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Resenha do livro "Cidadania no Brasil", de José Murilo Carvalho

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CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Jhonatan Abrantes de Souza Camargos
RESENHA DO LIVRO “CIDADANIA NO BRASIL” DE JOSÉ MURILO DE CARVALHO
Profª Drª Igor Guedes – História do Brasil
LONDRINA
2017
Antes de começar a reconstrução histórica, são trazidos para reflexão importantes aspectos para se pensar a cidadania no Brasil, como a ditadura militar e seu jugo sobre a população brasileira. Mas a ênfase do texto é dada no desdobramento dessa palavra que entra no imaginário da população, e como ela se apresenta em cada período histórico, inclusive com a formação da constituição que tem como principal espectro, sendo constantemente referida como “constituição cidadã”. Tratando disso, o autor no contexto do livro não teria margens para imaginar os desdobramentos do cenário político atual no que diz respeito a opinião popular em relação à ditadura, destacando isso ao afirmar: "Não há indícios de que a descrença dos cidadãos tenha gerado saudosismo em relação ao governo militar..." isso se modificou e, com o atual avanço das forças reacionárias, parte do congresso e da população anseiam pela moral presente nesse período. Sendo esse avanço justificado justamente pelo motivo que o autor se refere, que é a falta de perspectivas em relação ao desenvolvimento político, econômico e social do país.
Mais adiante, são explicitadas as dimensões da cidadania, e é destacado o caráter utópico no que tange ao pleno gozo desses direitos, que seriam: civis, políticos e sociais. T. Marshall discorre sobre a conquista desses direitos na Inglaterra, de forma a estabelecer uma sequência que, não se resume a ser temporal, mas também lógica, sendo os direitos civis conquistados no século XVII responsáveis pelo processo de obtenção dos direitos políticos, formulando que quando se permite a organização e o direito de ir e vir, é questão de tempo para a conquista por parte da sociedade de integrar o governo e, quando isso ocorre, os trabalhadores podem se eleger, com isso buscam a conquista da justiça social. Nessa busca por justiça social, Marshall aponta a educação para todos como essencial para o desdobramento das conquistas, porém, esse modelo lógico da cidadania inglesa não compreende a realidade brasileira, sendo aqui os direitos sociais teoricamente saindo na frente e, isso responderia a diferença nas concepções de cidadania em cada país, fazendo do modelo do autor como um tipo ideal que, não necessariamente compreende retrocessos e desvios nesse percurso de conquistas, seu uso se restringindo assim para fins de comparação.
A cidadania está intimamente ligada às relações das pessoas com o Estado e a nação, os indivíduos precisam sentir-se parte destes para desenvolver essa noção. A identidade de nação se desenvolve de acordo com alguns aspectos, sendo o que mais influência esse processo de produção ideológica as guerras e inimigos em comum que um povo aglutinado em determinado território tem e, a lealdade ao Estado depende do grau de participação política que determinada população tem em seu governo. A partir dessas informações iniciais, José Murilo coloca o enfraquecimento do poder estatal ocasionado pela fusão dos Estados europeus em um Estado multinacional como questão para pensar as ressignificações da noção de cidadania na atualidade. 
O primeiro capítulo da reconstrução histórica tem enfoque no desenvolvimento da cidadania e, assim desvia das divisões clássicas englobando o Império e a primeira república (1822-1930) nesse momento. Sendo o único progresso significativo neste período a abolição da escravidão em 1888, que, teoricamente, incorporava os recém libertos aos direitos civis; essa incorporação é problemática e isso só pode ser evidenciado quando se observa algumas características da colonização portuguesa que impedem o avanço da cidadania, como o fato da produção no país, no período colonial, se apresentar concentrada na mão de obra escrava e isso refletia na totalidade social de modo que inclusive, quando adquiriam liberdade, os próprios recém libertos buscavam comprar escravos para fins de sustento; a partir dessa característica uma economia monocultora e latifundiária se apresenta na sociedade brasileira, sendo a escravidão a mão de obra mais lucrativa para Portugal, a economia se concentrava na produção de açúcar até o século XVI, depois foi sendo substituída pela mineração, num primeiro momento de aluvião e, até certo período por ouro e diamante.
