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FUNDAMENTOS DA ECONOMIA Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado José Édil de Lima Alves Astomiro Romais Andrea Eick Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº. 610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN: 978‐85‐99583‐60‐9 Edição Revisada APRESENTAÇÃO Seja bem‐vindo. Estamos iniciando nossos trabalhos e, nos próximos meses, ficaremos constantemente em contato. A distância será apenas aparente, pois estaremos, na verdade, ligados através da tecnologia que a modernidade nos proporciona. Nós, enquanto seres pensantes e bem informados, não podemos abrir mão das inovações que o século XXI nos apresenta. Imagine‐se fazendo uma viagem turística pela cidade em que você mora. Você já conhece tudo, já viu tudo que qualquer guia local possa lhe mostrar. Que novidades poderão existir em locais que percorremos diariamente? Em prédios que vimos serem construidos? Em ruas das quais conhecemos cada buraco? Experimente fazer tal viagem sem essa ideia preconcebida e você verá coisas que nunca viu, apaixonar‐se‐á por paisagens que nunca antes havia observado. Em sua própria cidade. Verá ângulos novos de pai‐ sagens. Paisagens há muito conhecidas. Convidamos você a fazer uma viagem de observação pelo mundo da economia. Essa viagem não será muito diferente do que viajar por sua própria cidade. Afinal, todos nós lemos, ouvimos, vivemos o dia a dia e nos sentimos envolvidos por economia. Nossa incursão por essa ciência pretende ser a mais aprazível possível. Esta disciplina não pretende ser um curso de alta especialização, e sim um aprendizado novo sobre aquilo que já vivemos, mas às vezes não temos tempo de observar. Na verdade, talvez nunca tenhamos parado para pensar que, ao viver e conviver com nossos amigos, nossa família, nossos negócios, sejamos protagonistas de algo que também é ciência. A disciplina à qual você está sendo apresentado tem o objetivo de mostrar informações e instrumentos para que você possa, mais facil‐ 6 mente, identificar os fatos econômicos e compreender o funcionamento das economias de mercado, do ponto de vista da ciência econômica. Ao final, esperamos que você, além de ter gosto pelos temas da eco‐ nomia, possa melhor compreender os principais aspectos da realidade econômica e conhecer os mercados de bens e de serviços, de trabalho, monetário, cambial, internacional e que saiba relacionar essa teoria à sua área de interesse e de atuação profissional. SOBRE OS AUTORES Erico Michels É mestre em Gestão de Negócios pela Universidad de Ciencias Empre‐ sariales y Sociales (Uces‐Argentina) e bacharel em Ciências Econômi‐ cas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pro‐ fessor nos cursos de Ciências Econômicas e superiores de Tecnologia em Gestão da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Ney Oliveira Está cursando doutorado pela Universitat de les Iles Balears (UIB‐ Espanha), é especialista em Administração de Marketing pela Univer‐ sidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e bacharel em Ciências Econômicas também pela Unisinos. É professor nos cursos de Ciências Econômicas e superiores de Tecnologia em Gestão da Ulbra. Sandro Wollenhaupt É mestre em Administração pela Universidade Fernando Pessoa de Portugal/Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e bacharel em Ciên‐ cias Econômicas pela Unisinos. É professor dos cursos de Ciências Econômicas e superiores de Tecnologia em Gestão da Ulbra. SUMÁRIO 1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA ....................................................... 13 1.1 Conceito, objeto e método da Ciência Econômica ..................................... 13 1.2 Síntese do pensamento econômico .......................................................... 17 Ponto final .................................................................................................... 24 Atividades .................................................................................................... 25 2 A DEMANDA, A OFERTA, O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS ......................... 26 2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado ................................................. 26 2.2 Estruturas de mercado ............................................................................ 29 Ponto final .................................................................................................... 33 Atividades .................................................................................................... 33 3 TEORIA DA PRODUÇÃO E DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO ..................................... 34 3.1 Teoria da produção .................................................................................. 34 3.2 Teoria dos custos de produção ................................................................. 36 3.3 Função de produção ................................................................................ 39 Ponto final .................................................................................................... 40 Atividades .................................................................................................... 40 4 Macroeconomia ............................................................................................ 42 4.1 Fundamentos de macroeconomia ............................................................ 42 Ponto final .................................................................................................... 48 Atividades .................................................................................................... 49 10 5 INTRODUÇÃO À ECONOMIA MONETÁRIA ......................................................... 50 5.1 Moeda – conceitos, funções e sua circulação na economia ....................... 50 Ponto final .................................................................................................... 60 Atividades .................................................................................................... 60 6 INFLAÇÃO E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA ................................................... 61 6.1 Inflação .................................................................................................. 61 6.2 Medida da inflação – números índice ....................................................... 68 Ponto final .................................................................................................... 70 Atividades .................................................................................................... 71 7 O MERCADO DE CÂMBIO ................................................................................ 72 7.1 O comércio internacional e o mercado de divisas ...................................... 72 7.2 O sistema de taxas de câmbio .................................................................. 73 Ponto final .................................................................................................... 79 Atividades .................................................................................................... 80 8 ECONOMIA INTERNACIONAL ........................................................................... 81 8.1 Teorias de comércio internacional............................................................ 81 8.2 Relações econômicas internacionais ....................................................... 84 Ponto final ....................................................................................................89 Atividades .................................................................................................... 89 9 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .......................................... 90 9.1 Conceitos fundamentais .......................................................................... 90 Ponto final .................................................................................................... 99 Atividades .................................................................................................... 99 10 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS ......................... 100 10.1 Sistema Financeiro Nacional (SFN) ...................................................... 100 10.2 O mercado de capitais e a Bolsa de Valores ......................................... 105 Ponto final .................................................................................................. 107 11 Atividades .................................................................................................. 107 REFERÊNCIAS POR CAPÍTULO ......................................................................... 108 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 109 GABARITO ...................................................................................................... 