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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP Disciplina: Processo Civil II 16 de Agosto de 2017 Cód. Transcrição: 38 Aula 03 - 1º GQ FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA (CONTINUAÇÃO...) Nós paramos a aula passada na fundamentação jurídica, estávamos analisando aquele caso sobre repetição de indébito. Nesse caso, em específico, existe uma regra de aplicação de controvérsias sobre o assunto, então você o resolve a partir do art. 42 do Código de Defesa do Consumidor, então, temos um usuário de operadora de telefonia móvel que é indevidamente cobrado por um determinado serviço e não usufruiu daquele serviço, se não usufruiu tem o direito de ser restituído e não apenas ser restituído como ser restituído em dobro, o que seria a repetição do indébito. Pensemos em outros casos e vamos desdobrar essa questão da fundamentação jurídica. Não há nenhuma regra no código dizendo como você tem que fazer a Petição Inicial; se ela precisa necessariamente expor os fundamentos jurídicos, ou apenas ter a descrição dos fatos e o meu pedido, com isso existe um CONSENSO onde se deve ter: QUALIFICAÇÃO > FATOS NARRADOS > TÓPICOS DOS DIREITOS. TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO Mas eu pergunto: o juiz não sabe o direito? "iura novit curia". Juiz sabe o direito, se o juiz sabe o direito, porquê que eu tenho que fundamentar juridicamente? Eu me permito uma provocação, se eu for para os juizados eu não preciso fundamentar juridicamente, por que na justiça comum eu preciso? Não são os juízes togados? Essa é uma presunção absoluta, o juiz sabe o direito, ele tem aquela ideia, “narra- me os fatos que te darei o direito”, é uma decorrência disso, como eu resolvo isso? Bom, a teoria que nós adotamos foi a TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO, a partir da qual as partes precisam, ou o autor precisa enunciar, não apenas causa de pedir remota como também a causa de pedir próxima. Então, não apenas o fato jurídico como também os fundamentos jurídicos, a fundamentação jurídica, independentemente de o juiz saber ou não o direito. E qual é a forma adequada ou apropriada para a compreensão da expressão ‘Vedação ao "non liquet"’? Basicamente é o seguinte, o juiz não pode deixar de julgar alegando lacuna ou obscuridade na lei. Isso porque o juiz sabe o direito, então ele não #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP pode deixar de julgar. A compreensão atual dessa expressão em latim é nesse sentido que eu estou dizendo a vocês, deixar de julgar. Então, pela Teoria da Substanciação a parte precisa expor causa de pedir remota e causa de pedir próxima, repito, nos juizados especiais não há a necessidade de fazer isso, está no art. 2º, NCPC, informalidade, simplicidade, etc. FUNDAMENTAÇÃO E CONTRADITÓRIO Ainda nessa questão da CAUSA DE PEDIR, observem, a sua PETIÇÃO ela será interpretada como um todo, o seu pedido será compreendido a partir da sua FUNDAMENTAÇÃO, é uma fundamentação importante também nesse sentido, não bastasse isso há quem faça tudo como se fosse uma coisa só, os fatos e do direito em conjunto, eu não recomendo isso mas não deixa de ser interessante, porque eu costumo dizer o seguinte, na prática você tem certeza que uma parte da sua peça será lida, qual é essa parte? Os pedidos, o pedido você tem certeza que vai ser lido. Agora, os fatos supõe- se que também vai obedecer alguma olhadela, uma analisada, quando você mistura tudo ele vai ter que ler os fatos e a parte do direito. Mas também é muito complicado, basta você pensar que tem juiz que tem 3, 4, 5, 6 mil processos sob sua responsabilidade, então como é que ele vai ler isso tudo? Não tem condições, por isso que eu disse, sejam mais objetivos, mais claros e o mais didáticos possível, afim disso de alguma forma estimular a leitura. Mas a fundamentação ela é importante para a compreensão do pedido e não apenas isso, na fundamentação jurídica você vai também exercitar o seu CONTRADITÓRIO, a parte exerce o seu contraditório, aquilo que se chama de DIMENSÃO MATERIAL DO CONTRADITÓRIO. Já ouviram falar em DIREITO DE INFLUÊNCIA? Eu penso o exemplo da minha esposa, às vezes ela pergunta a mim o que eu acho de tal roupa, aí eu digo, ah eu não gostei, e ela diz que vai assim mesmo. Mas observem, não que ela tivesse que seguir a minha opinião, naturalmente isso não é direito de influência, mas considerar de alguma forma a sua opinião, isso é direito de influência. Observem, contraditório em sua dimensão material é uma evolução do PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO, vocês estudaram naquela ideia de que é um