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GESTÃO AMBIENTAL EM ÁREA DE RISCO NO MUNICÍPIO DE BARCARENA

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1 
 
GESTÃO AMBIENTAL EM ÁREA DE RISCO NO MUNICÍPIO DE 
BARCARENA/PARÁ 
 
PAULO ALTEMAR MELO DO NASCIMENTO 
 
 
 RESUMO 
 
O presente trabalho se propõe a realizar uma análise crítica dos instrumentos de 
gestão ambiental aplicados no Distrito Industrial de Barcarena, Estado do Pará, ressaltando 
como o licenciamento e a fiscalização foram evidenciados principalmente na ocorrência de 
acidentes ambientais. Trata também da relação entre desenvolvimento e meio ambiente, com 
ênfase na problemática socioambiental no município, focalizando as dimensões dos 
problemas decorrentes do modelo de industrialização implantado na região, bem como, a 
análise do diagnóstico de gestão ambiental efetivadas em Barcarena. Em face dos problemas 
sócio-ambientais, observa-se duas formas de gestão ambiental: a exercida pelos órgãos 
públicos e a implementada pelas empresas privadas. No caso da gestão pública ocorre um 
desafio para os órgãos responsáveis pela gestão ambiental em face da falta de estrutura e 
investimentos no setor. Quanto à gestão ambiental empresarial, se constitui numa 
oportunidade de lucro para as empresas, posto que, estas têm seus produtos e serviços 
divulgados e sua imagem promovida, além de ser uma exigência do mercado a adequação das 
empresas às normas ambientais. O local da pesquisa é considerado como área de risco 
ambiental devido o complexo de indústrias metal-mecânicas instaladas. Isto leva à questão 
dos riscos do modelo de desenvolvimento da sociedade industrial tanto na área social quanto 
no meio ambiente natural. Outra discussão importante, diz respeito ao destaque que será dado 
aos acidentes ambientais decorrentes da atividade industrial nessa área de risco e a avaliação 
dos instrumentos de licenciamento e fiscalização, visando verificar sua eficiência no contexto 
social, tecnológico e ambiental da região. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Meio Ambiente; Gestão Ambiental; Risco Ambiental; Licenciamento; 
Fiscalização. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A presente pesquisa intitulada “Gestão Ambiental em Área de Risco no Município de 
Barcarena-Pará” foi realizada na área do Distrito Industrial do Murucupi, localizado no 
município de Barcarena, Estado do Pará, onde estão implantadas indústrias metal-mecânicas 
de grande porte, tais como, a Alumínio Brasileiro S.A - ALBRAS, que beneficia alumínio 
primário e a Alumina do Norte do Brasil S.A - ALUNORTE, usina de beneficiamento de 
bauxita para a produção de alumina que abastece aquela e também destinada à exportação. 
O Município de Barcarena, com uma área de 1.316,2 Km² aproximadamente, pertence 
Mesorregião Metropolitana de Belém e a Microrregião de Belém. A sede municipal tem as 
seguintes coordenadas geográficas: 01°30’24” de latitude sul e 48°37’12” de longitude Oeste 
de Greenwich. O município faz limite ao Norte com a Baia de Marajó e o município de Ponta 
de Pedras; ao Sul com o município de Moju; a Leste com a Baia do Guajará e a oeste com o 
município de Abaetetuba. 
2 
 
Tendo sido palco de episódios que marcaram a história do Estado do Pará, Barcarena 
possui um grande acervo sócio-religioso-cultural dentre os quais se destaca a Igreja de São 
Francisco Xavier erguida no início do século XVII por padres Jesuítas; a de Nossa Senhora do 
Tempo, cuja imagem fica protegida por uma redoma e cercada pela lenda de que quando se 
tenta retirá-la do local para alguma capela, a imagem sempre retorna ao local; a de São João 
Batista localizada na Vila do Conde, erguida no século XVII pelos padres Jesuítas, local onde 
Eduardo Angelim lançou sua Proclama Revolucionária da Cabanagem. Atualmente a 
religiosidade pode ser vivenciada através da realização dos círios de Nossa Senhora de Nazaré 
e de São Francisco Xavier, como também da apresentação do espetáculo Paixão de Cristo 
(BARCARENA, 2002). Além destas ocorrem outras manifestações religiosas tais como 
congressos, confraternizações, encontros e shows de cunho cristão evangélico, cujo número 
de adeptos é expressivo no município. 
Outro monumento histórico são as Ruínas do Casarão do Cafezal, construída a partir 
de 1862 pelos colonizadores portugueses, local que segundo os antigos zeladores era repleto 
de armadilhas e equipamentos para tortura e execução de escravos que tentavam fugir ou se 
rebelavam, atualmente as únicas marcas deste casarão são parte da estrutura do cemitério dos 
senhores de engenho, dois poços e uma relíquia arquivada na Secretaria de Cultura, a balança 
utilizada para pesar escravos. 
Barcarena tem outras tradições culturais como o Festival do Peixe, organizado pela 
Associação dos Pescadores de Vila do Conde realizado no Centro Cultural da Vila, durante o 
mês de julho; o Festival do Abacaxi, que nasceu de um projeto do Movimento Brasileiro da 
Alfabetização de Adultos (MOBRAL), em 1979; o Festival do Caranguejo, realizado 
anualmente entre o final de maio e início de junho, na Praia de Caripi, organizado pelos 
barraqueiros. Outra expressão cultural significativa é o Festival do Cupuaçu, realizado na Vila 
de Itupanema, no mês de julho, coordenado pela Secretaria de Cultura em parceria como os 
Centros Comunitários e Associações locais (BARCARENA, 2002). 
No que diz respeito à população Barcarena passou por um processo de crescimento 
populacional acentuado como conseqüência da instalação de indústrias no local, tendo mais 
do que triplicado a sua população nas últimas três décadas, saltando de 17.498 habitantes em 
1970, para 63.268, em 2000 (BRASIL, 2006). 
De acordo com a contagem de população do IBGE, a estimativa populacional em 
2007, era de 84.566 habitantes e 92.567 habitantes no ano 2009. Isto se deve ao forte 
movimento migratório incentivado pela política de ocupação da Amazônia nas últimas 
décadas. Em termos regionais o Norte recebe imigrantes, em sua maioria, vindos da região 
Nordeste. O Pará é o estado que mais recebe imigrantes, com destaque justamente para a 
região de Belém, onde se localiza Barcarena, um forte pólo de atração populacional. 
O município concentra um importante Pólo Industrial de mineração, onde está 
instalado um complexo minero-metalúrgico, com indústrias metal-mecânicas, dentre as quais 
se destacam a Alumínio Brasileiro S/A (ALBRAS), que beneficia alumínio primário e a 
Alumina do Norte do Brasil S/A (ALUNORTE), atualmente a maior usina de beneficiamento 
de bauxita do mundo, já que no dia 14/08/2008, o Presidente da República esteve no local 
inaugurando a terceira fase de expansão da fábrica. De 2000 a 2003 foi realizada a expansão 
1, que aumentou em 50% a capacidade da empresa com a implantação de uma terceira linha 
produtiva, elevando a capacidade de 1,6 milhão para 2,4 milhões de toneladas/ano de alumina. 
Em julho de 2003 foi iniciado o projeto de expansão 2, que implantou duas novas linhas 
produtivas. Inauguradas no início de 2006, essas linhas, em conjunto com as três existentes, 
elevaram a capacidade da planta de 2,4 para 4,4 milhões de toneladas/ano de alumina, 
consolidando a Alunorte como a maior produtora de alumina do mundo. Desde 2006, a 
3 
 
empresa investiu na construção de duas novas linhas produtivas, que elevarão a capacidade de 
4,4 para 6,3 milhões de toneladas/ano de alumina. 
Estão instaladas também no distrito industrial de Barcarena duas fábricas de 
beneficiamento de caulim, quais sejam, Pará Pigmentos S/A (PPSA) e Imerys Rio Capim 
Caulim (IRCC), que contribuem para o aumento do risco ambiental na área. Esta última já 
esteve envolvida em pelo menos três acidentes ambientais, com vazamento de rejeitos 
industriais. 
Os acidentes ambientais ocorridos nessa área desde o início do ano 2000 somam em 
sete, dentre os mais relevantes destacam-se: 1) derramamento de coque no Rio Pará; 2) 
afundamento da balsa Miss Rondônia carregada de óleo BPF; 3) contaminação do Rio 
Murucupi; 4) transbordamento da bacia de rejeitos de lama vermelha; 5) vazamento desoda 
cáustica no Rio Pará; 6) chuva de fuligem na Vila de Conde; 7) vazamentos de rejeitos de 
caulim. 
O acidente ambiental é aquele ocorrido durante a manipulação, armazenamento ou 
transporte de produtos químicos, provocando alterações ambientais, degradação da qualidade 
ambiental e prejudicando a saúde, a segurança e o bem-estar da população, além de criar 
condições adversas às atividades econômicas e sociais. Os acidentes que ocorrem dentro das 
indústrias e nas zonas portuárias também podem ser incluídos nessa categoria se promoverem 
danos à população e ao meio ambiente (ALMEIDA, 2006). 
Barcarena entrou no ciclo da mineração durante os Grandes Projetos desenvolvidos na 
Amazônia na época do Regime Militar, na década de 1970, principalmente pela localização 
privilegiada na geografia regional, dando condições para a implantação de um porto de 
exportação de grande capacidade de escoamento, hoje consolidado como o Porto de Vila do 
Conde. 
Os projetos minerários são muito importantes dentro do contexto socioeconômico do 
Estado do Pará, devido ao potencial dessa riqueza natural no solo paraense, sendo que, a 
grande parte dos projetos licenciados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Pará - 
SEMA refere-se à mineração. 
Nesse contexto, o município de Barcarena engloba-se no ciclo da mineração a partir 
do beneficiamento primário de minérios como a bauxita e o caulim. Ultimamente, ocorreu um 
esforço para que a produção mineral seja verticalizada no Estado do Pará e, para tanto, 
encontra-se instalada no Pólo Industrial de Barcarena, a Usina Siderúrgica do Pará - USIPAR, 
uma fábrica de médio porte, que produzirá ferro gusa, a partir de minério originado de 
Carajás/PA (NASCIMENTO, 2004). 
Outro fator agravante para a gestão ambiental é a implantação da Companhia de 
Alumina do Pará - CAP, uma mega usina de beneficiamento de bauxita, originada através de 
uma parceria entre os governos do Brasil e da China, originalmente denominada Refinaria 
ABC, a qual pretende ser a maior refinaria de bauxita do mundo. O referido projeto encontra-
se em processo de licenciamento ambiental (Licença de Instalação) na SEMA. Para dar 
suporte ao consumo de energia elétrica desse empreendimento foi prevista a implantação de 
uma Usina Termelétrica no local, sendo que, o projeto submetido à análise de viabilidade 
ambiental pela SEMA causou muita polêmica pois a população não aprova esse tipo de matriz 
energética. Devido o potencial poluidor da UTE os riscos ambientais na área poderão 
aumentar relevantemente. 
Este fator é agravante porque a estrutura administrativa do município de Barcarena 
sofreu poucos avanços, principalmente, no que diz respeito à gestão ambiental, com isso, 
tende a não suportar a demanda de questões e conflitos gerados pelos impactos desses novos 
empreendimentos. Nesse particular destaca-se o aumento de riscos ambientais nas áreas de 
4 
 
