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Revisão Av1 Processo Penal I

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INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL
Contexto político e histórico em que o CPP/41 foi promulgado
 O referido Código foi promulgado em 1941, durante o Estado Novo que possuía como característica o autoritarismo, sendo um regime político nada democrático. Embora o Código de Processo Penal tenha passado por reformas, ainda trás em seus bojos diversos dispositivos que não mais se coadunam com o Estado Democrático de Direito.
 O ano de promulgação do Código Processual Penal estava no período do político eminentemente ditatorial, compreendido entre 1937 a 1945, no qual o Brasil foi governado por Getúlio Vargas. Desse modo, nosso Código de Processo Penal foi inspirado na legislação processual italiana do regime fascista.
 Numa visão garantista: a característica marcante da instrumentalidade do processo penal reside no fato de que a norma jurídica penal visa à aplicação de uma sanção pelo Estado ao particular, diferentemente do processo civil, que mormente cuida da relação entre particulares. Isso faz com que o processo penal seja mais cauteloso, mais preocupado com o respeito às garantias e com a justiça das decisões. Aí reside sua finalidade constitucional-garantidora da máxima eficácia dos direitos e garantias fundamentais, em especial a liberdade individual. (LOPES JR, 2009)
 Por outro lado, o utilitarismo refere-se: à idéia [sic] de combate à criminalidade a qualquer custo, a um processo penal mais célere e eficiente, no sentido de diminuir as garantias processuais dos cidadãos em nome do interesse estatal de mais rapidamente apurar e apenar condutas. É sinônimo de exclusão de direitos fundamentais com vistas ao alcance da máxima eficiência (antigarantista). (LOPES JR, 2004. P.45)
 A partir da promulgação da Constituição de 1988, esses valores autoritários do utilitarismo e do Código de Processo Penal tiveram de ser alterados, devendo-se adotar a instrumentalidade garantista do Processo Penal Constitucional, eis que a Constituição vigente trouxe para o ordenamento jurídico o mais amplo rol de direitos e garantias fundamentais já antes visto.
 Embora o Processo Penal tenha uma íntima relação com os delitos e com as penas, não pode, numa visão garantista, pautada na Constituição, ser visto apenas como meio para se aplicar a pena.
 De acordo com o pensamento de Ferrajoli (2002), é necessária sempre a formação de um juízo de certeza, através do devido processo legal, para que a pena possa ser pautada. Se o juízo de certeza não for alcançado, em decorrência do princípio in dubio pro reu, deve o acusado ser absolvido, pois é muito mais grave a condenação de um inocente do que a absolvição de um culpado.
 O Processo Penal deve ser compreendido como o instrumento que serve de limitador do poder punitivo e garantidor dos direitos e garantias fundamentais, o que não significa, de modo algum, impunidade.
Princípios informadores do Processo Penal
 Princípios são as ideias fundamentais que constituem o arcabouço do ordenamento jurídico, são os valores básicos da sociedade que podem, ou não, se constituir em normas jurídicas. (CARVALHO, 2006, p.5).
 Para Alexy (2012, p.90), princípios são mandamentos de otimização, pois ordenam que “algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes”. Isso significa que a distinção entre princípios e regras é qualitativa, pois os princípios podem ser satisfeitas, ou seja, a regra traz a determinação de se fazer exatamente o que ela determina.
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
 O princípio da dignidade da pessoa humana serve como princípio reitor de muitos outros. O legislador constituinte concedeu o status normativo ao princípio da dignidade da pessoa humana, entendendo-o como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito – artigo 1º, III, CRFB. A dignidade da pessoa humana é o pilar que sustenta nosso ordenamento jurídico e dela derivam os demais princípios.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
 Desde a Revolução Francesa, o princípio da legalidade teve papel crucial na progressiva humanização do Direito Penal ao restringir o poder do Estado com o propósito de assegurar os direitos fundamentais.
 Está ligado ao princípio da dignidade da pessoa humana e duas são suas expressões fundamentais: o devido processo legal e a reserva legal.
a) Devido processo legal: a garantia do due preocess of law (devido processo legal) prevista no artigo 5º, LIV, da Constituição tem sua origem na Magna Carta, de 1215, assinada pelo Rei João Sem–Terra. O objetivo deste princípio é determinar que apenas mediante uma sequência de procedimentos formais previamente positivados em lei, o cidadão poderá ter um direito subjetivo restringido como forma de sanção por haver incorrido em ato ilícito.
	 Mas será que basta seguir os procedimentos formais positivados em lei?
 Podemos entender que não, pois o devido processo legal é mais do que isto, é a garantia de um processo justo, asseguradas todas as garantias que veremos adiante.
b) Reserva legal: a reserva legal impõe que certas matérias só podem ser tratadas através de lei sendo proibido o emprego de qualquer outra espécie normativa.
 A CRFB assegura as garantias fundamentais abarcadas pela reserva legal em seu artigo 5º, incisos II e XXXIX.
 Na norma infraconstitucional temos o artigo 1º, CP que impõe que “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
 Na esfera criminal, o princípio da reserva legal está ligado a outros institutos do Direito, tais como o conceito de crime, a anterioridade, a proporcionalidade, limitando a esfera de atuação estatal para evitar arbitrariedades.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
 Seguiu durante a Segunda Guerra Mundial, na Alemanha e de acordo com Antonio Scarance Fernandes (2005, p.57), a proporcionalidade é uma “garantia especial”, pois exige que “toda intervenção na esfera dos direitos fundamentais ‘se dê por necessidade, de forma adequada e na justa medida’. O princípio da proporcionalidade complementa o princípio da reserva legal e reafirma o Estado de Direito”. O princípio da proporcionalidade apresenta três subprincípios que lhe são consectários:
	ADEQUAÇÃO OU IDONEIDADE
	INTERVENÇÃO
MÍNIMA
	PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO
	Só permite o ataque ao direito individual, se o meio utilizado contribuir para o resultado almejado.
	Não basta uma adequação do meio ao fim. Além de ser o mais idôneo deve causar a menor restrição possível.
	A necessidade de comparar na situação concreta entre os valores em conflito, qual irá prevalecer.
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
 A CRFB consagra em seu artigo 5º, LV, o princípio do contraditório.
 Esta previsão consta do artigo 8º, 1, do Pacto de San Joe da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, determinando que “toda pessoa tem o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela”.
 No processo penal é necessário que a informação e a possibilidade de reação permitam um contraditório pleno e efetivo.
	 Pleno porque se exige a observância do contraditório durante todo o desenrolar da causa, até seu encerramento. Efetivo porque não é suficiente dar à parte a possibilidade formal de se pronunciar sobre os atos da parte contrária, sendo imprescindível proporcionar-lhe os meios para que tenha condições reais de contrariá-las. Liga-se, aqui, o contraditório ao princípio da paridade das armas, sendo mister, para um contraditório efetivo, estarem as partes munidas de forças similares. (FERNANDES, 3005, p.65)
 Pelo princípio do contraditório podemos entender que os atos processuais se desenvolvem de maneira bilateral, para possibilitar a cada parte se manifestar acerca dos atos da outra parte. Por esse motivo, é imperioso que haja a publicidade dos atos processuais.PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA
 O direito de defesa vem expresso no artigo 5º, LV, CF, juntamente com o contraditório. Quando a Constituição assegura a ampla defesa, entende-se que, para observância desse comando, deve a proteção derivada da cláusula constitucional abranger o direito defesa técnica e o direito de autodefesa.
a) Defesa técnica: é indisponível e necessária: o acusado, até mesmo o revel, deve estar amparado por um profissional habilitado (advogado ou defensor público).
 A defesa técnica tem previsão nos artigos 261, 263, 265 do CPP, bem como no artigo 5º, LXXIV da Constituição. Caso o processo se desenvolva sem defensor, será nulo – artigo 564, III, c, CPP. Trata-se da Súmula 523, STF, de nulidade absoluta.
 De acordo com Fernandes (2005), a defesa técnica deve ser:
	INDECLINÁVEL
	PLENA
	EFETIVA
	O acusado não pode renunciar à defesa técnica.
	Deve estar assegurada em todo o trâmite processual.
	Não é suficiente a aparência de defesa.
b) Autodefesa: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos fundamentais do processo, como, por exemplo, no interrogatório. A autodefesa embora não possa ser desprezada pelo juiz, é renunciável, não podendo o acusado ser obrigado a comparecer para o interrogatório ou para a realização de atos processuais, em decorrência do direito ao silêncio e ao princípio do nemo tenetur se detegere.
PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE
 O princípio da publicidade está previsto no artigo 5º, LX, CRFB. A inserção de tal garantia teve o condão de alterar situações em que a regra era o julgamento em sigilo. Trata-se de uma garantia relevante e que assegura a transparência da atividade jurisdicional, permitindo ser fiscalizada pelas partes e pela própria comunidade. Com ela são evitados excessos e arbitrariedades no desenrolar do processo.
	 A regra é a publicidade plena, ficando expressas as hipóteses em que se permite a publicidade restrita: artigo 5º, LX, CRFB e artigo 792, §1º, CPP. Essas restrições, no entanto, não se aplicam às partes.
PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL
 O Estado na persecução penal deve assegurar às partes, para julgar a causa, a escolha de um juiz previamente designado pela lei de acordo com as normas constitucionais.
 Surge, então, a previsão inscrita no artigo 5º, LIII, da CF, que dispõe que “ninguém será sentenciado senão pelo juiz competente”.
 Juiz natural é, portanto aquele previamente conhecido, segundo regras objetivas de competência estabelecidas anteriormente à infração penal, investido de garantias que lhe assegurem absoluta independência e imparcialidade, evitando, assim, que haja juízos ou tribunais de exceção como ocorre no sistema inquisitorial.
PRINCÍPIO DA IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ
 De acordo com o artigo 399, §2º, CPP, instituído pela lei 11.719/08, o juiz que presidir a instrução criminal, deve, em regra, ser o juiz prolator da sentença. Entretanto, diante das exceções previstas no artigo 132, CPC/73, sem correspondência no CPC em vigor, acabou sendo bastante mitigado.
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ
 O juiz situa-se entre as partes e acima delas (caráter substitutivo). O juiz imparcial é pressuposto para uma relação processual válida. Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição Federal estipula garantias (artigo 95), prescreve vedações (artigo 95, parágrafo único) e proíbe juízos e tribunais e exceção (artigo 5º, XXXVII).
 Em determinados casos, a própria lei presume a parcialidade do juiz e impõe as causas de Impedimento e de suspeição.
	 Tanto o impedimento como a suspeição devem ser reconhecidas ex officio pelo juiz, que afastar-se voluntariamente de oficiar no processo, encaminhando-o ao seu substituto legal. Se o juiz não agir de ofício poderão ser arguidos pelas partes o impedimento ou suspeição na forma dos artigos 112 e 254 do Código de Processo Penal.
PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL
 Tem seu fundamento no artigo 5º, LII, da CF e a principal decorrência é a vedação da designação pela Procuradoria Geral de Promotor de Justiça ou de Procurador da República para atuar em caso específico. Muito se discute acerca do postulado do Promotor Natural. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência dos Tribunais Superiores divergem sobre o tema.
 Tourinho Filho (2005, p. 357), v.g., entende com base nos princípios institucionais da unidade e da indivisibilidade que o princípio do promotor natural não tem fundamento constitucional: “Dizendo o legislador constituinte que o Ministério público é uno e indivisível, não se pode falar em Promotor Natural, mesmo porque a indivisibilidade dá uma nítida ideia de que os membros da Instituição podem ser substituídos.”.
 Segundo o raciocínio de Eugênio Pacelli (2012, p. 462):
 “A doutrina do promotor natural, portanto, sobretudo no que respeita ao aspecto da vedação do promotor de exceção, fundamenta-se no princípio da independência funcional e da inamovibilidade (funcional) dos membros no Ministério Público, exatamente para que a instituição não se reduza ao comando e às determinações de um único órgão da hierarquia administrativa, impondo-se, por isso mesmo, como garantia individual”.
 O STF, no julgamento do HC 67.759 de relatoria do Ministro Celso de Mello reconheceu o postulado do Promotor Natural, entendendo “que se revela imanente ao sistema constitucional brasileiro, repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela chefia da instituição, a figura do acusador de exceção”.
 No entanto, apesar do referido HC servir de paradigma para outros julgados, a admissibilidade de violação do referido princípio tem sido analisada em cada caso concreto. Como bem destacou o Ministro Celso de Mello no referido julgamento, o postulado do Promotor Natural é “uma garantia para a coletividade” e, portanto, deve ser reconhecido e admitido.
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
 Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (artigo 5º, LVII, da CF). A presunção de inocência tem como decorrência natural a conjunção dos princípios constitucionais da ampla defesa (artigo 5º, LV) com o direito humano fundamental que permite ao acusado de se manter calado (artigo 5º, LXIII).
 Tem por objetivo primordial garantir que o ônus da prova cabe à acusação e não a defesa. As pessoas nascem inocentes, sendo este seu estado natural, razão pela qual, para quebrar tal regra, torna-se indispensável que o Estado-acusador evidencie, como provas suficientes, ao Estado-juiz a culpa do réu.
 Deve ser observada sob três aspectos:
	PROVA
	INSTRUÇÃO PROCESSUAL
	CURSO DO
PROCESSO
	Deve ser valorada em favor do acusado; quando houver dúvida, interpretação do favor rei ou também denominada de in dubio pro reo, conforme informa o artigo 386, VI do CPP.
	Inverte-se o ônus da prova, ou seja, o réu não precisa provar que é inocente, mas sim a acusação precisa fazer prova de que ele é culpado.
	Excepcionalidade e a necessidade das medidas cautelares de prisão.
PRINCÍPIO DA NÃO OBRIGATORIEDADE DE PRODUZIR PROVAS CONTRA SI MESMO –
NEMO TENETUR SE DETEGERE
 O princípio apresenta-se como uma garantia ao acusado, permitindo que este não seja obrigado a produzir prova contra si mesmo, assegurado o direito de permanecer em silêncio e de decidir se quer colaborar ou não com a investigação criminal ou com a instrução processual, estando consagrado em inúmeras constituições e tratados internacionais.
PRINCÍPIO DO IN DUBIO PRO REO
 Por este princípio, deve-se privilegiar a garantia de liberdade em detrimento da pretensão punitiva do Estado. Apenas diante da certeza quanto à responsabilização penal do acusado pelo fato que lhe é imputado é que poderá haver condenação. O artigo 386, VII, do CPP, traz implícito esse princípio.
PRINCÍPIO DA PERSUASÃO RACIONAL OU LIVRE CONCENCIMENTO MOTIVADO
 Nesse princípio, o juiz decide com base nos elementos existentes nos autos, mas sua apreciação não depende de critérioslegais preestabelecidos. A avaliação ocorre segundo parâmetros críticos e racionais.
 Esta liberdade não se confunde com arbitrariedade, pois o convencimento do juiz não é livre, pois está adstrito ao conjunto probatório submetido ao crivo do contraditório e deve ser motivado.
 Exceção: os jurados, no Júri, não precisam fundamentar suas decisões, pois para eles vigora o princípio da íntima convicção.
PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
 Consiste na possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas já julgadas pelo juiz de primeiro grau. Não é tratado de forma expressa na Constituição Federal. O duplo grau de jurisdição decorre da própria estrutura atribuída ao Poder Judiciário pela Carta Magna, previstos nos artigo 102, II e III; e 105, II e III da CF.
 Há casos em que não há duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, nas hipóteses de competência originária do Supremo Tribunal Federal (artigo 102, I, da CF)
PRINCÍPIO DA VERDADE REAL
 O Processo Penal à luz da Constituição não busca a verdade real. Não é um jogo do vale tudo para se chegar à verdade real que, na verdade, é um mito, ranço do sistema inquisitivo.
 A dignidade da pessoa humana apresenta-se como primeiro limite imposto à busca da verdade real, pois não se admitem os meios de prova que atendem contra a dignidade da pessoa humana, daí decorre o artigo 5º, LVI que prescreve que são inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos. Por sua vez, o artigo 98, I, CF traz a previsão da transação penal nos crimes de menor potencial ofensivo, havendo uma renúncia a qualquer forma absoluta de verdade, pois não há investigação da verdade.
 Desse modo, a Constituição optou por um processo democrático, adotando o sistema acusatório, com respeito às garantias processuais dentre as quais a dignidade da pessoa humana e a imparcialidade do juiz. Assim, nada que viole essas garantias pode ser admissível, portanto, o que se busca é apurar as circunstâncias em que o fato ocorreu e não a verdade real.
PRINCÍPIO DA INADMISSIBILIDADE DAS PROVAS ILÍCITAS
 A condição de validade das provas é o respeito ao devido processo e às garantias individuais. Por isso, o artigo 5º, LVI, CF e o artigo 157, CPP vedam a utilização das provas obtidas e forma ilícita.
 Doutrinariamente, é estabelecida uma distinção entre prova ilícita e prova ilegítima.
	PROVAS ILÍCITAS
	PROVAS ILEGÍTIMAS
	São aquelas que violam disposições de direito material ou princípios constitucionais penais.
	São as provas que violam normas processuais e princípios constitucionais da mesma espécie.
	Ex.: confissão mediante tortura e interceptação telefônica sem autorização judicial.
	Ex.: documento exibido em plenário do júri com desobediência ao disposto no artigo 479, caput, CPP, não podendo esta prova ser aceita por ofensa à norma processual e, portanto, ilegítima.
 Entretanto, a teoria dos frutos da árvore envenenada não é absoluta, como pode ser observado no disposto do artigo 157, §1º, in fine.
