a percepção e a imaginação, pois assim captará a realidade onde se vive e desenvolverá a capacidade de criar, para que haja uma necessária modificação desta realidade. Então, se arte não fosse importante não existiria desde os tempos das cavernas, resistindo a todas as tentativas de menosprezo. Conhecer e entender a arte é fundamental para a construção da nossa identidade. Por outro lado, o contato com a arte de outras culturas dá oportunidade de perceber o que temos de singular, e também amplia nossa visão do mundo, afinal, de acordo com Cauquelin (2005, p. 161), “aonde quer que se vá, não importa o que se faça para escapar, a arte está presente em toda parte, em todos os lugares e em todos os ramos de atividade”. Diante desse cenário, torna-se indispensável à presença da arte nas escolas. Historicamente, sabemos que o ensino da arte passou por várias transformações durante os tempos, e visto que a arte vive em constante inovação penso que o professor tem que ser também um propositor, inovador, e estar se renovando a cada dia para não ficar desatualizado. Segundo Saldanha et al (1999, p. 17), “o ensino da arte nas escolas possibilitará aos alunos portadores de necessidades especiais o despertar da criatividade, facilitará o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética do homem”. Sendo assim, a arte nos ensina que é possível realizar 18 mudanças, ser flexível, ter fluência, originalidade, ser capaz de elaborar, avaliar e deixar dentre um grupo maior para conhecer, criar e aprender. Como afirma Tibola, Desse modo, entende-se que cumpre á escola assegurar aos seus alunos a efetiva construção de conhecimento em arte, o que significa mais do que a mera reprodução de formas, ou execução de técnicas muitas vezes destituídas de qualquer dimensão estética efetiva. Significa oportunizar aos alunos o domínio dos elementos das diversas linguagens, de modo que possam expressar-se com autonomia por meio delas, e, ao mesmo tempo, possam apreciar diferentes fazeres artísticos, reconhecendo seu valor estético e compreendendo suas relações com o tempo, a história e o ambiente em que foram produzidos (TIBOLA, 2001, p.16). A Proposta Curricular da Rede Municipal de Criciúma (2008) fala que a arte, enquanto área de conhecimento estimula a linguagem simbólica e presentacional nos indivíduos que a ela tem acesso. E assim propõe: No contexto da escola atual o debate acerca da inclusão não pode se tornar uma falácia, deixando que a inclusão só exista nos discursos e na legislação. Nestes contextos de diversidade já apontados, o papel da arte se constitui como espaço de direito á manifestação coletiva, do fazer, do simbólico e manifestação subjetiva a partir de outras linguagens além da oral e da escrita (CRICIÚMA, 2008, p. 109). Compreender a importância do fazer artístico como uma manifestação de atividade criativa do ser humano no mundo em que vive, nos leva a reconhecer a relevância da arte na escola como uma área de conhecimento. Por meio da arte o ser humano vai dando formas a seus próprios valores e consegue contribuir para a evolução histórica (SALDANHA et al, 1999). Como afirmam os autores “Arte, portanto, é leitura que o artista faz do mundo que o cerca através de seus sentidos” (SALDANHA et al, 1999, p. 11). O ensino da arte como área de conhecimento é de grande valia para o crescimento de nossos alunos, pois o mesmo os possibilita o desenvolvimento da sensibilidade e criatividade, bem como, a socialização e imaginação. A arte na escola não está para fazermos de nossos alunos, artistas, mas para que, desenvolvam habilidades que os levem a uma melhor qualidade de vida. Sendo assim, a arte oferece um contato com a realidade e a imaginação para que se tornem mais conscientes de sua participação no mundo em que vivem, tornando-os mais críticos e exigentes (SALDANHA et al, 1999). 19 Comungando com Saldanha et al, pensamos que: A arte na escola significa abertura para a riqueza da própria vida. Quem tem oportunidade de conhecer a arte, com certeza, terá uma vida mais significativa! O ensino da arte existiu desde a origem do homem. Ensinar foi, na verdade, a marca da evolução. Para que a arte chegasse aos dias de hoje, certamente houve quem ensinasse e quem aprendesse. [...] e assim encontrará o verdadeiro ganho que a arte pode trazer para o ser humano, como marca de conhecimento adquirido pelo ensino, sem vincular seu aprendizado artístico à ideia de utilidade final, baseada na referência constante do professor (SALDANHA; et al, 1999, p.12). Assim, a arte é de grande valia para a vida do ser humano, pois, com ela podemos nos tornar seres críticos e sensíveis sobre a visão do meio em que vivemos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte (BRASIL) citam que: A arte é um conhecimento que permite a aproximação entre indivíduos, mesmo os de culturas distintas, pois favorece a percepção de semelhanças e diferenças entre as culturas, expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, em um plano diferenciado da informação discursiva. [...] A arte na escola tem uma função importante a cumprir. Ela situa o fazer artístico dos alunos como fato humanizador, cultural e histórico, no qual as características da arte podem ser percebidas nos pontos de interação entre o fazer artístico dos alunos e o fazer artístico dos artistas de todos os tempos, que sempre inauguram formas de tornar presente o inexistente. (BRASIL, 1998, p. 35). Acredito que a arte desenvolve um papel principal no cotidiano do ser humano, pois ela permite uma aproximação dos sujeitos, sejam eles de distintas culturas e diferentes características, incluindo os alunos com deficiências. No ensino regular a inclusão dá oportunidade para que esses alunos especiais possam fazer parte das experimentações do fazer artístico, desempenhando um trabalho onde terão o mesmo reconhecimento que os outros alunos. Conforme relata Saldanha et al: Acreditar na capacidade da pessoa portadora de deficiência, sem enfatizar sua deficiência, fazendo com que estas capacidades se destaquem em detrimento as dificuldades reais, é fundamental para que consigamos da sociedade uma postura aberta e sem preconceitos (SALDANHA; et al, 1999, p.15). Nessa direção, os PCNs afirmam que todos os alunos têm que ter acesso as várias