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MONOGRAFIA Direito Ambiental Resp. Civil por Danos ao Meio Ambiente

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO
“RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE E SUA REPARAÇÃO”
				 Luis Felipe del Solar Fuentes
 Bacharelando
PROF. DR. CHRISTIAN GUY CAUBET
 FLORIANÓPOLIS-SC
 1999
	A presente monografia final, intitulada RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE E SUA REPARAÇÃO, elaborada por LUIS FELIPE DEL SOLAR FUENTES e aprovada pela banca examinadora composta pelos professores abaixo assinados, obteve aprovação com nota 7,0 (sete), sendo julgada adequada para o cumprimento do requisito legal previsto no artigo 9º da Portaria n.º 1.886/94/MEC, regulamentado na UFSC pela resolução n.º 003/95/CEPE.
Prof. Dr. Christian G. Caubet – Orientador
Prof. Dr. Fernando Noronha – Membro
Prof. Márcio Roberto Harger - Membro
AGRADECIMENTOS
Ao encerrar mais esta etapa da vida acadêmica, após as mais diversas dificuldades e obstáculos ultrapassados, é, com satisfação e por dever de justiça que agradeço:
Ao Prof. Dr. Christian Guy Caubet, que apesar de todos os compromissos profissionais, a maioria deles permeados pela luta que marca a rotina dos que não aceitam o desrespeito ao meio ambiente e à legislação que o protege, orientou o presente trabalho com intervenções coerentes quanto ao ponto de vista a ser adotado e às questões de mérito mais relevantes;
Aos demais membros da banca examinadora, pelas observações pertinentes e sugestões apresentadas;
Aos companheiros de turma, que sempre demonstraram interesse por minhas atividades, companheirismo nos momentos de dificuldade e compreensão nas horas menos felizes;
Aos meus pais, Luis Enrique e Maria Teresa, e meus irmãos, Andrés e Maria Carolina, que sempre prestaram apoio em tudo que puderam, contribuindo decisivamente para o alcance de mais este almejado objetivo; 
E à minha tão amada companheira de todas as horas e momentos, Juliana Mendes, que esteve sempre próxima em meu pensamento, fortalecendo-me, amparando-me e enchendo-me de amor e carinho durante o transcorrer deste árduo caminho, marcado pela conclusão deste trabalho monográfico. 
“RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AO MEIO AMBIENTE E SUA REPARAÇÃO”
SINOPSE/RESUMO
	A presente monografia teve como motivação principal para sua escolha e elaboração a necessidade de realizar maiores estudos no âmbito do Direito Ambiental, em virtude de sua ainda pequena inserção no currículo do curso de graduação em Direito pela UFSC.
	Basicamente foi dividido em quatro capítulos, nos quais inicialmente foram expostos os conceitos de meio ambiente, poluição, responsabilidade civil, sendo acompanhados dos princípios elementares da questão ambiental.
	O segundo capítulo abordou aspectos específicos da relação da responsabilidade civil com os danos ao meio ambiente, como a questão da existência do prejuízo e a relação de causalidade
Também foi abordado, no terceiro capítulo, o dano ambiental, especialmente no que concerne à sua comprovação e necessária valoração.
A sequência do estudo trouxe a reparação do dano como ponto essencial para o alcance do objetivo da preservação do meio ambiente, bem como os maiores óbices e as mais pertinentes sugestões alternativas propostas para a reparação. 
Entre as considerações finais podem destacar-se a constatação de que o Direito Ambiental tem recebido maior atenção nos últimos anos, sendo que ainda não se aproxima da importância que normalmente se atribui a outros ramos do direito; e a verificação de que na própria doutrina encontram-se alternativas relevantes para os problemas de preservação e reparação ambiental. 
SUMÁRIO
 INTRODUÇÃO
O DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL
 Breve histórico da legislação ambiental brasileira
 A conceituação de Meio Ambiente e Poluição
 Responsabilidade civil no Brasil e aspectos gerais
A responsabilidade civil subjetiva
A responsabilidade civil objetiva
 Os princípios básicos da questão ambiental, seu desenvolvimento e crítica.
O Direito e o Princípio da Educação Ambiental
O Princípio da Precaução e o papel do Poder Público
A Participação Popular como princípio
O Princípio do Poluidor Pagador e suas conseqüências
A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS DANOS AMBIENTAIS
A questão da responsabilidade objetiva e sua necessária aplicação
A instituição da responsabilidade objetiva na legislação ambiental
A posição dos principais doutrinadores.
A relação da proteção ambiental com a defesa do consumidor
2.2 A existência do prejuízo
2.3 A relação de causalidade
O Direito comparado
O posicionamento jurisprudencial
A QUESTÃO DO DANO, SUA COMPROVAÇÃO E VALORAÇÃO
O dano ambiental e sua conceituação
Obstáculos à constatação e comprovação do dano ambiental
 O dano futuro e sua comprovação
A avaliação dos danos ambientais e a natureza econômica do Direito Ambiental
As formas de avaliação e o problema da avaliação exata.
A questão da avaliação monetária do ambiente danificado
A natureza econômica do Direito Ambiental
 
A REPARAÇÃO DO DANO COMO PONTO ESSENCIAL
 A tutela do patrimônio ambiental, de seus elementos e sua importância.
4.1.1 A proteção das águas
4.1.2 A qualidade do ar
4.1.3 A tutela do solo.
4.1.4 A proteção da fauna e da flora.
 As modalidades de reparação
 O retorno ao estado anterior como objetivo prioritário
 Os óbices ao alcance dos resultados
As alternativas propostas para a reparação dos danos ambientais
 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
.
ANEXOS
ANEXO I – Jurisprudência selecionada
ANEXO II – Acórdão n.º 40.190, em apelação cível de mesmo número, de 14 de 
dezembro de 1995, da Comarca de Biguaçú
ANEXO III – Acórdão n.º 37.164, em apelação cível de mesmo número, de 03 de
 setembro de 1991, da Comarca da Capital
	
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje, a preocupação com a proteção ao meio ambiente ocupa lugar de destaque entre aquelas de maior importância para toda a sociedade.
Cada vez mais, se voltam as atenções para a inviabilidade da idéia de explorar os bens naturais como se estes fossem inesgotáveis. Assim, se percebeu que o desenvolvimento indiscriminado pode afetar o equilíbrio ecológico, a qualidade de vida e a própria vida, passando a ecologia a ser discutida crescentemente.
Inicialmente o termo “ecologia” era utilizado para definir o estudo da relação entre as espécies animais e o seu ambiente orgânico e inorgânico. Atualmente serve para designar um amplo e variado movimento social, no qual também deve estar inserido o direito.
Dessa maneira, se pode dizer que a Ecologia não é uma compacta e homogênea forma de pensamento. Ao contrário, abarca diferentes áreas de pensamento, onde podem destacar-se quatro vertentes principais, denominadas de Ecologia Natural e Ecologia Social, ambas de caráter mais teórico científico; e Conservacionismo e Ecologismo, estas com objetivos mais práticos de atuação social.
A Ecologia Natural, precursora na área do pensamento ecológico, se atêm ao estudo dos sistemas naturais, como os mares e as florestas, analisando a dinâmica da vida na natureza. No âmbito da Ecologia Social surge a reflexão sobre o relacionamento entre a espécie humana e o meio ambiente, com ênfase à capacidade destrutiva do homem em relação ao meio.
No campo que evidencia a parte prática, o Conservacionismo privilegia as idéias e estratégias de ação no sentido de conservar os recursos naturais hoje existentes. Mais recentemente, teve surgimento a tendência do Ecologismo, que se mostra como um projeto político de transformação social, baseado em princípios ecológicos inseridos em um contexto ideal de sociedade comunitária e não opressiva.
Dentro deste quadro de ampla variedade de pensamentos, deinterdisciplinaridade, e de complementação mútua, é que o direito deve estar preparado para atuar em face ao chamado social e às necessidades atuais.
É nessa linha de raciocínio que o presente trabalho acadêmico teve como área de atuação o Direito Ambiental e as normas jurídicas de proteção ao meio ambiente.
Será objetivo procurar analisar os aspectos mais importantes no que se refere à reparação dos danos causados ao meio ambiente, em virtude da relevância que possui para toda a sociedade e, utilizando os dizeres da própria Constituição Federal, para as gerações presentes e futuras. 
O trabalho se encontra dividido em quatro partes, composta cada uma delas por um capítulo, conforme o sumário apresentado. A primeira parte procura transmitir os conceitos básicos para o desenvolvimento de um estudo mais detalhado no âmbito da questão ambiental. São necessários, além dos conceitos assinalados, o conhecimento de breve histórico da legislação ambiental brasileira e os princípios de direito ambiental considerados mais relevantes.
Em uma segunda parte, no capítulo seguinte, poderá ser vista a relação existente entre a responsabilidade civil e os danos ambientais, destacando-se as características como seu caráter objetivo. Não deve ser esquecido ainda, o paralelo existente entre a proteção ambiental e a defesa do consumidor.
