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Antônio Manuel Hespanha - Constituição do império português (cap 5)

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Prévia do material em texto

P 11/
v / V-=-
João Fragoso
Maria Fernanda Bicalho
Maria de Fátima Gouuêa
Organizadores '
o Antigo Regime
nos trópicos
A dinâmica imperial
portuguesa
(séculos XVI-XVIII)
CIV/llZAÇ,\ü unAS/LEIHA
Rio de Janeiro
2001
/
dade, mas apenas produzir meios para a Coroa arbitrar os conflitos que
nela ocorriam.
As tentativas pombalinas de uniformizar e positivar as fontes escritas
do direiro não chegaram a atuar no que se refere ao estatuto jurídico da
escravidão no Brasil colonial. A escravidão foi uma instituição plenamen-
te incluída na lógica societária do Antigo Regime, mas que pouco se coa-
dunava com uma concepção não-corporativa do poder e da sociedade.
Apenas após a independência política, concebida em bases liberais, o Bra-
sil tentará lidar com a compatibilização entre a instituição de um direito
civil positivo e a manutenção da escravidão em nome do direito de pro-
priedade. Para isso, entretanto, deverá assumir, desde o princípio, a supe-
ração da escravidão como horizonte.
1 62
CAPíTULO 5
. ,..
A constituição do Impéno portugues.
Revisão de alguns enviesamentos
*correntes
Ant6nio Manuel Hespanha
. lh M' ica DalH;lS e Pedro PUIllOnl as sugestõesM ... F nand a BIca o, 0111"
• Agradeço aos colegas ar ia er feico: no de um promelro texto.
que me deram, de fundo e de forma, no ;lper elço;lmel
1. A CONCEPÇÃO CORPORATIVA DA SOCIEDADE E A HISTORIOGRAFIA
, DA ÉPOCA MODERNA
Desde os inícios da década de 1980, a historiografia política e institucionaI ..
da Europa meridional (especialmente, italiana e ibérica) vem sofrendo uma:
mudança de referências cruciais. Categorias como as de "Estado", "cen- ;
tralização" ou "poder absoluto", por exemplo, perderam sua central idade ;
na explicação dos equilíbrios de poder nas sociedades políticas de Antigo
Regime.
Em Itália, uma historiografia inovadora - paradoxalmente com raízes
tanto no marxista Antonio Gramsci como no ultraconservador Otto
Brunner - sublinhou a alteridade das categorias políticas de Antigo Re-
gime, desacreditando a relevância dos conceitos atuais da política e do
direito para descrever e entender as estruturas e ação políticas antes da
Era das Revoluções. Historiadores como Angela de Benedictis ou Lucca
Mannori seguiram esta linha de orientação nos seus detalhados trabalhos
sobre Bolonha ou a Toscana grão-ducal. 1
f: Em Espanha, a mesma orientação metodológica enquadrou o tra-l.
t balho de uma importante ala inovadora da historiografia de Antigo Re-
f gime. Bartolorné Clavero e Pablo Fernández Albaladejo desafiaram a
t visão estabelecida de uma monarquia precocemente centralizada, des-
I velando as limitações éticas, doutrinais e institucionais do poder real.
i
'Bibliografia básica (com ulterior bibliografia sobre os "[ouuding [athers" e lirerarura mais
específica): Hespanha, 1984 (nomeadamente o prefácio, "Para uma teoria da história políti-
co-insrirucioual de Antigo Regime"); Benedictis, 1990; Hespauha, 1992b e 1996; Vallejo, 1995;
Cardirn, 1993 e 1998a; Schaub, 1995 e 1996; Clavero, 1996; Grossi, 1996.
1 65
Enquanto Clavero - um historiador do direito de uma elegância inre-
!ec~u~1 sofisticada - enfatizou a pluralidade e a intangibilidade das
JU~lsd~ções como um traço característico da constituição política da
pnrneira modernidade (Clavero, 1981), Albaladejo _ um destacado
historiador do período moderno - sublinhou o papel desempenhado
p.elos qua~ros ideológicos e insti:ucionais impostos ao arbítrio do pnn-
crpe no sero da monarquia dos Austria (Albaladejo, 1993). Outros se
lhes seguiram, quer do lado dos historiadores gerais, quer do dos his-
toriadores do direi to.
Em Portugal, meu livro As vésperas do Levinthnn questionou uma sé-
rie de idéias estabeleci das sobre a constituição moderna portuguesa, reve-
lando um peso insuspeitado (mas facilmente suspeitável) de poderes
(nomeadamente, das câmaras e das instituições eclesiásticas ou senhoriais)
que tiravam partido da fraqueza do poder, nos seus aspectos doutrinais ;
institucionais, para ganhar um espaço de efetiva, ainda que discreta au-
tonomia. Ulteriores pesquisas - levadas acabo por novas gerações de
historiadores
2
- aprofundaram a investigação em campos monográficos;
chegando a resultados que creio no fU:1damer.tal consistentes com os meus
pontos de vista.
