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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A INFLUÊNCIA DO VÍNCULO AFETIVO E DA AUTO-ESTIMA NA APRENDIZAGEM Por: Lucilene de Oliveira Lopes Tarouquella Rodrigues Orientador Prof. Geni Lima Rio de Janeiro 2011 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A INFLUÊNCIA DO VÍNCULO AFETIVO E DA AUTO-ESTIMA NA APRENDIZAGEM Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia Institucional. Por Lucilene de Oliveira Lopes Tarouquella Rodrigues. 3 AGRADECIMENTOS Cada ação nossa está sempre marcada por vivências e sentimentos expressos por meio de emoções. Ao olhar para este trabalho, sinto-me feliz ao reconhecer nele a contribuição de tantas pessoas queridas. Escrevê-lo foi um exercício de solidão, impregnada de alegria. Uma solidão acompanhada de muita gente, o tempo todo ao meu lado. A importância de cada uma me fez comprovar que a afetividade é mesmo a energia que move nossas ações. Portanto não vai ser difícil, em poucas palavras, agradecer, pois encontrei uma, que expressa tudo: GRATIDÃO, no seu mais puro significado. Aos meus filhos, Vinícius, Victor e Wagner, presentes de DEUS em minha vida, os quais amo incondicionalmente. Meus companheiros de todas as horas, que estiveram presentes em toda a minha 4 trajetória acadêmica. Meu eterno agradecimento por terem tantas renúncias em família, para focalizar a busca pela especialização . Ao meu querido e amado marido Jorge Alex, que me impulsionou a caminhar com os meus próprios pés, buscando a realização dos meus ideais. 5 DEDICATÓRIA Dedico a todos que acreditaram em mim, em meu potencial, nas minhas ideias e que sofreram comigo as angústias próprias do meu momento. Ao meu esposo, aos meus filhos pela minha ausência durante a construção dos meus conhecimentos acadêmicos. Aos meus pais ( in memória ) pela vida e os valores que carrego comigo. À mim pela força de vontade e superação. 6 RESUMO Este trabalho fundamenta-se em apresentar as contribuições da relação afetiva e da auto-estima para o processo de aprendizagem, compreendendo como acontece a relação afetiva entre professor e aluno dos anos iniciais do ensino fundamental. A formação da auto-estima do aluno é um tema que vem sendo visto por alguns profissionais da educação, como o caminho para a obtenção de bons resultados escolares e consequentemente, na vida adulta destes alunos. A priori são apontadas as estratégias mais utilizadas pela escola, na figura do professor, como atitudes, que acredita, viáveis para resolução de problemas de sala de aula. Segundo Wallon, durante a escolarização da criança pressupõe- se que haverá varias interações, nas quais a afetividade está presente. A escola deve proporcionar um espaço de reflexões sobre a vida do aluno como um todo, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência critica e transformadora, na qual esse processo não deveria dissociar-se da afetividade e da auto-estima. Sendo que o professor é fundamental para a aprendizagem dos alunos, tornando a afetividade um dos elementos que influenciam esse processo. A afetividade é imprescindível para o desempenho educacional. Como resultado pode-se dizer que a afetividade professor e aluno deve estar voltada ao processo de ensino, pois o professor além de transmitir informações ou fazer perguntas, ele também deve ouvir os alunos de forma a entender suas carências e suas dificuldades. Nesse sentido, o professor deve usar o diálogo, pois o diálogo pode ser uma fonte de riquezas e alegrias, é uma arte a ser cultivada e ensinada para a formação de seus alunos como seres pensantes e atuantes, capazes de construir o seu conhecimento. E finalizamos esta pesquisa com a certeza de que a única arma capaz de quebrar as barreiras e ranços que nos envolve é o amor, junto com ele vem o 7 compromisso, o respeito, a necessidade de estudar sempre, de proporcionar aulas mais participativas para que as crianças possam estar mais ocupadas de forma que o aprendizado ocorra com tranquilidade. Palavras-chave – Afetividade , aprendizagem, professor, aluno. 8 METODOLOGIA A pesquisa, por ser de caráter teórico, foi realizada fundamentalmente através de análise de textos. Optei por uma maneira clássica de interpretação de textos, que busca a ordem interna das razões levantadas pelo autor. Na análise do texto, busca-se atingir as justificações que um autor dá de seu próprio sistema (ordem das razões levantadas por ele). Portanto, a metodologia adotada é a de interpretação do texto buscando re-apreender, conforme a intenção do autor, a ordem das razões e sem jamais separar as teses dos movimentos que as produziram. No primeiro momento, atentei a estudar os textos de Jean Piaget, dada a abrangência de sua obra. Pesquisei também autores como Henri Wallon, Paulo Freire, Augusto Cury dentre outros, que possibilitassem uma maior compreensão de sua tese. Busquei em cada leitura a essência de sua concepção sobre a construção do conhecimento. Há na pesquisa o propósito de verificar as influências da relação professor-aluno, estabelecidas em sala de aula, para a construção de uma aprendizagem significativa. As relações interpessoais estabelecidas com o professor no cotidiano escolar podem incentivar ou desmotivar o aluno para o aprendizado, prejudicando ou favorecendo a disposição do mesmo para aprender significativamente e no cotidiano escolar, de que maneira essas influências da relação professor-aluno podem contribuir para a construção de uma aprendizagem significativa e afetiva. Os livros analisados estão sistematicamente descritos nas referências. 9 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 CAPÍTULO I – Afetividade segundo Jean Piaget 13 CAPÍTULO II – Afetividade segundo Henri Wallon 17 CAPÍTULO III - Afetividade na Relação Professor - Aluno 22 CAPÍTULO IV – O Papel da Escola na Relação Professor – Aluno 29 CAPÍTULO V – Estratégias de integração das práticas pedagógicas à afetividade. 34 CAPÍTULO VI – Objeto de estudo da Psicopedagogia 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS 43 BIBLIOGRAFIA CITADA 45 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48 10 INTRODUÇÃO “ Chega de fazer fórmulas e cultivar a inteligência; devemos agora cultivar ossentimentos, pois o homem já é suficientemente sábio, porém não é ainda suficientemente bom”. ( Einstein ) Afetividade é: conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. (AURÉLIO, 1984). Sendo a afetividade essencial às relações humanas, vejo o educando como um sujeito em fase de formação, com características peculiares e que necessita de educação e cuidados que favoreça sua constituição como indivíduo. A afetividade está muito presente no processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de criança. Ela é facilitadora deste processo e o professor um mediador. No cotidiano escolar, as relações interpessoais observadas ao longo de minha experiência, demonstram que a afetividade está sempre vinculada na relação professor-aluno e no processo ensino aprendizagem. Isso deixa claro que interfere no processo de ensinar e aprender. O mais importante é que o professor tome consciência do papel da afetividade na aprendizagem , mesmo que para isso, ele busque novas formas de se relacionar com seus alunos. 