influência direta desses projetos, com especial agravo na área socioeconômica, tecnológica e 
ambiental. 
Define-se como gestão ambiental o conjunto de ações destinadas a atingir a máxima 
racionalidade no processo de decisão relativo à conservação, defesa, proteção e melhoramento 
do meio ambiente, baseando-se numa informação coordenada, multidisciplinar e na 
participação cidadã (FUNIBER, 2007). Para o Ibama (2002) a gestão ambiental constitui um 
processo de articulação das ações dos diferentes agentes sociais e/ou governamentais que 
interagem em um dado espaço, visando garantir, com base em princípios e diretrizes 
previamente acordados/definidos, a adequação dos meios de exploração dos recursos 
ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às especificidades do meio ambiente. 
Quanto ao Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é o padrão, ou método de trabalho, 
que a empresa utiliza com o objetivo de implantar um adequado comportamento, de acordo 
com as metas fixadas e como resposta para algumas normas, riscos ambientais e pressões, 
tanto sociais como financeiras, econômicas e competitivas. Noutras palavras o SGA é aquela 
parte do sistema geral que engloba estrutura organizacional, responsabilidades, práticas, 
procedimentos, processos e recursos para elaboração, aplicação, revisão e manutenção da 
política ambiental da empresa (FUNIBER, 2006). Para D’Avignon (1995), um sistema de 
Gestão Ambiental pode ser definido como um conjunto de procedimentos para gerir ou 
administrar uma empresa, de forma a obter o melhor relacionamento com o meio ambiente. 
O estudo da gestão ambiental nesta área de risco torna-se importante principalmente 
no que diz respeito à análise dos instrumentos legais aplicados pelos órgãos gestores do meio 
ambiente. Destaca-se neste estudo a análise do licenciamento e fiscalização ambiental 
efetuados no local quando da ocorrência de acidentes ambientais de grande proporção. Note-
se que serão destacados três principais eventos dessa natureza: Contaminação do Rio 
Murucupi, Vazamentos de Caulim e Vazamentos de Óleo. 
Desta forma, esta pesquisa objetiva realizar análise crítica dos instrumentos de gestão 
ambiental aplicados no Pólo Industrial de Barcarena, Estado do Pará, a partir dos processos de 
licenciamento e fiscalização dos projetos minerários instalados nessa área de risco, visando 
avaliar sua eficiência no contexto social, tecnológico e ambiental da região. Destacando os 
principais acidentes ambientais ocorridos na área de risco estudada, ressaltando a forma como 
o licenciamento e a fiscalização foram aplicados enquanto instrumentos de gestão ambiental, 
bem como, avaliar a eficiência de tais instrumentos no contexto social, tecnológico e 
ambiental da área de risco estudada. 
Na primeira parte da pesquisa será comentado o grau ou as dimensões da problemática 
sócio-ambiental decorrentes do modelo de desenvolvimento planejado para a região 
amazônica, a partir do final da década de 70, com enfoque específico ao município de 
Barcarena, Estado do Pará, cujo processo de industrialização tornou-se significativo para o 
entendimento e alcance dos objetivos propostos neste trabalho. 
A segunda parte, intitulada Diagnóstico da Gestão Ambiental em Barcarena reserva 
espaço para descrever a estrutura e atuação dos órgãos ambientais no município, fazendo 
ainda um contraponto entre a gestão pública e a empresarial. 
A parte final, Visão Crítica sobre a Gestão Ambiental na Área de Risco, tem por 
objetivo realizar análise crítica dos instrumentos de gestão ambiental aplicados no Distrito 
Industrial de Barcarena, destacando os principais acidentes ambientais ocorridos na área de 
risco estudada, ressaltando a forma como o licenciamento e a fiscalização foram aplicados 
enquanto instrumentos de gestão ambiental. 
 
 
 
v 
5 
 
1 DIMENSÕES DA PROBLEMÁTICA SÓCIO-AMBIENTAL EM 
BARCARENA 
 
Nesta primeira parte da discussão será comentado o grau ou as dimensões da 
problemática sócio-ambiental decorrentes do modelo de desenvolvimento socioeconômico 
planejado para a região amazônica, a partir do final da década de 70, com enfoque específico 
ao município de Barcarena, Estado do Pará, cujo processo de industrialização tornou-se 
significativo para o entendimento e alcance dos objetivos propostos neste trabalho. 
Inicialmente, será necessário lembrar aqui algumas relações entre os projetos de 
modernização da Amazônia e as questões ambientais, sobretudo no que diz respeito aos 
impactos causados pelo modelo de planejamento que se projetou para a região. Será 
importante balizar este trabalho em literatura que ofereça o entendimento das teorias do 
desenvolvimento no contexto da Amazônia, para demonstrar os impactos deste sobre a região 
e as suas conseqüências geradas a partir do planejamento promovido pelo Estado. As 
dimensões da problemática sócio-ambiental no município de Barcarena serão evidenciadas a 
partir da análise dos casos mais significativosque envolvem as questões ambientais, para que 
o encontro entre teoria e prática enriqueça a discussão proposta. 
 
1.1 DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE 
 
Através da análise da história socioeconômica da Amazônia percebe-se que as idéias 
de progresso e integração tiveram influência direta na elaboração de políticas 
desenvolvimentistas para a região, sobretudo, a partir da década de 1960, quando o Estado 
passou a ser o gestor, através de projetos e iniciativas de modernização. A presença do Estado 
na região é vista por Costa (1992) como um processo de “brasilianização”1 da Amazônia, o 
qual se deu de forma variada, em diferentes fases, significando a afirmação do poder central 
do Estado brasileiro sobre a região, a fim de torná-la reflexa às condições estruturais de outras 
regiões do país. Porém, cada surto de “brasilianização” foi precedido por um “susto” de 
internacionalização, ou seja, ameaças externas que tiveram efeito mobilizador no sentido de 
garantir anuência para medidas concretas de política econômica nacional. Tais ameaças se não 
foram reais efetivaram-se ao menos no plano ideológico ou imaginário do governo brasileiro, 
cujo lema era “integrar para não entregar.” 
O desenvolvimento é um conceito que se desenrolou com o advento da modernidade, 
influenciado pelas idéias iluministas, juntamente com sua promessa de emancipação da razão 
do homem que se encontrava dominado pelo irracionalismo e pelas forças da natureza e do 
sobrenatural. Diante dessa realidade urge a necessidade de um projeto para a modernidade, ou 
seja, o planejamento do desenvolvimento surge como idéia central para que a modernização 
possa extrapolar para todo o mundo, num processo evolutivo que implica também a criação de 
um ambiente homogêneo, onde as marcas do velho mundo devem desaparecer por um 
processo de redução de contrastes na sociedade e nos indivíduos, constituindo o projeto 
civilizatório (RIBEIRO, 2000). 
Porém, a promessa iluminista não se efetivou, pois a razão emancipatória foi 
subjugada pela razão instrumental e a humanidade não conseguiu a emancipação plena, no 
 
1 Costa (1992) trabalha a noção de “brasilianização” para demonstrar que um processo de hegemonia do poder 
central do Estado brasileiro vem ocorrendo desde a época colonial, a fim de integrar a região às condições 
estruturais do restante do país. Essa noção é própria do autor, sendo usada em outros trabalhos seus acerca da 
região. 
6 
 
