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LIVRO FUND DA ECONOMIA

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Prévia do material em texto

FUNDAMENTOS DA ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
Conselho Editorial EAD 
Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) 
Mara Lúcia Machado 
José Édil de Lima Alves 
Astomiro Romais 
Andrea Eick 
 
 
Obra  organizada  pela  Universidade  Luterana  do 
Brasil.  Informamos que  é de  inteira  responsabilidade 
dos autores a emissão de conceitos. 
A violação dos direitos  autorais  é  crime  estabelecido 
na Lei nº. 610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código 
Penal. 
 
 
ISBN: 978‐85‐99583‐60‐9 
Edição Revisada 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Seja bem‐vindo. Estamos  iniciando nossos  trabalhos  e, nos próximos 
meses, ficaremos constantemente em contato. A distância será apenas 
aparente,  pois  estaremos,  na  verdade,  ligados  através  da  tecnologia 
que a modernidade nos proporciona. Nós, enquanto seres pensantes e 
bem  informados, não podemos abrir mão das  inovações que o século 
XXI nos apresenta. 
Imagine‐se  fazendo  uma  viagem  turística  pela  cidade  em  que  você 
mora. Você já conhece tudo, já viu tudo que qualquer guia local possa 
lhe mostrar. Que novidades poderão existir em locais que percorremos 
diariamente? Em prédios que vimos serem construidos? Em ruas das 
quais conhecemos cada buraco? 
Experimente fazer tal viagem sem essa ideia preconcebida e você verá 
coisas que nunca viu,  apaixonar‐se‐á por paisagens que nunca  antes 
havia observado. Em sua própria cidade. Verá ângulos novos de pai‐
sagens. Paisagens há muito conhecidas. 
Convidamos você a  fazer uma viagem de observação pelo mundo da 
economia. Essa viagem não será muito diferente do que viajar por sua 
própria cidade. Afinal, todos nós lemos, ouvimos, vivemos o dia a dia 
e nos sentimos envolvidos por economia. 
Nossa incursão por essa ciência pretende ser a mais aprazível possível. 
Esta disciplina não pretende ser um curso de alta especialização, e sim 
um aprendizado novo sobre aquilo que  já vivemos, mas às vezes não 
temos tempo de observar. Na verdade, talvez nunca tenhamos parado 
para pensar que, ao viver e conviver com nossos amigos, nossa família, 
nossos negócios, sejamos protagonistas de algo que também é ciência. 
A  disciplina  à  qual  você  está  sendo  apresentado  tem  o  objetivo  de 
mostrar  informações e  instrumentos para que você possa, mais  facil‐
 
 
6 
mente, identificar os fatos econômicos e compreender o funcionamento 
das  economias de mercado, do ponto de vista da  ciência  econômica. 
Ao  final, esperamos que você, além de  ter gosto pelos  temas da eco‐
nomia, possa melhor compreender os principais aspectos da realidade 
econômica e conhecer os mercados de bens e de serviços, de trabalho, 
monetário,  cambial,  internacional e que  saiba  relacionar essa  teoria à 
sua área de interesse e de atuação profissional. 
 
 
 
SOBRE OS AUTORES 
Erico Michels 
É mestre em Gestão de Negócios pela Universidad de Ciencias Empre‐
sariales y Sociales  (Uces‐Argentina) e bacharel em Ciências Econômi‐
cas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pro‐
fessor nos cursos de Ciências Econômicas e superiores de Tecnologia 
em Gestão da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). 
Ney Oliveira 
Está  cursando  doutorado  pela  Universitat  de  les  Iles  Balears  (UIB‐
Espanha), é especialista em Administração de Marketing pela Univer‐
sidade  do Vale  do Rio  dos  Sinos  (Unisinos)  e  bacharel  em Ciências 
Econômicas também pela Unisinos. É professor nos cursos de Ciências 
Econômicas e superiores de Tecnologia em Gestão da Ulbra. 
Sandro Wollenhaupt 
É  mestre  em  Administração  pela  Universidade  Fernando  Pessoa  de 
Portugal/Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e bacharel em Ciên‐
cias  Econômicas  pela  Unisinos.  É  professor  dos  cursos  de  Ciências 
Econômicas e superiores de Tecnologia em Gestão da Ulbra. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA ....................................................... 13 
1.1 Conceito, objeto e método da Ciência Econômica ..................................... 13 
1.2 Síntese do pensamento econômico .......................................................... 17 
Ponto final .................................................................................................... 24 
Atividades .................................................................................................... 25 
2 A DEMANDA, A OFERTA, O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS ......................... 26 
2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado ................................................. 26 
2.2 Estruturas de mercado ............................................................................ 29 
Ponto final .................................................................................................... 33 
Atividades .................................................................................................... 33 
3 TEORIA DA PRODUÇÃO E DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO ..................................... 34 
3.1 Teoria da produção .................................................................................. 34 
3.2 Teoria dos custos de produção ................................................................. 36 
3.3 Função de produção ................................................................................ 39 
Ponto final .................................................................................................... 40 
Atividades .................................................................................................... 40 
4 Macroeconomia ............................................................................................ 42 
4.1 Fundamentos de macroeconomia ............................................................ 42 
Ponto final .................................................................................................... 48 
Atividades .................................................................................................... 49 
 
 
10 
5 INTRODUÇÃO À ECONOMIA MONETÁRIA ......................................................... 50 
5.1 Moeda – conceitos, funções e sua circulação na economia ....................... 50 
Ponto final .................................................................................................... 60 
Atividades .................................................................................................... 60 
6 INFLAÇÃO E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA ................................................... 61 
6.1 Inflação .................................................................................................. 61 
6.2 Medida da inflação – números índice ....................................................... 68 
Ponto final .................................................................................................... 70 
Atividades .................................................................................................... 71 
7 O MERCADO DE CÂMBIO ................................................................................ 72 
7.1 O comércio internacional e o mercado de divisas ...................................... 72 
7.2 O sistema de taxas de câmbio .................................................................. 73 
Ponto final .................................................................................................... 79 
Atividades .................................................................................................... 80 
8 ECONOMIA INTERNACIONAL ........................................................................... 81 
8.1 Teorias de comércio internacional............................................................ 81 
8.2 Relações econômicas internacionais ....................................................... 84 
Ponto final ....................................................................................................89 
Atividades .................................................................................................... 89 
9 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO .......................................... 90 
9.1 Conceitos fundamentais .......................................................................... 90 
Ponto final .................................................................................................... 99 
Atividades .................................................................................................... 99 
10 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E MERCADO DE CAPITAIS ......................... 100 
10.1 Sistema Financeiro Nacional (SFN) ...................................................... 100 
10.2 O mercado de capitais e a Bolsa de Valores ......................................... 105 
Ponto final .................................................................................................. 107 
 
11 
Atividades .................................................................................................. 107 
REFERÊNCIAS POR CAPÍTULO ......................................................................... 108 
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 109 
GABARITO ...................................................................................................... 111 
 
 
 
   
1 FUNDAMENTOS DA CIÊNCIA ECONÔMICA 
Erico Michels 
Ney Oliveira 
Sandro Wollenhaupt 
Este capítulo tem como objetivo apresentar a compreensão das caracte‐
rísticas básicas da Ciência Econômica, destacando o seu objeto de es‐
tudo e mostrando uma breve retrospectiva de seus principais pensado‐
res.  
Sugerimos  que  o  aluno  utilize  este  material  estudando  os  temas  na 
ordem proposta, uma vez que eles são apresentados do mais simples 
ao mais complexo, visando à construção gradual de seu conhecimento. 
1.1 Conceito, objeto e método da Ciência Econômica 
Etimologicamente, a palavra economia vem do grego oikos  (casa) e no‐
mos (norma,  lei). Seria a ADMINISTRAÇÃO DA CASA, que pode ser 
generalizada como ADMINISTRAÇÃO DA COISA PÚBLICA. Econo‐
mia pode ser definida como a ciência social que estuda a maneira pela 
qual os homens decidem empregar recursos escassos, a fim de produ‐
zir diferentes bens e serviços e atender às necessidades de consumo. 
Assim,  é uma  ciência  social,  já  que  objetiva  atender  às  necessidades 
humanas.  Mas  depende  de  restrições  físicas,  devido  à  escassez  de 
recursos ou de fatores de produção (mão‐de‐obra, capital, terra, maté‐
ria‐prima). Podemos dizer que o objeto de estudo da ciência econômica 
é a questão da escassez, ou seja, como ‘‘economizar’’ recursos. 
A escassez surge devido às necessidades humanas ilimitadas e à restri‐
ção  física  de  recursos. Afinal,  o  crescimento  populacional  renova  as 
necessidades biológicas; o  contínuo desejo de elevação do padrão de 
vida e a evolução tecnológica fazem com que surjam “novas” necessi‐
dades (computador, freezer, DVD, automóvel). Nenhum país, pobre ou 
 
