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Empeededorismo e Inovacao

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Capítulo 1 - Empreendedorismo na contemporaneidade
Definições de “empreendedorismo”
Você já pensou no significado do termo “empreendedorismo” e no que ele realmente representa para os nossos dias?
Para o filósofo e economista austríaco Peter Drucker, empreendedor é aquele que corre riscos, que não tem receio de arriscar em sua área. Já para o engenheiro e professor José Dornelas, o termo “empreendedorismo” está, ainda, equivocadamente, ligado somente ao processo de início de um negócio ou empresa.
E você, como definiria um “empreendedor”?
Pense em dois ou três grandes empreendedores nas áreas em que atuam: Bill Gates, da Microsoft? Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim? Luiza Trajano Donato, do Magazine Luiza? Silvio Santos, do SBT? Eles podem ser considerados empreendedores porque se destacaram em seus respectivos campos de atuação? Ser empreendedor é ter sucesso? E as pessoas nas quais você pensou, são, de fato, empreendedoras? Segundo Antonio Maximiano (2005), em seu livro Administração para empreendedores:
O empreendedor, em essência, é a pessoa que tem capacidade de idealizar e realizar coisas novas. Pense em qualquer pessoa empreendedora que conheça e você identificará nela a capacidade de imaginar e fazer as coisas acontecerem. Outras pessoas, ao contrário, podem ser apenas criativas ou apenas implementadoras, sem a habilidade de combinar esses dois traços básicos de comportamento.
Pelo conceito de Maximiano, pode-se afirmar, então, que o navegador italiano Cristóvão Colombo (1451-1506), por exemplo, foi um empreendedor, já que teve a capacidade de idealizar e realizar coisas novas, além de “descobrir um novo mundo”? Todo desbravador, conquistador, atleta, etc., pode ser considerado empreendedor?
O navegador Cristóvão Colombo, considerado até nossos dias um dos mais importantes navegadores de todos os tempos, começou ainda jovem a navegar, destacando-se pela ousadia e por não temer correr riscos.
A partir de 1477, Cristóvão Colombo empreendeu uma série de viagens a vários lugares, como Groenlândia e Guiné. Em 1492, Colombo e sua frota – as caravelas Pita, Nina e Santa Maria – partiram em direção às Índias, mas acabaram chegando ao arquipélago de Bahamas, considerado o marco oficial da chegada europeia à América. Inicialmente, ele não conseguiu obter sucesso em sua empreitada, a de chegar às Índias. Muito pelo contrário, ele desembarcou nas Bahamas. 
Para Colombo, era necessário correr riscos, empreender! E correr riscos é enfrentar todo tipo de adversidade para alcançar seu objetivo. Mesmo não tendo chegado às Índias, Colombo pode ser considerado um empreendedor de sucesso?
Inegavelmente, Colombo se destacou em sua área.
Neste parágrafo da carta que Colombo enviou ao rei Dom Fernando de Aragão e Castela, anunciando o descobrimento do Novo Mundo, datada de 15 de fevereiro de 1493, pode-se perceber o entusiasmo do navegador diante de sua conquista:
DICA
 - Assista ao filme 
1492: a conquista do paraíso
 
(
1492: 
Conquest
 
of
 
paradise
), direção
 
de Ridley Scott, Estados Unidos,
 
1992, Paramount Pictures, 115 min.
Para alguns historiadores, há muitos erros
 
históricos nesse filme de Ridley Scott.
 
Mas aqui não nos interessa discutir esse
 
assunto, mas, sim, como a figura de Cristóvão
 
Colombo ainda é compreendida
 
como um homem desbravador, corajoso,
um
 empreendedor de sua época, capaz
 
de enfrentar todo tipo de adversidade
 
econômica e física em nome de um objetivo.
Nesse filme, Scott analisa vinte anos da vida de Colombo, desde quando
 
ele se convenceu de que o mundo era redondo, passando pelo empenho
 
em conseguir apoio financeiro da Coroa Espanhola para sua
 
expedição, até a chegada e “conquista” da América.Senhor, porque sei que tereis prazer com a grande vitória que Nosso Senhor me deu em minha viagem, vos escrevo esta, pela qual sabereis como em 33 dias passei das ilhas Canárias às Índias com a armada que os ilustríssimos rei e rainha nossos senhores me deram, de onde eu achei muitas ilhas povoadas com gente sem número; e de todas elas tomei posse por Suas Altezas com brasão e bandeira real estendida, e não me foi objetado.
Apesar de o tema empreendedorismo ter ganhado repercussão e importância mundial nos últimos tempos, ele já é estudado e praticado em empresas do mundo todo há muitos anos. Muitas corporações têm procurado se renovar a fim de acompanhar o rápido desenvolvimento tecnológico mundial. Nesse contexto, empreendedorismo significa fazer algo novo, diferente, sempre com o objetivo de buscar novas oportunidades de negócios.
Leia a seguir o que é empreendedorismo para alguns estudiosos desse assunto:
Empreendedorismo – processo de criar algo novo, assumindo os riscos e as recompensas.
(HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2008)
Empreendedorismo significa fazer algo novo, diferente, mudar a situação atual e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócio, tendo como foco, a inovação e a criação de valor.
(DORNELAS, 2003)
O empreendedorismo é um termo que implica uma forma de ser, uma concepção de mundo, uma forma de se relacionar. O empreendedor é um insatisfeito que transforma seu inconformismo em descobertas e propostas positivas para si mesmo e para os outros. É alguém que prefere seguir caminhos não percorridos, que define a partir do indefinido, acredita que seus atos podem gerar consequências. Em suma, alguém que acredita que pode alterar o mundo.
(DOLABELA, 2008)
As definições para empreendedorismo são várias, mas sua essência se resume em fazer diferente, empregar os recursos disponíveis de forma criativa, assumir riscos calculados, buscar oportunidades e inovar.
(MAXIMIANO, 2005)
Empreendedorismo é o processo de criação de valor, através da utilização dos recursos de forma diferente, buscando explorar sua oportunidade.
(STEVENSON, 1993)
A definição de empreendedorismo possui quatro componentes principais:
1. Processos: podem ser gerenciados, subdivididos em partes menores, e aplicados a qualquer contexto organizacional.
2. Criação de valor: os empreendedores, geralmente, criam algo novo onde não havia nada antes. Esse valor é criado dentro das empresas e no mercado.
3. Recursos: os empreendedores utilizam os recursos disponíveis de forma singular, única, criativa. Eles combinam muito bem os recursos financeiros, pessoas, procedimentos, tecnologia, materiais, estruturas, etc. Esses são os meios pelos quais os empreendedores criam valor e diferenciam seus esforços.
4. Oportunidade: empreendedorismo é dirigido à identificação, avaliação e captura de oportunidades de negócios. É a perseguição de oportunidades sem haver preocupação, inicialmente, com os recursos sob controle (os quais o empreendedor/empresa já possuem), ou seja, sem colocar restrições iniciais que poderiam impedir o empreendedor de buscar tal oportunidade (BABSON).
Timmons considera os empreendedores exímios identificadores de oportunidades, aqueles que são capazes de criar e de construir uma visão sem ter uma referência prévia, isto é, são capazes de partir do nada. O empreendedorismo é um ato comportamental, humano, de criatividade. Eles assumem riscos calculados, tentam entender seu ambiente e controlar o máximo de fatores possíveis para que seu empreendimento dê certo. Para isso, os empreendedores utilizam sua habilidade de persuasão para formar uma equipe de pessoas com conhecimentos complementares, as quais buscarão implementar e gerenciar um novo negócio ou projeto empresarial para capitalizar sobre a oportunidade identificada.
(MORRIS; KURATKO, 2002)
Por meio da leitura desses conceitos, é possível depreender que o empreendedorismo está presente em diversas e diferentes perspectivas, inclusive, na vida pessoal.
E foi por causa da ação empreendedora que a sociedade promoveu, e continua a promover, o desenvolvimento tecnológico, a evolução, e o estudo das ciências, bem como o desenvolvimento empresarial, que é o principal objeto de estudo deste livro.Para refletir:
Como seria o mundo hoje sem a imprensa? Sem o computador? Já pensou nisso?
Você consegue imaginar o mundo sem a imprensa, sem os jornais impressos? Sabe como eles surgiram? A técnica de impressão com moldes já era desenvolvida há bastante tempo na China, mas as inovações que o alemão Johannes Gutenberg conferiu a ela foram fundamentais. Ele inovou, por exemplo, no molde das letras, que passaram a ser feitas de um material bem mais resistente do que o usado pelos chineses. Além disso, alterou também o processo de impressão. Na prensa de Gutenberg, a tinta é colocada numa plataforma que desliza até a parte inferior de uma estrutura metálica; então, uma prensa é acionada por meio de uma barra que provoca a compressão, fazendo com que a estrutura que suporta o papel o “carimbe” com os moldes das letras, com toda força, imprimindo, assim, a letra no papel.
Computador de uso pessoal, um dos inventos
 