linguagens artísticas, como a artes visuais, dança, música, teatro. Sobre a 20 linguagem das artes visuais o documento diz que: Ao perceber e criar formas visuais, está-se trabalhando com elementos específicos da linguagem e suas relações no espaço (bi e tridimensional).Elementos como ponto, linha, plano, cor, luz, volume, textura, movimento e ritmo relacionam-se dando origem a códigos, representações e sistemas de significações. Os códigos e as formas se apresentam de maneiras diversas ao longo da história da arte, pois têm correlação com o imaginário do tempo histórico nas diversas culturas. O aluno, quando cria suas poéticas visuais, também gera códigos que estão correlacionados com o seu tempo (BRASIL, 1998, p. 64). A dança também é uma forma de expressão, pois como diz o documento (BRASIL, 1998), a escola pode desempenhar um papel de grande valia na educação dos corpos e do processo interpretativo e criativo de dança, não estamos ali para formar dançarinos, mas sim dar aos nossos alunos sem exclusão de raça, cor, crença ou deficiência, subsídios para melhor compreender, desvelar, desconstruir, revelar e, se for o caso, transformar as relações que se estabelecem entre o corpo a dança e a sociedade. Como afirmam os PCNs (BRASIL, 1998, p. 73) “Para os alunos dançarem é uma possibilidade de se perceberem livres e estarem vivos”. A música é de extrema importância para o desenvolvimento dos alunos, pois a música acalma e os deixa mais livres para criarem. Como a música faz parte das linguagens da arte, ela segue uma sequência de objetivos gerais. Sendo assim, saber alcançar o desenvolvimento musical, seja ele rítmico, melódico, harmônico, timbres, oportunizará aos alunos improvisarem, interpretarem e apreciarem diversos gêneros musicais e fazer com que eduquem os seus ouvidos, respeitando sempre o gosto do outro. Fazer uso de formas de registro sonoro seja ela convencional ou não, dar oportunidades dos alunos comporem músicas ou criarem a partir de músicas prontas, utilizando algum instrumento musical, vozes, sons ou outros, sempre desenvolvendo variadas maneiras de comunicação (BRASIL, 1998). Valorizar as diversas culturas musicais, especialmente as brasileiras, estabelecendo relações entre a música produzida na escola, as veiculadas pelas mídias e as que são produzidas individualmente e/ou por grupos musicais da localidade e região; bem como procurar a participação em eventos musicais de cultura popular, shows, concertos, festivais, apresentações musicais diversas, buscando enriquecer suas criações, interpretações musicais e momentos de apreciação musical. (BRASIL, 1998, p. 81) A linguagem do teatro é uma maneira que o aluno, seja ele especial ou 21 não, tem de mostrar sua sensibilidade, pois se trabalha muito com o corpo, movimento, favorecendo que se expressem usando sua imaginação, improvisação e tornando-se seres mais críticos de si mesmos. Comungando com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 88) acreditamos que “o teatro favorece aos jovens e adultos, possibilidades de compartilharem descobertas, ideias, sentimentos, atitudes, ao permitir a observação de diversos pontos de vista, estabelecendo a relação do indivíduo com o coletivo e desenvolvimento a socialização”. Sendo assim, todos os alunos têm direito de ter acesso à educação de qualidade, pois a lei garante isso a eles. “Toda pessoa com deficiência tem o direito de manifestar seus desejos quanto a sua educação, na medida de sua capacidade de estar certa disso” (BRASIL, 2006b, p. 18). Enquanto acadêmica de licenciatura em Artes Visuais, acredito que educação de qualidade se faz também com o ensino da arte e por esse motivo iniciei esta pesquisa. 3.1 Inclusão Escolar A inclusão dos educandos portadores de necessidades especiais vêm ganhando espaço a cada dia, no ensino regular. De acordo com Brasil: Pensando nas escolas especiais, como suporte ao processo de inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular comum, a coordenação entre serviços de educação, saúde e assistência social aparece como essencial, apontando, nesse sentido, a possibilidade das escolas especiais funcionarem como centros de apoio e formação para a escola regular, facilitando a inclusão dos alunos nas classes comuns ou mesmo a frequência concomitante nos dois lugares (BRASIL, 2007, p. 20). Porém, a realidade nem sempre é essa, pois, os alunos especiais frequentam o ensino regular, mas, poucos fazem uso das escolas especializadas como a APAE1. Então, fica uma tarefa difícil para o educador, pois não tem um apoio geral, seja dos pais ou, principalmente, com a formação dos professores em cursos especializados, como podemos encontrar nas APAEs. Esse apoio é necessário para 1 Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. 22 melhorar o processo de ensino e para o enfrentamento das diferentes situações que implicam a tarefa de educar, pois sem sombra de dúvida os professores encontram na sala de aula, mais de um aluno especial estudando e com deficiências diferentes. Então, cabe ao professor a tarefa de não excluir o aluno especial, assim como, buscar um trabalho cada vez mais qualificado para isso. Com o passar dos anos, os alunos especiais ganharam espaços cada vez mais fortes na sociedade, pois no passado eram vistos como anormais, e, com muito esforço e lutas ganharam o seu justo reconhecimento na sociedade atual. De acordo com a LDB n. 9.394/96, art. 58 (CARNEIRO, 1998, p. 142), “entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de deficiência especiais”. Geralmente a criança especial está no ensino regular apenas para mostrar para a sociedade que a escola está aderindo à inclusão, pois o governo não dá o total apoio para que o sucesso desse aluno seja alcançado. A educação inclusiva desloca o enfoque individual, centrado no/a aluno/a, para a escola, reconhecendo no seu interior a diversidade de diferenças: individuais, físicas, culturais e sociais. A educação especial passa a ser compreendida inserida na educação geral, onde todos aprendem juntos, convivendo com as diferenças. Isto significa uma visão crítica da escola atual (excludente) e que a escola precisa realizar modificações estruturais, o que nos remete a uma nova política educacional, a multicultural (OLIVEIRA, 2004, p. 71). Nos dias atuais