11 Observei que algumas crianças que não acompanhavam o conteúdo e atrapalhavam a aula, queriam muitas vezes uma palavra, ou um gesto que lhe transmitisse atenção, pois a escola é uma complementação familiar, não apenas um local para crescer cognitivamente ou um espaço de lazer, mas sim um espaço de trocas e prazerosas. Minha prática vem demostrando a relevância dessas observações, onde posso identificar claramente a afetividade como o melhor caminho para a construção de uma relação mais significativa. Para aceitar e respeitar o outro, é preciso se auto aceitar e se auto respeitar. Para que isso aconteça, o ser humano precisa ter constituído uma vivência emocional saudável ao longo de sua vida. Segundo Rossine,( 2001) as crianças que possuem uma boa relação afetiva são seguras, têm interesse pelo mundo que as cerca, compreendem melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento intelectual. Muitos educadores enfatizam que a afetividade está nas interações sociais, influenciando no aspecto cognitivo de cada educando. Consideram que as decisões relacionadas ao ensino têm várias implicações afetivas no desenvolvimento do comportamento do aluno, impactando na sua aprendizagem. Segundo Wallon, para construir a pessoa ou o conhecimento, o aspecto afetivo é o foco principal, pois a atividade emocional é ao mesmo tempo social e biológica. Devido estas constatações observa-se a necessidade de atuação do psicopedagogo no sentido de orientar o educador, ressaltando a importância do relacionamento afetivo com o educando, pois este é um agente auxiliador neste processo, levando-o a superar as suas dificuldades de aprendizagem e seu comportamento. 12 Nesse sentido, procurei embasamento teórico para explicar os aspectos que fazem parte da afetividade e da auto-estima e como podem contribuir para o desenvolvimento das crianças. 13 CAPÍTULO I AFETIVIDADE SEGUNDO JEAN PIAGET Piaget,(1976, p. 13) diz que a afetividade não se restringe somente as emoções e aos sentimentos, mas engloba também as tendências e a vontade. Ele estabelece uma importante visão nas dimensões afetivas e cognitivas no campo da ação moral. Segundo o teórico, toda a ação remete a um “fazer”, a um “saber fazer” é a dimensão afetiva que corresponde ao “querer fazer”, sendo assim, as dimensões cognitiva e afetiva, aparecem em seus postulados teóricos como indissociáveis. Para compreender o tema afetividade de forma ampla é necessário entender a perspectiva de afetividade e a teoria de desenvolvimento cognitivo, de acordo com Jean Piaget (1976, p. 16) o afeto é essencial para o funcionamento da inteligência. (...) vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão. Piaget atribui a todos os estágios de desenvolvimento da inteligência funções, invariáveis e constantes, de assimilação e acomodação, chamando de adaptação ao equilíbrio entre as assimilações e as acomodações. Ao lado das funções, ele distingue as estruturas variáveis, que assumem formas diferentes de acordo com o desenvolvimento intelectual, sendo definidas como as formas 14 de organização da atividade mental, sob um duplo aspecto: motor ou intelectual, de uma parte, e afetivo de outra, com suas duas dimensões individual e social (interindividual) (Piaget, 1964; Ed. Br., 1972). Apesar de entender que o desenvolvimento intelectual envolve sempre os aspectos cognitivo e afetivo, Piaget considera a afetividade como um agente motivador da atividade intelectual. Segundo Piaget, afirmar que a inteligência e a afetividade são indissociáveis pode envolver duas significações bastante diferentes: a) num primeiro sentido, pode-se querer dizer, com essa afirmação, que a afetividade intervém nas operações da inteligência, que ela as estimula ou as perturba, que ela é causa de aceleração ou de atraso no desenvolvimento intelectual, mas que ela não poderia modificar as estruturas da inteligência enquanto tais; b) num segundo sentido, pode-se querer afirmar, ao contrário, que a afetividade intervém nas estruturas da inteligência, que ela é fonte de conhecimento e de operações cognitivas originais. Segundo o autor supracitado ( 1976 ) defende a primeira interpretação, afirmando que a afetividade desempenha um papel de fonte energética da qual dependeria o funcionamento da inteligência, mas não suas estruturas. Para ele, a afetividade não engendra, ela própria, estruturas cognitivas e nem modifica as estruturas no funcionamento nas quais ela intervém. Estabelecendo uma distinção entre funções cognitivas e funções afetivas, Piaget afirma que essas duas funções têm natureza diferente, embora elas permaneçam indissociáveis na conduta concreta do indivíduo. As funções cognitivas, para Piaget, vão da percepção e das funções sensório-motoras até a inteligência abstrata, com as operações formais, e as funções afetivas compreenderiam os sentimentos de satisfação-insatisfação, sentimentos estéticos, a vontade, o interesse etc. Piaget resume sua tese nas seguintes proposições: a) a afetividade trabalha incessantemente no funcionamento do pensamento, mas não cria 15 novas estruturas; b) pode-se dizer que a energética da conduta tem a ver com a afetividade, enquanto as estruturas têm a ver com as funções cognitivas. Segundo o autor, a distinção entre estrutura e energética mostra bem que inteligência e afetividade são constantemente indissociáveis na conduta concreta do indivíduo, embora devamos considerá-las como sendo de natureza diferente . Portanto, do ponto de vista piagetiano, é importante ressaltar que, se não existe estrutura cognitiva sem energética, isto é, sem afetividade, e, reciprocamente, se a toda nova estrutura deve corresponder uma nova forma de regulação energética, a cada nível de conduta afetiva deve corresponder,igualmente, um certo tipo de estrutura cognitiva. Todos nós temos experiência de nos dedicarmos com mais empenho aos assuntos de que gostamos e que nos são agradáveis. Outras vezes, pelos mais variados motivos, tomamos tamanha aversão a certas matérias, as quais se tornam impossíveis de aprender. São situações em que observamos como o afeto pode interferir na nossa capacidade racional de agir. Piaget (1980) nos diz: [...] a afetividade constitui a energética das condutas, cujo aspecto cognitivo se refere apenas às estruturas. Não existe, portanto, nenhuma conduta, por mais intelectual que seja, que não comporte, na qualidade de móveis, fatores afetivos; mas, reciprocamente, não poderia haver estados afetivos sem a intervenção de percepções ou compreensão, que constituem a estrutura cognitiva. A conduta é, portanto, uma, mesmo que, reciprocamente, esta não tome aquelas em consideração: os dois aspectos afetivo e cognitivo são, ao mesmo tempo, inseparáveis e irredutíveis. 