do século XX que revolucionaram
 
a comunicação entre as pessoas de todo
 
o mundo. Graças ao empreendedorismo
 
dos engenheiros J. 
Presper
 
Eckert
 e
 
John 
Mauchy
, foi criado o primeiro computador
 
a válvulas, o 
Eniac
 (
Eletronic
 
Numeric
 
Integrator
 
and
 
Calculator
) e,
 
a partir dele, conseguiu-se chegar aos
 
que temos hoje em nossas casas.
Sem o advento do computador, Bill Gates e Steve Jobs certamente não seriam os dois mais importantes empreendedores do mercado da informática.
Até os dias de hoje, é comum atribuir o termo “empreendedorismo” ou “empreender” ao processo de criação de uma empresa, abrir um negócio próprio e ser empresário. Não está errado relacionar empreendedorismo com empresa ou criação de negócios, pois é justamente nesse contexto que geralmente os conceitos e práticas de empreender são aplicados e desenvolvidos, porém o empreendedorismo vai além disso, podendo ser visualizado e aplicado em outras dimensões que extrapolam o mundo empresarial.
Para entender o conceito de “empreender”, faz-se necessária uma análise de alguns dos principais fatos que compõem a história. Por meio do estudo de Hisrich, Peters e Shepherd (2008), é possível verificar que o conceito de “empreender” vem sendo aprimorado com o passar dos anos:
	Século XIII
	O empreendedorismo começa a ser observado no comportamento empresarial a partir da característica de “intermediação” ou “intermediário”. Essa característica é observada em Marco Pólo, que, como empreendedor, tentou estabelecer rotas comerciais com o Extremo Oriente, assumindo os riscos da operação comercial e garantindo o retorno financeiro à pessoa que disponha do recurso financeiro.
	Final da Idade Média
	O empreendedor não assume riscos; ao contrário, é considerado um administrador ou participante de projetos de produção, como a construção de obras arquitetônicas, ou seja, sua ação está relacionada diretamente a funções administrativas.
	Século XVII
	O empreendedor passa a ter o risco variável determinante para competir diante das oportunidades, assumindo todos os lucros ou perdas que venham a ocorrer. O empreendedor é visto como alguém que corre riscos e geralmente firma acordos contratuais com o governo para desempenhar determinados serviços ou fornecer produtos.
	Século XVIII
	O termo “empreendedorismo” sofre pequenas alterações. Há uma diferenciação entre a pessoa que oferece capital financeiro em busca de uma alta taxa de retorno daquela que necessita desse capital para empreender. Assim, o empreendedor passa a não ser caracterizado como aquele que “fornece o capital”.
	Século XIX ao XXI
	O empreendedor passa a ser visto na perspectiva econômica, segundo qual opera e organiza uma empresa para o seu lucro pessoal. Surge, então, o conceito do empreendedor como inovador nas organizações, explorando as invenções e aprimorando a tecnologia e métodos de produção na busca do lucro financeiro.
Esse breve relato histórico mostra que alguns enfoques do empreendedorismo se fazem presentes até os dias atuais, como assumir riscos, gerenciar processos de produção, promover invenções tecnológicas, intermediar negociações comerciais, qualificar o processo tecnológico e produtivo, obter lucro financeiro, o que permite concluir que o empreendedorismo é um conjunto de práticas e experiências. Porém, ao analisar a maior parte dos enfoques das definições presentes nas literaturas sobre o empreendedorismo, é possível observar que a maior parte delas direciona para uma conceituação em que se priorizam as perspectivas econômico-financeiras, segundo as quais o empreendedor tem como objetivo final o lucro financeiro.
Ao mesmo tempo, com os desafios do século XXI, existe a tendência de que as condições e os fatores que determinam as relações sociais, culturais e tecnológicas cada vez mais venham a contribuir para mudanças e a absorção de novas perspectivas em relação ao empreendedorismo.
Apesar de na maior parte das organizações a prática empreendedora ainda ter grande enfoque econômico e financeiro, é possível notar que essas outras perspectivas – como desenvolvimento humano, social, cultural e ambiental – começam a ganhar destaque e serem debatidas no meio acadêmico e empresarial.
Até alguns anos atrás, e ainda na atualidade, quando questionada sobre o objetivo de um empreendimento, a maior parte dos empreendedores respondia que é o lucro financeiro. Ainda segundo essa visão, o empreendedor apenas correria riscos ou investiria em inovação se houvesse retornos financeiros consideráveis diante do capital investido.
O lucro financeiro é importante e fundamental para viabilizar economicamente um empreendimento, mas atualmente o contexto começa a exigir que os empreendedores percebam que o lucro financeiro por si só não é o principal objetivo de uma empresa.
Muitos empreendimentos fracassaram em decorrência da preocupação excessiva com o aspecto financeiro. Nesse caso, o empreendedor parece não compreender que o lucro é consequência da qualidade de toda a cadeia de operação, que se inicia com os fornecedores, até chegar ao cliente final.
Além disso, a busca incansável e desenfreada pelo lucro financeiro, aliada à falta de ética, resultou em marginalidade, fome, exclusão social, desmatamento, desequilíbrios ambientais e tantos outros. Não se deve atribuir tais resultados única e exclusivamente ao enfoque econômico, mas, devido a essa “miopia” estratégica e orientação voltada ao recurso financeiro, as relações humanas, e sociais, fundamentais e necessárias para um processo de inclusão e desenvolvimento social, foram despersonalizadas.
Com base nessas reflexões, observa-se que o conceito de “empreendedorismo” vem passando por mudanças, acompanhando as modificações sociais. É importante estudar e debater esse novo conceito, a fim de que se determinem as prioridades e os melhores encaminhamentos para o processo de empreender.
Diante desse novo enfoque, surgem novas definições que marcam o início de um novo momento e uma nova realidade do conceito de “empreender”. De acordo com Dolabela (2003):
Empreender significa modificar a realidade para dela obter a autorrealização e oferecer valores positivos para a coletividade. Significa engendrar formas de gerar e distribuir riquezas materiais e imateriais por meio de ideias, conhecimentos, teorias, artes, filosofia.
Percebe-se, portanto, que o lucro financeiro passa a ser meio para um determinado fim, o qual transcende a recompensa financeira e está intimamente ligado à autorrealização pessoal do empreendedor.
Dolabela (2003) acrescenta:
Só o sonho (ou a ideia) não é suficiente para configurar uma ação empreendedora: é preciso transformá-lo em algo concreto, viável, sedutor por sua capacidade de trazer benefícios para todos, o que lhe dá o caráter de sustentabilidade.
O enfoque econômico e financeiro acaba por assumir o papel de instrumento e ferramenta para um determinado processo final, o qual está vinculado à razão de ser do empreendedor.
Esses conceitos podem até parecer utópicose fora da realidade atual das organizações, porém a cada dia é possível ver que as pessoas direcionam os seus esforços para obter melhores condições e resultados positivos nos relacionamentos interpessoais, na sua qualidade de vida e realização profissional, priorizando fazer realmente aquilo de que gostam e que lhes proporciona satisfação e reconhecimento social.
Assim, o empreendedorismo ganha a cada dia um espaço ainda maior na sociedade, vindo a ser uma alternativa para que as pessoas possam ser empreendedores, seja na criação de uma empresa, seja na construção de uma carreira profissional.
Comentário
 - Você sabia que inúmeras pessoas anualmente deixam empregos ou vendem empresas que financeiramente são capazes de gerar altos lucros para se dedicarem a outras atividades profissionais ou investirem em outras empresas para buscar qualidade de vida e melhorar a relação interpessoal com a família e amigos? Esse movimento confirma que empreender está muito além da perspectiva econômica e financeira e intimamente ligada ao sonho, sonho aqui como realização pessoal e profissional, ou seja, à 
autorrealização
.
Nos últimos anos, muitos avanços estão sendo realizados nesta área, principalmente com a publicação de livros, revistas e artigos, capazes de promover uma reflexão muito importante com toda a sociedade envolvida nesse processo, contribuindo, assim, para diminuir os riscos e erros que geralmente as pessoas acabam cometendo ao empreender um negócio ou uma carreira profissional pela falta de conhecimento e
prática empreendedora.
Empreender é olhar para o passado, compreender e analisar o futuro, atuando no presente com ética e responsabilidade social. Isso significa que empreendedorismo não é um “vale tudo”, em que os fins justificam os meios. Muitas empresas e empreendedores diariamente adotam esse “modelo” que não traz bons resultados.
Comentário
 - O resultado financeiro é muito importante e no processo de empreender
 
ganha a importância de viabilidade técnica para um determinado fim,
 
mas cada vez mais as pessoas estão percebendo que o velho ditado “o
 
dinheiro por si só não traz felicidade” tem fundamento e relação direta
 
com a realidade em que vivem, na qual a busca pela tão almejada felicidade
 
é uma constante.
Indicação de Leitura
O austríaco Peter Ferdinand Drucker (1909-2005), considerado o pai da gestão moderna,
 
foi responsável por um novo entendimento
 
das relações entre as pessoas e a empresa
 
e como elas estão inseridas nas grandes
 
corporações. Entre seus livros mais importantes,
 
estão 
Administrando para o futuro:
 
os anos 90 e a virada do século
, publicado
 
pela Editora 
Cengage
 
Lerning
. Neste livro,
 
discute-se 
a administração hoje e antecipa
-se o amanhã, sempre tendo como foco as
 
pessoas nas organizações.
 
Para Drucker, a inovação é a palavra-chave
 
para empreender com sucesso.
José Carlos Assis Dornelas é um dos mais
 
respeitados estudiosos do processo empreendedor
 
e dos negócios corporativos no Brasil.
 
Engenheiro de formação, Dornelas tem,
 
nos últimos anos, dedicado-se a estudar e a
 
ensinar o universo corporativo, em especial o
 
tema empreendedorismo, em várias escolas
 
de negócios do Brasil, tanto como professor
 
quanto como palestrante.
Indicação de filme
Bee 
Movie
: a história de uma abelha 
(
Bee
 
Movie
), direção de Steve 
Hickner
 e Simon J.
 