binômio, informação + possibilidade de reação, que essa é a concepção estática ou a dimensão estática ou formal do contraditório. #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP VEDAÇÃO AS DECISÕES SURPRESA Então dimensão formal, binômio, informação + possibilidade de reação, só que desde a década de 90, Alemanha, Itália, França, Portugal, entre outros países, e no Brasil final da década de 90 e início dos 2000, que se desenvolveu outra noção de contraditório, aí chamado de intuição material que se soma a anterior, que fique claro, ou CONCEPÇÃO DINÂMICA, então estática dinâmica formal material. Que consiste basicamente no direito de influência que tem obviamente seus desdobramentos, VEDAÇÃO AS DECISÕES SURPRESA, o código veda as chamadas decisões surpresas, o que é uma decisão surpresa? É uma decisão sobre matéria estranha ao debate no processo, então as partes estão debatendo determinado assunto, suponhamos vem um magistrado e olha, opa tem uma prescrição aqui, ninguém falou nada, vai lá e extingue o processo com base na prescrição, mas ninguém tinha se manifestado sobre aquilo, isso afronta o princípio do contraditório, no sentido de que isso está no artigo 9, 6 e 19 do NCPC, ele pode reconhecer a prescrição de ofício, uma coisa é julgar sem que as partes tenham debatido aquela matéria, são duas coisas distintas, então ele submete ao debate das partes, isto é, da oportunidade delas se manifestarem depois ele aprecia, daí a ideia de vedação a decisão surpresa. Mas o DIREITO DE INFLUÊNCIA é você basicamente ter a sua opinião considerada, não quer dizer que sua opinião tem que ser seguida, mas ela tem que ser considerada. Juridicamente falando, se você trás um argumento, a fundamentação do seu pedido, por exemplo, para o magistrado derrubar o seu argumento ele precisa enfrentá-lo, não pode simplesmente ignorar aquilo que você disse. SITUAÇÃO REAL: Condômino foi expulso do condomínio porque a assembleia deliberou que em virtude dos comportamentos antissociais dele, como alocação de lixo em local não apropriado, utilização do apartamento dele para fins de jogo do bicho, entre outros comportamentos antissociais que ele supostamente praticaria. Imaginem que esse cidadão vai á justiça e ele postula a nulidade da assembleia que deliberou a expulsão dele, então que aplicou a sanção máxima é de expulsão, e ele vem e diz há 3 argumentos para a nulidade desta assembleia: 1) Eu não fui notificado dessa assembleia, ou melhor, eu não fui notificado que o meu caso seria tratado nesta assembleia. 2) Em nenhum momento eu fui notificado sobre esses comportamentos antissociais, a fim de que eu pudesse exercer o meu direito de defesa, então o meu #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP direito de defesa, direito fundamental que incide nas relações particulares, eficácia horizontal de direitos fundamentais que incide nas relações privadas, ele foi desrespeitado. 3) Ou na pauta de convocaçãonão constava aquele assunto, não constava que dentre outros assuntos que seriam enfrentados naquela assembleia haveria. 4) E suponhamos outro argumento, não houve o prazo mínimo entre a publicação da pauta e a data de realização da assembleia. Então para esses 4 fundamentos a assembleia é NULA. Pois bem, aí vejam o que é o direito de influência, o juiz acolher a nulidade da assembleia, o pedido da anulidade da assembleia, ele precisa analisar cada um dos fundamentos para ACOLHER O PEDIDO? Não, mas e para REJEITAR? Sim, por conta do contraditório, por conta da dimensão material do contraditório, e vejam, ele tem aí um ônus argumentativo, ele tem um ônus de demonstrar que ele não é, o fundamento não tem amparo jurídico, que aquilo que eu estou argumentando não tem sustentação, em relação a cada um dos pontos que eu sustentei. De que forma eu vou verificar se o meu contraditório foi respeitado ou não? Na fundamentação da decisão. OBS: O AMICUS CURIAE são basicamente órgãos, pessoas estudiosas, etc, que são chamadas a intervir ou provocam a própria intervenção, em alguns casos, então isso é muito comum em ações de controle concentrado de constitucionalidade, mas também pode acontecer em outros casos. No ponto de vista da prática não é tão óbvio assim, por incrível que pareça, eu estava conversando com um aluno aqui e ele estava me dizendo que não tem aquela ideia de que o magistrado não precisa enfrentar cada um dos argumentos deduzidos pela parte sendo suficiente para que ele exponha de forma clara e concisa razões de seu convencimento? Aí eu falei assim, tem esse entendimento e, na minha opinião é uma piada, mas existe de fato esse entendimento de que o juiz ele não precisaria analisar os