16 Piaget defende que não há comportamento afetivo sem vínculo cognitivo ou vice-versa, há apenas uma diferença de natureza. O interesse, para Piaget, é o elemento poderoso e comum de afetividade que, por sua vez, influencia a seleção de atividades intelectuais, ou seja, a seleção não é provocada pelas atividades cognitivas, mas pela afetividade. Sua teoria, portanto, vem esclarecer e fortalecer mais ainda a relação professor-aluno, caracterizada, positiva ou negativamente, pelas intenções afetivas que por ela perpassam. 17 CAPÍTULO II AFETIVIDADE SEGUNDO HENRI WALLON Para Henri Wallon, a evolução afetiva está intrinsecamente ligada ao desenvolvimento cognitivo, visto que difere sobremaneira entre uma criança e um adulto, supondo-se a partir disto que há uma incorporação de construções de inteligência por ela, seguindo a tendência que possui para racionalizar-se. Wallon (1994) explica que seu objetivo é compreender a formação do individuo, sua teoria do desenvolvimento da personalidade se divide em duas funções: a afetividade e a inteligência. O crescimento da inteligência esta ligada a afetividade de tal forma que uma determinada relação interfere e pode determinar o desenvolvimento da inteligência. Sendo assim a obra walloniana diz que a afetividade e a inteligência são parceiros inseparáveis na evolução psíquica, pois ambas ajudam no desenvolvimento das crianças. Wallon (1999 apud Almeida 1993, p.14) afirma um pouco mais explicito a teoria do desenvolvimento da personalidade dentro da inteligência da criança que: [...] em grande parte, é função do meio social. Para que ela possa transportar o nível da experiência ou da invenção imediata e concreta, tornam-se necessários os instrumentos de origem social, como a linguagem e os diferentes sistemas de símbolos surgidos desse meio. Constituem seus objetivos a aquisição ou o desenvolvimento de noção e de conhecimento existentes fora do individuo e que representam o patrimônio do grupo. 18 A concepção dialética da construção do conhecimento, segundo Henri Wallon (1962) coloca no mesmo grau de importância os aspectos motores, afetivos, cognitivos, pessoais e sociais. “O homem é um ser biológico, é um ser social e é uma e a mesma pessoa.” (Wallon, 1975, p. 128-129). Segundo Wallon,(1994) desde as primeiras fases da infância, as relações afetivas estabelecidas, tanto no meio familiar quanto no contexto pedagógico, são determinantes na construção da identidade e do caráter da criança. Sendo assim, a constituição da consciência se dá pela interferência do meio social no meio orgânico. A estrutura orgânica se modifica na medida em que sofre influências do ambiente e de todos os valores ali presentes, em um processo contínuo, progressivo e recíproco. Os vários estágios de desenvolvimento da criança, caracterizados por Wallon, desde o início da infância, até a vida adulta, têm como característica central a predominância alternada dos aspectos afetivos e cognitivos, numa construção progressiva e complexa, tramada com as influências do contexto. Wallon denomina esse processo de “princípio de alternância funcional”. Por serem aspectos interdependentes no desenvolvimento humano, a inteligência, a afetividade e a motricidade são consideradas como “campos funcionais”, por meio dos quais se desenvolvem as atividades infantis. Nas primeiras fases da infância são predominantes as reações afetivas primárias, caracterizadas pelo contato físico, como por exemplo, o beijo e o abraço. Na teoria de Wallon também se entrelaça a emoção que está presente dentro da afetividade e da inteligência. Assim a emoção passa a ser um fator importante da relação de convivência do indivíduo que se torna uma expressão própria da afetividade. Como Dantas (1999 apud Almeida1993, p.74) afirma que “a emoção estabelece, pois, as bases da inteligência; se identifica com o seu desenvolvimento próximo, a afetividade, surge como condições para toda e qualquer intervenção sobre aquela”. 19 Para a formação do indivíduo com sua personalidade para o meio social, Wallon distingue as emoções como ponto chave para o desenvolvimento da criança e assim intercala também essas emoções dentro de sala de aula. Wallon (1989) acredita que a afetividade não é apenas uma das dimensões da pessoa, mas também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. Segundo ele, o ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional e, portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com predomínio da primeira. Desta forma, em sua teoria, o desenvolvimento da pessoa é visto como uma construção progressiva em que fases se sucedem com predominância alternadamente afetiva e cognitiva. Almeida (1999, p. 42) ao mencionar Wallon diz que ele atribui à emoção como os sentimentos e desejos, são manifestações da vida afetiva, um papel fundamental no processo de desenvolvimento humano. Entende-se por emoção as formas corporais de expressar o estado de espírito da pessoa, este estado afetivo pode ser penoso ou agradável. Henri Wallon traz a dimensão afetiva como ponto fundamental em sua teoria psicogenética. "As emoções, assim como os sentimentos e os desejos, são manifestações da vida afetiva”. Na linguagem comum costuma-se substituir emoção por afetividade, tratando os termos como sinônimos. Todavia, não o são. A afetividade é um conceito mais abrangente no qual se inserem várias manifestações, Wallon. A afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade, lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e inteligência se misturam, havendo o predomínio da primeira e, mesmo havendo logo uma diferenciação entre as duas haverá uma permanente reciprocidade entre elas. Para o mesmo autor,(1999) as emoções são a exteriorização da afetividade; são as manifestações orgânicas possíveis de serem percebidas 20 pelo outro social, aliás, esta é a sua característica específica, ou seja, vir sempre acompanhada por alterações orgânicas, que adquirem valor expressivo, através da função tônico-postural. É a emoção que estabelece o vínculo entre a pessoa e o mundo, sendo o elo que une a vida orgânicaà psíquica. Na teoria de Wallon, a emoção se integra de maneira indissociável a inteligência, e ambas se expressam através do movimento, que, por sua vez, afetará as emoções e a inteligência. Nesse sentido, é a afetividade que vai dar condições ao surgimento da atividade cognitiva. A afetividade é um dos principais elementos do desenvolvimento humano. Ainda conforme a teoria Walloniana, as emoções dependem fundamentalmente da organização dos espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico tanto pela qualidade do gesto e do movimento, quanto por sua representação. Portanto a disposição do espaço da sala de aula deveria ser diferente, a rigidez e a imobilidade deveriam ser quebradas, adaptando