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1 GESTÃO AMBIENTAL EM ÁREA DE RISCO NO MUNICÍPIO DE BARCARENA/PARÁ PAULO ALTEMAR MELO DO NASCIMENTO RESUMO O presente trabalho se propõe a realizar uma análise crítica dos instrumentos de gestão ambiental aplicados no Distrito Industrial de Barcarena, Estado do Pará, ressaltando como o licenciamento e a fiscalização foram evidenciados principalmente na ocorrência de acidentes ambientais. Trata também da relação entre desenvolvimento e meio ambiente, com ênfase na problemática socioambiental no município, focalizando as dimensões dos problemas decorrentes do modelo de industrialização implantado na região, bem como, a análise do diagnóstico de gestão ambiental efetivadas em Barcarena. Em face dos problemas sócio-ambientais, observa-se duas formas de gestão ambiental: a exercida pelos órgãos públicos e a implementada pelas empresas privadas. No caso da gestão pública ocorre um desafio para os órgãos responsáveis pela gestão ambiental em face da falta de estrutura e investimentos no setor. Quanto à gestão ambiental empresarial, se constitui numa oportunidade de lucro para as empresas, posto que, estas têm seus produtos e serviços divulgados e sua imagem promovida, além de ser uma exigência do mercado a adequação das empresas às normas ambientais. O local da pesquisa é considerado como área de risco ambiental devido o complexo de indústrias metal-mecânicas instaladas. Isto leva à questão dos riscos do modelo de desenvolvimento da sociedade industrial tanto na área social quanto no meio ambiente natural. Outra discussão importante, diz respeito ao destaque que será dado aos acidentes ambientais decorrentes da atividade industrial nessa área de risco e a avaliação dos instrumentos de licenciamento e fiscalização, visando verificar sua eficiência no contexto social, tecnológico e ambiental da região. PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente; Gestão Ambiental; Risco Ambiental; Licenciamento; Fiscalização. INTRODUÇÃO A presente pesquisa intitulada “Gestão Ambiental em Área de Risco no Município de Barcarena-Pará” foi realizada na área do Distrito Industrial do Murucupi, localizado no município de Barcarena, Estado do Pará, onde estão implantadas indústrias metal-mecânicas de grande porte, tais como, a Alumínio Brasileiro S.A - ALBRAS, que beneficia alumínio primário e a Alumina do Norte do Brasil S.A - ALUNORTE, usina de beneficiamento de bauxita para a produção de alumina que abastece aquela e também destinada à exportação. O Município de Barcarena, com uma área de 1.316,2 Km² aproximadamente, pertence Mesorregião Metropolitana de Belém e a Microrregião de Belém. A sede municipal tem as seguintes coordenadas geográficas: 01°30’24” de latitude sul e 48°37’12” de longitude Oeste de Greenwich. O município faz limite ao Norte com a Baia de Marajó e o município de Ponta de Pedras; ao Sul com o município de Moju; a Leste com a Baia do Guajará e a oeste com o município de Abaetetuba. 2 Tendo sido palco de episódios que marcaram a história do Estado do Pará, Barcarena possui um grande acervo sócio-religioso-cultural dentre os quais se destaca a Igreja de São Francisco Xavier erguida no início do século XVII por padres Jesuítas; a de Nossa Senhora do Tempo, cuja imagem fica protegida por uma redoma e cercada pela lenda de que quando se tenta retirá-la do local para alguma capela, a imagem sempre retorna ao local; a de São João Batista localizada na Vila do Conde, erguida no século XVII pelos padres Jesuítas, local onde Eduardo Angelim lançou sua Proclama Revolucionária da Cabanagem. Atualmente a religiosidade pode ser vivenciada através da realização dos círios de Nossa Senhora de Nazaré e de São Francisco Xavier, como também da apresentação do espetáculo Paixão de Cristo (BARCARENA, 2002). Além destas ocorrem outras manifestações religiosas tais como congressos, confraternizações, encontros e shows de cunho cristão evangélico, cujo número de adeptos é expressivo no município. Outro monumento histórico são as Ruínas do Casarão do Cafezal, construída a partir de 1862 pelos colonizadores portugueses, local que segundo os antigos zeladores era repleto de armadilhas e equipamentos para tortura e execução de escravos que tentavam fugir ou se rebelavam, atualmente as únicas marcas deste casarão são parte da estrutura do cemitério dos senhores de engenho, dois poços e uma relíquia arquivada na Secretaria de Cultura, a balança utilizada para pesar escravos. Barcarena tem outras tradições culturais como o Festival do Peixe, organizado pela Associação dos Pescadores de Vila do Conde realizado no Centro Cultural da Vila, durante o mês de julho; o Festival do Abacaxi, que nasceu de um projeto do Movimento Brasileiro da Alfabetização de Adultos (MOBRAL), em 1979; o Festival do Caranguejo, realizado anualmente entre o final de maio e início de junho, na Praia de Caripi, organizado pelos barraqueiros. Outra expressão cultural significativa é o Festival do Cupuaçu, realizado na Vila de Itupanema, no mês de julho, coordenado pela Secretaria de Cultura em parceria como os Centros Comunitários e Associações locais (BARCARENA, 2002). No que diz respeito à população Barcarena passou por um processo de crescimento populacional acentuado como conseqüência da instalação de indústrias no local, tendo mais do que triplicado a sua população nas últimas três décadas, saltando de 17.498 habitantes em 1970, para 63.268, em 2000 (BRASIL, 2006). De acordo com a contagem de população do IBGE, a estimativa populacional em 2007, era de 84.566 habitantes e 92.567 habitantes no ano 2009. Isto se deve ao forte movimento migratório incentivado pela política de ocupação da Amazônia nas últimas décadas. Em termos regionais o Norte recebe imigrantes, em sua maioria, vindos da região Nordeste. O Pará é o estado que mais recebe imigrantes, com destaque justamente para a região de Belém, onde se localiza Barcarena, um forte pólo de atração populacional. O município concentra um importante Pólo Industrial de mineração, onde está instalado um complexo minero-metalúrgico, com indústrias metal-mecânicas, dentre as quais se destacam a Alumínio Brasileiro S/A (ALBRAS), que beneficia alumínio primário e a Alumina do Norte do Brasil S/A (ALUNORTE), atualmente a maior usina de beneficiamento de bauxita do mundo, já que no dia 14/08/2008, o Presidente da República esteve no local inaugurando a terceira fase de expansão da fábrica. De 2000 a 2003 foi realizada a expansão 1, que aumentou em 50% a capacidade da empresa com a implantação de uma terceira linha produtiva, elevando a capacidade de 1,6 milhão para 2,4 milhões de toneladas/ano de alumina. Em julho de 2003 foi iniciado o projeto de expansão 2, que implantou duas novas linhas produtivas. Inauguradas no início de 2006, essas linhas, em conjunto com as três existentes, elevaram a capacidade da planta de 2,4 para 4,4 milhões de toneladas/ano de alumina, consolidando a Alunorte como a maior produtora de alumina do mundo. Desde 2006, a 3 empresa investiu na construção de duas novas linhas produtivas, que elevarão a capacidade de 4,4 para 6,3 milhões de toneladas/ano de alumina. Estão instaladas também no distrito industrial de Barcarena duas fábricas de beneficiamento de caulim, quais sejam, Pará Pigmentos S/A (PPSA) e Imerys Rio Capim Caulim (IRCC), que contribuem para o aumento do risco ambiental na área. Esta última já esteve envolvida em pelo menos três acidentes ambientais, com vazamento de rejeitos industriais. Os acidentes ambientais ocorridos nessa área desde o início do ano 2000 somam em sete, dentre os mais relevantes destacam-se: 1) derramamento de coque no Rio Pará; 2) afundamento da balsa Miss Rondônia carregada de óleo BPF; 3) contaminação do Rio Murucupi; 4) transbordamento da bacia de rejeitos de lama vermelha; 5) vazamento desoda cáustica no Rio Pará; 6) chuva de fuligem na Vila de Conde; 7) vazamentos de rejeitos de caulim. O acidente ambiental é aquele ocorrido durante a manipulação, armazenamento ou transporte de produtos químicos, provocando alterações ambientais, degradação da qualidade ambiental e prejudicando a saúde, a segurança e o bem-estar da população, além de criar condições adversas às atividades econômicas e sociais. Os acidentes que ocorrem dentro das indústrias e nas zonas portuárias também podem ser incluídos nessa categoria se promoverem danos à população e ao meio ambiente (ALMEIDA, 2006). Barcarena entrou no ciclo da mineração durante os Grandes Projetos desenvolvidos na Amazônia na época do Regime Militar, na década de 1970, principalmente pela localização privilegiada na geografia regional, dando condições para a implantação de um porto de exportação de grande capacidade de escoamento, hoje consolidado como o Porto de Vila do Conde. Os projetos minerários são muito importantes dentro do contexto socioeconômico do Estado do Pará, devido ao potencial dessa riqueza natural no solo paraense, sendo que, a grande parte dos projetos licenciados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará - SEMA refere-se à mineração. Nesse contexto, o município de Barcarena engloba-se no ciclo da mineração a partir do beneficiamento primário de minérios como a bauxita e o caulim. Ultimamente, ocorreu um esforço para que a produção mineral seja verticalizada no Estado do Pará e, para tanto, encontra-se instalada no Pólo Industrial de Barcarena, a Usina Siderúrgica do Pará - USIPAR, uma fábrica de médio porte, que produzirá ferro gusa, a partir de minério originado de Carajás/PA (NASCIMENTO, 2004). Outro fator agravante para a gestão ambiental é a implantação da Companhia de Alumina do Pará - CAP, uma mega usina de