argumentos deduzidos pela parte. O que eu estou dizendo seja compreendido com muito cuidado, eu não estou dizendo que sempre o juiz deverá enfrentar tim tim por tim daquilo que foi dito, não é isso, mas no exemplo que eu dei para vocês eu tenho aqui FUNDAMENTOS AUTÔNOMOS, 4 #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP fundamentos autônomos, 4 pedidos de nulidade, declaração de nulidade da assembleia. Se, no entanto, vem o magistrado e diz proprietário não é o condômino - o locatário, mas o proprietário locador vai á justiça para postular a nulidade da assembleia, se o juiz vem e diz você é parte ilegítima, ele precisa analisar cada um dos argumentos para a nulidade da assembleia? Não, por quê? Porque ficaram prejudicados, se é parte ilegítima não tem ou não teria possibilidade de postular a nulidade daquela assembleia, eu não estou dizendo que seria tá? Isso precisa ser analisado com muito cuidado, agora essa cantilena, ah o juiz basta que ele exponha as razões as quais ele chegou no seu convencimento ou livre convencimento motivado para mim isso já deveria está superado, LIVRE CONVENCIMENTO MOTIVADO, a gente vai conversar melhor sobre isso, mas o que é livre convencimento motivado? Será que eu sou livre naquilo que eu magistrado vou analisar, naquilo que vou julgar? Será que eu posso julgar ou devo julgar de acordo com a minha consciência? Posso julgar estritamente com base na minha consciência? Ou será que eu magistrado faço parte de um órgão, poder judiciário que é dividido em várias instâncias, eu pertenço a um tribunal, há ainda outras instâncias acima de mim, eu estou incluído em uma determinada sociedade, há FONTES, existe toda uma tradição em torno de fontes, então a fonte legal, a doutrina, a jurisprudência, etc. Então eu me incluo, eu sou uma pessoa em um contexto em um universo muito mais amplo, um universo que para funcionar não depende de mim é claro, como é que eu vou estar inserido nesse universo e ignorar tudo que se passa nele?, E tirar as decisões da minha cabeça como estivesse tirando coelho de cartola, isso não funciona, julgo com base na minha consciência, isso não funciona. Vejam a importância da fundamentação jurídica, uma decisão ela pode ser omissa e, portanto afrontar o artigo 93, IX, CF, não apenas porque ela deixou de enfrentar um pedido, mas também porque deixou de analisar fundamentos jurídicos, fundamentos suficientes para afirmar a conclusão do magistrado, fundamentos idóneos a afirmar a conclusão do julgador. Observem, na minha fundamentação jurídica eu vou fazer alusão a leis, mas eu posso fazer alusão a o que mais? DOUTRINA, JURISPRUDÊNCIA, PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO. JURISPRUDÊNCIA E PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO O que são princípios gerais do direito e o que é jurisprudência? É difícil determinar como surgiram alguns princípios gerais do direito, mas observem e é onde eu quero focar mais a explicação. Por exemplo, ninguém pode se beneficiar da #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP própria torpeza, isso é um princípio geral do direito. Princípios gerais eles já existem há muito tempo e só que basicamente a gente recorria aos princípios gerais naquela ideia de como matar lacunas do ordenamento, vocês estudaram isso no primeiro período quando estuda fontes do direito e vocês estudaram o que? Analogia legis que é a analogia e Analogia iuris que são os princípios gerais do direito. Então quando é que eu vou recorrer a analogia? Quando existir lacunas, quando não há uma disposição específica sobre a matéria. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO X PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS Agora o que eu queria que ficasse claro: PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO não se confundem aos PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, esse é o ponto. Ou seja, de um PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL eu extraio deveres, direitos, comportamentos que são vedados, tem um caráter deontológico, e eu não recorro aos princípios constitucionais não somente por hipóteses de lacunas, claro, um princípio constitucional pode me auxiliar também caso não exista uma regra específica sobre aquele assunto, sem dúvida que pode. Mas eu não trabalho com princípios naquele raciocínio de que na falta de regra eu vou para analogia - “não sendo possível analogia legis eu vou para a analogia iuris” -, não tem esse caráter subsidiário. No dia a dia quando você está aplicando uma regra você também está interpretando analogia dos princípios, quando você for aplicar ao caso concreto você vai juntar tudo como se fosse uma