 
14 
rico, dispõe de todos os recursos produtivos para satisfazer às necessi‐
dades da população. O  Japão, por exemplo, precisa  importar a maior 
parte das matérias‐primas que utiliza. 
Se não houvesse escassez de recursos, ou seja, se todos os bens fossem 
abundantes  (bens  livres),  não  haveria  a  necessidade  de  estudarmos 
questões  como  inflação, crescimento econômico, deficit no balanço de 
pagamentos,  desemprego,  pois  esses  problemas  simplesmente  não 
existiriam (e, obviamente, nem a necessidade de estudar economia). 
Todas as  sociedades  (sejam economias de mercado,  sejam  centraliza‐
das) são obrigadas a fazer opções, escolhas entre alternativas, uma vez 
que os recursos não são abundantes. Elas são obrigadas a  fazer esco‐
lhas  sobre O QUE E QUANTO, COMO E PARA QUEM  (que  são os 
PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS de  toda  e qualquer 
economia) produzir: 
 O QUE E QUANTO PRODUZIR  – A  sociedade deve decidir  se 
produz mais bens de consumo ou bens de capital ou, como num 
exemplo clássico: quer produzir mais canhões ou mais manteiga? 
Em que quantidade? Os recursos devem ser dirigidos para a pro‐
dução de mais bens de consumo ou de bens de capital? No fundo, 
trata‐se de uma decisão que extrapola a esfera puramente econô‐
mica. Em economias de mercado, o que e quanto produzir é sina‐
lizado pelos consumidores  (o que é chamado de soberania do con‐
sumidor). Em economias planificadas ou centralizadas – tipo cuba‐
na e, até recentemente, soviética – a decisão é tomada por um ór‐
gão central de planejamento. 
 COMO PRODUZIR – Trata‐se de uma questão de eficiência pro‐
dutiva:  serão utilizados métodos de produção de  capital  intensi‐
vos? Ou de mão de obra  intensivos? Ou de terra  intensivos? Isso 
depende da disponibilidade de recursos de cada país. 
 PARA QUEM  PRODUZIR  – A  sociedade  deve  decidir  quais  os 
setores que serão beneficiados na distribuição do produto:  traba‐
lhadores, capitalistas ou proprietários da terra? Agricultura ou in‐
dústria? Mercado interno ou mercado externo? Região Sul ou Nor‐
te? Ou seja, trata‐se de decidir como será distribuída a renda gera‐
da pela atividade econômica. 
Uma das áreas da economia que busca analisar as melhores formas de 
responder a essas perguntas é a  teoria macroeconômica. A macroeco‐
nomia  trata  da  evolução  da  economia  como  um  todo,  analisando  a 
determinação e o comportamento dos grandes agregados, como renda 
 
15 
e  produto  nacionais,  investimento,  poupança  e  consumo  agregados, 
nível  geral  de  preços,  emprego  e  desemprego,  estoque  de  moeda  e 
taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio. 
Ao  estudar  e procurar  relacionar os grandes  agregados, a macroeco‐
nomia negligencia o comportamento das unidades econômicas indivi‐
duais,  tais  como  famílias  e  firmas,  fixação  de  preços  nos  mercados 
específicos, efeitos de oligopólios em mercados  individuais etc. Essas 
são preocupações da microeconomia. A macroeconomia  trata os mer‐
cados de  forma global. Por  exemplo: no mercado de bens  e  serviços 
agrega  produtos  agrícolas,  industriais  e  serviços  de  transporte;  no 
mercado de trabalho, não se preocupa com diferenças na qualificação, 
sexo, idade, origem da força de trabalho. 
O  custo  dessa  abstração  é  que  os  pormenores  omitidos  são,  muitas 
vezes, importantes. Quando tomamos apenas o nível da taxa de juros, 
por exemplo, não  são destacadas devidamente as diferenças entre os 
vários tipos de aplicações financeiras. 
A abstração, porém,  tem a vantagem de permitir estabelecer  relações 
entre  grandes  agregados  e  proporcionar melhor  compreensão  de  al‐
gumas das interações mais relevantes da economia, estabelecidas entre 
os mercados de bens e serviços, de  trabalho e de ativos  financeiros e 
não financeiros. 
Entretanto,  apesar  do  aparente  contraste,  não  há  um  conflito  básico 
entre a micro e a macroeconomia, dado que o conjunto da Economia é 
a soma de seus mercados individuais. A diferença é, primordialmente, 
uma  questão  de  ênfase,  de  enfoque.  Ao  estudar  a  determinação  de 
preços numa única  indústria, na microeconomia, consideram‐se cons‐
tantes os preços das outras  indústrias  (a hipótese de  coeteris paribus). 
Na macroeconomia,  estuda‐se  o  nível  geral  de  preços,  ignorando  as 
mudanças de preços relativos de bens das diferentes indústrias. 
A  teoria  macroeconômica  propriamente  dita  preocupa‐se  mais  com 
questões  conjunturais,  de  curto  prazo.  Especificamente,  preocupa‐se 
com  a  questão  do  desemprego  (entendido  como  a  diferença  entre  a 
produção efetivamente realizada e a produção potencial da economia, 
quando  todos  os  recursos  estejam  totalmenteempregados)  e  com  a 
estabilizacão do nível geral de preços. 
A parte da teoria econômica que estuda o comportamento dos grandes 
agregados ao  longo do  tempo é denominada  teoria do  crescimento  eco‐
nômico1.  Seu  enfoque  é um pouco diferenciado, preocupando‐se  com 
 
 
16 
questões como progresso  tecnológico e política  industrial, que envol‐
vem políticas de longo prazo. 
Método na Ciência Econômica 
Quanto ao método em economia, três aspectos devem ser levados em 
consideração: 
 como  a  análise  dos  fenômenos  decorrentes  do  comportamento 
humano é complexa, a economia utiliza hipóteses simplificadoras 
para explicar os fenômenos que estuda; 
 a Ciência  Econômica  preferencialmente  relaciona  duas  variáveis 
para explicar um fato econômico (por exemplo: a relação existente 
entre o preço e o consumo de um bem); 
 frequentemente, você se deparará com a chamada análise marginal. 
Diferente do que o nome possa sugerir, essa forma de analisar os 
fatos econômicos busca relacionar as variáveis segundo o seu  in‐
cremento (crescimento, aumento) relacionado a um aumento uni‐
tário de outra variável. Por exemplo: quanto aumentará o custo to‐
tal de uma empresa se aumentar a produção em uma unidade de 
produto? Esse será o custo marginal da produção daquela unida‐
de a mais. Entretanto, ainda é cedo para aprofundar esse tema; re‐
tornaremos a ele mais adiante. 
Ainda  sobre  a metodologia própria da  ciência  econômica  e  sobre  os 
seus  métodos  de  investigação,  é  necessário  distinguir  dois  grandes 
compartimentos da economia: a economia positiva e a economia nor‐
mativa.  
A economia positiva, de acordo com Vasconcellos2, ocupa‐se de anali‐
sar os atos e os fatos sociais tal qual eles ocorrem, sem utilizar juízos de 
valor. Na prática, a economia positiva estuda os fatos sociais, observa‐
os  sistematicamente  (segundo metodologia própria das  ciências  soci‐
ais) e dessa análise e descrição, cientificamente elaborada, são  formu‐
lados os princípios gerais, as leis da economia, as teorias e os modelos 
econômicos. Deduzem‐se ou  são  induzidas as  teorias  econômicas, os 
princípios  econômicos,  as  leis da  economia,  os modelos  econômicos. 
Com certeza, você  já ouviu  falar muitas vezes de duas  leis da econo‐
mia: a lei da oferta e a lei da procura. Essas são duas entre outras tan‐
tas  leis e princípios que compõem a economia positiva. Todas as  leis, 
os princípios, os modelos e as  teorias precisam ser analisados perma‐
nentemente  e  confrontados  com  a  realidade, para  verificação de  sua 
validade e atualização. 
 
17 
Por outro  lado, a economia normativa se ocupa de utilizar princípios, 
leis e teorias para produzir modificações e propor um direcionamento 
ao curso natural da economia: são as políticas econômicas. A economia 
normativa está  fortemente vinculada à política, à  ideologia e ao siste‐
ma de valores. 
Os compartimentos da economia estão resumidos no quadro a seguir. 
Quadro 1 – Compartimentos da economia 
ECONOMIA 
POSITIVA 
Análise dos fatos do dia a dia com a metodologia 
das ciências sociais; criação da teoria econômica; 
análise econômica. 
ECONOMIA 
NORMATIVA 
Proposição  de  políticas  econômicas;  avaliação 
dos resultados do ponto de vista político vigente. 
Fonte: VASCONCELLOS, 2006. 
Exemplificando: as políticas econômicas sempre buscarão alcançar um 
objetivo social específico que é debelar a  inflação, distribuir melhor a 
renda, desenvolver uma região ou todo o país e promover o crescimen‐
to ou o desenvolvimento de um setor da economia. 
1.2 Síntese do pensamento econômico 
A  história  do  pensamento  econômico  pode  ser  analisada  desde  as 
correntes  filosóficas  da  Idade Antiga,  como  ocorreu  na Grécia  e  em 
Roma, até as ideias contemporâneas modernas. 
Nessa  evolução,  surgiram  ideias  e  sistemas  conflitantes,  que  iam do 
liberalismo total até o  intervencionismo completo. Entretanto, notava‐
se  um  objetivo  essencial:  a  construção  de  uma  ciência  que  pudesse 
ajudar os homens na solução de um problema econômico  fundamen‐
tal, a conciliação entre escassez de recursos e necessidades crescentes. 
Fisiocracia 
Tratava‐se de uma doutrina da ordem natural – o universo era regido 
por  leis  naturais,  imutáveis  e  universais  desejadas  pela  providência 
divina para a felicidade dos homens. Os fisiocratas, ao acreditarem em 
uma ordem natural que  regula os  fenômenos  econômicos, aceitavam 
que a vida econômica  se organiza e  reorganiza de modo automático, 
com suas próprias forças, e, portanto, negavam a intervenção do Esta‐
do na economia. 
Com os fisiocratas, é iniciado o desenvolvimento das explicações para 
os  fenômenos  econômicos.  Para  eles,  somente  a  terra  e  tudo  o  que 
viesse  da  natureza  era  considerado  fator  econômico  produtivo.  As 
 