111 1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA Erico Michels Ney Oliveira Sandro Wollenhaupt Este capítulo tem como objetivo apresentar a compreensão das caracte‐ rísticas básicas da Ciência Econômica, destacando o seu objeto de es‐ tudo e mostrando uma breve retrospectiva de seus principais pensado‐ res. Sugerimos que o aluno utilize este material estudando os temas na ordem proposta, uma vez que eles são apresentados do mais simples ao mais complexo, visando à construção gradual de seu conhecimento. 1.1 Conceito, objeto e método da Ciência Econômica Etimologicamente, a palavra economia vem do grego oikos (casa) e no‐ mos (norma, lei). Seria a ADMINISTRAÇÃO DA CASA, que pode ser generalizada como ADMINISTRAÇÃO DA COISA PÚBLICA. Econo‐ mia pode ser definida como a ciência social que estuda a maneira pela qual os homens decidem empregar recursos escassos, a fim de produ‐ zir diferentes bens e serviços e atender às necessidades de consumo. Assim, é uma ciência social, já que objetiva atender às necessidades humanas. Mas depende de restrições físicas, devido à escassez de recursos ou de fatores de produção (mão‐de‐obra, capital, terra, maté‐ ria‐prima). Podemos dizer que o objeto de estudo da ciência econômica é a questão da escassez, ou seja, como ‘‘economizar’’ recursos. A escassez surge devido às necessidades humanas ilimitadas e à restri‐ ção física de recursos. Afinal, o crescimento populacional renova as necessidades biológicas; o contínuo desejo de elevação do padrão de vida e a evolução tecnológica fazem com que surjam “novas” necessi‐ dades (computador, freezer, DVD, automóvel). Nenhum país, pobre ou 14 rico, dispõe de todos os recursos produtivos para satisfazer às necessi‐ dades da população. O Japão, por exemplo, precisa importar a maior parte das matérias‐primas que utiliza. Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem abundantes (bens livres), não haveria a necessidade de estudarmos questões como inflação, crescimento econômico, deficit no balanço de pagamentos, desemprego, pois esses problemas simplesmente não existiriam (e, obviamente, nem a necessidade de estudar economia). Todas as sociedades (sejam economias de mercado, sejam centraliza‐ das) são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez que os recursos não são abundantes. Elas são obrigadas a fazer esco‐ lhas sobre O QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM (que são os PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS de toda e qualquer economia) produzir: O QUE E QUANTO PRODUZIR – A sociedade deve decidir se produz mais bens de consumo ou bens de capital ou, como num exemplo clássico: quer produzir mais canhões ou mais manteiga? Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a pro‐ dução de mais bens de consumo ou de bens de capital? No fundo, trata‐se de uma decisão que extrapola a esfera puramente econô‐ mica. Em economias de mercado, o que e quanto produzir é sina‐ lizado pelos consumidores (o que é chamado de soberania do con‐ sumidor). Em economias planificadas ou centralizadas – tipo cuba‐ na e, até recentemente, soviética – a decisão é tomada por um ór‐ gão central de planejamento. COMO PRODUZIR – Trata‐se de uma questão de eficiência pro‐ dutiva: serão utilizados métodos de produção de capital intensi‐ vos? Ou de mão de obra intensivos? Ou de terra intensivos? Isso depende da disponibilidade de recursos de cada país. PARA QUEM PRODUZIR – A sociedade deve decidir quais os setores que serão beneficiados na distribuição do produto: traba‐ lhadores, capitalistas ou proprietários da terra? Agricultura ou in‐ dústria? Mercado interno ou mercado externo? Região Sul ou Nor‐ te? Ou seja, trata‐se de decidir como será distribuída a renda gera‐ da pela atividade econômica. Uma das áreas da economia que busca analisar as melhores formas de responder a essas perguntas é a teoria macroeconômica. A macroeco‐ nomia trata da evolução da economia como um todo, analisando a determinação e o comportamento dos grandes agregados, como renda 15 e produto nacionais, investimento, poupança e consumo agregados, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio. Ao estudar e procurar relacionar os grandes agregados, a macroeco‐ nomia negligencia o comportamento das unidades econômicas indivi‐ duais, tais como famílias e firmas, fixação de preços nos mercados específicos, efeitos de oligopólios em mercados individuais etc. Essas são preocupações da microeconomia. A macroeconomia trata os mer‐ cados de forma global. Por exemplo: no mercado de bens e serviços agrega produtos agrícolas, industriais e serviços de transporte; no mercado de trabalho, não se preocupa com diferenças na qualificação, sexo, idade, origem da força de trabalho. O custo dessa abstração é que os pormenores omitidos são, muitas vezes, importantes. Quando tomamos apenas o nível da taxa de juros, por exemplo, não são destacadas devidamente as diferenças entre os vários tipos de aplicações financeiras. A abstração, porém, tem a vantagem de permitir estabelecer relações entre grandes agregados e proporcionar melhor compreensão de al‐ gumas das interações mais relevantes da economia, estabelecidas entre os mercados de bens e serviços, de trabalho e de ativos financeiros e não financeiros. Entretanto, apesar do aparente contraste, não há um conflito básico entre a micro e a macroeconomia, dado que o conjunto da Economia é a soma de seus mercados individuais. A diferença é, primordialmente, uma questão de ênfase, de enfoque. Ao estudar a determinação de preços numa única indústria, na microeconomia, consideram‐se cons‐ tantes os preços das outras indústrias (a hipótese de coeteris paribus). Na macroeconomia, estuda‐se o nível geral de preços, ignorando as mudanças de preços relativos de bens das diferentes indústrias. A teoria macroeconômica propriamente dita preocupa‐se mais com questões conjunturais, de curto prazo. Especificamente, preocupa‐se com a questão do desemprego (entendido como a diferença entre a produção efetivamente realizada e a produção potencial da economia, quando todos os recursos estejam totalmenteempregados) e com a estabilizacão do nível geral de preços. A parte da teoria econômica que estuda o comportamento dos grandes agregados ao longo do tempo é denominada teoria do crescimento eco‐ nômico1. Seu enfoque é um pouco diferenciado, preocupando‐se com 16 questões como progresso tecnológico e política industrial, que envol‐ vem políticas de longo prazo. Método na Ciência Econômica Quanto ao método em economia, três aspectos devem ser levados em consideração: como a análise dos fenômenos decorrentes do comportamento humano é complexa, a economia utiliza hipóteses simplificadoras para explicar os fenômenos que estuda; a Ciência Econômica preferencialmente relaciona duas variáveis para explicar um fato econômico (por exemplo: a relação existente entre o preço e o consumo de um bem); frequentemente, você se deparará com a chamada análise marginal. Diferente do que o nome possa sugerir, essa forma de analisar os fatos econômicos busca relacionar as variáveis segundo o seu in‐ cremento (crescimento, aumento) relacionado a um aumento uni‐ tário de outra variável. Por exemplo: quanto aumentará o custo to‐ tal de uma empresa se aumentar a produção em uma unidade de produto? Esse será o custo marginal da produção daquela unida‐ de a mais. Entretanto, ainda é cedo para aprofundar esse tema; re‐ tornaremos a ele mais adiante. Ainda sobre a metodologia própria da ciência econômica e sobre os seus métodos de investigação, é necessário distinguir dois grandes compartimentos da economia: a economia positiva e a economia nor‐ mativa. A economia positiva, de acordo com Vasconcellos2, ocupa‐se de anali‐ sar os atos e os fatos sociais tal qual eles ocorrem, sem utilizar juízos de valor. Na prática, a economia positiva estuda os fatos sociais, observa‐ os sistematicamente (segundo metodologia própria das ciências soci‐ ais) e dessa análise e descrição, cientificamente elaborada, são formu‐ lados os princípios gerais, as leis da economia, as teorias e os modelos econômicos. Deduzem‐se ou são induzidas as teorias econômicas, os princípios econômicos, as leis da economia, os modelos econômicos. Com certeza, você já ouviu falar muitas vezes de duas leis da econo‐ mia: a lei da oferta e a lei da procura. Essas são duas entre outras tan‐ tas leis e princípios que compõem a economia positiva. Todas as leis, os princípios, os modelos e as teorias precisam ser analisados perma‐ nentemente e confrontados com a realidade, para verificação de sua validade e atualização. 17 Por outro lado, a economia normativa se ocupa de utilizar princípios, leis e teorias para produzir modificações e propor um direcionamento ao curso natural da economia: são as políticas econômicas. A economia normativa está fortemente vinculada à política, à ideologia e ao siste‐ ma de valores. Os compartimentos da economia estão resumidos no quadro a seguir. Quadro 1 – Compartimentos da economia ECONOMIA POSITIVA Análise dos fatos do dia a dia com a metodologia das ciências sociais; criação da teoria econômica; análise econômica. ECONOMIA NORMATIVA Proposição de políticas econômicas; avaliação dos resultados do ponto de vista político vigente. Fonte: VASCONCELLOS, 2006. Exemplificando: as políticas econômicas sempre buscarão alcançar um objetivo social específico que é debelar a inflação, distribuir melhor a renda, desenvolver uma região ou todo o país e promover o crescimen‐ to ou o desenvolvimento de um setor da economia. 