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1 Raquel Coutinho da Silva; Karina Lima Vieira Borges; Lorena Victória Penido Faria; Daniel Gomes da Silva; Luís Antônio Vaz de Oliveira 2 Luana Deva Mendes Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Curso (LBR04) – Prática do Módulo III - 21/11/2018 Acadêmicos Raquel Coutinho da Silva¹, Karina Lima Vieira Borges², Lorena Victoria Penido Faria³, Daniel Gomes da Silva4, Luís Antônio Vaz de Oliveira 5 Tutora Externa: Luana Deva Mendes² RESUMO Neste artigo temos o objetivo de dissertar sobre a inclusão da pessoa surda na comunidade escolar. A inclusão é um passo primordial para o trabalho com o sujeito surdo, todavia são necessárias a utilização de metodologias educacionais, a capacitação e a preparação de profissionais que alcancem a pessoa surda em sua essência e necessidades, direitos esses garantidos através da Declaração de Salamanca em 1990. A indefinição especifica de uma carga horaria do conhecimento da LIBRAS na formação dos futuros docentes também é um obstáculo efetivo que deve ser ultrapassado por meio de iniciativa das instituições acadêmicas e dos discentes das mesmas. Em entrevista com a doutoranda em Linguística Teórica e Descritiva pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Michelle Andrea Murta, que esteve no Espaço do Conhecimento UFMG na cidade de Belo Horizonte/MG, foram respondidos alguns de nossos questionamentos sobre o tema “A inclusão da pessoa surda na comunidade escolar”. Dentro deste tema, abordaremos sobre o modelo satisfatório de escola para o melhor aprendizado do indivíduo surdo. Promover a inclusão da pessoa surda na comunidade escolar é um papel que deve ser desempenhado por toda sociedade: pais, professores, escolas e governantes. Esses são alguns dos desafios a serem enfrentados para a efetiva inclusão educacional dos alunos surdos. Palavras-chave: Inclusão. Surdos. Educação Inclusiva. 1. INTRODUÇÃO Partindo do princípio da definição do conceito do surdo por Lacerda, nosso trabalho possibilita uma visão global do tema da inclusão da pessoa surda no âmbito escolar, com uma pesquisa clara sobre os limites da inclusão, dos problemas e dos meios para que os objetivos sejam alcançados. A inclusão foi um fator primordial para o desenvolvimento dos surdos, mas uma etapa importante a esclarecer, é que as metodologias que as escolas, ao longo dos anos tem adotado e focado, não tem ajudado tanto no desenvolvimento. A educação dos surdos sofreu vários avanços em termos legais nas últimas décadas, mas ainda há muito para melhorar e adaptar, como o material educativo, os conteúdos das matérias e principalmente a adaptação do professor à nova realidade, pois é função do professor integrá-lo à sociedade e promover a inclusão. O surdo é aquele que apreende o mundo por meio de contatos visuais, que é capaz de se apropriar da língua de sinais e da língua escrita e de outras, de modo a propiciar pleno desenvolvimento cognitivo, cultural e social. A língua de sinais permite ao ser surdo expressar seus sentimentos e visões sobre o mundo, sobre significados, de forma mais completa e acessível. (CAMPOS in LACERDA; SANTOS, 2013 p.48) Segundo Pietzak (2017), “o sistema educacional vigente em nosso país tem sido colocado à prova, isso porque o processo de ensino-aprendizagem dos alunos surdos tem sido um visível fracasso”. A INCLUSÃO DA PESSOA SURDA NA COMUNIDADE ESCOLAR 2 A partir desta explanação, este trabalho levanta o seguinte problema: dentro da nossa realidade do sistema educacional do país, qual o melhor caminho para mudar o panorama da inclusão da pessoa surda na comunidade escolar e quais aspectos estruturais eficiente ainda requer nossa atenção para a inclusão e melhor formação do indivíduo surdo? Acredita-se que o presente ensaio é relevante para a comunidade acadêmica e a sociedade em geral, pois é necessário pensar e criar metodologias de educação da pessoa surda para que possa ser acolhida em seus ambientes escolares e receber os conteúdos ministrados da mesma forma que os alunos ouvintes recebem os conteúdos em sua língua materna. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A Educação Integradora se instaurou nas décadas de 1960 e 1970, segundo a qual os estudantes deficientes tinham o direito de serem incluídos com os demais alunos. Mas a Educação Inclusiva só se iniciou a partir da década de 1990 a partir da Declaração de Salamanca, com o objetivo de que todos pudessem ser educados no mesmo espaço. Políticas educacionais deveriam levar em total consideração as diferenças e situações individuais. A importância da linguagem de signos como meio de comunicação entre os surdos, por exemplo, deveria ser reconhecida e provisão deveria ser feita no sentido de garantir que todas as pessoas surdas tenham acesso à educação em sua língua nacional de signos. (Declaração de Salamanca, 1994) Através da Lei 9.394/1996, todas as pessoas surdas tiveram o direito de cursar todas as fases do ensino básico em instituições de ensino públicas e privadas. No Brasil, a utilização da língua de sinais e do português, oral ou escrito entre os surdos cresceu desde a década de 90, por meio de diversas lutas e reivindicações da comunidade surda, nos diversos setores da sociedade. Iniciou-se, desde então, uma batalha para regulamentar e legalizar a LIBRAS a fim tornar a educação de surdos difundida nas escolas. O intuito do movimento era de apontar outros caminhos para a difusão da escolarização. A legalização somente se concretizou em 2002, no mesmo ano em que se estabeleceu também a inclusão do ensino da LIBRAS nas licenciaturas como método de ensino curricular prevista no Decreto 5.626 que regulamentou a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR 77 Art.3º, A LIBRAS deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Neste ponto o papel da escola inclusiva é se empenhar em reestruturar os programas para responder à diversidade dos alunos. O Decreto 5.626 que exige a inserção da LIBRAS como disciplina obrigatória dos cursos de licenciatura, não especifica a carga horária que deve ser lecionada, tão pouco o conteúdo a ser ensinado, assim as instituições têm autonomia para tomar essas decisões. Essa liberdade de escolha faz com que a maioria das instituições de ensino superior seja de ater uma carga horária mínima, que por sua vez não se veem obrigados a exigir que estas sejam cumpridas adequadamente e algumas vezes solicitam apenas relatório simples dos discentes. Mas, o que de fato prepara o professor para uma educação inclusiva? Aprender LIBRAS é importante para a comunicação e a formação do futuro docente, mas para além dessa aprendizagem existe a necessidade de uma didática para o ensino do aluno surdo. 3 “Apesar de não ser esperado o domínio da língua de sinais pelo professor regente, tarefa esta que seria reservada a um intérprete, não se pode negar que um aprofundamento em LIBRAS é de grande proveito para que o professor possa auxiliar o aluno surdo na compreensão dos conteúdos. Contudo, não basta apenas dominar a língua se não existir uma metodologia adequada para apoiar o que está explanado, o que incide na necessidade de formação de futuros professores que saibam elaborar boas aulas – visualmente claras eque facilitem a atuação do intérprete e a compreensão do aluno surdo.” (LACERDA; SANTOS; CAETANO, 2013, p.191) Apesar da finalidade das escolas inclusivas, ser de criar um sistema educativo que possa responder a inclusão de todos os alunos, é extremamente necessário a reconceptualização do conceito em relação às dificuldades dos alunos, a preparação e organização das escolas e as metodologias de ensino utilizadas, respeitando a individualidade e aumentando a igualdade de oportunidades (Sánchez & González, 1997). 