 Não evidenciado o nexo de causalidade entre a prova obtida de forma ilícita e outras provas obtidas de forma independente, o sistema de contaminação não se efetiva.
 A prova absolutamente independente (independent source limitation) é uma teoria coexistente à teoria dos frutos da árvore envenenada que preconiza que não havendo vínculo entre as provas, não podemos falar em reflexos irradiando contaminação às provas que não derivam da ilícita.
 Na descoberta inevitável (inevitable discorery limitation), apesar de existir um vínculo entre a prova ilícita e as outras provas, estas poderão ser admitidas, partindo-se do pressuposto de que, hipoteticamente, se poderia chegar até a prova de forma lícita.
 O §2º do artigo 157 diz: Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios as investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
 O legislador chamou de prova independente o que, na verdade, é a descoberta inevitável.
 Majoritariamente, tem-se de admitido a prova obtida de forma ilícita, com base no princípio da proporcionalidade, quando esta prova for à única capaz de demonstrar a inocência do acusado. Távora e Alencar (2013, p.) destacam que: 
 O conflito entre bens jurídicos tutelados pelo ordenamento leva o intérprete a dar prevalência àquele bem de maior relevância. Nesta linha, se de um lado está o jus puniendi estatal e a legalidade na produção probatória, e o do outro o status libertatis do réu, que objetiva demonstrar a inocência, este último bem deve prevalecer, sendo a prova utilizada, mesmo que ilícita, em seu benefício.
SISTEMAS PROCESSUAIS PENAIS
SISTEMA INQUISITIVO
Obs.: Se o réu, respondendo ao processo penal, é tratado como mero objeto do processo, sendo de antemão considerado presumidamente culpado, sem suas garantias para sua defesa, o sistema adotado é o inquisitivo.
 No sistema inquisitivo ou inquisitório, os direitos e garantias individuais são deixados de lado em prol de um suposto interesse da coletividade, ou seja, de acordo com o Nestor Távora (2013, p.40) “os direitos de um indivíduo não podem se sobrepor ao interesse maior, o coletivo”, que seria a punição do acusado.
 No Código Penal de 1941 surgiu essa linha de pensamento. Na exposição de motivos do referido diploma processual, o então Ministro da Justiça, Francisco Campos, destaca que “Urge que seja abolida a injustificável primazia do interesse do indivíduo sobre o da tutela social. Não se pode continuar a contemporizar com pseudodireitos individuais em prejuízo do bem comum”.
 Em sua essência o sistema inquisitivo, concentra nas mãos do juiz as funções de acusar, defender e julgar.
 Nesse sistema, para a prevalência da ideologia repressivo-punitiva do Estado, o processo é sigiloso; o juiz (ator do processo) pode gerir a prova (sistema de prova tarifada) e o acusado, pelo simples fato de ser acusado, é presumidamente culpado, sendo tratado como mero objeto do processo, sem direitos ao contraditório e à ampla defesa.
SISTEMA ACUSATÓRIO
 A Carta de 1988, ao estabelecer em seu artigo 129, I que compete privativamente ao Ministério Público promover a ação penal, afastou o princípio inquisitivo (juiz ator + ativismo judicial = princípio inquisitivo), adotando uma ideologia garantista/libertária.
 No sistema acusatório todos os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição devem ser assegurados ao acusado que deixa de ser mero objeto do processo e passa a sujeito de direito, devendo ser considerado presumidamente inocente, nos termos do artigo 5º, LVII, CF.
 Nesse sistema, do ponto de vista probatório, o magistrado deve manter-se imparcial e equidistante, já que as provas são produzidas pelas partes (acusador e acusado) e todas devem ser submetidas ao crivo do contraditório, possibilitando a ampla defesa do acusado, já que no sistema acusatório vigora a publicidade dos atos processuais.
 Apesar das reformas processuais para adequar o Código de Processo Penal ao sistema acusatório, instituído pela Constituição de 1988, algumas características do sistema inquisitivo ainda se encontram no corpo do referido diploma processual, em especial no que tange à instrução probatória.
Ex.: O artigo 156, I, com redação dada pela Lei 11.690 de 2008 possibilita ao juiz, de ofício, a possibilidade de ordenar a produção de provas consideradas urgente e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida, mesmo antes de iniciada a ação penal.
SISTEMA MISTO
 No sistema misto há uma fase investigatória conduzida por um juiz com poderes inquisitivo (não se confunde, desse modo, como o inquérito policial, que possui natureza administrativa, e é presidido pelo delegado de polícia), seguida de uma fase acusatória, em que são assegurados todos os direitos do acusado como a ampla defesa e o contraditório e a independência entre acusação, defesae juiz.
 Esse sistema, inaugurado, em 1988, com o Código de Processo Penal francês (Code d’Instruction Criminelle), por isso, também chamado de Sistema Francês, é na atualidade adotado em vários países da Europa e possui como característica marcante a existência do Juizado de Instrução, cuja fase preliminar instrutória é presidida por um juiz.
 Aury Lopes Jr. (2016, p.45) critica a classificação tradicional de sistema misto, entendendo ser uma visão “reducionista, na medida em que atualmente todos os sistemas são mistos, sendo os modelos puros apenas uma referência histórica”.
 Para o referido autor, já que todos os sistemas processuais na atualidade são mistos, é de suma importância a análise do “núcleo fundante para definir o predomínio da estrutura inquisitória ou acusatória, ou seja, se o princípio informador é o inquisitivo (gestão da prova nas mãos do juiz) ou acusatória (gestão da prova nas mãos das partes)”. (LOPES JR., 2016, p.45).
SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO
 Alguns doutrinadores entendem que o Brasil adota o sistema misto, pois é inquisitivo na fase do inquérito policial e acusatório na fase processual.
 Outros entendem que nosso sistema processual, com o advento da Constituição de 1988, é o acusatório. Dentre estes doutrinadores há quem entenda, como Nestor Távora, que se trata de um sistema acusatório não ortodoxo, pois “o magistrado não é um espectador estático na persecução, tendo, ainda que excepcionalmente, iniciativa probatória, e podendo, de outra banca, conceder habeas corpus de ofício e decretar prisão preventiva, bem como ordenar e modificar medidas cautelares”. (TÁVORA; ALENCAR, 2013, p.41).
 Exatamente por essa atividade judicial é que Lopes Jr. (2016, p.47) entende que nosso sistema é “essencialmente inquisitório” ou “neoinquisitório”.
	CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS PROCESSUAIS
	SISTEMA INQUISITIVO
	SISTEMA ACUSATÓRIO
	A gestão da prova fica nas mãos do juiz (juiz ator)
	A gestão da prova fica nas mãos das partes – acusador e acusado (juiz espectador)
	Aglutinação das funções de acusar e julgar nas mãos do juiz
	Separação das funções de acusar e julgar durante todo o processo
	O juiz pode atuar de ofício (violação do princípio ne procedat iudex ex officio)
	Observância do princípio ne procedat iudex ex officio (o juiz deve ser provocado)
	Juiz parcial
	Juiz imparcial
	Inexistência de contraditório e ampla defesa
	Contraditório e ampla defesa
	Desigualdade de armas e oportunidades
	Paridade de armas e oportunidades
	Sistema da prova tarifada (a confissão é a “rainha” das provas)
	Sistema da persuasão racional (“livre” convencimento motivado) todas as provas possuem o mesmo valor
	Presunção de culpabilidade do acusado
	Presunção de inocência do acusado
SUJEITOS PROCESSUAIS
 O Código de Processo Penal elenca nos artigos 251 a 281 os sujeitos processuais, sendo eles principais, indispensáveis, essenciais para a relação jurídico-processual e secundários, os que não são essenciais, ou seja, não foram o núcleo mínimo da relação processual.
–> Conceito: sujeitos processuais são todas as pessoas que participam do processo, dentre eles o juiz, acusador, o acusado e seu defensor, assistente da acusação, os auxiliares da Justiça.
	SUJEITOS NO PROCESSO PENAL
	SUJEITOS PRINCIPAIS
	Juiz
	PARTES e Sujeito ativo: acusador (MP ou querelante)
	SUJEITOS SECUNDÁRIOS
	Interessados, assistentes da acusação
	Não interessados, auxiliares de justiça
SUJEITOS PRINCIPAIS
-> JUIZ:
 É o sujeito que atua no processo com a missão de prestar a jurisdição. Tem por obrigação assegurar às partes o devido processo legal.
 Para que o juiz atue no processo deve possuir capacidade funcional – ser investido no cargo, que, em regra, ocorre através de concurso público de provas e títulos; ter competência para a causa e não estar impedido, nem suspeito.
—Poderes e deveres: a) poderes administrativos ou de política; e b) poderes jurisdicionais, que se desenvolvem no próprio processo, subdividindo-se em poderes-meios (abrangendo os ordinários, que dizem respeito ao simples andamento processual, e os instrutórios, que se referem à formação do convencimento do juiz) e os poderes-fins (que compreendem os decisórios e os de execução).
 Com deveres, sob o prisma Garantista, o juiz tem como dever primordial cumprir e fazer cumprir a Constituição, garantindo o contraditório e a ampla defesa, a razoável duração do processo e de fundamentar todas as suas decisões, além de tratar a todos, inclusive os acusados, com urbanidade.
—Garantias e prerrogativas: para que o juiz possa atuar de forma independente e imparcial, a Constituição de 1988, em seu artigo 95 e incisos, traz o rol de garantias asseguradas aos juízes:
	