âmbito econômico, político e social. Pelo contrário, encontra-se a crise da modernidade e da 
razão, quando se analisa o que aconteceu com o projeto civilizatório da humanidade. 
Para Rouanet (1993), a modernidade é o produto desses processos globais de 
racionalização, que se deram na esfera econômica, política e cultural. Mas ocorreram duas 
modernizações que se expressam pelo aumento de eficácia e pelo aumento de autonomia. 
Ocorreu a predominância do aumento da eficácia econômica, com sua técnica e 
racionalização burocrática, em detrimento do aumento de autonomia, que se efetivaria pelo 
desenvolvimento social dos indivíduos. A autonomia deveria ser estendida a todas as pessoas, 
assim elas garantiriam a liberdade. Dessa forma, corrobora-se que, a modernidade iluminista, 
enquanto movimento modernizador voltado para a eficácia conseguiu seus objetivos, na 
medida em que rompeu com as irracionalidades do mundo feudal. Mas no que diz respeito à 
autonomia, esta permaneceu irrealizada. 
Um dos aspectos da modernidade diz respeito à mudança na relação homem e 
natureza, sobretudo pela influência da tese cartesiana de separação entre ambos, na qual o 
homem passa a dominar a natureza através da ciência e da técnica. Vários teóricos 
contribuíram para que essa nova visão sobre a natureza se efetivasse com a modernidade. 
Com Francis Bacon o objetivo da ciência passou a ser o conhecimento que poderia ser usado 
para dominar e controlar a natureza, similarmente hoje ciência e tecnologia buscam fins 
antiecológicos. Para Descartes, a natureza funcionava a partir de leis mecânicas e tudo no 
mundo poderia ser explicado em função da organização e do movimento de suas partes, pois 
ele tinha a concepção da natureza como uma máquina, perfeita, governada por leis 
matemáticas exatas. Assim, a drástica mudança na imagem da natureza, de organismo para 
máquina, teve um poderoso efeito sobre a atitude das pessoas em relação ao meio ambiente 
natural (CAPRA, 1993). 
Por sua vez, Newton ultrapassou Bacon em sua experimentação sistêmica e Descartes 
em sua análise matemática, na medida em que unificou as duas tendências e desenvolveu a 
metodologia em que a ciência natural passou a se basear a partir de então. Na mecânica 
newtoniana os fenômenos físicos reduzem-se aos movimentos de partículas de matéria, 
causado por sua atração mútua, através da força da gravidade. Dessa forma, a concepção 
mecanicista da natureza relaciona-se com um rigoroso determinismo, em que a máquina 
cósmica é completamente causal e determinada. 
Os cientistas dos séculos XVIII e XIX confirmaram o sucesso do modelo mecanicista 
a partir de sua convicção de que o universo era realmente um gigantesco sistema mecânico 
que funcionava em conformidade com as leis newtonianas do movimento e de que as 
formulações da mecânica de Newton era a teoria definitiva dos fenômenos naturais. Esse 
ponto de vista contribuiu significativamente para a acentuação da separação entre homem e 
natureza, sendo esta objeto da dominação humana, sobretudo, a partir da contribuição da 
ciência evolucionista e das ciências sociais. 
A contribuição da Sociologia, que na época era uma ciência florescente, na análise da 
relação homem e natureza deu-se com as formulações teóricas dos três clássicos autores 
Èmile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. É certo que precursores das ciências sociais, a 
exemplo de Montesquieu já tratavam dessa questão, sendo este o primeiro a procurar a 
conexão entre os fatores internos de uma determinada sociedade e os fatores externos da vida 
social, ou seja, a ligação entre as instituições e os valores com as condições climáticas e 
geográficas. Esses fundadores da Sociologia consideraram os aspectos físicos do ambiente 
como elementos relacionados às características da sociedade, porém anteriores à sociedade 
moderna, industrial e capitalista. Dessa forma acabaram fortalecendo a separação entre 
homem e natureza, isto é, a sociologia nasceu, portanto, com a marca de um pensamento que 
tornou independente a sociedade da natureza, ou no qual a natureza era simplesmente um 
7 
 
derivado da sociedade. Com a sociologia os homens se tornavam, finalmente, responsáveis 
por seus atos e eram livres para construir sua sociedade, conservando, ao mesmo tempo, o 
antigo sentimento de serem dominadores da natureza (GIULIANI, 1998). 
Quanto à contribuição da ciência evolucionista, esta se deu sob o ponto de vista da 
Ecologia, uma ciência que também surgiu na segunda metade do século XIX. Sobretudo a 
partir da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin. Dessa forma, a Ecologia nasceu 
do projeto de inventariar o mundo natural e a distribuição dos diferentes habitats da Terra, nos 
quais o homem sempre esteve incluído. 
Outro debate amplo e complexo trazido pelos cientistas sociais é o clássico tema do 
desenvolvimento humano e da sociedade e seus reflexos em diversas partes do mundo. A 
proposta do próximo item será analisar as influências das Teorias do Desenvolvimento no 
contexto da Amazônia. 
 
1.2 O DESENVOLVIMENTISMO NO CONTEXTO DA AMAZÔNIA 
 
As Teorias do Desenvolvimento, no seu começo, dividiram-se em dois grupos ou 
perspectivas de análise do desenvolvimento: a perspectiva estruturalista e a perspectiva da 
economia do desenvolvimento. A primeira com formação na América Latina e a segunda com 
origem nos Estados Unidos e na Europa. Porcausa dessas diferentes perspectivas se 
formaram dois conjuntos de propostas e linhas de raciocínio no tratamento do 
desenvolvimento, das causas dominantes do subdesenvolvimento e dos caminhos para alterar 
essa situação. 
É necessário esboçar alguns princípios da escola estruturalista para fazer a relação das 
teorias do desenvolvimento no contexto da Amazônia. A escola estruturalista surge com as 
idéias da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), instituição criada pela ONU, 
em 1947. A CEPAL foi basicamente constituída por um grupo de cientistas sociais, entre eles 
o economista argentino Raul Prebish, cujas idéias fundamentaram o pensamento cepalino. A 
idéia central na argumentação cepalina baseia-se no esquema Centro-Periferia, que via o 
grande problema dos países subdesenvolvidos nas estruturas da industrialização existente e 
nas relações entre os países. Os principais problemas seriam: a tendência à insuficiência 
dinâmica da periferia; a tendência à geração de um excedente de mão-de-obra; a tendência à 
contínua deterioração dos termos de troca; a tendência ao desequilíbrio externo; e a tendência 
ao atraso ou subdesenvolvimento (RIBEIRO, 2000). 
A solução para esses problemas, segundo a proposta da CEPAL, seria o 
desenvolvimento nacional, no qual a interferência do Estado seria um ponto fundamental, 
através do planejamento das políticas de desenvolvimento, ou seja, do dirigismo estatal. No 
caso da Amazônia, o chamado “projeto modernizador” para a região se dá a partir da 
intervenção direta do Estado no desenvolvimento, no início dos anos 60. Depois dessa 
iniciativa ocorreu o avanço do capital na Amazônia, que terminou com o fracasso do projeto 
desenvolvimentista regional. 
Loureiro (1992) trata essencialmente do avanço do capital na Amazônia e do fracasso 
do projeto de desenvolvimento para a região. Segundo essa autora ocorreu um grande 
equívoco em se pensar que somente o grande capital constrói o desenvolvimento. Além desse 
erro primordial, ocorreram outros grandes equívocos do projeto desenvolvimentista, dentre 
eles, o desprezo à natureza e ao conhecimento da população regional e a sua cultura. Por isso, 
o projeto implantado foi totalmente adverso à realidade da Amazônia principalmente porque 
não condizia com as demandas sócio-ambientais da região. 
Hall (1991) aponta o desenvolvimento da Amazônia em etapas ou campanhas, que ao 
longo da história regional foram se mostrando “falidas” e “fracassaram”. Um ponto 
8 
 
importante na análise desse autor é o detalhamento do papel do Estado enquanto o gestor do 
projeto desenvolvimentista, a partir da segunda metade do século XX, pois até a década de 
1970 as iniciativas de desenvolvimento foram tomadas principalmente pelo setor privado, 
com o apoio do Estado. Isto leva à seguinte indagação: para quem foi na verdade o 
desenvolvimento da região amazônica? Conclui-se logo que o projeto de desenvolvimento, 
embora tenha fracassado socialmente, cumpriu o papel de integrar a região ao modelo 
capitalista, seguindo a lógica da fronteira. Mas não trouxe benefícios sociais, sobretudo, para 
os pequenos produtores rurais, extrativistas e populações tradicionais da Amazônia. 
Nesse contexto desenvolvimentista foram planejados para a Amazônia grandes 
empreendimentos, baseados na eficácia econômica e no pragmatismo estatal. Porém, os 
resultados foram desastrosos, sobretudo, na esfera sócio-ambiental, pois nem a população 
amazônica nem a natureza estavam preparadas para sofrer tão grandes impactos. Na verdade, 
é sabido que a região não é propícia para o tipo de desenvolvimento engendrado para ela. 
Principalmente, porque não era prioridade desenvolver socialmente e conservar o meio 
ambiente amazônico. Hall (1991) analisou esses projetos observando que, devido as 
repercussões potenciais de projetos da magnitude da UHE Tucuruí, por exemplo, que foram 
implantados em uma área de floresta tropical úmida, seria necessário fazer exaustivas 
avaliações de impactos social e ambiental. Mas tal era a urgência para por a usina em 
operação, a fim de atender aos demais componentes industriais de Carajás, que as autoridades 
afastaram de cogitação praticamente todas as considerações desse tipo. Até mesmo os 
empregados das empresas reconheceram que os projetos não tiveram a preocupação com os 
impactos que causariam, senão com os resultados econômicos objetivados: 
 
Um diretor da Eletronorte reconheceu francamente para um pesquisador que a 
questão ambiental era inteiramente secundária ao nosso objetivo de completar as 
obras da represa no prazo programado, uma vez que a energia de Tucuruí é vital 
para outros grandes projetos que vão solucionar nosso problema de dívida externa 
(Hall, 1991, p. 76). 
 
Essa visão puramente pragmática permeou todos os grandes empreendimentos que se 
arrogavam trazer desenvolvimento para a região. No caso da industrialização em Barcarena, 
os impactos não foram diferentes, pois afetaram diretamente a microrregião do Baixo 
Tocantins. Conforme analisou Mitschein et al (1991), como sede do Complexo de Alumínio 
ALBRÁS/ALUNORTE e sob a influência da barragem de Tucuruí, a Microrregião 
Homogênea do Baixo-Tocantins (MRH) foi atingida diretamente pela valorização dos 
recursos minerais, biológicos e hídricos do Pará, mediante a implantação de grandes projetos. 
Esse tipo de política pode ser avaliado como estratégia de modernização que, além de 
ameaçar o ecossistema da região, não promove o seu desenvolvimento socioeconômico. 
Quando se fala de políticas que desenvolvam economicamente e ao mesmo tempo 
garantam a conservação dos recursos naturais, deve-se levar em conta que não é um assunto 
tão fácil de ser analisado. Então, convém entender melhor do que tratam essas questões 
complexas e intrincadas e refletir sobre o que implicam em termos de políticas públicas e de 
ação política (SAWYER, 1996). Isto leva a pensar que a partir desse momento de inflexão, 
emerge um novo consenso de que o desenvolvimento deve levar em conta os limites 
colocados pela degradação e poluição do meio ambiente, tanto no longo, quanto no curto 
prazo. Esse tipo de pensamento não era característico da época em que se pensou desenvolver 
a Amazônia, ou melhor, integrá-la ao modelo capitalista de desenvolvimento econômico. 
Para Hoyos (1986), os projetos, ao serem concebidos e implementados não levaram 
em consideração estas situações concretas, provocaram conflitos sociais de graves 
repercussões, e que ficam sob os cuidados duma legislação muito mais interessada na 
9 
 