beneficiamento de bauxita, originada através de uma parceria entre os governos do Brasil e da China, originalmente denominada Refinaria ABC, a qual pretende ser a maior refinaria de bauxita do mundo. O referido projeto encontra- se em processo de licenciamento ambiental (Licença de Instalação) na SEMA. Para dar suporte ao consumo de energia elétrica desse empreendimento foi prevista a implantação de uma Usina Termelétrica no local, sendo que, o projeto submetido à análise de viabilidade ambiental pela SEMA causou muita polêmica pois a população não aprova esse tipo de matriz energética. Devido o potencial poluidor da UTE os riscos ambientais na área poderão aumentar relevantemente. Este fator é agravante porque a estrutura administrativa do município de Barcarena sofreu poucos avanços, principalmente, no que diz respeito à gestão ambiental, com isso, tende a não suportar a demanda de questões e conflitos gerados pelos impactos desses novos empreendimentos. Nesse particular destaca-se o aumento de riscos ambientais nas áreas de 4 influência direta desses projetos, com especial agravo na área socioeconômica, tecnológica e ambiental. Define-se como gestão ambiental o conjunto de ações destinadas a atingir a máxima racionalidade no processo de decisão relativo à conservação, defesa, proteção e melhoramento do meio ambiente, baseando-se numa informação coordenada, multidisciplinar e na participação cidadã (FUNIBER, 2007). Para o Ibama (2002) a gestão ambiental constitui um processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais e/ou governamentais que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às especificidades do meio ambiente. Quanto ao Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é o padrão, ou método de trabalho, que a empresa utiliza com o objetivo de implantar um adequado comportamento, de acordo com as metas fixadas e como resposta para algumas normas, riscos ambientais e pressões, tanto sociais como financeiras, econômicas e competitivas. Noutras palavras o SGA é aquela parte do sistema geral que engloba estrutura organizacional, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para elaboração, aplicação, revisão e manutenção da política ambiental da empresa (FUNIBER, 2006). Para D’Avignon (1995), um sistema de Gestão Ambiental pode ser definido como um conjunto de procedimentos para gerir ou administrar uma empresa, de forma a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente. O estudo da gestão ambiental nesta área de risco torna-se importante principalmente no que diz respeito à análise dos instrumentos legais aplicados pelos órgãos gestores do meio ambiente. Destaca-se neste estudo a análise do licenciamento e fiscalização ambiental efetuados no local quando da ocorrência de acidentes ambientais de grande proporção. Note- se que serão destacados três principais eventos dessa natureza: Contaminação do Rio Murucupi, Vazamentos de Caulim e Vazamentos de Óleo. Desta forma, esta pesquisa objetiva realizar análise crítica dos instrumentos de gestão ambiental aplicados no Pólo Industrial de Barcarena, Estado do Pará, a partir dos processos de licenciamento e fiscalização dos projetos minerários instalados nessa área de risco, visando avaliar sua eficiência no contexto social, tecnológico e ambiental da região. Destacando os principais acidentes ambientais ocorridos na área de risco estudada, ressaltando a forma como o licenciamento e a fiscalização foram aplicados enquanto instrumentos de gestão ambiental, bem como, avaliar a eficiência de tais instrumentos no contexto social, tecnológico e ambiental da área de risco estudada. Na primeira parte da pesquisa será comentado o grau ou as dimensões da problemática sócio-ambiental decorrentes do modelo de desenvolvimento planejado para a região amazônica, a partir do final da década de 70, com enfoque específico ao município de Barcarena, Estado do Pará, cujo processo de industrialização tornou-se significativo para o entendimento e alcance dos objetivos propostos neste trabalho. A segunda parte, intitulada Diagnóstico da Gestão Ambiental em Barcarena reserva espaço para descrever a estrutura e atuação dos órgãos ambientais no município, fazendo ainda um contraponto entre a gestão pública e a empresarial. A parte final, Visão Crítica sobre a Gestão Ambiental na Área de Risco, tem por objetivo realizar análise crítica dos instrumentos de gestão ambiental aplicados no Distrito Industrial de Barcarena, destacando os principais acidentes ambientais ocorridos na área de risco estudada, ressaltando a forma como o licenciamento e a fiscalização foram aplicados enquanto instrumentos de gestão ambiental. v 5 1 DIMENSÕES DA PROBLEMÁTICA SÓCIO-AMBIENTAL EM BARCARENA Nesta primeira parte da discussão será comentado o grau ou as dimensões da problemática sócio-ambiental decorrentes do modelo de desenvolvimento socioeconômico planejado para a região amazônica, a partir do final da década de 70, com enfoque específico ao município de Barcarena, Estado do Pará, cujo processo de industrialização tornou-se significativo para o entendimento e alcance dos objetivos propostos neste trabalho. Inicialmente, será necessário lembrar aqui algumas relações entre os projetos de modernização da Amazônia e as questões ambientais, sobretudo no que diz respeito aos impactos causados pelo modelo de planejamento que se projetou para a região. Será importante balizar este trabalho em literatura que ofereça o entendimento das teorias do desenvolvimento no contexto da Amazônia, para demonstrar os impactos deste sobre a região e as suas conseqüências geradas a partir do planejamento promovido pelo Estado. As dimensões da problemática sócio-ambiental no município de Barcarena serão evidenciadas a partir da análise dos casos mais significativosque envolvem as questões ambientais, para que o encontro entre teoria e prática enriqueça a discussão proposta. 1.1 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE Através da análise da história socioeconômica da Amazônia percebe-se que as idéias de progresso e integração tiveram influência direta na elaboração de políticas desenvolvimentistas para a região, sobretudo, a partir da década de 1960, quando o Estado passou a ser o gestor, através de projetos e iniciativas de modernização. A presença do Estado na região é vista por Costa (1992) como um processo de “brasilianização”1 da Amazônia, o qual se deu de forma variada, em diferentes fases, significando a afirmação do poder central do Estado brasileiro sobre a região, a fim de torná-la reflexa às condições estruturais de outras regiões do país. Porém, cada surto de “brasilianização” foi precedido por um “susto” de internacionalização, ou seja, ameaças externas que tiveram efeito mobilizador no sentido de garantir anuência para medidas concretas de política econômica nacional. Tais ameaças se não foram reais efetivaram-se ao menos no plano ideológico ou imaginário do governo brasileiro, cujo lema era “integrar para não entregar.” O desenvolvimento é um conceito que se desenrolou com o advento da modernidade, influenciado pelas idéias iluministas, juntamente com sua promessa de emancipação da razão do homem que se encontrava dominado pelo irracionalismo e pelas forças da natureza e do sobrenatural. Diante dessa realidade urge a necessidade de um projeto para a modernidade, ou seja, o planejamento do desenvolvimento surge como idéia central para que a modernização possa extrapolar para todo o mundo, num processo evolutivo que implica também a criação de um ambiente homogêneo, onde as marcas do velho mundo devem desaparecer por um processo de redução de contrastes na sociedade e nos indivíduos, constituindo o projeto civilizatório (RIBEIRO, 2000). Porém, a promessa iluminista não se efetivou, pois a razão emancipatória foi subjugada pela razão instrumental e a humanidade não conseguiu a emancipação plena, no 1 Costa (1992) trabalha a noção de “brasilianização” para demonstrar que um processo de hegemonia do poder central do Estado brasileiro vem ocorrendo desde a época colonial, a fim de integrar a região às condições estruturais do restante do país. Essa noção é própria do autor, sendo usada em outros trabalhos seus acerca da região. 