a sala de aula para que os alunos possam se movimentar mais, disponibilizando material para que possam ter atividades mais lúdicas. Ainda nessa teoria, a relação entre os progressos da afetividade e os da inteligência só pode ser compreendida a partir de uma relação de reciprocidade e de interdependência. As condições para a evolução da inteligência têm raízes no desenvolvimento da afetividade e vice-versa. Dessa forma, para se pensar a pessoa na psicogenética walloniana, é preciso compreendê-la a partir da inteligência, da afetividade e do ato motor. Assim, na interação afetiva com outro sujeito, cada sujeito intensifica sua relação consigo mesmo, observa seus limites e, ao mesmo tempo, aprende a respeitar os limites do outro. É importante reafirmar a posição de Wallon(1992) quanto ao desenvolvimento da afetividade, pois segundo o autor, ela manifesta-se primitivamente nos gestos expressivos da criança. "Enquanto não aparece a palavra, é o movimento que traduz a vida psíquica, garantindo a relação da 21 criança com o meio, Almeida, 1999. Através das interações sociais, as manifestações posturais vão ganhando significado e, com a aquisição da linguagem, a afetividade adquire novas formas de manifestação, além de ocorrer também uma transformação nos próprios níveis de exigência afetiva. Wallon (1879-1962), nos deixou uma enorme contribuição nesse sentido, e é por meio dessas contribuições que muitos educadores procuravam desenvolver seu trabalho, observando de forma peculiar seus alunos. Já que, a educação deve ser vista como sendo de fundamental importância no processo do desenvolvimento humano. 22 CAPÍTULO III AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias. (Cury, 2003) No contexto afetividade, Miranda diz que a relação professor-aluno ultrapassa os limites profissionais e escolares, pois é uma relação que envolve sentimentos e deixa marcas para toda a vida. Davis e Oliveira (1992) dizem que a presença do adulto dá à criança condições de segurança física e emocional que a levam a explorar mais o ambiente, e, portanto, a aprender. Por outro lado a interação humana envolve também a afetividade, a emoção como elemento básico. Paulo Freire (1983)dizia que cabe ao professor um importante papel nas inter-relações escolares. As características individuais dos professores (autoritário, permissivo, organizado) e seus traços de personalidade são apontadas como responsáveis por maior ou menor eficiência como docentes, assim como a predisposição deste indivíduo para o magistério. Ainda para esse autor, para aprender, o aluno precisa ter ao seu lado alguém que o perceba-nos diferentes momentos da situação de aprendizagem e que lhe responda de forma a ajudá-lo a evoluir no processo, alcançando um nível mais elevado de conhecimento. Por meio da interação que se estabelece entre eles, o aluno vai construindo novos conhecimentos, habilidades e significações, sendo a afetividade primordial neste processo. Almeida afirma (1999), citada por Leite : Entre as interações que possuem grande papel em nossas vidas, encontram-se as interações que vivemos com nossos professores, pois a relação professor e aluno é mais do que ser pautada pelas ações que um dirige 23 ao outro, é afetada pelas ideias que um tem do outro, ou seja, pelas representações mútuas entre alunos e professores. Cury nos diz, com base no que foi visto: “ Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade para aprender “ (Cury, 2006 p. 17) Antunes ( 1996, p.56) nos diz que o professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os alunos e que perceba que como indivíduo, seus alunos também têm algo a oferecer e que a aprendizagem se faz por intermédio das interações que são estabelecidas. O professor oferece por meio de suas atitudes, uma série de informações ao aluno que irão contribuir na formação de seu autoconceito. Portanto, as expectativas que o professor tem para com seu aluno poderão contribuir sobre seu desempenho. Ainda segundo Antunes, O aluno que tem suas características valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada vez mais, enquanto aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se afastar da situação e acaba por ver as expectativas negativas do professor confirmadas. Acreditando nisto,o autor afirma que a relação professor e aluno deve ser baseada em afetividade e sinceridade, pois: Se um professor assume aulas para uma classe e crê que ela não aprenderá, então está certo e ela terá imensas dificuldades. Se ao invés disso, ele crê no desempenho da classe, ele conseguirá uma mudança, porque o cérebro humano é muito sensível a essa expectativa sobre o desempenho. Antunes,(1996) 24 O mesmo autor, diz que quando o professor pouco se importa com as crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem acentua-se muito mais a necessidade delas se veem como incompetentes, o que interfere em seu autoconceito e em sua capacidade de reverter a situação. Socialmente pode apresentar comportamento de isolamento, dependência, passividade e até mesmo submissão, por se sentir em menos respeitadas e aceitas. Para Augusto Curry, (2003), o papel do professor requer uma reflexão que aponta à necessidade de mudança na concepção quanto a Educação, proporcionando mudança de metodologia caminhando ao encontro da real necessidade de seus alunos. O professor, em colaboração com seus alunos e de acordo com sua individualidade, modifica suas próprias ideias em conformação com a realidade, que é móvel e dependente da existência de todos, e que também deve visar ao interesse de cada um. A experiência professor-aluno para que seja significativa, deve ser permeada por afetividade, já que cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do conhecimento humano. Por isto mesmo, aprender é uma forma de desenvolvimento de competências individuais, além de ser um exercício constante em estar de braços abertos para todo e qualquer conhecimento. De acordo com Cury, (2003) para realizar as propostas do ensino, o professor deve conhecer bem as possibilidades de aprendizagens do aluno e suas características individuais, para que possa adequar a metodologia de ensino ao aluno. O conhecimento será feito por intermédio da interação e da comunicação, da observação constante de seus processos de aprendizagem e da reavaliação da proposta a cada nova fase do processo. O professor assume um papel de grande destaque para a aprendizagem da criança, pois ele é o mediador no processoda aprendizagem e não o detentor de conhecimentos. Por meio da afetividade, o professor influencia no resultado da educação de seus alunos. Cury afirma que a maneira como o professor se comporta em sala de aula, através de seus sentimentos, intenções, desejos e valores, afeta seus alunos, uma simples maneira de falar, já faz toda diferença. 