alteração da base produtiva do que as questões sociais que essa afirmação vai acarretar. Esse 
autor chama a atenção para a análise das dimensões da problemática sócio-ambiental, a partir 
do momento em que se pensou um desenvolvimento que não contemplava o capital social da 
Amazônia, de forma a incluir seu crescimento e adequação à realidade regional. 
A análise dessa problemática é realizada a contento por Leis & Viola, na medida em 
que observam que, na década de 70, a problematização do meio ambiente começou a mudar 
desde a escala regional-nacional para a escala planetária. Vários problemas tornaram-se 
comuns e passaram a ser percebidos mais amplamente como na questão do mau uso dos 
recursos naturais e o desrespeito aos ciclos da natureza: “envenenam-se mares do mesmo 
modo que lagos e rios em todo mundo [...] utilizam-se os céus como lixeira e profanam-se as 
paisagens com acumulações crescentes de lixo, em parte tóxico” (LEIS e VIOLA, 1991, p. 
26). 
Dessa forma, o meio ambiente ia deixando de ser um problema nacional e começava a 
converter-se numa questão internacional. No caso da América Latina, a problemática sócio-
ambiental está marcada por sua inserção socioeconômica na ordem internacional; esta, por sua 
vez, dominada pelo capital transnacionalizado, tem gerado na região um desenvolvimento 
dependentedos centros de poder hegemônico. Cabe notar que, o fôlego dessas políticas é 
curto, a começar pelo fato de que os ciclos da biosfera são muito fluidos, não respeitando 
fronteiras nacionais e a continuar pelo fato de que começaram a esboçar-se políticas nacionais 
de meio ambiente no então chamado Terceiro Mundo, com vistas à diminuição da degradação 
ambiental. Acontece que, o padrão tecnológico dominante é imposto ou importado desde os 
centros e resulta, em geral, impróprio no sentido do aproveitamento do potencial ambiental da 
região, conduzindo, por isto, a uma degradação dos ecossistemas, a uma concentração 
demográfica e à deterioração biológica da população. 
As principais manifestações da crise sócio-ambiental na América Latina são 
problemas decorrentes da industrialização e da urbanização massiva que provocam um 
elevado consumo de energia; os novos padrões consumistas aceleram o gasto energético, 
promovendo o uso dos mais variados e supérfluos aparelhos domésticos; o processo de 
urbanização significou o aumento das atividades comerciais, financeiras e de construção, 
gerando graves problemas de transportes e de comunicações; os ruídos, o lixo, a 
contaminação do ar e das águas são a expressão de um processo de crise ambiental (LEIS e 
VIOLA, 1991). 
No decorrer de três décadas desde a implantação da industrialização em Barcarena as 
populações expropriadas viveram à margem do desenvolvimento, lançadas ao descaso das 
empresas e autoridades que não fizeram cumprir o plano proposto para os assentamentos. 
Inicialmente, foram criados três assentamentos em conseqüência do processo de 
desapropriação de terras da área de zoneamento industrial, a saber, Colônia do Bacuri, 
também conhecida como CDI, Bairro do Laranjal e Vila Nova União. 
A Colônia do Bacuri foi a experiência mais desastrosa, por ter sido entre as demais, a 
única planejada, porém, o descaso proverbial com que a base da população rural era 
considerada marcou o insucesso dessa iniciativa. A desordem que a caracterizou foi resultante 
de que o planejamento da colônia-piloto previa o assentamento do pessoal com base no 
reaproveitamento de parte das famílias expropriadas, porém, não levava em conta se as 
famílias consideradas como colonos, na verdade eram pescadores e extrativistas, aceitavam 
essa decisão a seu respeito (LEAL, 1986). 
O caso do bairro do Laranjal também foi crítico, em virtude deste ter sido uma 
conseqüência direta das expropriações e do inchamento urbano, isto é, da “reorganização” do 
espaço social em Barcarena (VASCONCELLOS, 1996). Sendo que, para lá foi destinada 
parte das famílias desapropriadas das localidades definidas para a implantação do projeto 
10 
 
Albras/Alunorte e o excedente populacional de operários das empresas prestadoras de serviço 
da fábrica, ou seja, a população mais pobre. 
O outro assentamento chamado Vila Nova União, não obstante, sofreu maiores 
dificuldades, pois foi criado sem qualquer planejamento e o espaço destinado aos deslocados 
estava por construir, o que foi feito às custas do seu próprio trabalho (MAIA e MOURA, 
1990). Outras parcelas da população como os operários das empreiteiras que ficaram 
desempregados com o fim das obras das fábricas radicaram-se na sede do município ou na 
Vila do Conde, vivendo as angústias do desemprego e/ou procurando alternativas de 
sobrevivência, como o mercado informal de trabalho. 
Atualmente existem outros bairros que surgiram e cresceram espontaneamente no 
entorno da Vila dos Cabanos (Bairro Pioneiro), Vila do Conde (Bairro Industrial), Bairro do 
Laranjal (Bairro Novo Horizonte) somados às invasões que surgiram na Sede do município, 
pois além da Albras/Alunorte existem outras empresas de grande porte como Imerys Rio 
Capim Caulim (RCC), Pará Pigmentos S.A (PPSA), Bunge Fertilizantes, Alubar Metais S.A. 
(Alubar) e Usina Siderúrgica do Pará – Usipar, que se instalaram no município e têm sugado o 
potencial natural e humano da região, sendo também causadoras dos desníveis 
socioeconômicos, assim como dos problemas socioambientais. 
O Bairro Industrial na Vila do Conde se desenvolveu a partir de uma invasão em área 
industrial contígua à usina de beneficiamento de caulim da empresa Imerys Rio Capim 
Caulim. 
Segundo Brito (2001) além dos conflitos sociais, as políticas públicas de 
desenvolvimento para a Amazônia, trouxeram uma série de impactos ambientais como o 
desflorestamento e a poluição dos rios. Em Barcarena, os problemas dessa natureza são 
claramente perceptíveis, por exemplo, dentre os problemas ambientais urbanos está a questão 
da falta de gestão de resíduos sólidos adequada à realidade do município. Embora exista a 
Unidade de Compostagem e Reciclagem de Lixo de Barcarena, esta não absorve 50% da 
demanda produzida pela população (GUIMARÃES, 2002). 
A outra parcela é depositada em lixões a céu aberto, sendo um risco sério ao meio 
ambiente em face de alguns fatores preocupantes como: a coleta não é seletiva, o lixo 
hospitalar tem a mesma destinação que o doméstico, até pouco tempo existiam catadores que 
se utilizam desses materiais para sobrevivência. 
Além desses problemas, somam-se os causados diretamente na natureza, pois o 
assoreamento dos rios está na base da multiplicação das inundações catastróficas. O 
desflorestamento continua em ritmo intenso, afetando principalmente a floresta tropical úmida 
e, concentradamente, a Amazônia. Até mesmo a chamada “Revolução Verde” tem trazido 
conseqüências muito negativas para o meio natural latino-americano: marginalização e 
expulsão da população rural; erosão dos solos; devastação da flora nativa e contaminação das 
águas (LEIS e VIOLA, 1991). 
Um dos casos mais significativos sobre a contaminação em Barcarena foi a deposição 
seca, ocorrida no dia 23/11//2003, quando uma nuvem negra de fuligem e fumaça encobriu o 
céu da Vila do Conde, surgiu de madrugada e permaneceu no ar até às 9h da manhã, atingiu o 
rio e invadiu casas, igrejas, escolas e estabelecimentos comercias, espalhando a sujeira e a 
negritude por onde passou. A primeira suspeita foi de que a nuvem de fuligem pode ter sido 
causada pelo vazamento de resíduos químicos do produto Baixo Ponto de Fluidez (BPF), um 
tipo de óleo usado em caldeiras e fornos das principais fábricas que operam no município. 
O rio Pará, ficou negro depois do derrame do material, impossibilitando a atividade da 
pesca por moradores da comunidade. As águas ficaram cor de piche e a terra semelhante a 
asfalto. A fuligem chegou a atingir cerca de 5cm de espessura. Os carros ficaram cobertos 
11 
 
pela substância e a população teve trabalho para limpar casas e igrejas, de onde todos os 
santos foram retirados para serem lavados. 
Uma das primeiras conseqüências na população foi a reação alérgica, uma vez que 
crianças e adultos foram atendidos no posto de saúde de Vila do Conde, com alergia aos 
produtos. Alguns tiveram problemas respiratórios, coceiras e inflamações nos olhos. 
Nenhuma das quatro principais fábricas instaladas no município (Albrás, Alunorte, Rio 
Capim Caulim e Pará Pigmentos) assumiu a responsabilidade pelo acidente, embora todas 
estas fábricas trabalhem com produtos químicos e tenham chaminés que podem ter provocado 
o vazamento do produto que liberou a fuligem. Outro fato foi que nenhuma das quatro 
empresas suspeitas de terem provocado o acidente enviou representantes a uma reunião 
marcada com moradores da comunidade, ou seja, houve completa omissão. 
Portanto, o entendimento da problemática sócio-ambiental na América Latina, com 
enfoque na Amazônia, que faz parte desse imenso continente, deve passar pelas vias 
apontadas pelos autores discutidos, sobretudo, para se compreender as dimensões dessa 
problemática. 
No caso do Estado do Pará os principais problemas ambientais levantados pela então 
Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente,no documento Prioridades 
Ambientais do Estado do Pará (PARÁ, 2002), são demonstrados no Quadro 1.1: 
 
