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Meteorologia Física I Prof. Renato Ramos da Silva Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Constituição da Atmosfera - Parte 2 Meteorologia Física I • 1. Introdução • 1.1 Constituição da atmosfera • 1.2 Natureza da radiação solar e terrestre • 1.3 Relevância para o clima e fenômenos meteorológicos • 1.4 Relevância para sensoriamento remoto • 1.5 Balanço radiativo global Processos Físicos e Químicos que regulam a composição da atmosfera e o clima Constituição da Atmosfera – Parte 2 (Baseado no livro Wallace & Hobbs – Capítulo 5) • 5.3 Alguns gases troposféricos importantes. • • 5.3.1 Radical OH • Devido à sua alta reatividade com compostos orgânicos e inorgânicos, OH é um dos mais importantes compostos químicos da atmosfera, mesmo que tenha uma concentração de apenas algumas dezenas de pptv (aprox. 1012 OH moléculas/m3, ou aproximadamente 3 OH moléculas por 1014 moléculas de ar). Como é bastante reativo, a vida média de uma molécula OH na atmosfera é somente aproximadamente 1s. Os radicais de OH são produzidos quando a radiação solar UV decompõe O3 em oxigênio molecular e energeticamente excita átomos de oxigênio O3 + hν O2 + O* Uma pequena fração (aprox. 1%) de O* reage com vapor d’água para formar os radicais OH O* + H2O 2 OH Os radicais são um forte oxidante que reage rapidamente com a maioria dos gases que contem H, C, N, O, e S e os halogêneos. Por exemplo, OH reage com CO para formar CO2, NO2 para formar HNO3, H2S para formar SO2, SO2 para formar H2SO4, etc. (Fig. 5.4). 5.3.2 Compostos reativos de Nitrogênio Óxidos de Nitrogênio Os óxidos de nitrogênio, NO, e NO2 (dióxido), que juntos são referidos como NOx, tem um papel importante na atmosfera. Eles são produzidos por combustíveis fósseis, queima de biomassa, solos, raios, oxidação de NH3, emissões de aeronaves, e transportes da estratosfera. Radical de nitrato No período noturno o radical NO3 é o principal oxidante da atmosfera. 5.3.3 Compostos orgânicos Compostos orgânicos contém átomos de carbono. Os quatro elétrons na orbita do carbono pode formar acoplamentos com quatro elementos: hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre, halogênios, etc. Metano é o mais abundante hidrocarbono da atmosfera. A concentração atual do CH4 no hemisfério norte é ~1.7 ppmv; ele tem um tempo de residência na atmosfera de ~9 anos. Fontes de metano incluem pântanos, animais domésticos, cupins, queima de biomassa, escape de linhas de gás natural e de minas de carvão. O principal sumidouro de CH4 é a oxidação por OH para formar formaldeído (HCHO). 5.3.4 Monóxido de carbono O monóxido de carbono é produzido pela oxidação de CH4 ou NMHC, como os isoprenos. Outras fontes importantes de CO são a queima de biomassa e de combustíveis fósseis. O sumidouro dominante de CO é a oxidação por OH CO + OH H + CO2 A figura 5.5 mostra as medidas de CO a partir de dados de satélite. Altas concentrações são observadas na América do Sul e África devido á queima de biomassa. Fig. 5.5 - Concentração de CO em uma altitude de ~ 4.5 km medido a partir de satélites. Concentrações variam de valores ~ 50 pptv em regiões de azul até 450 ppbv em regiões vermelhas. O CO pode ser transportado para cima e também carregado para distâncias horizontais bastante longínquas. 5.3.5 Ozônio Como aproximadamente 90% da atmosfera terrestre está na estratosfera, foi sugerido na metade do século XX que a estratosfera era a principal fonte para o O3 troposférico. Foi verificado posteriormente que gases como NO, CO e compostos orgânicos levam á formação de O3 através de reações fotoquímicas. (Fig. 5.6). Ozônio tem um papel no controle da capacidade de oxidação da atmosfera. Fig. 5.6 – Distribuição sazonal da coluna de ozônio troposférico (Dobson) determinada a partir de medidas de satélite (1979 a 2000). Ozônio bom e Ozônio Ruim. ************************************************ • Christian Friedrich Schönbein descobriu o Ozônio através do cheiro sentido após uma descarga elétrica. • Ele denominou este gás ozônio devido á palavra grega ozein, que significa cheiro (smell). O ozônio é um gás azulado que é tóxico e explosivo. • Devido à sua alta reatividade ele é um excelente agente oxidante da atmosfera que pode danificar plásticos e borrachas e pode ser maléfico para seres humanos e plantas mesmo em baixas concentrações (~ algumas dezenas de ppbv). • Haagen-Smit sugeriu que a formação de O3 nas cidades era devido à reações químicas envolvendo óxidos de nitrogênio e hidrocarbonos emitidos por carros e refinarias de óleo. • Ozônio reage com hidrocarbonos a partir de exaustores de automóveis e evaporação de gasolina para formar poluentes orgânicos secundários como os aldeídos e ketones. • Ozônio produzido em áreas urbanas pode ser transportado para áreas rurais bem longe das áreas industriais. (Explo. Maine e N. York). • Em contraste aos efeitos ruins do ozônio maléfico da troposfera, a alta concentração de ozônio na estratosfera reduz a intensidade dos raios UV do sol. 5.3.6 Compostos de Hidrogênio Os compostos de hidrogênio (H) são os mais importantes oxidantes para muitos componentes químicos da atmosfera. 