6 âmbito econômico, político e social. Pelo contrário, encontra-se a crise da modernidade e da razão, quando se analisa o que aconteceu com o projeto civilizatório da humanidade. Para Rouanet (1993), a modernidade é o produto desses processos globais de racionalização, que se deram na esfera econômica, política e cultural. Mas ocorreram duas modernizações que se expressam pelo aumento de eficácia e pelo aumento de autonomia. Ocorreu a predominância do aumento da eficácia econômica, com sua técnica e racionalização burocrática, em detrimento do aumento de autonomia, que se efetivaria pelo desenvolvimento social dos indivíduos. A autonomia deveria ser estendida a todas as pessoas, assim elas garantiriam a liberdade. Dessa forma, corrobora-se que, a modernidade iluminista, enquanto movimento modernizador voltado para a eficácia conseguiu seus objetivos, na medida em que rompeu com as irracionalidades do mundo feudal. Mas no que diz respeito à autonomia, esta permaneceu irrealizada. Um dos aspectos da modernidade diz respeito à mudança na relação homem e natureza, sobretudo pela influência da tese cartesiana de separação entre ambos, na qual o homem passa a dominar a natureza através da ciência e da técnica. Vários teóricos contribuíram para que essa nova visão sobre a natureza se efetivasse com a modernidade. Com Francis Bacon o objetivo da ciência passou a ser o conhecimento que poderia ser usado para dominar e controlar a natureza, similarmente hoje ciência e tecnologia buscam fins antiecológicos. Para Descartes, a natureza funcionava a partir de leis mecânicas e tudo no mundo poderia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes, pois ele tinha a concepção da natureza como uma máquina, perfeita, governada por leis matemáticas exatas. Assim, a drástica mudança na imagem da natureza, de organismo para máquina, teve um poderoso efeito sobre a atitude das pessoas em relação ao meio ambiente natural (CAPRA, 1993). Por sua vez, Newton ultrapassou Bacon em sua experimentação sistêmica e Descartes em sua análise matemática, na medida em que unificou as duas tendências e desenvolveu a metodologia em que a ciência natural passou a se basear a partir de então. Na mecânica newtoniana os fenômenos físicos reduzem-se aos movimentos de partículas de matéria, causado por sua atração mútua, através da força da gravidade. Dessa forma, a concepção mecanicista da natureza relaciona-se com um rigoroso determinismo, em que a máquina cósmica é completamente causal e determinada. Os cientistas dos séculos XVIII e XIX confirmaram o sucesso do modelo mecanicista a partir de sua convicção de que o universo era realmente um gigantesco sistema mecânico que funcionava em conformidade com as leis newtonianas do movimento e de que as formulações da mecânica de Newton era a teoria definitiva dos fenômenos naturais. Esse ponto de vista contribuiu significativamente para a acentuação da separação entre homem e natureza, sendo esta objeto da dominação humana, sobretudo, a partir da contribuição da ciência evolucionista e das ciências sociais. A contribuição da Sociologia, que na época era uma ciência florescente, na análise da relação homem e natureza deu-se com as formulações teóricas dos três clássicos autores Èmile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. É certo que precursores das ciências sociais, a exemplo de Montesquieu já tratavam dessa questão, sendo este o primeiro a procurar a conexão entre os fatores internos de uma determinada sociedade e os fatores externos da vida social, ou seja, a ligação entre as instituições e os valores com as condições climáticas e geográficas. Esses fundadores da Sociologia consideraram os aspectos físicos do ambiente como elementos relacionados às características da sociedade, porém anteriores à sociedade moderna, industrial e capitalista. Dessa forma acabaram fortalecendo a separação entre homem e natureza, isto é, a sociologia nasceu, portanto, com a marca de um pensamento que tornou independente a sociedade da natureza, ou no qual a natureza era simplesmente um 7 derivado da sociedade. Com a sociologia os homens se tornavam, finalmente, responsáveis por seus atos e eram livres para construir sua sociedade, conservando, ao mesmo tempo, o antigo sentimento de serem dominadores da natureza (GIULIANI, 1998). Quanto à contribuição da ciência evolucionista, esta se deu sob o ponto de vista da Ecologia, uma ciência que também surgiu na segunda metade do século XIX. Sobretudo a partir da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Dessa forma, a Ecologia nasceu do projeto de inventariar o mundo natural e a distribuição dos diferentes habitats da Terra, nos quais o homem sempre esteve incluído. Outro debate amplo e complexo trazido pelos cientistas sociais é o clássico tema do desenvolvimento humano e da sociedade e seus reflexos em diversas partes do mundo. A proposta do próximo item será analisar as influências das Teorias do Desenvolvimento no contexto da Amazônia. 1.2 O DESENVOLVIMENTISMO NO CONTEXTO DA AMAZÔNIA As Teorias do Desenvolvimento, no seu começo, dividiram-se em dois grupos ou perspectivas de análise do desenvolvimento: a perspectiva estruturalista e a perspectiva da economia do desenvolvimento. A primeira com formação na América Latina e a segunda com origem nos Estados Unidos e na Europa. Porcausa dessas diferentes perspectivas se formaram dois conjuntos de propostas e linhas de raciocínio no tratamento do desenvolvimento, das causas dominantes do subdesenvolvimento e dos caminhos para alterar essa situação. É necessário esboçar alguns princípios da escola estruturalista para fazer a relação das teorias do desenvolvimento no contexto da Amazônia. A escola estruturalista surge com as idéias da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), instituição criada pela ONU, em 1947. A CEPAL foi basicamente constituída por um grupo de cientistas sociais, entre eles o economista argentino Raul Prebish, cujas idéias fundamentaram o pensamento cepalino. A idéia central na argumentação cepalina baseia-se no esquema Centro-Periferia, que via o grande problema dos países subdesenvolvidos nas estruturas da industrialização existente e nas relações entre os países. Os principais problemas seriam: a tendência à insuficiência dinâmica da periferia; a tendência à geração de um excedente de mão-de-obra; a tendência à contínua deterioração dos termos de troca; a tendência ao desequilíbrio externo; e a tendência ao atraso ou subdesenvolvimento (RIBEIRO, 2000). A solução para esses problemas, segundo a proposta da CEPAL, seria o desenvolvimento nacional, no qual a interferência do Estado seria um ponto fundamental, através do planejamento das políticas de desenvolvimento, ou seja, do dirigismo estatal. No caso da Amazônia, o chamado “projeto modernizador” para a região se dá a partir da intervenção direta do Estado no desenvolvimento, no início dos anos 60. Depois dessa iniciativa ocorreu o avanço do capital na Amazônia, que terminou com o fracasso do projeto desenvolvimentista regional. Loureiro (1992) trata essencialmente do avanço do capital na Amazônia e do fracasso do projeto de desenvolvimento para a região. Segundo essa autora ocorreu um grande equívoco em se pensar que somente o grande capital constrói o desenvolvimento. Além desse erro primordial, ocorreram outros grandes equívocos do projeto desenvolvimentista, dentre eles, o desprezo à natureza e ao conhecimento da população regional e a sua cultura. Por isso, o projeto implantado foi totalmente adverso à realidade da Amazônia principalmente porque não condizia com as demandas sócio-ambientais da região. Hall (1991) aponta o desenvolvimento da Amazônia em etapas ou campanhas, que ao longo da história regional foram se mostrando “falidas” e “fracassaram”. Um ponto 8 importante na análise desse autor é o detalhamento do papel do Estado enquanto o gestor do projeto desenvolvimentista, a partir da segunda metade do século XX, pois até a década de 1970 as iniciativas de desenvolvimento foram tomadas principalmente pelo setor privado, com o apoio do Estado. Isto leva à seguinte indagação: para quem foi na verdade o desenvolvimento da região amazônica? Conclui-se logo que o projeto de desenvolvimento, embora tenha fracassado socialmente, cumpriu o papel de integrar a região ao modelo capitalista, seguindo a lógica da fronteira. Mas não trouxe benefícios sociais, sobretudo, para os pequenos produtores rurais, extrativistas e populações tradicionais da Amazônia. Nesse contexto desenvolvimentista foram planejados para a Amazônia grandes empreendimentos, baseados na eficácia econômica e no pragmatismo estatal. Porém, os resultados foram desastrosos, sobretudo, na esfera sócio-ambiental, pois nem a população amazônica nem a natureza estavam preparadas para sofrer tão grandes impactos. Na verdade, é sabido que a região não é propícia para o tipo de desenvolvimento engendrado para ela. Principalmente, porque não era prioridade desenvolver socialmente e conservar o meio ambiente amazônico. Hall (1991) analisou esses projetos observando que, devido as repercussões potenciais de projetos da magnitude da UHE Tucuruí, por exemplo, que foram implantados em uma área de floresta tropical úmida, seria necessário fazer exaustivas avaliações de impactos social e ambiental. Mas tal era a urgência para por a usina em operação, a fim de atender aos demais componentes industriais de Carajás, que as autoridades afastaram de cogitação praticamente todas as considerações desse tipo. Até mesmo os empregados das empresas reconheceram que os projetos não tiveram a preocupação com os impactos que causariam, senão com os resultados econômicos objetivados: Um diretor da Eletronorte reconheceu francamente para um pesquisador que a questão ambiental era inteiramente secundária ao nosso objetivo de completar as obras da represa no prazo programado, uma vez que a energia de Tucuruí é vital para outros grandes projetos que vão solucionar nosso problema de dívida externa (Hall, 1991, p. 76). Essa visão puramente pragmática permeou todos os grandes empreendimentos que se arrogavam trazer desenvolvimento para a região. No caso da industrialização em Barcarena, os impactos não foram diferentes, pois afetaram diretamente a microrregião do Baixo Tocantins. Conforme analisou Mitschein et al (1991), como sede do Complexo de Alumínio ALBRÁS/ALUNORTE e sob a influência da barragem de Tucuruí, a Microrregião Homogênea do Baixo-Tocantins (MRH) foi atingida diretamente pela valorização dos recursos minerais, biológicos e hídricos do Pará, mediante a implantação de grandes projetos. Esse tipo de política pode ser avaliado como estratégia de modernização que, além de ameaçar o ecossistema da região, não promove o seu desenvolvimento socioeconômico. Quando se fala de políticas que desenvolvam economicamente e ao mesmo tempo garantam a conservação dos recursos naturais, deve-se levar em conta que não é um assunto tão fácil de ser analisado. Então, convém entender melhor do que tratam essas questões complexas e intrincadas e refletir sobre o que implicam em termos de políticas