A independência do Brasil significa um pequeno avanço nos direitos políticos, porém se demonstra limitada a concepção de cidadania, pois se manteve a escravidão apesar da pressão inglesa pela abolição. Essa independência não emanou da população, e sim partia das classes dominantes que, com apoio inglês, instituíram uma monarquia complementada pelas ideias liberais francesas do período pós-revolucionário. Justifica-se a escolha pela monarquia em detrimento à república devido aos conflitos nas recém libertadas colônias hispânicas. Essa constituição representava avanço em comparação com o período colonial e, inclusive era mais liberal quando se compara com a dos países europeus no mesmo momento histórico. Esta constituição que permaneceu até 1881 estabeleceu os três poderes tradicionais e criou um quarto chamado de Moderador, que garantia a participação do imperador, e sua principal característica seria a nomeação de ministros de Estado sem a necessidade de consulta ao legislativo, criando uma espécie de monarquia presidencial. A constituição também tratava de delimitar os que tinham direito de votar, na prática 50% da população masculina votava, o que representava 13% da população, sem contabilizar os escravos. 
A formulação defendida por José Murilo trata de questões como o tipo do cidadão que se apresentava para exercer a prática política, e aponta características como a ausência da educação básica no país e analfabetismo, consequentemente, boa parte desses indivíduos não conseguiam compreender a função do processo eleitoral, e eram tutelados de diversos modos, como por exemplo, a maior parte da população habitava a zona rural, e vivia sobre a influência e domínio dos grandes proprietários que, por sua vez, controlavam o voto dos que habitavam suas propriedades.
 O processo eleitoral era fraudulento, com diversos mecanismos criados ilegalmente para a manutenção do poder, sendo o momento da eleição um período violento em que as pessoas temiam sair nas ruas, havendo processos eleitorais onde se quer havia participação dos eleitores e, o processo todo era fraudado, nos documentos constando como pacifico e tudo ocorrendo dentro da legislação, chamavam esse tipo de acontecimento de eleições feitas "a bico de pena”; as eleições eram indiretas e, haviam 2 turnos, o primeiro os votantes elegiam os eleitores, estes no segundo turno votavam para deputados e senadores.
 O exercício do voto não fazia muito sentido também devido ao fato de não haver a noção de pertencimento a uma pátria, existia esse sentimento apenas em âmbito regional. Isso começa a mudar no contexto da guerra do Paraguai; trago a possibilidade de fazer um paralelo através do pensamento estruturalista de Levi ‘Strauss, onde se justifica concepção de ideias através de oposições linguísticas antagônicas e, ao se observar esse momento histórico, percebemos a formação da unidade nacional a partir do momento em que se tem um inimigo em comum, sendo composta a ideia do outro como o não "eu".
Com a alta participação popular nas urnas e a não resolução de problemas sociais, alguns políticos defendiam eleições diretas, e a restrição do voto por pessoas analfabetas, o que representa um retrocesso no que tange ao número de pessoas que votariam e, como já referido anteriormente, os desdobramentos políticos brasileiros não iam em direção do investimento em educação básica que possibilitaria a apreensão dos valores democráticos. Essa lei foi aprovada em 1881 e perdurou sem grandes alterações até 1930, e isso garantiu o controle político por parte daclasse burocrática que apoia essa lei devido as facilitações em manter seu eleitorado através das práticas fraudulentas, diminuindo o clientelismo.
 A oposição a essa lei argumentava com lucidez que quem na verdade não estava apto para o funcionamento da democracia era a classe que tutelava, fraudava os processos, e não a classe trabalhadora que vendia seu voto por coisas básicas (sapatos, refeições e etc.), pois essa classe majoritária nunca teve acesso à educação, sendo essa a única forma de desenvolver os princípios democráticos em conjunto com a prática obtida ao longo dos anos.
Ao tratar do desenvolvimento das democracias, F. Limongi traz a premissa apontada por Moore que aponta as reconstruções históricas de forma detalhada como desnecessárias para a compreensão desse tipo de regime político. Segundo o autor, a partir do momento em que se rompe com o feudalismo através de uma revolução burguesa, é questão de tempo para se atingir a democracia e, mesmo havendo tentativas de contenção posteriores a revolução, estas estariam fadadas ao fracasso. 