25 “Bons professores são mestres temporários, professores fascinantes são mestres inesquecíveis.” (Augusto Cury, 2003, pág.72). Para Leite, a participação ativa dos alunos acontece quando estes sentem que podem ter êxito em sua aprendizagem e para isso devem ser propostas atividades que eles sejam capazes de resolver com as ajudas necessárias, e sejam encorajados pelo esforço e não pelo resultado. Leite afirma que: " as relações afetivas se evidenciam, pois a transmissão do conhecimento implica, necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor- aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto esta presente.” (Leite, 2006,p. 29, 30) Em síntese, Leite ( apud Piaget, 1980 ) acredita que a sala de aula é um grande laboratório para que se observe e questione os motivos que levam o convívio escolar do professor e aluno, muitas vezes, a ficar desgastado e sem estímulo. Sabe-se que o ser humano tem grande necessidade de ser ouvido, acolhido e valorizado contribuindo dessa forma para uma boa imagem de si mesmo. Neste sentido, a afetividade está intimamente ligada à construção da auto-estima. Sendo assim, sua importância em toda relação é fundamental para os sujeitos envolvidos. Logo, a relação entre professor e aluno, deve ser mais próxima possível, pautada em partilha de sentimentos e respeito mútuo das diferentes ideias. 26 Algumas observações feitas por mim em salas de terceiro e quarto anos do ensino fundamental, percebi a exigência constante de disciplina, o estabelecimento de uma relação autoritária entre a professora e seus alunos, o trabalho obrigatório e repetitivo. Um dos meios de controlar a disciplina é a divisão do tempo. Há hora determinada para entrar, sair, para o recreio, a merenda, para tomar água, para ir ao banheiro, etc. O cumprimento do horário é obrigatório, sem se levar em conta o que a criança está fazendo ou qual é sua vontade no momento. Observei também que a professora vigiava e cobrava constantemente seus alunos em forma de ameaças, gerando um clima de tensão entre as crianças. O aluno sempre corre o risco de ficar sem recreio, de ser retido após as aulas, ficar na coordenação, além de outras ameaças de castigo. Quem é “bem comportado” recebe recompensas e é apresentado como modelo aos colegas. Na sala de aula é proibido falar. Há um verdadeiro culto ao silêncio. A professora é o centro da atenção. Todos devem olhar para ela, ouvi-la, ela exige silêncio o tempo inteiro e quer que a classe aprenda do seu jeito. Vygotsky (1994) em seus estudos, dizia que a aprendizagem escolar, a relação entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros e escrita, não se dá puramente no campo cognitivo, existe uma base afetiva permeando essas relações, visto que, para aprender é necessário um vínculo de confiança entre quem ensina e quem aprende. Vygotsky ainda destaca a importância das interações sociais, ressaltando a ideia da mediação e da internalização como aspectos fundamentais para a aprendizagem e, defendendo que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Portanto, é a partir de sua inserção na cultura que a criança, através da interação social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo na constituição do seu eu. 27 Apropriando-se das práticas culturalmente estabelecidas, ela vai evoluindo das formas elementares de pensamento para formas mais abstratas, que a ajudarão a conhecer e controlar a realidade. Nesse sentido, Vygotsky (1994, p. 55) destaca a importância do outro no processo não só de construção do conhecimento, mas também de constituição do próprio sujeito e de suas formas de agir. É o ponto de partida para um bom desempenho no processo de ensino-aprendizagem, pois nela estão inseridos elementos que irão resultar em produtividade para ambas as partes. Davis e Oliveira dizem que a presença do adulto dá à criança condições de segurança física e emocional que a levam a explorar mais o ambiente, e, portanto, a aprender. Por outro lado a interação humana envolve também a afetividade, a emoção como elemento básico. Segundo Paulo Freire: “ O bom educador é o que consegue enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim, um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas “ (1996:96). Paulo Freire nos diz que quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender e que o aprender precedeu do ensinar. É de suma importância que exista dentro de quem ensina, uma vontade de sempre aprender; Acompanhada de vontade, garra, imaginação entre outros tudo devidamente dosado. 28 De acordo com Morales (2006, p.61) “a conduta do professor influi sobre a motivação, afetividade e a dedicação do aluno ao aprendizado”. Pode reafirmar que o aluno se vê influenciado por sua percepção em relação ao professor. O professor deve sempre reforçar a autoconfiança dos alunos, manterem sempre uma atitude de cordialidade. Contudo, todo aluno precisa aprender a ser feliz e descobrir o prazer de aprender. O professor tem as mesmas necessidades, precisa ser feliz para contagiar seus alunos com sua felicidade, e encontrar prazer também em aprender, afinal o educador é um eterno aprendiz. Ao encontrar prazer em aprender e ensinar, reconhecerá seu erro e o erro de seu aluno como parte do processo ensino aprendizagem. Não terá medo, dos novos desafios que surgirão, diante de uma nova educação que não seja a tradicional, ao procurar escolher com otimismo projetos inovadores que proporcione aos educandos interesse e prazer consciente, sem medo de encarar os obstáculos que surgirão durante o aprendizado. professor deve acolher e respeitar a diversidade e trabalhar com a dificuldade comportamental, tirando dessas situações proveitos para melhorar sua prática. Aprender a conviver com estas situações faz parte, sem dúvida, da aprendizagem de ser professor, pois diante de cada situação devemos analisar nossa prática e postura e mudá-la quando se fizer necessário. 29 CAPÍTULO IV O PAPEL DA ESCOLA NA RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO (...) É minha obra livre de mim. Se não vejo na criança, uma criança É porque alguém a violentou antes E o que vejo é o que sobrou De tudo que lhe foi tirado (...) o mundo deveria parar Para começar um novo encontro, Porque a criança É o princípio sem fim E seu fim é o fim de todos nós. BetinhoSouza (1992) Paulo Freire (1996), diz que da escola, enquanto relação professor e aluno, é de suma importância para que a formação da auto-estima seja pautada em segurança, autonomia de ideias, conceitos que o próprio aluno tenha de si e que contribuem para seu desempenho escolar e de sua vida como um todo. As pessoas precisam aprender durante toda a vida que o papel da escola é ensiná-las a desenvolver a capacidade de pensar. Paulo Freire defendia que ninguém ensina nada a ninguém, aprendemos juntos. É preciso criar tempos, oportunidades e estímulos para aprender e enriquecerem-se uns aos outros. A escola deve ser o lugar onde se aprende com qualidade, havendo, portanto necessidade cada vez maior de contar com profissionais comprometidos