Smith, Estados Unidos, 2007, DreamWorks
 
SKG, 90 min.
A abelha Barry B. Benson formou-se recentemente na universidade e seu sonho é ter um emprego na 
Honex
, local onde poderá produzir mel. Como fazer isso, então? Ela se aventura fora da colmeia e descobre um mundo de oportunidades. Conhece a florista Vanessa 
Bloome
, com quem quebra as regras das abelhas, e passa a manter, regularmente, uma amizade. Essa amizade faz com que Barry conheça melhor os humanos. Porém, Barry descobre que qualquer pessoa pode comprar mel nos supermercados, o que o deixa profundamente bravo por considerar que estão roubando a produção das abelhas. Então, ele decide processar os humanos, na intenção de corrigir essa injustiça.
O que Barry B. Benson tem a ver com empreendedorismo? 
Barry foi capaz de perceber um mundo novo, cheio de novas oportunidades, o que o levou a quebrar paradigmas e constatar que poderia fazer coisas novas, ousar e arriscar, mesmo fora de seu 
habitat
.
ADICIONAR LEITURA COMPLEMENTAR
REFERÊNCIAS
O empreendedorismo no Brasil
Em algum momento da sua vida, provavelmente você já deve ter ouvido a seguinte afirmação: “O Brasil é o país das oportunidades, é o país do futuro”.
Mas, diariamente, na imprensa falada e escrita, a sociedade brasileira acompanha notícias nos meios de comunicação que não evidenciam essa afirmação. Escândalos
envolvendo falta de ética e profissionalismo no âmbito governamental e empresarial acabam por gerar pessimismo e descrença na capacidade empreendedora do Brasil. Por causa disso, é comum as pessoas fazerem comentários negativos, mas não esboçarem nenhum movimento para a mudança desse cenário. O ideal é o equilíbrio: nem excesso de otimismo, nem de pessimismo. Dessa forma, é fundamental observar que olhar somente sob uma perspectiva, seja ela positiva, seja negativa, não contribui para “empreender o empreendedorismo”. É preciso enxergar e entender a realidade presente sem se esquecer de olhar o passado.
A administração vem a contribuir e muito nesse aspecto por meio da abordagem contingencial, que estabelece que situações diferentes exigem práticas diferentes, apregoando o uso combinado (ou não) de todas as teorias tradicionais, comportamentais e de sistemas para resolver problemas das organizações (SILVA, 2008).
Empresas como Arapuã, Mesbla, entre outras, que faliram ou passam por dificuldades, são exemplos de que um direcionamento estratégico que há vinte anos foi capaz de gerar lucros e competitividade estratégica, não mais atendem às expectativas e demandas de mercado, diante dos cenários atuais, tornando-se obsoletas e orientadas para o fracasso.
Ou seja, não podemos julgar ou avaliar um cenário apenas diante de um resultado ou um aspecto em destaque. Deve-se, sim, entender e enxergar o todo, por meio de uma visão holística e sistêmica, em que não existe plenamente certo ou errado, mas, sim, o “depende”.
Leia o trecho de uma reportagem sobre o Grupo Angeloni, que demonstra preocupação em se adaptar às demandas atuais de mercado:
	O DESBRAVADOR DO VAREJO
Holística 
Que busca a compreensão integral dos fenômenos, em oposição ao procedimento analítico em que seus componentes são tomados isoladamente.Ao adotar a modernidade e o pioneirismo como características, o Grupo Angeloni tornou-se referência entre as redes de supermercados do país Cruzar os 205 quilômetros que separam a cidade de Criciúma da capital Florianópolis não é fácil. A BR-101 mais parece uma sequência de desvios do que uma estrada federal. O que era para ser feito em duas horas exige o dobro de tempo. “É por isso que não saio mais daqui. Detesto andar atrás dos outros, quero sempre estar na frente”, afirma Antenor Angeloni, fundador ao lado do irmão Arnaldo, do Grupo Angeloni, formado por 20 supermercados, quatro postos de combustíveis e 19 farmácias espalhados pelos estados de Santa Catarina e Paraná. Homem de poucas palavras, físico privilegiado para os seus 73 anos e olhar atento ao que acontece ao seu redor, ele conta que sempre se sentiu atraído por desbravar mercados. “Sou curioso, aberto a novidades e disposto a implantar em meus negócios o que possa melhorar a vida do cliente e torná-lo mais fiel”, diz. “Se isso significar pioneirismo, melhor”.
A rede de supermercados Angeloni, que atendeu 26,7 milhões de clientes em 2008, é referência regional e traz no DNA a marca de seu criador: olhos voltados para o futuro. Seu traço de pioneirismo reporta à suaprópria criação, em 1959, quando se apresentou como o primeiro autosserviço do estado. Cinco décadas mais tarde, é vista como desbravadora do comércio digital no segmento. Implantou sua loja virtual em 1999 e há três anos saiu na frente, sendo a primeira do ramo a vender produtos pelo celular. Hoje, 1% do faturamento da Angeloni, estimado em R$ 1,4 bilhão para este ano, é decorrente das transações on-line e a expectativa é de um crescimento anual médio de 25% até 2011.
“O grande diferencial do comércio eletrônico praticado pela Angeloni não está apenas no uso da tecnologia de ponta, mas na forma de servir o consumidor”, afirma Edson Doria, diretor de novos negócios do grupo. Ao contrário da maioria das empresas, o cliente – responsável por cerca de 42 mil pedidos por ano só na área de alimentos – pode fazer suas compras on-line e retirá-las na loja física ou optar pela entrega em domicílio; receber os pedidos no mesmo dia, em cinco diferentes horários; enviar o pedido de compra por fax ou e-mail; adquirir alimentos fracionados de acordo com as suas necessidades e retirar nas lojas frutas, verduras e perecíveis com hora marcada.
Paralelamente, os 700 mil membros do Angeloni Clube, portadores do cartão fidelidade da marca, podem fazer suas compras também pelo celular, tendo à disposição um catálogo com 8 500 produtos, entre eles eletrônicos. “Basta baixar o programa gratuito que é instalado na primeira vez que o consumidor entra no site da rede via celular”, diz Doria. De acordo com o executivo, a transmissão da imagem do código de barras de cada produto ou a indicação dos números de identificação viabilizam a compra. O pagamento pode ser feito com cartão de crédito, dinheiro ou cheque, com entrega na loja física ou em domicílio. “A proposta é estar sempre na vanguarda do comércio eletrônico do país, além de oferecer ao cliente o máximo de canais de venda possível”, afirma Doria. “O novo site, que deverá entrar no ar no próximo semestre, trará novos canais de interatividade, como blogs e chats, e ampliará os limites de entrega das vendas eletrônicas para além de Santa Catarina. A ideia é atender a região Sul e depois, aos poucos, abranger todo o país.”
[...]
SIMÕES, Katia. O desbravador do varejo.
Pequenas empresas & Grandes negócios, São Paulo, maio 2009.
Comentário
 - Você sabia que de acordo com o relatório Global 
Entrepreneurship
 Monitor
 
(GEM) – em que são publicados os principais indicadores sobre as ações e perspectivas empreendedoras mundiais –, o Brasil, nos últimos anos, aparece em destaque pela sua capacidade de empreender (criar oportunidades de negócio/novas empresas)? Contudo, esse fato não é tão positivo quanto se pode supor: a maior parte desses empreendimentos surge pela necessidade do empreendedor de possuir uma
 
renda, fragilizando, dessa forma, a competitividade do negócio e aumentando
 
as chances da falência precoce do empreendimento.
Os estudos acerca do empreendedorismo no Brasil são ainda recentes e necessitam de muitos anos pela frente para que a sociedade brasileira tenha a oportunidade de consolidar conceitos, experiências e práticas já consolidadas nesse processo de forma a proporcionar e qualificar a competitividade dos empreendimentos.
Um dos principais fatores que incentivaram o início do estudo e aprofundamento das discussões acerca do empreendedorismo está relativamente ligado às micro e pequenas empresas. Ao verificar os números que compõem o porcentual das micro e pequenas empresas em atividade no Brasil, constata-se que, nas últimas décadas, apesar de não terem uma expressiva representatividade econômica e tributária, essas
empresas têm uma grande importância social.
Diante das limitações existentes nas micro e pequenas empresas – tais como escassez de recursos financeiros, falta de qualificação profissional e empresarial, falta de planejamento estratégico, orientação mercadológica, má gestão financeira – verifica-se, como resultado, uma baixa competitividade.
Grande parte dos empreendimentos que surgem no Brasil contam, na maior parte das vezes, com empreendedores mal preparados para enfrentar todas as dificuldades e desafios mercadológicos que surgem ao longo do processo. Na maioria das vezes, essas características implicam a falência do empreendimento, caracterizando a mortalidade empresarial.
Diante desse resultado de falência e fechamento precoce de empreendimentos, gerador de um prejuízo social e econômico muito grande ao país, a partir do início de 1980 começaram a surgir as primeiras políticas públicas para as micro e pequenas empresas, como o Sebrae (Serviço Nacional de Apoio a Empresa). Por meio de ações competentes e eficazes, direcionadas aos micro e pequenos empreendedores, com o objetivo de promover a competitividade e a longevidade desses empreendimentos, o Sebrae realiza a capacitação, formação e preparação e orientação dos micro e pequenos empreendedores. Muitos empreendimentos já passaram pelo Sebrae, assim como vários outros surgiram devido ao apoio dessa instituição.
Dica
 - A cada ano, o GEM realiza uma avaliação das práticas empreendedoras
 