O terceiro capítulo, se refere mais especificamente ao dano ambiental e os questionamentos envolvendo sua comprovação e valoração, além da problemática do dano futuro e da avaliação monetária do meio ambiente.
No quarto e último capítulo da presente monografia, foi objeto de análise a reparação dos danos ao meio ambiente em seu caráter essencial ao alcance do objetivo maior de preservação do patrimônio ambiental, sendo abordados os principais óbices e as alternativas propostas para reduzi-los.
Estima-se que no planeta existam atualmente entre 5 e 100 milhões de espécies, não se sabe com precisão, mas segundo o Museu de História Natural de Nova York, uma espécie desaparece a cada 20 minutos.
Por isso, e pela qualidade de vida que se deseja proporcionar a todos, não se pode esquecer que todo e qualquer sacrifício no sentido de preservar o meio ambiente ainda será pouco, diante das dificuldades que hão por vir.
 O DIREITO AMBIENTAL E A RESPONSABILIDADE CIVIL
O Direito ambiental, também chamado Direito do meio ambiente, surgiu na sociedade com uma finalidade definida, um objetivo claro: tendo em vista que o ambiente encontra-se grave e permanentemente ameaçado, colocando em risco as condições de ideais de vida, tornando-se necessária uma reação, devendo o Direito imaginar e pôr em prática sistemas de prevenção e de reparação adaptados a uma melhor e mais eficaz defesa contra as agressões oriundas do desenvolvimento da sociedade moderna.
As principais tarefas da ciência jurídica, em apoio ao esforço feito consistem, basicamente, em primeiro lugar, em estabelecer normas que prevejam e desencorajem condutas consideradas nocivas aos objetivos colimados de proteção e recuperação do meio ambiente e de sua compatibilização com as atividades cotidianas do homem.�
A preocupação com a proteção ao meio ambiente atingiu, nos últimos anos, um nível no qual somente com a inclusão, nos ordenamentos jurídicos, de dispositivos destinados a reger a conduta das pessoas quanto a suas ações capazes de afetar de alguma maneira a natureza e, em uma visão mais completa, o ambiente, incluindo-se tudo aquilo em que o homem participou modificando-o através de suas obras e construções.�
Diante do observado, constitui a intenção principal do presente capítulo apresentar os conceitos elementares a respeito do Direito Ambiental, expondo primeiramente, de maneira breve, o caminho percorrido pela legislação ambiental brasileira, dentro do desenvolvimento do quadro geral mundial. A seguir, dar-se-á um sucinto estudo do instituto da responsabilidade civil, como este se apresenta no direito pátrio em seus aspectos subjetivo e objetivo, complementando-se com a análise dos princípios mais importantes estabelecidos em conferências e reuniões internacionais realizadas para debate e incentivo à questão ambiental.
BREVE HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA
A legislação brasileira, assim como ocorreu em diversos outros países, inclusive nos ditos desenvolvidos, tardou a contemplar expressamente a questão ambiental em sua Constituição Federal, vindo isso a ocorrer apenas com a promulgação da Carta Magna no ano de 1988. Além disso, os dispositivos legais dedicados à temática do meio ambiente e que a norteiam e direcionam, encontravam-se dispersos e, de certa forma, dificilmente aplicáveis.
Em virtude de tal constatação, apresenta-se de relevante interesse, antes de desenvolver um estudo direcionado ao chamado Direito Ambiental, que se faça uma abordagem, ainda que sucinta, da evolução histórica da legislação ambiental no ordenamento jurídico pátrio até os dias atuais, passando pelo supracitado texto constitucional.
Apesar da atual Constituição estar apenas iniciando sua segunda década de vigência, e da legislação esparsa anterior pertinente à tutela do meio ambiente não ser tão antiga em relação à mesma, observa Paulo Affonso Leme Machado: 
“O Direito Ambiental constituiu-se mais rapidamente no Brasil que na maioria dos países. O fato de não termos um código ambiental não impediu a sistematização das novas regras jurídicas.”� 
Assim sendo, podemos elaborar um quadro cronológico, expondo como sobrevieram os principais dispositivos legais com o objetivo de proteger o patrimônio ambiental e delimitar sua exploração, da seguinte maneira:
1965 – Lei n.º 4.771, de 15 de setembro, alterada pela lei n.º 7.803/89: instituiu o Código Florestal, que, entre outras disposições, reconheceu a atribuição dos Municípios elaborarem os respectivos planos diretores e leis de uso do solo (art. 2º , parágrafo único), previu a recuperação da cobertura vegetal (art. 18), definiu o que são as áreas de preservação permanente (art. 20), e teve aplicação ampla na área penal (art. 26 e seguintes);
1967 – Decreto-lei n.º 221, de 28 de fevereiro: instituiu o chamado Código de Pesca, que, entre outros dispositivos, estabelece proibições à pesca (art. 35), regulamenta o lançamento de efluentes das redes de esgoto e os resíduos líquidos ou sólidos industriais às águas (art. 37), estabelece penas às infrações (art. 57 e seguintes);
1980 – Lei n.º 6.803, de 02 de julho: refere-se ao Estudo de Impacto Ambiental.
1981 – Lei n.º 6.938, de 31 de agosto: dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. Estabeleceu seus objetivos (art. 4 º) e a constituição do Sistema Nacional do Meio Ambiente (art. 6º , alterado pela lei n.º 8.028/98);
1988 – Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro: prevê um capítulo integralmente dedicado ao meio ambiente (capítulo VI, do título VIII, da Ordem Social) que é, em suma, o artigo 225, onde estabelece:
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder público a à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
1992 – Declaração do Rio de Janeiro: surgiu da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que reuniu as principais autoridades internacionais para tratar do meio ambiente e estabeleceu princípios para uma melhor condução das atividades objetivando a preservação ambiental; 
1997 – Lei n.º 9.433, de 08 de janeiro: institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, colocando a Bacia Hidrográfica como espaço geográfico de referência e a cobrança pelo uso de recursos hídricos como um dos instrumentos da política; 
1998 – Lei n.º 9.605, de 12 de fevereiro, chamada Lei de Crimes Ambientais: dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas eatividades lesivas ao meio ambiente, entre outras inovações, transformando algumas contravenções em crimes, responsabilizando as pessoas jurídicas por infrações cometidas por seu representante legal� e permitindo a extinção da punição com a apresentação de laudo que comprove a recuperação ambiental. 
1.2 A CONCEITUAÇÃO DE MEIO AMBIENTE E POLUIÇÃO
A conceituação do que vem a ser o meio ambiente e, principalmente, a sua poluição é um tópico de conhecimento necessário para quem inicia uma análise mais extensa no que se refere a esse meio ambiente, considerando-se base primordial para tal. Sendo assim, fazem parte dos textos introdutórios de grande parte dos doutrinadores que tratam do tema, apesar de sua previsão e conceituação legal específica na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, desde 1981, de certa maneira diminuir sua aplicabilidade.
Paulo de Bessa Antunes, acredita que o conceito de meio ambiente é, evidentemente, cultural:
“É a ação criativa do ser humano que vai determinar aquilo que deve e o que não deve ser entendido como meio ambiente.”�
Para José Afonso da Silva, “O meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida humana”�. Note-se que o autor refere-se apenas à vida humana, assumindo uma postura antropocêntrica próxima do que Fritjof Capra denomina “ecologia rasa”�, sendo nesse ponto uma voz destoante do pensamento atual, inclusive contrária à resolução n.º 37/7, das Organização das Nações Unidas, datada de 28 de outubro de 1982�; e da lei federal anteriormente citada, que em seu artigo 3º, dispõe o seguinte: 
Para os fins previstos nesta Lei entende-se por: 
	I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;
	II – degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente.
O dispositivo legal acima transcrito bem explicita a preocupação do legislador em não desamparar da lei nenhuma situação que possa caracterizar-se como relativa ao meio ambiente. Esse fato, cedo ou tarde, traria reflexos negativos aos bens que se desejam proteger, especialmente considerando a capacidade cada vez maior que a sociedade de modo geral tem de criar e desenvolver ações que colocam em risco constantemente o necessário equilíbrio ecológico.
Da definição que o texto da lei dá ao meio ambiente como um conjunto de relações, leis, influências e interações que regem a vida podemos verificar não tratar-se de um bem corpóreo e material, pura e simplesmente, ou seja, não é correto, sob esse ponto de vista, considerar a flora e a fauna como sendo o meio ambiente propriamente dito.
