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www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 SIMULADO IV – XVI EXAME DE ORDEM Ricardo, médico, foi denunciado pelo representante do Ministério Público pelo crime de aborto sem o consentimento da gestante, com fundamento no art. 125 do Código Penal. A exordial acusatória informou que no dia 21 de janeiro de 2015, por volta das 19horas, Gabriela, gestante na 28ª semana, deu entrada no hospital em que Ricardo trabalha, sob a alegação de que estava sentindo dispneia, cefaleia, sudorese excessiva e dores na face e nas juntas. Submetida a avaliação prévia, Ricardo, valendo-se dos procedimentos recomendados pelo Conselho Federal de Medicina, atestou que Gabriela estava em situação notória de pré- eclâmpsia. Assim, Ricardo realizou o aborto. Em sede policial, Ricardo não foi ouvido pois no dia marcado para o seu interrogatório tinha uma viagem não podendo transferi-la. Gabriela foi ouvida e informou querer ter o seu filho e não pedir para o médico realizar a prática abortiva. Foi com base nas informações colhidas na fase pré processual que o representante do Parquet ofereceu denúncia em desfavor do acusado, a qual foi recebida pelo Juiz da 12ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Alfa, capital do Estado de Beta, vez que, no entendimento do magistrado, a inicial cumpriu todos os requisitos constantes no artigo 41 do Código de Processo Penal. Citado para oferecimento da resposta à acusação, o advogado de Ricardo constituído nos autos não foi intimado, por uma falha da secretaria, razão pela qual foi realizada defesa genérica por parte da defensoria pública, onde o defensor informou que deixaria para se manifestar ao longo da persecução penal, sem ter, inclusive, arrolado testemunha ou juntado algum documento no intuito de melhorar a situação do acusado. Na fase instrutória, Gabriela foi ouvida, ratificando em todos os seus termos os esclarecimentos prestados na fase de inquérito. As testemunhas arroladas pela acusação foram médicos e enfermeiros que estavam, juntamente com Ricardo, realizando o procedimento clínico destinado a fazer cessar o desenvolvimento gestacional, tendo sido informado em seus depoimentos que Ricardo realizou tal intervenção porque não tinha outro modo para salvar a vida da gestante, já que o nascituro estava pressionando áreas de intensa vascularização e produzindo a elevação desmedida da pressão arterial de Gabriela. Atestaram também que seria inviável naquelas condições a realização de procedimento cirúrgico objetivando a retirada do feto por meio de operação cesariana em decorrência do estado de debilidade da gestante, o que representaria risco extremamente demasiado a sua vida. Ricardo, em seu interrogatório, informou não serem verdadeiras as imputações realizadas e confirmando todos os fatos externados pelas testemunhas de acusação. Alegou, ainda, que realizou todos os procedimentos necessários com intuito de salvar a vida da gestante, mas lhe sendo impossível a preservação do desenvolvimento gestacional. www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 2 A perícia juntada aos autos constatou a veracidade do interrogatório prestado por Ricardo, corroborando com as informações fornecidas na audiência de instrução. Diante da complexidade do caso, o juiz permitiu a manifestação das partes por escrito. A acusação sustentou a comprovação do delito, em virtude do depoimento prestado pela mãe. A defesa teve vista dos autos em 10 de março de 2015, terça-feira. Em face da situação hipotética, na condição de advogado constituído por Ricardo, redija a peça processual adequada à defesa de sua cliente, alegando AS TESES DEFENSIVAS pertinentes. Date o documento no último dia do prazo para protocolo. PADRÃO DE RESPOSTA Endereçamento correto (Valor: 0,25) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 12ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ALFA CAPITAL DO ESTADO BETA Processo número: Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação dos Memoriais – artigo 403, §3º do Código de Processo Penal (Valor: 0,4). Ricardo, já qualificado nos autos do processo às folhas ( ), por seu advogado e bastante procurador que a esta subscreve, conforme procuração em anexo, vem, muito respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 403, parágrafo 3º do Código de Processo Penal apresentar os seus MEMORIAIS pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. Exposição dos Fatos (Valor: 0,25) 1. Dos Fatos Ricardo está sendo acusado de ter supostamente cometido o crime previsto no artigo 