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CEZAR BECCARIA - RESUMO

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CEZAR BECCARIA
APRESENTAÇÃO
O livro Dos Delitos e das Penas é o manifesto do autor contra o sistema criminal de sua época (Séc. XVIII - viveu o movimento filosófico e humanitário ao qual pertencem os tão conhecidos autores: Voltaire, Rousseau, Montesquieu e outros) a fim de que a sociedade, através de mudanças, contasse com instituições melhores e que fossem criadas novas leis. Estas deveriam visar somente uma finalidade: “promover todo o bem-estar possível para a maioria.”
Tendo em vista que as penas, antigamente, constituíam uma espécie de vingança coletiva, era muito comum ocorrer a aplicação de punições com consequências muito mais severas que o delito praticado, portanto, o autor critica a severidade das penas, remontando desde sua origem até a sua eficácia na aplicação.
Esclarece, ainda, as injustiças na legislação, e sobre a importância da entidade FAMÍLIA para a prevenção de grandes delitos, inclusive, cita no capítulo XLI (DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES) que:
"É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo."
INTRODUÇÃO
Beccaria inicia seu livro propondo uma divisão igualitária das vantagens entre todos os membros da sociedade, tendo em vista que o que realmente ocorre é o oposto. Esclarece a importância da elaboração de boas leis e afirma que a função destas e da ordem é a de evitar injustiças e abusos dentro da sociedade, visando “proporcionar todo o bem-estar possível para a maioria.”
ORIGEM DAS PENAS E DIREITO DE PUNIR
Para encontrar os princípios fundamentais do direito de punir (que devem ser baseados na moral política) deve-se apenas consultar o coração humano.
Baseia-se na Teoria do Contrato Social para explicar que os primeiros homens se viram forçados a se unificarem para garantir sua sobrevivência, abrindo mão de parte da sua liberdade para que o resto dela fosse protegido. Portanto, pode-se dizer que o que uniu os homens, primeiramente, foram as leis. 
Fundamento do direito de punir: baseia-se no conjunto de todas essas pequenas porções de liberdade, vez que todo poder que se afasta desse princípio pode ser considerado como injustiça, inclusive por não ser um poder legítimo. 
CONSEQUÊNCIAS DESSES PRINCÍPIOS
A fixação das penas de cada delito deve estar expressa em lei anterior (para não incorrer em nenhuma injustiça). Deixando claro que somente o legislador tinha o poder de fazê-las. 
Ao soberano cabe somente fazer leis gerais aos quais todos devem submeter-se e, não está em seu poder, julgar quem as violou. 
Nasce a necessidade de um mediador que será o MAGISTRADO!
DA INTERPRETAÇÃO DAS LEIS
Legítimo intérprete das leis é o SOBERANO e não o juiz, cujo dever consiste em somente examinar o caso e decidir se o julgado praticou o delito ou não. 
Os magistrados não devem interpretar as leis penais.O papel da imprensa e a redução dos crimes!
DA OBSCURIDADE DAS LEIS
Ressalta-se o grande papel da imprensa na propagação do código sagrado das leis e que a ela devemos a diminuição dos crimes que assombravam aquela época.
DA PRISÃO
Somente as leis podem determinar as situações nas quais os culpados devem ir para as prisões como forma de castigo. Estás devem prever expressamente quais são os indícios de delitos que permitem a um acusado ser submetido a interrogatório.
DOS INDÍCIOS DO DELITO E DA FORMA DOS JULGAMENTOS
Indícios que merecem pouca importância: apoiam-se em somente uma única prova concreta, pois, se derrubada tal prova, leva-se consigo todos os outros supostos indícios. 
Quando se trata de provas independentes entre si, deve-se dar mais atenção a elas visto que:
“quanto mais numerosos forem esses indícios, tanto mais provável será o delito.”
DAS TESTEMUNHAS
Ressalta a importância das testemunhas para a resolução do caso, porém, alega que é importante que toda legislação saiba o grau de importância que deve ser dado a respectiva testemunha tendo em vista o interesse que esta pessoa possui em dizer ou não a verdade.
NÃO ERA ADMITIDO COMO TESTEMUNHA:
Condenados;
 Mulheres; e 
Pessoas com nota de infâmia.
DAS ACUSAÇÕES SECRETAS
Faz uma crítica as acusações secretas, alegando que esta faz os homens “falsos e pérfidos” e é fruto de uma fraca constituição. Alega, ainda, que não há possibilidade de defesa da calúnia quando se trata de uma acusação sigilosa. 
