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8. Taxonomia e Sistemática (Paleontologia Sala Aula p192 196)

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A Paleontologia
na sala de aula 192
Cristina Silveira Vega
Eliseu Vieira Dias
s humanos sempre sentiram neces-
sidade de agrupar os organismos da 
natureza, a fim de compreender a diversida-
de biológica e facilitar seu estudo. 
O mais conhecido Sistema de Classifi-
cação dos seres vivos foi proposto por Carolus 
Linnaeus em meados do século 18. Ele criou o 
que chamamos hoje de Sistemática Clássica, 
que utiliza todas as características observadas 
num determinado organismo para classificá-
-lo dentro de categorias taxonômicas organi-
zadas numa hierarquia. A Sistemática Clássica 
é responsável pela concepção de Reinos, Clas-
ses, Ordens, e fundamentalmente, Gêneros e 
Espécies, o que gera a nomenclatura binomi-
nal dos nomes científicos das espécies. 
A Sistemática Clássica exigia muita 
experiência do cientista para avaliar quais ca-
racterísticas dos organismos que deveriam 
ser utilizadas para sua identificação. Esta es-
colha era um tanto subjetiva e não poderia 
ser repetida através de uma metodologia es-
pecífica, já que não possuía métodos mate-
máticos objetivos para a obtenção das re-
lações filogenéticas entre os organismos, 
ficando a intuição do cientista encarregada 
TAXONOMIA E 
SISTEMÁTICA: COMO 
CLASSIFICAR OS 
ORGANISMOS
8
O
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de classificar os organismos estudados den-
tro desta ou daquela categoria taxonômica.
Por volta de 1959, um entomólo-
go alemão chamado Emil Hans Willi Hennig 
criou a Sistemática Filogenética, que come-
çou a ser mais utilizada depois da publicação 
dos seus princípios, em inglês, em 1966. 
No início da década de 1970, esta pas-
sou a competir diretamente com a Sistemá-
tica Clássica, gerando acaloradas discussões 
em quase todos os congressos de Ciências 
Biológicas da época. Já na década de 1980, 
a Sistemática Filogenética e sua respectiva 
metodologia atingiram o status de paradig-
ma, ou seja, o sistema mais aceito para classi-
ficar os organismos. Mesmo assim este siste-
ma vem sendo aprimorado até hoje.
Mas como pode ser usada a Sistemáti-
ca Filogenética? Ela difere da Sistemática Clás-
sica em alguns princípios básicos. Por exem-
plo, só devem ser utilizadas características 
exclusivas do grupo em questão, eliminando 
as características compartilhadas com outros 
grupos, surgindo assim a idéia de caráter de-
rivado.
A utilização apenas dos caracteres deri-
vados privilegia a novidade evolutiva – apomor-
fia - que cada grupo apresenta e elimina muitos 
aspectos compartilhados com outros grupos.
Por exemplo, dizer que um artrópode 
se caracteriza por possuir um cordão nervo-
so ventral, não o distingue de todos os outros 
organismos protostômios, pois os anelídeos 
também apresentam esta característica. As-
sim, o cordão nervoso ventral é uma simple-
siomorfia em artrópodes, ou seja, um caráter 
primitivo compartilhado. Já a presença de 
apêndices articulados revestidos por um exo-
esqueleto é uma característica exclusiva dos 
artrópodes e, portanto, uma sinapomorfia 
ou caráter derivado compartilhado.
A Sistemática Filogenética identifica e 
reúne os caracteres derivados em uma ma-
triz de dados. Nesta matriz, as característi-
cas precisam ser polarizadas, ou seja, aquelas 
que mais se parecem com o ancestral rece-
bem o número zero e as mais derivadas rece-
bem números subsequentes (1, 2, 3, etc.). Esse 
processo é feito comparando os grupos da 
análise com um ou mais grupos externos. A 
escolha do grupo externo também segue al-
guns princípios previstos na metodologia, ou 
seja, assumir que as características encontra-
das nele (ou neles) representem o estado pri-
mitivo (plesiomórfico), da mesma forma que 
o ancestral hipotético do grupo estudado. 
Abaixo, estão representados três táxons (A, B, C) de um grupo hipotético de animais comparados ao táxon que representa o grupo-externo (Figura 1). 