125 do Código Penal, no dia e hora constantes na exordial acusatória. Segundo a apuração dos fatos, o acusado teria praticado aborto sem o consentimento da gestante. O juiz da 12ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Alfa, capital do Estado Beta, recebeu a denúncia e mandou citar o réu para responder por escrito as acusações, as quais foram indevidamente realizadas por defensor público atuante na vara, sem, ao menos, existir qualquer tipo de defesa, já que na resposta não foram juntados documentos, tão pouco arroladas testemunhas. www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 3 Durante a fase instrutória, foram ouvidas testemunhas de acusação que informaram em seus depoimentos que Ricardo realizou tal intervenção porque não tinha outro modo para salvar a vida da gestante, já que o nascituro estava pressionando áreas de intensa vascularização e produzindo a elevação desmedida da pressão arterial de Gabriela. Ricardo, em seu interrogatório, informou não serem verdadeiras as imputações realizadas e confirmando todos os fatos externados pelas testemunhas de acusação. Alegou, ainda, que realizou todos os procedimentos necessários com intuito de salvar a vida da gestante, mas lhe sendo impossível a preservação do desenvolvimento gestacional. Por fim, diante da complexidade dos fatos, o juiz determinou as alegações finais por escrito no prazo sucessivo para acusação e defesa. Preliminar (Valor: 1,4) - Indicação da preliminar de falta de intimação de advogado, além do cerceamento de defesa em virtude da deficiência da defesa técnica. Fundamentação no artigo 564, IV do Código de Processo Penal em combinação com o artigo 5º, LV da Constituição Federal. (Valor: 0,5) - Indicação da preliminar de estado de necessidade, causa de exclusão da ilicitude do fato, nos termos do artigo 23, I em combinação com o artigo 24 do Código Penal. (Valor: 0,6) - Indicação da preliminar de falta de condição para o exercício da ação penal, qual seja, o interesse de agir, nos termos do artigo 395, II do Código de Processo Penal. (Valor: 0,3) 2. Das Preliminares Preliminarmente, é imperioso elucidar nulidade decorrente pela falta de intimação do advogado, além do cerceamento de defesa, em virtude da deficiência da defesa técnica, com fundamento no artigo 564, IV do Código de Processo Penal combinado com o artigo 5º, LV da Constituição Federal. Ainda em sede de preliminar, cumpre esclarecer a ocorrência manifesta do estado de necessidade, causa de exclusão da ilicitude do fato, nos termos do artigo 23, I em combinação com o artigo 24, ambos do Código Penal. É imperioso destacar, ainda, em sede de preliminar, que não existe interesse de agir, faltando uma condição para o exercício da ação penal, razãopela qual a denúncia sequer deveria ter sido recebida, nos termos do artigo 395, II, do Código de Processo Penal. Mérito (Valor: 1,5) - Desenvolvimento fundamentado acerca da excludente da ilicitude do fato do estado de necessidade, nos moldes do artigo 23, I em combinação com o artigo 24, ambos do Código Penal. (Valor: 0,8) - Desenvolvimento fundamentado acerca da nulidade existente pela falta de intimação do advogado, o que gerou cerceamento de defesa por falta de uma resposta técnica. (Valor: 0,2) www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 4 - Desenvolvimento fundamentado acerca da falta de interesse de agir, não havendo uma condição para o exercício da ação penal. (Valor: 0,2) - Desenvolvimento fundamento acerca da possibilidade de pedido de excludente de culpabilidade com fundamento no art. 128, I do Código Penal (Valor: 0,2) - Desenvolvimento sobre a possibilidade de impronúncia do agente. (Valor: 0,1) 3. Do Mérito Cumpre esclarecer que, no caso concreto, resta configurada a excludente de ilicitude de estado de necessidade, pela simples leitura das provas produzidas no decorrer do processo, razão pela qual o requerente deveria ter sido absolvido sumariamente. Consta dos autos que o agente, no intuito salvar a vida da gestante, que adentrou ao hospital com sintomas de pré-eclâmpsia, realizou o aborto. Conforme ensina a melhor doutrina, percebe-se que todos os requisitos do estado de necessidade estão presentes no caso concreto, nos exatos termos dos artigos 23, I e 24 do Código Penal. O agente estava diante de um perigo atual (é o perigo que está ocorrendo, é o perigo presente, concreto), pois Gabriela, gestante, deu entrada no hospital em que o médico trabalhava com fortes dores abdominais, dispneia, cefaleia e dores na face e nas juntas. Houve ameaça a direito alheio já que a vida de outrem