 
QUADRO 1.1: PRIORIDADES AMBIENTAIS DO ESTADO DO PARÁ 
FATORES AMBIENTAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS 
Recursos Florestais * Desmatamento e exploração madeireira irregular em 
função da agricultura migratória e pecuária extensiva 
com intensos fluxos migratórios provocados pela 
Política de Integração Nacional. 
*Exploração do palmito sem manejo ou 
reflorestamento e beneficiamento em fabriquetas 
precárias instaladas por ribeirinhos, fomentadas pela 
indústria. 
*Dos assentamentos do INCRA localizados na 
Amazônia, 44,2% se encontram no Pará, sem 
licenciamento ambiental. 
*Questão fundiária estadual desordenada e sem 
política para ocupação e propriedade. O estado detém 
apenas 28% de áreas do seu território legalmente 
reconhecidas para controle fundiário 
Recursos Hídricos *Contaminação da água na orla das cidades 
ribeirinhas por efluentes domésticos, industriais, óleos 
e graxos. 
*Assoreamento dos cursos d’água em conseqüência 
dos desmatamentos em áreas de preservação 
permanente. 
*Transporte/armazenamento de produtos perigosos 
em vias navegáveis. 
Área Urbana *Poluição sonora por atividades urbanas em geral e 
poluição atmosférica por atividade de marcenarias e 
queima de resíduos da indústria madeireira em zona 
urbana. 
*Poluição visual (Outdoor, placas, pichação, etc.). 
*Saneamento básico (resíduos sólidos; Tratamento de 
Esgoto e Tratamento de Água). 
*Transporte de produtos perigosos. Monitoramento de 
tanques subterrâneos de derivados de petróleo. 
12 
 
Ar *Ocorrências de queimadas e incêndios florestais 
*Ausência de normas estaduais específicas de 
emissões gasosas e de qualidade do ar. 
Resíduos sólidos *Inexistência de Plano de Gestão de resíduos sólidos 
urbanos e industriais nos municípios. 
*Existência de “Lixões” (a céu aberto e pó de serra 
das indústrias madeireiras). 
*Poluição do solo e de mananciais (superficiais e 
subterrâneo), ocorrências de odores e poluição visual. 
Recursos Edáficos *Mineração (garimpo), agricultura migratória e 
pecuária extensiva e uso de agrotóxicos na agricultura. 
Mineração (garimpo de pedras preciosas – diamante - 
e ouro) 
 
*Os grandes projetos minerais causam conflitos nas 
suas áreas de abrangência, e a pequena exploração 
mineral (garimpos) leva a problemas de degradação 
de margens de rios, poluição das águas e problemas 
sociais. 
*Supressão da cobertura vegetal afugenta a fauna do 
habitat natural para áreas urbanas. 
Fauna *Comércio ilegal de animais silvestres em feiras-livre, 
tráfico de alevinos como peixes ornamentais, uso de 
partes de animais silvestres como adornos e crendices 
da cultura popular e tráfico de quelônios para 
consumo como iguarias em restaurantes. 
*Caça predatória. 
*Aumento das espécies ameaçadas de extinção. 
Paisagem *Desmatamentos e inexistência de diretrizes para 
proteção de áreas com rara beleza cênica, para o 
desenvolvimento do ecoturismo. 
Pesca *Pressão da pesca industrial e artesanal sobre o 
estoque pesqueiro, principalmente em área de 
reprodução de peixes no estuário, enseadas e paranás 
da costa marítima, deixando a população sem uma 
das suas principais fontes de alimento. 
*Pesca predatória, realizado por geleiras, em lagos 
caracterizados como criatórios naturais de peixes. 
Outros *A agricultura paraense, pautada em políticas 
agrícolas erradas, utiliza o método extensivo, onde 
grandes áreas são usadas para obtenção de uma 
pequena produção. A agricultura de corte-e-queima, 
típica da região, não se sustenta por muito tempo 
numa mesma área e, com o crescimento da população 
e da demanda, tende a se expandir para dentro da 
floresta. 
*A pecuária extensiva, fomentada por programas de 
incentivos fiscais federais, vem causando grandes 
desmatamentos com baixa produtividade. 
Fonte: Adaptado do livro Prioridades Ambientais do Estado do Pará, SECTAM, 2002. 
 
Importa destacar que grande parte desses problemas, principalmente os relacionados 
às atividades minerárias, industriais e na área urbana é perceptível na área pesquisada, 
contribuindo para o aumento das demandas sócio-ambientais no município de Barcarena. Nos 
últimos anos ocorreu um processo de ocupações irregulares de terras nas áreas urbanas do 
município contribuindo para a tensão e o aumento de conflitos sociais. São famílias que se 
encontram em situação de risco social, pois chegaram ao município atraídas pela oferta de 
emprego no setor industrial, mas que em sua maioria não conseguem ser absorvidas devido o 
exército de reserva ou pela falta de qualificação exigida. 
13 
 
Outra questão observada é que os primeiros projetos instalados no município já tem 
aproximadamente vinte e cinco anos, ou seja, começaram a entrar numa fase de declínio, 
embora tenham gerado grande aporte de recursos no local, o qual não foi investido de forma 
adequada para a garantia do desenvolvimento social do município, a partir de agora tende a 
ficar mais escasso, como ocorreu durante a crise financeira mundial no ano de 2009. Nesse 
período a arrecadação do município caiu devido a crise na exportação, as empresas demitiram 
muitos funcionários, outros projetos que estavam planejados para a área foram adiados, 
demonstrando que a dinâmica do desenvolvimento mudou. Noutras palavras a falta de uma 
administração pública eficiente ao longo desses vinte e cinco anos de industrialização fez com 
que o município perdesse a oportunidade de crescimento. 
 
2 DIAGNÓSTICO DA GESTÃO AMBIENTAL EM BARCARENA 
 
2.1 CONCEITUAÇÃO E DISCUSSÃO DE POLÍTICAS E GESTÃO 
AMBIENTAL 
 
No que diz respeito às políticas voltadas para a gestão ambiental no Brasil pode-se 
propor uma periodização a partir das políticas ambientais elaboradas desde a década de 1930. 
Segundo Cunha e Coelho (2003), é possível identificar pelo menos três tipos de políticas 
ambientais: 1) as regulatórias; 2) as estruturadoras e; 3) as indutoras de comportamento. 
As políticas regulatórias são aquelas legislações específicas que estabelecem ou 
regulamentam normas e regras de uso e acesso ao ambiente e aos recursos naturais e a criação 
de aparatos institucionais que garantam o cumprimento da lei, por exemplo, o Código das 
Águas (1934) e o Código de Pesca (1965). 
As políticas estruturadoras implicam a intervenção direta do poder público ou de 
ONGs na proteção ao meio ambiente. Como exemplo desse tipo de políticas está a criação de 
parques nacionais e estaduais (primeiro a ser criado foi o Parque de Itatiaia-RJ, em 1937); a 
formulação da Política Nacional do Meio Ambiente (1981); a elaboração do Zoneamento 
Econômico Ecológico (1989) e a criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – 
SNUC (2002). 
As políticas indutoras referem-se a ações que objetivam influenciar o comportamento 
de indivíduos ou grupos sociais. São políticas mais recentes, dentre as quais pode-se destacar 
a proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e sociais para a melhoria 
da qualidade ambiental e do uso dos recursos naturais (1999); a construção de Agenda 21 
Local/Regional (a partir de 1992) e a implantação de certificação ambiental (selo verde) e das 
ISO’s 9000 e 14001. No quadro 2.1 destaca-se o conjunto das principais políticas ambientais 
brasileiras: 
 
QUADRO 2.1: CONJUNTO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS BRASILEIRAS 
 LEGISLAÇÃO SINTESE DO CONTEÚDO 
Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965. Estabelece o Código Florestal 
Lei n.º 5.197, de 03 de janeiro de 1967. Estabelece Proteção à Fauna. 
Decreto-Lei n.º 221, de 28 de fevereiro de 1967. Estabelece o Código de Pesca. 
Decreto-Lei n.º 227, de 28 de fevereiro de 1967. Estabelece o Código de Mineração. 
Lei n.º 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. 
Lei n.º 6.902, de 27 de abril de 1981. Estabeleceas Estações Ecológicas. 
Lei n.º 6.766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o parcelamento do solo urbano. 
Lei n.º 6.803, de 02 de julho de 1980. Dispõe sobre as diretrizes básicas para o 
14 
 
zoneamento industrial nas áreas críticas de 
poluição. 
Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981. Cria a Política Nacional do Meio Ambiente. 
Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a Ação Civil Pública. 
Lei n.º 7.661, de 16 de maio de 1988. Institui o Plano Nacional de gerenciamento 
Costeiro. 
Lei n.º 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. Criou o IBAMA. 
Lei n.º 7.797, de 10 de julho de 1989. Criou o Fundo Nacional do Meio Ambiente. 
Lei n.º 7.802, de 11 de julho de 1989. Dispõe sobre agrotóxicos. 
Lei n.º 7.803, 18 de julho de 1989. Altera a Lei n.º 4.771/65 – Código Florestal 
Lei n.º 7.804, de 18 de julho de 1989. Altera a Lei n.º 6.938/81 – Política Nacional 
de Meio Ambiente. 
Lei n.º 8.171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a Política Agrícola. 
Lei n.º 7.805, de 18 de julho de 1991. Cria o regime de Permissão de Lavra 
Garimpeira – PLG. 
Lei n.º 8.490, de 19 de novembro de 1992. Cria o Ministério do Meio Ambiente. 
Lei n.º 8.974, de 05 de outubro de 1993. Dispõe sobre a redução de emissão de 
poluentes por veículos automotores. 
Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos 
Hídricos. 
Lei n.º 9.605, 12 de fevereiro de 1998. 
 
Dispõe sobre as sanções penais e 
administrativas derivadas de conduta e 
atividades lesivas ao meio ambiente. 
Lei n.º 9.975, de 27 de abril de 1999. Cria a Política Nacional de Educação 
Ambiental. 
Lei n.º 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação da Natureza – SNUC. 
Fonte: Curso de Direito Ambiental, FUNIBER, 2007. 
 