 
18 
atividades  agrícolas  e  extrativas  eram  consideradas  economicamente 
produtivas – o produto líquido decorria da terra e sobre ele produzia‐
se um excedente da riqueza criada sobre a riqueza consumida. É pos‐
sível dizer que a fisiocracia foi uma doutrina organicista e naturalista, 
que recebeu influência do racionalismo do século XVIII. Muitos consi‐
deram as teorias de Quesnay3 meras extensões da doutrina escolástica, 
embora não deixem de reconhecer a natureza científica e analítica de 
sua  obra. Em Quesnay,  formulam‐se  os princípios da  filosofia  social 
utilitarista (hedonismo), que se destaca com o quadro econômico, uma 
representação  simplificada do  fluxo de despesas  e dos bens  entre  as 
diferentes  classes  sociais. Nessa época,  surgiram as máquinas e,  com 
elas, o sistema industrial capitalista. 
Escola clássica 
De cunho liberal, desenvolveu‐se entre o fim do século XVIII e o início 
do século IX. O marco inicial está relacionado a Adam Smith e a David 
Ricardo.  Para  esses  autores,  as  leis  naturais  da  vida  econômica  têm 
como princípio  regulador a  livre  concorrência exercida pelos agentes 
econômicos. Concorrência que leva à divisão do trabalho, alavancando 
a produção, enquanto a natureza seria o fator originário. O corpo ana‐
lítico da escola clássica tem quatro princípios dominantes: liberdade de 
empresa,  existência da propriedade privada,  liberdade de  conjunto e 
liberdade de  troca. Nesse princípio repousa e se  fundamenta a  lei da 
oferta de mercado. 
Adam Smith (1723-1790) 
É o apologista da nascente classe industrial e oponente aos privilégios 
e proteção  concedidos pelo Estado no mercantilismo. Não acreditava 
na  “ordem  natural”  dos  negócios. Confiava  no  egoísmo  natural  dos 
homens e na harmonia de seus  interesses. Afirmava que todo esforço 
individual na procura do melhor leva naturalmente à preferência pelo 
emprego mais vantajoso para a  sociedade. Adam Smith  enfatizava o 
mercado como regulador da divisão do trabalho, fazia distinção entre 
valor de uso e valor de troca e admitia que só neste último há interesse 
econômico. O valor, para Smith, era distinto do preço; o trabalho era a 
medida  do  valor.  Ele  analisou  a  distribuição  da  renda  entre  salário, 
lucro e renda da terra. Smith acreditava que a concorrência levaria ao 
desenvolvimento econômico e que os benefícios dele decorrentes seri‐
am partilhados por todos. 
 
19 
Thomas Robert Malthus (1766-1834) 
Com destaque na  terminologia  teórica e por  ter colocado a Economia 
em sólidas bases empíricas, Malthus ficou famoso com a lei da popula‐
ção. Mostrou, através dessa lei, que a população fora de controle cresce 
a taxas geométricas, enquanto os meios de subsistência crescem a taxas 
aritméticas.  Seu  pessimismo  é  criticado  por  não  ter  vislumbrado  o 
progresso técnico e as técnicas de controle de natalidade. 
David Ricardo (1772-1823) 
Mais formal que Smith e Malthus, David Ricardo construiuum sistema 
abstrato cujas conclusões decorrem dos axiomas. Esse autor desenvol‐
veu um importante estudo sobre a renda diferencial da terra e sobre o 
futuro do  sistema  capitalista. O ouro passou a  ter  significado  impor‐
tante na política econômica. No  início, a Espanha detinha a  liderança 
da  posse  desse  material.  Os  demais  países,  não  tão  bem  sucedidos 
nesse  aspecto,  procuravam  uma  compensação  através  de  políticas 
econômicas  que  tornassem  seus  balanços  de  pagamento  favoráveis, 
para que, por meio dos excedentes ou superavits, comprassem o ouro 
espanhol. Foi assim que floresceu uma indústria altamente regulamen‐
tada  de  bens  exportáveis  que  podia  garantir,  também,  a  demanda 
interna. 
Esse pensamento econômico existiu entre 1450 e 1750, constituindo‐se 
em um regime de nacionalismo econômico, vale repetir, com centrali‐
zação da questão da riqueza como fim principal do Estado. Ele emerge 
de um processo crescente de urbanização, do surgimento das cidades 
e, portanto, da ampliação  espacial do  comércio. Dentro desse pensa‐
mento, operam‐se grandes transformações sociais, econômicas e políti‐
cas: 
 INTELECTUAIS – renascimento artístico; 
 RELIGIOSAS  –  reforma  de  Calvino  e  dos  anglo‐saxões,  dando 
grande ênfase ao individualismo; o trabalho era enaltecido, o juro 
era aceito, e o lucro, encorajado; 
 POLÍTICAS – aparecimento do Estado moderno; 
 GEOGRÁFICAS – grandes descobertas – Cabral, Colombo, Maga‐
lhães e outros navegadores; 
 ECONÔMICAS – todos os conceitos referentes ao balanço comer‐
cial, às importações e às exportações de bens, assim como as tran‐
 
 
20 
sações com ouro e prata e  todos os conceitos econômicos  ligados 
às transações externas – seguro, frete, política de preços, desloca‐
mento da  importância econômica do Mediterrâneo, regulamenta‐
ção disciplinadora da  indústria e do comércio para propiciar aos 
países um saldo positivo no balanço de pagamento. 
Escola socialista – Karl Marx (1818-1883) 
O socialismo constituiu um movimento de reação contra os males do 
liberalismo, principalmente pela consideração do  trabalho como uma 
mercadoria e, portanto, sujeito às  leis do mercado. Os socialistas pre‐
tendiam substituir a ordem social baseada na liberdade individual, na 
propriedade privada e na  liberdade contratual por uma outra ordem, 
fundamentada  na  propriedade  coletivizada  dos  meios  de  produção. 
Essa escola pretendia corrigir as desigualdades econômicas, dentro de 
formulações  igualitárias,  em  função  das  necessidades  comuns.  Os 
movimentos e as teorias socialistas que se opuseram ao individualismo 
e  desenvolveram‐se  com  doutrinas  e  programas  de  reformas  bem 
diferentes. Podemos destacar as seguintes correntes: 
Socialismo de cátedra (1872) 
Surgiu na Alemanha,  era vertente do  socialismo  e pretendia, mesmo 
conservando a propriedade privada, regular a distribuição de riqueza 
e promover reformas de caráter econômico e social. O Estado entraria 
como cooperador, e não como absorvente, como se pretendia, no qua‐
dro geral do socialismo. 
Socialismo científico, histórico ou marxismo 
Deve‐se a Karl Marx a fundação do socialismo científico, que se tornou 
a mais importante corrente socialista. Marx se opôs aos processos ana‐
líticos clássicos, bem como às suas conclusões, e criticou Malthus com 
base nos diversos estágios e modos de produção. Sua análise considera 
o significado da dinâmica  interna do processo histórico e as suas  leis 
econômicas peculiares. Marx alterou a análise de valor, embora tenha 
se servido dos componentes teóricos da teoria do valor do trabalho de 
David Ricardo. Foi  com Marx que  apareceram os  conceitos de mais‐
valia, capital variável, capital constante, exército de reserva. O teórico 
analisou, também, o processo de decrescimento da taxa de lucro decor‐
rente da acumulação do capital, da distribuição da renda e das crises 
do sistema capitalista. Devido à sua importância, veremos quais foram 
as bases  filosóficas  e  a  interpretação dos  conceitos  econômicos dessa 
abordagem teórica socialista: 
 
21 
Bases filosóficas do socialismo científico 
Marx partiu das ideias de Hegel, servindo‐se do conceito de movimen‐
to dialético, que vai da  tese  à  antítese  (negação da  tese)  e que, num 
terceiro  termo,  chega,  pelo  choque  recíproco  dos  dois  primeiros,  à 
síntese (negação da negação). Recusa o idealismo de Hegel – “não é a 
consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consci‐
ência”. É pelo homem que se explica a história, este se apresenta como 
uma vítima  –  a  teoria da  alienação, na qual o homem projetou para 
fora de si a melhor parte dele mesmo e criou Deus. 
É necessário, dizia Marx, que o homem retome para si o que  lhe per‐
tence.  O  trabalhador  aliena  sua  própria  substância  no  produto  que 
realiza e do qual o empregador se apropria. Desse modo, o produto é o 
homem desintegrado. É preciso proceder à reintegração. Marx estuda 
o  homem  total  e  faz  dele  o  rei  do  universo,  como  negação  de  toda 
transcendência. 
Materialismo histórico e a luta de classes 
Marx distingue na história a  INFRAESTRUTURA, que é a  técnica, as 
condições materiais de produção, a realidade econômica; e a       SUPE‐
RESTRUTURA, que é a ideia, a cultura, o direito, a moral, a religião. A 
superestrutura comanda a  infraestrutura. As formas  jurídicas da soci‐
edade são sucessivas e necessariamente dirigidas pela evolução mate‐
rial das técnicas. A técnica de uma época concede a uma classe social 
uma posição vantajosa e a outra classe uma situação desvantajosa. Isso 
significa que há sempre uma classe dominante e uma classe dominada. 
O poder  é da  classe dominante, mas apenas provisoriamente, pois o 
processo dialético da negação a  levará, um dia, ao desterro. Essa é a 
ilustração da  ideologia do senhor e do escravo, dos capitalistas e dos 
proletários. 
O valor do trabalho e a mais-valia 
É a teoria das mercadorias, isto é, dos objetos produzidos pelo trabalho 
para a venda: 
 o valor das coisas é determinado pela quantidade de trabalho de 
qualidade média necessária para produzi‐las; 
 o  valor da  força de  trabalho  é determinado  pela  quantidade de 
trabalho necessário para produzir os alimentos e outros  itens ne‐
cessários à subsistência do operário, durante uma  jornada de seis 
horas de trabalho: 
 