Como é possível constatar pela relativamente extensa bibliografia pertinente à matéria, o tema meio ambiente é, para alguns autores, bastante polêmico�. Essa realidade pode ser representada por diversas idéias, como as de Michel Prieur: 
“Meio ambiente é uma expressão que no primeiro momento exprime fortemente paixões, esperanças, incompreensões. De acordo com o contexto em que é utilizada, ela será compreendida como sendo um modismo, um luxo para países ricos, um mito, um tema de contestação oriundo das idéias hippies do ano de 1968, um retorno ao passado, uma nova versão do terror do ano 1000 ligado à imprevisibilidade das catástrofes ecológicas, as flores e os pequenos pássaros, um grito de alerta dos economistas e filósofos sobre os limites do crescimento, o anúncio do esgotamento dos recursos naturais, um novo mercado de produtos antipoluição, uma utopia contraditória com o mito do crescimento.”� 
Em contrapartida, não é difícil encontrar definições mais sintéticas, inclusive entre as anteriores à década de 80, como é o caso da que Diogo de Figueiredo Moreira Neto faz sobre o estudo do meio ambiente em seus diversos aspectos e a noção de ecologia:
“É o estudo das relações dos seres vivos com o ambiente”.�
Assim, diante de uma ampla gama de possíveis definições, é valido juntar ao estudo uma elaborada por autores estrangeiros como a do Conseil International de la Langue Française:
“Meio Ambiente é o conjunto, em um dado momento, dos agentes físicos, químicos e biológicos e dos fatores sociais suscetíveis de ter um efeito direto ou indireto, imediato ou mediato, sobre os seres viventes e as atividades humanas”.�
A poluição é outro fenômeno, se pode ser assim chamado, que tem que ser estudado na intenção de buscar uma definição que possibilite avançar nos trabalhos com o máximo de compreensão das características da mesma bem como de suas conseqüências.
Os autores também têm dedicado parte de suas obras à questão que envolve a elaboração de um conceito para definir o que é poluição, sendo nesse propósito bastante abrangentes. 
Como leciona o professor Paulo Affonso Leme Machado�, inicialmente a atenção do legislador nacional estava voltada preponderantemente para a poluição das águas, sendo definida como:
 “Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas das águas que possa importar em prejuízo à saúde, à segurança e ao bem estar das populações e ainda comprometer sua utilização para fins agrícolas, industriais, comerciais, recreativos e principalmente a existência normal da fauna aquática”.�
Hely Lopes Meirelles assim apresenta seu conceito de poluição:
“Poluição é toda alteração das propriedades naturais do meio ambiente, causadas por agente de qualquer espécie, prejudicial à saúde, à segurança ou ao bem estar da população sujeita a seus efeitos”.�
Nessa mesma linha de pensamento, o autor José Afonso da Silva define poluição como:
“Qualquer modificação das características do meio ambiente, de modo a torná-lo impróprio às formas de vida que ele normalmente abriga”.�
Por sua vez, mostrando-se mais completa e atualizada, a Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de 1981, dispõe que para fins legais entende-se poluição como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população, criem condições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente ou, ainda, que lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Nota-se que com essa abrangência, a legislação protegeu o homem, a comunidade, o lazer, o desenvolvimento econômico, o patrimônio público e o privado, a paisagem, os monumentos naturais e seus arredores, além dos locais de valor histórico ou artístico.
Como se pôde constatar pelas definições de poluição apresentadas, esse fenômeno, se assim pode ser chamado, se traduz invariavelmente em destruição. Essa destruição, qualquer que seja a forma como se manifeste, gera prejuízos de toda ordem, seja em termos de economia, saúde ou segurança, entre outros, a um incalculável número de vítimas.
No sub-capítulo que se segue, será abordada a obrigação de reparar o prejuízo causado a essas vítimas. Essa obrigação de reparar é decorrente da responsabilidade, como conseqüência de toda manifestação da atividade humana, sendo uma das primeiras idéias concebidas pelo espírito do homem em sociedade.�
RESPONSABILIDADE CIVIL NO BRASIL E ASPECTOS GERAIS
No Direito brasileiro a responsabilidade é um instituto dos mais antigos, sendo parte da influência advinda do Código de Napoleão, que fundou a idéia de responsabilidade por culpa e outros conceitos atualmente vigentes.
Em virtude de sua relevância para as primeiras abordagens do presente trabalho, serão observados, a seguir, os pontos principais no que diz respeito à responsabilidade civil subjetiva e objetiva.
 - A RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA
Entre as diversas funções desempenhadas pela ciência do Direito, na busca dos objetivos de preservação da vida e de suas condições de desenvolvimento pode-seobservar primeiramente o estabelecimento de normas que prevejam e desencorajem condutas nocivas aos fins propostos de proteção e recuperação do meio ambiente e de sua compatibilização com as atividades cotidianas do homem. 
Ainda, deve criar, através de dispositivos legais, formas de estimular o desenvolvimento de ações e condutas que contribuam para o alcance dos fins considerados de interesse público, no que se refere à melhoria de condições ambientais e da qualidade de vida.�
Cabe todavia, em virtude do caráter coercitivo de que se revestem as normas jurídicas, estabelecer mecanismos para a sanção das condutas comissivas e omissivas que infrinjam ou desrespeitem os comandos legais erigidos com vistas aos fins de interesses públicos anteriormente mencionados. Assim, esta última função equivale a promover a responsabilização dos agentes infratores da lei.�
Para Helita Barreira Custódio:
“Em princípio, a responsabilidade exprime a obrigação de determinada pessoa responder por um fato ou ato ofensivo e reparar o prejuízo dele decorrente do lesado.”�
A responsabilidade civil é, dentro das diversas espécies do gênero, a que visa à reconstituição da situação existente antes da ocorrência do fato causador do dano. Nesse ponto reside sua importância para a preservação do meio ambiente, sobressaindo sua relevância que é possível verificar que melhores serão as condições desse meio ambiente quanto mais eficazes forem os mecanismos utilizados para evitar que os danos ocorram e para promover a recuperação sempre que sua integridade for lesada.
Nas palavras de Aguiar Dias:
“A responsabilidade civil visa, primordialmente, à reposição da situação resultante do evento danoso ao estado em que se encontrava antes de o dano vir a ocorrer.”�
O desenvolvimento da responsabilidade civil deu-se a partir do principio da culpa, consolidado no direito romano, que originou tantos institutos hoje presentes no chamado “Mundo Ocidental”.
Do estudo da teoria da culpa, juntamente com o pleno respeito ao comando legal, a autonomia da vontade, não é admitida obrigação de reparar dano sem que haja culpa do agente que ao causou.
Nesse sentido, a doutrina manifesta-se de forma a considerar a culpa em sentido amplo, abrangendo o dolo, a imperícia, a imprudência e a negligência.
Caio Mário da Silva Pereira observa que :
“O conceito de culpa é um dos pontos mais delicados que se apresentam no defrontar o problema da responsabilidade civil”� 
 Ainda observa o mesmo autor:
“A culpa é a inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar. Se o conhecia efetivamente e o violou deliberadamente, há delito civil ou, em matéria de contrato, dolo contratual. Se a violação foi involuntária, podendo conhecê-la e evitá-la, há culpa simples; fora destas matérias contratuais denomina-se quase-delito”.�
Dessa forma, na responsabilidade subjetiva, a comprovação da culpa do agente causador do dano é indispensável, configurando-se sua responsabilidade somente se agiu com culpa ou dolo. 
A teoria subjetiva da responsabilidade civil é fundamentalmente seguida pelo Código Civil brasileiro, baseando-se na existência da culpa por parte do agente, cabendo ao legislador especificar os casos em que se admite a obrigação reparatória independente de culpa.�
1.3.2 - A RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA
A responsabilidade objetiva é aquela na qual o agente causador tem o dever de reparação mesmo que não tenha agido dolosamente ou não haja configuração de culpa por parte do mesmo.
O causador de um dano deverá providenciar o ressarcimento desse dano por ele de alguma forma provocado, apesar de eventual isenção de culpa, pois a responsabilidade lhe é imposta por disposição de lei independentemente da ausência de culpa.
Nesse sentido manifesta-se a autora Maria Helena Diniz:
“O dever ressarcitório, estabelecido por lei, ocorre sempre que se positivar a autoria de um fato lesivo, sem necessidade de se indagar se contrariou ou não norma predeterminada, ou melhor, se houve ou não um erro de conduta. Com a apuração do dano, o ofensor ou seu proponente deverá indenizá-lo”.�
O elemento considerado chave para a teoria da responsabilidade objetiva é o risco, o risco do dano oriundo de uma atividade exercida pelo agente, economicamente benéfica a ele ou não.
Diante do anteriormente observado, nota-se que o aspecto que fundamenta a responsabilidade civil objetiva é a desvinculação da obrigação de reparar da presença de culpa.
Não há, em relação aos danos ambientais, a obrigação de provar a culpa do agente, mas sim fazer prova do nexo causal.
“É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.”�
Assim, ressalta também essa condição peculiar Francisco José Marques Sampaio:
“Para que ele (o agente) seja obrigado a recompor o patrimônio alheio lesado basta que, além dos demais pressupostos também exigidos na teoria da culpa – o ato ou fato danoso, o dano provocado e o liame de causalidade entre eles - , seja comprovado que o dano foi proveniente do risco criado por uma atividade de quem o causou.”�
Fundamento importante dos defensores da chamada teoria objetiva é o fato da mesma basear-se na socialização dos riscos e a preocupação de toda a sociedade em que as violações sofridas pelo ordenamento jurídico e os conseqüentes danos provocados ao patrimônio de terceiros, particulares ou entes públicos, sejam reparados no maior número de casos em que for possível.�
Sendo assim, aquele que desenvolve uma determinada atividade, lucrativa ou não, mesmo sendo lícita, deve zelar de todas as maneiras para que não resultem dela prejuízos ou desvantagens a outrem.