coisa só, o que eu estou querendo dizer com isso? A partir de uma lição de Eros Grau que foi ministro do supremo, ele diz ainda o seguinte, não se interpreta o direito em tiras, vocês devem ter estudado introdução possivelmente por Noberto Bobbio que faz uma metáfora no sentido em que você não interpreta a norma jurídica sem situá-la dentro do todo do qual ela está integrada no ordenamento jurídico, que seria segundo ele uma metáfora olhar para uma árvore e perdê-la de vista a floresta, então a norma jurídica ela deve ser interpretada dentro do todo na sua interação como um todo. Então quando você vai interpretar um artigo, ou melhor, quando VOCÊ vai estudar uma matéria você não vai se limitar a interpretação de um artigo específico, quando o JUIZ ele aplica um dispositivo ele não está apenas aplicando aquele dispositivo existe aí todo um contexto com outras regras e princípios que também serão conservados naquele caso concreto. Isso não precisa estar necessariamente explícito, mas isso está na compreensão da própria regra. #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP Dito isso, enquanto aos princípios constitucionais, os PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO tinham essa função de como atar lacunas, ainda hoje eles têm, mas com o surgimento da positivação dos direitos fundamentaise considerando que boa parte desses direitos fundamentais eram albergados por meio de princípios passou-se a reconhecer que eles também seriam dotados de normatividade, daí esse caráter deontológico, então eu extraio deveres, direitos, diretamente á luz de um princípio, exista ou não regras específicas sobre aquela matéria. Mas não é porque eu extraio apenas regras de princípios constitucionais que eles são importantes, quando eu aplico uma regra também estarei aplicando algum princípio constitucional, a compreensão da regra também passa pelo princípio. Então, são dotados de normatividade, princípio é norma, tal e qual uma regra, vale dizer, vincula, eu não tenho a opção dizer que isso é um princípio e eu não vou observar, princípio também vincula. Só que o princípio não tem a estrutura lógica de uma regra, suponhamos um crime de homicídio, matar alguém, sanção, pena privativa de liberdade de tantos anos a tantos anos, eu tenho aí o antecedente matar alguém e a consequente sanção. Princípio da dignidade da pessoa humana, qual é o antecedente e o consequente? Princípio do contraditório qual é o antecedente e o consequente? No princípio não existe esse tipo de estrutura, então que você tenha ali uma hipótese de conduta e necessariamente uma consequência que pode ou não ser uma sanção, no princípio você não tem isso. E o que acontece em uma argumentação, quando você quer ampliar o leque, quando você quer abrir argumentação você faz o que? Se invoca uma regra ou você invoca uma regra? A regra fecha a argumentação, o princípio não, isso leva inclusive a um abuso na utilização dos princípios, como se eu pudesse porque existe um princípio simplesmente dispensar uma regra que é específica sobre o caso, não posso fazer isso, se eles têm a mesma hierarquia não posso fazer isso, mas isso é feito diuturnamente. Por que isso é feito? Quando o advogado faz isso eu não entendo, porque o advogado ele tem uma estratégia, o advogado ele está preocupado com o que? Com o direito que ele está defendendo, com o direito que ele afirma que o seu cliente detém, agora o juiz não pode fazer isso, o juiz tem que ter cuidado. Então se eu invocar um princípio é diferente, estou ali em uma estratégia argumentativa, uma retórica persuasiva, uma retórica estratégica, mas o juiz não, ele tem que ter muito cuidado com esse tipo de aplicação, o juiz não pode simplesmente afastar uma regra para em nome de um princípio #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP aplicar aquilo que ele entende justo no caso concreto, não tem como fazer isso (na realidade isso é feito todo dia, mas é uma situação que me parece intolerável do ponto de vista da Ordem Jurídica Brasileira). Quando eu falo PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO existe uma carga teórica e histórica distinta, quando eu falo em PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS é diferente, até porque historicamente se você for pro início do século 19 na França e essa era uma mentalidade que existia em vários outros países, eu tinha supostamente ordenamentos jurídicos que seriam formados exclusivamente por regras, mas já haviam os princípios gerais do direito por hipóteses de lacunas. Então se houver lacuna eu aplico o princípio, esse era o raciocínio, mas o ordenamento jurídico seria formado exclusivamente por regras. Então