Esse tipo de análise se demonstra incapaz de trazer as questões particulares de cada país, como no caso do Brasil onde os retrocessos posteriores a lei Saraiva em que só se expande o direito ao voto para os analfabetos em 1985, todo esse período não teria relevância para se compreender os desdobramentos históricos do país? Por isso, Marshall substitui Moore ao colocar como eixo temático o desenvolvimento da cidadania, se esse novo modelo já apresenta dificuldades de abranger as realidades particulares, o anterior se demonstra com mais brechas ainda.
Após esses apontamentos históricos, o autor volta a tocar nas influências negativas deixadas pela escravidão e a grande propriedade. O fim do tráfico de escravos teve uma lei promulgada em 1831 devido a pressão inglesa, mas esta lei não teve fins práticos e, acabou que, antes da votação houve aumento na importação, para depois diminuir provisoriamente, posteriormente voltando ao seu funcionamento normal; só diminuído o tráfico de escravos de forma massiva em 1850, momento em que se renovaria o acordo econômico com a Inglaterra, o governo inglês manda sua Marinha para afundar embarcações suspeitas de tráfico. Após essa abolição, o assunto só volta a ser tratado pós-guerra do Paraguai. Tratado posteriormente somente devido a percepção dessa condição como impedimento para formação da unidade nacional e a criação de um exército, pois havia uma dicotomia entre os a baixo da lei e os que está compreendia, sendo essas partes naturalmente inimigas.
No que tange a grande propriedade, essa sequela permaneceu até os dias de hoje. Com o fim da escravidão, os ex escravos sem nenhum tipo de política pública em seu favor, os que não se proletarizam nas industrias ou comércio, voltam massivamente para as grandes propriedades vendendo seu trabalho por um preço mínimo; principalmente nas fazendas de café que se tornou o produto mais exportado em pouco tempo. 
A primeira República apresenta características de oligarquias políticas, com o controle econômico exercido principalmente pelos estados de São Paulo e Minas Gerais com a produção de café, sendo esse ciclo rompido pela crise econômica de superprodução, que pode ser atribuída como responsável pelo fim desse período político. O avanço da urbanização/industrialização, fenômeno que havia começado a décadas na Europa, começava a se apresentar no território brasileiro, principalmente nas grandes cidades.
Essa ascensão é observada pelo autor a partir de 1920, onde são destacadas certas influencias e características diversas da vida dos trabalhadores, variando o envolvimento político principalmente devido ao vinculo ou não com o Estado. Os operários envolvidos com obras governamentais mantinham, geralmente, relações harmônicas com o Estado, votando nas eleições e, inclusive eram controlados no que diz respeito ao voto; já os que trabalhavam para empresas privadas detinham maior independência política e, por vezes eram mais organizados no sentido de ação combativa, por exemplo, com fortes influenciais anarquistas, o operariado da construção civil e industrial puxou greves no período final da primeira guerra mundial. 
Haviam obstáculos internos e externos para o movimento operário, como parte dos trabalhadores que não se importavam com as mobilizações e, posteriormente, em 1922 ex anarquistas fundaram o Partido Comunista do Brasil, a oposição as organizações também partia do Estado, a cidadania passou a ser negada para os anarquistas, sendo criada leis para expulsão de estrangeiros que fossem acusados de serem adeptos. Esses movimentos fizeram pequenos, mas importantes avanços por direitos da cidadania como um todo, tendo avanços no campo civil e social, mas isso não se estende aos direitos políticos devido ao antagonismo de posicionamentos existente em relação ao estado, de um lado “amarelos”, do outro, anarquistas, e entre estes os socialistas que foram os que menos tiveram êxito. 
Esse antagonismo de posicionamentos tinham adesão de forma mais expressiva pelos dois primeiros grupos anteriormente citados, com os “amarelos” defendendo a cooperação com o Estado enquanto os anarquistas negavam qualquer tipo de relação política institucionalizada, afirmando inclusive que os partidos políticos, o Congresso e até mesmo a ideia de pátria estavam a serviço da ordem burguesa e, entre estes se situavam os socialistas que julgavam ser possível avançar nos interesses classistas através da luta política; sendo que em nenhum desses casos se criou condições para forjar a cidadania política, tendo a influência dos “amarelos” permanecendo nas relações com as forças estatais. O autor se referência a isso como “estadania”.