no mundo, inclusive no Brasil. Acesse os 
links 
abaixo e consulte o
 
relatório do GEM:
Relatório Brasil – www.agenciasebrae.com.br
Relatório Global – www.gemconsortium.org
O estudo do empreendedorismo no Brasil
Ainda é comum nas instituições de ensino o estudo do empreendedorismo ser direcionado para a dimensão econômica do empreendedorismo – o lucro.
De acordo com Dolabela (2003):
O tema central do empreendedorismo no Brasil deve ser a construção do desenvolvimento humano e social, includente e sustentável. A eliminação da exclusão social tem que constar de qualquer política educacional em nosso país e confrontar a ideia tradicional do empreendedorismo centrado no fazer empresarial, que, por ter como prioridade o crescimento econômico, habitualmente concentra renda, reproduzindo assim padrões socieconômicos geradores de miséria.
O conceito de “empreendedorismo”, portanto, vai além do lucro e cabe às instituições de ensino tratar desse conceito com a dimensão que ele verdadeiramente tem.
Toda a sociedade brasileira deve perceber, principalmente os alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, que se faz necessária uma mudança na educação brasileira, pois os alunos de hoje serão a força de trabalho das empresas no futuro.
Constantemente as empresas requisitam, em seus processos seletivos profissionais, que os funcionários saibam trabalhar em equipe e tenham capacidade de inovação, planejamento, organização, controle, requisitos fundamentais para a competitividade empresarial. Agora, pense: será que estamos formando e preparando alunos com essas características?
Nas empresas, é comum encontrar pessoas que têm dificuldades para trabalhar em equipe e que, por esse motivo, são incapazes de desenvolver aptidões para o empreendedorismo.
A esse respeito, leia entrevista com o pai de Bill Gates, Bill Gates Senior, para a revista Época, sobre a infância, a educação e o talento de seu filho.
	BILL GATES SENIOR – “FOI UMA DECISÃO INTELIGENTE”
Como criar um filho genial? O pai de Bill Gates diz que acertou ao dar a ele liberdade
total para ir atrás de seus sonhos na adolescência
Decisão
Mesmo antes de nascer, em 1955, Bill Gates já tinha um apelido familiar que o acompanharia até hoje: Trey. A ideia surgiu da necessidade de distingui-lo do pai e do avô – ambos também chamados William (ou Bill, no diminutivo) Henry Gates. Erefletia também a paixão da família Gates pelos jogos de cartas – Trey é o nome dado nos Estados Unidos à carta de número 3 do baralho. Desde a adolescência, Trey tinha espírito empreendedor. Aos 17 anos, fez sua estreia no mundo dos negócios. Com Paul Allen – futuro cofundador da Microsoft – e outro amigo desenvolveu um minicomputador, chamado Traf-O-Data, para automatizar o sistema de controle de tráfego de veículos. Depois de ensaiar exaustivamente a apresentaçãodo produto com seus pais, Trey convenceu alguns funcionários da prefeitura de Seattle, onde morava, a ir até sua casa. No encontro, o Traf-O-Data falhou. Diante do vexame, Trey correu para a cozinha, gritando: “Mãe! Mãe! Venha aqui na sala e conte para eles que
isso funcionou antes”.
Esse e outros detalhes inéditos da trajetória do criador da maior empresa de software do mundo, a Microsoft, são narrados por seu pai, Bill Gates Senior, um advogado de 83 anos, num livro recém-lançado nos Estados Unidos (Showing up for life: thoughts on the gifts of a lifetime ou Aparecendo para viver: reflexões sobre os dons de uma vida, na tradução do inglês). Aos 11 anos, Trey passou a questionar tudo, de temas internacionais a existenciais. Começou também a enfrentar sua mãe, Mary, professora universitária (que morreu em 1994). Ela ainda tentava controlá-lo. A solução foi levar Trey ao terapeuta, que aconselhou o casal Gates a dar asas ao filho. Eles seguiram a sugestão. A partir dos 13 anos, Trey passou a ter uma liberdade rara para sua idade. Passava noites fora de casa usando os computadores da Universidade de Washington. E pôde se dedicar ao Traf-O-Data – que, no final, acabou sendo vendido.
A decisão mais difícil para o casal Gates viria em 1975, quando Trey decidiu largar a Universidade Harvard e se mudar para Albuquerque, onde fundou a Microsoft e começou a criar programas para o primeiro computador pessoal do mundo. Nesta entrevista a Época, Gates Senior afirma que o sucesso do filho no mundo dos negócios mostrou que foi uma decisão “muito inteligente”.
ÉPOCA: Por que sua família chama seu filho de Trey?
Bill Gates Senior: No jogo de cartas, Trey é a carta de número 3. Como Bill ia ser William Gates Terceiro – eu sou o Segundo e meu pai era o Primeiro –, a avó e a bisavó maternas dele, ambas amavam jogar cartas, acharam que daria menos confusão se o chamássemos Trey.
ÉPOCA: Quando seu filho ainda era criança, o que o senhor imaginava que ele se tornaria quando fosse adulto?
Gates Senior: Por um tempo, pensei que ele poderia se tornar advogado. Mas ele se interessou por programas de computador numa idade tão nova que a mãe dele e eu não gastávamos muito tempo imaginando que outra coisa ele poderia fazer na vida. Imaginávamos que ele completaria a faculdade com 20 e poucos anos. Obviamente, fiquei feliz com o título que Harvard conferiu a meu filho em 1997. Foi uma experiência inesquecível e recompensadora assistir à homenagem a meu filho na universidade.
ÉPOCA: Como seu filho era quando criança?
Gates Senior: Ele sempre foi muito curioso. No livro, comento que Bill era insaciavelmente curioso. Além disso, quando ele tinha cerca de 11 anos, desenvolveu uma sofisticação e um conhecimento muito maduro de como o mundo funcionava, algo que não parecia nada comum para uma criança daquela idade. Ele ficou muito interessado por alguns assuntos a que as crianças raramente prestam atenção. Bill fazia muitas perguntas complexas. Para nós, os pais, era interessante, em muitas maneiras prazeroso, mas às vezes era difícil.
ÉPOCA: Quando o senhor percebeu o potencial de seu filho?
Gates Senior: Percebi que ele tinha uma curiosidade mais intensa que a maioria das crianças. Mas não acho que qualquer pai poderia ter previsto que ele teria o sucesso financeiro que alcançou.
ÉPOCA: O fato de seu filho ter se consultado com um terapeuta aos 12 anos de idade foi importante para o senhor perceber que ele precisava de mais independência?
Gates Senior: Foi uma experiência muito útil. Foi importante para a mãe dele e para mim, mas também foi útil para meu filho, em parte porque ele percebeu que estávamos do mesmo lado. Naquela época, foi ótimo, porque fomos capazes de enviá-lo a uma faculdade em que ele foi capaz de descobrir os computadores e de desenvolver aquele que se tornaria seu interesse de toda a vida.
ÉPOCA: Foi difícil dar mais independência a seu filho?
Gates Senior: Não foi difícil para mim, porque eu mesmo tinha tido uma boa independência durante minha infância, tema, aliás, que abordo no livro.
ÉPOCA: Como era a vida social de seu filho durante a adolescência e como isso contribuiu para delinear seu futuro?
Gates Senior: Como a maioria das crianças, Bill passava muito tempo com amigos que compartilhavam os mesmos interesses. Ele era um leitor insaciável e não prestava atenção ao universo dos adultos. Bill também praticava esportes e fazia coisas que outras crianças gostam de fazer. Mas, é claro, seu interesse por software era incomum.
ÉPOCA: Em algum momento o senhor chegou a temer pelo futuro de seu filho? Em particular, como foi quando ele decidiu deixar a universidade?
Gates Senior: A primeira vez que Bill deixou a Universidade Harvard, foi apenas por um semestre. Por isso sua mãe não ficou preocupada demais. Quando ele deixou Harvard pela segunda vez, pouco tempo depois, é que nos preocupamos, de uma maneira similar a qualquer pai que deseja ver seus filhos concluírem um curso superior. Mas Bill era apaixonado pela ideia de que uma janela de oportunidade estava se abrindo e que o software seria algo muito importante. Ele acreditava que, se ficasse na faculdade, poderia perder essa janela e, é óbvio, o tempo e as circunstâncias mostram que aquela decisão foi muito inteligente. Mas, é claro, também não sabemos o que teria acontecido se ele tivesse ficado na faculdade e obtido o diploma.
ÉPOCA: O que seu filho disse quando decidiu deixar Harvard?
Gates Senior: Ele foi inteligente. Ele disse que queria tentar trabalhar com Paul Allen, mas, se as coisas não dessem certo, retornaria a Harvard. Na verdade, oficialmente ele nunca abandonou a universidade, estava apenas de licença. Hoje, tenho certeza de que ele não pretendia retornar nunca.
ÉPOCA: A criação que seu filho recebeu explica seu sucesso? Ou há outros fatores que o senhor consegue identificar, como o genético?
Gates Senior: Não acho que exista um fator que possa explicar o sucesso de Bill – e tenho certeza de que ele diria a mesma coisa. Ele sempre foi muito trabalhador, curioso. Ele pensa analiticamente e independentemente. Uma coisa que ele nos diria é que ele foi extraordinariamente sortudo, apenas pelo local onde nasceu e pelas oportunidades que estavam disponíveis. Bill é o primeiro a reconhecer que, se tivesse nascido sob circunstâncias diferentes – como no Congo, por exemplo –, nunca teria a oportunidade de ser um sucesso nos negócios. Ele é muito agradecido por todas as vantagens que teve.
ÉPOCA: Que conselhos o senhor daria a alguém educando uma criança que não é Bill Gates III?
Gates Senior: Eu diria a qualquer pai que ele deve encorajar os filhos a continuar aprendendo, estudando e para fazer o que for possível para criar oportunidades e estímulos atraentes para tornar o aprendizado divertido e interessante. Os pais deveriam também fazer o máximo para que um filho tenha o melhor professor. Um grande professor pode inspirá-lo a fazer coisas ótimas. Por isso, é importante se envolver com a educação. Na verdade, mesmo se você não tiver filhos, pode ainda ter um papel importante ajudando as crianças de sua comunidade a ter acesso a bons professores. Envolva-se da maneira que der. É um presente maravilhoso para as gerações futuras. “Eu diria a qualquer pai que ele deve encorajar seus filhos a continuar aprendendo e estudando.”
ÉPOCA: Em sua opinião, quais são os principais ingredientes para o sucesso profissional? Esforço? Talento? Sorte?
Gates Senior: Muita gente bem-sucedida consegue criar sua própria sorte. O que você pode fazer é trabalhar duro em algo de que gosta. Além disso, não é preciso ter um enorme sucesso financeiro para ser um sucesso como pessoa. Fazer algo que você ama e que contribua para a sociedade é maravilhoso. Acabei sendo um advogado que trabalhava principalmente com assuntos comerciais, mas tenho um profundo respeito e admiração por quem ajuda os outros, especialmente médicos, professores e pesquisadores.
ÉPOCA: O senhor acredita que Bill III dá aostrês filhos dele a mesma educação
que recebeu? Quais as diferenças?
Gates Sênior: Tenho certeza de que não é a mesma coisa, porque as crianças dele são diferentes, e os tempos são diferentes. Sei que garantir uma grande educação para as crianças é uma prioridade para todos os meus três filhos – e eles permanecem atentos para garantir que isso aconteça.
ÉPOCA: Era mais fácil educar uma criança no passado, há 40 anos?
Gates Sênior: Nunca é fácil educar uma criança. No passado, a família e os vizinhos estavam sempre perto para ajudar. Certamente há mais famílias agora em que ambos os pais trabalham. Mas as crianças hoje também têm oportunidades que não existiam há 40 anos, incluindo a chance de se tornar engajadas em temas globais numa idade muito mais jovem.
[...]
ÉPOCA: Quem convenceu seu filho a praticar a filantropia?
Gates Sênior: Ele começou a dedicar recursos consideráveis à filantropia quando ainda estava com 40 e poucos anos. Antes, estava muito ocupado na construção da Microsoft. A influência da mãe dele não pode ser esquecida. Ela acreditava firmemente que devemos contribuir com a sociedade. Ela teve uma forte influência sobre Bill e teria ficado muito orgulhosa da pessoa que ele se tornou.
[...]
CAMINOTO, João. Bill Gates Senior – “Foi uma decisão inteligente”. Época, São Paulo, n. 573, 9 maio 2009.
SAIBA MAIS
PANORAMA MUNDIAL DO EMPREENDEDORISMO EM 2008
O Brasil ocupou a 13.a posição no ranking mundial de empreendedorismo realizado pelo Global Entrepreneurship Monitor em 2008. A Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) brasileira foi de 12,02 o que significa que de cada 100 brasileiros 12 realizavam alguma atividade empreendedora até o momento da pesquisa. Essa taxa está relativamente próxima da média histórica brasileira, que é de 12,72. Pela primeira vez desde que a pesquisa foi iniciada no Brasil, o país ficou fora do grupo dos dez países com maiores taxas de empreendedorismo. A mudança se deve principalmente à alteração no conjunto de países participantes da pesquisa GEM 2008 e não significa necessariamente uma piora relativa do Brasil. Países como Bolívia, Angola, Macedônia e Egito realizaram a pesquisa GEM pela primeira vez neste ano e ocuparam posições entre os dez países com as maiores taxas de empreendedorismo.
A TEA apresentada pelo Brasil em 2008 ficou próxima das taxas obtidas por Uruguai (11,90) e Chile (13,08) e semelhante também às apresentadas por Índia (11,49) e México (13,09).
Os países da América Latina e Caribe foram os mais empreendedores na rodada da Pesquisa GEM em 2008. A Bolívia ficou em primeiro lugar, com uma TEA de 29,82, o que significa que um em cada três bolivianos desempenhou alguma atividade empreendedora. O Peru ocupou o segundo lugar no ranking, com uma TEA de 25,57, ou seja, um em quatro peruanos realizou atividades empreendedoras. No outro extremo do ranking, pode-se observar que os últimos lugares foram ocupados por países desenvolvidos, com a Bélgica em último lugar, precedida por Rússia e Alemanha. As informações sobre os cinco países com a maior TEA e os cinco últimos países encontra-se na [primeira] tabela. A diferença na TEA entre o primeiro e o último do ranking da pesquisa GEM 2008 foi de cerca de dez vezes, o que demonstra uma grande heterogeneidade nas condições empreendedoras no mundo.
Outra comparação possível é quanto ao número de empreendedores estimado para cada país [segunda tabela]. Quando se considera essa abordagem, a posição dos países no topo e na base do ranking se altera. A Índia é o país com a maior população de indivíduos desempenhando alguma atividade empreendedora. Nesse aspecto, o Brasil ocupa o terceiro lugar, atrás apenas de Índia e Estados Unidos. A pesquisa mostra também que para cada empreendedor na Islândia (país com a menor estimativa de empreendedores) existem 4 224 empreendedores na Índia e 813 empreendedores no Brasil. Os Estados Unidos são o único país desenvolvido que figura entre os cinco primeiros no quesito número de empreendedores, com mais de 20 milhões de pessoas em atividades empreendedoras.
	PAÍSES COM MAIORES E MENORES TAXAS
DE EMPREENDEDORISMO NO MUNDO
	Países
	TEA 2008
(%)
	Posição
(43 pa íses)
	Estimativa de
empreendedores
	Maiores
taxas
	