estava em jogo. A situação de perigo não foi causada voluntariamente pelo requerente, tendo em vista que não criou a situação pela qual decorreu. Não havia outra forma de proteger a vida da gestante, ou seja, não tinha alternativa senão intervenção cirúrgica e a retirada do feto que não resistiu. E, por fim, o sacrifício do direito ameaçado do requerente, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, ou seja, a situação de perigo atual pela qual passou o agente não exigia que ele sacrificasse o direito à vida de outrem em virtude também da vida do feto. Em outras palavras, considera-se em estado de necessidade quando o sujeito pratica fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se, nos termos do artigo 23, I em combinação com o artigo 24, ambos do Código Penal. Na casuística apresentada, estão presentes todos os requisitos do estado de necessidade. Existiu um perigo atual, pois não havia outro meio de salvar a vida da gestante, senão, fazendo o aborto. Houve ameaça a direito de terceiro, já que a integridade física e a vida da paciente foram ameaçadas. A situação de perigo não foi causada voluntariamente pelo sujeito, tendo em vista que Ricardo não contribuiu de nenhuma forma para colocar a vida da gestante em perigo. Não havia outra forma de proteger o bem ameaçado, pois o médico não tinha alternativa na situação a não ser fazer o aborto na gestante. E, por fim, não era razoável exigir o sacrifício do direito ameaçado, uma vez que não se poderia exigir do réu que ele sacrificasse a vida da paciente em detrimento da vida do feto. Mesmo que duas vidas estivessem em jogo, é mais razoável que se salve a vida da gestante. Desta forma, estão presentes todos os requisitos do estado de necessidade, razão pela qual a absolvição sumária se impõe a Ricardo. www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 5 É mister destacar ainda, Excelência, a ocorrência manifesta de nulidade do processo por cerceamento de defesa, conforme previsão no Código de Processo Penal e na Constituição Federal. É sabido que a resposta à acusação é peça obrigatória, oportunidade em que o acusado poderá realizar toda matéria fática no intuito de defender-se, seja por meio de prova documental, justificações, diligências, perícias ou até mesmo o depoimento testemunhal. A falta de resposta à acusação ou a sua elaboração mal feita gera nulidade absoluta do processo, por ofender o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório. Conforme o caso concreto, o advogado do agente não foi intimado por um erro da secretaria, o que já seria causa de nulidade. Além disso, o defensor público que realizou a defesa de Ricardo apenas apresentou a resposta, mas nada juntou aos autos conjuntos probatórios no intuito de melhorar a situação do réu, gerando, nesse caso, nulidade. Apenas por cautela, cumpre esclarecer a falta de uma condição para o exercício da ação penal, qual seja, o interesse de agir. Ora, como o agente está amparado pela excludente da ilicitude do fato de estado de necessidade, artigo 23, I e artigo 24, ambos do Código Penal, haverá a exclusão do crime, razão pela qual o processo penal não terá um fim útil, já que não será aplicada uma pena privativa de liberdade ao final do processo, restando configurada a falta de interesse de agir. Além disso, é mister destacar ainda, Excelência, na possibilidade de tese defensiva excludente de culpabilidade do agente em virtude de taxatividade normativa prevista no art. 128, I do Código Penal, onde não se pune o aborto praticado por médico quando é para salvar a vida da gestante. Nesse caso, o código penal traz a possibilidade de excludente de culpabilidade, por ser uma circunstância em que o médico deveria atuar, não se punindo a sua conduta. Por fim, excelência, por amor à lide, é mister destacar, ainda, a possibilidade do agente em ser impronunciado, conforme previsão no art. 414 do Código de Processo Penal, já que não há em si prova da materialidade do crime nem indícios suficientes da autoria, razão pela qual a impronúncia, em caso de não aceitação dos demais pedidos, seria válida. Pedidos (Valor: 1,0) - Pedido principal de absolvição sumária, com indicação do artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal, em virtude da exclusão do crime e de causa de isenção de pena. (Valor: 0,6). - Pedido de anulação da instrução probatória em virtude da nulidade pelo cerceamento de defesa, fundamentando-se no artigo 564, IV do Código de Processo Penal combinado com artigo 5º, LV da Constituição Defesa. (Valor: 0,2) - Pedido de anulação ainda em virtude da