públicas e de ação política (SAWYER, 1996). Isto leva a pensar que a partir desse momento de inflexão, emerge um novo consenso de que o desenvolvimento deve levar em conta os limites colocados pela degradação e poluição do meio ambiente, tanto no longo, quanto no curto prazo. Esse tipo de pensamento não era característico da época em que se pensou desenvolver a Amazônia, ou melhor, integrá-la ao modelo capitalista de desenvolvimento econômico. Para Hoyos (1986), os projetos, ao serem concebidos e implementados não levaram em consideração estas situações concretas, provocaram conflitos sociais de graves repercussões, e que ficam sob os cuidados duma legislação muito mais interessada na 9 alteração da base produtiva do que as questões sociais que essa afirmação vai acarretar. Esse autor chama a atenção para a análise das dimensões da problemática sócio-ambiental, a partir do momento em que se pensou um desenvolvimento que não contemplava o capital social da Amazônia, de forma a incluir seu crescimento e adequação à realidade regional. A análise dessa problemática é realizada a contento por Leis & Viola, na medida em que observam que, na década de 70, a problematização do meio ambiente começou a mudar desde a escala regional-nacional para a escala planetária. Vários problemas tornaram-se comuns e passaram a ser percebidos mais amplamente como na questão do mau uso dos recursos naturais e o desrespeito aos ciclos da natureza: “envenenam-se mares do mesmo modo que lagos e rios em todo mundo [...] utilizam-se os céus como lixeira e profanam-se as paisagens com acumulações crescentes de lixo, em parte tóxico” (LEIS e VIOLA, 1991, p. 26). Dessa forma, o meio ambiente ia deixando de ser um problema nacional e começava a converter-se numa questão internacional. No caso da América Latina, a problemática sócio- ambiental está marcada por sua inserção socioeconômica na ordem internacional; esta, por sua vez, dominada pelo capital transnacionalizado, tem gerado na região um desenvolvimento dependentedos centros de poder hegemônico. Cabe notar que, o fôlego dessas políticas é curto, a começar pelo fato de que os ciclos da biosfera são muito fluidos, não respeitando fronteiras nacionais e a continuar pelo fato de que começaram a esboçar-se políticas nacionais de meio ambiente no então chamado Terceiro Mundo, com vistas à diminuição da degradação ambiental. Acontece que, o padrão tecnológico dominante é imposto ou importado desde os centros e resulta, em geral, impróprio no sentido do aproveitamento do potencial ambiental da região, conduzindo, por isto, a uma degradação dos ecossistemas, a uma concentração demográfica e à deterioração biológica da população. As principais manifestações da crise sócio-ambiental na América Latina são problemas decorrentes da industrialização e da urbanização massiva que provocam um elevado consumo de energia; os novos padrões consumistas aceleram o gasto energético, promovendo o uso dos mais variados e supérfluos aparelhos domésticos; o processo de urbanização significou o aumento das atividades comerciais, financeiras e de construção, gerando graves problemas de transportes e de comunicações; os ruídos, o lixo, a contaminação do ar e das águas são a expressão de um processo de crise ambiental (LEIS e VIOLA, 1991). No decorrer de três décadas desde a implantação da industrialização em Barcarena as populações expropriadas viveram à margem do desenvolvimento, lançadas ao descaso das empresas e autoridades que não fizeram cumprir o plano proposto para os assentamentos. Inicialmente, foram criados três assentamentos em conseqüência do processo de desapropriação de terras da área de zoneamento industrial, a saber, Colônia do Bacuri, também conhecida como CDI, Bairro do Laranjal e Vila Nova União. A Colônia do Bacuri foi a experiência mais desastrosa, por ter sido entre as demais, a única planejada, porém, o descaso proverbial com que a base da população rural era considerada marcou o insucesso dessa iniciativa. A desordem que a caracterizou foi resultante de que o planejamento da colônia-piloto previa o assentamento do pessoal com base no reaproveitamento de parte das famílias expropriadas, porém, não levava em conta se as famílias consideradas como colonos, na verdade eram pescadores e extrativistas, aceitavam essa decisão a seu respeito (LEAL, 1986). O caso do bairro do Laranjal também foi crítico, em virtude deste ter sido uma conseqüência direta das expropriações e do inchamento urbano, isto é, da “reorganização” do espaço social em Barcarena (VASCONCELLOS, 1996). Sendo que, para lá foi destinada parte das famílias desapropriadas das localidades definidas para a implantação do projeto 10 Albras/Alunorte e o excedente populacional de operários das empresas prestadoras de serviço da fábrica, ou seja, a população mais pobre. O outro assentamento chamado Vila Nova União, não obstante, sofreu maiores dificuldades, pois foi criado sem qualquer planejamento e o espaço destinado aos deslocados estava por construir, o que foi feito às custas do seu próprio trabalho (MAIA e MOURA, 1990). Outras parcelas da população como os operários das empreiteiras que ficaram desempregados com o fim das obras das fábricas radicaram-se na sede do município ou na Vila do Conde, vivendo as angústias do desemprego e/ou procurando alternativas de sobrevivência, como o mercado informal de trabalho. Atualmente existem outros bairros que surgiram e cresceram espontaneamente no entorno da Vila dos Cabanos (Bairro Pioneiro), Vila do Conde (Bairro Industrial), Bairro do Laranjal (Bairro Novo Horizonte) somados às invasões que surgiram na Sede do município, pois além da Albras/Alunorte existem outras empresas de grande porte como Imerys Rio Capim Caulim (RCC), Pará Pigmentos S.A (PPSA), Bunge Fertilizantes, Alubar Metais S.A. (Alubar) e Usina Siderúrgica do Pará – Usipar, que se instalaram no município e têm sugado o potencial natural e humano da região, sendo também causadoras dos desníveis socioeconômicos, assim como dos problemas socioambientais. O Bairro Industrial na Vila do Conde se desenvolveu a partir de uma invasão em área industrial contígua à usina de beneficiamento de caulim da empresa Imerys Rio Capim Caulim. Segundo Brito (2001) além dos conflitos sociais, as políticas públicas de desenvolvimento para a Amazônia, trouxeram uma série de impactos ambientais como o desflorestamento e a poluição dos rios. Em Barcarena, os problemas dessa natureza são claramente perceptíveis, por exemplo, dentre os problemas ambientais urbanos está a questão da falta de gestão de resíduos sólidos adequada à realidade do município. Embora exista a Unidade de Compostagem e Reciclagem de Lixo de Barcarena, esta não absorve 50% da demanda produzida pela população (GUIMARÃES, 2002). A outra parcela é depositada em lixões a céu aberto, sendo um risco sério ao meio ambiente em face de alguns fatores preocupantes como: a coleta não é seletiva, o lixo hospitalar tem a mesma destinação que o doméstico, até pouco tempo existiam catadores que se utilizam desses materiais para sobrevivência. Além desses problemas, somam-se os causados diretamente na natureza, pois o assoreamento dos rios está na base da multiplicação das inundações catastróficas. O desflorestamento continua em ritmo intenso, afetando principalmente a floresta tropical úmida e, concentradamente, a Amazônia. Até mesmo a chamada “Revolução Verde” tem trazido conseqüências muito negativas para o meio natural latino-americano: marginalização e expulsão da população rural; erosão dos solos; devastação da flora nativa e contaminação das águas (LEIS e VIOLA, 1991). Um dos casos mais significativos sobre a contaminação em Barcarena foi a deposição seca, ocorrida no dia 23/11//2003, quando uma nuvem negra de fuligem e fumaça encobriu o céu da Vila do Conde, surgiu de madrugada e permaneceu no ar até às 9h da manhã, atingiu o rio e invadiu casas, igrejas, escolas e estabelecimentos comercias, espalhando a sujeira e a negritude por onde passou. A primeira suspeita foi de que a nuvem de fuligem pode ter sido causada pelo vazamento de resíduos químicos do produto Baixo Ponto de Fluidez (BPF), um tipo de óleo usado em caldeiras e fornos das principais fábricas que operam no município. O rio Pará, ficou negro depois do derrame do material, impossibilitando a atividade da pesca por moradores da comunidade. As águas ficaram cor de piche e a terra semelhante a asfalto. A fuligem chegou a atingir cerca de 5cm de espessura. Os carros ficaram cobertos 11 pela substância e a população teve trabalho para limpar casas e igrejas, de onde todos os santos foram retirados para serem lavados. Uma das primeiras conseqüências na população foi a reação alérgica, uma vez que crianças e adultos foram atendidos no posto de saúde de Vila do Conde, com alergia aos produtos. Alguns tiveram problemas respiratórios, coceiras e inflamações nos olhos. Nenhuma das quatro principais fábricas instaladas no município (Albrás, Alunorte, Rio Capim Caulim e Pará Pigmentos) assumiu a responsabilidade pelo acidente, embora todas estas fábricas trabalhem com produtos químicos e tenham chaminés que podem ter provocado o vazamento do produto que liberou a fuligem. Outro fato foi que nenhuma das quatro empresas suspeitas de terem provocado o acidente enviou representantes a uma reunião marcada com moradores da comunidade, ou seja, houve completa omissão. Portanto, o entendimento da problemática sócio-ambiental na América Latina, com enfoque na Amazônia, que faz parte desse imenso continente, deve passar pelas vias apontadas pelos autores discutidos, sobretudo, para se compreender as dimensões dessa problemática. No caso