a educação inclusiva está sendo inserida em quase todas as escolas, porém, nem todas têm a estrutura adequada para atender a esse aluno especial. Para uma educação de qualidade a escola tem que estar preparada em todos os sentidos, seja a estrutura física, qualificação para os professores, apoio total dos pais. Mas, a questão ainda é: quais são as dificuldades que o professor de arte encontra no seu trabalho com esse aluno especial? A inclusão escolar se apresenta como uma revolução na sociedade, pois está produzindo um turbilhão de movimentos que invadem todas as áreas, entram pelos mecanismos legais e forçam a presença nas escolas, nas empresas, nos lugares públicos, nas diferentes formas de cultura, lazer e diversão (BRASIL, 2008). De acordo com Brasil (Saberes e Práticas da Inclusão): 23 A integração de crianças com deficiência deverá fazer parte dos planos nacionais de educação para todos. Mesmo naqueles casos excepcionais em que crianças sejam colocadas em escolas especiais, não é necessário que sua educação seja completamente isolada. Dever-se á procurar que frequente, em tempo parcial, as escolas comuns. Deverão ser tomadas medidas necessárias para conseguir a mesma política integradora de jovens e adultos com necessidades especiais, no ensino secundário e superior, assim como nos programas de formação (BRASIL, 2006a, p. 23). A inclusão de alunos com deficiência múltipla é algo relativamente recente na educação brasileira. É natural que a escola,educadores e pais se sintam preocupados e apreensivos com relação à possibilidade de sucesso nesta tarefa, pois qualquer avanço que a criança não tenha se torna algo de frustração para todos, principalmente para o educador (BRASIL, 2006a). Em 1961 o atendimento educacional às pessoas com deficiência passa a ser fundamentado pela LDB n. 4.024/61, que diz do direito dos excepcionais à educação, dando preferência ao sistema geral de ensino. Depois veio a Lei n. 5.692/71 que altera a LDB de 1961, ao definir tratamento especial para os alunos com deficiências físicas e mentais. Já, para os alunos que tem atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados, o governo não promove um sistema de ensino capaz de atender a essas necessidades educacionais e acabam reforçando o encaminhamento dos alunos pra as escolas especiais (BRASIL, 2008). Encontramos em Brasil (Revista da Educação Especial), a seguinte informação: A constituição Federal de 1988 traz como um dos seus objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “ igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208) (BRASIL, 2008, p.10). No Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069/90, o artigo 55 reforça que a responsabilidade dos pais ou responsáveis é matricular o aluno especial no ensino regular (BRASIL, 2008). Para melhor compreensão dos direitos dos alunos com necessidades especiais, a Revista de Educação Especial (BRASIL) traz que: 24 [...] Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, definindo com discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação, adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso á escolarização (BRASIL, 2008, p.11). Em 2003, é implementado pelo MEC o programa Educação Inclusiva: direito á diversidade. Assim, se estabeleceu uma transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, fazendo com que um amplo processo de formação de gestores e educadores nos municípios brasileiros tivesse início, para a garantia do direito do acesso de todos ao ensino regular. No ano de 2004, o Ministério Público Federal publica um documento onde estabelece o acesso de alunos com deficiência, ás escolas e classes comuns da rede de ensino regular (BRASIL, 2008). A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência que foi aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2006 estabelece que os Estados devem assegurar uma educação inclusiva em todos os níveis de ensino e, para isso, devem adotar algumas medidas. Essas medidas venho apresentar segundo a Revista de Educação Especial (BRASIL) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e compulsório, sob alegação de deficiência; As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem ( Art. 24) (BRASIL, 2008, p.12). No entanto, “fazer valer o direito à educação para todos não se limita a cumprir o que está na lei e aplicá-la, sumariamente, às situações discriminadoras” (MANTOAN; PRIETO, 2006, p. 16). Infelizmente vivemos em um país onde o preconceito sempre existirá, seja com negros, brancos, deficientes e outros. Porém, para que possamos mudar essa realidade, temos que fazer muito mais do que a lei pede, pois para que se possa fazer com que a inclusão seja de extrema relevância para a sociedade e para os alunos, sejam eles especiais ou não, devemos mudar nossos conceitos sobre esse assunto. 25 A inclusão do aluno com deficiência no ensino regular vem estabelecendo mudanças na educação e, a escola, quando tem um aluno especial, tem que estar preparada para atendê-lo, dar uma educação de qualidade, sem excluí-lo mesmo estando ‘incluso’ aparentemente. Comungando com Mantoan e Pietro, A inclusão escolar tem sido mal compreendida, principalmente no seu apelo a mudanças nas escolas comuns e especiais. Sabemos, contudo, que sem essas mudanças não garantiremos a condição de nossas escolas receberem, indistintamente, a todos os alunos, oferecendo-lhes condições de prosseguir em seus estudos, segundo a capacidade de cada um, sem discriminações nem espaços segregados de educação (MANTOAN; PIETRO, 2006, p.23). A constituição garante a todas as pessoas o direito à educação e o acesso à escola. Sendo assim, as escolas devem atender aos princípios constitucionais não excluindo nenhuma pessoa em razão de sua origem, seja ela de raça, sexo, cor, idade, deficiência ou ausência da mesma (CARNEIRO, 2007). 