1.2 Síntese do pensamento econômico A história do pensamento econômico pode ser analisada desde as correntes filosóficas da Idade Antiga, como ocorreu na Grécia e em Roma, até as ideias contemporâneas modernas. Nessa evolução, surgiram ideias e sistemas conflitantes, que iam do liberalismo total até o intervencionismo completo. Entretanto, notava‐ se um objetivo essencial: a construção de uma ciência que pudesse ajudar os homens na solução de um problema econômico fundamen‐ tal, a conciliação entre escassez de recursos e necessidades crescentes. Fisiocracia Tratava‐se de uma doutrina da ordem natural – o universo era regido por leis naturais, imutáveis e universais desejadas pela providência divina para a felicidade dos homens. Os fisiocratas, ao acreditarem em uma ordem natural que regula os fenômenos econômicos, aceitavam que a vida econômica se organiza e reorganiza de modo automático, com suas próprias forças, e, portanto, negavam a intervenção do Esta‐ do na economia. Com os fisiocratas, é iniciado o desenvolvimento das explicações para os fenômenos econômicos. Para eles, somente a terra e tudo o que viesse da natureza era considerado fator econômico produtivo. As 18 atividades agrícolas e extrativas eram consideradas economicamente produtivas – o produto líquido decorria da terra e sobre ele produzia‐ se um excedente da riqueza criada sobre a riqueza consumida. É pos‐ sível dizer que a fisiocracia foi uma doutrina organicista e naturalista, que recebeu influência do racionalismo do século XVIII. Muitos consi‐ deram as teorias de Quesnay3 meras extensões da doutrina escolástica, embora não deixem de reconhecer a natureza científica e analítica de sua obra. Em Quesnay, formulam‐se os princípios da filosofia social utilitarista (hedonismo), que se destaca com o quadro econômico, uma representação simplificada do fluxo de despesas e dos bens entre as diferentes classes sociais. Nessa época, surgiram as máquinas e, com elas, o sistema industrial capitalista. Escola clássica De cunho liberal, desenvolveu‐se entre o fim do século XVIII e o início do século IX. O marco inicial está relacionado a Adam Smith e a David Ricardo. Para esses autores, as leis naturais da vida econômica têm como princípio regulador a livre concorrência exercida pelos agentes econômicos. Concorrência que leva à divisão do trabalho, alavancando a produção, enquanto a natureza seria o fator originário. O corpo ana‐ lítico da escola clássica tem quatro princípios dominantes: liberdade de empresa, existência da propriedade privada, liberdade de conjunto e liberdade de troca. Nesse princípio repousa e se fundamenta a lei da oferta de mercado. Adam Smith (1723-1790) É o apologista da nascente classe industrial e oponente aos privilégios e proteção concedidos pelo Estado no mercantilismo. Não acreditava na “ordem natural” dos negócios. Confiava no egoísmo natural dos homens e na harmonia de seus interesses. Afirmava que todo esforço individual na procura do melhor leva naturalmente à preferência pelo emprego mais vantajoso para a sociedade. Adam Smith enfatizava o mercado como regulador da divisão do trabalho, fazia distinção entre valor de uso e valor de troca e admitia que só neste último há interesse econômico. O valor, para Smith, era distinto do preço; o trabalho era a medida do valor. Ele analisou a distribuição da renda entre salário, lucro e renda da terra. Smith acreditava que a concorrência levaria ao desenvolvimento econômico e que os benefícios dele decorrentes seri‐ am partilhados por todos. 19 Thomas Robert Malthus (1766-1834) Com destaque na terminologia teórica e por ter colocado a Economia em sólidas bases empíricas, Malthus ficou famoso com a lei da popula‐ ção. Mostrou, através dessa lei, que a população fora de controle cresce a taxas geométricas, enquanto os meios de subsistência crescem a taxas aritméticas. Seu pessimismo é criticado por não ter vislumbrado o progresso técnico e as técnicas de controle de natalidade. David Ricardo (1772-1823) Mais formal que Smith e Malthus, David Ricardo construiuum sistema abstrato cujas conclusões decorrem dos axiomas. Esse autor desenvol‐ veu um importante estudo sobre a renda diferencial da terra e sobre o futuro do sistema capitalista. O ouro passou a ter significado impor‐ tante na política econômica. No início, a Espanha detinha a liderança da posse desse material. Os demais países, não tão bem sucedidos nesse aspecto, procuravam uma compensação através de políticas econômicas que tornassem seus balanços de pagamento favoráveis, para que, por meio dos excedentes ou superavits, comprassem o ouro espanhol. Foi assim que floresceu uma indústria altamente regulamen‐ tada de bens exportáveis que podia garantir, também, a demanda interna. Esse pensamento econômico existiu entre 1450 e 1750, constituindo‐se em um regime de nacionalismo econômico, vale repetir, com centrali‐ zação da questão da riqueza como fim principal do Estado. Ele emerge de um processo crescente de urbanização, do surgimento das cidades e, portanto, da ampliação espacial do comércio. Dentro desse pensa‐ mento, operam‐se grandes transformações sociais, econômicas e políti‐ cas: INTELECTUAIS – renascimento artístico; RELIGIOSAS – reforma de Calvino e dos anglo‐saxões, dando grande ênfase ao individualismo; o trabalho era enaltecido, o juro era aceito, e o lucro, encorajado; POLÍTICAS – aparecimento do Estado moderno; GEOGRÁFICAS – grandes descobertas – Cabral, Colombo, Maga‐ lhães e outros navegadores; ECONÔMICAS – todos os conceitos referentes ao balanço comer‐ cial, às importações e às exportações de bens, assim como as tran‐ 20 sações com ouro e prata e todos os conceitos econômicos ligados às transações externas – seguro, frete, política de preços, desloca‐ mento da importância econômica do Mediterrâneo, regulamenta‐ ção disciplinadora da indústria e do comércio para propiciar aos países um saldo positivo no balanço de pagamento. Escola socialista – Karl Marx (1818-1883) O socialismo constituiu um movimento de reação contra os males do liberalismo, principalmente pela consideração do trabalho como uma mercadoria e, portanto, sujeito às leis do mercado. Os socialistas pre‐ tendiam substituir a ordem social baseada na liberdade individual, na propriedade privada e na liberdade contratual por uma outra ordem, fundamentada na propriedade coletivizada dos meios de produção. Essa escola pretendia corrigir as desigualdades econômicas, dentro de formulações igualitárias, em função das necessidades comuns. Os movimentos e as teorias socialistas que se opuseram ao individualismo e desenvolveram‐se com doutrinas e programas de reformas bem diferentes. Podemos destacar as seguintes correntes: Socialismo de cátedra (1872) Surgiu na Alemanha, era vertente do socialismo e pretendia, mesmo conservando a propriedade privada, regular a distribuição de riqueza e promover reformas de caráter econômico e social. O Estado entraria como cooperador, e não como absorvente, como se pretendia, no qua‐ dro geral do socialismo. Socialismo científico, histórico ou marxismo Deve‐se a Karl Marx a fundação do socialismo científico, que se tornou a mais importante corrente socialista. Marx se opôs aos processos ana‐ líticos clássicos, bem como às suas conclusões, e criticou Malthus com base nos diversos estágios e modos de produção. Sua análise considera o significado da dinâmica interna do processo histórico e as suas leis econômicas peculiares. Marx alterou a análise de valor, embora tenha se servido dos componentes teóricos da teoria do valor do trabalho de David Ricardo. Foi com Marx que apareceram os conceitos de mais‐ valia, capital variável, capital constante, exército de reserva. O teórico analisou, também, o processo de decrescimento da taxa de lucro decor‐ rente da acumulação do capital, da distribuição da renda e das crises do sistema capitalista. Devido à sua importância, veremos quais foram as bases filosóficas e a interpretação dos conceitos econômicos dessa abordagem teórica socialista: 21 Bases filosóficas do socialismo científico Marx partiu das ideias de Hegel, servindo‐se do conceito de movimen‐ to dialético, que vai da tese à antítese (negação da tese) e que, num terceiro termo, chega, pelo choque recíproco dos dois primeiros, à síntese (negação da negação). Recusa o idealismo de Hegel – “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consci‐ ência”. É pelo homem que se explica a história, este se apresenta como uma vítima – a teoria da alienação, na qual o homem projetou para fora de si a melhor parte dele mesmo e criou Deus. É necessário, dizia Marx, que o homem retome para si o que lhe per‐ tence. O trabalhador aliena sua própria substância no produto que realiza e do qual o empregador se apropria. Desse modo, o produto é o homem desintegrado. É preciso proceder à reintegração. Marx estuda o homem total e faz dele o rei do universo, como negação de toda transcendência. Materialismo histórico e a luta de classes Marx distingue na história a INFRAESTRUTURA, que é a técnica, as condições materiais de produção, a realidade econômica; e a SUPE‐ RESTRUTURA, que é a ideia, a cultura, o direito, a moral, a religião. A superestrutura