Como se vê o Brasil é um dos países mais avançados em termos de normas 
ambientais, embora a implementação das mesmas deixem muito a desejar, ora por falta de 
estrutura dos órgãos responsáveis pela sua aplicabilidade, ora por falta de vontade política dos 
governantes, ou por serem elas muito rígidas, para um País onde o nível de pobreza ainda 
assusta. Sendo estes os fatores principais, que vem limitando a aplicabilidade das normas 
ambientais. Mesmo assim, a edição de normas ambientais rígidas, tem contribuído 
consideravelmente para conter o ritmo acelerado das degradações ambientais. 
É com este arcabouço legal, somada às outras leis federais e estaduais, aos decretos de 
regulamentação, convenções internacionais, resoluções do CONAMA, instruções normativas 
e portarias do Ministério do Meio Ambiente e IBAMA, que o Brasil busca conter a ação 
predatória do meio ambiente e dos recursos naturais renováveis, disciplinar a ocupação, a 
exploração racionais fundamentadas no ordenamento territorial e proteger as comunidades 
indígenas e as populações dedicadas ao extrativismo (FUNIBER, 2007). 
Entretanto, a política ambiental no Brasil encontra-se muito fragmentada. Embora há 
muito tempo ocorra a preocupação com as políticas voltadas para a gestão ambiental, através 
de leis específicas, as quais se constituíram num grande avanço nos últimos anos, o caminho a 
percorrer é longo. Sabe-se que é difícil implantar uma gestão ambiental efetiva no país dadas 
as suas diversidades sócio-culturais e a própria estrutura político-administrativa, mas esse 
cenário já apresenta mudanças, principalmente com a criação dos órgãos municipais de meio 
ambiente. 
Porém, só a partir de discussões amplas envolvendo toda a sociedade brasileira, as 
quais lançarão base para uma política ambiental que respeite as diversidades sócio-culturais e 
os valores dos diversos segmentos sociais do país será possível fazer gestão ambiental 
satisfatória no Brasil. Isto é, aquela que parta da capilaridade das questões: os Municípios, 
15 
 
com suas características peculiares; os Estados e regiões, com seu potencial sendo levado em 
consideração e a União tratada de forma soberana. 
A gestão ambiental constitui um processo de articulação das ações dos diferentes 
agentes sociais e/ou governamentais que interagem em um dado espaço, visando garantir, 
com base em princípios e diretrizes previamente acordados/definidos, a adequação dos meios 
de exploração dos recursos ambientais – naturais, econômicos e sócio-culturais – às 
especificidades do meio ambiente. 
As principais atividades da gestão ambiental envolvem o monitoramento, o controle e 
a fiscalização dos recursos naturais, bem como o processo de estudo, avaliação e 
licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. Além de envolver a normatização de 
parâmetros físicos, biológicos e químicos dos elementos que serão monitorados, assim como 
os limites de sua exploração e as condições de atendimento dos requerimentos ambientais em 
geral. 
 
2.1.1 CONCEITO DE GESTÃO AMBIENTAL 
 
A noção de gestão assumiu diversas significações a partir da França, começando pela 
confluência da lógica profissional dos encarregados da gestão florestal e de uma lógica 
administrativa estatal, exercida em nome dos interesses superiores da nação. Nesse caso, a 
gestão designou o programa de exploração de um domínio florestal específico. Mais tarde 
essa noção passou a designar a realização de trabalhos planejados e de grande envergadura, 
visando a reorganização de espaços naturais (GODARD, 1997). 
Passa-se a falar então de gestão de recursos naturais. Estes podem ser renováveis e 
não-renováveis. No caso da Amazônia, a gestão está mais focalizada para os recursos naturais 
renováveis, cuja noção básica é compreendida pelo seguinte fragmento: 
 
Limitaremos a noção de recurso natural renovável ao caso daqueles que o 
homem explora sem poder influenciar o processo de renovação de maneira 
positiva. Em outras palavras, sua reprodução não é forçada ou controlada pelo 
homem: tais recursos podem ser usados, geridos, mas não produzidos. Isto inclui 
as florestas naturais, a fauna selvagem aquática e terrestre, as águas e o ar. 
Recursos renováveis são recursos vivos ou em movimento, onde a presença da 
variável temporal implica a adoção de enfoques centrados na noção de fluxo e 
de variabilidade (VEIRA e WEBER, 1997, p. 27). 
 
Para Vieira e Weber (1997) a gestão de recursos naturais surge como um dos 
componentes essenciais do processo de regulação das inter-relações entre os sistemas sócio-
culturais e o meio ambiente biofísico, num horizonte que leva em conta a diversidade de 
representações cognitivas dos atores sociais em jogo, a variabilidade envolvida nas diferentes 
escalas espaciais e temporais, bem como, as incertezas e controvérsias científicas que marcam 
a busca de compreensão da dinâmica evolutiva dos sistemas sócio-ambientais 
contemporâneos. 
Isto corrobora o pensamento de Reigota (1998) sobre meio ambiente e representação 
social, segundo o qual é importante levar em consideração o ponto de vista dos diversos 
atores sociais acerca do meio ambiente para que qualquer iniciativa de planejamento ou 
modelo de gestão ambiental seja bem sucedido. Isto porque “as representações sociais 
equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por 
diferentes grupos que através delas compreendem e transformam sua realidade” (REIGOTA, 
1998, p. 70). 
16 
 
Antes de Vieira e Weber e Reigota, Bressan (1996) apontava que a gestão ambiental 
deve ser compreendida enquanto gestão racional da natureza, ou seja, um esforço de síntese 
com vistas à elaboração de um modelo ao mesmo tempo abrangente e flexível, destinado à 
mediação das relações entre os homens (sociedade) e a natureza, com aplicabilidade especial 
entre os países subdesenvolvidos ou em processo de desenvolvimento. 
Entendida dessa forma, a gestão racional procura absorver as possibilidades, mas 
também os limites da ciência e da técnica, circunscrevendo-os a contextos históricosespecíficos, procurando incorporar princípios éticos, instrumentos jurídicos e valores culturais 
e estéticos, os quais, isolados ou em conjunto, funcionam como reguladores das relações 
sociais e, das relações da sociedade com a natureza. 
Este tipo de concepção de gestão ambiental corrobora a materialização de uma 
racionalidade renovada que se vincula à adoção de uma nova estratégia de gestão da natureza. 
Nesse caso, o papel do Estado torna-se de fundamental importância para uma via democrática 
sustentada por uma interação efetiva entre aparato estatal e população civil organizada, pois 
“identifica-se no Estado, enquanto representação da sociedade, o gestor ambiental por 
excelência” (BRESSAN, 1996, p. 16). E, nesse quadro de ruptura e transformação devem 
estar inscritas as idéias e o instrumental selecionado para gerir racionalmente a natureza. 
Os elementos para a gestão racional da natureza devem ter em comum o fato de 
organizarem-se pela totalidade. Isto quer dizer que, a realidade deve ser considerada como um 
todo estruturado para que seja compreendida racionalmente. Dessa forma, os principais 
instrumentos apontados para fazer a gestão racional da natureza, levando-se em conta as 
formas de tratamento do espaço e dos sistemas ecológicos enquanto totalidade e 
contemplando a concepção de natureza como um bem de interesse público, portanto, passível 
de controle pelo Estado e pelas organizações comunitárias são os seguintes: Manejo Integrado 
de Bacias Hidrográficas, Manejo de Recursos Naturais em Regime Sustentado e Uso 
Múltiplo, Manejo Integrado de Pragas, Gerenciamento Costeiro, Reservas Naturais e Estudos 
de Impacto Ambiental (BRESSAN, 1996). 
Portanto, o modelo de gestão racional da natureza deve ser construído sobre três 
pilares: Totalidade, Racionalidade e Controle Público. A concretização deste conjunto de 
princípios depende da capacidade do Estado e da sociedade de organizar projetos nacionais de 
desenvolvimento com possibilidades de cooperação internacional, onde conceitos como 
espaço, ecossistema, gestão racional e bem público representem pontos de articulação entre 
teoria e práxis (BRESSAN, 1996). 
Fala-se muito em gestão participativa nos vários segmentos da sociedade, que se 
ocupam do gerenciamento de pessoas e recursos de diferentes naturezas. Na área ambiental é 
importante incluir a gestão integrada dos recursos naturais como um conceito avançado dentro 
da gestão ambiental. Gestão integrada dos recursos naturais consiste no estabelecimento de 
um conjunto de ações de natureza administrativa, em um determinado espaço ou unidade de 
planejamento, que considere as inter-relações entre os recursos naturais e as atividades 
socioeconômicas (IBAMA, 2002). 
Assim, a gestão ambiental em todos os conceitos e definições discutidas tem por 
premissa básica manter os recursos naturais disponíveis para o desenvolvimento, hoje, 
amanhã e sempre. Desse modo, a gestão que se busca deve ter o caráter da sustentabilidade, 
isto requer posturas mais abrangentes do governo e da sociedade como condição 
indispensável a sua implementação. Resta analisar como essa implementação poderá ser 
efetivada no setor público e no privado. 
 