5.3.7 Gases de enxofre • Enxofre é assimilado por organismos vivos e, portanto é então expelido como um produto final do metabolismo. Os gases de enxofre mais importantes da atmosfera são o (Dióxido de Enxofre) SO2, H2S, DMS, COS, e CS2. • Vulcões e queima de biomassa são fontes de SO2 atmosférico, mas a maior parte de SO2 provem de combustíveis fósseis. 5.4 Aerossóis Troposféricos Aerossóis atmosféricos são pequenas partículas solidas ou liquidas (excluindo as partículas de nuvens) presentes no ar que possuem velocidade terminal desprezível. A Figura 5.7 mostra algumas partículas que tem um papel importante na atmosfera. Fig. 5.7 – Tamanho e importância das partículas da atmosfera. 5.4.1 – Fontes de aerossóis a. Biológica Partículas sólidas e líquidas podem ser emitidas para a atmosfera a partir de plantas e animais. Estas emissões incluem sementes, pólen, fragmentos de animais e plantas e possuem diâmetro da ordem de 1-250 micrometros em diâmetro. Bactérias, algas, fungos são geralmente < 1 micrometro em diâmetro. Os oceanos são uma das mais importantes fontes de aerossóis atmosféricos (~1000-5000 Tg por ano, incluindo partículas de ~2-20 µm de diâmetro). Próximo da superfície dos oceanos, sal marinho geralmente domina a massa de partículas supermicrometras e submicrometras. O principal mecanismo de ejeção de materiais oceânicos na atmosfera é através de explosão de bolhas. Aerossóis compostos de sal marinho originam de gotículas ejetadas para o ar quando as bolhas de ar estouram na superfície do oceano (fig. 5.8). Muitas gotas pequenas são produzidas quando a porção superior de uma película de bolha de ar se rompe. Estas recebem o nome de gotículas de filme (Fig. 5.8b). Bolhas > 2 mm em diâmetro ejetam ~100-200 gotículas no ar. Após a evaporação, estas gotículas deixam no ar partículas de sal com diâmetros menores do que ~0.3 µm. Em alguns casos podem formar-se jatos que lançam gotas até a altura de 15 cm no ar (Fig. 5.8d). Algumas destas gotas evaporam e deixam para trás partículas de sal com diâmetros > 2 µm. A taxa média de produção de partículas de sal sobre os oceanos é ~100 cm-2 s-1. Sais higroscópicos [NaCl (85%), KCl, CaSO4] são da ordem de 3.5% da massa de água salgada. Partículas de sal não formarão gotas até que a umidade relativa do ar chegue a 75%. Fig. 5.8 - Ilustração de como gotículas e jato de gotas são produzidas quando umabolha é ejetada da superfície da água. Na superfície dos oceanos algumas das gotículas evaporam para deixar partículas de sal e outros materiais no ar. O tempo entre (a) e (d) é aprox. 2ms. A gotícula é inicialmente de 5-30 micrometros de diâmetro antes de evaporar-se. O tamanho do das gotas do jato é de aproximadamente 15% do diâmetro das bolhas de ar. Resíduos (fumaça) de queimadas florestais é uma importante fonte de aerossóis. Pequenas partículas de fumaça e cinzas são injetadas diretamente no ar por estas queimadas. Estima-se que 54 Tg de partículas sejam injetadas na atmosfera a cada ano por queima de biomassa. No gráfico da função de distribuição de partículas a partir das queimadas ocorre um pico em ~0.1 µm em diâmetro e portanto, são partículas eficientes como núcleos de condensação. Outras partículas biogênicas (e.g. bactérias, pequenos pedaços de vegetação, etc) podem também ser núcleos de condensação eficientes. Pyroclouds/Amazonia Distribuição de aerossóis de fumaça (D < 2.5 μm; in μg m–2) e campos de vento na camada limite sobre a América do Sul . A distribuição de aerosois foi obtida pelo satélite Geostationary Operational Environmental Satellites–Automated Biomass Burning Algorithm (GOES ABBA) e o modelo RAMS foi usado para modelar o transporte e remoção. O voo de onde outros dados foram coletados está marcado pela linha vermelha. b. Material sólido A transferência de partículas para a atmosfera a partir da superfície da Terra é causada por ventos e turbulência atmosférica. Para dar início ao movimento das partículas na superfície da Terra, a velocidade do vento de superfície deve exceder certos limiares, que dependem do tamanho das partículas e do tipo da superfície. Os limiares são pelo menos ~ 0,2 m/s para partículas 50-200 µm em diâmetro (partículas menores aderem melhor á superfície) e para solos contendo 50% de argila. Para alcançar uma velocidade de fricção de 0,2 m/s requer uma velocidade de vento de vários metros por segundo a poucos metros acima do nível do solo. Uma importante fonte de pequenas partículas (~10-100 µm em diâmetro) é o salteamento em que grãos de areia podem ser levados até certa altitude e depois precipitam. c. Antropogênico A principal fonte de aerossóis antropogênicos são a poeira das rodovias, a erosão de solo exposto, a queima de biomassa e combustíveis fósseis, e processos industriais. d. Formação in situ Gases podem se condensar em superfícies de partículas ou podem se condensar para formar novas partículas. Três grandes famílias de compostos químicos estão envolvidas na conversão gás-partícula: enxofre, nitrogênio e materiais orgânicos. A Tabela 5.3 sumariza a estimativa das magnitudes das principais fontes de emissão direta de partículas na atmosfera e fontes in situ. 5.4.2 – Composição Química Com exceção dos aerossóis marítimos, que são compostos de cloreto de sódio, a massa dominante é de enxofre. 5.4.3 – Transportes de aerossóis Os aerossóis são transportados pelo vento que encontram durante o tempo despendido na atmosfera. O transporte pode ter escala intercontinental e até mesmo global. 5.4.4 – Sumidouros de aerossóis Na média as partículas são removidas da atmosfera na mesma taxa de entrada. Pequenas partículas podem ser transformadas em partículas grandes através da coagulação, que é confinada a partículas menores do que 0.2 µm em diâmetro. Embora coagulação não remova a partícula da atmosfera, ela modifica o tamanho e pode promover a remoção por outros mecanismos. Poeira do Deserto do Saara https://www.youtube.com/watch?v=ygulQJoIe2Y&list=PLiuUQ9asub3RHqKdK_XZSZ8I_981UPhvX&index=3 5.4.5 – Distribuição de Concentração e Tamanhos O contador de partículas Aitken é uma técnica usada para medir a concentração de partículas. Neste instrumento, ar saturado é expandido drasticamente de forma que ele torna-se supersaturado por varias centenas de vezes com relação á água. Neste estado de supersaturação, as moléculas de vapor condensam-se em praticamente todas as partículas do ar para formar uma nuvem de pequenas gotículas. Avaliando-se o número destas partículas condensadas tem-se uma estimativa do número de partículas contidas naquela amostra. As partículas aerossóis atmosféricas variam em tamanho a partir de ~10-4 µm a dezenas de micrometros. A Fig. 5.9 apresenta a distribuição de partículas continentais marinhas e para ar urbano poluído. Fig. 5.9 – Numero de distribuição de partículas troposféricas obtidas a partir de várias medidas continentais (vermelho), marinhas (azul), e ar urbano poluído (preta) Fig. 5.9 – Numero de distribuição de partículas troposféricas obtidas a partir de várias medidas continentais (vermelho), marinhas (azul), e ar urbano poluído (preta) Algumas verificações feitas a partir da Figura 5.9: • As concentrações de partículas diminuem rapidamente conforme aumenta o tamanho. Portanto, o numero total de concentração (i.e. Aitken ou numero CN) é dominado por partículas com diâmetros menores do que 0.2 µm, que são denominadas núcleos Aitken ou núcleos de condensação. • O gráfico confirma que temos mais partículas em ambientes urbanos poluídos e menos sob ar marinho. A Fig. 5.10 apresenta a distribuição de área de superfície e volume para ar continental e ar poluído urbano. Os máximos e mínimos estão associados com as fontes e sumidouros de aerossóis. O máximo proeminente em ~0.2-2 µm em diâmetro é devido principalmente ao crescimento de Núcleos de Condensação (CN) por coagulação. Fig. 5.10 - (a) Área de superfície típica e (b) volume para ar poluído urbano (linha preta) e ar continental limpo (linha vermelha). 5.4.6 – Tempo de residência A figura 5.11 apresenta estimativas do tempo de residência de partículas na atmosfera como função dos seus tamanhos. Partículas com diâmetro < 0.01 µm possuem tempo de residência < 1 dia; o principal mecanismo para remoção nestes tamanhos são a difusão para partículas de nuvens e coagulação. Partículas maiores de 20 µm em diâmetro também possuem tempo de residência < 1 dia, mas elas são removidas por sedimentação, impactação em superfícies e precipitação. Fig. 5.11 – Curvas esquemáticas da área de superfície da partícula para ar poluído urbano (linha preta), ar continental (linha vermelha) e ar marinho (linha azul). Abaixo das curvas são apresentadas fontes típicas e sumidouros das partículas e seus tempos médios de residência na troposfera. Aerosois http://www.uv.es/pedrose/aerogui/
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