do Estado do Pará os principais problemas ambientais levantados pela então Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente,no documento Prioridades Ambientais do Estado do Pará (PARÁ, 2002), são demonstrados no Quadro 1.1: QUADRO 1.1: PRIORIDADES AMBIENTAIS DO ESTADO DO PARÁ FATORES AMBIENTAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS Recursos Florestais * Desmatamento e exploração madeireira irregular em função da agricultura migratória e pecuária extensiva com intensos fluxos migratórios provocados pela Política de Integração Nacional. *Exploração do palmito sem manejo ou reflorestamento e beneficiamento em fabriquetas precárias instaladas por ribeirinhos, fomentadas pela indústria. *Dos assentamentos do INCRA localizados na Amazônia, 44,2% se encontram no Pará, sem licenciamento ambiental. *Questão fundiária estadual desordenada e sem política para ocupação e propriedade. O estado detém apenas 28% de áreas do seu território legalmente reconhecidas para controle fundiário Recursos Hídricos *Contaminação da água na orla das cidades ribeirinhas por efluentes domésticos, industriais, óleos e graxos. *Assoreamento dos cursos d’água em conseqüência dos desmatamentos em áreas de preservação permanente. *Transporte/armazenamento de produtos perigosos em vias navegáveis. Área Urbana *Poluição sonora por atividades urbanas em geral e poluição atmosférica por atividade de marcenarias e queima de resíduos da indústria madeireira em zona urbana. *Poluição visual (Outdoor, placas, pichação, etc.). *Saneamento básico (resíduos sólidos; Tratamento de Esgoto e Tratamento de Água). *Transporte de produtos perigosos. Monitoramento de tanques subterrâneos de derivados de petróleo. 12 Ar *Ocorrências de queimadas e incêndios florestais *Ausência de normas estaduais específicas de emissões gasosas e de qualidade do ar. Resíduos sólidos *Inexistência de Plano de Gestão de resíduos sólidos urbanos e industriais nos municípios. *Existência de “Lixões” (a céu aberto e pó de serra das indústrias madeireiras). *Poluição do solo e de mananciais (superficiais e subterrâneo), ocorrências de odores e poluição visual. Recursos Edáficos *Mineração (garimpo), agricultura migratória e pecuária extensiva e uso de agrotóxicos na agricultura. Mineração (garimpo de pedras preciosas – diamante - e ouro) *Os grandes projetos minerais causam conflitos nas suas áreas de abrangência, e a pequena exploração mineral (garimpos) leva a problemas de degradação de margens de rios, poluição das águas e problemas sociais. *Supressão da cobertura vegetal afugenta a fauna do habitat natural para áreas urbanas. Fauna *Comércio ilegal de animais silvestres em feiras-livre, tráfico de alevinos como peixes ornamentais, uso de partes de animais silvestres como adornos e crendices da cultura popular e tráfico de quelônios para consumo como iguarias em restaurantes. *Caça predatória. *Aumento das espécies ameaçadas de extinção. Paisagem *Desmatamentos e inexistência de diretrizes para proteção de áreas com rara beleza cênica, para o desenvolvimento do ecoturismo. Pesca *Pressão da pesca industrial e artesanal sobre o estoque pesqueiro, principalmente em área de reprodução de peixes no estuário, enseadas e paranás da costa marítima, deixando a população sem uma das suas principais fontes de alimento. *Pesca predatória, realizado por geleiras, em lagos caracterizados como criatórios naturais de peixes. Outros *A agricultura paraense, pautada em políticas agrícolas erradas, utiliza o método extensivo, onde grandes áreas são usadas para obtenção de uma pequena produção. A agricultura de corte-e-queima, típica da região, não se sustenta por muito tempo numa mesma área e, com o crescimento da população e da demanda, tende a se expandir para dentro da floresta. *A pecuária extensiva, fomentada por programas de incentivos fiscais federais, vem causando grandes desmatamentos com baixa produtividade. Fonte: Adaptado do livro Prioridades Ambientais do Estado do Pará, SECTAM, 2002. Importa destacar que grande parte desses problemas, principalmente os relacionados às atividades minerárias, industriais e na área urbana é perceptível na área pesquisada, contribuindo para o aumento das demandas sócio-ambientais no município de Barcarena. Nos últimos anos ocorreu um processo de ocupações irregulares de terras nas áreas urbanas do município contribuindo para a tensão e o aumento de conflitos sociais. São famílias que se encontram em situação de risco social, pois chegaram ao município atraídas pela oferta de emprego no setor industrial, mas que em sua maioria não conseguem ser absorvidas devido o exército de reserva ou pela falta de qualificação exigida. 13 Outra questão observada é que os primeiros projetos instalados no município já tem aproximadamente vinte e cinco anos, ou seja, começaram a entrar numa fase de declínio, embora tenham gerado grande aporte de recursos no local, o qual não foi investido de forma adequada para a garantia do desenvolvimento social do município, a partir de agora tende a ficar mais escasso, como ocorreu durante a crise financeira mundial no ano de 2009. Nesse período a arrecadação do município caiu devido a crise na exportação, as empresas demitiram muitos funcionários, outros projetos que estavam planejados para a área foram adiados, demonstrando que a dinâmica do desenvolvimento mudou. Noutras palavras a falta de uma administração pública eficiente ao longo desses vinte e cinco anos de industrialização fez com que o município perdesse a oportunidade de crescimento. 2 DIAGNÓSTICO DA GESTÃO AMBIENTAL EM BARCARENA 2.1 CONCEITUAÇÃO E DISCUSSÃO DE POLÍTICAS E GESTÃO AMBIENTAL No que diz respeito às políticas voltadas para a gestão ambiental no Brasil pode-se propor uma periodização a partir das políticas ambientais elaboradas desde a década de 1930. Segundo Cunha e Coelho (2003), é possível identificar pelo menos três tipos de políticas ambientais: 1) as regulatórias; 2) as estruturadoras e; 3) as indutoras de comportamento. As políticas regulatórias são aquelas legislações específicas que estabelecem ou regulamentam normas e regras de uso e acesso ao ambiente e aos recursos naturais e a criação de aparatos institucionais que garantam o cumprimento da lei, por exemplo, o Código das Águas (1934) e o Código de Pesca (1965). As políticas estruturadoras implicam a intervenção direta do poder público ou de ONGs na proteção ao meio ambiente. Como exemplo desse tipo de políticas está a criação de parques nacionais e estaduais (primeiro a ser criado foi o Parque de Itatiaia-RJ, em 1937); a formulação da Política Nacional do Meio Ambiente (1981); a elaboração do Zoneamento Econômico Ecológico (1989) e a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (2002). As políticas indutoras referem-se a ações que objetivam influenciar o comportamento de indivíduos ou grupos sociais. São políticas mais recentes, dentre as quais pode-se destacar a proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso dos recursos naturais (1999); a construção de Agenda 21 Local/Regional (a partir de 1992) e a implantação de certificação ambiental (selo verde) e das ISO’s 9000 e 14001. No quadro 2.1 destaca-se o conjunto das principais políticas ambientais brasileiras: QUADRO 2.1: CONJUNTO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS BRASILEIRAS LEGISLAÇÃO SINTESE DO CONTEÚDO Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965. Estabelece o Código Florestal Lei n.º 5.197, de 03 de janeiro de 1967. Estabelece Proteção à Fauna. Decreto-Lei n.º 221, de 28 de fevereiro de 1967. Estabelece o Código de Pesca. Decreto-Lei n.º 227, de 28 de fevereiro de 1967. Estabelece o Código de Mineração. Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Lei n.º 6.902, de 27 de abril de 1981. Estabeleceas Estações Ecológicas. Lei n.º 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano. Lei n.º 6.803, de 02 de julho de 1980. Dispõe sobre as diretrizes básicas para o 14 zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição. Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Cria a Política Nacional do Meio Ambiente. Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a Ação Civil Pública. Lei n.º 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de gerenciamento Costeiro. Lei n.º 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Criou o IBAMA. Lei n.º 7.797, de 10 de julho de 1989. Criou o Fundo Nacional do Meio Ambiente. Lei n.º 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre agrotóxicos. Lei n.º 7.803, 18 de julho de 1989. Altera a Lei n.º 4.771/65 – Código Florestal Lei n.º 7.804, de 18 de julho de 1989. Altera a Lei n.º 6.938/81 – Política Nacional de Meio Ambiente. Lei n.º 8.171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a Política Agrícola. Lei n.º 7.805, de 18 de julho de 1991. Cria o regime de Permissão de Lavra Garimpeira – PLG. Lei n.º 8.490, de 19 de novembro de 1992. Cria o Ministério do Meio Ambiente. Lei n.º 8.974, de 05 de outubro de 1993. Dispõe sobre a redução de emissão de poluentes por veículos automotores. Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei n.º 9.605, 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de conduta e atividades lesivas ao meio ambiente. Lei n.º 9.975, de 27 de abril de 1999. Cria a Política Nacional de Educação Ambiental. Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Fonte: Curso de Direito Ambiental, FUNIBER, 2007. Como se vê o Brasil é um dos países mais avançados em termos de normas ambientais, embora a implementação das mesmas deixem muito a desejar, ora por falta de estrutura dos órgãos responsáveis pela sua aplicabilidade, ora por falta de vontade política dos governantes, ou por serem elas muito rígidas, para um País onde o nível de pobreza ainda assusta. Sendo estes os fatores principais, que vem limitando a aplicabilidade das normas ambientais. Mesmo assim, a edição de normas ambientais rígidas, tem contribuído consideravelmente para conter o ritmo acelerado das degradações ambientais. É com este arcabouço legal, somada às outras leis federais e estaduais, aos decretos de regulamentação, convenções internacionais, resoluções do CONAMA, instruções normativas e portarias do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, que o Brasil busca conter a ação predatória do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis, disciplinar a ocupação, a exploração racionais fundamentadas no ordenamento territorial e proteger as comunidades indígenas e as populações dedicadas ao extrativismo (FUNIBER, 2007). Entretanto, a política ambiental no Brasil encontra-se muito fragmentada. Embora há muito tempo ocorra a preocupação com as políticas voltadas para a gestão ambiental, através de leis específicas, as quais se constituíram num grande avanço nos últimos anos, o caminho a percorrer é longo. Sabe-se que é difícil implantar uma gestão ambiental efetiva no país dadas as suas diversidades sócio-culturais e a própria estrutura político-administrativa, mas esse cenário já apresenta mudanças, principalmente com a criação dos órgãos municipais de meio ambiente. Porém, só a partir de discussões amplas envolvendo toda a sociedade brasileira, as quais lançarão base para uma política ambiental que respeite as diversidades sócio-culturais e os valores dos diversos segmentos sociais do país será possível fazer gestão ambiental satisfatória no Brasil. Isto é, aquela que parta da capilaridade das questões: os Municípios, 15 com suas características peculiares; os Estados e regiões, com seu potencial sendo levado em consideração e a União tratada de forma soberana. A gestão ambiental constitui um processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais e/ou governamentais que interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às especificidades do meio ambiente. As principais atividades da gestão ambiental envolvem o monitoramento, o controle e a fiscalização dos recursos naturais, bem como o processo de estudo, avaliação e licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. Além de envolver a normatização de parâmetros físicos, biológicos e químicos dos elementos que serão monitorados, assim como os limites de sua exploração e as condições de atendimento dos requerimentos ambientais em geral. 2.1.1 CONCEITO DE GESTÃO AMBIENTAL A noção de gestão assumiu diversas significações a partir da França, começando pela confluência da lógica profissional dos encarregados da gestão florestal e de uma lógica administrativa estatal, exercida em nome dos interesses superiores da nação. Nesse caso, a gestão designou o programa de exploração de um domínio florestal específico. Mais tarde essa noção passou a designar a realização de trabalhos planejados e de grande envergadura, visando a reorganização de espaços naturais (GODARD, 1997). Passa-se a falar então de gestão de recursos naturais. Estes podem ser renováveis e não-renováveis. No caso da Amazônia, a gestão está mais focalizada para os recursos naturais renováveis, cuja noção básica é compreendida pelo seguinte fragmento: Limitaremos a noção de recurso natural renovável ao caso daqueles que o homem explora sem poder influenciar o processo de renovação de maneira positiva. Em outras palavras, sua reprodução não é forçada ou controlada pelo homem: tais recursos podem ser usados, geridos, mas não produzidos. Isto inclui as florestas naturais, a fauna selvagem aquática e terrestre, as águas e o ar. Recursos renováveis são recursos vivos ou em movimento, onde a presença da variável temporal implica a adoção de enfoques centrados na noção de fluxo e de variabilidade (VEIRA e WEBER, 1997, p. 27). Para Vieira e Weber (1997) a gestão de recursos naturais surge como um dos componentes essenciais do processo de regulação das inter-relações entre os sistemas sócio- culturais e o meio ambiente biofísico, num horizonte que leva em conta a diversidade de representações cognitivas dos atores sociais em jogo, a variabilidade envolvida nas diferentes escalas espaciais e temporais, bem como, as incertezas e controvérsias científicas que marcam a busca de compreensão da dinâmica evolutiva dos sistemas sócio-ambientais contemporâneos. Isto corrobora o pensamento de Reigota (1998) sobre meio ambiente e representação social, segundo o qual é importante levar em consideração o ponto de vista dos diversos atores sociais acerca do meio ambiente para que qualquer iniciativa de planejamento ou modelo de gestão ambiental seja bem sucedido. Isto porque “as representações sociais equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que através delas compreendem e transformam sua realidade” (REIGOTA, 1998, p. 70). 16 Antes de Vieira e Weber e Reigota, Bressan (1996) apontava que a gestão ambiental deve ser compreendida enquanto gestão racional da natureza, ou seja, um esforço de síntese com vistas à elaboração de um modelo ao mesmo tempo abrangente e flexível, destinado à mediação das relações entre os homens (sociedade) e a natureza, com aplicabilidade especial entre os países subdesenvolvidos ou em processo de desenvolvimento. Entendida dessa forma, a gestão racional procura absorver as possibilidades, mas também os limites da ciência e da técnica, circunscrevendo-os a contextos históricosespecíficos, procurando incorporar princípios éticos, instrumentos jurídicos e valores culturais e estéticos, os quais, isolados ou em conjunto, funcionam como reguladores das relações sociais e, das relações da sociedade com a natureza. Este tipo de concepção de gestão ambiental corrobora a materialização de uma racionalidade renovada que se vincula à adoção de uma nova estratégia de gestão da natureza. Nesse caso, o papel do Estado torna-se de fundamental importância para uma via democrática sustentada por uma interação efetiva entre aparato estatal e população civil organizada, pois “identifica-se no Estado, enquanto representação da sociedade, o gestor ambiental por excelência” (BRESSAN, 1996, p. 16). E, nesse quadro de ruptura e transformação devem estar inscritas as idéias e o instrumental selecionado para gerir racionalmente a natureza. Os elementos para a gestão racional da natureza devem ter em comum o fato de organizarem-se pela totalidade. Isto quer dizer que, a realidade deve ser considerada como um todo estruturado para que seja compreendida racionalmente. Dessa forma, os principais instrumentos apontados para fazer a gestão racional da natureza, levando-se em conta as formas de tratamento do espaço e dos sistemas ecológicos enquanto totalidade e contemplando a concepção de natureza como um bem de interesse público, portanto, passível de controle pelo Estado e pelas organizações comunitárias são os seguintes: Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas, Manejo de Recursos Naturais em Regime Sustentado e Uso Múltiplo, Manejo Integrado de Pragas, Gerenciamento Costeiro, Reservas Naturais e Estudos de Impacto Ambiental (BRESSAN, 1996). Portanto, o modelo de gestão racional da natureza deve ser construído sobre três pilares: Totalidade, Racionalidade e Controle Público. A concretização deste conjunto de princípios depende da capacidade do Estado e da sociedade de organizar projetos nacionais de desenvolvimento com possibilidades de cooperação internacional, onde conceitos como espaço, ecossistema, gestão racional e bem público representem pontos de articulação entre teoria e práxis (BRESSAN, 1996). Fala-se muito em gestão participativa nos vários segmentos da sociedade, que se ocupam do gerenciamento de pessoas e recursos de diferentes naturezas. Na área ambiental é importante incluir a gestão integrada dos recursos naturais como um conceito avançado dentro da gestão ambiental. Gestão integrada dos recursos naturais consiste no estabelecimento de um conjunto de ações de natureza administrativa, em um determinado espaço ou unidade de planejamento, que considere as inter-relações entre os recursos naturais e as atividades socioeconômicas (IBAMA, 2002). Assim, a gestão ambiental em todos os conceitos e definições discutidas tem por premissa básica manter os recursos naturais disponíveis para o desenvolvimento, hoje, amanhã e sempre. Desse modo, a gestão que se busca deve ter o caráter da sustentabilidade, isto requer posturas mais abrangentes do governo e da sociedade como condição indispensável a sua implementação. Resta analisar como essa implementação poderá ser efetivada no setor público e no privado. 2.2 GESTÃO PÚBLICA: INDÚSTRIA DE OFÍCIOS 17 2.2.1 A SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE DE BARCARENA - SEMMAB A gestão ambiental pública no município de Barcarena é exercida pela Prefeitura e pelos órgãos a ela ligados, sobretudo, pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente – SEMMAB, com a participação de órgãos ambientais estaduais e federais. No ano de 2001, foi criada a Coordenadoria do Meio Ambiente, que funcionava no prédio da Prefeitura e contava com apenas 03 (três) funcionários. Nesse ano foram desenvolvidas campanhas educativas e eventos em parceria com as empresas locais, os quais contribuíram significativamente para a relevância das questões ambientais em Barcarena. Por isso, em Junho de 2002, a Lei Complementar Nº. 007 implantou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Barcarena - SEMMAB, a qual expandiu o universo de atividades e o melhoramento no atendimento à população. Nesse ano, a SEMMAB passou a contar com um efetivo de 23 (vinte e três) funcionários e, com infra-estrutura diferente do ano anterior, sendo que funcionou em instalações fora do prédio da Prefeitura. Além disso, foram realizados cursos e treinamentos para os funcionários a fim de capacitá-los para o exercício de suas funções. Também outros eventos e projetos foram implementados como a Semana Integrada do Meio Ambiente, Encontro Regional de Educação Ambiental e o Projeto Verão. Foi criada ainda, Lei Municipal N.