	
	
	Bolívia 
	29,82
	1
	1 192 000
	Peru 
	25,57
	2
	4 358 000
	Colômbia 
	24,52
	3
	6 571 000
	Angola 
	22,75
	4
	1 342 000
	República
Dominicana
	20,35
	5
	1 012 000
	Média
do grupo
	24,59
	–
	2 895 000
	Menores
taxas
	
	
	
	Dinamarca 
	4,04
	39
	138 000
	Romênia 
	3,98
	40
	583 000
	Alemanha 
	3,77
	41
	1 950 000
	Rússia 
	3,49
	42
	3 298 000
	Bélgica 
	2,85
	43
	167 000
	Média
do grupo
	3,36
	–
	1 227 200
Fonte: Pesquisa GEM, 2008
	ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO EMPREENDEDORA
	Países
	TEA 2008
(%)
	Posição
(43 pa íses)
	Estimativa de
empreendedores
	Maiores
estimativas
	
	
	
	Índia 
	11,5
	15
	76 045 000
	Estados
Unidos
	10,8
	16
	20 546 000
	Brasil
	12,0
	13
	14 644 000
	México
	13,1
	11
	8 412 000
	Colômbia 
	24,5
	3
	6 571 000
	Total
do grupo
	14,4
	–
	126 218 000
	Menores
estimativas
	
	
	