Figura 1. Exemplo de grupo hipotético de animais e seu grupo-
-externo. A matriz de dados ilustra a transformação dos estados 
desses dois caracteres nos três táxons (A, B e C). Os caracteres lis-
tados correspondem à ausência ou presença de dedos nas patas 
e de antenas nesses animais: característica “dedos nas patas”: 0 = 
ausentes; 1 = presentes; característica “antenas”: 0 = ausentes; 1 = 
presentes. Desenho: Daniel Fortier.
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Matriz de dados e polarização dos caracteres:
 Táxons / Estados dos Caracteres
Caracteres Grupo externo Táxon A Táxon B Táxon C
dedos nas patas: 0 = ausentes; 1 = presentes 0 0 1 1
antenas: 0 = ausentes; 1 = presentes 0 1 1 1
Através de procedimentos matemáticos (algoritmo), com o 
uso de programas para computador (ex: PAUP, NONA, TNT), produz-
-se árvores filogenéticas ou cladogramas, que representam as re-
lações de parentesco dos organismos analisados, ou seja, as suas re-
lações filogenéticas. 
- Cladograma ou árvore filogenética: é o diagrama que representa as re-
lações filogenéticas entre os táxons.
O cladograma ao lado (Figura 2) apresenta dois passos, isto 
é, cada caráter mudou de estado apenas uma vez. O caráter 1 mudou 
do estado zero para o estado 1, o que significa um passo, e o caráter 
dois mudou de zero para um, mais um passo no cladograma (caráter 
1: 0 a 1 e caráter 2: 0 a 1 / L= 2). 
Figura 2. Árvore filogenética (cladograma) gerada a partir da análise 
da matriz de dados.
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Figura 3. Representação de um grupo monofilético.
Figura 4. Representação de um grupo parafilético.
,Se o número de características e de grupos analisados for pequeno, 
esse procedimento pode ser feito manualmente, sem a ajuda de um 
programa de computador. No entanto, quando o número de táxons 
(grupos) e caracteres é grande, os programas auxiliam o pesquisa-
dor a encontrar rapidamente as árvores com o menor número de 
passos evolutivos, seguindo o Princípio da Parcimônia. Isto signifi-
ca escolher a árvore que apresenta melhor resolução.
É importante observar que a Sistemática Filogenética nunca par-
te do princípio de que o exemplar em mãos é o ancestral e sim apenas um 
táxon relacionado (com certo grau de parentesco) aos demais estudados.
ALGUNS CONCEITOS QUE APARECEM NA SISTEMÁTICA FILO-
GENÉTICA 
Clado: é a denominação dos grupos monofiléticos, daí o nome Cla-
dismo também aplicado a esta escola.
Grupo monofilético: grupo que inclui o ancestral e todos os seus 
descendentes (Figura 3).
Grupo parafilético: grupo que não incluie todos os descendentes 
de um ancestral (Figura 4).
Grupo-irmão: é o grupo monofilético mais próximo daquele em 
foco no momento (Figura 5).
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A forma de classificação dos organismos sofreu uma profun-
da modificação nas últimas quatro décadas, em função do advento 
da Sistemática Filogenética. Entretanto, o método possui várias limi-
tações, que no momento não podem ser contornadas. Uma dessas 
limitações, principalmente em paleontologia, refere-se às caracterís-
ticas utilizadas na análise. Para classificar organismos atuais, caracte-
res como coloração, por exemplo, podem ser utilizados. No entanto, 
nos fósseis, essas características não ficam preservadas, inviabilizan-
do o uso das mesmas.
Mesmo assim, o uso deste método se tornou generalizado, 
uma vez que preenche todos os requisitos necessários para ser con-
siderado científico, não sendo mais aceitável apresentar filogenias 
idealizadas, como faziam os sistematas clássicos.
Figura 5. Exemplos de relações de parentesco (grupo-irmão).
REFERÊNCIAS
AMORIM, D. S. 2002. Fundamentos de Sistemática Filogenética. Ri-
beirão Preto: Holos Editora, 156 p. 
PAPAVERO, N. 1994. Fundamentos práticos de Taxonomia Zoológica. 
UNESP, 285p.
ATIVIDADES VINCULADAS AO CAPÍTULO
Observando e agrupando organismos
Construindo cladogramas
Construção decladograma com braquiópodes
Construindo cladogramas de área

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