º 1970, que dispõe sobre a Política Municipal do Meio Ambiente, sistema, controle, fundo e licenciamento ambiental, e Lei Municipal Nº. 1974, que institui e disciplina as taxas ambientais pelo exercício regular de poder de polícia e as tarifas de competência da SEMMAB. Os principais problemas da gestão ambiental pública em Barcarena estão relacionados à falta de estrutura adequada para o funcionamento da SEMMAB, como a não disponibilidade de sede própria, pois o atendimento funciona em prédio alugado, portanto, inadequado e desconfortável, a indisponibilidade de meios de transporte para fiscalização (automóveis e lanchas); a inoperância da política ambiental, pois o Conselho Municipal e o Fundo Municipal de Meio Ambiente estão implementados, mas não funcionam plenamente; e a não existência do convênio de descentralização entre o órgão ambiental estadual e o municipal. Recentemente houve um esforço para a celebração desse convênio que será fundamental para a gestão ambiental integrada. Além disso, somam-se os as dificuldades ligadas à burocracia dos órgãos públicos, a partir das quais torna-se muito complexo fazer a gestão ambiental. Por exemplo, tudo que se quer pedir, demandar ou autorizar deve, inevitavelmente, ser feito por meio de ofícios. Daí, o título desta seção foi denominado “Indústria de Ofícios” para ironizar a realidade da gestão ambiental pública. Como observou Weber (2002) a sociedade moderna caracteriza-se, entre outras coisas, por uma administração com base na burocracia racional moderna, posto que, irradia uma série de procedimentos para o andamento dos processos da sociedade moderna, através do próprio Estado, tomado como uma associação política com uma constituição racionalmente rígida, leis racionalmente ordenadas e uma administração coordenada por regras racionais ou leis, administrado por funcionários treinados. Porém, o mesmo autor assinala que o enrijecimento burocrático pode constituir um entrave para o desenvolvimento dessa sociedade. Nesse sentido foi que considerou-se neste trabalho o exemplo da “indústria de ofícios”. Outro problema relacionado à gestão pública diz respeito ao fato de que muitas vezes o Estado é gerador de poluição e degradação do meio ambiente, na medida em que, suas ações de desenvolvimento e obras necessárias ao bem-estar da população são realizadas à revelia das exigências ambientais e, até mesmo, pelo descaso com o meio ambiente. De acordo com 18 Bressan (1996) isto constitui um paradoxo na análise da gestão ambiental desenvolvida pelo poder público: Um destes paradoxos vivido pelo aparato estatal reside no fato de que, enquanto uma parte dos seus instrumentos institucionais representa os principais canais de defesa da qualidade do meio ambiente, a outra parte manifesta-se como agente de degradação (BRESSAN, 1996, p. 79). Isto se tornou visível em Barcarena com o projeto da Alça Viária, que é uma rodovia estadual que integra as regiões sul, sudeste e centro-oeste do Pará à capital, na medida em que vários pontos do município foram impactados por esse empreendimento, sobretudo nas comunidades afetadas pela rodovia. Por exemplo, a construção de pontes sobre igarapés causaram o assoreamentodesses cursos d’água e a alteração do cotidiano das populações que se utilizavam desses recursos ambientais. A alternativa apontada quanto ao fortalecimento da gestão ambiental pública passa pela instituição de um Estado vigoroso capaz de estabelecer prioridades e de orientar o uso dos recursos nacionais, com vistas à superação dos interesses que impedem a sua modernização efetiva, devendo servir ao público e não a uma minoria de privilegiados responsáveis por sua manipulação, ou seja, deve ser um meio e não um fim em si (BRESSAN, 1996). Assim, além de acompanhar as discussões sobre hegemonia mundial, o Estado, principalmente no Terceiro Mundo, enquanto gestor do ambiente deve estar em sintonia com os interesses públicos, precisa habilitar-se à adoção de mecanismos capazes de ordenar as ações humanas sobre a natureza e, igualmente, capazes de modificar a essência das relações sociais vigentes. Um desses mecanismos elaborados pelo Estado é a Política Nacional para o Meio Ambiente, a qual deverá ser articulada com a realidade regional e local. Conforme Macedo (1994, p. 26): O desenvolvimento, a realização e a eficácia de uma política nacional para o meio ambiente requer o estabelecimento de algumas condições essenciais, sem as quais seus resultados podem ser comprometidos. Essas condições, que normalmente derivam da forma pela qual a nação enfrentou e resolveu suas mais variadas questões, constituem-se nos elementos norteadores da política proposta, ou seja, seus princípios essenciais. Significa dizer que, em todas as suas facetas, e vista sob qualquer ângulo, a política obrigatoriamente os contempla, sendo por esse motivo beneficamente impactada pelas imposições e regras que deles derivam. Assim, os princípios básicos constituem-se nos valores que orientam planos nacionais, setoriais e locais, tanto públicos quanto privados. Para esse autor a Política Nacional para o Meio Ambiente consiste na estrutura estratégica conformada por princípios, diretrizes e sistemas de gestão de diversas naturezas. No que diz respeito à legislação brasileira essa Política existe desde 1981, através da Lei Nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que cria a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Entretanto, há mais de 20 anos da elaboração da Política Nacional do Meio Ambiente, ainda são muitos os problemas para que ela seja implementada, dentre esses entraves encontra-se a questão da descentralização administrativa a partir da qual a União repassa competências aos Estados e estes aos Municípios, através de convênios e parcerias. No ano de 2007, o órgão ambiental local, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Barcarena (SEMMAB) realizou concurso público para o ingresso de novos técnicos na gestão ambiental. Este foi um fator positivo, haja vista que, os servidores não eram efetivos, o 19 que causava descontinuidade nas ações de gestão ambiental em face da rotatividade dos contratos desses servidores. Os cargos de nível superior ofertados foram para engenheiros, biólogos, químico industrial, geólogos, sociólogos, arquitetos, assistentes sociais e pedagogos, além da criação do cargo de fiscal ambiental. Outro fator positivo foi o conjunto de normas jurídicas editadas pelo município de Barcarena, cuja política ambiental está consolidada, inclusive com a instalação do Conselho Municipal do Meio Ambiente e do Fundo Municipal do Meio Ambiente. No Quadro 2.2 é demonstrado o conjunto da normativa ambiental editado pelo poder municipal: QUADRO 2.2: CONJUNTO DE NORMAS AMBIENTAIS DE BARCARENA LEGISLAÇÃO SINTESE DO CONTEÚDO LEI COMPLEMENTAR N o. 007, DE 12 DE JUNHO DE 2002 Dispõe sobre a implantação de Secretaria Municipal do Meio Ambiente na estrutura organizacional da Administração Pública Municipal direta, e dá outras providências. LEI COMPLEMENTAR N o. 10, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003 Altera dispositivos da Lei Complementar No. 007, de 12 de junho de 2002. LEI MUNICIPAL N° 1970, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2002. Dispõe sobre a política municipal de meio ambiente, sistema, conselho, fundo, controle e licenciamento ambiental e dá outras providências. LEI MUNICIPALN° 1974, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2002. Institui e disciplina as taxas ambientais pelo exercício regular de poder de polícia e as tarifas de competências da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAB) e dá outras providências. LEI MUNICIPAL N° 1980, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003. Altera dispositivos da Lei Complementar n° 007, de 12 de junho de 2002, que dispõe sobre a implantação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na estrutura organizacional da Administração Pública Municipal Direta e dá outras providências. LEI MUNICIPAL N° 1982, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003. Altera dispositivos da Lei N° 1.970, de 27 de dezembro de 2002 e dá outras providências. LEI MUNICIPAL N o. 1983, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003. Disciplina as taxas pelo exercício regular do poder de polícia e as tarifas de competência da Secretaria de Meio Ambiente do Município Barcarena. DECRETO N° 20, DE 21 DE JANEIRO DE 2004. Regulamenta o Conselho Municipal do Meio Ambiente COMAM. DECRETO N°. 029, DE 10 DE JANEIRO DE 2005. Regulamenta o Cadastro Técnico de Consultores Ambientais. DECRETO N° 083, DE 03 DE JUNHO DE 2004. Regulamenta o parágrafo único do art. 23, da lei n° 1.970, de 27 de dezembro de 2002, alterada pela Lei n° 1.982 de 19 de dezembro de 2003. DECRETO N° 84, DE 03 DE JUNHO DE 2004. Regulamenta o § 4°, do art. 25 e art. 28, da Lei n° 1.970, de 27 de dezembro de 2002, alterada pela Lei n° 1.982 de 19 de dezembro de 2003. DECRETO N° 98, DE 10 DE SETEMBRO DE 2004 Nomeia membros do Conselho Municipal de Meio Ambiente do Município de Barcarena. DECRETO N. 34, DE 23 DE MARÇO DE 2004. Disciplina o Procedimento Administrativo, para apuração de infração ambiental. DECRETO N°. 