 
22 
 o  empregador  pagará  ao  operário  um  salário  correspondente  a 
essas seis horas de trabalho para ter o direito de utilizá‐las no pro‐
cesso de produção, mas o  empregador  fará o operário  trabalhar 
mais de seis horas, durante oito horas, por exemplo; 
 venderá as mercadorias produzidas pelo  trabalhador a um preço 
equivalente a oito horas de trabalho; 
 o  operário  forneceu  duas  horas  de  trabalho  não‐pagas,  que  são 
apropriadas  pelo  empregador,  constituindo  um  produto  líquido 
que Karl Marx chamou de mais‐valia; 
 a  mais‐valia  constitui  a  exploração  capitalista.  O  proletariado 
recebe um salário menor que o valor das mercadorias produzidas; 
esse salário é insuficiente para comprá‐las; 
 considerando ser a classe trabalhadora o mais importante conjun‐
to  de  consumidores,  apareceriam,  inevitavelmente,  as  crises  de 
superprodução ou de subconsumo. 
A proletarização e a tese catastrófica da subversão 
Segundo as ideias de Marx, o avanço do capitalismo provocará a trans‐
formação fatal que o arruinará. Nesse processo, o número de proletá‐
rios crescerá continuamente, e as empresas se tornarão cada vez maio‐
res e menos numerosas. No momento em que todos se tornarem prole‐
tários, a luta de classes chegará ao fim. A revolução se realizará por si 
mesma. Marx aconselhava não só que se ficasse à espera do desenlace, 
como concitava a que os trabalhadores se antecipassem, o que éates‐
tado pelo seu brado:  
“Proletários de todos os países, uni-vos”. 
Karl  Marx  estruturou,  assim,  as  bases  do  pensamento  socialista  do 
século  XIX.  Foi  um  revolucionário,  e  sua  obra  O  Capital  promoveu 
grande  impacto e enormes modificações na ordem econômica de vá‐
rias nações. A legislação trabalhista e os sindicatos, entre outros, foram 
contribuições pós‐marxistas. 
Escola marginalista ou neoclássica 
A partir de 1870 até 1929, a análise econômica seria enriquecida com o 
desenvolvimento da  teoria do marginalismo  ou  neoclassicismo. Esse 
conjunto de  estudos procurou  integrar a  teoria do valor à  teoria dos 
custos de produção realizada pelos clássicos. Desenvolveu a explicação 
da alocação dos recursos com o auxílio da análise marginal e ofereceu 
 
23 
argumentos para o entendimento da  formação dos preços dos  fatores 
de  produção  e  dos  bens  econômicos  finais.  Conforme  a  análise  do 
marginalismo, o homem  econômico  é  racional,  isto  é,  suas ações  são 
intencionais e sistemáticas, é calculador e está empenhado em compa‐
rar seus gastos marginais com seus respectivos benefícios. 
Escola keynesiana ou revolução keynesiana 
John Maynard Keynes (1883‐1946) é o expoente máximo do pensamen‐
to econômico que revolucionou todo o conteúdo teórico dessa ciência. 
A  análise  de  Keynes  voltou‐se,  principalmente,  para  problemas  da 
estabilidade  a  curto  prazo.  Nesse  sentido,  procurou  determinar  as 
causas das flutuações econômicas dadas pelos níveis da renda nacional 
e do emprego nos países industrializados. Para levar avante esse obje‐
tivo, passou a considerar os grandes agregados no curto prazo, procu‐
rando contestar a condenação marxista do capitalismo. Dizia que um 
capitalismo  não  regulado,  sem  intervenção,  mostra‐se  incompatível 
com a manutenção do pleno emprego e da estabilidade econômica. 
Keynes  integrou os setores  reais  (de gasto) ao setor monetário, anali‐
sou a taxa de juros (determinada pela oferta de moeda e pela preferên‐
cia  pela  liquidez),  o  consumo  e  a  poupança,  ambos dependentes da 
renda,  os  efeitos multiplicadores do  investimento  no  nível da  renda 
nacional; atribuiu papel ativo à política fiscal – de gastos e de  impos‐
tos, defendendo a adoção de uma política deficitária do governo como 
um meio seguro para  tirar o sistema econômico da depressão a curto 
prazo; mas era contrário aos controles monetários, pois não considera‐
va a moeda um instrumento ativo. Na época de Keynes, dizia‐se que a 
economia  estava  em  recessão  porque  a  renda  era  insuficiente  para 
comprar a produção nacional. 
A análise de Keynes é criticada por ser parcial, e não geral, como ale‐
gava na sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, pois limita‐
va à análise o subemprego de curto prazo, faltando integrar sua análise 
à complexidade da microeconomia; além disso, não aplicou sua teoria 
à  explicação do  funcionamento das  economias dos países menos de‐
senvolvidos. 
Mas não se pode negar o papel importante dos estudos de Keynes no 
desenvolvimento da aferição e da medida das atividades econômicas 
em  seu  conjunto, de modo  agregado  –  como  as  contas  nacionais  ou 
contabilidade nacional –, e na explicação para os modelos agregados e 
suas verificações empíricas através da econometria, que faz a interação 
entre a teoria econômica, a matemática e a estatística. 
 
 
24 
Contribuições contemporâneas 
Após os  trabalhos de Keynes, houve um  intenso desenvolvimento de 
estudos e a análise de assuntos ligados à renda, ao emprego e à moeda. 
São exemplos o modelo do multiplicador atribuído a Paul A. Samuel‐
son; o modelo da taxa de juros de John R. Hicks; as hipóteses de renda 
permanente de Milton Friedman; a interação entre a micro e a macroe‐
conomia, a teoria neoclássica moderna das expectativas racionais e os 
aprofundamentos nas teorias dinâmicas de longo prazo realizados por 
Joan  Robinson,  Roy  F.  Harrod,  Evsey  Domar,  John  Hícks,  Nicholas 
Kaldor, Kenneth Arrow, Samuelson, Solow e muitos outros.  
Na evolução sucinta dessas contribuições, convém alertar que o inter‐
vencionismo na economia, proposto por Keynes, tinha sentido restrito 
e não pode ser entendido da mesma maneira que o dirigismo estatal e 
generalizado adotado nos países do bloco socialista soviético – o Esta‐
do é apenas complementador, e nunca substituto da iniciativa privada. 
Em síntese, as teorias desenvolvidas durante o século XVIII cuidaram 
da explicação da formação da riqueza; as do século XIX, da distribui‐
ção da riqueza e, modernamente,  teorias com um duplo objetivo estão 
se desenvolvendo de um lado para explicar as flutuações da atividade 
econômica, seu desenvolvimento dentro de um quadro de estabilidade 
e, de outro, investigar a repartição da riqueza ou o problema de equi‐
dade. 
Ponto final 
Este  capítulo  explicou o que é  economia  como  ciência,  seu objeto de 
estudo,  seus  problemas  econômicos  fundamentais,  seu  método  de 
abordagem da realidade e uma síntese do pensamento econômico. Se 
você  compreendeu  tais  conceitos,  está preparado para  continuar  seu 
estudo. 
Indicação cultural 
FUSFELD, D. R. A era do economista. São Paulo: Saraiva, 2001. 
É um retrato fiel da evolução da economia, apresentando desde o sur‐
gimento da economia de mercado até seus avanços mais recentes. No 
texto há uma  linha do  tempo em  cada página  situando os principais 
fatos e economistas de cada período. É um  livro completo que  traz a 
história do pensamento econômico de uma forma simples e direta. 
 
25 
Atividades 
1) Quando surge a escassez, segundo a ótica econômica? 
 
2) Por que a economia é uma ciência social? 
 
3) Quais  são  as diferenças  entre  a  economia positiva  e  a  economia 
normativa?
   
2 A DEMANDA, A OFERTA, O MERCADO E AS SUAS ESTRUTURAS 
Erico Michels 
Ney Oliveira 
Sandro Wollenhaupt 
Este capítulo tem como objetivo a compreensão do comportamento da 
demanda e da oferta e de como esses agentes realizam suas trocas no 
mercado, sob o enfoque da teoria econômica. 
2.1 Demanda, oferta e equilíbrio de mercado 
A seguir, descreveremos esses importantes temas da ciência econômi‐
ca. 
Demanda 
Demanda ou procura é a quantidade de bens ou serviços que os agen‐
tes econômicos estão dispostos e aptos a consumir num determinado 
momento, num determinado mercado por diferentes  fatores determi‐
nantes, considerando‐se que: 
 BENS: podem ser estocados; 
 AGENTES ECONÔMICOS: constituídos por  famílias, empresas e 
governo; 
 REQUISITOS BÁSICOS DA DEMANDA: 
 DISPOSTOS – ter vontade, querer; 
 APTOS  –  ter  aptidão  de  compra;  poder  comprar.  Se  esses  dois 
requisitos estiverem presentes  (disposição e aptidão),  temos uma 
demanda real ou efetiva. Se, no máximo, um desses requisitos es‐
tiver presente,  temos,  então, uma demanda potencial  (pode  não 
ter nenhum desses requisitos). 
 
27 
 NUM  DETERMINADO  MOMENTO  E  NUM  DETERMINADO 
MERCADO:  em  cada momento,  nossas  vontades mudam  nosso 
comportamento. 
 OS FATORES DETERMINANTES DA DEMANDA SÃO: preço do 
próprio bem/serviço; preço de outros bens/serviços; gosto; prefe‐
rência; renda e número de consumidores. 
As  quantidades  demandadas  serão  tanto  maiores  quanto  menores 
forem os preços ou vice‐versa. Quanto mais  caro, menos  se  compra. 
Essa é a LEI DA DEMANDA. 
Oferta 
Oferta  é  a  quantidade  de  bens  e  serviços  que  um  ou  mais  agentes 
econômicos  estão  habilitados  e  interessados  em  colocar  num  certo 
momento, num certo mercado, por diferentes fatores determinantes. 
Os  FATORES DETERMINANTES  da  oferta  são:  o  preço  do  próprio 
bem; a tecnologia; os impostos; a taxa de  juros; os fatores da natureza 
(tudo que pode ocorrer, em termos climáticos). 
Quanto maior for o preçode um bem, maior será a quantidade oferta‐
da  deste. Do mesmo modo,  quanto menor  for  o  preço  de  um  bem, 
menor será a quantidade ofertada. Em outras palavras, há uma relação 
direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada. Essa é a LEI 
DA OFERTA. 
O mercado e as suas estruturas 
Nossa leitura buscará, agora, o entendimento de algo que parece com‐
plicado, mas que é o aspecto da economia que mais interfere em nossa 
vida diária: o funcionamento do mercado. E o que é o mercado? Ros‐
setti1  afirma que  “em  sua  acepção primitiva,  a palavra mercado dizia 
respeito a um lugar determinado onde os agentes econômicos realiza‐
vam suas transações”. Para Passos e Nogami2, mercado “é um local ou 
contexto em que  compradores  (o  lado da demanda) e vendedores  (o 
lado  da  oferta)  de  bens,  serviços  ou  recursos  estabelecem  contato  e 
realizam  transações”.  É  nesse  mercado  que  funcionam  as  duas  leis 
mais conhecidas da ciência econômica: a lei da procura e a lei da oferta. 
É também no mercado que se formam os preços dos bens e dos servi‐
ços, que utilizamos para viver e satisfazer às nossas necessidades. 
 