VITALICIDADE
	Após o estágio probatório de dois anos, o juiz só perde o cargo por sentença judicial transitada em julgado.
	
INAMOVIBILIDADE
	O juiz titular de um órgão tem plena estabilidade no local onde é titular, só podendo ser removida a pedido ou por motivo de interesse público e, nesta hipótese, a decisão deve ser por voto da maioria absoluta do Tribunal ao qual está vinculado ou do Conselho Nacional de Justiça, estando assegurada a ampla defesa, nos termos do artigo 93, VIII, CRFB.
	IRREDUTIBILIDADE DE SUBSÍDIOS
	De acordo com o artigo 95, III, CF, os juízes não podem ter sua remuneração reduzida, a não ser nas hipóteses igualmente previstas.
—Suspeição e impedimento: as causas de impedimento ou suspeição estão previstas nos artigos 252 e 254 do CPP.
 Nas hipóteses de impedimento ou suspeição, o juiz deve, ex officio, se afastar, remetendo os autos ao juízo substituto ou tabelar e, caso não o faça, as partes devem arguir o impedimento ou a suspeição.
—Das partes: as partes principais do processo são o acusador e o acusado, ou seja, o MP e o acusado ou réu nas ações penais de iniciativa pública e o querelante e o querelado nas ações penais de iniciativa privada.
—Do Ministério Público: no Brasil, embora o MP represente o Estado na função de acusar, este não faz parte do Poder Judiciário. De acordo com o artigo 127 da CRFB/88, o MP é uma instituição permanente e essencial à função jurisdicional do Estado, a quem compete a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. A Constituição determina, em seu artigo 129, I que compete, privativamente, ao MP promover a ação penal pública.
 Destaca-se que o Ministério Público embora, pela ótica processual, se assemelha às partes privadas.
 Apesar de ser parte deve possuir uma certa imparcialidade.
Princípios institucionais
	
UNIDADE
	Os membros do MP integram um único órgão, trabalham sob uma mesma direção e agem em nome da instituição, e não em nome próprio.
	
INDIVISIBILIDADE
	Como se trata de um único órgão, membros podem ser substituídos uns pelos outros, sob designação do Procurador-Geral, na forma estabelecida em lei, sem que ocorra prejuízos para o processo.
	
INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL
	O membro do MP atua segundo sua convicção pessoal, de forma independente, ou seja, “o chefe do MP não tem poder hierárquico em termos funcionais sobre os membros inferiores restando-lhe apenas a hierarquia administrativa. Suas orientações não são vinculativas”. Porém, administrativamente, nada impede que os membros estejam sujeitos a fiscalizações, correções, punições etc.
—Do acusado e seu acusador:
a) Do acusado: o acusado é o sujeito passivo da relação processual. Aquele contra quem se propõe a ação penal.
 Na ação penal pública, quando já recebida à denúncia é denominado réu ou acusado. Na ação penal privada é chamado de querelado. Já no Inquérito Policial é tratado como suspeito, investigado ou indiciado.
 Para figurar como sujeito passivo da relação processual é preciso o preenchimento de alguns requisitos:
	CAPACIDADE PARA SER PARTE-ADQUIRIDA
	Por toda e qualquer pessoa “pelo simples fato de sersujeito de direitos e obrigações”;
	CAPACIDADE PROCESSUAL (LEGITIMADO AD PROCESSUM)
	“Que no processo penal advém com a idade de 18 anos”, não estando excluída a pessoa com deficiência mental, embora necessidade de curador; “pois a ele poderá ser imposta, ao final do processo, medida de segurança”;
	
LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM
	Determinada pela pertinência da imputação de determinado crime a alguém, ou seja, deve existir “coincidência entre a pessoa apontada na peça inicial como o autor de fato e o suspeito da prática do crime, indicado no inquérito ou nas peças de informação” (CAPEZ, 2014, p.231).
 Apesar de não haver um consenso entre os doutrinadores brasileiros acerca da responsabilidade penal das Pessoas Jurídicas, A CF, em dois dispositivos estabelece a possibilidade de punição das pessoas jurídicas.
 O §5º do artigo 173, estabelece que “A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a ás punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular”.
 Já o artigo 225, §3º traz a possibilidade de sanção penal em crimes ambientais: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos”.
 No mesmo sentido, a Lei de Crimes Ambientais, Lei 9605/98, em seu artigo 3º, parágrafo único. A referida Lei elenca em seus artigos 22, 23 e 24 as penas restritivas de direito a que está sujeita a pessoa jurídica pela prática de conduta lesiva ao meio ambiente.
—˃ Direitos do acusado: com base na dignidade da pessoa humana, pilar do Estado Democrático de Direito, a Constituição, em seu artigo 5º, LVII estabelece o princípio da não culpabilidade ou presunção de inocência.
 Por ser presumidamente inocente, todo e qualquer acusado tem o direito de permanecer em silêncio (artigo 5º, LXIII, CF/88); de não produzir provas contra si mesmo (Nemo tenetur se detegere), ao contraditório e à ampla defesa (artigo 5º, LV, CF/88) entre outros.
 Quanto à condução do suspeito para prestar declarações em sede policial, a situação configura-se mais grave, pois a pessoa se vê privada da liberdade de ir e vir sem ordem judicial.
b) Do defensor: para que a ampla defesa se concretiza, faz-se necessária a defesa técnica, exercida por um profissional habilitado tecnicamente.
 O STF editou a Súmula 523 com o seguinte enunciado: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
 A defesa técnica pode ser exercida por defensor constituído ou nomeado pelo juízo.
 O defensor constituído é aquele contratado pelo réu, cujo mandato é outorgado por meio de procuração. Uma vez constituído, o advogado não pode abandonar a causa a não ser por motivo imperioso, comunicando previamente ao juiz – artigo 265, CPP.
 Com a implantação da Defesa Pública, a figura do advogado dativo só ocorre nos Estados em que a Defensoria Pública não se faz presente em todas as Comarcas. No Processo Penal não há a necessidade de comprovação da hipossuficiência econômica para que o acusado seja patrocinado pela Defensoria Pública.
 Conforme o artigo 261, CPP é possível afirmar que a defesa técnica é indisponível, por isso o defensor pode atuar no interesse do réu mesmo contra sua vontade.
SUJEITOS SECUNDÁRIOS
—˃ Do assistente da acusação: posição ocupada pelo ofendido ou seu representante legal (artigo 268, CPP) quando intervém no feito, ao lado do MP, no polo ativo da relação processual. Sua atuação está atrelada à capacidade postulatória, ou seja, se o ofendido não for advogado deverá está assistido por um. Trata-se de um sujeito coadjuvante interessado, pois tem interesse em assegurar seu direito à indenização pela prática do crime.
 Somente se admite assistente da acusação na ação penal pública – promovida pelo MP.
Obs.: excepcionalmente pode-se admitir a assistência por pessoas jurídicas de direito público ou privado, diante de interesse público.
Ex.: a OAB poderá intervir como assistente quando advogado figurar como réu e o caso desperte o interesse da classe de forma legal ou associações que atuem em defesa do consumidor.
	MOMENTO PROCESSUAL PARA O INGRESSO
	A partir do recebimento da denúncia, estendendo-se até o trânsito em julgado, conforme o artigo 269, CPP.
	