ausência de necessidade/interesse para o exercício da ação. (Valor: 0,1) - Pedido de impronúncia, com fundamento no artigo 414 do Código de Processo Penal. (Valor: 0,1) 4. Dos Pedidos www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 6 Diante de todo exposto, requer-se a Vossa Excelência a absolvição sumária do réu, com fundamento no artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal, ante a demonstração inequívoca de exclusão de crime e isenção de pena. Apenas por cautela, não sendo acolhido o pedido de absolvição sumária, o que não se espera, requer-se ao douto julgador seja decretada a anulação da instrução probatória em virtude da nulidade pelo cerceamento de defesa, nos termos do artigo 564, IV do Código de Processo Penal, afrontandoo princípio constitucional previsto no artigo 5º, LV da Carta Magna, bem como pela ausência de necessidade/interesse para o exercício da ação, já que o processo não teria um fim útil. Por fim, requer-se o pedido de impronúncia, com fundamento no artigo 414 do Código de Processo Penal, de forma subsidiária, não sendo aceito os demais pedidos elencados. Indicação correta da Comarca, Estado, Data (Valor: 0,2). Termos em que, Pede deferimento. Alfa, capital do Estado Beta, 16 de março de 2015. Advogado, OAB 01. Fernando, proprietário de várias terras na Cidade de Lages, tomou conhecimento de que Eli estava deslocando a linha divisória de suas propriedades, no intuito de se apropriar das suas terras. Inconformado com a situação, procurou Advogado para que ele resolvesse o seu problema. Com isso, Arnóbio, Advogado contratado por Fernando, ingressou com uma queixa crime no juizado especial criminal da referida cidade, sob a alegação de que Eli estava praticando o crime de Alteração de limites, requerendo a condenação do agente. O juiz do juizado especial rejeitou a queixa, informando existir ilegitimidade de parte, já que o crime é motivador de ação penal pública incondicionada, sendo o Ministério Público o titular da ação. Com base somente nas informações prestadas, responda: a) Qual é o recurso cabível contra essa decisão? (Valor: 0,3) b) Qual é o prazo para a interposição do recurso? (Valor: 0,3) c) A quem deve ser endereçado? (Valor: 0,3) d) Qual o argumento mais pertinente em sede recursal no intuito de receber a inicial acusatória? (Valor: 0,35) Fundamente todas as suas respostas. Obs.: A mera indicação do artigo não é pontuada. PADRÃO DE RESPOSTA a) O recurso cabível contra a decisão do magistrado que rejeitou a inicial acusatória é a Apelação, com fundamento no artigo 82 da Lei 9.099/95. www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 7 b) O prazo de interposição do referido recurso é de 10 dias, consoante parágrafo 1º do artigo supracitado. c) O recurso ser endereçado a Turma recursal, por ser a instância superior de julgamento dos Juizados Especiais Criminais, composta por três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, conforme preceitua o próprio art. 82 da Lei 9.099/95 d) O argumento mais pertinentes em sede recursal no intuito fazer com que haja o recebimento da inicial acusatória é a alegação de inexistência de ilegitimidade de parte, já que o crime é motivador de ação penal privada nos termos do artigo 161, parágrafo 3º do Código Penal. Conforme o caso concreto, o crime cometido por Eli é de pequeno potencial ofensivo, previsto no artigo 161 do Código Penal com pena máxima de detenção de seis meses, competência prevista aos juizados especiais criminais, razão pela qual da decisão que rejeita a denúncia ou queixa caberá Apelação e não Recurso em Sentido Estrito, segundo taxatividade prevista no artigo 82 da Lei 9.099/95. O prazo de interposição também é diferenciado, pois o mesmo artigo supracitado, em seu parágrafo 1º prevê 10 dias para opor o referido recurso à Turma Recursal, composta por três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do juizado. A tese utilizada pelo Advogado de Fernando deverá ser a inexistência de ilegitimidade da parte, uma vez que o artigo 161, parágrafo 3º do Código Penal estabelece que o crime de alteração de limites, quando ocorrido em propriedade particular é motivador de ação penal privada, sendo a queixa crime a peça inicial acusatória para este tipo de ação. Sendo assim, não há que se falar em falta de pressuposto ou condição para o exercício da ação, não havendo razão a rejeição liminar por parte do magistrado. DIREITO PENAL – QUESTÃO 1 QUESITO AVALIADO a) Recurso cabível é a Apelação (0,2) / art. 82 da Lei 9.099/95 (0,1) b) prazo da Apelação de 10 dias (0,2) / Art. 82, §1º da Lei 9.099/95 (0,1) c) Endereçamento à Turma Recursal (0,2) / Art. 82 da Lei 9.099/95 (0,1) d) Inexistência de ilegitimidade da parte (0,2) / Crime motivador de ação penal pública privada (0,1) / Art. 161, §3º do Código Penal (0,05). 