e competentes. O professor deve perceber que a grande responsabilidade está no amor àquele com quem convivemos, o nosso aluno. Pois, como dizia Cury, bons professores educam para uma profissão, 30 professores fascinantes educam para a vida. Cury (2003) afirma que é através da aprendizagem que o homem muda e transforma o meio. É importante perceber que cada pessoa tem o seu próprio ritmo de aprender e o processo é gradual, basta compreender a necessidade de cada um. A interação do aluno com a escola, possui uma enorme parcela de contribuição para o crescimento da criança. Como Almeida (1999, p.106) ressalta: “A escola – tanto quanto a família – tem o papel de desenvolvimento infantil, e a relação professor-aluno, por ser de natureza antagônica, oferece riquíssimas possibilidades de crescimento. Os conflitos que podem surgir dessa relação desigual exercem um importante papel na personalidade da criança “ Para Capelatto, muitos problemas enfrentados em nossas escolas, entre eles a indisciplina, preveem de várias situações sócio-afetivas não resolvidas no decorrer dos anos e da debilitação que muitas crianças passam a ter, causando, muitas vezes, consequências irreversíveis na escola. Geralmente as escolas elaboram uma programação que privilegia o aspecto cognitivo sobre o afetivo, ignorando que desenvolvimento afetivo e desenvolvimento intelectual são aspectos diversos de uma mesma e única realidade: o desenvolvimento pessoal do indivíduo. Ao destacar a escola como ambiente relevante para o desenvolvimento cognitivo e afetivo, Capelatto (p.8) diz que a afetividade é a dinâmica mais profunda na qual o ser humano pode participar, e que se inicia no momento em que um sujeito se liga a outro por amor. Sabe-se, no entanto, que a escola não 31 é a solução para todas as dificuldades existentes do ser humano, porém, como órgão educacional que tem como uma de suas funções a formação do cidadão como sujeito construtor do seu contexto histórico, pode e deve contribuir para mudanças significativas na relação professor e aluno, pois, além da sala de aula que oferece conteúdos e provas, a afetividade está presente em cada ação e busca seu espaço no espelho que a turma repassa aos técnicos quando dispõem do diário de notas, conselho de classes, conselho escolar e tantos outros instrumentos e setores que retratam esta relação. Desse modo: “ Algumas escolas preocupam-se apenas com a quantidade de informações que transmitem por meio de competição e do uso de modernas tecnologias, de forma meramente burocrática e mercadológica. Afastam-se assim do “ser humano”, tratando os alunos apenas como número de registro. Com isso, apesar de dispor de um grande espaço onde os jovens passam metade do seu dia durante duzentos dias por ano, acabam por perder a oportunidade de ajudá-los a desenvolver a afetividade “ (Capelatto, p. 14) Se um professor for competente, ele, através de seu compromisso de educar para o conhecimento, contribuirá com a formação da pessoa, podendo inclusive contribuir para a superação de desajustes emocionais, Capelatto ( 1992: 72 ). Para Tiba (1999), cuidar é mais que um ato, é uma atitude, portanto abrange mais que um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e envolvimento afetivo. Por isto, é preciso cuidar da terra antes e depois da semente ser lançada, para que a planta possa crescer, florescer e dar bons frutos. Mais do 32 que aula, muitas vezes o aluno vai para a sala de aula em busca de respostas que esclareçam o seu verdadeiro papel na sociedade. Considera esta escola, como grupo social que pode contribuir para sua formação como cidadão e, na maioria das vezes, a escola e o professor não se preocupam com o “tipo” de aluno que estão convivendo, muito menos, em estabelecer um vínculo afetivo mais forte nesta relação favorecendo atitudes positivas que favoreçam na formação da auto-estima do aluno. Segundo Morales (1998 ), afeto e auto-estima constituem aspectos inseparáveis, presentes em qualquer atividade. A afetividade se estrutura nas ações dos indivíduos. O afeto pode, assim, ser entendido como energia necessária para que a estrutura de auto estima possa operar. Ela influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as pessoas se sentem seguras, aprendem com mais facilidade. Morales (1998:61) afirma que a conduta do professor influi sobre a motivação, afetividade, auto estima e a dedicação do aluno ao aprendizado”. Podemos reafirmar que o aluno se vê influenciado por sua percepção em relação ao professor. O professor deve sempre reforçar a autoconfiança dos alunos, manterem sempre uma atitude de cordialidade e de respeito. In Rubem Alves (2001),diz que hoje, educar significa também preocupar-se com a construção e organização da dimensão afetiva das pessoas, afinal a escola, para cumprir seu papel, deve ser um lugar de vida e, sobretudo, de sucesso e realização pessoal para alunos e professores. A experiência entre professor e aluno promove o ser, reduz a angústia, facilita os acertos da vida, conduzindo-os a vencer desafios da afetividade e educação na conquista da aprendizagem significativa. 33 Rubem Alves (2001), comenta que os professores devem ensinar com paixão e alegria, dificilmente o professor conseguirá transmitir satisfação ou provocar desejo de aprender se não estiver feliz exercendo sua profissão. 34 CAPÍTULO V ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS À AFETIVIDADE Precisamos ser felizes para contagiar nossos alunos com nossa felicidade. Precisamos encontrar prazer também em aprender, afinal, nós educadores somos eternos aprendizes. Cury. No ano de 2001 passei por uma experiência de trabalho com uma turma de terceiro ano, na qual haviam alunos totalmente sem controle. Eu seria a terceira professora a assumir essa turma. Fiquei muito preocupada e de cara pensei, preciso conquistá-los através do afeto e do carinho, pois eram as ferramentas que eu possuía e que sempre fizeram parte do meu ambiente familiar. Trabalhar com essa turma foi muito difícil, mas aos poucos fui conseguindo interagir e percebi que uns eram levados por outros a agirem dessa forma e causar essa falta de controle. Tinham dois alunos que eram realmente difíceis, o comportamento totalmente comprometido, sem limites, sem amor a si e ao próximo. Havia muita dificuldade em resolver os acontecimentos através do diálogo e na qual a afetividade pelooutro não existia. O conteúdo nessa turma estava sempre atrasado, porque era necessário interromper a aula constantemente para resolver os conflitos existentes. Após o recreio, eu reservava sempre um tempo para pontuar as brigas que ocorriam no pátio. Percebi de cara que deveria fazer um trabalho diferenciado e comecei a introduzir os valores, aqueles que deveriam ser passados em casa, no dia-a-dia. Pois percebo que é preciso esclarecer às 35 famílias de nossos alunos a importância de sua presença na vida escolar de seus filhos e trabalhar a