todo o direito estaria contido no código, daí a era das codificações, das regras, mas isso vai mudando por conta do reconhecimento da POSITIVAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS, então direitos que inicialmente seriam caráter universal, direitos humanos e que depois foram incorporados e inclusive em várias constituições. Essa positivação dos direitos fundamentais, sobretudo por meio de princípios não necessariamente por regras, as vezes o princípio ele não tem um texto, não há um texto normativo, o princípio ele é adotado de alguma forma, isso fez com que os princípios fossem repensados ou que houvessem um reconhecimento de outra outra categoria de princípios, teria que distinguir. Manda ler um livro de Marcelo Neves chamando Entre hidra e hércules. JURISPRUDÊNCIA O que é JURISPRUDÊNCIA? É um entendimento pacificado, e existe isso? Se existe, como é que eu consigo aferir isso? Quando aquilo está SUMULADO é diferente, quando tem um enunciado de súmula, ou um verbete de súmula, aquilo já está incluído na súmula do tribunal no resumo, na síntese da jurisprudência do tribunal, isso faz a súmula, então neste caso seria mais fácil você determinar qual é o entendimento que prevalece naquele tribunal, mas no mais é difícil, o que você tenta fazer? Você vai para o STJ tem lá na matéria não penal, primeira e segunda turma, terceira e quarta, então se ela quer determinar um entendimento, e tenha a primeira e a segunda sessão, a primeira sessão envolve a primeira e a segunda turma, a segunda sessão envolve a terceira e a quarta turma, e ainda tem a corte especial, então se eu pegar um entendimento das sessões ou da corte especial supostamente aquele seria um entendimento da corte, que são os órgãos que tem a última palavra sobre aquele assunto. Mas ainda assim é muito complicado, porque nossos tribunais e isso faz parte da nossa tradição, não tem o cuidado de verificar #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP mesmo aquilo que eles já decidiram, que é um dever de coerência, se eu venho decidindo uma determinada matéria em um sentido eu não posso simplesmente ignorar aquilo que eu já disse, isso não significa dizer que eu estou engessado, vou ter que decidir daquela forma sempre, não, mas para eu mudar o meu entendimento eu preciso dizer que porque que eu estou mudando, isso é, sem desprezar aquelas decisões anteriores, não posso negligenciar isso. Agora qual é o cuidado que vocês precisam ter? Eu posso simplesmente TRANSCREVER A EMENTA na minha petição? Sem ler, etc, eu posso? Você identificou lá a ementa, você simplesmente transcreve a ementa ou você vai atrás do caso? Esse é um cuidado que a gente sempre deve ter, SEMPRE, então não se contentem apenas com as ementas, muito cuidado com isso, até porque não raro a ementa não tem nada a ver com aquilo que você imagina que ela tem. Ex. Tem um caso para mim que é emblemático que aconteceu com um amigo meu advogado, ele deu entrada em um mandado de segurança aí ele invocou determinada decisão na petição e foi lá e transcreveu a ementa mas tinha feito a leitura cuidadosa etc do acórdão, então ele invocou aquela decisão em amparo a tese que ele estava defendendo. A parte contrária invocou a mesma decisão, o juiz invocou a mesma decisão indeferiu a liminar, então o pedido de tutela provisória, na sentença ele invocou a mesma decisão para acolher o pedido do autor, o que você conclui a partir dai? A parte contrária não leu e o foi o estagiário que fez a decisão da liminar (hahaha). Quando você PESQUISA JURISPRUDÊNCIA você tenta fazer o que? Mas porque você faz isso? Porquê você invoca uma decisão, já não basta a lei? Você vai pegar outros casos que sejam similares com os seus, isso você só consegue fazer fazendo a leitura integral, analisando os dois casos, o seu caso e aquele caso paradigma, e você tenta mostrar que aquela mesma tese deve ser aplicada no seu caso, porque que você tem que fazer isso? De que forma faz isso? RACIOCÍNIO POR ANALOGIA, que nada mais é que tentar tratar onde está a mesma razão está o mesmo direito. Você tende a identificar características de fato e de direito que serão comuns para aplicar a mesma tese, então se partilha das mesmas características de fato e de direito relevantes eu posso aplicar a mesma tese, senão partilha eu preciso fazer a distinção,então eu tento identificar a razão (ratio decidendi) de decidir, a tese fática ou jurídica para e se for o caso fazer distinções. #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP Por exemplo, ação de indenização por responsabilidade civil objetiva do Estado, por hipótese a parte foi atingida por um policial militar que não estava