comanda a infraestrutura. As formas jurídicas da soci‐ edade são sucessivas e necessariamente dirigidas pela evolução mate‐ rial das técnicas. A técnica de uma época concede a uma classe social uma posição vantajosa e a outra classe uma situação desvantajosa. Isso significa que há sempre uma classe dominante e uma classe dominada. O poder é da classe dominante, mas apenas provisoriamente, pois o processo dialético da negação a levará, um dia, ao desterro. Essa é a ilustração da ideologia do senhor e do escravo, dos capitalistas e dos proletários. O valor do trabalho e a mais-valia É a teoria das mercadorias, isto é, dos objetos produzidos pelo trabalho para a venda: o valor das coisas é determinado pela quantidade de trabalho de qualidade média necessária para produzi‐las; o valor da força de trabalho é determinado pela quantidade de trabalho necessário para produzir os alimentos e outros itens ne‐ cessários à subsistência do operário, durante uma jornada de seis horas de trabalho: 22 o empregador pagará ao operário um salário correspondente a essas seis horas de trabalho para ter o direito de utilizá‐las no pro‐ cesso de produção, mas o empregador fará o operário trabalhar mais de seis horas, durante oito horas, por exemplo; venderá as mercadorias produzidas pelo trabalhador a um preço equivalente a oito horas de trabalho; o operário forneceu duas horas de trabalho não‐pagas, que são apropriadas pelo empregador, constituindo um produto líquido que Karl Marx chamou de mais‐valia; a mais‐valia constitui a exploração capitalista. O proletariado recebe um salário menor que o valor das mercadorias produzidas; esse salário é insuficiente para comprá‐las; considerando ser a classe trabalhadora o mais importante conjun‐ to de consumidores, apareceriam, inevitavelmente, as crises de superprodução ou de subconsumo. A proletarização e a tese catastrófica da subversão Segundo as ideias de Marx, o avanço do capitalismo provocará a trans‐ formação fatal que o arruinará. Nesse processo, o número de proletá‐ rios crescerá continuamente, e as empresas se tornarão cada vez maio‐ res e menos numerosas. No momento em que todos se tornarem prole‐ tários, a luta de classes chegará ao fim. A revolução se realizará por si mesma. Marx aconselhava não só que se ficasse à espera do desenlace, como concitava a que os trabalhadores se antecipassem, o que éates‐ tado pelo seu brado: “Proletários de todos os países, uni-vos”. Karl Marx estruturou, assim, as bases do pensamento socialista do século XIX. Foi um revolucionário, e sua obra O Capital promoveu grande impacto e enormes modificações na ordem econômica de vá‐ rias nações. A legislação trabalhista e os sindicatos, entre outros, foram contribuições pós‐marxistas. Escola marginalista ou neoclássica A partir de 1870 até 1929, a análise econômica seria enriquecida com o desenvolvimento da teoria do marginalismo ou neoclassicismo. Esse conjunto de estudos procurou integrar a teoria do valor à teoria dos custos de produção realizada pelos clássicos. Desenvolveu a explicação da alocação dos recursos com o auxílio da análise marginal e ofereceu 23 argumentos para o entendimento da formação dos preços dos fatores de produção e dos bens econômicos finais. Conforme a análise do marginalismo, o homem econômico é racional, isto é, suas ações são intencionais e sistemáticas, é calculador e está empenhado em compa‐ rar seus gastos marginais com seus respectivos benefícios. Escola keynesiana ou revolução keynesiana John Maynard Keynes (1883‐1946) é o expoente máximo do pensamen‐ to econômico que revolucionou todo o conteúdo teórico dessa ciência. A análise de Keynes voltou‐se, principalmente, para problemas da estabilidade a curto prazo. Nesse sentido, procurou determinar as causas das flutuações econômicas dadas pelos níveis da renda nacional e do emprego nos países industrializados. Para levar avante esse obje‐ tivo, passou a considerar os grandes agregados no curto prazo, procu‐ rando contestar a condenação marxista do capitalismo. Dizia que um capitalismo não regulado, sem intervenção, mostra‐se incompatível com a manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica. Keynes integrou os setores reais (de gasto) ao setor monetário, anali‐ sou a taxa de juros (determinada pela oferta de moeda e pela preferên‐ cia pela liquidez), o consumo e a poupança, ambos dependentes da renda, os efeitos multiplicadores do investimento no nível da renda nacional; atribuiu papel ativo à política fiscal – de gastos e de impos‐ tos, defendendo a adoção de uma política deficitária do governo como um meio seguro para tirar o sistema econômico da depressão a curto prazo; mas era contrário aos controles monetários, pois não considera‐ va a moeda um instrumento ativo. Na época de Keynes, dizia‐se que a economia estava em recessão porque a renda era insuficiente para comprar a produção nacional. A análise de Keynes é criticada por ser parcial, e não geral, como ale‐ gava na sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, pois limita‐ va à análise o subemprego de curto prazo, faltando integrar sua análise à complexidade da microeconomia; além disso, não aplicou sua teoria à explicação do funcionamento das economias dos países menos de‐ senvolvidos. Mas não se pode negar o papel importante dos estudos de Keynes no desenvolvimento da aferição e da medida das atividades econômicas em seu conjunto, de modo agregado – como as contas nacionais ou contabilidade nacional –, e na explicação para os modelos agregados e suas verificações empíricas através da econometria, que faz a interação entre a teoria econômica, a matemática e a estatística. 24 Contribuições contemporâneas Após os trabalhos de Keynes, houve um intenso desenvolvimento de estudos e a análise de assuntos ligados à renda, ao emprego e à moeda. São exemplos o modelo do multiplicador atribuído a Paul A. Samuel‐ son; o modelo da taxa de juros de John R. Hicks; as hipóteses de renda permanente de Milton Friedman; a interação entre a micro e a macroe‐ conomia, a teoria neoclássica moderna das expectativas racionais e os aprofundamentos nas teorias dinâmicas de longo prazo realizados por Joan Robinson, Roy F. Harrod, Evsey Domar, John Hícks, Nicholas Kaldor, Kenneth Arrow, Samuelson, Solow e muitos outros. Na evolução sucinta dessas contribuições, convém alertar que o inter‐ vencionismo na economia, proposto por Keynes, tinha sentido restrito e não pode ser entendido da mesma maneira que o dirigismo estatal e generalizado adotado nos países do bloco socialista soviético – o Esta‐ do é apenas complementador, e nunca substituto da iniciativa privada. Em síntese, as teorias desenvolvidas durante o século XVIII cuidaram da explicação da formação da riqueza; as do século XIX, da distribui‐ ção da riqueza e, modernamente, teorias com um duplo objetivo estão se desenvolvendo de um lado para explicar as flutuações da atividade econômica, seu desenvolvimento dentro de um quadro de estabilidade e, de outro, investigar a repartição da riqueza ou o problema de equi‐ dade. Ponto final Este capítulo explicou o que é economia como ciência, seu objeto de estudo, seus problemas econômicos fundamentais, seu método de abordagem da realidade e uma síntese do pensamento econômico. Se você compreendeu tais conceitos, está preparado para continuar seu estudo. Indicação cultural FUSFELD, D. R. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001. É um retrato fiel da evolução da economia, apresentando desde o sur‐ gimento da economia de mercado até seus avanços mais recentes. No texto há uma linha do tempo em cada página situando os principais fatos e economistas de cada período. É um livro completo que traz a história do pensamento econômico de uma forma simples e direta. 25 Atividades 1) Quando surge a escassez, segundo a ótica econômica? 2) Por que a economia é uma ciência social? 3) Quais são as diferenças entre a economia positiva e a economia normativa? 2 A DEMANDA, A OFERTA, O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS Erico Michels Ney Oliveira Sandro Wollenhaupt Este capítulo tem como objetivo a compreensão do comportamento da demanda e da oferta e de como esses agentes realizam suas trocas no mercado, sob o enfoque da teoria econômica. 2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado A seguir, descreveremos esses importantes temas da ciência econômi‐ ca. Demanda Demanda ou procura é a quantidade de bens ou serviços que os agen‐ tes econômicos estão dispostos e aptos a consumir num determinado momento, num determinado mercado por diferentes fatores determi‐ nantes, considerando‐se que: BENS: podem ser estocados; AGENTES ECONÔMICOS: constituídos por famílias, empresas e governo; REQUISITOS BÁSICOS DA DEMANDA: DISPOSTOS – ter vontade, querer; APTOS – ter aptidão de compra; poder comprar. Se esses dois requisitos estiverem presentes (disposição e aptidão), temos uma demanda real ou efetiva. Se, no máximo, um desses requisitos es‐ tiver presente, temos, então, uma demanda potencial (pode não ter nenhum desses requisitos). 