02. Augusto, almejando matar sua esposa Cassandra, adquire uma arma de fogo. No dia planejado, enquanto sua esposa dormia, pegou uma almofada, colocou na frente do cano da arma e disparou contra ela, vindo a atingi-la no peito. Em seguida, chamou Cassandra por diversas vezes, mas esta não obteve qualquer tipo de reação. Assim sendo, acreditando que Cassandra estaria morta, enrolou o corpo em um tapete e o colocou no porta-malas do seu veículo, objetivando ocultar o cadáver. Após dirigir por cerca de 15 quilômetros, jogou o corpo no meio do Rio. Depois de algumas semanas, o corpo foi encontrado e, ao ser realizada a www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 8 perícia tanatoscópica, constatou-se que o motivo da morte da vítima foi afogamento. Com base nas informações apresentadas, pergunta-se: a) A morte de Cassandra pode ser atribuída a Augusto? Justifique. (Valor: 0,85) b) Qual(is) crime(s) Augusto responderá? Justifique. (Valor: 0,4) A mera citação do dispositivo legal não confere a pontuação. PADRÃO DE RESPOSTA a) Sim, a morte de Cassandra pode ser atribuída a Augusto. Isso porque, o agente incorreu no instituto denominado aberratio causae, ou seja, erro de tipo acidental quanto a causa geradora do resultado delituoso. Na aberratio causae o agente delituoso pretende alcançar um determinado resultado, e o alcança, mas por um viés diferente daquele almejado. Nota-se que, no caso apresentado, Augusto, alcançou a morte de sua esposa Cassandra, não através do disparo de arma de fogo, mas sim, pelo afogamento provocado por ele. Assim, responderá Augusto pelo homicídio de Cassandra. b) Augusto responderá pelo homicídio qualificado pelo recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima, nos termos do artigo 121, §2º, IV do Código Penal Brasileiro com a agravante genérica em virtude dela ser sua esposa, conforme preceitua o artigo 61, III, “e” do mesmo diploma legal. Destaca-se que, em que pese existir divergência doutrinária, a corrente majoritária traz que, o agente deverá responder pelo dolo geral (primário), ou seja, responderá apenas pelo crime que objetivava alcançar. Ademais, não responderá o agente pela ocultação de cadáver em concurso material de crimes com o homicídio qualificado, pois na ocultação de cadáver é necessário ter o objeto do crime, que é o corpo sem vida (o cadáver), o que na casuística apresentada não tem. Como não há cadáver, estar-se diante de impropriedade absoluta do objeto e, consequentemente, crime impossível (art. 17 do CP). O Código Penal para reconhecimento do crime impossível não exige a plena consciência de que o delito é impossível, este se manifesta ainda que o agente não saiba que sua conduta implica crime impossível. Assim sendo, não se oculta quem ainda estar vivo. Razão pela qual, responderá Augusto apenas pelo homicídio qualificado. DIREITO PENAL – QUESTÃO 2 QUESITO AVALIADO A) A morte de Cassandra será atribuída a Augusto OU Augusto responderá pela morte de Cassandra (0,20) / Aberratio Causae OU erro de tipo acidental quanto a causa geradora do resultado delituoso (0,65) B) Homicídio qualificado pelo meio que impossibilitou a defesa da vítima OU homicídio qualificado pelo recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima (0,4)www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 9 03. André, de 22 anos, foi morar com Cadu, seu tio, em virtude da morte da sua Mãe, Antonieta. Apesar de terem um relacionamento muito tranquilo em casa, Cadu nunca confiou muito em André e, por isso, algumas vezes, deixava dinheiro guardado no armário do quarto de hóspedes. André, sabendo do esconderijo do seu tio, resolve subtrair R$ 300,00 (trezentos reais) para aproveitar a balada da sua cidade. Cadu percebeu a subtração um dia depois do ocorrido, e, mesmo sabendo quem tinha praticado o crime, como ia viajar para fazer um intercâmbio, resolveu só comunicar às autoridades competentes 08 meses após o fato. Assim, compareceu à Delegacia para informar a ocorrência do delito, embora não lhe tivesse sido exigido, naquele momento, termo formal de representação. Após as investigações realizadas, o Ministério Público denunciou André por furto qualificado, nos termos do art. 155, §4º, II do Código Penal, tendo o juiz recebido a inicial acusatória em virtude do preenchimento dos requisitos previstos no art. 41 do Código de