LIMITES DE ATUAÇÃO
	O artigo 271, CPP estabelece de que forma o assistente de acusação pode atuar no processo, ou seja, o que pode ele fazer. O referido artigo deve ter uma interpretação restritiva, pois apesar do assistente poder propor provas, no que tange à prova testemunhal, isso não seria possível já que ingressa no processo após o oferecimento da denúncia que é o momento oportuno para a acusação indicar as testemunhas.
Ex.: no processo de rito ordinário, a acusação pode arrolar até 08 testemunhas. No entanto, ao oferecer a denúncia, o MP indicou apenas 05. Mesmo nessa hipótese, o assistente não poderia arrolar as 03 testemunhas para completar o número máximo permitido, pois o que importa não é o quantum, mas sim a via preclusiva, pois se um ato não é praticado no momento oportuno, ocorre à preclusão do direito de praticar o ato.
—˃ Admissibilidade: O artigo 272, CPP estabelece que o MP dever ser ouvido previamente sobre a admissibilidade do assistente da acusação. Por sua vez, o artigo 273, CPP traz a possibilidade de não admissão.
 O entendimento que prevalece é de que a não admissibilidade só seria cabível diante da falta de legitimidade.
Ex.: Angorá, Caranguejo e Mineirinho praticam um roubo em determinado Caixa Eletrônico de uma Agência Bancária. Visando obter maior lucro, Mineirinho e Caranguejo agridem, violentamente, Angorá com intenção de matá-lo. Mas o comparsa sobrevive. Posteriormente, é oferecida a denúncia e os processos de roubo e tentativa de homicídio, por força da conexão, são reunidos. Poderia Angorá se habilitar como assistente da acusação?
 A resposta é negativa, pois com a unificação dos processos, Angorá é corréu no crime de roubo e, nessa hipótese, incide a vedação constante do artigo 270, CPP.
—˃ Dos Auxiliares da Justiça: são sujeitos secundários que atuam no processo, mas não possuem interesse na causa. São servidores públicos que exercem funções como as de escrivão, escrevente, oficial de justiça, dentre outros.
 Há também aqueles que desempenham função pública em auxílio ao juiz como os peritos e intérpretes.
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO
 A lei processual penal, uma vez inserida no mundo jurídico, tem aplicação imediata, atingindo inclusive os processos que já estão em curso, pouco importando se traz ou não situação gravosa ao acusado, em virtude do princípio do efeito imediato ou da aplicação imediata, conforme se depreende do artigo 2º do CPP.
	Lei Penal X Lei Processual
 Os atos anteriores, praticados de acordo com a norma processual que regulou tais atos à época, continuam de lei nova os atos futuros (subsequentes) realizar-se-ão pelos ditames da nova lei.
 A lei processual, leva em consideração a data da realização do ato e não do cometimento da infração.
EX.: com o advento da Lei 11.719/2008 houve uma alteração no artigo 397, CPP, elencando uma série de possibilidades de absolvição sumária. Assim, independentemente da data em que o fato típico ocorreu, se antes ou depois da vigência da norma, diante de uma das hipóteses presentes nos incisos do artigo 397, CPP, o juiz deve (obrigação) absolver o acusado.
 Deve-se ter especial atenção com o conteúdo das chamadas normas mistas ou híbridas, que tratam tanto no direito material quando do direito processual, pois sendo favorável ao acusado retroagirá.
EX.: o artigo 38 do CPP prevê que o ofendido tem o prazo decadencial (direitomaterial) de 06 meses a contar do conhecimento da autoria para exercer o seu direito de queixa ou representação. Caso haja uma alteração legislativa estabelecendo um prazo menor, a lei retroagirá por ser mais benéfica, já que a decadência é uma causa extintiva de punibilidade – artigo 107, IV do CP.
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO
 O artigo 1º do CPP estabelece que as normas processuais penais brasileiras se aplicam no território nacional, espelhando o Princípio da Territorialidade (locus regit actum) e o Princípio da Unidade do Código de Processo Penal em todo o território brasileiro, observados os tratados, as convenções e as regras de direito internacional, pois os limites da jurisdição criminal coincidem com os limites do território nacional; a todos os processos submetidos a essa jurisdição é aplicável a lei processual penal nacional.
	Leges no valem ultra territorium
EX.: um Estado estrangeiro emite uma carta rogatória requerendo determinado réu na jurisdição estrangeira seja interrogado no Brasil, o interrogatório será realizado de acordo com a norma processual brasileira – artigo 784, §1º, CPP.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
 O artigo 3º do CPP estabelece que a lei processual admite interpretação extensiva e aplicação analógica.
—> O uso da analogia: é formada de auto integração da lei consistente na aplicação de um fato não regido pela norma jurídica, disposição legal aplicada a fato semelhante, pois onde há a mesma razão, deve ser aplicado o mesmo direito.
 Na norma processual admite-se apenas a analogia in bonam partem, sendo amplamente utilizada, pois não se trata de norma penal incriminadora.
 Só se mostra possível quando não há dispositivo na legislação regulamentando o caso.
	ANALOGIA LEGIS
	ANALOGIA IURIS
	Em face da lacuna da lei, aplicamos a norma positivada que rege caso semelhante.
	Ante a omissão da lei são aplicados princípios jurídicos.
EX.: dentre as causas de suspeição, no CPP, não está prevista a suspeição por motivo de foro íntimo. Porém o juiz criminal pode ser declarar suspeito por tal motivo, aplicando, por analogia o CPC.
—> Interpretação Analógica: na interpretação analógica a norma traz uma formulação genérica que deve ser interpretado de acordo com as hipóteses anteriormente elencadas.
 A Interpretação Analógica somente poderá ser procedida quando a lei a permitir.
—> Interpretação Extensiva: o artigo 3º do CPP impõe sua forma de integração ao admitir além da analogia, a interpretação extensiva.
 A interpretação extensiva ocorre quando o texto legal diz menos do que pretendia o legislador, de modo que o intérprete estende o alcance da norma.
EX.: o artigo 254, CPP traz as causas de suspeição aplicáveis ao Juiz que se estendem, numa interpretação extensiva, por falta de previsão legal, aos jurados que compõem o Conselho de Sentença no rito do júri.
O INQUÉRITO POLICIAL (AULAS 3,4 e 5)
A investigação criminal
 A investigação criminal não é realizada apenas através do inquérito policial. Há outras formas de investigação, como a realizada pelas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), a executada pelas autoridades militares, pelo Ministério Público etc.
	COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO
(LEI 1.579/52)
	Procedem a investigações de grande vulto, e caso a Comissão constante à existência de crime comum, enviará o procedimento para o Ministério Público, que poderá formular Denúncia.
	
INVÉRITO CIVIL
(LEI 7.347/85)
	Presidido pelo órgão do Ministério Público, visa colher elementos para a propositura da ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
	
A INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO
	Muito se discutiu sobre a possibilidade do inquérito extrapolicial conduzido pelo Ministério Público. Os defensores de tal possibilidade sustentavam seu posicionamento na chamada Teoria dos Poderes Implícitos, entendendo que “quem pode o mais, pode o menos”, ou seja, quem tem atribuição constitucional para exercer a ação penal, também deve possuir as ferramentas para levantar subsídios para este mister. Em maio de 2015, ao julgar o RE 593727, o STF entendeu pela possibilidade de investigação direta pelo órgão ministerial, mas com algumas ressalvas.
—> Inquérito Policial: é realizado pela chamada polícia judiciário, que, na realidade é a polícia civil. A atividade investigatória é atribuída, no âmbito estadual, às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia; no âmbito federal, à polícia federal. (Artigo 144, §1º, IV, CF).
 A Lei 12.830/2013, em seu artigo 2º estabeleceu que “As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado”.
Natureza jurídica: procedimento de índole eminentemente administrativa, de caráter informativo, preparatório para a ação penal. Rege-se pelas regras do ato administrativo.
	CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL
	
OFICIALIDADE
	É sempre realizado num órgão oficial. Se o crime for da competência da Justiça Eleitoral, ele será conduzido pela Polícia Civil. Se o crime for da competência da Justiça Federal, pela Polícia Federal.
	AUTORITARIEDADE
	É sempre presidido por uma autoridade policial. Delegado de polícia ou Delegado federal.
	
OFICIOSIDADE
	Havendo crime de ação penal pública incondicionada a autoridade policial deve atuar de ofício, instaurando o IP e apurando prontamente os fatos (artigo 5º, I, CPP), dispensando qualquer autorização para agir. Nos de ação penal pública condicionada à representação e nos de ação privada, a autoridade depende da permissão da vítima (artigo 5º, §§ 4º e 5º da CF).
	 INDISPONIBILIDADE
	Uma vez iniciado o inquérito, não pode a autoridade policial dele dispor, devendo leva-lo até o fim, não podendo arquivá-lo por vedação expressa (artigo 17 do CPP).
	DISPENSABILIDADE
	O inquérito não é imprescindível para a propositura da ação penal. Neste sentido: artigo 12, 27, 39, §5º, e 46, §1º, do CPP.
	
INQUISITIVO
	As atividades persecutórias ficam concentradas nas mãos de uma única autoridade e não há espaço para o exercício do contraditório ou ampla defesa, razão pela qual, em regra, todas as provas colhidas na fase do inquérito devem ser produzidas em juízo, para que o juiz possa valorá-las no momento da sentença.
	ESCRITO
	Por exigência legal (artigo 9º do CPP), os atos orais serão reduzidos a termo.
	