3.2 Arte no Contexto Escolar Inclusivo A arte na escola tem um papel primordial na vida do ser humano, pois com ela podemos formar pessoas capazes de terem uma compreensão artística, potencializando uma habilidade manual, mas também, e, sobretudo, desenvolvendo a mente, as suas capacidades de diferenciar, interpretar, compreender, representar, imaginar, mostrando em particular como o desenvolvimento estético pode promover domínios de aprendizagem sócioemocional, sociocultural e cognitivo. O ensino da arte não está ligado para que possamos formar artistas, como a matemática não está para formar matemáticos, porém as duas têm um papel fundamental na sociedade. Acredito como Barbosa, que: O que a arte na escola principalmente pretende é formar o conhecedor, fruidor, decodificador da obra de arte. Uma sociedade só é artisticamente desenvolvida quando ao lado de uma produção artística de alta qualidade há também uma alta capacidade de entendimento desta produção pelo público (BARBOSA, 1999, p.3). 26 Sendo assim, todas as pessoas, inclusive as com deficiência, têm o direito de terem na sua vida escolar o ensino da arte incluso no seu contexto escolar. Aprender é uma ação humana criativa, individual heterogênea e regulada pelo sujeito da aprendizagem, independentemente de sua condição intelectual ser mais ou menos privilegiada. São as diferentes ideias, opiniões, níveis de compreensão que enriquecem o processo escolar e que clareiam o entendimento dos alunos e professores – essa diversidade deriva das formas singulares de nos adaptarmos cognitivamente a um dado conteúdo e da possibilidade de nos expressarmos abertamente sobre ele. (MANTOAN; et al, 2006, p. 13). Preparar o aluno oferecendo a ele a oportunidade de compreender a arte na sua dimensão histórica, cultural, e das linguagens artísticas lhes possibilitam o acesso a esses e outros conhecimentos. Comungando com Tibola, A LDB nº 9.394/96 (Brasil, 1996) assegura a obrigatoriedade do ensino de Arte na Educação Básica, em todos os níveis, bem como, em vários artigos, aponta o direito de todo cidadão ao exercício das manifestações de cunho artístico – cultural. Do mesmo modo, trata do direito áformação escolar plena de todo cidadão, respeitadas e atendidas as suas necessidades no processo de construção de aprendizagens, de conhecimento, de interação com seu meio natural e social, de estabelecimento das inter-relações por meio das manifestações artístico - culturais. Assim, a todas as pessoas deve ser assegurado o direito á Educação de qualidade e, nela, a construção de conhecimento em Arte, independentemente de gênero, classe social, raça, características físicas cognitivas e afetivas individuais (TIBOLA, 2001, p.18). Nesse sentido, uma educação de qualidade pode fazer com que, a inclusão não seja vista como um obstáculo que não podemos ultrapassar, logo, com muito esforço e apoio conseguiremos um ensino digno para todos. 3.3 Atendimento Educacional Especializado para Deficiente Físico e Intelectual O atendimento educacional especializado tem uma nova visão da Educação Especial, pois é sustentado legalmente e é uma das condições para que a inclusão escolar dos alunos deficientes seja um sucesso (MANTOAN et al, 2006). “Esse atendimento existe para que os alunos possam aprender o que é diferente do 27 currículo do ensino comum e que é necessário para que possam ultrapassar as barreiras impostas pela deficiência” (MANTOAN et al, 2006, p. 17). Para que o aluno com deficiência física possa ter acesso ao conhecimento escolar e interagir com o meio em que frequenta, é necessário criar condições adequadas para sua locomoção, conforto e principalmente a sua segurança no transitar pela escola (BERSCH; MACHADO et al, 2007). [...] É o Atendimento Educacional Especializado, ministrado preferencialmente nas escolas do ensino regular, que deverá realizar uma seleção de recursos e técnicas adequados a cada tipo de comprometimento para o desempenho das atividades escolares. O objetivo é que o aluno tenha um atendimento especializado capaz de melhorar a sua comunicação e a sua mobilidade. (BERSCH; MACHADO et al., 2007, p. 27). De acordo com (BERSCH; MACHADO et al, 2007), o atendimento educacional especializado, visa fazer uso das tecnologias para melhor desempenho dos alunos com deficiência física, e com isso melhorar a vida escolar dos educandos. A tecnologia assistiva é uma forma de expressão utilizada para identificar todo recurso e serviço que possam contribuir para ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e assim promover a inclusão. Esse atendimento educacional especializado tem modalidades de tecnologia assistiva para a realização e adequação do espaço escolar, pois de acordo com Bersch e Machado et al, essas adequações se definem como: Uso da comunicação Aumentativa e Alternativa, para atender as necessidades dos educandos com dificuldades de fala e de escrita. Adequação dos matérias didático – pedagógicos ás necessidades dos educandos, tais como engrossadores de lápis, quadro magnético com letras com imã fixado, tesouras adaptadas, entre outros. [...] Adequação de recursos da informática: teclado, mouse, ponteira de cabeça, programas especiais, acionadores, entre outros. Uso de mobiliário adequado. [...] Mesas, cadeiras, quadro, entre outros, bem como recursos de auxílio á mobilidade: cadeiras de rodas, andadores, entre outros (BERSCH; MACHADO; et al, 2007, p.27-28). Usando a tecnologia podemos, com criatividade, criar alternativas para que o aluno realize o que deseja ou precisa. Sendo assim, estaremos valorizando o aluno com deficiência a aumentar suas capacidades de ação a partir das suas habilidades. É conhecer e criar novas alternativas para a comunicação, escrita, artes, entre outros, utilizando materiais e técnicas para alcançar nossos objetivos 28 perante o nosso aluno especial, dando-lhe a oportunidade de desenvolver a autoestima e confiança. Segundo Bersch e Machado (2007, p. 31) “é envolver o aluno ativamente, desafiando-se a experimentar e conhecer, permitindo que construa individualmente e coletivamente novos conhecimentos. É retirar do aluno o papel de espectador e atribuir-lhe a função de ator”. A pessoa com deficiência intelectual apresenta barreiras na maneira de demonstrar o seu conhecimento geral, no entanto o atendimento educacional especializado com deficientes intelectuais trata-se na maneira pela qual o aluno vê todo e qualquer conteúdo que é apresentado a ele e, a forma como ele consegue compreender (TESTA, 2010). Segundo a autora, devemos, [...] propiciar condições e liberdade para que o estudante com deficiência intelectual possa construir sua inteligência, a partir dos recursos intelectuais que possui, sendo ativo no seu processo de