27 NUM DETERMINADO MOMENTO E NUM DETERMINADO MERCADO: em cada momento, nossas vontades mudam nosso comportamento. OS FATORES DETERMINANTES DA DEMANDA SÃO: preço do próprio bem/serviço; preço de outros bens/serviços; gosto; prefe‐ rência; renda e número de consumidores. As quantidades demandadas serão tanto maiores quanto menores forem os preços ou vice‐versa. Quanto mais caro, menos se compra. Essa é a LEI DA DEMANDA. Oferta Oferta é a quantidade de bens e serviços que um ou mais agentes econômicos estão habilitados e interessados em colocar num certo momento, num certo mercado, por diferentes fatores determinantes. Os FATORES DETERMINANTES da oferta são: o preço do próprio bem; a tecnologia; os impostos; a taxa de juros; os fatores da natureza (tudo que pode ocorrer, em termos climáticos). Quanto maior for o preçode um bem, maior será a quantidade oferta‐ da deste. Do mesmo modo, quanto menor for o preço de um bem, menor será a quantidade ofertada. Em outras palavras, há uma relação direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada. Essa é a LEI DA OFERTA. O mercado e as suas estruturas Nossa leitura buscará, agora, o entendimento de algo que parece com‐ plicado, mas que é o aspecto da economia que mais interfere em nossa vida diária: o funcionamento do mercado. E o que é o mercado? Ros‐ setti1 afirma que “em sua acepção primitiva, a palavra mercado dizia respeito a um lugar determinado onde os agentes econômicos realiza‐ vam suas transações”. Para Passos e Nogami2, mercado “é um local ou contexto em que compradores (o lado da demanda) e vendedores (o lado da oferta) de bens, serviços ou recursos estabelecem contato e realizam transações”. É nesse mercado que funcionam as duas leis mais conhecidas da ciência econômica: a lei da procura e a lei da oferta. É também no mercado que se formam os preços dos bens e dos servi‐ ços, que utilizamos para viver e satisfazer às nossas necessidades. 28 Formação de preços Preço é a expressão monetária do valor de bens e serviços que utiliza‐ mos para satisfazer às nossas necessidades. Existe, na teoria econômi‐ ca, uma distinção entre preço de mercado ou simplesmente preço e preço natural ou apenas valor. O que determina o preço não é o que determina o valor. A explicação do valor de troca das mercadorias tem duas grandes correntes dentro da ciência econômica: a teoria clássica do valor‐trabalho e a teoria neoclássica do valor‐utilidade. Essa dispu‐ ta teórica em torno da determinação do valor entrou na história do pensamento econômico e se manteve por um longo período. Quem apresentou uma solução para o problema foi um economista inglês deste século, Alfred Marshall3. De acordo com Marshall, o valor de troca é determinado, a curto prazo, subjetivamente pela utilidade e escassez relativa (pelo lado da demanda) e, a longo prazo, objetiva‐ mente pelos custos de produção (pelo lado da oferta). Depois disso, os debates acerca da origem do valor foram deixados de lado e pouco tem sido discutido sobre o assunto. Os preços de mercado oscilam conforme as variações da oferta e da procura (demanda é sinônimo de procura, e passaremos a utilizar indis‐ tintamente uma ou outra denominação). Nas economias de mercado, o papel dos preços é de orientar a alocação (direcionamento) dos recur‐ sos de produção, funcionando como um indicador ou índice de escas‐ sez. Os preços são um mecanismo de orientação das atividades eco‐ nômicas; isto é, dos fluxos da produção e da renda. E, nesse sentido, os preços podem ser também definidos como um índice de conversão de um fluxo real (de bens e de serviços) em nominal (de valores monetá‐ rios). Importância do mercado no sistema econômico O mercado, através do sistema de preços, aloca os escassos recursos para produzir uma certa quantidade de bens ou serviços, que corres‐ pondem a um nível de satisfação das necessidades das pessoas – nível ou padrão de vida, considerando‐se que: SISTEMA DE PREÇOS: é o conjunto de preços dos bens, serviços e fatores de produção de um sistema de preços; ALOCAÇÃO DE RECURSOS: é a forma como os fatores de pro‐ dução são organizados pelo mercado, para que produzam bens e serviços que atendam às necessidades das pessoas; 29 PADRÃO DE VIDA: é o nível de satisfação alcançado pelas pesso‐ as que fazem parte de um sistema econômico, quando consomem bens e serviços por ele produzidos. Equilíbrio de mercado Quando se fala em equilíbrio, a ideia que nos vem imediatamente à cabeça é de um balanceamento de forças. Quando se transfere essa noção de equilíbrio para a análise do mercado, o balanceamento de forças ocorre entre as forças básicas do mercado, a oferta e a procura. Dessa forma, pode‐se dizer que o mercado está em equilíbrio quando o preço pelo qual os vendedores pretendem vender uma quantidade do produto é exatamente igual ao preço pelo qual os compradores pre‐ tendem comprar essa mesma quantidade do produto. Colocando em um gráfico (Figura 1) a representação das curvas de oferta e de procu‐ ra, podemos visualizar o equilíbrio de mercado. Esse equilíbrio é defi‐ nido pelo ponto A, determinado pela interseção das duas curvas. Figura 1 – Gráfico do equilíbrio de mercado Fonte: adaptado de VASCONCELLOS; GARCIA, 2006. 2.2 Estruturas de mercado As diferentes estruturas de mercado estão alicerçadas em três variáveis principais: número de empresas produtoras que atuam no mercado; diferenciação do produto ou serviço; 30 existência de barreiras como forma de limitar a entrada de novas empresas. As estruturas de mercado classificam‐se, basicamente, em: concorrên‐ cia perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística. Ve‐ jamos a seguir as características de cada uma delas. Concorrência pura ou concorrência perfeita É um mercado com vários vendedores e compradores, de forma que cada agente econômico isolado não tem condições de afetar o preço de mercado. O produto é homogêneo em todas as empresas. Não há dife‐ renças de embalagem e qualidade. É um mercado em que não há barreiras à entrada e à saída, tanto de compradores como de vendedores. Regido pelo princípio da racionalidade os agentes agem racionalmente (é o chamado princípio da racionalidade ou do homo economicus). As organizações sempre maximizam seu lucro, e os consumidores maxi‐ mizam sua satisfação. Possui transparência de mercado compradores e vendedores têm aces‐ so a toda informação relevante, sem custos, isto é, conhecem preços, qualidade e custos. Monopólio Uma única empresa produz um bem ou um serviço sem substitutos próximos e apresenta barreiras à entrada de empresas concorrentes. O produto ou o serviço não é idêntico e não há possibilidade de ser subs‐ tituído por outros. Oligopólio Um número reduzido de firmas operam no setor. Os bens ou os servi‐ ços são substitutos perfeitos entre si e o consumidor sabe perfeitamen‐ te quem produziu. Essa estrutura apresenta barreiras à entrada e à saída de novas firmas. Concorrência monopolística Várias empresas produzem dado bem ou serviço, sendo que cada uma produz um bem ou um serviço diferenciado, mas com substitutos próximos. A diferenciação nos produtos pode se dar via: 31 características físicas, como por exemplo a composição química; promoção de vendas, propaganda, atendimento, brindes; manutenção; embalagem. Cada empresa tem um relativo poder sobre os preços, visto que os produtos ou serviços são diferenciados. Quadro 2 – Resumo das estruturas de mercado ES TR U TU R A O BJ ET IV O D A EM PR ES A N Ú M ER O D E FI RM A TI PO D E PR O D U TO A C ES SO D E N O V A S EM PR ES A S A O M ER C A D O C on co rr ên ci a p er fe ita M ax im iz aç ã o d e l uc ro s In fin ita s H om og ên eo N ão ex is te m ba rr ei ra s M on op ól io M ax im iz aç ão de lu cr os U m a Ú ni co Ex is te m ba rr ei ra s C on co rr ên ci a m on op ol ís tic a M ax im iz aç ão de lu cr os M ui ta s D ife re nc ia do N ão ex is te m ba rr ei ra s O lig op ól io M ax im iz aç ão delu cr os Po uc as do m in am um m er ca do H om og ên e o o u di fe re nc ia do Ex is te m ba rr ei ra s Fonte: adaptado de ROSSETTI, 2002. Formas de organização Há outras formas de organização das empresas no mercado, que serão descritas a seguir: 32 Monopsônio Situação de mercado em que há apenas um comprador de um produto, geralmente matéria‐prima. Modelo raro de mercado, em que as condi‐ ções são determinadas pelo comprador, mesmo que haja vários ven‐ dedores. Normalmente é representado por estatais, como o caso da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por ser a única, torna‐se demandante exclusiva da mão de obra local e das cidades próximas, consequentemente, fixa os salários em patamares baixos. Oligopsônio Tipo de estrutura de mercado em que poucas empresas, de grande porte, são compradoras de determinados produtos, geralmente maté‐ ria‐prima ou produtos primários. Representado pelas indústrias ali‐ mentícias e seus fornecedores. Ex.: em cada cidade existem dois ou três que adquirem a maior parte do leite de inúmeros produtores rurais locais. Truste Uma das formas mais agressivas de controle oligopolístico de mercado é aquela denominada truste (termo proveniente da palavra inglesa trust, que significa “confiar, depositar confiança em”). O truste consiste num acordo entre diversas empresas que passam a ser administradas por uma nova empresa ou grupo financeiro. Essa empresa ou grupo passa a ter controle absoluto sobre as empresas anteriores, que perdem sua