“A responsabilidade, fundada no risco, consiste, portanto, na obrigação de indenizar o dano produzido por atividade exercida no interesse do agente ou sob seu controle, sem que haja qualquer indagação sobre o comportamento do lesante, fixando-se no elemento objetivo, isto é, na relação de causalidade entre o dano e a conduta do seu causador.”�
Apesar da forma como a legislação brasileira aborda a responsabilidade civil ter sua fundamentação na idéia da culpa, existem diversas disposições expressas em contrário, sendo de maior importância para o estudo em questão, o caso da Lei n.º 6.983/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e seus fins, que em seu art. 14, parágrafo 1º, estabelece:
Parágrafo 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Torna-se, diante do exposto, necessário ressaltar que a responsabilidade objetiva em matéria ambiental funciona primordialmente na tentativa de equilibrar a agressão ao meio ambiente e sua correspondente reparação, procurando criar maiores possibilidades de que se reparem os danos eventualmente ocorridos. Tarefa bastante difícil, apesar das disposições da lei, e que certamente exige uma atuação rigorosa e efetiva de todos operadores jurídicos envolvidos no contexto da proteção ambiental.
Paulo Affonso Leme Machado faz referência a uma observação de José de Aguiar Dias, em sua obra Da responsabilidade civil, na qual este autor assim se pronuncia:
“Situação desejável é do equilíbrio, onde impere a conciliação entre os direitos do homem e seus deveres para com seus semelhantes. O conflito de interesses não é permanente, como quer fazer crer a doutrina extremista, mas ocasional. E quando ele ocorre, então, sem nenhuma dúvida, o que há de prevalecer é o interesse da coletividade”.�
Esse interesse da coletividade, no âmbito do Direito Ambiental, se traduz pela proteçãoao meio ambiente, como bem jurídico comum a todos, cujo dever de preservar é, também, de todos, devendo ser observados os princípios básicos referentes à questão ambiental.
OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA QUESTÃO AMBIENTAL, SEU DESENVOLVIMENTO E CRÍTICA
A questão ambiental, como assunto de preocupação da Comunidade Internacional, foi, nas últimas duas décadas, objeto de importantes manifestações na forma de declarações de princípios que, principalmente, visam traçar algumas linhas de ação no que se refere aos modos de atuação necessários à proteção do meio ambiente, ressaltando entre eles a importância da participação popular no processo como um todo, a necessidade de uma educação que contemple a causa do meio ambiente em todos os seus níveis, a prevenção como forma de diminuir os danos e evitar prejuízos irrecuperáveis e, ainda, a imputação ao poluidor da obrigação de reparar os danos que causar.
Começou a surgir dessa maneira o reconhecimento oficial e internacional da importância de que se revestiam discussões relacionadas à ecologia e à preservação do meio ambiente que, até então, estavam restritas a alguns países mais desenvolvidos.
A Declaração Internacional de Estocolmo, na Suécia, elaborada em 1972, resultado da I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, da qual participaram representantes de 113 países, é considerada um marco histórico político internacional decisivo para o surgimento de políticas de gerenciamento do ambiente�, estabeleceu 23 princípios internacionais de proteção ambiental, em época na qual a legislação brasileira apesar de já contar com o chamado Código de Águas, instituído pelo Decreto n.º 24.643, de 10 de julho de 1934, e o Código Florestal, Lei n.º 4.771, de 15 de setembro de 1965, ainda não atribuía em sua plenitude ao bem ambiental o caráter de interesse coletivo.
Em junho de 1985, o Conselho da Comunidade Européia aprovou e divulgou um conjunto de diretrizes objetivando o aperfeiçoamento da política de preservação do meio ambiente e da qualidade de vida especialmente na Europa, repercutindo evidentemente nos estudos realizados nos países dos demais continentes. 
Na Reunião Mundial das Associações de Direito do Meio Ambiente, realizada em 15 de novembro de 1990, na Universidade de Limoges, na França, aprovou-se uma Declaração de Recomendações, que leva o mesmo nome, abordando quinze conjuntos de recomendações para melhoria do meio ambiente em todo o mundo, entre as quais destacam-se as recomendações sobre a responsabilidade sem culpa por dano ambiental, que deve, segundo tal declaração, ser afirmado nos textos nacionais e internacionais como princípio geral, salvo no que concerne à responsabilidade penal.�
Menos de dois anos após a Declaração de Limoges, entre 3 e 14 de junho de 1992, realizou-se na cidade do Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, com a participação de representantes dos mais diversos países e organizações, na qual elaborou-se a Carta do Rio sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, cujos princípios mais importantes, entre os 27 proclamados, serão abordados a seguir, em conjunto com as orientações internacionais anteriormente referenciadas e a posteriormente realizada Convenção de Lugano, na Suíça.�
1.4.1 O DIREITO E O PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O princípio da educação ambiental surge como forma de possibilitar às populações o conhecimento necessário para que se possam implementar as mais diversas atividades e ações relacionadas à preservação do meio ambiente, inclusive a compreensão e adoção dos outros princípios estabelecidos.
A anteriormente citada Declaração de Estocolmo estabeleceu, com respeito à educação, que:
“É indispensável um trabalho de educação sobre as questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, com a finalidade de desenvolver as bases necessárias para esclarecer a opinião pública e dar aos indivíduos, empresas e coletividades o sentido de suas responsabilidades, relativamente à proteção humana e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana”.�
Nota-se no texto transcrito a presença de uma preocupação maior com as ditas “populações menos privilegiadas”, ponto no qual se pode estabelecer uma crítica baseada no fato de que as pessoas com maiores possibilidades de controlar e influenciar os processos de produção, os ocupantes de posições de comando dentro do contexto social, os legisladores em geral e, até mesmo, os tantos operadores do Direito, não são, de maneira alguma, considerados como aqueles.
O princípio da Educação Ambiental deve ser entendido em seu aspecto mais amplo, ou seja, o mais abrangente possível. Não há o porque restringi-lo a uma determinada faixa da população, do território ou qualquer outra diminuição de sua capacidade de atuar. 
Tal pensamento é assim manifestado pela Constituição Federal, que em seu artigo 225, parágrafo 1º , inciso IV, prevê como incumbência do Poder Público:
“Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
Por todos os níveis de ensino deve ser entendida a educação primária, secundária e, também , a educação superior, devendo ser estabelecidos os conteúdos mais adequados a cada grau de conhecimento, não excluindo-se do Poder Público a responsabilidade pela orientação e fiscalização do referido ensino nas escolas e colégios particulares.
Reveste-se de grande importância a inserção de tópicos relativos à prevenção de atividades e comportamentos poluidores, por menores que sejam, e estudos básicos de legislação ambiental nos meios acadêmicos em geral, e não apenas em uma minoria de cursos privilegiados com tal valorização curricular.
Manifesta grande preocupação com a situação brasileira o professor da Universidade de Brasília e autor de obras na área da Ecologia, Genebaldo Freire Dias:
“O Brasil não tem uma política educacional definida, muito menos uma política para a chamada Educação Ambiental. Imerso em dificuldades econômicas crônicas, e em exaustivas e infrutíferas discussões acadêmicas de cunho epistemológico sobre a natureza da educação ambiental, o Brasil viu os anos passarem, e ficou atrás na história. Confundiu-se o ensino da Ecologia com a prática da Educação Ambiental e produziu-se toda uma geração de materiais educativos absolutamente equivocados, a despeito de sua importância no contexto evolucionário”.�
Dentro desse contexto de valorização da educação ambiental, foi, em 27 de abril de 1999, sancionada a Lei federal n.º 9.795, que cria a Política Nacional de Educação Ambiental, a ser regulamentada em um prazo de noventa dias após a publicação.
A lei define princípios básicos da educação ambiental, como: o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; e o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. São definidos, ainda, objetivos fundamentais, entre eles, o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicopolíticos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
O advento desta recente lei, vêm, assim, propiciar uma nova preocupação ,desta feita, que realmente seja praticada uma política educacional efetiva no âmbito do meio ambiente.
Observe-se o que René David alerta em relação às necessidades da educação nos tempos atuais, do valor do direito comparado e das conseqüências de ações em outras partes do globo:
“A formação tradicional, nas faculdades de Direito dos diferentes países, exige atualmente uma complementação. (...) O mundo atual impõe, tanto aos políticos quanto aos economistas e aos juristas, uma nova visão dos problemas que lhes dizem respeito”.�
A questão da educação ambiental também abrangeas Ciências Jurídicas, ou seja, a necessidade de que todos os personagens que operam de alguma forma no campo do Direito, dominem os conceitos básicos e os princípios mais relevantes, tendo papel fundamental nessa empreitada a inclusão de disciplinas, de caráter obrigatório, relacionadas ao assunto em questão, possibilitando a obtenção, análise e discussão das noções elementares sobre o chamado Direito Ambiental, por parte dos futuros magistrados, membros do Ministério Público e advogados.