DOS INTERROGATÓRIOS SUGESTIVOS
O que são interrogatórios sugestivos? São as perguntas que se fazem acerca da espécie e não do gênero das circunstâncias do delito, pois o juiz que interroga “só deve ir ao fato indiretamente, e nunca em linha reta”.
DOS JURAMENTOS
É contraditório exigir do acusado que faça um juramento alegando dizer a verdade sendo que é natural que este homem não tenha interesse algum em fazê-lo.
DA QUESTÃO OU TORTURA
DELITO CERTO: a tortura é inútil visto que não há necessidade de o acusado confessar o crime. 
DELITO INCERTO: é legal “apelar” para a tortura, mesmo que moralmente desprezada. 
O autor se posiciona contra tais castigos alegando que é inaceitável exigir que um homem acuse si mesmo, ainda mais sob tormentos físicos, como se fosse a única maneira de se conseguir a verdade.
É verdade que em muitos casos existe a possibilidade de um inocente alegar que é culpado somente para que se cessem tais tormentos, e em outras vezes, poderá o culpado aguentar tais dores para ser inocentado. 
DA DURAÇÃO DO PROCESSO E DA PRESCRIÇÃO
Quando uma sentença define que o delito foi cometido e as provas são concretas, o acusado deve obter um tempo para a defesa e o contraditório. Cabe somente as leis fixarem este espaço de tempo conferido ao acusado.
DOS CRIMES COMEÇADOS; DOS CÚMPLICES; DA IMPUNIDADE
Ressalta a importância de se punir a intencionalidade do agente de cometer um crime, mesmo que tendo este não sido aplicado (em sua proporção). Tal medida é necessária devido a importância em prevenir os delitos e não somente em puni-los depois de consumados. 
DA MODERAÇÃO DAS PENAS
Para que as penas inspirem medo e sejam eficazes para o fim ao qual se destinam, é necessário que sejam proporcionais aos delitos e também que o rigor das penas deve ser relativo ao estado atual da sociedade na qual o culpado reside. 
Crueldade: conhecida como desvio de finalidade principal das penas (castigar o culpado e prevenir futuros crimes). Pois, estes ultrapassam os limites e, muitas vezes, levam a tirania.
DA PENA DE MORTE
A FAVOR DA PENA DE MORTE: somente em uma sociedade que possui um governo bem organizado, afirmando que esta é útil e justa. 
CONTRA A PENA DE MORTE: em uma sociedade dita como “normal” a pena de morte seria considerada prejudicial ao exercício da aplicação das leis. 
ATENÇÃO! Defende, ainda, a ideia de que a privação da liberdade de um ser humano é muito mais eficaz (a fim de prevenção) do que simplesmente aplicar uma pena de grande impacto.
A sociedade pugna pela justiça contra os homicídios, portanto, é uma controvérsia a aplicação da pena de morte em uma sociedade na qual é odiosa a ideia de morte. Para Beccaria, a sociedade não aprova tal pena violenta e passageira. Este diz que para uma lei ser justa ela deve ter um grau elevado de rigor para desviar os outros homens dos crimes e não promover uma solução paliativa para o delito.
DO BANIMENTO E DAS CONFISCAÇÕES
Deve ser banido aquele que perturba a tranquilidade pública, desobedecendo às leis as quais todos os cidadãos estão comprometidos, ou seja, aqueles que comprometem a ordem do Estado. O banimento pode ser acompanhado de confiscação de bens ou não.
Por ser uma pena pior que o banimento, deve ocorrer em casos previstos em leis, nos quais o culpado deve ser desligado da sociedade da qual fazia parte e assim, ocorrerá sua “morte natural e política".
DA INFÂMIA
A desonra, além de abalar a confiança que a sociedade tinha naquele indivíduo específico, é sinal de improbração pública. Seus efeitos dependem da moral e da opinião pública.
DA PUBLICIDADE E DA PRESTEZA DAS PENAS
Uma pena será útil e justa quanto mais pronta for estae mais de perto seguir o delito. A presteza do julgamento é essencial, pois, Beccaria afirma que o cidadão deve ficar detido somente o tempo necessário para que ocorra o processo, vez que, a partir do momento que o homem decidiu se sujeitar a um Estado era para que sofresse os menores males possíveis.
QUE O CASTIGO DEVE SER INEVITÁVEL - DAS GRAÇAS
O que evita os crimes não é a severidade da pena e sim a sua aplicação obrigatória (caráter coercitivo do Estado e do ordenamento jurídico). Para afastar a ideia de impunidade, é necessária a perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável. 