independência e parte de sua autonomia administrativa. Dessa forma, o truste passa a ser o único produtor e vendedor de determina‐ do bem no mercado, eliminando progressivamente os demais concor‐ rentes, absorvendo‐os ou incorporando‐os e, assim, controlando total‐ mente o preço do bem ou bens que produz. Embora o Estado imponha severas leis para impedir a formação de trustes, eles continuam ope‐ rando e se expandindo através de várias manobras. “Joint venture” Basicamente, uma joint venture representa a associação de duas ou mais empresas a fim de criar ou desenvolver uma atividade econômica. Embora essas empresas busquem, com essa associação, um ganho, esse ganho nem sempre se apresenta como o mesmo para cada uma delas, pois, enquanto uma visa o lucro, outra pode estar em busca de novas tecnologias e outra visa apenas e tão somente assegurar sua presença em um determinado mercado, inúmeras outras motivações podendo existir ainda para cada partícipe do empreendimento conjunto.4 33 “Holding” É uma forma de oligopólio na qual é criada uma empresa para administrar um grupo delas que se uniu com o intuito de promover o domínio de determinada oferta de produtos e/ou serviços. Na holding, essa empresa criada para administrar possui a maioria das ações das empresas componentes de determinado grupo. Essa forma de administração é muito praticada pelas grandes corporações.5 Pudemos observar como a demanda, a oferta, o mercado e as suas estruturas realizam suas trocas no mercado, sob o enfoque da teoria econômica, lembrando que os tópicos foram abordados do mais ele‐ mentar ao mais abstruso. Ponto final Neste capítulo, vimos como a oferta e a demanda determimam os preços, a importância do mercado para o sistema econômico e as carac‐ terísticas das estruturas concorrenciais nas quais as empresas compe‐ tem entre si. Se você compreendeu tais conceitos, está preparado para continuar seu estudo. Indicação cultural MANSFIELD, E.; YOHE, G. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. A obra mostra a teoria microeconômica de um modo claro e instigante por meio de inúmeros exemplos atuais. Apresenta ainda os conceitos mais recentes, ainda pouco explorados em livros. Entre eles estão: o papel do risco e da incerteza na economia atual, a formulação de lei‐ lões, a função do seguro, o poder do risco moral, os incentivos de mer‐ cado na formulação de políticas, entre vários outros assuntos. Atividades 1) Quais são os requisitos básicos da demanda? 2) Qual a importância do mercado para o sistema econômico? 3) As diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três variáveis principais. Quais são elas? 3 TEORIA DA PRODUÇÃO E DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO Erico Michels Ney Oliveira Sandro Wollenhaupt Este capítulo tem como finalidade analisar as principais variáveis que devem ser levadas em consideração para a produção de bens e servi‐ ços. O que analisaremos é o comportamento da empresa quando ela desenvolve sua atividade produtiva, sob o enfoque de sua produção (em termos de unidades físicas) e de seus respectivos custos (em ter‐ mos monetários). 3.1 Teoria da produção Uma empresa é a unidade básica de produção em um sistema econô‐ mico. Ela contrata recursos produtivos, transforma‐os em bens e servi‐ ços e os coloca ou à disposição de outras empresas, no caso de bens intermediários, ou à disposição dos consumidores, no caso de bens de consumo. Podemos definir produção da seguinte forma: é o processo pelo qual uma empresa transforma os fatores de produção adquiridos em produ‐ tos ou serviços para a venda no mercado. A empresa compra fatores de produção (matérias‐primas e insumos), combina‐os segundo um pro‐ cesso de produção escolhido e vende o produto final no mercado. A produção pode ser classificada como1: produção de bens materiais (alimentos, remédios, máquinas); produção de serviços (transporte, diversão etc.). O processo de produção pode ser de mão de obra intensivo, de capital intensivo ou de terra intensivo, dependendo do fator de produção utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. 35 A escolha do processo de produção depende de sua eficiência. Esta pode ser2: EFICIÊNCIA TÉCNICA: entre diversos processos produtivos para obter uma determinada quantidade de produto, é mais eficiente tecnicamente aquele que utilizar menores quantidades de fatores de produção; EFICIÊNCIA ECONÔMICA: entre diversos processos produtivos para se obter uma determinada quantidade de produto, é mais eficiente economicamente aquele que o realizar com menor custo. Se especificarmos as diversas quantidades de cada fator que a empresa utiliza para alcançar determinadas quantidades de produto, teremos a função de produção. Ao analisar uma função de produção, verificare‐ mos que, ao aumentar ou diminuir a quantidade produzida de um determinado produto (variar a produção), a quantidade utilizada de alguns fatores não muda (máquinas, instalações, ferramentas, adminis‐ tração), enquanto a quantidade utilizada de outros fatores muda pro‐ porcionalmente à produção (matéria‐prima, mão de obra). Os primei‐ ros são os fatores de produção fixos (cujas quantidades não mudam), e os segundos são os fatores de produção variáveis (cujas quantidades mudam). À medida que se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável, aumenta a quantidade de produto total que se obtém. A par‐ tir dessa afirmação, podemos concluir dois conceitos importantes: a PRODUTIVIDADE MÉDIA e a PRODUTIVIDADE MARGINAL do fator variável. A produtividade média do fator variável é o quociente da quantidade total produzida pela quantidade utilizada do fator variável. A produtividade marginal do fator variável é a variação do produto total decorrente da variação de uma unidade no fator variá‐ vel. Para que servem esses conceitos, na prática? Servem para saber se cada fator (insumo) que se utiliza na produçãoestá trazendo um resul‐ tado (produtividade média) satisfatório. Servem para saber se o último fator utilizado (produtividade marginal) também está produzindo resultado satisfatório, para o produto específico que analisamos. Quando se aumenta a quantidade de utilização de um fator variável, eleva‐se a quantidade de produto total obtido, mas não de maneira uniforme e permanente. Isso deve‐se à LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES3. Essa lei pode ser assim explicada: mantendo‐se inalterada a quantidade de fatores fixos e incrementando um fator variável em iguais quantidades, a quantidade de produto total obtido aumentará, mas a partir de certo ponto os acréscimos no produto total 36 serão cada vez menores. Se insistirmos no incremento do fator variá‐ vel, o produto – após alcançar um valor máximo – poderá até decres‐ cer. A Tabela 1 ilustra os conceitos apresentados anteriormente. Tabela 1 – Produção de trigo com apenas um fator de produção variável (mão de obra) Terra (fator fixo em hectares) 1 Mão de obra (fator variável em milhares de trabalhadores) 2 Produção total (em toneladas) 3 Produção média da mão de obra (em toneladas) (4) = (3) : (2) Produtividade marginal da mão de obra (em toneladas) (5) = 10 1 6 6,0 6 10 2 14 7,0 8 10 3 24 8,0 10 10 4 32 8,0 8 10 5 38 7,6 6 10 6 42 7,0 4 10 7 44 6,2 2 10 8 44 5,4 0 10 9 42 4,6 – 2 Fonte: Vasconcellos, 2007. 3.2 Teoria dos custos de produção Uma empresa sempre procurará obter o máximo de produção com a utilização de um mínimo de fatores (insumos). Perseguindo ambos os objetivos, obterá o melhor resultado possível (lucro) para garantir a remuneração aos acionistas e à própria sobrevivência da firma. Custos totais de produção Os custos totais de produção de uma empresa, no curto prazo, podem ser classificados em dois tipos: custos fixos totais (CFT) e custos variá‐ veis totais (CVT). Assim, CT = CFT + CVT. Os custos fixos totais são aqueles representados pelos insumos que independem das quantidades produzidas. São gastos com os fatores de produção fixo, como: aluguel, máquinas, administração superior da organização etc. Os custos variáveis totais são aqueles representados pelos insumos (fatores) variáveis, cujo nível de utilização depende das quantidades produzidas. São os gastos com matérias‐primas, mão deobra variável, impostos sobre a produção e vendas, comissões sobre vendas etc. 37 Tabela 2 – Custos de produção (em valores monetários) Q U A N TI D A D E PR O D U ZI D A C U ST O FI XO C U ST O V A RI Á V EL C U ST O TO TA L C U ST O M ÉD IO C U ST O M A RG IN A L 0 10 0 0 10 0, 00 – – 10 10 0 50 ,0 0 15 0, 00 15 ,0 0 5, 00 20 10 0 80 ,0 0 18 0, 0 0 9,0 0 3, 00 30 10 0 10 0, 00 20 0, 00 6, 67 2, 00 40 10 0 11 0, 00 21 0, 00 5. 