necessidade do vínculo afetivo nas relações. Percebia muita individualidade, do tipo, eu quero, eu preciso, eu, eu eu. Havia pouco respeito, amizade, companheirismo. Os pais pouco queriam saber se os filhos agiam de forma civilizada e com respeito, mas acreditavam em tudo que a criança passava em casa e culpava a escola e a professora, como defesa, fortalecendo assim a indisciplina da criança. A verdade, o que estava importando era a nota e se iria passar no final do ano. Reclamavam na coordenação que pouco tinha para resolver. Posso dizer que para alguns alunos dessa turma, a única forma de carinho que eles tinham vinha de mim, alunos que chegavam a me dizer que eu era mais preocupada e que gostava mais deles do que a própria mãe, pois eu os abraçava, os escutava e sua mãe não. Procuro dizer sempre que são capazes, que são importantes. Quando tenho que conversar com eles sobre algum comportamento que foi inadequado, procuro auxiliá-los na conscientização sobre o que aconteceu, de maneira afetiva, procurando fazer com que a crítica seja vista por eles como construtiva e não destrutiva. Nesses momentos lembro-me de meus pais, dizendo sempre que o elogio é o que de fato todos querem ouvir, elogiar e, ao criticar devemos ter o devido cuidado. Também, segundo Cury (2003), antes de criticar, devemos dizer ao aluno o quanto ele é importante, pois, ao elogiá-lo antes de mostrar- lhe seu defeito, ele acolherá melhor as observações que lhe serão feitas. “Criticar sem antes elogiar obstrui a inteligência, leva o jovem a reagir por instinto, como um animal ameaçado.” (Cury, 2003, pág.144). Pela minha prática pedagógica vejo que com o afeto é mais fácil conseguir se aproximar daquele aluno que se mantém o mais distante possível e conseguir fazer com que ele se enxergue como alguém especial e que tenha muita coisa boa para oferecer. 36 Estas duas crianças apresentavam um nível de auto-estima muito baixo e a descrença em todas as atividades que se propunha a realizar. Ao participar a família de determinadas situações, percebi que eles vinham de famílias totalmente desestruturadas e sem comprometimento nenhum com seu processo educacional. Iniciei um trabalho de afetividade e aumento de sua auto-estima. Procurava valorizar tudo o que eles faziam e mostrava confiança em suas atitudes. Os elogiava sempre! Segundo a teoria de Piaget, o afeto se desenvolve no mesmo sentido que a cognição ou inteligência e é o afeto o princípio norteador da auto-estima. Assim, a autoestima mantém uma estreita relação com a motivação ou interesse da criança para aprender. Estes alunos apresentaram progressos em sua aprendizagem durante o ano, passaram a ser mais participativos em debates e rodas de conversa e a ter mais vontade em aprender e desenvolver as atividades que lhes eram propostas. Durante o resto do ano não apresentaram problemas sérios comportamentais. O aluno necessita ser visto e tratado como alguém que tem muito a oferecer e eles tiveram essa oportunidade. “Ser educador é ser promotor de auto-estima.” (Augusto Cury, 2003, pág.145) Para Freire (1996 ), o professor é um intermediário entre o aluno e o conhecimento. Através da sua fala o professor pode ser o responsável por várias escolhas na vida do educando. Desenvolvi algumas estratégias também por virtude dos demais alunos. Criamos nossas regras, elegemos uma pessoa por dia que seria chamada de CAPITÃO, esse capitão seria responsável por organizar a fila para o recreio, 37 lanche, entrada e saída dos alunos. No dia seguinte tínhamos outra criança comandando. O que demorou para eles perceberem era que o capitão sempre mandava no resto do grupo e o respeito foi fundamental. Tudo foi conquistado com afetividade e diálogo. As crianças começaram a ter uma aproximação maior umas das outras, trabalhavam mais em grupo e participavam ativamente das aulas com sucesso, porque todo ser humano necessita de limites, mas de carinho e amor também. Um aluno respeita a partir do momento em que vê o professor como uma pessoa que tem e espera respeito, como alguém que se preocupa de verdade com ele e que lhe mostra caminhos. Aprendi, no decorrer de minha atuação como educadora, que não existe receita pronta, que cada aluno é único e que cada ano letivo deve ser visto como um desafio que pode ser vencido e não como uma barreira intransponível. De acordo com Cury (2006), sendo a afetividade essencial às relações humanas, vejo o educando como um sujeito em fase de formação, com características peculiares e que necessita de educação e cuidados que favoreça sua constituição como indivíduo. A afetividade está muito presente no processo de aprendizagem, principalmente quando se trata de criança. Ela é facilitadora deste processo e o professor um mediador. Eu também acredito que, através da afetividade e da proximidade, possamos despertar a sensibilidade, formar valores e, consequentemente, construir uma sociedade mais consciente e mais capaz de alcançar objetivos para si e para o próximo. A atuação do psicopedagogo é fundamental para que ele possa conhecer o aluno. Este profissional deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, raiva e sentimentos. Ele não deve parar de buscar meios; conhecer, estudar para compreender de forma mais completa estas crianças e adolescentes já 38 tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores. 39 CAPÍTULO VI OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA A psicopedagogia chegou ao Brasil na década de 70, época em que as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica, denominada de disfunção cerebral mínima (DCM), que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Inicialmente, os problemas de aprendizagem foram estudados e tratados por médicos na Europa no século XIX e no Brasil percebemos, ainda hoje, que na maioria das vezes a primeira atitude dos familiares é levar seus filhos a uma consulta médica. Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum receber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola. A Psicopedagogia foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a duração de dois anos. A Psicopedagogia foi inicialmente uma ação subsidiada da Medicina e da Psicologia, perfilando-se posteriormente como um conhecimento independentee complementar, possuída de um objeto de estudo, denominado processo de aprendizagem, e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. Com esta visão de uma formação independente, porém complementar, destas duas áreas, o Brasil recebeu contribuições para o desenvolvimento da área psicopedagógica de profissionais argentinos tais como: Sara Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca, dentre outros. 