 
28 
Formação de preços 
Preço é a expressão monetária do valor de bens e serviços que utiliza‐
mos para satisfazer às nossas necessidades. Existe, na teoria econômi‐
ca,  uma  distinção  entre  preço  de mercado  ou  simplesmente  preço  e 
preço natural ou apenas valor. O que determina o preço não é o que 
determina o valor. A explicação do valor de troca das mercadorias tem 
duas grandes correntes dentro da ciência econômica: a  teoria clássica 
do valor‐trabalho e a teoria neoclássica do valor‐utilidade. Essa dispu‐
ta  teórica  em  torno  da  determinação  do  valor  entrou  na  história  do 
pensamento econômico e se manteve por um longo período. 
Quem  apresentou  uma  solução  para  o  problema  foi  um  economista 
inglês deste século, Alfred Marshall3. De acordo com Marshall, o valor 
de troca é determinado, a curto prazo, subjetivamente pela utilidade e 
escassez  relativa  (pelo  lado da demanda)  e,  a  longo prazo,  objetiva‐
mente pelos custos de produção (pelo lado da oferta). Depois disso, os 
debates acerca da origem do valor foram deixados de lado e pouco tem 
sido discutido sobre o assunto. 
Os preços de mercado oscilam  conforme  as variações da oferta  e da 
procura (demanda é sinônimo de procura, e passaremos a utilizar indis‐
tintamente uma ou outra denominação). Nas economias de mercado, o 
papel dos preços é de orientar a alocação (direcionamento) dos recur‐
sos de produção, funcionando como um indicador ou índice de escas‐
sez. Os preços  são um mecanismo de orientação das  atividades  eco‐
nômicas; isto é, dos fluxos da produção e da renda. E, nesse sentido, os 
preços podem ser também definidos como um índice de conversão de 
um fluxo real (de bens e de serviços) em nominal (de valores monetá‐
rios). 
Importância do mercado no sistema econômico 
O mercado,  através do  sistema de preços,  aloca os  escassos  recursos 
para produzir uma certa quantidade de bens ou serviços, que corres‐
pondem a um nível de satisfação das necessidades das pessoas – nível 
ou padrão de vida, considerando‐se que: 
 SISTEMA DE PREÇOS: é o conjunto de preços dos bens, serviços e 
fatores de produção de um sistema de preços; 
 ALOCAÇÃO DE RECURSOS: é a  forma como os  fatores de pro‐
dução são organizados pelo mercado, para que produzam bens e 
serviços que atendam às necessidades das pessoas; 
 
29 
 PADRÃO DE VIDA: é o nível de satisfação alcançado pelas pesso‐
as que fazem parte de um sistema econômico, quando consomem 
bens e serviços por ele produzidos. 
Equilíbrio de mercado 
Quando  se  fala  em  equilíbrio,  a  ideia que nos vem  imediatamente  à 
cabeça  é  de  um  balanceamento  de  forças. Quando  se  transfere  essa 
noção de  equilíbrio  para  a  análise do mercado,  o  balanceamento de 
forças ocorre entre as forças básicas do mercado, a oferta e a procura. 
Dessa forma, pode‐se dizer que o mercado está em equilíbrio quando o 
preço pelo qual os vendedores pretendem vender uma quantidade do 
produto  é  exatamente  igual  ao preço pelo qual os  compradores pre‐
tendem  comprar essa mesma quantidade do produto. Colocando em 
um gráfico (Figura 1) a representação das curvas de oferta e de procu‐
ra, podemos visualizar o equilíbrio de mercado. Esse equilíbrio é defi‐
nido pelo ponto A, determinado pela interseção das duas curvas. 
Figura 1 – Gráfico do equilíbrio de mercado 
 
Fonte: adaptado de VASCONCELLOS; GARCIA, 2006. 
2.2 Estruturas de mercado 
As diferentes estruturas de mercado estão alicerçadas em três variáveis 
principais: 
 número de empresas produtoras que atuam no mercado; 
 diferenciação do produto ou serviço; 
 
 
30 
 existência de barreiras como forma de  limitar a entrada de novas 
empresas. 
As estruturas de mercado classificam‐se, basicamente, em: concorrên‐
cia perfeita, monopólio, oligopólio  e  concorrência monopolística. Ve‐
jamos a seguir as características de cada uma delas. 
Concorrência pura ou concorrência perfeita 
É um mercado  com vários vendedores e compradores, de  forma que 
cada agente econômico isolado não tem condições de afetar o preço de 
mercado. O produto é homogêneo em todas as empresas. Não há dife‐
renças de embalagem e qualidade. 
É um mercado em que não há barreiras à entrada e à saída,  tanto de 
compradores como de vendedores. 
Regido pelo princípio da racionalidade os agentes agem racionalmente 
(é o  chamado princípio da  racionalidade ou do homo  economicus). As 
organizações sempre maximizam seu  lucro, e os consumidores maxi‐
mizam sua satisfação.  
Possui transparência de mercado compradores e vendedores têm aces‐
so a  toda  informação  relevante,  sem  custos,  isto  é,  conhecem preços, 
qualidade e custos. 
Monopólio 
Uma única  empresa produz um bem ou um  serviço  sem  substitutos 
próximos e apresenta barreiras à entrada de empresas concorrentes. O 
produto ou o serviço não é idêntico e não há possibilidade de ser subs‐
tituído por outros. 
Oligopólio 
Um número reduzido de firmas operam no setor. Os bens ou os servi‐
ços são substitutos perfeitos entre si e o consumidor sabe perfeitamen‐
te  quem  produziu.  Essa  estrutura  apresenta  barreiras  à  entrada  e  à 
saída de novas firmas. 
Concorrência monopolística 
Várias empresas produzem dado bem ou serviço, sendo que cada uma 
produz  um  bem  ou  um  serviço  diferenciado,  mas  com  substitutos 
próximos. A diferenciação nos produtos pode se dar via: 
 
31 
 características físicas, como por exemplo a composição química; 
 promoção de vendas, propaganda, atendimento, brindes; 
 manutenção; 
 embalagem. 
 Cada empresa tem um relativo poder sobre os preços, visto que os 
produtos ou serviços são diferenciados. 
Quadro 2 – Resumo das estruturas de mercado 
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Fonte: adaptado de ROSSETTI, 2002. 
Formas de organização 
Há outras formas de organização das empresas no mercado, que serão 
descritas a seguir: 
 
 
32 
Monopsônio 
Situação de mercado em que há apenas um comprador de um produto, 
geralmente matéria‐prima. Modelo raro de mercado, em que as condi‐
ções  são determinadas pelo  comprador, mesmo que haja vários ven‐
dedores.  Normalmente  é  representado  por  estatais,  como  o  caso  da 
empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por 
ser a única, torna‐se demandante exclusiva da mão de obra local e das 
cidades  próximas,  consequentemente,  fixa  os  salários  em  patamares 
baixos. 
Oligopsônio 
Tipo  de  estrutura  de  mercado  em  que  poucas  empresas,  de  grande 
porte, são compradoras de determinados produtos, geralmente maté‐
ria‐prima  ou  produtos  primários.  Representado  pelas  indústrias  ali‐
mentícias e seus fornecedores. Ex.: em cada cidade existem dois ou três 
que  adquirem  a maior parte do  leite de  inúmeros produtores  rurais 
locais. 
Truste 
Uma das formas mais agressivas de controle oligopolístico de mercado 
é  aquela  denominada  truste  (termo  proveniente  da  palavra  inglesa 
trust, que significa “confiar, depositar confiança em”). O truste consiste 
num acordo entre diversas empresas que passam a ser administradas 
por uma nova empresa ou grupo  financeiro. Essa empresa ou grupo 
passa a ter controle absoluto sobre as empresas anteriores, que perdem 
sua  independência  e  parte  de  sua  autonomia  administrativa.  Dessa 
forma, o truste passa a ser o único produtor e vendedor de determina‐
do bem no mercado, eliminando progressivamente os demais concor‐
rentes, absorvendo‐os ou  incorporando‐os e, assim, controlando total‐
mente o preço do bem ou bens que produz. Embora o Estado imponha 
severas  leis para  impedir a  formação de  trustes, eles  continuam ope‐
rando e se expandindo através de várias manobras. 
“Joint venture” 
Basicamente, uma joint venture representa a associação de duas ou mais empresas 
a  fim de  criar  ou desenvolver uma  atividade  econômica. Embora  essas  empresas 
busquem,  com  essa  associação, um  ganho,  esse  ganho nem  sempre  se  apresenta 
como o mesmo para cada uma delas, pois, enquanto uma visa o lucro, outra pode 
estar em busca de novas tecnologias e outra visa apenas e tão somente assegurar 
sua presença em um determinado mercado,  inúmeras outras motivações podendo 
existir ainda para cada partícipe do empreendimento conjunto.4 
 
33 
“Holding” 
É uma  forma de  oligopólio na  qual  é  criada uma  empresa para  administrar um 
grupo  delas  que  se  uniu  com  o  intuito  de  promover  o  domínio  de  determinada 
oferta de produtos e/ou serviços. Na holding, essa empresa criada para administrar 
possui a maioria das ações das empresas componentes de determinado grupo. Essa 
forma de administração é muito praticada pelas grandes corporações.5 
Pudemos  observar  como  a  demanda,  a  oferta,  o  mercado  e  as  suas 
estruturas  realizam  suas  trocas no mercado,  sob o  enfoque da  teoria 
econômica,  lembrando que  os  tópicos  foram  abordados do mais  ele‐
mentar ao mais abstruso. 
Ponto final 
Neste  capítulo,  vimos  como  a  oferta  e  a  demanda  determimam  os 
preços, a importância do mercado para o sistema econômico e as carac‐
terísticas das estruturas concorrenciais nas quais as empresas compe‐
tem entre si. Se você compreendeu tais conceitos, está preparado para 
continuar seu estudo. 
Indicação cultural 
MANSFIELD, E.; YOHE, G. Microeconomia. São Paulo: Saraiva, 2006. 
A obra mostra a teoria microeconômica de um modo claro e instigante 
por meio de  inúmeros exemplos atuais. Apresenta ainda os conceitos 
mais  recentes,  ainda pouco  explorados  em  livros. Entre  eles  estão: o 
papel do risco e da  incerteza na economia atual, a  formulação de  lei‐
lões, a função do seguro, o poder do risco moral, os incentivos de mer‐
cado na formulação de políticas, entre vários outros assuntos. 
Atividades 
1) Quais são os requisitos básicos da demanda? 
 