1.4.2 O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E O PAPEL DO PODER PÚBLICO
A prevenção é, sem dúvida, a solução que melhor se aplica a qualquer tipo de problema, qualquer que seja o assunto em tela. No que se refere a danos ambientais, essa observação ganha contornos ainda de maior importância, haja vista as dificuldades para atingir-se uma reparação integral dos eventuais danos, questão que será oportunamente tratada.
Ensina a respeito Hely Lopes Meirelles que:
“Melhor será, sempre, a ação preventiva, visto que há lesões irreparáveis “in specie”, como a derrubada ilegal de uma floresta nativa ou a destruição de um bem histórico, valioso pela sua origem e autenticidade”.�
A observação sobre a suscetibilidade limitada dos danos causados ao meio ambiente em relação à esperada reparação, enseja a inclusão, entre os princípios mais importantes dos enunciados na Declaração do Rio de Janeiro de 1992, do Princípio n.º 15, da Precaução, no qual observa-se:
“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.
O princípio da precaução, em sua aplicação, tem como um dos itens mais importantes o estudo prévio de impacto ambiental, cujo valor é inegável quando executado corretamente e com isenção.
O estudo prévio de impacto ambiental, como exemplo do reconhecimento legal da necessidade de antever conseqüências, tem previsão na Constituição Federal, cujo artigo 225, parágrafo 1º , inciso IV, preceitua como obrigação do Poder Público:
“Exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.
São as principais características do estudo prévio de impacto ambiental, segundo leciona Paulo Affonso Leme Machado: o estudo deve ser anterior à autorização da obra ou atividade; deve ser obrigatoriamente exigido pelo Poder Público; para a instalação da obra e para o funcionamento da atividade podem ser exigidos estudos distintos; e o estudo deve ser revestido de publicidade.�
As verificações e análises do estudo terminam por um juízo de valor, ou seja, uma avaliação favorável ou desfavorável ao projeto. Ressalta a doutrina que não se admite um estudo de impacto ambiental que se abstenha de emitir a avaliação do projeto verificado.�
No âmbito do Direito Ambiental, o princípio da prevenção dos danos, ou da precaução, pode ser considerado como um pilar básico para as ações que procuram tutelar o meio ambiente. Assim, deve-se buscar sempre o máximo de conscientização entre os integrantes da sociedade para alcançar-se a efetiva adoção das medidas preventivas legais e, também das não previstas em lei, como as que podem ser implementadas pela população em si, sendo também relacionadas às mencionadas na abordagem da questão da educação, com o fim de, inclusive, conduzir a uma eficaz participação popular.
1.4.3 A PARTICIPAÇÃO POPULAR COMO PRINCÍPIO
A participação popular é outro princípio estabelecido pela Declaração do Rio de Janeiro, revestindo-se de uma importância toda especial, no sentido de que a real participação popular tem a capacidade de reforçar decisivamente as ações implementadas pelo Estado, especialmente em países, regiões ou simplesmente cidades onde este mesmo Estado, através de seus representantes, não comporta-se, por diversas razões, da maneira mais eficiente.
O princípio em questão é o de n.º 10 da Carta do Rio de Janeiro, o qual menciona a relevância da participação popular e da ampla informação dos cidadãos em geral, nos seguintes termos:
“As questões ambientais são tratadas de forma mais adequada quando envolvem a participação de todos os cidadãos interessados no nível adequado. No âmbito nacional, cada habitante deve ter acesso às informações que digam respeito ao meio ambiente e exigir que sejam de conhecimento das autoridades públicas, inclusive as que digam respeito a material tóxico e perigoso, e atividades relacionadas a serem realizadas em suas comunidades; e à oportunidade de participar nos processos decisórios respectivos. Os Estados devem promover e encorajar o interesse e a participação da população através da mais ampla divulgação de informação”.�
O encorajamento e o incentivo da população para participar é, como pode verificar-se no disposto pelo referido princípio, uma obrigação do Estado, que deve buscar desenvolver na população a vontade e o interesse de participar em atividades direcionadas para a divulgação de informações e conhecimentos sobre prevenção e preservação do meio ambiente.
A partir dos movimentos ativistas da sociedade civil na América do Norte, durante a década de sessenta, movimentos sociais surgiram manifestando preocupações, especialmente com a questão nuclear. Desde aqueles tempos notou-se inequivocamente que a participação desses movimentos mostra-se de caráter primordial para a proteção da integridade do sistema global do meio ambiente e do desenvolvimento.
O princípio da participação popular também é visto sob o ponto de vista do direito à informação e à participação propriamente dita, sendo conhecido também por princípio democrático, por assegurar ao cidadão o direito pleno de participar na elaboração das políticas públicas ambientais.
Nesse processo é indispensável a participação das populações mais atingidas pela degradação ambiental, que devem exercer uma certa pressão política para que os governantes, em suas esferas, intensifiquem sua fiscalização sobre as diversas atividades poluidoras, para que seja o poluidor aquele que efetivamente pague pelo que provocou, como impõe um dos princípios mais importantes, a seguir apresentado.
1.4.4 O PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
O princípio chamado do “poluidor-pagador” é amplamente discutido, principalmente por suas importantes características e conseqüências, tendo sido introduzido no âmbito do Direito Ambiental brasileiro, juntamente com a responsabilidade civil objetiva, pela Lei n.º 6.938/81, que em seu artigo 14, parágrafo 1º , prevê:
“Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade”.
A supracitada lei, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, têm, segundo lê-se no artigo 4º, inciso VII, como um de seus objetivos a imposição ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar ou indenizar os danos causados e, ao usuário, impor uma contribuição pela utilização dos recursos ambientais com fins econômicos.
Torna-se relevante analisar o que dispõe a Constituição Federal de 1988 sobre o assunto, no artigo 225, parágrafos 2º e 3º, respectivamente:
“Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei”.
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
O poluidor é obrigado a corrigir ourecuperar o ambiente afetado, com os encargos resultantes dessa obrigação, sendo-lhe vedada a possibilidade de prosseguir na ação poluente. Para esse fim estabeleceu-se a exigência de um Plano de Recuperação da Área Degradada.�
A Declaração do Rio de Janeiro incluiu, entre seus 27 princípios, o de n.º 16, texto que, referindo-se ao “poluidor-pagador” estabelece:
“As autoridades nacionais devem se esforçar para garantir a internacionalização dos custos da proteção ambiental e o uso de instrumentos econômicos, levando em conta que o poluidor deve, em princípio, arcar com os custos da poluição provocada; e com observância dos interesses públicos, sem perturbar o comércio e o investimento internacionais”.
Não deve configurar-se, o princípio do “poluidor-pagador”, como uma pura e simples “compra do direito de poluir”, partindo do eventual fato do poluidor dispor-se a pagar pelos danos que provocou ou pelos recursos que utilizou, transformando-se em situação vantajosa àqueles que se beneficiam poluindo e degradando.
“O princípio poluidor-pagador não pode ser enxergado como criando um “direito de poluir”, desde que o poluidor se predisponha a pagar pelos recursos que utilizou ou danificou. Seu objetivo principal não é a reparação ou mesmo a repressão do dano ambiental. Estas, como se sabe, são fundamentalmente retrospectivas. Sua aplicação, ao contrário, deve ser uma alavanca efetiva de prevenção do dano ambiental, fazendo com que a atividade de preservação e conservação dos recursos ambientais seja mais barata que a da devastação. O dano ambiental não pode, em circunstância alguma, valer a pena para o poluidor”.�
Ainda, o princípio do poluidor-pagador pode ser, também, visto como uma imposição ao poluidor do dever de arcar com as despesas decorrentes das ações de prevenção, reparação e repressão da poluição, consequentemente sendo incluídos, dessa maneira, os custos de proteção ambiental em geral.
“O objetivo maior do princípio do poluidor-pagador é fazer com que os custos das medidas de proteção do meio ambiente - as externalidades ambientais - repercutam nos custos finais de produtos e serviços cuja produção esteja na origem da atividade poluidora”.�
Sem dúvida, também no que se refere à causa do meio ambiente, o fato de arcar de alguma forma com o prejuízo torna menos provável a aceitação de práticas nocivas à coletividade.
De posse de uma noção sucinta porém essencial dos conceitos básicos do Direito Ambiental, seu histórico e seus princípios mais destacados, já possibilitando visualizar algumas questões fundamentais, pode empreender-se o avanço para a abordagem dos danos ambientais e seu entorno propriamente ditos.
2. A RESPONSABILIDADE CIVIL E OS DANOS AMBIENTAIS
O objetivo principal do presente capítulo é relacionar, de modo mais específico e completo, o instituto da responsabilidade civil, como é colocado na legislação nacional, e seus pontos de maior interesse em relação aos danos ao patrimônio ambiental.