quando no disparo em expediente mas estava armado e deu um tiro, responsabilidade civil do Estado, aí eu vou lá e analiso um caso que aconteceu no Rio de Janeiro em que policiais militares em uma operação um dos policiais efetuou um disparo atingiu a vida da criança e ela faleceu, o confronto balístico, a perícia identificou a arma de onde proveio o projétil era a arma do policial militar, responsabilidade objetiva do Estado condenado, será que eu posso aplicar as duas teses ou há uma distinção, existe uma característica relevante naquele outro caso que desautoriza a aplicação da mesma tese? Esse é o tipo de raciocínio que você desenvolve, é possível que como policial militar não estava trabalhando naquele dia em que efetuou o disparo talvez isso não atraia responsabilidade civil do Estado, talvez esse seja uma distinção. Então esse tipo de coisa a gente faz o tempo todo, é a ideia do raciocínio por analogia e a distinção. JURISPRUDÊNCIA X PRECEDENTE Não confundir JURISPRUDÊNCIA com PRECEDENTE, PRECEDENTE é uma decisão. Uma decisão não nasce um precedente, ela se torna um precedente, por conta de que? Necessariamente por conta da autoridade que a prolatou, mas por conta da autoridade dos argumentos daquela decisão e aquela decisão não passa a ser invocada em casos futuros e em virtude disso ela começa a ideia de vinculação, o efeito vinculativo das decisões, é assim que funciona nos Estados Unidos, no Brasil não, quer se criar decisões que já nasceriam precedentes, então se o STJ julgar em RDR essa forma isso vincula todos os casos no país, se o STF julgar as matérias isso vincula todos os casos do país, não é bem assim que funciona, e isso aparenta contrastar com outra coisa que eu disse mas não contrasta. Se eu sou um magistrado vinculado a um tribunal de justiça eu não posso ignorar o que o meu tribunal disse sobre determinado assunto, assim como não posso ignorar o que o STJ disse se eu estou na justiça comum, seja estadual ou federal, e em matéria constitucional não posso ignorar aquilo que o supremo disse. O que não significa que eu precise simplesmente que eu esteja vinculado ao o que eles dizem, isto é, que o entendimento deles tenha autoridade de lei sobre meu caso concreto. #NOVINHOSDODIREITO UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO Elaborado pelos Novinhos do Direito com base nas aulas dos professores da UNICAP Eu não posso ignorar o que diz o STJ, mas se eu não estou vinculado nessa ideia de autoridade de lei etc, se não existe essa vinculação significa que eu posso demonstrar que aquele entendimento do STJ não deve ser observado, aqui tem uma questão bem interessante, eu NÃO SOU OBRIGADO A SEGUIR AQUELE ENTENDIMENTO MAS EU NÃO POSSO NEGLIGENCIÁ-LO, eu preciso dialogar, eu tenho o ônus argumentativo de mostrar que aquele entendimento não deve ser observado, ora é o STJ que interpreta a lei então eu posso dizer que o STJ está errado mas eu magistrado preciso fundamentar, vejam a diferença, eu não estou dizendo que vincula, que a vinculação é ou você segue ou você segue , aqui não, ou você segue ou você argumenta em sentido contrário demonstrando que aquele entendimento não deve ser observado, isso não é o que os precidentaristas afirmam, os adeptos aos precedentes no Brasil, então o precedente necessariamente criaria essa vinculação, mas a uma divergência generalizada sobre essa matéria a começar por essa ideia de que um precedente já nasce um precedente, então isso é problemática por que? Porque isso não cria esse consenso de que aquela decisão é realmente boa, que aquela decisão merece ser observada nos demais casos, não cria-se esse consenso no meio de um dissenso que é positivo, que é democrático, as coisas sempre estão evoluindo bastante para um consenso, mas eu não posso simplesmente chegar e dizer acabou a discussão, é isso e ponto, eu bloqueio o diálogo, a evolução, os debates e assim por diante, que é o que essa teoria, essa adoção da forma de como estão querendo colocar aqui no Brasil ela pretende fazer, as decisões do artigo 927 são vinculantes, tenho minhas dúvidas. Art. 927, NCPC. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. § 1o Os juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1o, quando decidirem com fundamento neste artigo. § 2o A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para a rediscussão da tese. § 3o Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social e no da segurança jurídica. § 4o A modificação de enunciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. § 5o Os tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores. #NOVINHOSDODIREITO
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