2) Qual a importância do mercado para o sistema econômico? 
 
3) As diferentes estruturas de mercado estão condicionadas por três 
variáveis principais. Quais são elas? 
   
3 TEORIA DA PRODUÇÃO E DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO 
Erico Michels 
Ney Oliveira 
Sandro Wollenhaupt 
Este capítulo tem como finalidade analisar as principais variáveis que 
devem ser  levadas em consideração para a produção de bens e servi‐
ços. O que analisaremos é o  comportamento da empresa quando ela 
desenvolve  sua atividade produtiva,  sob o  enfoque de  sua produção 
(em  termos de unidades  físicas) e de seus respectivos custos  (em  ter‐
mos monetários). 
3.1 Teoria da produção 
Uma empresa é a unidade básica de produção em um sistema econô‐
mico. Ela contrata recursos produtivos, transforma‐os em bens e servi‐
ços e os  coloca ou à disposição de outras empresas, no  caso de bens 
intermediários, ou à disposição dos consumidores, no caso de bens de 
consumo.  
Podemos definir produção da seguinte  forma: é o processo pelo qual 
uma empresa transforma os fatores de produção adquiridos em produ‐
tos ou serviços para a venda no mercado. A empresa compra fatores de 
produção  (matérias‐primas e  insumos), combina‐os segundo um pro‐
cesso de produção escolhido e vende o produto  final no mercado. A 
produção pode ser classificada como1: 
 produção de bens materiais (alimentos, remédios, máquinas); 
 produção de serviços (transporte, diversão etc.). 
O processo de produção pode ser de mão de obra intensivo, de capital 
intensivo  ou  de  terra  intensivo,  dependendo  do  fator  de  produção 
utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. 
 
35 
A  escolha  do  processo de  produção  depende  de  sua  eficiência.  Esta 
pode ser2: 
 EFICIÊNCIA TÉCNICA: entre diversos processos produtivos para 
obter uma determinada quantidade de produto,  é mais  eficiente 
tecnicamente aquele que utilizar menores quantidades de  fatores 
de produção; 
 EFICIÊNCIA ECONÔMICA: entre diversos processos produtivos 
para  se  obter  uma  determinada  quantidade  de  produto,  é mais   
eficiente economicamente aquele que o realizar com menor custo. 
Se especificarmos as diversas quantidades de cada fator que a empresa 
utiliza para alcançar determinadas quantidades de produto, teremos a 
função de produção. Ao analisar uma função de produção, verificare‐
mos  que,  ao  aumentar  ou  diminuir  a  quantidade  produzida  de  um 
determinado produto  (variar  a produção),  a quantidade utilizada de 
alguns fatores não muda (máquinas, instalações, ferramentas, adminis‐
tração), enquanto a quantidade utilizada de outros fatores muda pro‐
porcionalmente à produção (matéria‐prima, mão de obra). Os primei‐
ros são os fatores de produção fixos (cujas quantidades não mudam), e 
os  segundos  são os  fatores de produção variáveis  (cujas quantidades 
mudam). 
À  medida  que  se  aumenta  a  quantidade  de  utilização  de  um  fator 
variável, aumenta a quantidade de produto total que se obtém. A par‐
tir  dessa  afirmação,  podemos  concluir  dois  conceitos  importantes:  a 
PRODUTIVIDADE  MÉDIA  e  a  PRODUTIVIDADE  MARGINAL  do 
fator variável. A produtividade média do fator variável é o quociente 
da  quantidade  total  produzida  pela  quantidade  utilizada  do  fator 
variável. A produtividade marginal do  fator variável é a variação do 
produto  total decorrente da variação de uma unidade no  fator variá‐
vel. Para que servem esses conceitos, na prática? Servem para saber se 
cada fator (insumo) que se utiliza na produçãoestá trazendo um resul‐
tado (produtividade média) satisfatório. Servem para saber se o último 
fator  utilizado  (produtividade  marginal)  também  está  produzindo 
resultado satisfatório, para o produto específico que analisamos. 
Quando se aumenta a quantidade de utilização de um  fator variável, 
eleva‐se  a  quantidade  de  produto  total  obtido, mas  não  de maneira 
uniforme  e  permanente.  Isso    deve‐se  à  LEI  DOS  RENDIMENTOS 
DECRESCENTES3.  Essa  lei  pode  ser  assim  explicada:  mantendo‐se 
inalterada  a  quantidade  de  fatores  fixos  e  incrementando  um  fator 
variável em iguais quantidades, a quantidade de produto total obtido 
aumentará, mas a partir de certo ponto os acréscimos no produto total 
 
 
36 
serão cada vez menores. Se  insistirmos no  incremento do  fator variá‐
vel, o produto – após alcançar um valor máximo – poderá até decres‐
cer. A Tabela 1 ilustra os conceitos apresentados anteriormente. 
Tabela 1 – Produção de trigo com apenas um fator de produção variável (mão de 
obra) 
Terra 
(fator 
fixo em 
hectares) 
1 
Mão de obra 
(fator variável 
em milhares de 
trabalhadores) 
2 
Produção 
total (em 
toneladas) 
3 
Produção 
média da mão 
de obra (em 
toneladas) 
(4) = (3) : (2) 
Produtividade 
marginal da mão de 
obra (em toneladas) 
(5) = 
 
10  1  6  6,0  6 
10  2  14  7,0  8 
10  3  24  8,0  10 
10  4  32  8,0  8 
10  5  38  7,6  6 
10  6  42  7,0  4 
10  7  44  6,2  2 
10  8  44  5,4  0 
10  9  42  4,6  – 2 
Fonte: Vasconcellos, 2007. 
3.2 Teoria dos custos de produção 
Uma empresa  sempre procurará obter o máximo de produção com a 
utilização de um mínimo de fatores (insumos). Perseguindo ambos os 
objetivos,  obterá  o melhor  resultado  possível  (lucro)  para  garantir  a 
remuneração aos acionistas e à própria sobrevivência da firma. 
Custos totais de produção 
Os custos totais de produção de uma empresa, no curto prazo, podem 
ser classificados em dois tipos: custos fixos totais (CFT) e custos variá‐
veis totais (CVT). Assim, CT = CFT + CVT. 
Os  custos  fixos  totais  são  aqueles  representados  pelos  insumos  que 
independem das quantidades produzidas. São gastos com os fatores de 
produção  fixo,  como:  aluguel,  máquinas,  administração  superior  da 
organização etc. 
Os  custos  variáveis  totais  são  aqueles  representados  pelos  insumos 
(fatores) variáveis,  cujo nível de utilização depende das quantidades 
produzidas. São os gastos com matérias‐primas, mão deobra variável, 
impostos sobre a produção e vendas, comissões sobre vendas etc. 
 
37 
Tabela 2 – Custos de produção (em valores monetários) 
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0 
18
0,
0
0  9,0
0 
3,
00
 
30
 
10
0 
10
0,
00
 
20
0,
00
 
6,
67
 
2,
00
 
40
 
10
0 
11
0,
00
 
21
0,
00
 
5.
25
 
1,
00
 
50
 
10
0 
13
0,
00
 
23
0,
00
 
3,
83
 
2,
00
 
60
 
10
0 
16
0,
00
 
26
0,
00
 
4,
33
 
3,
00
 
70
 
10
0 
20
0,
00
 
30
0,
00
 
4,
28
 
4,
00
 
80
 
10
0 
25
0,
00
 
35
0,
00
 
4,
37
 
5,
00
 
Fonte: Rossetti, 2002. 
Além do conceito de custo total, existe também o custo médio, que é o 
quociente do custo  total pela quantidade  total produzida e o CUSTO 
MARGINAL que é a variação do custo total decorrente da variação de 
 
 
38 
uma unidade na produção. Esses conceitos podem ser observados na 
Tabela 2. 
Como calculamos: 
1. os custos fixos e variáveis são enunciados do problema (são os resul‐
tados da observação do processo produtivo); 
2. o custo total é a soma do custo fixo e do custo variável; 
3. o custo médio é a divisão do custo total pela respectiva quantidade 
produzida; 
4. o custo marginal é obtido dividindo a diferença de custo  total pela 
diferença  da  quantidade  produzida,  a  cada  intervalo  de  produção. 
(Exemplo: ao produzir 40 unidades de produto, o custo total foi de R$ 
210,00; ao produzir 50 unidades, o custo  total  foi de R$ 230,00; assim 
CMg = (230,00 – 210,00) / (50 – 40) = 20,00 / 10 = 2,00.) 
Como  uma  empresa  terá  lucro  máximo?  Ela  terá  lucro  sempre  que 
vender uma unidade de produto a um preço unitário maior que o seu 
custo  unitário de  produção. Enquanto  houver  esse  lucro,  a  empresa 
poderá  prosseguir  aumentando  sua  produção  e  vendas, mesmo  que 
seus custos médios e marginais estejam crescendo. A maximização dos 
lucros ocorre quando a receita marginal é igual ao custo marginal. 
No  longo prazo, a  teoria da produção  considera que  todos os  custos 
sejam variáveis,  inexistindo  custos  fixos. Dessa  forma,  toda a análise 
que fizemos até aqui se refere ao curto prazo. 
Outra questão  importante a destacar é a visão diferenciada que existe 
entre a ótica de análise dos economistas e aquela dos contadores sobre 
custos de produção. Os custos contábeis, ou explícitos, são aqueles que 
ocorrem mediante dispêndio monetário e são registrados na contabili‐
dade. 
Os custos considerados na análise econômica  incluem, além daqueles 
considerados pelos contadores, os custos implícitos ou de oportunida‐
de. Representam os custos que as empresas  têm com o uso dos  insu‐
mos de sua propriedade e pelos quais elas não têm dispêndio monetá‐
rio. Seus valores podem ser estimados através de avaliação do valor de 
pagamento que deles se obteria se utilizados, no mercado, no melhor 
uso alternativo. 
 