	Irlanda 
	7,6
	24
	166 000
	Dinamarca 
	4,0
	39
	138 000
	Letônia 
	6,5
	30
	96 000
	Eslovênia 
	6,4
	32
	86 000
	Islândia
	10,1
	17
	18 000
	Média
do grupo
	3,36
	–
	504 000
Fonte: Pesquisa GEM, 2008.
Finanças e presidentes de Bancos Centrais de 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A União Europeia também é membro, representada pelo presidente rotativo do Conselho da União Europeia e pelo presidente Banco Central Europeu. Assim, o G-20 congrega importantes países industrializados e emergentes de todas as regiões do mundo. Juntos, os países-membros representam por volta de 90% do Produto Interno Bruto mundial, 80% do comércio internacional (incluindo o comércio interno da UE), assim como dois terços da população do mundo. O peso econômico do G-20 e a grande população que representa dão-lhe elevado grau de legitimidade e influência na condução da economia e do sistema financeiro globais. Do ponto de vista da atividade empreendedora, a escolha do G-20 como ponto de análise se dá pela relevância relativa desse grupo no total de empreendedores. O grupo representa 81,24% do total de pessoas empreendendo no mundo. A terceira tabela traz as informações sobre os membros do G-20 que participaram da Pesquisa GEM 2008.
	Países do g-20 participantes da pesquisa GEM
	Países
	TEA 2008
(%)
	Posição
(43 países)
	Estimativa de
empreendedores
	Argentina 
	16,54
	7
	4 006 000
	México 
	13,09
	11
	8 412 000
	Brasil 
	12,02
	13
	14 644 000
	Índia 
	11,49
	15
	76 045 00
	Estados
Unidos
	10,76
	16
	20 546 00
	Coreia 
	9,99
	18
	3 286 000
	Grécia 
	9,86
	19
	673 000
	África do Sul 
	7,76
	23
	2 006 000
	Turquia
	5,96
	33
	2 705 000
	Reino Unido
	5,91
	34
	2 274 000
	França
	5,64
	35
	2 221 000
	Japão
	5,42
	36
	4 267 000
	Itália
	4,62
	38
	1 703 000
	Alemanha 
	3,77
	41
	1 950 000
	Rússia
	3,49
	42
	3 298 000
	Países G-20 
	8,42
	–
	148 036 000
	Países GEM 
	10,48
	–
	186 202 000
Fonte: Pesquisa GEM, 2008
Dentre os integrantes do G-20, não participaram da pesquisa GEM 2008 os seguintes países: Austrália, Canadá, China, Indonésia, Arábia Saudita e União Europeia (que tecnicamente não é um país, mas tem assento no G-20). A ausência da China na pesquisa deste ano é relevante, pois pela estimativa do ano passado a sua participação representa mais da metade do total de empreendedores do mundo (GEM 2007, p. 29). Os países representados pelo G-20 apresentam uma característica que também é encontrada no conjunto total de países GEM. Os paísesconsiderados mais desenvolvidos obtiveram taxas de empreendedorismo mais baixas que os países do grupo com desenvolvimento relativamente menor. Os Estados Unidos são a exceção a essa regra, pois é desenvolvido, mas apresenta taxas de empreendedorismo semelhantes às dos países de estágio de desenvolvimento intermediário, como o Brasil. O G-20 apresenta uma TEA média de 8,42, enquanto a média geral da pesquisa GEM é de 10,48. A TEA relativamente menor desse grupo de países precisa ser considerada em conjunto com o número estimado de empreendedores, que nesse caso representa quase 150 milhões de empreendedores, ou, como dito anteriormente, mais de 80% do total de empreendedores.
A Argentina é o país com a maior TEA entre os integrantes do G-20, com uma taxa de 16,54. Em seguida, vem o México, com 13,09. O Brasil é o terceiro país mais empreendedor do G-20 se considerada a TEA. No que se refere à estimativa de empreendedores desse grupo, os três países com maior número de pessoas desempenhando alguma atividade empreendedora são Índia, com 76 milhões de pessoas, Estados Unidos, com 20 milhões, e Brasil, com 14,6 milhões de pessoas em atividades empreendedoras. A Rússia é o país com a menor TEA entre todos os membros do G-20. No que se refere ao número de pessoas em atividades empreendedoras, a Grécia é a que apresenta o menor valor, sendo o único país do G-20 com menos de 1 milhão de empreendedores. Entretanto, ela ocupa a 7.a posição em taxa de empreendedores.
GRECO, Simara Maria de Souza Silveira et al. Empreendedorismo no Brasil: 2008. Curitiba: IBQP, 2009. Disponível em: <http://www.gembrasil.org.br/home/?pag=16>. Acesso em: 13 ago. 2009.
O empreendedorismo e políticas públicas
A elaboração e aplicação de políticas públicas que promovam o desenvolvimento da sociedade são primordiais para o desenvolvimento de uma nação, pois elas contribuem para o fortalecimento da relações sociais locais, para minimizar problemas sociais e para promover a dignidade dos cidadãos. A partir desse pressuposto, o empreendedorismo começou a ganhar enfoque e importância no desenvolvimento das políticas públicas governamentais em todas as esferas: nacional, estadual e municipal, auxiliando e garantindo o aperfeiçoamento das técnicas de empreendedorismo na sociedade brasileira. Também têm papel de destaque as instituições de ensino que contribuem com a produção científica sobre o assunto e toda a sociedade, que participa ativamente do processo de empreender.
Infelizmente, muitas vezes, é possível verificar, em algumas regiões do país, a falta de interesse, integração e confiança entre os empreendedores. É fundamental entender que ninguém empreende sozinho. O empreendedorismo somente é viabilizado diante da integração de ações eficazes do Estado, com a participação efetiva das instituições de ensino e com a participação e aderência da sociedade. Empreender é diariamente aprender a aprender, e isso não se faz sozinho.
De acordo com Bom Ângelo (2003), existem alguns desafios ao empreendedorismo no cenário nacional:
O país possui nível relativamente alto de atividade empreendedora, no entanto, a maior parte desses indivíduos desenvolve iniciativa por necessidade e não por oportunidade.
A intervenção governamental tem diminuído, mas ainda se manifesta como fardo burocrático.
A disponibilidade de capital é escassa. Para muitos empreendedores o capital é algo difícil de obter. Para piorar, os programas de financiamento existentes não são bem divulgados.
A falta de tradição e o difícil acesso aos investimentos continuam a ser os principais obstáculos à atividade empreendedora no Brasil. Existe necessidade urgente de estimular as práticas de investimento.
O tamanho do país e suas diversidades regionais exigem programas descentralizados. As diferenças regionais de cultura e infraestrutura também exigem uma abordagem localizada do capital de investimento e dos programas de treinamento.
Infraestrutura precária e pouca disponibilidade de mão de obra qualificada têm impedido a proliferação de programas de incubação de novos negócios fora dos grandes centros urbanos.
Existe a necessidade de aprimoramento no sistema educacional como um todo, o que estimulará a cultura empreendedora entre os jovens adultos. Os programas existentes têm sido percebidos como desconectados da realidade.
Não há proteção legal dos direitos de propriedade intelectual. São altos os custos para registro de patentes no país.
Os mecanismos de transferência tecnológica do exterior são precários.
Segundo Dornelas (2003):
O futuro da organização empreendedora dependerá de executivos ousados, daqueles que não se contentam com resultados imediatos, e que buscam deixar um legado, seu nome na história da corporação. Esses empreendedores sempre foram e continuarão a ser os grandes responsáveis pelas inovações que surgirão nos próximos anos. Não aceitar as coisas como são, as regras predefinidas e a repetição de receitas bem-sucedidas do passado é o primeiro passo para se entrar no mundo do empreendedorismo corporativo.
	Texto I
EMPREENDEDORISMO E AS MPE
Ultimamente, tem-se falado muito a respeito dos problemas enfrentados pelas micro e pequenas empresas (MPE) brasileiras em se estabelecer no mercado após os 3 primeiros anos de vida. Isto porque o índice de mortalidade dessas empresas sempre foi considerado elevado, porém não se tinha dados concretos que fundamentassem essa afirmativa. Chegava-se a dizer que esses números eram da ordem de 80% ou mais, ou seja, a cada 5 novas pequenas empresas criadas no país, apenas uma sobrevivia após o terceiro ano de vida. Pesquisas do Sebrae mostram que esses números não são tão elevados quanto se dizia. Mas também não são animadores a ponto de não nos preocuparmos. O porcentual de mortalidade das MPE na região metropolitana de São Paulo chega a 58% nos três primeiros anos de vida. Esses números podem ser extrapolados para todo o país, segundo o próprio Sebrae, e os resultados não serão tão discrepantes.