40 Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Foi o criador da Epistemologia Convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Escola de Genebra - Psicogenética de Piaget (já que ninguém pode aprender além do que sua estrutura cognitiva permite), Escola Psicanalítica - Freud ( já que dois sujeitos com igual nível cognitivo e distintos investimentos afetivos em relação a um objeto aprenderão de forma diferente) e a Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière. "Se ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, ainda assim suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido às influências que sofreram por seus meios sócio-culturais". (VISCA, 1991: 66). Visca implantou CEPs no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e Campinas, Salvador, e Curitiba. Deu aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville, Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e muitas outras. Muitos outros cursos de Psicopedagogia foram surgindo ao longo deste período até os dias atuais e este crescimento não para de acontecer o que indica uma grande procura por esta profissão. Existe, em nosso país há 13 anos a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) que dá um norte a esta profissão. Ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação de temas relacionados à Psicopedagogia e pelo cadastro dos profissionais. A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda muito grande: "o problema de aprendizagem" colocando-o num espaço muito pouco explorado, situado além dos limites da psicologia e da própria pedagogia. Portanto, vemos que, a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como a aprendizagem varia evolutivamente, como reconhecer problemas, como tratá- los e prevení-los. 41 Nadia Bossa em seus estudos expressa: À atitude do profissional no sentido de adequar as condições de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. (...) Nesse processo o psicopedagogo elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com objetivo de facilitar e /ou desobstruir tal processo, função primeira da psicopedagogia.(1994:11). A atuação do psicopedagogo é fundamental para que ele possa conhecer o aluno. Este profissional deve estar preparado para lidar com possíveis reações frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, raivas e sentimentos. Ele não deve parar de buscar meios; conhecer, estudar para compreender de forma mais completa estas crianças e adolescentes já tão criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores. De acordo com Bossa, "o reconhecimento do caráter interdisciplinar, significa admitir sua especificidade, uma vez que a psicopedagogia, na busca de conhecimentos de outros campos, cria o seu próprio objeto de estudo". (1994:5-6). Partindo dessa premissa temos que abandonar a ideia de tratar a psicopedagogia apenas como aplicação da psicologia à pedagogia, pois ainda que se tratasse de recorrer apenas à essas duas disciplinas na solução de problemas de aprendizagem, não seria como mera aplicação de uma à outra, mas sim, na constituição de uma nova área. A função do psicopedagogo na área educativa é cooperar para diminuir o fracasso, seja este na instituição escolar, seja do próprio sujeito ou, o que é mais frequente, de ambos. E tudo isso deve ser feito através de assessoramento aos pais, professores e diretores, para que possam decidir e opinar na elaboração de planos metodológicos. Quanto à função do psicopedagogo clínico, ele trabalha em consultórios particulares e/ou instituição de saúde, hospitais públicos e particulares. Ele procura sistematicamente, reconhecer as alterações na aprendizagem. 42 A psicopedagogia, como pode ver, tem o seu lugar na clínica e na instituição. Cada um desses espaços implica uma metodologia específica de trabalho. Em ambos, no entanto, devem ser consideradas as circunstâncias, ou seja, o contexto de vida do sujeito, da família, da escola e da comunidade. A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de um demanda muito grande: “o problema de aprendizagem” colocando-o num espaço muito pouco explorado, situado além dos limites da psicologia e da própria pedagogia. Portanto, vemos que, a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como a aprendizagem varia evolutivamente, como reconhecer problemas, como tratá- los e prevení-los. Tais questionamentos adquirem características especificas a depender do trabalho clínico ou preventivo. No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem, é objeto de estudo da psicopedagogia. 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS: AFETIVIDADE E AUTO- ESTIMA O sentido não está na partida nem na chegada. Ele se coloca para nós no meio das travessias. (Guimarães Rosa) Para o autor Paulo Freire (1993 p,71), “cabe ao professor observar a si próprio; olhar para o mundo, olhar para si e sugerir que os alunos façam o mesmo e não apenas ensinar regras, teorias e cálculos”. O professor deve ser um mediador de conhecimentos, utilizando sua situação privilegiada em sala de aula não apenas para instruções formais, mas para despertar os alunos para a curiosidade; ensiná-los a pensar, a ser persistentes a ter empatia e ser autores e não expectadores no palco da existência. Segundo o autor supracitado, o educador precisa estar atento para perceber as contradições da turma, as dificuldades, as frustrações, as identificações com a aprendizagem, enfim, perceber as características mais evidentes em sua turma de alunos e buscar sempre novos caminhos para as dificuldades que surgem todos os dias, procurando, dessa maneira, favorecer e reforçar a decisão de aprender. É importante que o professor entenda que o lugar que ele ocupa em relação aos seus alunos não é apenas daquele que ensina, mas sim daquele que deixa marcas. 44 Pelos pressupostos teóricos expostos ao longo do presente trabalho, podemos identificar como os conceitos de auto-estima e afetividade são importantes para um desenvolvimento pessoal do indivíduo. Na perspectiva genética de Wallon, inteligência e afetividade estão integradas: a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afetivas. Ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, é ser, realmente, sujeito. É ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem, ser para o aluno o seu decifrador de códigos e receptor de suas muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente uma interaçãoonde em lugar da opressão e da prepotência, eleva-se a dignidade de quem educa, a certeza de quem planta amanhãs. Com este breve estudo ficou nítido que a afetividade é fundamental para o desenvolvimento integral de todas as crianças. Criança amada, respeitada é criança feliz e consequentemente capaz de ser um cidadão crítico e exercer com clareza a cidadania. 45 BIBLIOGRAFIA CITADA ALMEIDA, A. R. S. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus: 1999. _________. (orgs). Henri Wallon: Psicologia e Educação. São Paulo: Loyola,2003. ANTUNES, Celso. A afetividade na escola: educando com firmeza. Londrina: Maxiprint, 2006.194p. ________. Alfabetização Emocional. São Paulo: Terra, 1996. 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