produzir conhecimento. Aliado a isso se trabalha com a ampliação da capacidade de abstração, memória, atenção, as noções de espaço, casualidade, raciocínio lógico e também com ação sobre os objetos de conhecimento, não podendo deixar de propiciar, nas estratégias pedagógicas, a autonomia intelectual deixando de lado práticas alienantes e descontextualizadas (TESTA, 2010, p. 64). A acessibilidade do aluno com deficiência intelectual, não depende de suportes externos ao sujeito. Ao contrário, como diz Mantoan et al, (2007, p. 22), “[...] tem a ver com saída de uma posição passiva e automatizada diante da aprendizagem para o acesso e a apropriação ativa do próprio saber”. Por maior que seja a limitação do aluno com deficiência mental, ir á escola comum para aprender conteúdos acadêmicos e participar do grupo social mais amplo favorece o seu aproveitamento no Atendimento Educacional Especializado e vice – versa. O Atendimento Educacional Especializado é, de fato, muito importante para o progresso escolar do aluno com deficiência mental. (MANTOAN et al, 2007, p. 27). O espaço físico para atender esses alunos com deficiência intelectual precisa ser propício para o desenvolvimento cognitivo do aluno, e oferecer-lhe maiores alternativas de envolvimento e interação com que compõe o espaço. Comungando com Mantoan et al. (2007), define-se qual o objetivo do Atendimento Educacional Especializado para deficientes intelectuais: O objetivo do Atendimento Educacional Especializado é propiciar condições e liberdade para que o aluno com deficiência mental possa construir a sua inteligência, dentro do quadro de recursos intelectuais que lhe é disponível, 29 tornando-se agente capaz de produzir significado/conhecimento (MANTOAN; et al, 2007, p. 25). Sendo assim, o aluno com deficiência intelectual tem que frequentar o ensino regular para que possa aprender conteúdos curriculares e participar da vida escolar, aproveitando o Atendimento Educacional Especializado. Esse atendimento é de fato muito importante para que o aluno com deficiência intelectual possa desenvolver a sua capacidade de aprender e interagir no meio em que vive. 30 4 METODOLOGIA DA PESQUISA Este estudo tem como tema, a educação especial, e discute as dificuldades do professor de arte em lidar com alunos com deficiências múltiplas no ensino regular. Sabendo que toda investigação tem que ter uma questão a ser pesquisada, precisamos de teorias, ou seja, referenciais teóricos, autores que abordam o nosso tema para que possamos questionar e analisar o problema de pesquisa, que nesse caso é quais são as dificuldades do professor de arte, em contato com o aluno com deficiência múltipla no ensino regular? De acordo com Deslandes et al (2009, p.16): “Toda investigação se inicia por uma questão, por um problema, por uma pergunta, por uma dúvida. A resposta a esse movimento do pensamento geralmente se vincula a conhecimentoanteriores ou demanda a criação de novos referenciais. A pesquisa tem como objetivo, analisar quais as dificuldades de atuação da professora de artes perante um aluno com deficiência múltipla e, insere-se na linha de pesquisa Educação e Arte, do Curso de Artes Visuais da Unesc. Quanto à forma de abordagem, a pesquisa foi desenvolvida dentro de um caráter qualitativo, pois segundo Deslandes, [...] análise qualitativa não é uma mera classificação de opinião dos informantes, é muito mais. É a descoberta de seus códigos sociais a partir das falas, símbolos e observações. A busca da compreensão e da interpretação á luz da teoria aporta uma contribuição singular e contextualizada do pesquisador (DESLANDES et al, 2009, p.27). Utilizei também na presente pesquisa, diversos referenciais teóricos para fundamentar os dados obtidos por meio da pesquisa participante, onde relatei e analisei os fatos em que percebemos as dificuldades de desenvolver o ensino da arte com um aluno deficiente múltiplo, na minha própria vivência como estagiária na escola. Comungando com Deslandes, Definimos observação participante como um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica. O observar, no caso, fica 31 em relação direta com seus interlocutores no espaço social da pesquisa, na medida do possível, participando da vida deles, no seu cenário cultural, mas com a finalidade de colher dados e compreender o contexto da pesquisa. Por isso, o observador faz parte do contexto sob sua observação e, sem dúvida, modifica esse contexto, pois interfere nele, assim como é modificado pessoalmente (DESLANDES et al, 2009, p.70). A observação envolveu, também, as dificuldades da professora de artes, mostrando as barreiras que encontramos no dia a dia com esse aluno, nós, na disciplina de arte e, de certa forma, os demais professores do corpo docente da escola que trabalha com a inclusão. 32 5 APRESENTAÇÃO DE ANÁLISE DE DADOS A presente pesquisa surgiu quando fui trabalhar no ano de 2009, como estagiária no ensino regular, com um aluno que tem deficiência múltipla, que no caso do José se caracteriza como deficiência física e intelectual. Com a vivência neste quase dois anos trabalhando juntos, pude sentir na pele, a dificuldade de incluir o aluno José nas atividades, pois como ele tem deficiência intelectual isso acaba interferindo no processo de atingir o seu desenvolvimento de aprendizagem. Ás vezes me sinto inútil pelo fato de não conseguir entendê-lo, pois ele não fala. José nasceu no dia 18/07/2002 e atualmente está com oito anos de idade. Iniciou seu atendimento na APAE de Criciúma, no setor de estimulação essencial, recebendo atendimento em todas as áreas: fonoaudiologia, fisioterapia, assistência social, psicologia, entre outros, e ainda recebia o trabalho de estimulação de uma pedagoga. Esse tipo de atendimento era feito com a presença da mãe e em algumas vezes, individual, no período oposto de quando ele frequentava a escola regular. As mães também recebiam orientações com os técnicos, de como atender seus filhos especiais em casa, com o objetivo de contribuir com o trabalho que a escola desenvolvia. No ensino regular, José frequenta a classe desde o ano de 2006, no jardim I e atualmente, na mesma escola, está no segundo ano. Com base nos dados da ficha evolutiva de José, feito por três fisioterapeutas, posso relatar melhor a sua deficiência. O