O fato é que independente do índice ser 58%, 80% ou outro qualquer, busca-se uma causa principal para esse problema crônico brasileiro, já que essas mesmas MPE são reconhecidamente responsáveis pela maior parcela de empregos gerados no país. Diversas pesquisas e reportagens que veiculam na mídia focam vários aspectos considerados como sendo os grandes causadores desses números. Pode-se citar a crise econômica pela qual passa o país, a falta de incentivos e subsídios do governo às MPE exportadoras, altas taxas de juros, acesso restrito ao crédito, exigência de contrapartidas elevadas ao se pleitear financiamentos junto a bancos, a crescente concorrência estrangeira, entre outros que são diariamente discutidos em vários pontos do país. O que se nota é a constante preocupação em se buscar culpados para os próprios erros e a exagerada preocupação com fatores intangíveis para o empreendedor. Todos esses exemplos citados são verídicos, importantes e preocupantes, porém são fatores de ordem macro e de difícil influência por parte do empreendedor isoladamente. As entidades representativas de sua classe estão aí para defender seus interesses e buscar melhores condições que viabilizem um cenário propício à criação e crescimento de novos empreendimentos.
A pergunta que fica no ar é: E o empreendedor, o que ele pode fazer pelo seu empreendimento? Existe uma importante ação que somente o próprio empreendedor pode e deve fazer pelo seu empreendimento: planejar, planejar e planejar. No entanto, é notória a falta de cultura de planejamento do brasileiro, que, por outro, lado é sempre admirado pela sua criatividade e persistência. Os fatos devem ser encarados de maneira objetiva. Não basta apenas sonhar, deve-se transformar o sonho em ações concretas, reais, mensuráveis. Para isso, existe uma simples, mas para muitos, tediosa, técnica de se transformar sonhos em realidade: o planejamento. Nos Estados Unidos, muito do sucesso creditado às MPE em estágio de maturidade é creditado ao empreendedor que planejou corretamenteo seu negócio e realizou uma análise de viabilidade criteriosa do empreendimento antes de colocá-lo em prática. Segundo o U.S. Small Business Administration, uma das principais razões de falência das MPE americanas é a falta de planejamento do negócio, exatamente como ocorre no Brasil. Quando se considera o conceito de planejamento, têm-se pelo menos três fatores críticos que podem ser destacados:
Toda empresa necessita de um planejamento do seu negócio para poder gerenciá-lo e apresentar sua ideia a investidores, bancos, clientes, etc.
Toda entidade provedora de financiamento, fundos e outros recursos financeiros necessita de um plano de negócios da empresa requisitante para poder avaliar os riscos inerentes ao negócio.
Poucos empresários sabem como escrever adequadamente um bom plano de negócios. A maioria desses são micro e pequenos empresários e não têm conceitos básicos de planejamento, vendas, marketing, fluxo de caixa, ponto de equilíbrio, projeções de faturamento, etc. Quando entendem o conceito, geralmente não conseguem colocá-lo objetivamente em um plano de negócios.
[...]
DORNELAS, José. Plano de negócios – O grande sucesso do empreendedor: Mito ou realidade? Disponível em: http://www.planodenegocios.com.br/dinamica_artigo.asp?tipo_tabela=artigo&id=20>.
Acesso em: 8 jul. 2009.
	Texto II
PROGRAMA BOM NEGÓCIO AJUDA JOVENS EMPREENDEDORES
Ele é destinado a micro e pequenos empresários, formais ou informais
Fluxo de caixa, cálculo dos custos, controle de qualidade e planilhas deixaram de ser um pesadelo para os jovens empresários Rafael Lessa, 22 anos, Nedson Zigoto Junior, 23, e Lucien Borges de Paula, 28, proprietários de uma pequena confecção no Xaxim, depois que os três participaram do curso de capacitação do programa Bom Negócio, da Prefeitura de Curitiba.
Os jovens empresários são donos da confecção Lakesh, produzida no ateliê de ostura da mãe de um deles. As roupas combinam moda esportiva e são confeccionadas em malha de algodão e fio sintético. As estampas em serigrafia também são criadas e produzidas pela dupla de designers Rafael e Nedson.
Para vender as peças, o grupo estilizou uma velha Kombi e transformou o veículo em loja móvel, que percorre, além das vizinhanças da confecção, feiras, eventos, portas de fábricas, universidades e escolas de nível médio. Com uma pintura arrojada, uma mistura de roxo, verde e branco, a loja foi batizada de Kombi Lakesh Store. “O nome é em inglês para dar um charme à marca e ao produto”, diz Rafael Lessa.
Lançado em abril de 2005, coordenado pela Agência Curitiba de Desenvolvimento – empresa responsável pela política de desenvolvimento econômico e empresarial do Município – em parceria com a FAE Centro Universitário, o Bom Negócio é destinado a micro e pequenos empresários, formais ou informais, e empreendedores que sonham em abrir seu próprio negócio.
O Bom Negócio oferece 50 vagas por bairro. Para participar, basta preencher a ficha de inscrição após uma palestra motivacional. Caso o número de interessados ultrapasse o número de vagas, é feito um processo seletivo seguindo alguns critérios na ficha de inscrição. O curso é grátis. O cronograma pode ser consultado pela Internet, na página http://www.agenciacuritiba.com.br.
Empurra-empurra – A Kombi que serve de loja móvel para a confecção Lakesh é dirigida pelo estilista Rafael, marido de Lucien. Lucien e o irmão Leonardo, novo funcionário da confecção, são os encarregados das vendas de porta em porta. No ateliê da empresa, trabalham mais duas costureiras e a modelista Aline de Paula, que desenha peças únicas, outro diferencial do negócio.
A Lakesh, um negócio familiar, com bons produtos e público bem definido – faixa etária entre 16 e 30 anos –, apostou na criatividade e ousadia para ter sucesso. Tudo caminhava dentro do previsto. Os problemas começaram na hora de controlar fluxo de caixa, organizar estoque, calcular custos fixos e variáveis, projetar faturamento ou elaborar planilhas.
Foi aí que começou o jogo de empurra-empurra. Quem fica com a parte chata do negócio? O grupo passou a sentir falta de um administrador, função que nenhum dos empresários queria enfrentar, por falta de um maior conhecimento. “Virou um verdadeiro jogo de empurra”, confirma Lucien. “Chegou num ponto que não dava mais para adiar o enfrentamento da questão”, conta.
“Até que alguém comentou com a gente que a Prefeitura de Curitiba oferecia o curso Bom Negócio para micro e pequenos empresários”, lembra Lucien. “Quando soube que o curso do Bom Negócio era gratuito, até cheguei a pensar que por ser de graça poderia não ser bom”, diz Nedson Zagoto. Apesar da dúvida, ele e os sócios na confecção foram conferir. Todos os envolvidos no negócio, inclusive uma das costureiras, fizeram o curso.
Lucien, que hoje acumula a função de vendedora e administradora da empresa, diz que gostou muito do curso e que está aplicando na empresa todos os conhecimentos adquiridos. E garante que funciona. Quanto ao nível do curso, todos foram unânimes ao reconhecer a qualificação dos professores. “Eles provaram para nós que administrar bem uma empresa não é um bicho de sete cabeças”, afirma Lucien.
Acertos – Em três semanas, os microempresários se familiarizaram com assuntos ligados ao financeiro e à estruturação da empresa. Aprenderam a calcular custos e a resolver outras questões que até então eram enfrentadas de forma intuitiva. Na verdade, vinham aprendendo com os próprios erros. Mas errar significa arcar com um preço demasiadamente alto para pequenos empresários.
Os erros mais comuns, conta Rafael, estavam no setor organizacional e no cálculo da margem de lucro na hora da venda final. O cálculo era feito pela metade, sem contabilizar custos sociais, de produção, fornecedor, etc. “Era feito no embalo das coisas. Depois do Bom Negócio, nossa margem de erro diminuiu em quase 100%”, afirma.
Quando pegou em um supermercado o panfleto que anunciava o lançamento do projeto-piloto do programa Bom Negócio no Jardim Gabineto, em abril de 2005, o operador de empilhadeira Ademir Carmo da Silva, 28 anos, não sabia que o anúncio mudaria sua vida. Mesmo empregado e ainda freqüentando um curso de mecânica no Senac, resolveu participar do Bom Negócio. Ademir ingressou no programa, assistiu a todas as palestras e abriu um restaurante.
“O Bom Negócio mudou a minha vida”, diz o microempresário. Ele é dono do restaurante D’Carmo, rua Dr. Muricy, centro da cidade. Ademir tinha o sonho de abrir uma panificadora, mas foi a palestra motivacional do Bom Negócio que o fez mudar de ideia.
Cada dia mais animado com o que aprendia, Ademir começou a colocar o projeto em prática ainda durante o curso. Chamou a mãe, cozinheira profissional, para ser sócia, e depois mandou confeccionar as cadeiras e mesas do restaurante.
Depois da palestra: “Como ser dono do próprio negócio”, Ademir fez uma pesquisa de campo para escolher o local onde iria instalar seu negócio. Entrevistou 550 pessoas que trabalham ou moram próximo da rua Dr. Muricy, para checar se a região comportaria um novo restaurante e o tipo de comida com maior demanda. O empreendimento emprega seis pessoas da família. Serve, em média, 140 refeições por dia. Feliz com os resultados, Ademir conta que já pensa em abrir um novo restaurante, na mesma região.
BEM PARANÁ. Programa Bons Negócios ajuda jovens empreendedores.
Disponível em: <http://www.bemparana.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUF
VrZDRUMXBYTVU1a01WSjFZMFphYVZadVFsWlVWVkpEVkd4R1ZVMUVhejA9>.
Acesso em: 8 jul. 2009.
Indicação de filme
 - Para um debate sobre empreendedorismo, economia, realidade social
 