25 1, 00 50 10 0 13 0, 00 23 0, 00 3, 83 2, 00 60 10 0 16 0, 00 26 0, 00 4, 33 3, 00 70 10 0 20 0, 00 30 0, 00 4, 28 4, 00 80 10 0 25 0, 00 35 0, 00 4, 37 5, 00 Fonte: Rossetti, 2002. Além do conceito de custo total, existe também o custo médio, que é o quociente do custo total pela quantidade total produzida e o CUSTO MARGINAL que é a variação do custo total decorrente da variação de 38 uma unidade na produção. Esses conceitos podem ser observados na Tabela 2. Como calculamos: 1. os custos fixos e variáveis são enunciados do problema (são os resul‐ tados da observação do processo produtivo); 2. o custo total é a soma do custo fixo e do custo variável; 3. o custo médio é a divisão do custo total pela respectiva quantidade produzida; 4. o custo marginal é obtido dividindo a diferença de custo total pela diferença da quantidade produzida, a cada intervalo de produção. (Exemplo: ao produzir 40 unidades de produto, o custo total foi de R$ 210,00; ao produzir 50 unidades, o custo total foi de R$ 230,00; assim CMg = (230,00 – 210,00) / (50 – 40) = 20,00 / 10 = 2,00.) Como uma empresa terá lucro máximo? Ela terá lucro sempre que vender uma unidade de produto a um preço unitário maior que o seu custo unitário de produção. Enquanto houver esse lucro, a empresa poderá prosseguir aumentando sua produção e vendas, mesmo que seus custos médios e marginais estejam crescendo. A maximização dos lucros ocorre quando a receita marginal é igual ao custo marginal. No longo prazo, a teoria da produção considera que todos os custos sejam variáveis, inexistindo custos fixos. Dessa forma, toda a análise que fizemos até aqui se refere ao curto prazo. Outra questão importante a destacar é a visão diferenciada que existe entre a ótica de análise dos economistas e aquela dos contadores sobre custos de produção. Os custos contábeis, ou explícitos, são aqueles que ocorrem mediante dispêndio monetário e são registrados na contabili‐ dade. Os custos considerados na análise econômica incluem, além daqueles considerados pelos contadores, os custos implícitos ou de oportunida‐ de. Representam os custos que as empresas têm com o uso dos insu‐ mos de sua propriedade e pelos quais elas não têm dispêndio monetá‐ rio. Seus valores podem ser estimados através de avaliação do valor de pagamento que deles se obteria se utilizados, no mercado, no melhor uso alternativo. 39 Externalidades Na análise econômica é preciso, ainda, considerar, as externalidades. Estas são os custos ou as receitas obtidas ou imputadas pela empresa à sociedade ou a outras empresas. As externalidades podem ser positi‐ vas ou negativas. Serão positivas quando uma empresa gerar benefí‐ cios a outra, sem receber pagamentos em troca. Exemplos de externali‐ dades positivas são as empresas tradicionais que treinam sua mão de obra e acabam gerando novas empresas que absorvem a mão de obra treinada, sem participar em seu custo. As externalidades serão negati‐ vas quando a atividade de uma empresa gerar custos para outras em‐ presas, sem que aquelas paguem a estas o custo proporcionado. Exem‐ plo de externalidade negativa é a poluição que uma empresa produz em um bairro ou em uma cidade, contaminando a água, o ar ou o solo. 3.3 Função de produção Qualquer unidade produtora, ao produzir bens e serviços, tem custos com a utilização de fatores, insumos ou matérias‐primas. Ao vender esses bens ou serviços, a empresa obterá um certo volume de receitas. A diferença entre os custos e as receitas se denomina lucro econômico. A função de produção de uma empresa é a relação das quantidades fixas e variáveis de fatores que são utilizados no decorrer do processo produtivo. Sabe‐se que as empresas possuem diferentes produtivida‐ des. Esta varia de acordo com a eficiência econômica e deve ser enten‐ dida como a relação entre a quantidade produzida de um determinado bem e o fator utilizado. A lei dos rendimentos decrescentes indica que o aumento na utilização de um fator de produção implica acréscimos cada vez menores nos rendimentos gerados por essa mesma produção. Isso decorre precisamente da produtividade do fator, que diminui enquanto aumenta a sua utilização e, consequentemente, a sua escas‐ sez, sendo os últimos menos produtivos. Quadro 3 – Resumo dos conceitosvistos neste capítulo TERMO CONCEITO Função de produção P = f(aFP1 + bFP2 + + ... + zFPn) Produtividade média Pme = (produção total) / (quantidade de fator variável) Produtividade marginal Pmg = (acréscimo de produto total) / (acréscimo de fator variável) Custo total CT = custo fixo (CFT) + custo variável (CVT) Custo médio Cme = (custo total) / (quantidade produzida) Custo marginal Cmg = (acréscimo de custo total) / (acréscimo 40 da quantidade produzida) Receita total RT = preço de venda x quantidade vendida ou quantidade produzida Lucro total LT = RT (receita total) – CT (custo total) Ponto final A teoria da produção e dos custos de produção é fundamental para a administração de empresas e para o entendimento do comportamento do produtor no mercado. Essa teoria permite analisar a formação do custo dos bens e serviços, cujo valor final viabiliza ou inviabiliza a permanência do produtor no mercado do produto. Para o administrador, a análise da composição dos custos proporciona a possibilidade de interferir no processo produtivo no sentido de mi‐ nimizá‐lo e tornar o produto mais competitivo. Indicação cultural PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução de: Eleu‐ tério Prado. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Esse manual completo apresenta os conceitos básicos e aprofunda todos os aspectos importantes do estudo da microeconomia: mercado e preços; produtores, consumidores e mercados competitivos; estrutura de mercado e estratégia competitiva; informação, falhas de mercado e o papel do governo. Uma série de exercícios e questões para revisão completa cada capítulo, tornando mais compreensível a teoria. Atividades 1) Uma fábrica de implementos agrícolas apresenta a seguinte estrutura de custos para a produção de diferentes quantidades de produto: QUANTIDADE PRODUZIDA/MÊS PREÇO DE VENDA (R$) CUSTO FIXO (R$) CUSTO VARIÁVEL (R$) 20 50.000,00 308.000,00 150.000,00 30 42.000,00 308.000,00 170.000,00 40 39.000,00 308.000,00 190.000,00 50 36.000,00 308.000,00 210.000,00 60 33.000,00 308.000,00 230.000,00 41 Determine o custo total, o custo médio, o custo marginal, a receita total e o lucro total em cada nível de produção. 2) Uma fábrica de sapatos masculinos apresenta a seguinte estrutura de recursos físicos. Determine sua produtividade média da mão de obra e sua produtividade marginal. Capacid ade de produçã o diária 1 Mão de obra (fator variável de trabalhad ores) 2 Produ ção total (em pares de sapato s) 3 Produtivi dade média da mão de obra (4) = (3) : (2) Produtividade marginal da mão de obra (5) = 300 10 80 300 15 95 300 20 115 300 25 132 300 30 129 300 35 108 300 40 97 4 Macroeconomia Erico Michels Ney Oliveira Sandro Wollenhaupt Ao final deste capítulo, o aluno deverá ser capaz de analisar as metas de política macroeconômica, identificar os instrumentos da política macroeconômica, descrever a estrutura de análise da macroeconomia e identificar as principais medidas da atividade econômica propostas pela contabilidade nacional. Todos esses assuntos serão abordados a seguir. 4.1 Fundamentos de macroeconomia Como está nossa leitura? Esperamos que você esteja reconhecendo sua empresa, seu banco, suas decisões econômicas nesse “passeio” pela economia. Também esperamos que você esteja conseguindo relacionar sua rotina diária com os aspectos teóricos que já repassamos juntos. Até agora procuramos observar as relações entre os agentes (atores) econômicos: as necessidades humanas, a limitada disponibilidade de recursos (fatores de produção) para satisfazê‐las, o processo produtivo, a demanda, a oferta e a formação de preços no mercado. Agora iremos abrir um pouco o leque de nossa observação. Tentare‐ mos analisar as políticas econômicas governamentais, o comportamen‐ to da economia como um todo, o bem‐estar que as pessoas almejam como resultado da atividade econômica. Vejamos alguns conceitos básicos. Enquanto a teoria microeconômica explica a composição e a alocação da produção total, a teoria macroe‐ conômica busca explicar as flutuações do nível de atividade econômi‐ ca, do nível da produção global. O termo micro indica apenas a decom‐ posição de variáveis macroeconômicas, como consumo, poupança e investimento. 