aluno apresenta paralisia cerebral por lesão, é tetraplégico espástico grave. É usuário de cadeira de rodas, não possui sustentação cervical completa, e nem sustentação no controle de tronco. Apresenta flexão de tronco com inclinação para a esquerda, ombros em rotação interna, anteriorizados e flexionados, cotovelos semi-flexionados, antebraços pronados, punhos em desvio ulnar e flexionados, dedos das mãos flexionados e vagos, quadris flexionados e rodados internamente, joelhos flexionados e vagos. Apresenta tornozelos pronados e em flexão plantar. Pude perceber, nesses dois anos, que José acompanha objetos que produzam sons colocados ou movendo-os próximos a ele. Raramente apresenta intenção de segurá-los. Ele tem uma boa compreensão das coisas, sabe o que é certo e errado, emite sons com a boca e se comunica através de expressões faciais, 33 gestos indicadores com a cabeça e ao sorrir, porém muitas vezes essas expressões tornam-se difíceis de distinguir. Segundo a ficha evolutiva do educando, feita pela fonoaudióloga, ele apresenta uma discriminação auditiva e visual atualmente boa. Pensando em situações vividas neste quase dois anos de convivência com José, relato aqui três experiências em que obtive sucesso quanto ao seu desenvolvimento nas aulas de artes, as quais fazem parte desta pesquisa. Inicio citando uma experiência com a linguagem musical. A música faz parte das quatro linguagens artísticas. Sabendo disso, a professora de arte trabalhou a música em sala de aula e segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL), Aprender a sentir, expressar e pensar a realidade sonora ao redor do ser humano, que constantemente se modifica nessa rede em que se encontra, auxilia o jovem e o adulto em fase de escolarização básica a desenvolver capacidades, habilidades e competências em música. Construindo sua competência artística nessa linguagem, sabendo comunicar-se e expressar- se musicalmente, o aluno poderá, ao conectar o imaginário e a fantasia aos processos de criação, interpretação e fruição, desenvolver o poético, a dimensão sensível que a música traz ao ser humano (BRASIL, 1998, p.80). Nessa aula pude notar que o aluno José, ao contrário das outras aulas, ficou muito eufórico na cadeira, pois pulava, gritava, sorria ao escutar a música e ao ver seus colegas dançando e cantando a mesma. Como ele tem uma boa compreensão das coisas, percebi que nessa aula o aluno teve um avanço e que a música propôs isso a ele. Apresentando reações nunca vista antes, José agiu conforme diz Saldanha et al (1999, p. 54) tendo a oportunidade de “despertar o prazer de ouvir música, cantar, dançar e movimentar-se individualmente em grupo, conduzido por sons, melodias e ritmos diversos”. Assim, acreditamos que o aluno José conseguiu, do seu jeito, se expressar e movimentar-se na cadeira com o auxilio da música. Outra experiência que considero de grande valia para este estudo foi quando a professora Maria trabalhou com guache na aula de arte. A proposição da professora de arte era que todos teriam que fazer um desenho em uma folha e depois cortar dentro do desenho para ficar vazado, e assim eu fiz com o José. Como ele não consegue recortar, eu cortei para ele uma nuvem e depois peguei um pincel e dei na mão dele para que segurasse, mas, como ele não tem a mão firme, ajudei-o a segurar o pincel para que pudesse fazer a atividade proposta pela professora. 34 Pude perceber nessa atividade, pela expressão facial dele, que José estava adorando manusear o pincel e molhar no guache, pois cada vez que ele colocava o pincel no guache e pintava em cima do desenho ele sorria muito, o que me levou a pensar que, mesmo que eu não conseguisse interpretar o que ele realmente estava sentindo, a atividade foi de grande valia para o desenvolvimento motor dele e para que ele se sentisse feliz, participando com os colegas. No nosso olhar, de professoras e estagiária, ele estava se incluindo na atividade. Segundo Tibola (2001, p. 20), “o trabalho com os alunos portadores de deficiência, os conhecimentos a serem construídos não devem ser minimizados, ou desconsiderados”. Sendoassim, não devemos em hipóteses alguma subestimar a capacidade desses alunos, pois temos que respeitar o seu processo de aprendizagem que muitas vezes é lenta. Perguntei para a professora Maria quais as dificuldades que ela tinha em trabalhar com esse aluno, e ela citou a falta de material pedagógico, a falta de comunicação entre eles, pois como são só duas aulas por semana, o contato fica restrito e, aparentemente, as conquistas se perdem. Sabemos que pessoas com deficiência múltipla geralmente apresentam dificuldades de comunicar seus desejos e intenções, porém a maior parte desses alunos não apresenta linguagem verbal, mas podem se comunicar através de gesto, olhar, movimentos corporais mínimos (BRASIL, 2006a). O aluno José apresenta todas essas características e, como toda criança, às vezes não quer fazer nada e com isso temos que respeitar suas limitações, e tentar entendê-las. A partir dessas situações foi possível notar como a professora de artes e eu, temos dificuldades em trabalhar com o Artur. Nos falta à capacitação para incluir esse aluno nas aulas e o que temos feito são observações, tentativas e pesquisas. Refiro-me à capacitação específica, pois na universidade não temos muitas disciplinas sobre a Educação Especial e, quando temos é somente dois créditos, ou seja, uma carga horária pequena para o tamanho de nossas necessidades enquanto educadores. Sendo assim não ficamos preparados e seguros para encarar a inclusão de uma forma confiante e sentindo-nos preparados para atendê-los sem excluí-los. Penso também, que a própria Secretaria de Educação deveria oferecer cursos de capacitação durante o ano letivo, para os professores e também os estagiários. 