030, DE 10 DE JANEIRO DE 2005. Regulamenta o Cadastro Técnico de 20 Atividades e Obras Efetivas ou Potencialmente Poluidoras ou capazes de causar significativa degradação ambiental. DECRETO Nº 191, DE 21 DE MARÇO DE 2005. Altera dispositivos do Decreto n° 33, de 22 de março de 2004. Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. Também foi importante o deslocamento da sede da SEMMAB para a Vila do Conde, onde funciona desde o ano de 2007, atendendo uma antiga solicitação da população, pois nesse local ocorrem os maiores riscos de acidentes ambientais. Informa-se que o prédio não é próprio, pois até o momento não se investiu realmente no fortalecimento da gestão ambiental, sendo necessário a construção de sede própria e aquisição de equipamentos, bem como, a criação de um laboratório de controle ambiental. Os procedimentos adotados pela equipe técnica responsável pela fiscalização quando ocorrem acidentes ambientais consistem na lavratura dos Autos de Constatação e de Infração, conforme o Decreto Municipal Nº. 34, de 23 de março de 2004, que disciplina o Procedimento Administrativo para apuração de infração ambiental. São coletadas amostras e encaminhadas ao Centro de Perícias Científicas do Estado do Pará para análise e composição de Laudos Técnicos. Após o recebimento dos Laudos são concluídos os Relatórios Técnicos e encaminhados à Procuradoria Geral do Município que toma as medidas legais. Os servidores que atuam diretamente no licenciamento e na fiscalização receberam treinamentos sobre balneabilidade em parceria com o Instituto Evandro Chagas e também capacitação na área da educação ambiental. Mas até o momento não há convênio ou parceria com o Governo do Estado do Pará para o compartilhamento da gestão ambiental na áreado licenciamento e fiscalização. Embora tenha havido avanços falta mais rigorosidade no cumprimento das leis ambientais, mais apoio das autoridades e da justiça não só na esfera municipal, mas em todos os níveis de governo. Tozi (2007) ao discutir a municipalização da gestão ambiental no Estado do Pará ressalta que o município tem um papel importante na gestão, visto que, é a instância de poder que conhece detalhadamente seu território, podendo nele agir melhor, além da interação limítrofe que existe entre os atores sociais, possibilitando melhores análises e respostas às necessidades requeridas. 2.2.2 A SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE – SEMA A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA é o órgão do governo estadual encarregado de coordenar a proteção e conservação do meio ambiente no Pará. Anteriormente denominada Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, criada em 11 de maio de 1988, pela Lei No 5.457, só passou a ter organograma definido e funcionar de fato como Secretaria a partir de julho de 1993, sendo reorganizada pela Lei Nº. 5.752. A Lei Nº. 7.026, de 30 de julho de 2007 reorganizou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA, que tem como finalidade planejar, coordenar, supervisionar, executar e controlar as atividades setoriais que visem à proteção, conservação e melhoria do meio ambiente, através da execução das Políticas Estaduais de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos. A Lei Ambiental do Estado Nº. 5.887, sancionada em maio de 1995, é o instrumento legal que normatiza o uso e as ações relacionadas ao meio ambiente. A missão institucional da SEMA é promover a gestão ambiental integrada, compartilhada e eficiente, compatível com o desenvolvimento sustentável, assegurando a preservação, a conservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida. Os objetivos estratégicos da SEMA são: 1) Garantir o 21 armazenamento, a segurança, a acessibilidade e a recuperação das informações e documentos da Secretaria; 2) Revitalizar a Biblioteca, atualizar e disponibilizar o acervo para subsidiar a atividade fim; 3) Implementar a infra-estrutura e apoio logístico da SEMA; 4) Qualificação profissional dos servidores; 5) Gestão orçamentária e financeira transparente do Fundo Estadual de Meio Ambiente; 6) Preservação da diversidade biológica e uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de utilização dos recursos naturais, assim como a conservação dos ecossistemas no Estado do Pará; 7) Promover o uso sustentado dos recursos naturais; 8) Garantir a proteção da biodiversidade e dos espaços territoriais com características relevantes no Estado do Pará; 9) Ordenar o uso múltiplo das águas tendo como unidade de planejamento a bacia hidrografia e as águas subterrâneas; 10) Regular e normatizar os procedimentos de licenciamento ambiental; 11) Desenvolver mecanismos efetivos de fiscalização das atividades de degradação ambiental; 12) Recuperação das áreas desmatadas; 13) Fortalecimento do processo de desconcentração e descentralização da gestão ambiental; 14) Zelar pela idoneidade dos padrões e métodos da SEMA no que diz respeito às suas ações e atividades; 15) Prestar contas à sociedade, medida necessária para a preservação da integridade da instituição e uma demonstração inequívoca do respeito à sociedade e aos usuários imediatos do sistema da SEMA. A direção superior da SEMA é formada pelo Secretário de Meio Ambiente, pelo Secretário Adjunto, pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente - COEMA. Além das Assessorias (Corregedoria Ambiental, Consultoria Jurídica, Assessoria de Comunicação, Assessoria Técnica), Núcleos (Núcleo de Tecnologia da Informação, Núcleo de Documentação e Arquivo) e Diretorias (DILAP - Diretoria de Licenciamento Ambiental de Atividades Poluidoras; DGFLOR – Diretoria de Gestão Florestal; DIFISC – Diretoria de Fiscalização; DIAP - Diretoria de Áreas Protegidas; DIPLAM - Diretoria de Planejamento Ambiental; DIREH - Diretoria de Recursos Hídricos; DGAF - Diretoria de Gestão Administrativa e Financeira). No Quadro 2.3 é demonstrado o número atualizado de funcionários da SEMA, por categoria: QUADRO 2.3: SERVIDORES DA SEMA POR CATEGORIA CATEGORIA Nº DE SERVIDORES SUPERIOR 425 MÉDIO 125 FUNDAMENTAL 37 TOTAL 587 Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. O quadro de funcionários da SEMA foi ampliado com a realização de dois concursos públicos nos anos de 2006 e 2008, dando estabilidade ao técnicos responsáveis pela gestão ambiental, já que anteriormente a maioria era de temporários, o que causava descontinuidade administrativa. Porém, não foi resolvida a questão dos baixos salários e a desvalorização desses servidores, causando insatisfação e a procura por melhores remunerações, pois grande parte dos servidores de nível superior possui mestrado e alguns com doutorado. Conforme Reuter (2001) a falta de valorização do quadro técnico nos órgãos ambientais é patente. Em alguns Estados, um especialista dentro de um órgão ambiental tem uma remuneração mensal da ordem de R$ 1.000, 1.200, 1.500,00. Evidentemente que há uma evasão muito grande desses profissionais para a iniciativa privada, justamente para dar suporte ao empreendedor que tem interesse em defender a sua localização ou a ampliação, ou a instalação, ou a operação que pleiteia. 22 Atualmente os servidores da SEMA têm buscado a aprovação de uma lei que estabelece a gratificação de atividade de gestão ambiental, bem como, o plano de cargos e salários no âmbito estadual, objetivando a melhoria salarial. Portanto, o grande problema entre esses níveis ou instâncias de poder é a falta de estrutura e de investimentos em políticas ambientais, cujos custos são elevados, por exemplo, para treinamento e contratação de pessoal qualificado (CAIRNCROSS, 1992). Dessa forma, a gestão ambiental é um desafio para o setor público, em face dos custos que derivam do uso dos recursos naturais, dos riscos ambientais e dos acidentes que ocorrem envolvendo até mesmo as grandes empresas. 2.3 GESTÃO EMPRESARIAL: INDÚSTRIA DE ALUMÍNIO Será tomado como exemplo da gestão ambiental empresarial a Alumínio Brasileiro S.A. – ALBRAS a partir da apresentação do seu processo produtivo e discussão do Sistema de Gestão Ambiental. Serão apresentados também os Sistemas de Gestão Ambiental das outras empresas de grande porte instaladas no Distrito Industrial a partir dos programas e ações socioambientais desenvolvidos. Em outubro de 1985 foi inaugurada em Barcarena, no Distrito de Murucupi, a fábrica da empresa Alumínio Brasileiro S/A – ALBRAS, para produção de alumínio primário. Em 1989 começou a funcionar a fábrica da empresa Alumina do Norte do Brasil S/A – ALUNORTE, que produz alumina, matéria-prima do alumínio. O Complexo ALBRAS/ALUNORTE resultou da associação da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD com a Nippon Amazon Aluminiun Company Ldta – NAAC, consórcio estabelecido por empresas e pelo governo japonês (CARMO, 2000). A ALBRAS foi constituída em setembro de 1978 e implantada em duas fases, cada uma com capacidade nominal de 160 mil toneladas/ano. A primeira fase começou a operar em julho de 1985 e a segunda fase atingiu plena atividade em 1991. Com a expansão realizada em 2001 a empresa chega à produção anual superior a 400 mil toneladas. O investimento total de implantação da ALBRAS é de US$ 1,5 bilhão. Em 2003 a produção acumulada da empresa alcança 5 milhões de toneladas, o que representa geração de divisas acima de US$ 7 bilhões. Do ponto de vista da história socioeconômica da Amazônia a empresa destaca-se como um empreendimento de grande relevância do planejamento do desenvolvimento da região, conforme analisou Carmo (2000, p. 85): A empresa foi resultado de uma política de desenvolvimento articulada pelo
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