e Brasil, assista ao documentário 
Ilha das Flores
, de 1989, direção de
 
Jorge Furtado. Nesse documentário, Ilha das Flores, local de Porto Alegre
 
onde se encontra um dos maiores lixões do Estado, Furtado traça
 
um perfil ácido sobre a sociedade de consumo e as desigualdades sociais
 
no Brasil. Ele acompanha a trajetória de um tomate, desde a sua
 
plantaçãoaté o seu destino, o lixão, onde é descartado por uma dona
 
de casa. Painel interessante sobre empreendedorismo, ética, consumismo
 
e corrupção.
O sucesso empreendedor: sorte ou competência?
O sucesso empreendedor
A palavra “sucesso”, na maior parte das vezes, está intimamente ligada ao que os empreendedores querem transformar em realidade. Mas o que é sucesso profissional?
Maximiano (2005) teoriza a respeito do sucesso em termos empresariais:
O sucesso de uma empresa é medido por meio de indicadores que se organizam em uma cadeia de causas e efeitos. O indicador mais importante de sucesso é o desempenho financeiro, que depende da satisfação do cliente e da eficiência dos processos. A satisfação do cliente depende da qualidade dos produtos e serviços, que depende, entre outros fatores, do desempenho das pessoas. No final das contas, tudo depende da competência gerencial do empreendedor.
O significado do sucesso empreendedor não está relacionado apenas ao meio empresarial. No empreendedorismo, de forma geral, o sucesso é obtido quando o empreendedor realiza aquilo que havia se proposto a fazer, ou seja, quando transforma o seu “sonho” em realidade. Dessa forma, para alcançar o sucesso, um conjunto de objetivos e estratégias devem estar alinhadas e focadas na visão empreendedora. 
Mas o que é determinante para alcançar o sucesso? Sorte ou competência? Você já deve ter ouvido a seguinte afirmação: O mundo empresarial é competitivo e somente sobrevivem aqueles que se adaptam rapidamente às mudanças que ocorrem no ambiente. Como a maior parte dos empreendimentos ainda está focada na dimensão econômica e financeira, há quem acredite que o sucesso é obtido quando o empreendedor possui patrimônio.
Esse pensamento pode ser exemplificado quando alguém compra um carro novo e ouve os seguintes comentários: “Está ganhando bem, hein?” ou ainda “Um dia eu também serei bem-sucedido como você!”. Agora, analise a situação e reflita: Qual a certeza ou as garantias de que um carro novo confere sucesso a uma pessoa? Será que o carro efetivamente garantiu a essa pessoa transformar o seu sonho em realidade? Será que a realização pessoal ou profissional está completamente tangível na aquisição de um carro novo?
Não se pode menosprezar que a aquisição de um carro novo, ou de algum outro bem material, não traduza a conquista de muitos anos de trabalho e dedicação, mas é preciso considerar o que está além disso. O empreender está muito além de ter bens materiais. Se a conquista de bens materiais não está necessariamente ligada ao sucesso, o que é sucesso?
Leia a seguir entrevista com Alair Martins, fundador do Atacado Martins, publicada na revista Época Negócios:
	“CONQUISTA COM SUOR VALE MAIS”
O mineiro Alair Martins, 75 anos, fundador do Atacado Martins, comprou sua primeira
bicicleta aos 15. “Me senti muito mais realizado do que quando comprei meu avião”
Nasci a 20 quilômetros de Uberlândia, em um sítio onde meus pais trabalhavam
como agricultores. Vivíamos no meio do nada – e a vida pacata não correspondia a meu estilo inquieto. Aos 13 anos, falei para meu pai que estava no lugar errado e pedi para nos mudarmos. Ele não aceitou. Dizia que a cidade era repleta de gente querendo passar a perna umas nas outras. Foram dois anos tentando argumentar, sem sucesso. Então mudei de estratégia: convenci primeiro minha mãe. A opinião dela era a que prevalecia. Dois anos depois, estávamos todos morando na cidade.
No começo do negócio, fiz uso de estratégias muito difundidas hoje, mas pouco comuns na década de 50. Eu comprava cinco produtos em grande escala, à vista, para vendê-los a um preço melhor do que o da concorrência. Fazia estardalhaço, anunciando na rádio da cidade. As pessoas faziam fila do lado de fora da porta do armazém. Depois que estavam lá, atraídas pelo item mais barato, acabavam levando também outras coisas. Minha lojinha de 100 metros quadrados dobrou de tamanho no primeiro ano de vida.
Acredito nas coisas conquistadas com suor e trabalho porque elas te deixam mais realizado. Comprei a primeira bicicleta aos 15 anos, colhendo arroz e feijão de domingo a domingo. Me senti muito mais realizado do que quando comprei meu primeiro avião, porque foi muito mais suado.
Tenho uma relação mais próxima na criação de meus netos do que a que tive com meus filhos. Naquela época, passei dez anos sem tirar férias e trabalhava 16 horas por dia. Há dois anos, toda terça-feira reúno os nove netos em casa para jantarmos e eu contar minha história. Não marco nenhuma reunião ou compromisso neste momento do dia. Eles são a prova de que a nova geração está crescendo muito antenada com o mundo. Uma vez, um neto me perguntou: “Vô, a empresa pretende estender suas atividades também para o exterior?”. Fiquei boquiaberto, porque o menino tinha só 6 anos.
Todo empreendedor quer perpetuar o que criou e pretende que, na sua ausência, a empresa continue. Por isso, uma das coisas mais difíceis é encontrar a pessoa ideal para ficar no seu lugar. Ninguém faz isso de maneira fácil ou rápida.
Quando comecei a preparar a sucessão, indiquei meu filho Juscelino. Mas, ao assumir a presidência do banco e a diretoria-geral do atacado, ele se sobrecarregou. Ficou tão afobado e inquieto que falava aos soluços. Achei que fosse adoecer. Por isso, contratei pessoas do mercado para profissionalizar a empresa. Não sobrou ninguém da família na direção.
Com meus 75 anos, já fiz muito mais do que imaginava e tudo o que eu fizer agora é acréscimo, para minha satisfação pessoal. Não preciso mais ficar me matando de trabalhar, mas tenho minha mesa e meu escritório no mesmo lugar e participo ativamente do conselho da empresa. Enquanto estiver lúcido, assim permanecerei.
TODESCHINI, Marcos. Conquista com valor vale mais. Época Negócios, São Paulo, n. 29, jul. 2009.
A realização é que direciona ao sucesso, e os empreendedores, diariamente, estão em busca de realizações que vão além do enfoque econômico e financeiro, dando espaço à qualidade de vida, por exemplo.
Na busca do sucesso, a sorte existe? Independentemente da sua crença, no empreendedorismo a sorte é muito bem-vinda, porém o sucesso empreendedor, relacionado à sua realização pessoal, depende muito mais da competência empreendedora. Por isso, é possível depreender que a realização de um sonho está muito mais relacionada à competência do que à sorte. Além disso, muitos exemplos do mundo empreendedor evidenciam que, para se ter sorte, faz-se necessária a competência.
Ser um empreendedor competente significa ter autoconhecimento, potencializando e ampliando suas forças e, é claro, corrigindo os seus pontos fracos, que podem ser transformados em oportunidades de melhoria.
Comentário - Esta célebre frase de Albert Einstein retrata muito bem o significado da palavra “sucesso” para o empreendedorismo: “O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário”.Infelizmente, muitas pessoas ainda não sabem exatamente o que querem e ficam direcionando os seus esforços em objetivos de grande amplitude ou mal definidos, impossibilitando a sua realização. Em razão disso, sentem-se desmotivadas, fracassadas e injustiçadas. Essas pessoas geralmente atribuem a falta de sorte como um fator que impede o seu sucesso, mas se esquecem de avaliar diariamente a sua postura profissional e pessoal, sendo absorvidas pelo “processo de vitimização”.
O empreendedor não pode se deixar levar por esse sentimento, nem ficar à espera da sorte. As pessoas crescem e aprendem quando se dedicam e “correm atrás” dos seus objetivos. O sucesso empreendedor é decorrente de competência, que requer conhecimentos, habilidades e atitudes empreendedoras obtidas por meio de muita dedicação e trabalho.
Outro aspecto importante que deve ser considerado é que o sucesso eterno; ao contrário, ele deixa de existir quando é alcançado. Os empreendedores não vivem plenamente no sucesso, pois eles diariamente buscam alcançá-lo e sabem que, quando o atingem,necessitam recomeçar uma nova etapa para alcançá-lo novamente.
	Leitura Complementar
DAVID, O CAMELÔ
Usando a intuição, o ambulante David Mendonça Portes driblou a fome e agora ganha o circuito de palestras empresariais
Ele é simplório, não completou o Ensino Fundamental e tropeça nas palavras, mas sabe vender seu peixe como ninguém. Sorridente e carismático, o camelô David Mendonça Portes, de 45 anos, transformou sua banca de guloseimas, no Centro do Rio de Janeiro, no mais bem-sucedido ponto da economia informal brasileira. Fatura de R$ 600 a R$ 700 por dia. Tamanho êxito comercial alçou o camelô à condição de guru do marketing e dos mais requisitados. Ele viaja de norte a sul do país para dar 15 palestras, em média, por mês ao preço de R$ 5 mil cada uma. Sua agenda está lotada de eventos até o fim do ano. A plateia costuma ser seleta, composta de empresários, economistas e executivos pós-graduados em cursos de MBA (Master in Business Administration).
Com sua sabedoria popular, David encanta o público. Foi assim na primeira palestra, há cerca de quatro anos, no Instituto de Marketing Industrial, em São Paulo. Na plateia, a nata do empresariado nacional. No palco, ao avistar Antônio Ermírio de Moraes, David tratou logo de fazer seu marketing pessoal: rasgou elogios e pediu uma salva de palmas ao presidente do grupo Votorantin. No dia seguinte, o empresário enviou-lhe uma placa de prata cumprimentando-o pela criatividade e capacidade empreendedora.
“Já disseram que sou o segundo camelô mais famoso do Brasil. Só perco para o Silvio Santos, meu ídolo”, orgulha-se David. Segundo ele, o sucesso com a clientela baseia-se em dar atenção, ser transparente e oferecer vantagens. E, para agradar ao freguês, faz de tudo um pouco: sorteios, brincadeiras, dá descontos e brindes, oferece tele-entrega e vende pela Internet.
Sua primeira ação de marketing foi o sorteio de uma bicicleta ergométrica, há oito anos. A promoção, cujo slogan era “A banca do David engorda, mas depois emagrece. Compre doces e concorra a uma bicicleta ergométrica”, foi parar na imprensa. “Chamou a atenção um camelô fazendo marketing, e naquele tempo eu nem sabia o que era isso”, conta. “Tive a ideia para melhorar as vendas por causa da concorrência.”
A partir daí, ele não parou mais de inventar. Criou entre outras modas, o marketing cai-cai (se qualquer mercadoria cai no chão a até 2 metros da banca, o cliente leva outra de graça), o genérico do David (toda vez que pede por um produto que está em falta, o consumidor ganha 50% de desconto na compra de um similar e leva de graça qualquer mercadoria caso a original não esteja disponível no dia seguinte) e a promoção feliz aniversário (os 5 mil clientes cadastrados têm direito a escolher uma gulodice de presente). “Isso é marketing de relacionamento, neguinho fica encantado”, comenta o camelô. “As empresas brasileiras vivem alegando que se relacionar com o cliente custa caro. O David é a prova cabal de que isso não é verdade”, afirma José Carlos Moreira, presidente do Instituto de Marketing Industrial de São Paulo.
David também faz “marketing de incentivo”: dobra a diária dos três funcionários quando se ausenta para palestrar. “Eles chegam a rezar para eu fazer mais palestras”, afirma, entre risos. São estratégias como essas que vêm garantindo seu êxito. “Um camelô aparecendo em casos de marketing estudados nas universidades é das coisas mais significativas que aconteceram no ramo nos últimos anos”, resume o publicitário Fábio Marinho, diretor da Oficina de Propaganda e Marketing, a agência que criou a logomarca da banca. “O grande mérito do David é que chegou a diversas teorias baseado na intuição”, acrescenta Cecília Mattoso, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio.
Avesso a falar de renda, David tem, além da banca na Avenida Presidente Wilson, uma casa e um depósito em Nilópolis, na Baixada Fluminense, um sítio e um automóvel Golf 2.0, ano 2002. Ele pretende lançar um livro para contar suas lições de vida e marketing. Planeja abrir uma loja e fazer supletivo para completar os estudos. Assim, poderá usufruir a bolsa de estudos ganha da ESPM. “Aí ninguém me segura”, prevê. Também sonha com um programa de televisão.
Nada mal para um ex-morador de rua que se viu obrigado a perambular pelo Rio depois de ser despejado do barraco em que vivia com a mulher, Maria de Fátima, na favela da Rocinha. “Eu tô me amando. Nunca pensei que ficaria tão grande”. A trajetória de David pela economia informal começou por obra do acaso, há 14 anos. Desempregado, faminto e sem teto, precisava de R$12 para comprar um remédio para a mulher grávida de oito meses do único filho do casal, Thiago.
Tomou o dinheiro emprestado de um conhecido e, a caminho da farmácia, ousou arriscar: converteu o dinheiro em bolachas e balas e ganhou as ruas.
No fim do dia, havia dobrado o capital, comprado o remédio, um lanche e uma nova leva de doces para vender. Em um ano formou a banca. Hoje, sua presença é cada vez mais rara na barraca, mas nem por isso pensa em se afastar de vez do negócio. “Quem dá as costas aos clientes está fadado a desaparecer”, ensina.
VORTAL SISTEMAS. David, o camelô.
Disponível em: <http://www.vortal.com.br/site/index.php?q=node/82>.
Acesso em: 8 jul. 2009.
Desafios e tendências para o empreendedorismo
Competitividade: oportunidade ou ameaça?
Ao analisar o tema empreendedorismo, nota-se a sua importância e relevância para o futuro, pois a cada dia as empresas e as pessoas estão sendo direcionadas por suas atitudes profissionais à competitividade.
Quando analisamos o que vem a ser competitividade
 
em um país ou empresa, falamos
 
da necessidade de que todos os setores da
 
economia, tanto do país quanto da empresa,
 
sejam competitivos. E quando queremos
 
discutir com as pessoas, pode-se considerar
 
que se trata de uma atitude competitiva? A
 
competitividade entre pessoas, quando não
 
sadia em uma corporação, pode, sim, atrapalhar
 
tanto a empresa quanto a pessoa.Ser competitivo não significa “destruir” o outro, ao contrário, a formação de redes e parcerias são ativos estratégicos para quem deseja ser competitivo. Por isso, deve-se atentar para um fator muito importante nas organizações: as pessoas. Diariamente encontramos empresários insatisfeitos com o trabalho desenvolvido por seus funcionários (falta de comprome-timento, responsabilidade, asserti-vidade, dedicação, qualificação, etc.); ao mesmo tempo, há funcionários insatisfeitos com a empresa (ambiente de trabalho, oportunidades de crescimento, remuneração, etc.). Quem está com a razão em relação a esse paradoxo? Provavelmente, ambos os lados.
Para as empresas competirem no ambiente mercadológico necessitam atender de forma eficaz às expectativas de seus clientes, que, por sua vez, não ficam satisfeitos com o que já possuem e sempre esperam “algo mais” das empresas, ou seja, as expectativas sempre aumentam. Por isso, as empresas não podem ficar paradas, imaginando que aquilo que já fazem atende perfeitamente às expectativas dos clientes. Assim, para oferecer “algo mais” necessitam que os seus funcionários também tenham condições de oferecer “algo mais”, e nem sempre há por parte dos funcionários disposição para isso.
Quando os funcionários resolvem oferecer “algo mais” para a empresa, esta consegue fazer o mesmo para o cliente, tornando-se competitiva, eficaz e assertiva no ambiente mercadológico. Contudo, a empresa pode “esquecer” que esse sucesso ocorreu pela capacidade dos seus funcionários e não oferecer-lhes “algo mais”, o que pode iniciar um processo de insatisfação e desmotivação.
Dessa forma, ao olhar para os funcionários de uma empresa, em primeiro lugar os empresários precisam ver que ali estão presentes pessoas que têm necessidades, desejos, sentimentos e sonhos que devem ser recompensadas pelo “algo mais”. Ainda é comum no ambiente empresarial quem considere os funcionários apenas “mão de obra”, que não fazem mais do que suas obrigações.

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