35 Como conceitua Brasil: Uma das dificuldades encontradas na formação dos educadores, no estudo de alguns fundamentos teóricos para o trabalho com alunos com necessidades educacionais especiais, é o amplo leque de realidades sócio – culturais existentes em nosso país. Para atender esta demanda tão diversa, o material dirigido á formação tem se proposto oferecer uma linguagem suficientemente abrangente para ser acessível a todos. Porém, em alguns casos, se observa a excessiva simplificação dos conteúdos propostos, aliada a uma superficialidade que se distancia das situações problemáticas concretas de cada realidade (BRASIL, 2001, p. 21). A formação de professores é sem dúvida uma tarefa essencial para uma educação de qualidade, pois irá melhorar o processo de ensino e o enfrentamento das diferentes situações que implicam na tarefa de educar. Disso decorre que, a cada etapa de formação e de transformação nas práticas pedagógicas, seguem-se análises criticas de suas consequências, levando, eventualmente, a uma mudança de rota, rumo a novos mares do processo educacional, mares desconhecidos ainda, cujo fascínio e profundidade, porém, nos convidam a conhecê-los melhor. Mergulhar nas novas ações, além disso, requer o compartilhamento dos problemas, angústias e incertezas surgidas dos novos olhares e atitudes adotados, da experimentação e da nova vivência, refletidas e reelaboradas pelo corpo docente de maneira coletiva (BRASIL, 2005, p. 25-26). É necessário que as escolas e todo o corpo docente que fazem parte do processo educacional, se envolvam para que haja transformação e sensibilização, para que possam atender esses alunos com deficiência em todos os processos de sua vida escolar (BRASIL, 2005). Sabemos que existem os pontos positivos que não podemos menosprezar, que nada como um dia após o outro, que esse processo de ensino aprendizagem é, de fato, condicionado à deficiência do aluno e que é um processo lento, acreditando principalmente que qualquer avanço é motivo de conquista. Como uma última vivência a ser destacada nesta pesquisa, considero uma experiência que ficará marcada para sempre em minha memória: foi quando José conseguiu sozinho, e com muito estímulo alcançar com o seu dedo a letra “A”. Nessa atividade, a proposição da professora pedagoga foi a de que José conseguisse sozinho colocar o seu dedo na letra “A” que era a letra de seu nome, pois estávamos trabalhando durante o ano letivo o alfabeto com ele e naquele dia ele nos presenteou alcançando sozinho o objetivo da atividade. Nesse dia chorei muito de alegria, pois trabalhar 36 com alunos com deficiências é uma luta nada fácil, porém um aprendizado enorme. Esta atividade não foi na aula de artes e sim na aula de alfabetização, porém não poderia deixar de falar desta experiência, pois foi algo que marcou muito nesta minha vivência com José. O que está faltando na realidade, para que a inclusão seja aceita e efetivada na sociedade com outro olhar, é a preparação de cursos de capacitação para professores e estagiários, o apoio incondicional dos pais, o olhar atento da escola, governantes, entre outros, e que a estrutura física da escola seja adequada para esses alunos especiais. Pois como relata a Revista de Educação Especial: Inclusão (BRASIL, 2008), até certo ponto o professor era visto como o ser que distribuía conhecimento e não dava a chance de seus alunos falarem, porém nos dias atuais essa troca de informação com os alunos é muito frequente na sala de aula. Do mesmo modo é grande a diversidade dos interesses e das necessidades de aprendizagem de cada indivíduo, particularmente, em uma sala que tem alunos especiais onde todos - inclusive os que têm necessidades especiais - participam das atividades. Não podemos esperar que os professores dispensem todo o seu conhecimento somente para atender as necessidades de cada aluno, mas de acordo com a Revista de Educação Especial: Inclusão (BRASIL), Como professores necessitarão ser, cada vez mais, capazes de achar alternativas ás habilidades básicas tradicionais e recursos disponíveis para atender ás necessidades originais de cada um dos alunos dentro de uma sala de aula. Alguns alunos talvez precisem de habilidades especiais básicas tais como braile, equipamentos para se comunicarem usando computadores, calculadoras, assim podendo permitir que cada individuo tenha habilidades necessárias para lhes garantir sucesso quando em sociedade (BRASIL, 2008, p. 10). Para finalizar esta análise, fixo a ideia de que os professores e alunos precisam de um apoio que possa lhes ajudar a realizar suas atividades diárias com sucesso. Muitos destes se sentem sozinhos e frustrados, pois não tem a devida ajuda necessária para que possamos fazer que a inclusão seja um sucesso. No próximo capítulo sugiro um projeto de curso tendo como objetivo possibilitar aos professores de artes um referencial teórico mais pertinente e que os mesmos troquem experiências e confeccionem materiais pedagógicos que lhes servirão de apoio para as atividades que irão desenvolver com os seus alunos 37 deficientes múltiplos. 38 6 PROJETO DE CURSO TÍTULO: A arte no contexto escolar inclusivo: trabalhando com diversas adaptações de materiais pedagógicos para incluir alunos com deficiências múltiplas nas atividades. JUSTIFICATIVA A arte é de grande valia para o ser humano, pois com ela podemos nos expressar, experimentar, criar e desenvolver uma percepção mais crítica perante a sociedade. A formação de professores de artes tem as suas especificidades, e diante da necessidade da inclusão percebemos que não estamos preparados adequadamente para trabalhar com alunos especiais. Em nossa formação acadêmica temos somente dois créditos da disciplina Fundamentos e Metodologia da Educação Especial, que não nos oportuniza uma experiência mais ampla e profunda, capazde nos preparar para realizar uma educação de qualidade, em arte, para nossos alunos especiais. Ao mesmo tempo, sentimos, enquanto professores (formados ou em formação), que as secretarias de educação não estão nos dando o apoio nesse sentido, proporcionando cursos de capacitação sobre a educação especial. Com todas essas questões, neste evento trataremos somente da integração da inclusão de alunos deficientes múltiplos, para que os professores de artes dos municípios vizinhos possam se encontrar para relatarem suas experiências, desabafando as frustrações e as conquistas, e refletindo, por meio de textos específicos, sobre possíveis soluções para os problemas. Numa segunda etapa poderemos confeccionar juntos materiais de apoio para incluir nossos alunos especiais, socializando ideias e referenciais teóricos. OBJETIVO GERAL Possibilitar aos professores de artes a ampliação do referencial teórico pertinente e a experiência de confeccionarem materiais que os ajudarão a incluir os alunos com deficiências múltiplas no processo de ensino aprendizagem. 