A responsabilidade civil pelos danos ambientais possui características próprias que são de clara relevância para o alcance do objetivo para o qual foi instituída. Tal relevância, assim como sua atualidade, fundam-se na situação de potencial perigo que corre todo e qualquer ambiente, freqüentemente exposto nos dias atuais ao perigo do dano ambiental.
No Brasil, a responsabilidade civil teve sua modalidade objetiva introduzida pelo Decreto n.º 79.347, de 28 de março de 1977, que promulgou a Convenção Internacional sobre Responsabilidade Civil por Danos Causados por Poluição por Óleo, realizada em 1969, fruto da preocupação mundial com os acidentes ocorridos com navios petroleiros. No mesmo ano de 1977, a Lei n.º 6.453, trouxe em seu artigo 4º, previsão sobre a responsabilidade de caráter objetivo por danos decorrentes de atividade nuclear, outra preocupação em evidência na época.
Como fundamento da responsabilidade civil objetiva está a atividade exercida pelo agente e o perigo que pode provocar à vida, à saúde e ao patrimônio de outrem. Dessa maneira, quem exerce atividade, ainda que lícita, capaz de causar perigo a terceiros responderá por tal risco, não sendo necessária por parte da vítima a prova da culpabilidade do referido agente. A atividade, ao ser perigosa, coloca sobre aquele que dela se beneficia, a obrigação de fazer com que dela não resultem prejuízos aos demais.
Como pode ser visto pelos sérios motivos que levaram à previsão da responsabilidade civil objetiva em lei, praticamente não há dúvidas atualmente quanto à sua necessária aplicação.
A seguir serão abordados determinados aspectos inerentes à responsabilidade civil objetiva no âmbito da legislação ambiental, como se fez sua instituição no ordenamento pátrio, a posição adotada por alguns dos principais doutrinadores brasileiros e, ainda, como se refere ao tema o chamado Direito comparado, principalmente nos países europeus e nos Estados Unidos, pela influência que normalmente exerce no cenário mundial.
2.1 A QUESTÃO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E SUA NECESSÁRIA APLICAÇÃO
Ao ver anteriormente os pontos principais da responsabilidade objetiva, não é difícil perceber a importância de que os causadores de danos ambientais realmente sejam obrigados a responder por eles, independentemente de terem agido com culpa ou não. Considera-se uma das mais importantes armas disponíveis na luta para evitar ou reparar os atos danosos ao meio ambiente, possibilitando que um número cada vez maior de situações possam ser devidamente reparadas.
Assim, se estabelece uma tentativa de evitar que ocorram casos de danos evidentes quanto à sua existência, porém, não reparados pela falta do requisito da culpa comprovada do agente.
“O grau de complexidade da vida moderna e a interdependência crescente entre as pessoas, mormente nos grandes conglomerados urbanos, a exploração de recursos naturais e os processos de agigantamento das atividades empresariais, a sempre crescente participação do Estado quer na economia, quer atuando com vistas ao atendimento das necessidades públicas, tudo isso, e outra dezena de fatores que poderiam ser enumerados, concorrem para a ampliação de situações onde pessoas eventualmente fossem lesadas, mas onde era impossível definir com precisão a culpa do agente causador do dano. Reconhecia-se a existência deste, reconhecia-se que alguém havia sido lesado, todavia permanecia a vítima indene pela impossibilidade de apontar com segurança o requisito da culpa do agente”.�
Apesar de todos os aspectos verificados a respeito da necessidade da aplicação da responsabilidade civil objetiva, impressiona o surgimento de controvérsias e discussões sobre a base do assunto, como a suscitada pelo veto presidencial ao Projeto de Lei n.º 1.164-E/91, referente à Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que em seu artigo 5º, continha disposição semelhante ao parágrafo 1º do artigo 14 da Lei n.º 6.938/81, reforçando este, expressamente, o caráter objetivo da responsabilidade civil por danos ambientais.� 
Em uma primeira análise poderia considerar-se que o referido veto estaria funcionando no sentido de afastar o regime da responsabilidade objetiva para os danos ao meio ambiente, tendo ocorrido inclusive a divulgação dessa idéia através de meios de comunicação nacionais, como menciona Francisco José Marques Sampaio que se manifesta contrário à idéia:
“Não encontramos fundamento razoável que sustente tal ponto de vista, porque a aposição do veto ao mencionado artigo, excluindo-o do texto da lei, de modo algum afeta a vigência da norma semelhante existente em lei anterior que dispõe sobre a matéria e que não foi revogada, expressa nem tacitamente, pela Lei 9.605/98”.�
Juntamente com o veto presidencial ao artigo 5º, deu-se também o veto ao artigo 1º do Projeto de Lei n.º 1.164-E/91, que estabelecia que condutas e atividades lesivas ao meio ambiente seriam punidas “com sanções administrativas, civis e penais, na forma estabelecida nesta Lei”, sendo que a ementa da Lei n.º9.605/98 não prevê disposição sobre sanções civis, somente administrativas e penais, ou seja, não trata o assunto completamente.
Assim, com a impossibilidade de considerar que a nova lei afasta as anteriores por supostamente englobar completamente o tema, permanecem os mandamentos dispostos na nova lei como normas complementares e compatíveis com o princípio da reparabilidade de danos ao meio ambiente e a terceiros, como estabelecido na Lei n.º 6.938, de 1981.
2.1.1 A INSTITUIÇÃO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
Como vimos anteriormente, a responsabilidade civil objetiva em matéria ambiental teve seu início com a preocupação oriunda das ações em maior evidência no final da década dos anos setenta, isto é, da poluição das águas por óleo e a contaminação nuclear, que culminaram com a aprovação do Decreto n.º 79.347/77 e da Lei n.º 6.453/77, sendo posteriormente estendida aos danos ambientais de qualquer natureza.
Para Antônio Herman Benjamin, a instituição da responsabilidade objetiva no âmbito da defesa do meio ambiente é decorrente da constatação da impossibilidade de alcançar, sem ela, esse objetivo de defesa e garantir um mínimo de proteção desejada. Essa é também uma tendência do direito estrangeiro. Segundo Benjamin, os princípios clássicos e tradicionais da responsabilidade civil nunca funcionaram adequadamente, como ele explica:
“Primeiro porque o dano ambiental, via de regra, é de natureza difusa, atingindo toda uma coletividade de pessoas. (. . .) Segundo, o regime jurídico da responsabilidade civil aquilina exigia a prova da culpa (imprudência, negligência ou imperícia) do poluidor, para, só então, aplicar o princípio poluidor-pagador. Apenas o dano culposamente causado era passível de indenização. E, como se sabe, provar que o violador agiu com culpa era quase sempre – para não dizer sempre – impossível”.�
Os dispositivos infraconstitucionais que se referem à questão dos danos ambientais e à responsabilidade civil objetiva são os artigos 4º , inciso VII, e 14, parágrafo 1º, da Lei n.º 6.938/81.
O artigo 4º , inciso VII, estabelece como um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente a imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Destes últimos, o que deve suscitar maiores discussões ainda, é inegavelmente a utilização dos recursos hídricos, considerando-se a escassez futura que se anuncia, caso o assunto continue sendo tratado, aparente e muito provavelmente, sem a seriedade que merece.
O artigo 14, em seu parágrafo único, contempla a responsabilidade objetiva em matéria de reparação de danos ambientais e de danos patrimoniais, por sua vez, decorrentes de danos ambientais, ao prever a obrigação do poluidor de reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade, havendo, ou não, culpa.
Segundo José Afonso da Silva e Sérgio Ferraz, a responsabilidade civil objetiva no campo do direito ambiental teve algumas conseqüências marcantes: a) a irrelevância da intenção danosa ( basta um simples prejuízo); b) a irrelevância da mensuração do subjetivismo (o importante é que, no nexo de causalidade, alguém que tenha participado, de alguma sorte, deve ser apanhado nas tramas da responsabilidade objetiva); c) a inversão do ônus da prova; d) a irrelevância da licitude da atividade; e, ainda, e) a atenuação do relevo do nexo causal.�
A respeito da responsabilidade objetiva no âmbito do direito ambiental, é, ainda, interessante proceder a uma sucinta verificação no posicionamento e nos ensinamentos básicos proporcionados pelos principais doutrinadores.
2.1.2 A POSIÇÃO DOS PRINCIPAIS DOUTRINADORES
Paralelamente aos dispositivos legais existentes a respeito do Direito, é interessante, para o seu aprimoramento e melhor compreensão, estudar as observações feitas e posicionamentos adotados por alguns dos autores, apesar de sucintamente, cujas obras têm valor reconhecido na doutrina pátria ou têm demonstrado maior interesse em abordar a questão da proteção ao meio ambiente e seus desdobramentos no campo jurídico.