SIGILOGO
	Não comporta publicidade como no processo (artigo 20 do CPP). O sigilo não se estende ao juiz, ministério público e à defesa do acusado, conforme artigo 7º, XIII a XV e §1º do Estatuto da OAB e Súmula Vinculante 14.
—> Formas de instauração do inquérito policial: por ser um procedimento escrito e instaurado através de atos formais: a portaria, que é um ato formal em que o delegado celebra a abertura do procedimento determinações especiais aos seus subordinados para promoverem diligências investigatórias ou o auto de prisão em flagrante (APF), que é a redução a termo da prisão captura, com a formalização da prisão, oitiva do condutor e das testemunhas, dentre outros atos.
 Através deste auto fica instaurado o inquérito e, no próprio auto, o delegado já determina algumas diligências.
—> Notitia criminis: consiste no conhecimento por parte da autoridade policial de que um fato aparentemente criminoso ocorreu. A notitia criminis, em nosso sistema jurídico, é facultativa em relação aos cidadãos, já que possuem a faculdade e não a obrigatoriedade de denunciar a prática criminosa de quem tenham conhecimento.
 Entretanto, a notitia criminis é obrigatória em relação ao agente público que ao tomar conhecimento de fatos delituosos será obrigado a comunicar o fato à autoridade competente.
 A notitia criminis pode ser:
a) Espontânea ou imediata: a que se dá de maneira direta, por meios não formais,através da atividade própria da polícia.
EX.: através de uma notícia vinculada pela imprensa, a autoridade policial toma conhecimento do encontro de um cadáver.
b) Provocada ou imediata: a que decorre de um ato jurídico formal previsto na lei processual, como a representação ou a requisição, ou seja, “é o conhecimento da infração pela autoridade mediante provocação de terceiros”. (TÁVORA; ALENCAR, 2013, p. 115).
EX.: o Ministério Público toma conhecimento de um crime e requisita ao Delegado à abertura do inquérito.
c) Coercitiva: a decorrente da prisão em flagrante.
 Declaração apócrifa ou notitia criminis –> A notitia criminis inqualificada ou delação apócrifa é aquela vulgarmente chamada de denúncia anônima.
	ESPÉCIES DE FLAGRANTE – ARTIGO 302, CPP
	
PRÓPRIO
	O agente está cometendo ou acaba de cometer a infração (artigo 302, I e II, CPP).
EX.: no momento em que João efetuava disparos de arma de fogo em via pública, houve a chegada da polícia, efetuando-se a prisão.
	
IMPRÓPRIO
	É perseguido, logo após, em situação que faça presumir ser o autor da infração (artigo 302, III, CPP).
EX.: Orelha e Narigão após efetuarem um roubo em uma casa lotérica, se evadem do local. A polícia é acionada e sai na direção apontada atrás dos meliantes. Após três dias de ininterrupta perseguição são encontrados e presos em flagrante.
	