Alguns avanços conquistados devem ser destacados, como o direito a formação de sindicatos, tanto rurais como urbanos, a conquista de responsabilizar os patrões por acidentes de trabalho. Consolidadas principalmente na década de 1920, esse embrião de assistência social se difundia apenas nas cidades, no meio rural a assistência se concentrava nas mãos do Coronel, relação que já foi discutida anteriormente.
O autor aponta um levantamento feito por um deputado em 1925 que explicita, com ajuda do censo sobre alfabetização, que a população brasileira não se demonstrava apta a agir politicamente e se articular no sentido de mobilizações em prol de avanços nos campos da cidadania, mas afirma a necessidade de ponderar isso com os movimentos, abolicionistas por exemplo, que indicavam a faísca de uma cidadania ativa e que as afirmações desse deputado restringiam cidadania estritamente no sentido formal da palavra. Colocando assim, outras formas de mobilização que ocorreram entre momentos de grande relevância que não houveram participação popular, como a revolta da vacina ou o movimento de Canudos.
Essas mobilizações demonstram claramente a compreensão por parte da população considerada apática a política noções de cidadania e Estado, de onde o Estado pode ou não interferir, sendo aceito sempre que não violasse seus valores, principalmente religiosos.
O ponto onde o Estado passa de fato a se desdobrar por medidas em prol da população trabalhadora é na queda da primeira república, onde uma aliança civil-militar destitui o governo devido a sua insatisfação com o cenário político oligárquico. Medidas tomadas no período de transição chefiado por Vargas passam a de fato fazer a diferença no cotidiano das pessoas com medidas como regulamentação das relações de trabalho que, apesar de serem travadas por problemas de administração e financeiros, significavam que os direitos sociais estavam em plena ascensão. 
Nesse período, os direitos políticos se desdobraram de forma incerta, havendo vitórias (voto feminino) e retrocessos onde se alternavam entre ditadura e democracia; os direitos civis permaneceram estagnados na prática. Ressalto que o período entre 1930 e 1945 (Estado Novo) seria o momento histórico onde os “direitos sociais” recebiam maior ênfase, mas isso não quer dizer queessas conquistas foram democráticas, constatando um tipo de política que não envolve o desenvolvimento da cidadania e da prática política, com constante repressão e precariedade nos direitos civis, não tendo ocorrido somente no Brasil, essa atuação política atingiu boa parte da América Latina, sendo referida por populismo, que era representada nesse momento histórico por Getúlio Vargas, havia herdado as tradições positivistas de resolução dos problemas sociais.
O autor traz que é problemático tratar dessas conquistas como direitos, pois se apresentavam como privilégio, já que a maior parte dos trabalhadores nesse momento eram rurais, e esses direitos não compreendiam nem essa categoria, nem trabalhadores autônomos/domésticos. Assim, apresentando-se problemática a generalização que se abrange utilizando este conceito.
Após 1945, se dá início o primeiro período democrático da história do Brasil, isso se apresenta tanto no aumento da participação popular nas organizações políticas, quanto no aumento de votantes, ultrapassando o censo de 1872 com 13,75% da população votando. Com a criação de partidos trabalhistas por Vargas após o fim do Estado Novo, que em poucos anos se expandem de maneira relevante, pela primeira vez havia uma frente trabalhista que se elegia democraticamente e combatia os partidos tradicionais com medidas nacionalistas.
O avanço na urbanização também representa a diminuição das práticas de cabresto e clientelismo, devido aos coronéis continuarem com as práticas de coerção no ambiente rural, estes também demorando muito mais para se organizarem em sindicatos. O autor comenta sobre os eleitores das cidades estarem vulneráveis ao populismo, que é outro tipo de controle que é resultado de apelos paternalistas e carismáticos em conjunto com medidas populares, podendo se considerar isto como um avanço ao período anterior de controle por meio da violência.
Porém esse período de avançados é travado pelo avanço das tropas militares sobre o sucessor legal ao cargo de presidente, João Goulart. Deve-se prestar atenção em certos aspectos para compreensão do golpe, dado que a população se apresentava disposta a trilhar o caminho democrático: com a polarização de grupos, a guinada de Goulart a esquerda com pautas como a reforma agrária levava os grandes proprietários a sentirem-se ameaçados a insurreições como as que houveram na URSS e em Cuba; a direita atacava os representantes populistas, recebia patrocínio norte-americano para barrar o suposto avanço do comunismo e acreditava que o país não deveria sair das mãos de sua elite esclarecida.