Dentre os principais doutrinadores que trabalham o assunto em tela no presente capítulo, é possível destacar observações valiosas sobre a questão da responsabilidade objetiva como ferramenta do Direito no intuito de operacionalizar a defesa do meio ambiente, complementando-se certamente o conhecimento legal adquirido.
Édis Milaré conclui, em um de seus artigos sobre responsabilidade por danos ambientais, que:
“A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, independendo, portanto, de conduta culposa do agressor, circunstância que melhor atende aos anseios da comunidade no direito de fruir de um meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado” .�
Aquele autor ainda menciona que ao não perquirir da existência de culpa, melhor se tutela o bem-interesse que se quer preservar e faz pequena crítica à Lei n.º 6.938/81:
“O único reparo, em termos de esfera judicial do meio ambiente, que se pode fazer a essa lei foi o de concentrar a titularidade da ação exclusivamente nas mãos do Ministério Público, quando matéria de tamanha magnitude requer alargamento de atribuições, com a convocação de todas as forças vivas da Nação para essa verdadeira cruzada em defesa de nosso patrimônio ambiental”.�
Paulo Affonso Leme Machado, referindo-se a quem por ação ou omissão agride o meio ambiente, observa�:
“Mesmo na hipótese de o dano resultar de caso fortuito ou força maior, como um acontecimento da natureza, permanece ou sobrevive a responsabilidade do indigitado infrator, pois a simples “atividade” imporia o dever de indenizar”.
Ao empreender a leitura dos ensinamentos de Francisco José Marques Sampaio, nota-se a importância que este remete à responsabilidade objetiva, como instituto extremamente necessário aos objetivos comuns da sociedade e, ainda, a maneira como o autor defende sua permanência no âmbito do Direito Ambiental, sem o qual, certamente haveria um retrocesso com graves conseqüências.
José Afonso da Silva afirma, por sua vez, que a responsabilidade pelo dano ambiental existe mesmo que o poluidor exerça a sua atividade dentro dos padrões fixados, fato, porém, que não desobriga o agente de verificar se uma atividade é ou não prejudicial ou se está ou não causando danos, impondo um dever de permanente vigilância ao poluidor em potencial.
Exemplo dessa situação pode ser visto em acórdão anexo, no qual se verifica a irrelevância da aprovação da prefeitura municipal para o aterramento de área de mangue, ou seja, o poluidor não deixa de ser o responsável pelo dano.
2.1.3 A RELAÇÃO DA PROTEÇÃO AMBIENTAL COM A DEFESA DO CONSUMIDOR
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078, de 11 de setembro de 1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor, teve participação essencial no processo, ainda em estágio inicial, de conscientização da população quanto às suas condições de cidadania, sendo considerado, em virtude de seu caráter de atualidade, parte da chamada legislação de ponta.
A relação da proteção ambiental com a proteção e defesa do consumidor manifesta-se principalmente pela possibilidade de aproveitamento de princípios presentes no recente Direito do Consumidor pelo, de certa maneira também recente, Direito Ambiental.
O princípio da inversão do ônus da prova, presente no Código de Defesa do Consumidor é, em tese, aplicável aos casos de dano ambiental, por serem comuns em ambos os casos as razões que justificam tal inversão. O artigo 6º, inciso VIII, do referido código, prevê como um dos direitos básicos do consumidor:
“A facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência”.�
O artigo 28 da Lein.º 8.078/90, concedeu uma amplitude à teoria da desconsideração da personalidade jurídica, no que tange a danos causados aos consumidores, quando houver excesso de poder, infração à lei, fato ou ato ilícito, violação dos estatutos ou do contrato social ou, ainda, em casos de falência, insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração, que constitui importante precedente para que normas relativas a outras matérias também o façam.
Pode considerar-se, o dispositivo legal supracitado, como inspirador do texto do artigo 4º da Lei n.º 9.605/98, o qual dispõe que poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Na realidade, no projeto inicial o artigo era mais amplo e nos mesmos moldes daquele inserido no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, mas não foi aprovado pela Câmara dos Deputados, sendo aproveitado somente o disposto no parágrafo único do artigo 4º do projeto de Lei n.º 1.164-E/91.�
Controvérsia também surgiu em relação à influência do Código de Defesa do Consumidor, especificamente seu artigo 103, parágrafo 3º. Esse dispositivo trouxe às vítimas de danos pessoalmente sofridos, a possibilidade de beneficiar-se de sentença transitada em julgado com pedido procedente, realizado em ação civil pública. Dessa forma, ao já ter sido julgado e condenado o agente pelos danos causados a interesses difusos e coletivos, não necessitam os particulares propor novo processo de conhecimento para buscar a reparação de danos desta vez individuais que tenham origem no mesmo fato danoso.
Para alguns autores, o dispositivo apresentado veio a expor a diferenciação existente entre os danos ambientais propriamente ditos e suas conseqüências aos patrimônios particulares.
Em virtude do estabelecido pelo artigo 103, parágrafo 3º, discutem diversos autores sobre a aplicabilidade ao Direito Ambiental daquele pensamento, inclusive pelo que dispõe o artigo 117 do mesmo CDC, a seguir transcrito:
Art. 117. Acrescente-se à Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985, o seguinte dispositivo, renumerando-se os seguintes:
 “Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos e coletivos e individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei que institui o Código de Defesa do Consumidor”.
Note-se que o Título III, do referido Código é o que trata da defesa do consumidor em juízo e a lei n.º 7.347/85 é a que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Doutrina e jurisprudência não apresentam posicionamentos uniformes na interpretação de ter sido ampliado o rol dos interesses que podem ser objeto de ação civil pública, para nele incluir direitos individuais homogêneos de qualquer natureza; ou quanto a ter sido operada ampliação apenas para acrescentar direitos individuais homogêneos de pessoas na condição de consumidores. Em favor da ampliação, ou seja, da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor a todos os interesses difusos e coletivos, e ainda, criando uma ação coletiva, para a tutela do que denominou “interesses individuais homogêneos” (artigo 81, III), colocam-se Édis Milaré e Nelson Nery Júnior.� Em sentido contrário posiciona-se José dos Santos Carvalho Filho, que enfatiza que:
“Nos termos do artigo 21, só se aplicam as regras do Código do Consumidor no que for cabível, o que significa dizer que algumas normas poderão ser apropriadas para a tutela específica de interesses dos consumidores, mas não servirão como regras para a tutela genérica dos interesses difusos e coletivos, prevista na Lei n.º 7.347/85.”�
Pelo que se entende dos argumentos e posições de diversos autores, entre eles o último citado, parece ser de difícil absorção por parte destes a idéia do pensamento pró-ambiente na esfera jurídica, ao passo que facilmente se constrói um raciocínio restritivo quanto à defesa contra danos causados na esfera do meio ambiente.
Deve, ainda, ser evidenciado entre os pontos de inter-relacionamento observados, a previsão expressa da responsabilidade civil objetiva inserida nos artigos 12 a 14 do Código de Defesa do Consumidor.
 A EXISTÊNCIA DO PREJUÍZO
Um dos fatores fundamentais que devem ser comprovados para a configuração da responsabilidade civil por dano ambiental, assim como para os demais tipos de dano, é a existência certa de um prejuízo sofrido, ou seja, que haja algo a ser reparado, um comprovado prejuízo a ser reposto, um estado ou uma situação anterior a ser recomposta.
Assim, para referir-se à responsabilidade civil, faz-se necessário averiguar a existência de um dano que haja modificado, prejudicialmente, a situação que anteriormente existia.
“O interesse em restabelecer o equilíbrio econômico-jurídico alterado pelo dano é a causa geradora da responsabilidade civil”.�
Nas palavras de Caio Mário da Silva Pereira, sintetizando a necessidade da ocorrência de fato que provoque prejuízo para que se cogite responsabilidade civil, aquele autor observa:
“Não havendo prejuízo, não há responsabilidade civil”.�
O prejuízo a ser reparado deve ser de natureza grave e periódica,�podendo ser causado por um acontecimento único e de caráter acidental. Não devem ser considerados poluição ou serem investidas de anormalidade, ocorrências como ruídos momentâneos, odores passageiros ou excepcionais e outros em que não se manifesta uma destruição ou em que não seja exorbitada a capacidade de assimilação e de eliminação dos resíduos que porventura houver. O prejuízo deve ser uma anormalidade em relação à vítima, não sendo preciso que a atividade que o causou também o seja.
Em relação à normalidade dos resultados de uma determinada atividade, podem surgir dúvidas de até que ponto é normal e a partir de quando essa normalidade é transgredida. 
Para alguns autores, é aceitável um certo grau de prejuízo para as pessoas que vivem em determinado ambiente, desde que a atividade poluidora não esgote as possibilidades de vida e de trabalho naquele meio, apenas reduzindo-os a uma condição “menos agradável”, em relação ao que seria se não houvesse o foco gerador da poluição. Um destes, Giles Martin, bastante evidenciado nas obras de Paulo Affonso Leme Machado, refere-se à anormalidade da seguinte maneira:
“O limiar da anormalidade é, portanto, ultrapassado quando a utilização do meio ambiente o torna parcial ou totalmente impróprio a outros usos”.�
Quanto à comprovação de um dano ambiental futuro, ou seja, que pode configurar-se com o passar do tempo, far-se-á um estudo específico mais adiante no presente trabalho.