Processo Penal. Na qualidade de Advogado contratado por André, responda de forma fundamentada o que poderia ser alegado para beneficiar o acusado em sede de resposta à acusação? (Valor: 1,25) PADRÃO DE RESPOSTA Em sede de resposta à acusação, poderá ser alegado em favor do acusado a rejeição da peça inicial acusatória por faltar condição ou pressuposto para o exercício da ação penal, nos termos do art. 395, II do Código de Processo Penal, já que não houve representação por parte do tio de André, tendo o Ministério Público ainda assim denunciado o agente. No caso concreto analisado, em razão da presença da conduta praticada por André possuir como vítima seu tio, trata-se de ação penal pública condicionada à representação, nos moldes do art. 182, III do Código Penal, sendo necessária a representação como condição de procedibilidade para o exercício da ação penal. Como a questão foi clara ao informar que Cadu deixou para comunicar às autoridades acerca do fato apenas 08 meses após o ocorrido, houve decadência ao direito de representação por parte de Cadu, com fundamento no art. 38 do Código de Processo Penal em combinação com o art. 103 do Código Penal. Sendo assim, o representante do Ministério Público não poderia ter ingressado com a competente ação penal sem a condição de procedibilidade oferecida dentro do curso do prazo decadencial, motivo pelo qual a denúncia não poderia ter sido sequer recebida pelo magistrado. DIREITO PENAL – QUESTÃO 3 QUESITO AVALIADO Alegar em sede de resposta à acusação a rejeição pela falta de pressuposto ou condição para o exercício da ação (1,0) / Art. 395, II do Código de Processo Penal (0,1) / Aplicação do art. 182, III do Código Penal (0,15) OU o crime é motivador de ação penal pública condicionada à representação, não havendo condição de procedibilidade pela falta da representação (1,0) / Art. 38 do Código de Processo Penal (0,1) / art. 103 do Código Penal (0,15) www.cers.com.br OAB XVI EXAME DE ORDEM – 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 10 04. Foi oferecida queixa-crime por crime de injúria no Juizado Especial Criminal, em desfavor de Vera. Todavia, o endereço informado pela querelante não foi o correto, visto que Vera já havia se mudado há mais de 02 anos. A citação não foi realizada e não foram obtidas informações sobre o endereço da querelada, encontrando-se Vera em local incerto e não sabido. Diante dos fatos, indaga-se: a) qual deverá ser o posicionamento adotado pelo juiz do Juizado Especial Criminal? (Valor: 0,6) b) em sendo adotado referido procedimento e a acusada tendo comparecido, será possível, neste caso, que o juiz competente aplique os benefícios previstos na Lei 9.099/95? Em caso positivo, não tendo sido oferecidas as propostas pelo promotor de justiça, como deverá proceder o juiz? (Valor: 0,65) PADRÃO DE RESPOSTA a) Deverá o juiz do Juizado Especial Criminal remeter o processo ao juízo comum, já que não é possível a citação por edital nos juizados especiais, conforme se verifica no art. 66, parágrafo único da Lei 9.099/95. Analisando o caso concreto, frustradas as possibilidades de citação por parte do Juizado Especial, não tem este a competência de citação por edital, em virtude da própria essência da Lei 9.099/95 que prega a celeridade, a economia processual, a informalidade e a simplicidade, devendo o juiz remeter o processo ao juízo comum para que este realize a citação supracitada e, se for o caso, aplique o art. 366 do Código de Processo Penal, preceituando-se, assim o disposto no art. 538 do Código de Processo Penal. b) Caso Vera, citada por edital, compareça ou mande advogado, deverão ser observados, ainda que fora do Juizado Especial, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95. Caso o promotor de justiça não ofereça as propostas de transação penal e/ou de suspensão condicional do processo, o juiz deverá remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça, na forma do art. 28 do Código de Processo Penal e da Súmula 696 do Supremo Tribunal Federal. DIREITO PENAL – QUESTÃO 4 QUESITO AVALIADO A) Remeter o processo ao juízo comum para a realização da citação editalícia (0,5) / Art. 66, parágrafo único da Lei 9.099/95 (0,1) B) Possibilidade de aplicação das medidas da Lei 9.099/95 OU é possível aplicar os institutos despenalizadores constantes na Lei dos juizados Especiais Criminais (0,35) / O não oferecimento é caso de remessa ao Procurador Geral da Justiça (0,1) / Art. 28 do Código de Processo Penal (0,1) / Súmula 696 do Supremos Tribunal Federal (0,1)
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