PRESUMIDO
	É encontrado, logo depois, com papéis, instrumentos, armas ou objetos que façam presumir ser o autor da infração (artigo 301, IV, CPP).
EX.: Maria comunica, em sede policial, que foi vítima de furto de um celular e um relógio. Na manhã, em sua ronda habitual, os policiais militares encontram um sujeito com características semelhantes às informadas por Maria, sentado num banco e, ao fazer a abordagem encontram em sua posse os objetos escritos pela vítima, efetuando a prisão.
 Ocorrendo a prisão em flagrante, o Delegado deve observar o tipo de crime supostamente praticado, para que se possa verificar a possibilidade de lavratura do APF.
—> Abertura do Inquérito: o delegado para instauração do inquérito deve fazê-lo, observado o disposto no artigo 5º do CPP.
Crime de ação penal pública incondicionada – artigo 5º, I e II, CPP
a) artigo 5º, I, CPP, de ofício: a autoridade policial tem o dever de instaurar o IP, independente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto da ocorrência de um delito.
b) artigo 5º, II, primeira parte – Mediante requisição da autoridade judiciária ou do MP: é necessário que a interpretação do dispositivo legal seja feita de forma restritiva.
 Quando o MP, tomando conhecimento da ocorrência de um fato supostamente criminoso, se entender que não possui todos os elementos necessários para a propositura da ação penal, deve requerer a abertura do Inquérito, solicitando às diligências que entender necessárias.
c) artigo 5º, II, CPP – in fine – requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representa-lo: notícia de crime qualificado em que o ofendido, ou seu representante legal, caso seja menor ou incapaz, além de comunicar a ocorrência de um fato possivelmente punível, requerer a abertura do inquérito para que o fato possa ser apurado.
 O §2º, do artigo 5º, CPP, tratando-se de requerimento do ofendido, a autoridade policial pode indeferir o pedido. O referido dispositivo estabelece que o indeferimento cabe recurso ao chefe de polícia. Trata-se de um recurso administrativo, na prática de pouca eficácia.
 De acordo com Aury Lopes Jr, o ofendido tem duas alternativas:
1) “impetrar Mandado de Segurança contra ato do delegado” ou 2) “levar ao conhecimento o MP, oferecendo-lhe todos os dados disponíveis, nos termos do artigo 27”.
Crime de ação penal pública condicionada – artigo 5º, §4º, CPP
 Para instauração do IP é necessário o requerimento escrito ou verbal, que será reduzido a termo, do ofendido ou seu representante legal.
 Nessa hipótese, o MP só poderá requisitar a instauração do IP se encaminhar juntamente com a requisição a representação do ofendido.
— Decadência: para CAPEZ (2007, p. 569), “a decadência está elencada como causa de extinção da punibilidade, mas, na verdade, o que ela extingue é o direito de dar início a persecução penal em juízo. O ofendido perde o direito de promover a ação e provocar a prestação jurisdicional e o Estado não tem como satisfazer seu direito de punir”, ou seja, “a decadência não atinge diretamente o direito de punir, pois este pertence ao Estado e não ao ofendido; ela extingue apenas o direito de promover a ação ou de oferecer a representação”.
Crime de ação penal privada – artigo 5º, §5º, CPP
 Caso o ofendido não possua os elementos mínimos de prova para a propositura da ação penal, poderá requerer o delegado que instaure o IP para a investigação. Não existe uma forma rígida do requerimento, mas este deve ser escrito, dirigido à autoridade competente e assinado pelo ofendido, seu representante legal ou por procurador com poderes especiais.
— Procuração com poderes especiais: É aquela na qual se estabelece o poder para a prática de determinado ato específico, ou seja, deve conter expressamente o fim a que se destina.
 Caso haja indeferimento do pedido, caberá recurso ao Chefe de Polícia ou a parte poderá impetrar o mandado de segurança.
 Com o advento da Lei 9099/95, nos crimes cuja pena ultrapassa dois anos, não há abertura de IP, pois é lavrado o termo circunstanciado, não havendo, portanto, a aplicabilidade do dispositivo em comento.
	Termo circunstanciado: nos crimes de menor potencial ofensivo, não há abertura de IP, nem a lavratura do APF (Auto de Prisão em Flagrante). Nesses casos é lavrado o termo circunstanciado que consiste em um breve relato dos fatos, com a qualificação dos envolvidos, devendo conter as informações necessárias para o eventual oferecimento da denúncia.
DESENVOLVIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Deslocamento ao local
 Atividade regular da polícia, diante de um fato delituoso, devendo ser preservado o local até a chegada dos peritos, ou seja, é o primeiro ato a ser praticado para que o local onde ocorreu o fato seja isolado, já que é uma das principais fontes de informação acerca da dinâmica dos fatos.
Apreensão de objetos relacionados ao fato
 É permitida a apreensão de objetos relacionados ao fato criminoso (corpo de delito), pois são elementos que possibilitam a reunião de indícios de autoria e a demonstração da materialidade. Para que se possa realizar a apreensão, será necessário que o delegado solicite uma autorização judicial, de acordo com os artigos 240 e seguintes do CPP e artigo 5º, XI, da CF.
Colheita de provas
Busca colher provas que possam esclarecer o fato e a autoria.
 A busca domiciliar por força do artigo 5º, XI, da CF só pode ser feita nas hipóteses previstas legalmente. A busca pessoal independe de mandado, no caso de prisão ou havendo suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma ou de instrumentos que guardem relação com o crime ou em ocasião da busca domiciliar.
Oitiva do ofendido
 Quando possível, é uma importante fonte de informação.
 O ofendido e as testemunhas podem ser conduzidos coercitivamente sempre que deixarem, sem justificativa, de atender a intimação da autoridade policial, de acordo com o artigo 20, CPP.
Oitiva do indiciado
 A autoridade policial deve ouvir o suspeito, aplicando no que couber as regras do interrogatório judicial, devendo-se respeitar todas as garantias e direitos previstos, tanto na Constituição quanto no CPP. O termo de depoimento deve ser assinado por duas testemunhas.
Reconhecimento de pessoas e coisas
 O reconhecimento deve atentar para as formalidades previstas no artigo 226, CPP.
Reconhecimento do exame de corpo de delito e outras perícias
 Deve-se determinar o exame de corpo de delito sempre que a infração penal deixar vestígios. A reconstituição poderá ser feita, com a ressalva do artigo 7º, CPP. Ressalta-se que o investigado não poderá ser compelidoa participar, por força dos princípios constitucionais já analisados.
Identificação criminal
 A identificação criminal foi regulamentada pela Lei 12037/2009, sendo espécies a identificação datiloscópica, fotográfica e coleta de material genético (Lei 12654/12).
 Em regra, o civilmente identificado não poderá ser identificado criminalmente, salvo nas situações legais previstas.
Averiguação da vida pregressa
 Deve ser juntada a folha de antecedentes criminais (FAC), para que possa servir de base para o juiz quando da fixação da pena.
—> Reconstituição do crime: o artigo 7º, CPP trata da reconstituição do crime. Para sua realização é necessário observar seus limitadores: a) não contrariar a moralidade (que deve abarcar não só a moral pública, mas também a inviolabilidade da honra e da imagem) e a ordem pública; b) o direito assegurado constitucionalmente no artigo 5º, LV e no artigo 82 da CADH – Convenção Americana de Direitos Humanos – de não produzir provas contra si mesmo, nem declarar-se culpado.
—> Incomunicabilidade do preso: o artigo 21, CPP prevê a incomunicabilidade do preso. Todavia com o advento da Constituição de 88, há duas correntes sobre o tema:
	1ª CORRENTE
	2ª CORRENTE
	Entende que o artigo 21, CRFB foi tacitamente revogado por força do artigo 136, §3º, IV, CRFB – se uma situação de exceção não é permitida, não poderia ser diante da normalidade.
	Entende que o artigo 136, §3º, IV, CRFB não revogou o artigo 21, CPP, pois no estado de normalidade todas as garantias estão asseguradas, não causando nenhum prejuízo ao preso, o que não ocorre no estado de exceção, em que há supressão das garantias individuais.
 Para André Nicolitt (2010, p.97), o artigo 5º, LXII e LXIII, afasta qualquer dúvida interpretativa à incomunicabilidade, pois é garantido ao processo como direito fundamental a assistência familiar e do advogado.
—> Encerramento do Inquérito: findas as diligências, a autoridade deve fazer um minucioso e objetivo relatório, sem juízo de valor, para que através deste o MP possa formar sua opinio delicti.
 O artigo 10, §1º, CPP estabelece que o inquérito será encaminhado ao juízo competente.
Prazos para o encerramento do Inquérito
	PRAZOS PREVISTOS NO CPP – ARTIGO 10
	ALGUNS PRAZOS ESPECIAIS
	Indiciado solto – O prazo é de 30 dias.
	Crimes contra a economia popular – prazo de 10 dias, estando o indiciado preso ou não – artigo 10, §1º, Lei 1.521/51.
	Indiciado preso – O prazo é de 10 dias, contados a partir do dia seguinte à data da efetivação da prisão.
	Lei de drogas – 30 dias para o réu preso e 90 dias para o solto, podendo haver duplicação pelo juiz mediante pedido justificado – artigo 51, Lei 11.343/06.
	O artigo 10, §3º, CPP admite a prorrogação por igual período.
	A Lei Orgânica da Justiça Federal estabelece o prazo de 15 dias para o réu preso – Lei 5.010/66, artigo 66.
Da baixa para diligências
 Ao receber o IP concluído, se o MP entender que há necessidade de diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia, pode requerer a devolução do inquérito à delegacia para que estas sejam realizadas, conforme dispõe o artigo 16, CPP.
	DILIGÊNCIAS IMPRESCÍNDIVEIS
	“São somente aquelas que buscam os indícios de autoria ou a materialidade do fato”.
(NICOLITT, 2010, p.100)
—> Arquivamento e desarquivamento do inquérito:
 É ato do juiz, que determinará o arquivamento de forma motivada somente se houver pedido, neste sentido, do MP que é o titular da ação penal pública (artigo 129, I, CF).
 A autoridade policial, verificando a ausência de justa causa, poderá deixar de instaurar o IP, mas uma vez já o tendo instaurado, não poderá arquivá-lo, conforme disposto no artigo 17, CPP, devendo remeter os autos ao MP para que este decida (Princípio da Indisponibilidade/Obrigatoriedade).
Natureza jurídica
 Trata-se de um ato administrativo complexo, pois o arquivamento depende de forma sucessiva da manifestação de vontade do membro do MP e depois do juiz (RANGEL, 2003, p. 183).
 Para Eugênio Pacelli (2012, p.66), trata-se de um ato judicial, pois a decisão “gera direito subjetivo ao investigado, em face da Administração Pública, na medida em que a reabertura da investigação está condicionada ou subordinada à existência de determinado fato e/ou situação concreta (artigo 18, CPP)”.
 Havendo discordância quanto ao pedido de arquivamento, o juiz deve remeter os autos ao Procurador Geral, nos termos do artigo 28, CPP.
 Ocorrendo esta hipótese, o Procurador Geral poderá: a) pessoalmente, oferece a denúncia; b) indicar outro órgão do MP para oferecer a denúncia; c) insistir no pedido de arquivamento e, neste caso, o juiz fica obrigado a arquivar os autos do IP.
Arquivamento implícito do inquérito
 Tanto o entendimento jurisprudencial quanto doutrinário é de que não há arquivamento implícito em nosso ordenamento jurídico, já que não há previsão legal para tanto e o artigo 28 do CPP exige que o pedido de arquivamento de inquérito seja expresso e fundamentado.
 Alguns doutrinadores entendem que se deve buscar um mecanismo para estabilizar a situação do indiciado, razão pela qual vislumbram três espécies de ocorrência de arquivamento implícito:
	
SUBJETIVO
	Ocorre quando duas pessoas são indiciadas; uma delas é denunciada e o MP se omite com relação à outra; o juiz recebe a denúncia e também se omite com relação à outra.
	
OBJETIVO
	Ocorre quando alguém é indiciado por dois crimes; o MP oferece a denúncia com relação a um dos crimes e se omite com relação ao outro; o juiz recebe a denúncia com relação a um dos crimes e também se omite com relação ao outro.
	
DE TIPO DERIVADO
	Ocorre quando alguém é indiciado por um tipo derivado (ex.: homicídio qualificado); o MP oferece a denúncia com relação ao tipo simples (ex.: homicídio simples), omitindo-se com relação à qualificadora; o juiz recebe a denúncia e também se omite quanto à qualificadora.
	A SÚMULA 524 STF
	Embora se refira à ação penal, determina que “Arquivado o IP por despacho juiz, a requerimento do promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”, o que nos leva a entender que não há arquivamento explícito.
Desarquivamento do Inquérito
 A atribuição para desarquivamento do IP é do MP. Surgindo fatos novos, deve a autoridade policial representar neste sentido, mostrando-lhe que existem fatos novos que podem dar ensejo a nova investigação.

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