39 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Ampliar o conhecimento sobre referencial teórico relacionado à Educação Especial e Inclusão; b) Trocar experiências de atuação no ensino da arte; c) Construir materiais pedagógicos. PROPOSTA DE CARGA HORÁRIA Horas-aula: Teóricas: 04h Práticas: 16h Total: 20 horas PÚBLICO ALVO: Professores de arte. EMENTA Indicação de autores e documentos norteadores da educação especial. Socialização de experiências. Construção de materiais de apoio pedagógico. METODOLOGIA O curso será realizado na Fundação Cultural de Criciúma, com vinte professores de artes que trabalham com alunos que tem deficiência múltipla e outros que tenham esse interesse. Fundamentaremos nosso curso com textos sobre a inclusão. Na prática confeccionaremos materiais pedagógicos para socializar entre os presentes. Em nossos encontros, que acontecerão em quatro momentos estaremos discutindo sobre a importância da arte no contexto social inclusivo, relatando dificuldades apresentadas na sala de aula com alunos especiais e a construção/socialização de materiais para apoio pedagógico. 40 REFERÊNCIAS FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES. Manual de Arte Educação: Uma dinâmica para o Desenvolvimento. Brasília: 1999. NASCIMENTO, Márcia M. do; RAFFA, Ivete. Inclusão Social: primeiros passos. São Paulo: Giracor, 2009. POLÍTICA de Educação Especial do Estado de Santa Catarina. Disponível em: http://www.fcee.sc.gov.br/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=45&It emid=91. TATI, Ana; MACHADO, Maria Silvia M. 300 Propostas de artes visuais. São Paulo: Loyola, 2003. 41 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A arte tem uma grande importância na vida do ser humano, pois com ela nos tornamos seres mais críticos, sensíveis, capazes de conhecer o outro e a si mesmos perante a sociedade. A arte no ensino inclusivo é de grande valia para que a pessoa com deficiência múltipla possa desenvolver a sua compreensão nas diferentes linguagens artísticas, com criatividade e imaginação para que possam ser capazes de desenvolver atividades sozinhos, ou seja, que possam ter autonomia sobre si próprio, no campo da expressão. Essas pessoas que possuem algum tipo de deficiência têm o mesmo direito a uma educação de qualidade e ao acesso ao ensino da arte. Para que os educandos com deficiência múltipla possam ter um ensino digno e de qualidade, cabe aos pais, à escola, ao corpo docente, à secretaria de educação, enfim, a toda a comunidade escolar, promover a inclusão. Para oportunizar as pessoas com deficiência física e intelectual, o ensino da arte, os estagiários e professores tem que estar preparados para propor situações especiais de ensino e aprendizagem em arte e para valorizar as pequenas conquistas do dia a dia do aluno com necessidades especiais. O objetivo deste estudo foi tratar das dificuldades que o professor de arte tem com o aluno com necessidades especiais, na escola regular. E o que observamos é que as dificuldades existem, não são fáceis de serem resolvidas, mas que o professor é capaz de superar essa situação. Sendo assim, o problema de pesquisa foi investigar quais são as dificuldades do professor de arte, em contato com o aluno com deficiência múltipla no ensino regular. Com esse questionamento pude observar a falta de capacitação do corpo docente para atuar na educação inclusiva, a falta de apoio da Secretaria de Educação, materiais adequados para auxiliar nas atividades, enfim, falta empenho dessas partes citadas para que a inclusão seja realizada e aceita pela sociedade. Nesta pesquisa tivemos a oportunidade de refletir sobre três vivências com o aluno José e podemos concluir que, para trabalhar com alunos especiais, precisamos de capacitação, para que não tenhamos tantas dificuldades em interpretar esse aluno, propor atividades e reconhecer aprendizados. 42 Nessas vivências relatadas, evidenciei as conquistas que, a princípio, pode parecer pouco avanço, mas acredito que para o José é uma aprendizagem e uma superação enorme. Falo também de frustrações, minhas e da professora de arte, ao reconhecer o nosso despreparo em trabalhar com o José, pois acreditamos que deixamos muito a desejar nas ações para o ensino e aprendizagem com ele. Chegamos à conclusão de que todas as pessoas, inclusive as com deficiências múltiplas, se identificam em algumas das quatros linguagens artísticas, e no caso de José, é a linguagem musical, pois quando trabalhamos essa linguagem na turma, foi possível notar com muita precisão o quanto ele gosta de música. Nesse momento, não nos sentimos tão frustradas. 43 REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999. BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 2004. BATISTA, Cristina Abranches Mota; MANTOAN, Maria Teresa Egler. Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental. Brasília: MEC, SEESP, 2006. BERSCH, Rita; MACHADO, Rosângela. Conhecendo o aluno com deficiência. In: SCHIRMER, Carolina R. et al. Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Física. São Paulo: MEC/SEESP, 2007. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação. Educação Infantil: Saberes e Práticas da Inclusão: Dificuldades de comunicação e sinalização deficiência física. Brasília: MEC, SEESP, 2005. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação. Educação Infantil: Saberes e Práticas da Inclusão: Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem Deficiência Múltipla. Brasília: MEC, 2006a. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e Práticas da Inclusão: Recomendações para a Construção de Escolas Inclusivas. Brasília: MEC, 2006b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação. Educação Especial: Documento Subsidiário á Política da Inclusão. Brasília: 2007. BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Especial. Inclusão. Revista da Educação Especial, Brasília: v.4, n.1, 2008. 44 CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: Uma Introdução. São Paulo: Martins, 2005. CARNEIRO, Moaci Alves. LDB Fácil: Leitura Crítico - Compreensiva Artigo a Artigo.
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