2.2 GESTÃO PÚBLICA: INDÚSTRIA DE OFÍCIOS 
 
17 
 
2.2.1 A SECRETARIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE DE BARCARENA - 
SEMMAB 
 
A gestão ambiental pública no município de Barcarena é exercida pela Prefeitura e 
pelos órgãos a ela ligados, sobretudo, pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente – 
SEMMAB, com a participação de órgãos ambientais estaduais e federais. No ano de 2001, foi 
criada a Coordenadoria do Meio Ambiente, que funcionava no prédio da Prefeitura e contava 
com apenas 03 (três) funcionários. Nesse ano foram desenvolvidas campanhas educativas e 
eventos em parceria com as empresas locais, os quais contribuíram significativamente para a 
relevância das questões ambientais em Barcarena. 
Por isso, em Junho de 2002, a Lei Complementar Nº. 007 implantou a Secretaria 
Municipal do Meio Ambiente de Barcarena - SEMMAB, a qual expandiu o universo de 
atividades e o melhoramento no atendimento à população. Nesse ano, a SEMMAB passou a 
contar com um efetivo de 23 (vinte e três) funcionários e, com infra-estrutura diferente do ano 
anterior, sendo que funcionou em instalações fora do prédio da Prefeitura. Além disso, foram 
realizados cursos e treinamentos para os funcionários a fim de capacitá-los para o exercício de 
suas funções. Também outros eventos e projetos foram implementados como a Semana 
Integrada do Meio Ambiente, Encontro Regional de Educação Ambiental e o Projeto Verão. 
Foi criada ainda, Lei Municipal N.º 1970, que dispõe sobre a Política Municipal do Meio 
Ambiente, sistema, controle, fundo e licenciamento ambiental, e Lei Municipal Nº. 1974, que 
institui e disciplina as taxas ambientais pelo exercício regular de poder de polícia e as tarifas 
de competência da SEMMAB. 
Os principais problemas da gestão ambiental pública em Barcarena estão relacionados 
à falta de estrutura adequada para o funcionamento da SEMMAB, como a não disponibilidade 
de sede própria, pois o atendimento funciona em prédio alugado, portanto, inadequado e 
desconfortável, a indisponibilidade de meios de transporte para fiscalização (automóveis e 
lanchas); a inoperância da política ambiental, pois o Conselho Municipal e o Fundo Municipal 
de Meio Ambiente estão implementados, mas não funcionam plenamente; e a não existência 
do convênio de descentralização entre o órgão ambiental estadual e o municipal. 
Recentemente houve um esforço para a celebração desse convênio que será fundamental para 
a gestão ambiental integrada. 
Além disso, somam-se os as dificuldades ligadas à burocracia dos órgãos públicos, a 
partir das quais torna-se muito complexo fazer a gestão ambiental. Por exemplo, tudo que se 
quer pedir, demandar ou autorizar deve, inevitavelmente, ser feito por meio de ofícios. Daí, o 
título desta seção foi denominado “Indústria de Ofícios” para ironizar a realidade da gestão 
ambiental pública. 
Como observou Weber (2002) a sociedade moderna caracteriza-se, entre outras coisas, 
por uma administração com base na burocracia racional moderna, posto que, irradia uma série 
de procedimentos para o andamento dos processos da sociedade moderna, através do próprio 
Estado, tomado como uma associação política com uma constituição racionalmente rígida, 
leis racionalmente ordenadas e uma administração coordenada por regras racionais ou leis, 
administrado por funcionários treinados. Porém, o mesmo autor assinala que o enrijecimento 
burocrático pode constituir um entrave para o desenvolvimento dessa sociedade. Nesse 
sentido foi que considerou-se neste trabalho o exemplo da “indústria de ofícios”. 
Outro problema relacionado à gestão pública diz respeito ao fato de que muitas vezes 
o Estado é gerador de poluição e degradação do meio ambiente, na medida em que, suas ações 
de desenvolvimento e obras necessárias ao bem-estar da população são realizadas à revelia 
das exigências ambientais e, até mesmo, pelo descaso com o meio ambiente. De acordo com 
18 
 
Bressan (1996) isto constitui um paradoxo na análise da gestão ambiental desenvolvida pelo 
poder público: 
 
Um destes paradoxos vivido pelo aparato estatal reside no fato de que, enquanto 
uma parte dos seus instrumentos institucionais representa os principais canais de 
defesa da qualidade do meio ambiente, a outra parte manifesta-se como agente de 
degradação (BRESSAN, 1996, p. 79). 
 
Isto se tornou visível em Barcarena com o projeto da Alça Viária, que é uma rodovia 
estadual que integra as regiões sul, sudeste e centro-oeste do Pará à capital, na medida em que 
vários pontos do município foram impactados por esse empreendimento, sobretudo nas 
comunidades afetadas pela rodovia. Por exemplo, a construção de pontes sobre igarapés 
causaram o assoreamentodesses cursos d’água e a alteração do cotidiano das populações que 
se utilizavam desses recursos ambientais. 
A alternativa apontada quanto ao fortalecimento da gestão ambiental pública passa 
pela instituição de um Estado vigoroso capaz de estabelecer prioridades e de orientar o uso 
dos recursos nacionais, com vistas à superação dos interesses que impedem a sua 
modernização efetiva, devendo servir ao público e não a uma minoria de privilegiados 
responsáveis por sua manipulação, ou seja, deve ser um meio e não um fim em si 
(BRESSAN, 1996). Assim, além de acompanhar as discussões sobre hegemonia mundial, o 
Estado, principalmente no Terceiro Mundo, enquanto gestor do ambiente deve estar em 
sintonia com os interesses públicos, precisa habilitar-se à adoção de mecanismos capazes de 
ordenar as ações humanas sobre a natureza e, igualmente, capazes de modificar a essência das 
relações sociais vigentes. 
Um desses mecanismos elaborados pelo Estado é a Política Nacional para o Meio 
Ambiente, a qual deverá ser articulada com a realidade regional e local. Conforme Macedo 
(1994, p. 26): 
 
O desenvolvimento, a realização e a eficácia de uma política nacional para o meio 
ambiente requer o estabelecimento de algumas condições essenciais, sem as quais 
seus resultados podem ser comprometidos. Essas condições, que normalmente 
derivam da forma pela qual a nação enfrentou e resolveu suas mais variadas 
questões, constituem-se nos elementos norteadores da política proposta, ou seja, 
seus princípios essenciais. Significa dizer que, em todas as suas facetas, e vista sob 
qualquer ângulo, a política obrigatoriamente os contempla, sendo por esse motivo 
beneficamente impactada pelas imposições e regras que deles derivam. Assim, os 
princípios básicos constituem-se nos valores que orientam planos nacionais, setoriais 
e locais, tanto públicos quanto privados. 
 
Para esse autor a Política Nacional para o Meio Ambiente consiste na estrutura 
estratégica conformada por princípios, diretrizes e sistemas de gestão de diversas naturezas. 
No que diz respeito à legislação brasileira essa Política existe desde 1981, através da Lei Nº. 
6.938, de 31 de agosto de 1981, que cria a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, o 
Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA e o Conselho Nacional do Meio Ambiente 
– CONAMA. Entretanto, há mais de 20 anos da elaboração da Política Nacional do Meio 
Ambiente, ainda são muitos os problemas para que ela seja implementada, dentre esses 
entraves encontra-se a questão da descentralização administrativa a partir da qual a União 
repassa competências aos Estados e estes aos Municípios, através de convênios e parcerias. 
No ano de 2007, o órgão ambiental local, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente 
de Barcarena (SEMMAB) realizou concurso público para o ingresso de novos técnicos na 
gestão ambiental. Este foi um fator positivo, haja vista que, os servidores não eram efetivos, o 
19 
 
que causava descontinuidade nas ações de gestão ambiental em face da rotatividade dos 
contratos desses servidores. Os cargos de nível superior ofertados foram para engenheiros, 
biólogos, químico industrial, geólogos, sociólogos, arquitetos, assistentes sociais e pedagogos, 
além da criação do cargo de fiscal ambiental. 
Outro fator positivo foi o conjunto de normas jurídicas editadas pelo município de 
Barcarena, cuja política ambiental está consolidada, inclusive com a instalação do Conselho 
Municipal do Meio Ambiente e do Fundo Municipal do Meio Ambiente. No Quadro 2.2 é 
demonstrado o conjunto da normativa ambiental editado pelo poder municipal: 
 
QUADRO 2.2: CONJUNTO DE NORMAS AMBIENTAIS DE BARCARENA 
 LEGISLAÇÃO SINTESE DO CONTEÚDO 
LEI COMPLEMENTAR N o. 007, DE 12 DE JUNHO DE 2002 
 
Dispõe sobre a implantação de Secretaria 
Municipal do Meio Ambiente na estrutura 
organizacional da Administração Pública 
Municipal direta, e dá outras providências. 
LEI COMPLEMENTAR N o. 10, DE 19 DE DEZEMBRO 
DE 2003 
Altera dispositivos da Lei Complementar 
No. 007, de 12 de junho de 2002. 
LEI MUNICIPAL N° 1970, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2002. 
 
 
Dispõe sobre a política municipal de meio 
ambiente, sistema, conselho, fundo, controle e 
licenciamento ambiental e dá outras 
providências. 
LEI MUNICIPALN° 1974, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2002. 
 
 
Institui e disciplina as taxas ambientais pelo 
exercício regular de poder de polícia e as 
tarifas de competências da Secretaria 
Municipal de Meio Ambiente (SEMMAB) e 
dá outras providências. 
LEI MUNICIPAL N° 1980, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003. 
 
 
Altera dispositivos da Lei Complementar n° 
007, de 12 de junho de 2002, que dispõe sobre 
a implantação da Secretaria Municipal de 
Meio Ambiente, na estrutura organizacional 
da Administração Pública Municipal Direta e 
dá outras providências. 
LEI MUNICIPAL N° 1982, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2003. 
 
Altera dispositivos da Lei N° 1.970, de 27 de 
dezembro de 2002 e dá outras providências. 
LEI MUNICIPAL N o. 1983, DE 19 DE DEZEMBRO DE 
2003. 
Disciplina as taxas pelo exercício regular do 
poder de polícia e as tarifas de competência 
da Secretaria de Meio Ambiente do 
Município Barcarena. 
DECRETO N° 20, DE 21 DE JANEIRO DE 2004. 
 
Regulamenta o Conselho Municipal do Meio 
Ambiente COMAM. 
DECRETO N°. 029, DE 10 DE JANEIRO DE 2005. 
 
Regulamenta o Cadastro Técnico de 
Consultores Ambientais. 
DECRETO N° 083, DE 03 DE JUNHO DE 2004. 
 
 
Regulamenta o parágrafo único do art. 23, da 
lei n° 1.970, de 27 de dezembro de 2002, 
alterada pela Lei n° 1.982 de 19 de dezembro 
de 2003. 
DECRETO N° 84, DE 03 DE JUNHO DE 2004. 
 
Regulamenta o § 4°, do art. 25 e art. 28, da 
Lei n° 1.970, de 27 de dezembro de 2002, 
alterada pela Lei n° 1.982 de 19 de dezembro 
de 2003. 
DECRETO N° 98, DE 10 DE SETEMBRO DE 2004 
 
Nomeia membros do Conselho Municipal de 
Meio Ambiente do Município de Barcarena. 
DECRETO N. 34, DE 23 DE MARÇO DE 2004. 
 
Disciplina o Procedimento Administrativo, 
para apuração de infração ambiental. 
DECRETO N°. 030, DE 10 DE JANEIRO DE 2005. Regulamenta o Cadastro Técnico de 
20 
 
 
 
Atividades e Obras Efetivas ou 
Potencialmente Poluidoras ou capazes de 
causar significativa degradação ambiental. 
DECRETO Nº 191, DE 21 DE MARÇO DE 2005. 
 