39 
Externalidades 
Na análise econômica é preciso, ainda,  considerar, as externalidades. 
Estas são os custos ou as receitas obtidas ou imputadas pela empresa à 
sociedade ou a outras empresas. As externalidades podem ser positi‐
vas ou negativas. Serão positivas quando uma empresa gerar benefí‐
cios a outra, sem receber pagamentos em troca. Exemplos de externali‐
dades positivas são as empresas tradicionais que treinam sua mão de 
obra e acabam gerando novas empresas que absorvem a mão de obra 
treinada, sem participar em seu custo. As externalidades serão negati‐
vas quando a atividade de uma empresa gerar custos para outras em‐
presas, sem que aquelas paguem a estas o custo proporcionado. Exem‐
plo de externalidade negativa é a poluição que uma empresa produz 
em um bairro ou em uma cidade, contaminando a água, o ar ou o solo. 
3.3 Função de produção 
Qualquer unidade produtora, ao produzir bens e serviços, tem custos 
com  a utilização de  fatores,  insumos ou matérias‐primas. Ao vender 
esses bens ou serviços, a empresa obterá um certo volume de receitas. 
A diferença entre os custos e as receitas se denomina lucro econômico. 
A  função de produção de uma  empresa  é a  relação das quantidades 
fixas e variáveis de fatores que são utilizados no decorrer do processo 
produtivo. Sabe‐se que as empresas possuem diferentes produtivida‐
des. Esta varia de acordo com a eficiência econômica e deve ser enten‐
dida como a relação entre a quantidade produzida de um determinado 
bem e o fator utilizado. A lei dos rendimentos decrescentes indica que 
o aumento na utilização de um fator de produção implica  acréscimos 
cada vez menores nos rendimentos gerados por essa mesma produção. 
Isso  decorre  precisamente  da  produtividade  do  fator,  que  diminui 
enquanto aumenta a sua utilização e, consequentemente, a sua escas‐
sez, sendo os últimos menos produtivos. 
Quadro 3 – Resumo dos conceitosvistos neste capítulo 
TERMO   CONCEITO 
Função de 
produção   P = f(aFP1 + bFP2 + + ... + zFPn) 
Produtividade 
média  
Pme = (produção total) / (quantidade de fator 
variável) 
Produtividade 
marginal 
Pmg = (acréscimo de produto total) / 
(acréscimo de fator variável) 
Custo total   CT = custo fixo (CFT) + custo variável (CVT) 
Custo médio   Cme = (custo total) / (quantidade produzida) 
Custo marginal   Cmg = (acréscimo de custo total) / (acréscimo 
 
 
40 
da quantidade produzida) 
Receita total   RT = preço de venda x quantidade vendida 
ou quantidade produzida 
Lucro total   LT = RT (receita total) – CT (custo total) 
 
Ponto final 
A teoria da produção e dos custos de produção é fundamental para a 
administração de empresas e para o entendimento do comportamento 
do produtor no mercado. Essa  teoria permite analisar a  formação do 
custo  dos  bens  e  serviços,  cujo  valor  final  viabiliza  ou  inviabiliza  a 
permanência do produtor no mercado do produto. 
Para o administrador, a análise da composição dos custos proporciona 
a possibilidade de  interferir no processo produtivo no sentido de mi‐
nimizá‐lo e tornar o produto mais competitivo. 
Indicação cultural 
PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Tradução de: Eleu‐
tério Prado. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. 
Esse  manual  completo  apresenta  os  conceitos  básicos  e  aprofunda 
todos os aspectos importantes do estudo da microeconomia: mercado e 
preços; produtores, consumidores e mercados competitivos; estrutura 
de mercado e estratégia competitiva; informação, falhas de mercado e 
o papel do governo. Uma  série de exercícios e questões para  revisão 
completa cada capítulo, tornando mais compreensível a teoria. 
Atividades 
1) Uma  fábrica  de  implementos  agrícolas  apresenta  a  seguinte 
estrutura de custos para a produção de diferentes quantidades de 
produto: 
 
QUANTIDADE 
PRODUZIDA/MÊS 
PREÇO 
DE 
VENDA 
(R$) 
CUSTO 
FIXO (R$) 
CUSTO 
VARIÁVEL 
(R$) 
20   50.000,00   308.000,00   150.000,00 
30   42.000,00   308.000,00   170.000,00 
40   39.000,00   308.000,00   190.000,00 
50   36.000,00   308.000,00   210.000,00 
60   33.000,00   308.000,00   230.000,00 
 
 
41 
Determine o custo total, o custo médio, o custo marginal, a receita 
total e o lucro total em cada nível de produção. 
 
2) Uma fábrica de sapatos masculinos apresenta a seguinte estrutura 
de  recursos  físicos. Determine  sua produtividade média da mão 
de obra e sua produtividade marginal. 
 
Capacid
ade  de 
produçã
o diária 
1 
Mão  de 
obra (fator 
variável 
de 
trabalhad
ores) 
2 
Produ
ção 
total 
(em 
pares 
de 
sapato
s) 
3 
Produtivi
dade 
média  da 
mão  de 
obra 
(4)  =  (3) 
: (2) 
Produtividade 
marginal  da 
mão de obra 
(5)  = 
 
300  10  80     
300  15  95     
300  20  115     
300  25  132     
300  30  129     
300  35  108     
300  40  97     
 
 
   
4 Macroeconomia 
Erico Michels 
Ney Oliveira 
Sandro Wollenhaupt  
Ao final deste capítulo, o aluno deverá ser capaz de analisar as metas 
de  política  macroeconômica,  identificar  os  instrumentos  da  política 
macroeconômica, descrever a estrutura de análise da macroeconomia e 
identificar  as  principais  medidas  da  atividade  econômica  propostas 
pela  contabilidade nacional. Todos  esses  assuntos  serão  abordados  a 
seguir. 
4.1 Fundamentos de macroeconomia 
Como está nossa leitura? Esperamos que você esteja reconhecendo sua 
empresa,  seu  banco,  suas  decisões  econômicas  nesse  “passeio”  pela 
economia. Também esperamos que você esteja conseguindo relacionar 
sua  rotina diária  com  os  aspectos  teóricos que  já  repassamos  juntos. 
Até  agora procuramos  observar  as  relações  entre  os  agentes  (atores) 
econômicos: as necessidades humanas, a  limitada disponibilidade de 
recursos (fatores de produção) para satisfazê‐las, o processo produtivo, 
a demanda, a oferta e a formação de preços no mercado. 
Agora  iremos abrir um pouco o  leque de nossa observação. Tentare‐
mos analisar as políticas econômicas governamentais, o comportamen‐
to da  economia  como um  todo, o bem‐estar que as pessoas almejam 
como resultado da atividade econômica. 
Vejamos alguns conceitos básicos. Enquanto a  teoria microeconômica 
explica a composição e a alocação da produção total, a teoria macroe‐
conômica busca explicar as flutuações do nível de atividade econômi‐
ca, do nível da produção global. O termo micro indica apenas a decom‐
posição  de  variáveis  macroeconômicas,  como  consumo,  poupança  e 
investimento. 
 
43 
A macroeconomia estuda a economia em seu conjunto, analisando as 
variáveis de maneira agregada, e não isolada, como a microeconomia. 
São típicas variáveis de interesse da análise macroeconômica: a renda e 
o produto, o nível de preços, o emprego e o desemprego, a moeda e o 
câmbio, o balanço de pagamentos, a taxa de juros1. 
Quando se estuda e promove relacionamentos entre as variáveis eco‐
nômicas  agregadas,  a  macroeconomia  não  leva  em  consideração  o 
comportamento das unidades econômicas individuais e dos mercados 
específicos, análise típica da microeconomia. Ao estudar o nível geral 
de preços, a macroeconomia não se ocupa da formação dos preços de 
um produto especificamente. Ao analisar o mercado, ocupa‐se do seu 
conjunto, esquecendo de aspectos particulares de um setor ou de uma 
indústria.2 
A macroeconomia ocupa‐se de  analisar o  curto prazo,  especialmente 
no que  se  refere  à maximização do produto  e  à minimização do de‐
semprego de  fatores produtivos e à  inflação. Quando se estuda ques‐
tões de  longo prazo, a análise macroeconômica denomina‐se  teoria do 
desenvolvimento e crescimento econômico3. 
Os métodos de análise básicos, no estudo da determinação de preços e 
quantidades são4: 
 análise do equilíbrio parcial – estuda‐se um mercado isoladamen‐
te,  não  levando  em  consideração  as  possíveis  interferências  dos 
demais mercados. 
 análise do  equilíbrio  geral  –  considera‐se  a  interdependência de 
todos os mercados e os preços dos bens se formam em um merca‐
do influenciado pelo conjunto dos seus bens e dos demais merca‐
dos e pelos preços de todos os insumos da economia. 
Metas de política macroeconômica 
Ao  estabelecer  políticas  macroeconômicas,  os  governos  sempre  têm 
como meta alcançar um ou mais dos objetivos que serão apresentados 
na sequência. 
 ALTO NÍVEL DE EMPREGO – Ao contrário do pensamento libe‐
ral clássico, desde a contribuição de Keynes5 à  teoria econômica, 
hoje se aceita a intervenção do Estado, mesmo em regimes capita‐
listas, no sentido de maximizar a obtenção de produção global na 
economia. Com a existência de corporações cada vez mais podero‐
sas  (sindicatos patronais e de empregados, associações corporati‐
 