DOS ASILOS
Para Beccaria, os criminosos devem ser julgados nos países em que cometeram o crime, pois, não é justo um indivíduo ser condenado sobre as leis de outro país. O autor entendia também, que não se deveria conceder asilo aos criminosos, pois isso geraria um sentimento de impunidade nos cidadãos.
DO USO DE PÔR A CABEÇA A PRÊMIO
Além de ser um mal que incentiva a prática de outros delitos, revela também a fraqueza da nação perante sua ordem. 
QUE AS PENAS DEVEM SER PROPORCIONADAS AOS DELITOS
Beccaria propõe uma proporção entre os delitos e as penas onde a sanção deve ser correspondente a infração, isto é, quanto mais o crime for contrário ao bem público e funesto a sociedade, mais severamente deverá ser punido, a fim de que a ocorrência de tais crimes seja mais rara.
O legislador é o responsável por estabelecer tal proporção na distribuição das penas para que não ocorram injustiças.
DA MEDIDA DOS DELITOS
O autor afirma que a grandeza do crime não depende da intenção de quem o comete indicando que a aceitação dessa teoria levaria a necessidade da criação de uma lei para cada cidadão.
Outros magistrados defendem a ideia de que a dignidade da pessoa ofendida deve ser o ponto de partida para medir a gravidade do delito.
CONCLUSÃO: A verdadeira medida dos crimes é o grau de dano causado á sociedade.
DIVISÃO DOS DELITOS
Qualquer crime que atentar contra a sociedade ou aos que ela representa será considerado ato criminoso. Os delitos podem, ainda, atentarem contra os cidadãos e outros atentarem contra o que a lei prescreve. Os atos que não se encaixarem nessas classes não são considerados como delitos.
Para que haja uma convivência harmônica entre o direito e a moral, os cidadãos devem estar cientes de que podem fazer tudo aquilo que não está proibido em lei.
DOS CRIMES DE LESA-MAJESTADE
São classificados como grandes crimes, pois atentam contra a sociedade.
O QUE SÃO ESSES CRIMES? São os crimes de traição contra a sua majestade, Estado ou representante. Onde os culpados, em sua maioria, eram punidos com execução pública por meio de tortura onde seus bens se tornariam propriedade da Coroa e sua família condenada á infâmia. 
Aplicavam-se ás faltas leves as penas mais severas, o que feriu, claramente, o princípio da proporcionalidade das penas.
DOS ATENTADOS CONTRA A SEGURANÇA DOS PARTICULARES E, PRINCIPALMENTE, DAS VIOLÊNCIAS
O autor afirma que mesmo que a desigualdade seja inevitável na vida em sociedade, a igualdade civil antecede qualquer privilégio, portanto todas as penas devem ser igualmente aplicadas tanto aos pobres quanto aos nobres para que estas sejam legítimas.
Os crimes contra a vida, além de serem considerados como grandes delitos, devem ser punidos com penas corporais, ou seja, com a tortura.
DAS INJÚRIAS
A infâmia deve ser a maneira de se punir as injúrias pessoais que atingem a honra. Beccaria faz uma retomada dos tempos antigos para explicar a questão da honra, que por sua vez, ainda é mal abordada.
Pode-se constatar que seja no estado de liberdade extrema ou no de liberdade limitada as ideias de honra se confundem ou mesmo desaparecem com outras ideias.
A honra deve ser uma garantia protegida pelo Direito, de forma a preservar a imagem de cada cidadão perante outro, com determinação de reparação de dano quando é ferida.
DOS DUELOS
ORIGEM: estritamente ligada á defesa pessoal da honra e à uma sociedade na qual prevalece a desordem de um ordenamento ruim.
Segundo o autor, a única maneira para evitar o surgimento de duelos é a punição severa do agressor e inocentar aquele que defendeu a própria honra.
DO ROUBO
Beccaria defende que só se deve ser punido com uma pena pecuniária o roubo realizado sem uso de qualquer violência. 
A pena mais “justa” para o roubo será a “escravidão” temporária para que fique bem claro para o culpado o dano que causou a sociedade e o transtorno que a violação do pacto social pode causar.
Já se tratando do roubo acompanhado de violência, é “justo” acrescentar a servidão as penas físicas.
DO CONTRABANDO
Apesar de o contrabando (emanado pelas próprias leis) ofender não somente o soberano, mas também a nação, sua pena não deve ser grave porque a opinião pública não presta nenhuma infâmia a essa espécie de delito.
DAS FALÊNCIAS
Beccaria faz uma distinção entre o falido de boa fé e o falido de má fé, deixando clara a sua posição perante a penalidade, sendo esta: o falido de má fé deve ser severamente punido, já o falido de boa fé deve ser tratado com menor rigor (porém não será imune a qualquer pena), pois pode ser que a fortuna não estivesse do seu lado.