43 A macroeconomia estuda a economia em seu conjunto, analisando as variáveis de maneira agregada, e não isolada, como a microeconomia. São típicas variáveis de interesse da análise macroeconômica: a renda e o produto, o nível de preços, o emprego e o desemprego, a moeda e o câmbio, o balanço de pagamentos, a taxa de juros1. Quando se estuda e promove relacionamentos entre as variáveis eco‐ nômicas agregadas, a macroeconomia não leva em consideração o comportamento das unidades econômicas individuais e dos mercados específicos, análise típica da microeconomia. Ao estudar o nível geral de preços, a macroeconomia não se ocupa da formação dos preços de um produto especificamente. Ao analisar o mercado, ocupa‐se do seu conjunto, esquecendo de aspectos particulares de um setor ou de uma indústria.2 A macroeconomia ocupa‐se de analisar o curto prazo, especialmente no que se refere à maximização do produto e à minimização do de‐ semprego de fatores produtivos e à inflação. Quando se estuda ques‐ tões de longo prazo, a análise macroeconômica denomina‐se teoria do desenvolvimento e crescimento econômico3. Os métodos de análise básicos, no estudo da determinação de preços e quantidades são4: análise do equilíbrio parcial – estuda‐se um mercado isoladamen‐ te, não levando em consideração as possíveis interferências dos demais mercados. análise do equilíbrio geral – considera‐se a interdependência de todos os mercados e os preços dos bens se formam em um merca‐ do influenciado pelo conjunto dos seus bens e dos demais merca‐ dos e pelos preços de todos os insumos da economia. Metas de política macroeconômica Ao estabelecer políticas macroeconômicas, os governos sempre têm como meta alcançar um ou mais dos objetivos que serão apresentados na sequência. ALTO NÍVEL DE EMPREGO – Ao contrário do pensamento libe‐ ral clássico, desde a contribuição de Keynes5 à teoria econômica, hoje se aceita a intervenção do Estado, mesmo em regimes capita‐ listas, no sentido de maximizar a obtenção de produção global na economia. Com a existência de corporações cada vez mais podero‐ sas (sindicatos patronais e de empregados, associações corporati‐ 44 vas) o mercado não se regula, como se propunha nas teorias clás‐ sicas. E o desemprego é uma das principais preocupações das po‐ líticas macroeconômicas. ESTABILIDADE DE PREÇOS – O que se analisa, nesse quesito, não é o preço de cada bem do mercado. Interessa à macroecono‐ mia o nível geral de preços. Sua desestabilização denomina‐se in‐ flação e se caracteriza pelo aumento continuado e geral de todos os preços. Esse desajuste influencia negativamente a distribuição de renda, o balanço de pagamentos e as expectativas dos agentes econômicos (indivíduos e empresas). A tentativa, especialmente em países não desenvolvidos, de alcançar elevados níveis de pro‐ dução e emprego costuma produzir níveis aceitáveis de inflação. DISTRIBUIÇÃO EQUITATIVA DA RENDA – A utilização dos fatores de produção determina sua remuneração (renda). Em uma economia na qual há desequilíbrio de forças e há fatores de pro‐ dução desempregados(trabalho, capital, recursos naturais), a re‐ muneração de cada um deles não proporciona uma distribuição socialmente justa da renda. No Brasil, durante o período denomi‐ nado milagre econômico (1967 a 1973), praticava‐se uma política macroeconômica de priorizar o crescimento para, depois, promo‐ ver a distribuição. O período se caracterizou por uma alta taxa de concentração de renda, com reflexos ainda não completamente removidos da economia brasileira. CRESCIMENTO ECONÔMICO – Havendo desemprego (ociosi‐ dade de fatores de produção), a economia poderá crescer se a ociosidade for reduzida. Se, ao contrário, os fatores estiverem mui‐ to próximos do pleno emprego, somente o aumento dos recursos disponíveis (maior número de fatores, como: trabalhadores, capi‐ tal ou recursos naturais) ou um avanço tecnológico que promova maior produtividade aos fatores provocará crescimento econômi‐ co. Importante é o crescimento líquido do produto, ou seja: o pro‐ duto deverá crescer mais do que cresce a população que utiliza es‐ sa produção. O indicador para medir tal característica é a renda nacional per capita ou o produto nacional per capita. Instrumentos de política macroeconômica Para obter os resultados apontados nas metas e nos objetivos de pro‐ duzir mais, sem desemprego e com estabilidade de preços, os princi‐ pais instrumentos de políticas macroeconômicas são definidos a se‐ guir. 45 POLÍTICA FISCAL – Diz respeito ao orçamento dos diversos níveis de governo (federal, estaduais e municipais), ou seja, são os gastos e as receitas dos governos. É um poderoso instrumento de política macroeconômica, se considerarmos que no Brasil a carga fiscal (soma de todos os orçamentos governamentais) representa mais do que um terço de tudo o que é produzido no País. POLÍTICA MONETÁRIA – Refere‐se ao controle do governo sobre a oferta monetária, ou seja, sobre a quantidade de moeda e de títulos públicos em circulação no mercado. POLÍTICA CAMBIAL – Diz respeito ao controle e à utilização de instrumentos para estabilização da taxa de câmbio, enquanto as políticas de relações econômicas externas referem‐se ao comércio internacional, ao incentivo às exportações e ao controle das impor‐ tações do País. POLÍTICAS DE RENDAS – Referem‐se à intervenção do governo na formação da renda dos agentes econômicos. Intervenção que favorecerá ou não determinados proprietários de fatores de pro‐ dução em detrimento de outros (mão de obra, capital, recursos na‐ turais e capacidade empresarial).6 Estrutura de análise macroeconômica Tradicionalmente, a estrutura básica do modelo macroeconômico compõe‐se de cinco mercados. MERCADO DE BENS E SERVIÇOS – O produto nacional é o principal medidor do mercado de bens e serviços. Indica a quanti‐ dade destes que uma economia produziu em determinado perío‐ do de tempo, geralmente um ano. Reflete o nível de atividades dessa economia, representada pelos quatro agentes macroeconô‐ micos: consumidores, empresas, governo e setor externo. MERCADO DE TRABALHO – O mercado de trabalho reflete o nível de utilização geral da força de trabalho, independente do se‐ tor e da qualificação de seus componentes. São relevantes, nesse mercado, a taxa salarial e o nível de desemprego. MERCADO MONETÁRIO – Para dar consequência às transações de um mercado, há necessidade de moeda para a circulação dos bens e serviços. O Banco Central (Bacen) ocupa‐se de equilibrar a oferta e a demanda desse mercado, de modo a não prejudicar as transações nem a desvalorizar a moeda. 46 MERCADO DE TÍTULOS – Existem agentes macroeconômicos superavitários e agentes deficitários. Os agentes superavitários (gastam menos do que sua renda) emprestam moeda para os agentes deficitários e, assim, constitui‐se o mercado de títulos. MERCADO DE DIVISAS – A exemplo do mercado de títulos, quando se trata de transações entre residentes de um país (indiví‐ duos e empresas) e residentes de outro, há necessidade de moedas distintas, constituindo‐se o mercado de divisas.7 Contabilidade nacional é o registro contábil da atividade produtiva de um país, em um dado período de tempo (geralmente um ano). No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza essa tarefa, segundo metodologia e padronização internacional.8 Conceitos básicos da macroeconomia A seguir apresentamos alguns conceitos da macroeconomia9. VALOR ADICIONADO – É a soma dos preços dos bens e dos serviços finais produzidos numa economia em certo período. Re‐ presenta a diferença entre o valor das vendas e o valor de insumos e matérias‐primas utilizados no processo de produção. Isso signi‐ fica que não são computadas no valor adicionado os bens inter‐ mediários (insumos e matérias‐primas) utilizados pelas empresas. PRODUTO NACIONAL – É a medida dos valores adicionados pelas empresas aos bens elaborados e aos serviços prestados, em toda a economia nacional. RENDA NACIONAL – É a soma das remunerações pagas aos fatores de produção utilizados pelas empresas. Representa a soma dos pagamentos de salário, juros, aluguel/arrendamento e lucros no País, em dado período de tempo. As principais medidas da atividade econômica10 Entre as variáveis macroeconômicas mais significativas estão o valor bruto da produção, o produto interno bruto, a renda nacional etc., cujos conceitos estão enunciados a seguir. O VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO (VBP) é a soma dos preços de bens e serviços produzidos numa economia em determinado período – preços versus quantidades produzidas. Posto que no VBP não há dis‐ tinção entre bens intermediários e bens finais, essa medida superesti‐ ma o valor da produção social, ao contabilizar o valor dos bens inter‐ 47 mediários tantas vezes quanto estes entrarem na elaboração do produ‐ to final. Os BENS INTERMEDIÁRIOS são aqueles destinados à utilização in‐ termediária, que entram na composição de outros bens, enquanto os bens de utilização final se destinam ao consumo final e desaparecem com a sua utilização. Exemplos: o pão é bem de utilização final; a fari‐ nha que foi utilizada na produção do pão é um bem intermediário. O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) é a soma dos preços dos bens e serviços finais produzidos numa economia em certo período – preços versus quantidades produzidas. Equação fundamental do produto: Produto interno bruto = consumo + investimento + exportações – importações A RENDA NACIONAL (RN) é a soma das remunerações de fatores empregados nas atividades produtivas, inclusive os fluxos de paga‐ mentos aos fatores de propriedade de nãoresidentes no país, tais como salários, lucros, juros, dividendos, aluguéis e royalties pela utilização de uma marca ou tecnologia. A DEMANDA INTERNA BRUTA (DIB) é a soma dos gastos em con‐ sumo interno dos setores público (governo) e privado (empresas e famílias) e das despesas de investimento interno bruto fixo das empre‐ sas e da variação dos estoques. A DEMANDA FINAL TOTAL inclui os gastos em consumo e em in‐ vestimento, além das exportações (vendas ao exterior) realizadas pelo país no período. A OFERTA FINAL TOTAL (OFT) é a soma do produto interno bruto da economia e das importações (compras ao exterior) no período. A oferta final total representa a disponibilidade bruta total da economia em determinado período. As precauções na elaboração do cálculo do produto Seguem, abaixo, as principais precauções que devem ser observadas na elaboração do cálculo do produto. Evitar a “dupla contagem” das mercadorias. Medir o valor agre‐ gado pelas
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