 
44 
vas) o mercado não se regula, como se propunha nas teorias clás‐
sicas. E o desemprego é uma das principais preocupações das po‐
líticas macroeconômicas. 
 ESTABILIDADE DE PREÇOS  – O  que  se  analisa,  nesse  quesito, 
não é o preço de cada bem do mercado.  Interessa à macroecono‐
mia o nível geral de preços. Sua desestabilização denomina‐se in‐
flação e se caracteriza pelo aumento continuado e geral de todos os 
preços. Esse desajuste  influencia negativamente a distribuição de 
renda,  o  balanço  de  pagamentos  e  as  expectativas  dos  agentes   
econômicos  (indivíduos  e  empresas). A  tentativa,  especialmente 
em países não desenvolvidos, de alcançar elevados níveis de pro‐
dução e emprego costuma produzir níveis aceitáveis de inflação. 
 DISTRIBUIÇÃO  EQUITATIVA  DA  RENDA  –  A  utilização  dos 
fatores de produção determina sua remuneração (renda). Em uma 
economia na qual há desequilíbrio de  forças e há  fatores de pro‐
dução desempregados(trabalho,  capital,  recursos naturais), a  re‐
muneração de  cada um deles não proporciona uma distribuição 
socialmente justa da renda. No Brasil, durante o período denomi‐
nado  milagre  econômico  (1967  a  1973),  praticava‐se  uma  política 
macroeconômica de priorizar o crescimento para, depois, promo‐
ver a distribuição. O período se caracterizou por uma alta taxa de 
concentração  de  renda,  com  reflexos  ainda  não  completamente 
removidos da economia brasileira. 
 CRESCIMENTO  ECONÔMICO  –  Havendo  desemprego  (ociosi‐
dade  de  fatores  de  produção),  a  economia  poderá  crescer  se  a     
ociosidade for reduzida. Se, ao contrário, os fatores estiverem mui‐
to próximos do pleno emprego, somente o aumento dos recursos 
disponíveis (maior número de fatores, como: trabalhadores, capi‐
tal ou recursos naturais) ou um avanço tecnológico que promova 
maior produtividade aos fatores provocará crescimento econômi‐
co. Importante é o crescimento líquido do produto, ou seja: o pro‐
duto deverá crescer mais do que cresce a população que utiliza es‐
sa produção. O  indicador para medir  tal  característica é a  renda 
nacional per capita ou o produto nacional per capita. 
Instrumentos de política macroeconômica 
Para obter os resultados apontados nas metas e nos objetivos de pro‐
duzir mais, sem desemprego e com estabilidade de preços, os princi‐
pais  instrumentos  de  políticas  macroeconômicas  são  definidos  a  se‐
guir. 
 
45 
 POLÍTICA  FISCAL  –  Diz  respeito  ao  orçamento  dos  diversos 
níveis de governo (federal, estaduais e municipais), ou seja, são os 
gastos e as receitas dos governos. É um poderoso instrumento de 
política macroeconômica, se considerarmos que no Brasil a carga 
fiscal  (soma de  todos os orçamentos governamentais)  representa 
mais do que um terço de tudo o que é produzido no País. 
 POLÍTICA  MONETÁRIA  –  Refere‐se  ao  controle  do  governo 
sobre a oferta monetária, ou seja, sobre a quantidade de moeda e 
de títulos públicos em circulação no mercado. 
 POLÍTICA CAMBIAL – Diz respeito ao controle e à utilização de 
instrumentos para  estabilização da  taxa de  câmbio,  enquanto  as 
políticas de relações econômicas externas referem‐se ao comércio 
internacional, ao incentivo às exportações e ao controle das impor‐
tações do País. 
 POLÍTICAS DE RENDAS – Referem‐se à intervenção do governo 
na  formação da  renda dos  agentes  econômicos.  Intervenção  que 
favorecerá ou não determinados proprietários de  fatores de pro‐
dução em detrimento de outros (mão de obra, capital, recursos na‐
turais e capacidade empresarial).6 
Estrutura de análise macroeconômica 
Tradicionalmente,  a  estrutura  básica  do  modelo  macroeconômico 
compõe‐se de cinco mercados.  
 MERCADO  DE  BENS  E  SERVIÇOS  –  O  produto  nacional  é  o 
principal medidor do mercado de bens e serviços. Indica a quanti‐
dade destes que uma economia produziu em determinado perío‐
do de  tempo,  geralmente  um  ano. Reflete  o  nível de  atividades 
dessa  economia,  representada pelos quatro  agentes macroeconô‐
micos: consumidores, empresas, governo e setor externo. 
 MERCADO DE TRABALHO  – O mercado de  trabalho  reflete  o 
nível de utilização geral da força de trabalho, independente do se‐
tor e da qualificação de  seus componentes. São  relevantes, nesse 
mercado, a taxa salarial e o nível de desemprego. 
 MERCADO MONETÁRIO – Para dar consequência às transações 
de um mercado, há necessidade de moeda para a circulação dos 
bens e serviços. O Banco Central (Bacen) ocupa‐se de equilibrar a 
oferta e a demanda desse mercado, de modo a não prejudicar as 
transações nem a desvalorizar a moeda. 
 
 
46 
 MERCADO  DE  TÍTULOS  –  Existem  agentes  macroeconômicos 
superavitários  e  agentes  deficitários.  Os  agentes  superavitários 
(gastam  menos  do  que  sua  renda)  emprestam  moeda  para  os     
agentes deficitários e, assim, constitui‐se o mercado de títulos. 
 MERCADO  DE  DIVISAS  –  A  exemplo  do  mercado  de  títulos, 
quando se trata de transações entre residentes de um país (indiví‐
duos e empresas) e residentes de outro, há necessidade de moedas 
distintas, constituindo‐se o mercado de divisas.7 
Contabilidade nacional é o registro contábil da atividade produtiva de 
um  país,  em  um  dado  período  de  tempo  (geralmente  um  ano).  No 
Brasil,  o  Instituto Brasileiro de Geografia  e Estatística  (IBGE)  realiza 
essa tarefa, segundo metodologia e padronização internacional.8 
Conceitos básicos da macroeconomia 
A seguir apresentamos alguns conceitos da macroeconomia9. 
 VALOR ADICIONADO  –  É  a  soma  dos  preços  dos  bens  e  dos 
serviços finais produzidos numa economia em certo período. Re‐
presenta a diferença entre o valor das vendas e o valor de insumos 
e matérias‐primas utilizados no processo de produção. Isso signi‐
fica que não  são  computadas no valor adicionado os bens  inter‐
mediários (insumos e matérias‐primas) utilizados pelas empresas. 
 PRODUTO  NACIONAL  –  É  a  medida  dos  valores  adicionados 
pelas empresas aos bens elaborados e aos serviços prestados, em 
toda a economia nacional. 
 RENDA  NACIONAL  –  É  a  soma  das  remunerações  pagas  aos 
fatores de produção utilizados pelas empresas. Representa a soma 
dos pagamentos de  salário,  juros, aluguel/arrendamento e  lucros 
no País, em dado período de tempo. 
As principais medidas da atividade econômica10 
Entre  as variáveis macroeconômicas mais  significativas  estão o valor 
bruto  da  produção,  o  produto  interno  bruto,  a  renda  nacional  etc., 
cujos conceitos estão enunciados a seguir. 
O VALOR BRUTO DA  PRODUÇÃO  (VBP)  é  a  soma dos  preços de 
bens e serviços produzidos numa economia em determinado período – 
preços versus quantidades produzidas. Posto que no VBP não há dis‐
tinção entre bens  intermediários e bens  finais, essa medida superesti‐
ma o valor da produção social, ao contabilizar o valor dos bens inter‐
 
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mediários tantas vezes quanto estes entrarem na elaboração do produ‐
to final. 
Os BENS  INTERMEDIÁRIOS  são  aqueles destinados  à utilização  in‐
termediária, que  entram na  composição de outros bens,  enquanto os 
bens de utilização  final se destinam ao consumo  final e desaparecem 
com a sua utilização. Exemplos: o pão é bem de utilização final; a fari‐
nha que foi utilizada na produção do pão é um bem intermediário. 
O PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) é a soma dos preços dos bens e 
serviços finais produzidos numa economia em certo período – preços 
versus quantidades produzidas. Equação fundamental do produto: 
Produto interno bruto = consumo + investimento + exportações – 
importações 
 
A RENDA NACIONAL  (RN)  é  a  soma das  remunerações de  fatores 
empregados  nas  atividades  produtivas,  inclusive  os  fluxos  de  paga‐
mentos aos fatores de propriedade de nãoresidentes no país, tais como 
salários, lucros, juros, dividendos, aluguéis e royalties pela utilização de 
uma marca ou tecnologia. 
A DEMANDA INTERNA BRUTA (DIB) é a soma dos gastos em con‐
sumo  interno  dos  setores  público  (governo)  e  privado  (empresas  e 
famílias) e das despesas de investimento interno bruto fixo das empre‐
sas e da variação dos estoques.  
A DEMANDA FINAL TOTAL  inclui os gastos em consumo e em  in‐
vestimento, além das exportações (vendas ao exterior) realizadas pelo 
país no período. 
A OFERTA FINAL TOTAL (OFT) é a soma do produto  interno bruto 
da  economia  e das  importações  (compras  ao  exterior) no período. A 
oferta final total representa a disponibilidade bruta total da economia 
em determinado período. 
As precauções na elaboração do cálculo do produto 
Seguem, abaixo,   as principais precauções que devem ser observadas 
na elaboração do cálculo do produto. 
 Evitar a “dupla contagem” das mercadorias. Medir o valor agre‐
gado pelas

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