 A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
A relação de causalidade é um dos pontos principais que suscitam uma análise mais apurada quando se estudam os danos ambientais e sua respectiva responsabilidade. É necessário estabelecer uma relação nítida entre a ocorrência danosa verificada e sua fonte.
Deve estabelecer-se uma relação entre o comportamento do agente e o dano, para certificar que o dano decorre da conduta deste, mesmo que seja plenamente lícita.
“Se a vítima experimentar um dano, mas não se evidenciar que o mesmo resultou do comportamento ou da atitude do réu, o pedido de indenização, formulado por aquela, deverá ser julgado improcedente”.�
Esse pensamento, que norteia a teoria da responsabilidade civil, deve ser visto sempre no contexto da legislação ambiental, ou seja, levando em consideração, por exemplo, a inversão do ônus da prova, que é uma importante conseqüência da adoção da responsabilidade objetiva, através da qual pode-se partir da presunção de que o agente causou o prejuízo e, por isso, este deverá provar, no sentido de excluir sua responsabilidade.
No caso de que a atividade do agente seja potencialmente capaz de produzir efeitos danosos ao meio ambiente, deverá ser logo invertido o ônus daprova, produzindo-se imediatamente a presunção de responsabilidade quanto ao agente, a partir da qual o presumido poluidor procurará as provas que lhe excluam a responsabilidade.
A causa exata de um ou de vários danos simultâneos causados ao meio ambiente pode ser algo de difícil descoberta, inclusive havendo a possibilidade de pluralidade de autores, ou seja, vários focos poluidores, o que pode tornar muito mais trabalhoso o estabelecimento de uma relação de causalidade que possa indicar certamente aquele que deve ocupar-se da reparação correspondente.
“Para os autores citados, a força maior não é bastante para excluir a responsabilidade da pessoa demandada, a quem se atribui a obrigação de indenizar o dano, bastando para verificar sua responsabilidade a prova da relação de causa e efeito entre o prejuízo e a ação ou omissão da pessoa incriminada”.�
Desse modo, a relação de causalidade tem que ser comprovada, sendo incabível a reparação quando esta não o for, ou, no caso da inversão do ônus da prova, o agente comprovar que não deu causa ao dano.
Ainda no plano da conexão causal, o Prof. Andreas Joachim Krell, tem opinião peculiar a respeito do assunto, como pode-se concluir da recente observação:
“Qualquer dano ambiental provocado por um particular ensejaria automaticamente também a responsabilidade do órgão estatal competente, porque, se este tivesse atuado, certamente poderia ter evitado o dano. Isto levaria a uma responsabilidade total por danos ambientais, com a conseqüência desagradável que o Poder Público, numa boa parte dos processos, teria que indenizar pelo menos a metade do dano – com dinheiro do contribuinte”.�
Da observação feita pelo autor, é possível vislumbrar-se um problema futuro no âmbito da reparação ambiental, ou seja, a possível resistência do Poder Público em aceitar sua responsabilização pelos danos ocorridos em virtude da repercussão econômica dessa situação, como acontece atualmente com outras causas.
A opinião emitida por Andreas Joachim Krell não é comum entre autores brasileiros, fato que demonstra que a visão que se tem da questão pode variar bastante em decorrência de diversos fatores, como as situações nas quais se encontram os diferentes países ou regiões, sendo importante possuir uma noção do pensamento surgido além das fronteiras mais imediatas.
 O DIREITO COMPARADO
Afim de complementar o estudo objeto do presente capítulo, faz-se interessante realizar uma breve verificação quanto ao direito comparado, como forma de observar a maneira como outros países estabelecem seus preceitos legais referentes à proteção ambiental.
A forma como se apresenta o direito comparado pode ser vista e estudada a partir de duas questões básicas, decorrentes da posição que assumiu o respectivo legislador. A primeira refere-se à opção feita pela responsabilidade civil subjetiva ou objetiva. A segunda questão diz respeito à existência, ou não, de uma distinção estabelecida entre o dano ambiental de caráter basicamente extra-patrimonial e o dano individual, de natureza econômica.�
No direito francês, adotam-se dois regimes básicos em que se funda a responsabilidade civil por danos ambientais; um que prevê a responsabilidade por culpa, e outro, que trata da responsabilidade objetiva pelo fato das coisas.
Segundo Michel Prieur, o regime da responsabilidade por culpa raramente é aplicado em matéria ambiental, pois é necessária a comprovação de haver sido violada norma legal ou regulamento administrativo, por ação ou por omissão, imprudência ou negligência culposas.�
O regime de natureza objetiva, o da responsabilidade pelo fato da coisa, ou seja, do dever de cada um de cuidar das coisas que tem sob sua guarda, sofre ainda de certa hesitação dos julgadores, apesar de ser o mais adequado para a solução dos problemas ambientais.
Existem, ainda, outros diplomas legais e hipóteses no ordenamento jurídico francês, de maneira esparsa, como é o caso do Código de Aviação Civil, da lei que aborda a responsabilidade civil no âmbito da energia nuclear, de acordo com a teoria do risco, e ainda, a questão dos direitos de vizinhança, no qual as poluições e os incômodos são admissíveis em função do lugar e de suas condições, havendo, exemplificativamente, distinção entre danos em zonas industriais e em áreas residenciais.
Em Portugal, a Lei n.º 11/87, chamada Lei de Bases do Ambiente, que define as bases da política ambiental e, entre outros tópicos, refere-se à responsabilidade por danos ecológicos, estabelece a responsabilidade objetiva em seu artigo n.º 41:
“Responsabilidade Objectiva:
1 – Existe obrigação de indemnizar, independente de culpa, sempre que o agente tenha causado danos significativos no ambiente, em virtude de uma acção especialmente perigosa, muito embora com respeito do normativo aplicável.”
Nota-se que apesar de ser adotada a responsabilidade civil com base no risco pelo exercício de atividade, a legislação portuguesa não a coloca como princípio absoluto, sendo necessários determinados requisitos para a decretação da responsabilidade sem culpa, como a obrigação do dano ser significativo e ter resultado de atividade especialmente perigosa, diferentemente do que ocorre no Brasil, pois a Lei n.º 6.983/81 não faz esse tipo de referência. Imaginem-se as controvérsias que podem surgir em torno de conceitos como dano ambiental significativo e atividade especialmente perigosa.
Na legislação alemã, país largamente industrializado e que abrange a antiga Alemanha Oriental, seriamente afetada por problemas ambientais, evidencia-se um tratamento distinto ao que se observa nos ordenamentos brasileiro, francês e italiano entre outros, na esfera civil, pelo fato de não existir uma regra geral para a reparação de danos, nem mesmo a tipificação das infrações geradoras da obrigação de indenizar.
No caso dos danos ao meio ambiente há tratamento específico, principalmente pela Lei de Responsabilidade Ambiental, de 10 de dezembro de 1990, que em seu artigo 1º, prevê a responsabilidade civil na modalidade objetiva, direcionada para a reparação dos danos sofridos por pessoas em decorrência de agressões ao meio ambiente, mas não de danos ao meio ambiente propriamente ditos, munindo também o particular de meios para a defesa do meio ambiente, apesar de este fazê-lo, em princípio, por interesse patrimonial particular.
A reparação do dano ambiental nos Estados Unidos da América é parte de um sistema global de regulação do gerenciamento de materiais perigosos, sendo estes, aqueles que após sua utilização no chamado ciclo produtivo ou de consumo, tornam-se rejeitos sólidos.
Três princípios são fundamentais no direito ambiental norte-americano. A relevância atribuída à atuação da sociedade civil como permanente colaboradora da Administração Pública no fornecimento de informações referentes a dados ambientais; a outorga de amplos poderes a órgãos e agentes governamentais para licenciamento, fiscalização e requisição de informações; e a adoção da responsabilidade objetiva por danos ecológicos.�
A reparação do dano ambiental é realizada seguindo um determinado procedimento estabelecido na principal norma sobre responsabilidade por danos ambientais, o Comprehensive Environment Response, Compensation and Liability Act (CERCLA), também chamado Superfund, no qual a agência governamental de proteção ambiental (EPA) promove a despoluição e reparação ambiental com recursos do Superfund ou, dependendo da situação, realiza a despoluição, transporte e relocalização de depósitos de substâncias tóxicas ou perigosas. Em um segundo momento, aciona os agentes responsáveis para que estes reembolsem as despesas resultantes. Como vantagem observa-se o fato desse sistema reduzir o tempo no qual se obtêm a recuperação ambiental, tendo, todavia, como ponto negativo a possibilidade de haver utilização prévia de recursos públicos e não ser acompanhada do devido reembolso posterior correspondente.
 O POSICIONAMENTO JURISPRUDENCIAL
Paralelamente à análise

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