Altera dispositivos do Decreto n° 33, de 22 de 
março de 2004. 
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. 
 
Também foi importante o deslocamento da sede da SEMMAB para a Vila do Conde, 
onde funciona desde o ano de 2007, atendendo uma antiga solicitação da população, pois 
nesse local ocorrem os maiores riscos de acidentes ambientais. Informa-se que o prédio não é 
próprio, pois até o momento não se investiu realmente no fortalecimento da gestão ambiental, 
sendo necessário a construção de sede própria e aquisição de equipamentos, bem como, a 
criação de um laboratório de controle ambiental. 
Os procedimentos adotados pela equipe técnica responsável pela fiscalização quando 
ocorrem acidentes ambientais consistem na lavratura dos Autos de Constatação e de Infração, 
conforme o Decreto Municipal Nº. 34, de 23 de março de 2004, que disciplina o 
Procedimento Administrativo para apuração de infração ambiental. São coletadas amostras e 
encaminhadas ao Centro de Perícias Científicas do Estado do Pará para análise e composição 
de Laudos Técnicos. Após o recebimento dos Laudos são concluídos os Relatórios Técnicos e 
encaminhados à Procuradoria Geral do Município que toma as medidas legais. 
Os servidores que atuam diretamente no licenciamento e na fiscalização receberam 
treinamentos sobre balneabilidade em parceria com o Instituto Evandro Chagas e também 
capacitação na área da educação ambiental. Mas até o momento não há convênio ou parceria 
com o Governo do Estado do Pará para o compartilhamento da gestão ambiental na áreado 
licenciamento e fiscalização. Embora tenha havido avanços falta mais rigorosidade no 
cumprimento das leis ambientais, mais apoio das autoridades e da justiça não só na esfera 
municipal, mas em todos os níveis de governo. 
Tozi (2007) ao discutir a municipalização da gestão ambiental no Estado do Pará 
ressalta que o município tem um papel importante na gestão, visto que, é a instância de poder 
que conhece detalhadamente seu território, podendo nele agir melhor, além da interação 
limítrofe que existe entre os atores sociais, possibilitando melhores análises e respostas às 
necessidades requeridas. 
 
2.2.2 A SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE – SEMA 
 
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA é o órgão do governo estadual 
encarregado de coordenar a proteção e conservação do meio ambiente no Pará. Anteriormente 
denominada Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM, 
criada em 11 de maio de 1988, pela Lei No 5.457, só passou a ter organograma definido e 
funcionar de fato como Secretaria a partir de julho de 1993, sendo reorganizada pela Lei Nº. 
5.752. A Lei Nº. 7.026, de 30 de julho de 2007 reorganizou a Secretaria de Estado de Meio 
Ambiente – SEMA, que tem como finalidade planejar, coordenar, supervisionar, executar e 
controlar as atividades setoriais que visem à proteção, conservação e melhoria do meio 
ambiente, através da execução das Políticas Estaduais de Meio Ambiente e dos Recursos 
Hídricos. 
A Lei Ambiental do Estado Nº. 5.887, sancionada em maio de 1995, é o instrumento 
legal que normatiza o uso e as ações relacionadas ao meio ambiente. A missão institucional da 
SEMA é promover a gestão ambiental integrada, compartilhada e eficiente, compatível com o 
desenvolvimento sustentável, assegurando a preservação, a conservação do meio ambiente e a 
melhoria da qualidade de vida. Os objetivos estratégicos da SEMA são: 1) Garantir o 
21 
 
armazenamento, a segurança, a acessibilidade e a recuperação das informações e documentos 
da Secretaria; 2) Revitalizar a Biblioteca, atualizar e disponibilizar o acervo para subsidiar a 
atividade fim; 3) Implementar a infra-estrutura e apoio logístico da SEMA; 4) Qualificação 
profissional dos servidores; 5) Gestão orçamentária e financeira transparente do Fundo 
Estadual de Meio Ambiente; 6) Preservação da diversidade biológica e uso sustentável de 
seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados de utilização dos 
recursos naturais, assim como a conservação dos ecossistemas no Estado do Pará; 7) 
Promover o uso sustentado dos recursos naturais; 8) Garantir a proteção da biodiversidade e 
dos espaços territoriais com características relevantes no Estado do Pará; 9) Ordenar o uso 
múltiplo das águas tendo como unidade de planejamento a bacia hidrografia e as águas 
subterrâneas; 10) Regular e normatizar os procedimentos de licenciamento ambiental; 11) 
Desenvolver mecanismos efetivos de fiscalização das atividades de degradação ambiental; 12) 
Recuperação das áreas desmatadas; 13) Fortalecimento do processo de desconcentração e 
descentralização da gestão ambiental; 14) Zelar pela idoneidade dos padrões e métodos da 
SEMA no que diz respeito às suas ações e atividades; 15) Prestar contas à sociedade, medida 
necessária para a preservação da integridade da instituição e uma demonstração inequívoca do 
respeito à sociedade e aos usuários imediatos do sistema da SEMA. 
A direção superior da SEMA é formada pelo Secretário de Meio Ambiente, pelo 
Secretário Adjunto, pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente - COEMA. Além das 
Assessorias (Corregedoria Ambiental, Consultoria Jurídica, Assessoria de Comunicação, 
Assessoria Técnica), Núcleos (Núcleo de Tecnologia da Informação, Núcleo de 
Documentação e Arquivo) e Diretorias (DILAP - Diretoria de Licenciamento Ambiental de 
Atividades Poluidoras; DGFLOR – Diretoria de Gestão Florestal; DIFISC – Diretoria de 
Fiscalização; DIAP - Diretoria de Áreas Protegidas; DIPLAM - Diretoria de Planejamento 
Ambiental; DIREH - Diretoria de Recursos Hídricos; DGAF - Diretoria de Gestão 
Administrativa e Financeira). No Quadro 2.3 é demonstrado o número atualizado de 
funcionários da SEMA, por categoria: 
 
QUADRO 2.3: SERVIDORES DA SEMA POR CATEGORIA 
CATEGORIA Nº DE SERVIDORES 
SUPERIOR 425 
MÉDIO 125 
FUNDAMENTAL 37 
TOTAL 587 
Fonte: Pesquisa de Campo, 2009. 
 
O quadro de funcionários da SEMA foi ampliado com a realização de dois concursos 
públicos nos anos de 2006 e 2008, dando estabilidade ao técnicos responsáveis pela gestão 
ambiental, já que anteriormente a maioria era de temporários, o que causava descontinuidade 
administrativa. Porém, não foi resolvida a questão dos baixos salários e a desvalorização 
desses servidores, causando insatisfação e a procura por melhores remunerações, pois grande 
parte dos servidores de nível superior possui mestrado e alguns com doutorado. 
Conforme Reuter (2001) a falta de valorização do quadro técnico nos órgãos 
ambientais é patente. Em alguns Estados, um especialista dentro de um órgão ambiental tem 
uma remuneração mensal da ordem de R$ 1.000, 1.200, 1.500,00. Evidentemente que há uma 
evasão muito grande desses profissionais para a iniciativa privada, justamente para dar 
suporte ao empreendedor que tem interesse em defender a sua localização ou a ampliação, ou 
a instalação, ou a operação que pleiteia. 
22 
 
Atualmente os servidores da SEMA têm buscado a aprovação de uma lei que 
estabelece a gratificação de atividade de gestão ambiental, bem como, o plano de cargos e 
salários no âmbito estadual, objetivando a melhoria salarial. 
Portanto, o grande problema entre esses níveis ou instâncias de poder é a falta de 
estrutura e de investimentos em políticas ambientais, cujos custos são elevados, por exemplo, 
para treinamento e contratação de pessoal qualificado (CAIRNCROSS, 1992). Dessa forma, a 
gestão ambiental é um desafio para o setor público, em face dos custos que derivam do uso 
dos recursos naturais, dos riscos ambientais e dos acidentes que ocorrem envolvendo até 
mesmo as grandes empresas. 
 
2.3 GESTÃO EMPRESARIAL: INDÚSTRIA DE ALUMÍNIO 
 
Será tomado como exemplo da gestão ambiental empresarial a Alumínio Brasileiro 
S.A. – ALBRAS a partir da apresentação do seu processo produtivo e discussão do Sistema 
de Gestão Ambiental. Serão apresentados também os Sistemas de Gestão Ambiental das 
outras empresas de grande porte instaladas no Distrito Industrial a partir dos programas e 
ações socioambientais desenvolvidos. 
Em outubro de 1985 foi inaugurada em Barcarena, no Distrito de Murucupi, a fábrica 
da empresa Alumínio Brasileiro S/A – ALBRAS, para produção de alumínio primário. Em 
1989 começou a funcionar a fábrica da empresa Alumina do Norte do Brasil S/A – 
ALUNORTE, que produz alumina, matéria-prima do alumínio. O Complexo 
ALBRAS/ALUNORTE resultou da associação da Companhia Vale do Rio Doce – CVRD 
com a Nippon Amazon Aluminiun Company Ldta – NAAC, consórcio estabelecido por 
empresas e pelo governo japonês (CARMO, 2000). 
A ALBRAS foi constituída em setembro de 1978 e implantada em duas fases, cada 
uma com capacidade nominal de 160 mil toneladas/ano. A primeira fase começou a operar em 
julho de 1985 e a segunda fase atingiu plena atividade em 1991. Com a expansão realizada em 
2001 a empresa chega à produção anual superior a 400 mil toneladas. O investimento total de 
implantação da ALBRAS é de US$ 1,5 bilhão. Em 2003 a produção acumulada da empresa 
alcança 5 milhões de toneladas, o que representa geração de divisas acima de US$ 7 bilhões. 
Do ponto de vista da história socioeconômica da Amazônia a empresa destaca-se 
como um empreendimento de grande relevância do planejamento do desenvolvimento da 
região, conforme analisou Carmo (2000, p. 85): 
 
A empresa foi resultado de uma política de desenvolvimento articulada pelo

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