É apontado por José Murilo que nenhum dos dois espectros era atraído pela democracia, chega-se a um ponto na polarização em que o Congresso não era mais um meio de se resolver os conflitos, assim que o descontentamento com o presidente por parte da antiga oligarquia que ainda detinha força se junta com as acusações de comunismo, e a falta de representações civis que fossem devidamente ligadas com o sistema representativo resultam no processo de golpe militar.
Os retrocessos políticos e civis que ocorrem nesse período devem ser destacados, os Atos Institucionais que marcam o período são medidas que fortaleciam os poderes do presidente, inclusive em certa fase do regime conseguindo fechar o congresso. Cessou-se a liberdade de imprensa e de reunião de civis; jornais, rádios e televisões tiveram de conviver com a censura do regime, órgãos estudantis e sindicais sofreram forte repressão; parte da esquerda passava a atuar na marginalidade através de táticas de guerrilha urbana e rural, sendo a única forma de resistência na legalidade a associação a Igreja Católica que já havia guinado no período getulista à esquerda, instituição que era menos afetada pelo regime devido a sua alta influência.
Sobre o regime militar, o direito ao voto não foi cessado, porém candidatos mais opositores a hegemonia eram cassados, e sempre que havia possibilidade da maioria no congresso ser oposição, alguma manobra política era realizada. 
No período de maior repressão (Médici) se alegava o milagre econômico em que o ditador se apoiava, gozando de apoio popular ao se apoiar nessa estatística, gerando uma onda de nacionalismo xenofóbico e autoritário no país. Esse apoio provinha principalmente da reforma social que Getulio e J. Goulart não conseguiram concretizar, a unificação do sistema previdenciário abrangendo os trabalhadores rurais, autônomos e domésticos, o enfraquecimento das organizações sindicais e, principalmente o distanciamento da proposta da reforma agrária sustentaram o apoio generalizado ao regime.
O milagre econômico é facilmente refutável ao se analisar o crescimento da desigualdade no país, a distribuição de renda se polarizava de modo que os mais pobres decresceram no aspecto econômico, enquanto os mais ricos nunca estiveram em situação parecida de ascensão nos regimes anteriores. Analisamos assim, avanços sociais em detrimento de restrição política e 
O período de abertura é iniciado por Geisel, e seria ingenuidade afirmar que isso partia simplesmente por parte do novo governante, mas um fator relevante como o pertencimento do militar ao grupo de liberais conservadores não deve se deixar de levar em conta. Porém, o que provavelmente forçou a abertura democrática foi o aumento do preço do petróleo promovido pelos países produtores; sendo que 80% do consumo brasileiro provinha de importações, aproveitar o momento onde se poderia fazer a redemocratização como uma nova forma de enfrentar a crise que estaria por vir, antes dos contados anos do “milagre” chegassem ao fim. O desvio de função dos militares também é algo a ser pensado, muitos deixaram de ocupar seus postos para ocupar cargos administrativos e políticos, e principalmente a formação do aparelho repressivo criava certa insubordinação dentro da corporação, com um grupo desviando-se e colocando a hierarquia em cheque.
O surgimento do novo movimento sindical, e do PT significam a guinada da resistência, a partir de 1974 com a volta do sistema multipartidário se deu a renovação e a ascensão dos movimentos de oposição à ditadura. Se opunha aos pelegos e ao sindicalismo do Estado Novo, propunha uma organização unilateral e com apoio das bases, se distanciando das cúpulas de controle que até então eram hegemônicas. Com esse avanço da abertura, foram feitas campanhas populares para eleições diretas para presidente em 1985, que acabou não conseguindo ser aprovada no Congresso; mas uma conquista foi a pressão popular para eleição de Tancredo Neves pelas eleições indiretas.
O período que se sucede, apesar da morte do presidente eleito, se dá de forma a gerar um misto entre incerteza e esperança para o brasileiro, esperança oriunda dos importantes avanços e ampla consulta em que se fundou a nova constituinte de 1988. Se demonstra a crescente participação política no Brasil com a eleição de Collor, que quando ocorre as denúncias de corrupção a pressão popular possibilita o impeachment do ex presidente.

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