DOS DELITOS QUE PERTURBAM A TRANQUILIDADE PÚBLICA
O autor apresenta esses delitos como a terceira espécie de delitos analisados. O vandalismo e a desordem prejudicam a tranquilidade e harmonia social, portanto, devem sofrer punições os que praticarem. 
Para que se previna tal desordem, é necessária uma vigilância ostensiva, isto é, uma vigilância rígida, contínua e feita "de perto ". É necessária também a criação de leis de silêncio, de ordem, entre outras.
DA OCIOSIDADE
Cabe exclusivamente e somente às leis definirem quais tipos de delitos baseados na ociosidade devem ser punidos (de acordo com a finalidade pública do Estado e sem ferir a liberdade individual de cada indivíduo).
É imprescindível que se encontre um equilíbrio entre a finalidade pública e a liberdade individual. Beccaria, ainda, afirma que a ociosidade é contrária ao fim político de estado social.
DO SUICÍDIO
Não existe penalidade para o suicídio uma vez que ele recai sobre um corpo não mais vivo e não seria nada justo a penalidade recair sob os ombros da família do suicida (tal ato seria odioso e tirânico).
O autor afirma que, mesmo que o cidadão se mate, ele faz menos mal a sociedade que o cidadão que renuncia a sua pátria para viver em outra. 
A maneira mais eficaz de prender os cidadãos em seu país é simples: investir no bem estar de cada indivíduo, o que abrange segurança e boas condições de vida.
DE CERTOS DELITOS DIFÍCEIS DE CONSTATAR
São eles: o adultério, a pederastia e o infanticídio. 
ADULTÉRIO: é um delito de instante que só ocorre com tanta frequência, pois as leis não são fixas e porque os dois sexos são "naturalmente" atraídos um pelo outro. Para o autor é muito mais difícil ao legislador puni-lo que preveni-lo. 
PEDERASTIA: é severamente punida pelas leis e, para este delito, são permitidas as torturas atrozes.
INFANTICÍDIO: a única maneira encontrada de sua prevenção foram a criação de leis eficazes, posto que este é um delito difícil de se prevenir de outra maneira. 
DE UMA ESPÉCIE PARTICULAR DE DELITO
O autor deixa claro que não pode analisar a natureza do delito de liberdade religiosa, pois a época e o lugar onde vivera não o permitiriam. Assim, afirma que só trata dos delitos relacionados ao homem natural e os que violam o contrato social.
DE ALGUMAS FONTES GERAIS DE ERROS E DE INJUSTIÇAS NA LEGISLAÇÃO
O autor afirma que existem muitas fontes de injustiça na legislação, sendo o conceito de "utilidade" parte delas. São falsas a ideia de utilidade as que separam o bem geral dos interesses particulares.
Exemplo: O Estado, ao invés de armar a sociedade, os deixa a mercê dos criminosos, os entregando sem defesa aos golpes destes.
DO ESPÍRITO DE FAMÍLIA
O espírito de família é considerado fonte de injustiça na legislação.
A legislação faz uma diferenciação entre o espírito de famíliae o espírito público, sendo que este "vê os fatos com visão segura, coordena-os nos lugares respectivos e sabe tirar deles consequências úteis ao bem da maioria", já aquele, consiste num espírito de minúcia limitado pelos mais insignificantes pormenores.
Dentro da entidade familiar a autoridade é inteiramente dos pais enquanto nas repúblicas a subordinação da família ao Estado é efeito por um contrato social.
OBS.: A moral familiar só inspira a submissão e o medo, ao passo que a moral pública inspira coragem a liberdade.
DO ESPÍRITO DO FISCO
Para Beccaria, o julgamento tornou-se um negócio civil devido ao fato que o magistrado analisava e julgava. Cabia ao fisco receber o dinheiro que o culpado deveria pagar e o encaminhava à Coroa.
DOS MEIOS DE PREVENIR CRIMES
Uma lei eficaz possui o dever de proporcionar aos cidadãos bem-estar e preservação de sofrimentos posteriores. Portanto, é necessário que os magistrados procurem, antes de reparar o delito, impedi-lo.
COMO PREVINIR O CRIME: elaborar leis coercitivas, simples, igualitárias e claras e, preparar a nação para fazer uso do aparato jurídico quando estas forem violadas.
CONCLUSÃO
A pena deve ser exclusivamente pública, necessária e pronta para que não seja considerado um ato de violência contra os cidadãos. Esta deve, ainda, ser proporcional ao delito cometido e estar expressamente determinada em lei anterior.

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