3. MATERIAIS E MÉTODOS Em entrevista com a doutoranda em Linguística Teórica e Descritiva pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Michelle Andrea Murta, que esteve no Espaço do Conhecimento UFMG na cidade de Belo Horizonte/MG, foram respondidos alguns questionamentos sobre o tema “A inclusão da pessoa surda na comunidade escolar”. O encontro ocorrido no dia 01/09/2018, às 14:00h teve por objetivo uma roda de interação e conversa para discutir o tema “Acessibilidade na Universidade”. Ao final da apresentação, foi aberto espaço para perguntas e solicitamos à palestrante que respondesse alguns questionamentos sobre o tema “A inclusão da pessoa surda na comunidade escolar”, uma vez que utilizamos o artigo que a palestrante escreveu intitulado: Ensino da LIBRAS como instrumento de inclusão educacional nos cursos de licenciatura: desafios, realidades e necessidades. Michelle Murta, 37 anos, nascida e criada em um ambiente composto de vários familiares surdos que praticavam a oralização. “Ninguém percebeu a minha surdez” diz Michelle, que estudou em escola regular onde não havia acessibilidade, surdos ou intérprete de LIBRAS. Michelle conta que o começo da começo na vida acadêmica não foi nada agradável, foi reprovada várias vezes sem saber os motivos. Ela relatou sobre sua trajetória como pessoa surda, a perda da audição e descreveu seu processo de alfabetização, que apesar de tardiamente só foi possível por causa do esforço da mesma. Na época, a metodologia de ensino adotada pela escola era de oralização e a maior parte das provas aplicadas a Michelle eram “ditados” (método oral). Por ser surda, Michelle ficou prejudicada 4 e como não compreendia o que a professora dizia, repetiu várias vezes alguns períodos escolares. Sem saber o motivo de suas reprovações e se sentindo velha, acabou desistindo dos estudos, pois se incomodava com sua estatura física em relação os demais colegas de classe. Michelle completou o ensino médio através de programa de alfabetização de jovens e adultos, o finalizando em pouco tempo. Até os 23 anos não sabia LIBRAS. Posteriormente em seu primeiro emprego na Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) começou a ter contato com a comunidade surda e em apenas 6 meses aprendeu a língua de sinais no setor que atuava. Entrou para a universidade para cursar Letras LIBRAS, finalizou o Mestrado em Letras, cursou Licenciatura em Letras. Atualmente é professora assistente da (UFMG). Quando solicitado à palestrante Michelle Murta para comentar a respeito da ênfase feita no artigo escrito por ela, em que menciona: “A elaboração de materiais que possam ser plenamente aproveitados por alunos surdos e ouvintes também é uma preocupação que deve estar presente na formação de professores, isso porque os materiais existentes não são suficientes para o trabalho”, a mesma respondeu que não é adepta da ideia do aluno surdo em sala de alunos ouvintes, ou quando muito com a atuação de intérprete de LIBRAS, e explica, antes a escola bilíngue é o ideal para o aluno surdo/ouvinte, ou então sala bilíngue já é o ideal para aprendizagem do aluno. Para exemplificar citou o INES - Instituto Nacional de Educação dos Surdos, em que desde a entrada pelo porteiro, todos sabem se comunicar por meio da LIBRAS, assim a pessoa surda se sente acolhida em suas necessidades. Os surdos captam o mundo através da visão, assim, para que este possa aprender conceitos da língua portuguesa e metáforas, é necessário utilizar materiais visuais, conseguindo assim processar a informação recebida. Porém, se a criança, atualmente, não tem disciplinas de LIBRAS na grade obrigatória, como será possível a aprendizagem? Infelizmente não há como aprender, e se a criança surda não aprender em sua língua, a utilização de gestos sem significados para se comunicar é inútil, assim acabam pulando etapas e ao chegar à idade adulta terá um grande atraso. As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização das pessoas com surdez. Torna-se urgente repensar essas práticas para que os alunos com surdez não acreditem que suas dificuldades para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que a surdez lhes impõe, mas, principalmente, pelas metodologias adotadas para ensiná-los (DAMÁSIO, 2007, p. 21). 5 Michelle acredita que a falta da LIBRAS tende a ser mais que um problema educacional, “É um problema social”. Apesar de já existirem opções tecnológicas, como a tradução simultânea do português para LIBRAS através de um telefone celular em contato com um intérprete, entretanto acredita não ser o bastante, “essa tecnologia ainda é nova e restrita”. A professora defende a inclusão da disciplina de LIBRAS na formação de todo tipo de profissional. “É preciso ter a inclusão da LIBRAS na formação de profissionais até da área da saúde. A Lei obriga ter essa disciplina na formação de fonoaudiólogos, mas não obriga na formação de enfermeiros e de médicos no geral, por exemplo” defende Michelle. Neste momento, nos relatou um caso em que um surdo morreu sinalizando e no laudo foi apenas escrito que “o homem mexia incansavelmente com as mãos, contudo ninguém entendia”. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A união de forças do professor e o intérprete para o trabalho com alunos surdos é benéfica para todos neste momento, pois o professor terá um apoio de alguém que possui conhecimento específico acerca da situação, podendo esse apoio também ser de um instrutor de LIBRAS que seja surdo. Assim o intérprete não se sentirá sobrecarregado ou responsável pela educação do aluno que por sua vez, terá a oportunidade de aprender com mais eficácia. No entanto, “(…) as soluções nem são simples, nem otimistas, uma vez que os alunos com necessidades de ensino especiais, só se beneficiarão do ensino ministrado nas escolas regulares, quando existir uma congruência entre as suas necessidades, as expectativas e atitudes dos professores e os apoios adequados (…)”. Desta forma, encontrar esta conformidade é encontrar o caminho da escola inclusiva (Correia, 2001, p. 125). 6 É fundamental para o professor, o conhecimento e utilização de estratégias pedagógicas adquiridas em seu curso de formação, assim como o empenho na inclusão real do aluno surdo. Isso significa que tanto professores como as escolas e a comunidade, precisam procurar resolver esses problemas, respeitando a integridade dos alunos como futuros cidadãos. Ou seja, é necessário que a sociedade em geral, abra a sua mente e comece realmente a aceitar a LIBRAS e o surdo. 5. CONCLUSÃO Conclui-se que a inclusão da pessoa surda na comunidade escolar, não será uma miragem se existir comunicação na e com a escola (pais, professores e governantes), professores qualificados em metodologias inclusivas e experientes na língua de sinais, recursos adequados e materiais adaptados. Pais que através da aceitação da realidade da criança procurem integrá-la na comunidade escolar, bem como cobrar efetivamente os direitos da criança e governantes através de políticas públicas adequadas para fazer comque essa possibilidade de ensino se efetive dentro das escolas. O trabalho permitiu abordar todos os desafios que permeiam a comunidade surda, quais as estratégias a serem usadas e aplicadas. É uma reflexão e orientação para os futuros profissionais docentes a serem realizados com o mesmo, para que seja realmente possível acontecer e efetivar a aprendizagem e a inclusão igualitária para todos. Portanto, a pessoa surda não terá tantas barreiras a serem vencidas no dia a dia, se houver aprofundamentos em novas metodologias de ensino e colocarmos em prática novas formas de trabalho e maneiras de inclui-los no contexto escolar. REFERÊNCIAS CAMPOS IN LACERDA; SANTOS, 2013 p.48 PIETZAK J. D. C. P. Bilinguismo e inclusão escolar dos alunos surdos. Revista Maiêutica, Indaial: 2017, v. 5, n. 1. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA - Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Procedimentos-Padrões das Nações Unidas para a Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências, A/RES/48/96, Resolução das Nações Unidas adotada em Assembleia Geral. . Lei 10.436 – Lei de difusão e reconhecimento da língua de sinais. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 13 maio 2018. . Lei 9.394 – Lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 30 abr. 2018. . Decreto 5.626. Regulamentação da Lei nº 10.436. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 13 maio 2018. . Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Marchesi, 2001, p. 99 LACERDA; SANTOS; CAETANO, 2013, p.191 SÁNCHEZ & GONZÁLEZ, 1997 7 MICHELLE ANDREA MURTA, PALESTRA TEMA “Acessibilidade na Universidade”, dia 01 setembro de 2018, Espaço do Conhecimento UFMG na praça da Liberdade, Belo Horizonte/MG. DAMÁSIO, 2007, p. 21 CORREIA, 2001, p. 125 DAMÁSIO, M. F. M. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Atendimento educacional especializado: Pessoa com surdez. Brasília: MEC/SEESP, 2007
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