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PARECER JURÍDICO POSITIVO

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PARECER JURÍDICO
INTERESSADA
PROFESSORA MARIA EDUARDA LEITE AMARAL, PROFESSORA DO CURSO DE DIREITO DA FACULDADE UNIESP DE SÃO ROQUE - SP.
EMENTA
Constituição Federal de 1988; Código Civil de 2002; Código Penal de 1940; Lei 9.708/98 que possibilita a substituição do prenome por apelidos públicos notórios que altera o art. 58 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973.
DO RELATÓRIO
Há poucos anos, na Ucrânia, 5 pessoas procuraram o cartório de registro civil de suas cidades e trocaram seus nomes civis por Iphone Sin, em troca de serem beneficiados por aparelho de celular que leva o mesmo nome da empresa “Apple”, que na Ucrânia tem um custo aproximado de U$850,00 dólares americanos. Tratava-se de uma promoção da empresa e como naquele país é permitido trocar de nome a qualquer tempo e pagando apenas U$2,00 dólares para fazê-lo, seria mais barato trocar de nome do que comprar o dito aparelho. O cidadão Ucraniano passou se chamar Iphone Sin (Iphone Sete em português). Em 2012 uma americana trocou sua virgindade por um Iphone 4, e em 2014 um jovem alugava a namorada para comprar um Iphone 6. Não distante a esse tipo de situação, a empresa aérea Lufthansa, em 2013 premiou 42 pessoas com uma viagem para Berlin e um ano de aluguel pago para quem mudasse seu nome civil para Klaus Heide, fundador da empresa aérea. Em 2014 oito pessoas fizeram tatuagens permanentes com a logo marca Reebook, em troca de um patrocínio anual de U$ 5.800,00 dólares.
DA FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
A Lei 9.708/98, que modificou a Lei de Registros Públicos, dispõe em seu texto a seguinte redação: “é possível substituir o primeiro nome pelo apelido, acrescentar o apelido antes do primeiro nome ou inseri-lo entre o nome e o sobrenome” (BRASIL, 1988).
O direito a quaisquer manifestações que não ensejem prejuízos a terceiros e, ainda, não possibilite qualquer esquiva de suas responsabilidades legais não contraria qualquer norma legal ou social. Neste prisma, o Art. 5º, IX, da Constituição Federal de 1988 dispõe: “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (BRASIL, 1988).
Todavia, podemos consolidar a doutrina de Érico de Pina Cabral diz que o termo vontade tem origem latina – voluntas, significando um desejo, o ato de querer, sendo: 
Vontade é a faculdade que tem o ser humano de querer, escolher, de livremente praticar ou deixar de praticar determinados atos. A partir disto, o autor traça seu conceito: “Autonomia significa o poder de se autogovernar.” É a faculdade de traçar suas próprias normas de conduta, sem que se seja submetido a imposições de ordem estranha. Direito de tomar decisões livremente, com liberdade, independência moral ou intelectual (CABRAL, 2004, p. 90-91).
Já, num aspecto semelhante, a Ilustríssima doutrinadora, Maria Helena Diniz conceitua o princípio da autonomia da vontade como sendo: “O poder de estipular livremente, como melhor lhes convier, mediante acordo de vontade, a disciplina de seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica” (DINIZ, 2011, p. 40-41).
Diante do exposto, podemos auferir que o ser humano possui a autonomia da vontade ou liberdade de escolha e é esta uma das premissas da dignidade da pessoa humana. A autonomia da vontade é a faculdade que o indivíduo possui para tomar decisões na sua esfera particular de acordo com seus próprios interesses e preferências. O reconhecimento de um direito individual de fazer tudo aquilo que se tem vontade, desde que não prejudique os interesses de outras pessoas, cabendo a cada indivíduo decidir por si próprio.
Existem diversos direitos de liberdade: de locomoção, de religião, de associação e reunião, de profissão, de expressão, entre outros. O valor da autonomia de escolha é inestimável, já que inúmeros direitos fundamentais decorrem diretamente desse princípio.
Isto posto, perfazemos que uma pessoa plenamente capaz resolve fazer uma tatuagem, está no legítimo exercício do direito fundamental de dispor do próprio corpo. O Código Civil dispõe em seu art. 1.566, I, que são deveres de ambos os cônjuges a fidelidade recíproca. Uma imposição inaceitável se tratando de pessoas maiores e capazes de decidir sobre as práticas sexuais que lhe aprazem ou de qualquer forma que lhes venha a convir. Razão esta que remetemos a análise ao artigo 13 do Código Civil que dispõe: “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes” (BRASIL, 2002).
Na verdade, toda pessoa que esteja em pleno gozo de suas faculdades mentais e tenha condições concretas e autênticas de tomar por si próprio as decisões que lhe dizem respeito tem o direito fundamental de dispor do próprio corpo da forma como bem entender, desde que não prejudique o direito de terceiros, não podendo o Estado, ressalvadas algumas situações bem peculiares, interferir no exercício desse direito. 
Isto traduz que o individuo, em sua intrínseca liberdade tem direito ao próprio corpo visto sua liberdade de expressão e a da não expressão, o que chamamos de privacidade. A batalha jurídica do século XXI será pela libertação dos corpos das normas impostas pelo arbítrio da maioria. Somos herdeiros de uma cultura religiosa que nos impôs ao longo da história uma infinidade de restrições morais e, posteriormente jurídicas, ao uso de nossos próprios corpos. Se uma conduta não lesa ou ao menos gera riscos de lesão a direitos alheios, não há por que ser proibida e, consistente neste prisma, Tulio Vianna diz: “Não se pode considerar livre um povo que decide os rumos de seu governo, mas que nega a cada um de seus indivíduos a autonomia de decidir sobre os rumos de seu próprio corpo. Liberdade é, antes de tudo, poder decidir sobre o próprio corpo” (VIANNA, 2014 p. 1-5).
CONCLUSÃO
Diante do exposto e convicto da efetivação do Direito e da Justiça, concluímos que a mudança de nome desde que não prejudique terceiros, não deve existir qualquer tipo de impedimento jurídico sobre a questão, não restando qualquer previsão criminosa sobre a conduta.
Contudo, quedam claros os preceitos dos direitos fundamentais estabelecidos no art. 5º da Constituição Federal de que a pessoa pode dispor livremente do seu corpo seja para tatuagem ou liberdade sexual, estendendo-se em relação à disposição da virgindade, desde que se apresente maior e capaz de todas as práticas e responsabilidades civis.
Enfim, não cabe ao Estado, suas instituições protelarem sobre a relação sexual dos indivíduos, a disponibilidade do corpo alheio para finalidades quaisquer, quando existe o interesse recíproco neste ato; isto se estende para a troca de nome sendo quando a lei permite o uso de apelido. 
São Roque, 01, dezembro de 2017.
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MICHELE LOPES DA ROCHA 
RA: 2014018837
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
______. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017.
______. Código Penal. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Vade Mecum. São Paulo: Saraiva, 2017.
______. Lei nº 9.708, de 18 de novembro de 1998. Altera o art. 58 da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9708.htm >. Acesso em: 24 nov. 2017.
CABRAL, Érico de Pina. A “autonomia” no direito privado. In: Revista de Direito Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 19(5)83-129, jul/set 2004.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 27 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
VIANNA, Túlio. Um Outro Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014.

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