O que resultou foi um conceito novo da monarquia portuguesa (pelo
A menos até meados do séc. XVIII), agora caracterizada como uma monar-
quia corporativa, em que:
• o poder real partilhava o espaço político com poderes de maior ou
menor hierarquia;
• o direito legislativo da Coroa era limitado e enquadrado pela dou-
trina jurídica (ius commune) e pelos usos e práticas jurídicos lo-
cais;
• o~ deveres políticos cediam perante os deveres morais (graça,
piedade, misericórdia, gratidão) ou aferivos, decorrentes de la-
ços de amizade, institucionalizados em redes de amigos e de
clien tes,
lNulIO M?nteiro, José Manuel Subril, Mafalda Soares da Cunha, Maria Fcrnanda Olival, Pedro
Cardirn, Angela Xavier, Ana Cr isrm., NogueIra da Silva.
j' r
1 66
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·r~1-
'1'
:~ •
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,.i
r :
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os oficiais régios gozavam de uma proteção muito alargada dos
seus direitos e atribuições, podendo fazê-los valer mesmo em con-
fronto com o rei e tendendo, por iss~, a minar e expropriar o poder
real. .
o IMPÉRIO E A METRÓPOLE
A rmagem de ce~~~~çã.~.ainda é mais ~e_s.~J~.stadaquando ~plj.~~<'!?o~o
império -uTtr°amari!!~.Aí, alg~ns m(3(fulos (P.mor, Macau.,_~os:~ ~~,ental
da-África) viveramemestado de quase total autonomia ate o ~eculo
XIX. Mas mesmo a Índia ..~ii()\)je!.o._qe.ll!!l controle tornado muito _~e-
~oto pelos noYeme.soe1l..q!:1.~.~emoravaa comunicação com a metr~pole
{Hespanha e Santos, 1993). Ãpesar de, como já. se sug~ri~, a teoria da
ação política relativa ao ultramar fosse algo mais per~llS~I:a. De, ~ual-
quer modo, algumas concepções correntes sobre a história poht~c~ e
institucional do Império português carecem de uma profunda revisao,
já que a visão dominante é a da centralidade da Coroa, com as suas ins-
tituições, o seu direito e os seus oficiais. .'
A sobrevivência dessa imagem pode ser explicada por uma inrerpre-
ração ingênua - ainda que ideologicamente significativa - das ins~i-\
ruições históricas, fundada em preconceitos enraizados acerca da relação'
colonial.'
Do ponto de vista do colonizador, a im~.ge~ de uII1;;:J~E.~~~_c.~n-
trallzadoerã a única quelazla suhclenteI?..:nte JUSao gell1~c~!omza-
dor da merrõpole.Ern contrãpartídã.adrnitir um papel cons~t~~l~o. ~~s
.. o... - "fí' . -d ... _. brilhoâã--em'presã Imperíal.'4 Do pontoforças pen enca~ ~~.. uzma 0_ .. '_.'_'." . o ._. ._ •• __ •• o....... .
de vista d~~-elites coloniais, um colonialismo absoluto e centralizado
condiz melhor com uma visão histórica celebradora da independên-
jProblemas semelhanres na historiografia italiana, Musi, 1999. .'
'Não é por acaso que a historiografia romântica e nacionalista alimentou várias reorflasql~e
. ,. d .'- o ruguesa - •• Plano das ndias ,destacavam o caráter intencional e prograrnanco ;I expansao p r .. ••
•• Escola de Sagres", •• Política de segredo", •• Idéia imperial" e, talvez, a Idéia de um Pacto
colonial" cuidadosamente deliberado, estabelecendo o modelo de trocas comerciais entre a
metrópole e o ultramar.
1 67
cia. Se, p~r exemplo, lermos alguma historiografia brasileira (que neste
aspecto, e ~xemplo único e paradigmático na área ex-porruguesa 5 é
bastante evidente sua vinculação a um d' . )t I C ISCurSOnarrativo e nacionalis-
.a, no qua a oroa .portuguesa desempenhava um papel catártico de
I~truso estranho, agindo segundo um plano "estrangeiro" e W •
I st " if d imperra-
I a, persorn ican o-interesses alheios explorand . I'I d ,o as riquezas ocais
e e~an o a cabo uma política agressiva de genocídio em relação aos
local~, por sua vez considerados basicamente solidários,sem distinção
de eh.tes brancas e população nativa. Esse exorcismo historiográfico
permite um branqueamento das elites coloniais, descritas como obje-
5Este tópico tem, naturalmente, de ser muito matizada U
Faoro (Faoro , 2000), que, embora anotando. uma s~ri~icaso extremo é o de Raymundo
anricenrralisras, está completamente cego o d I mpressio nanre de argumentos
"explo rado r " da história luso-brasileira p:adrU~imlldmooe ta de interpr eraçâo "absolutista" e
. d ,um exto em que toda <Iba ..
invoca a está em contradição com as inter _ . se emplflC<l
poderes dos governadores e seus limites :;r~:asçoes p~o~~stas(v.g., no queescreve sobre as
nauças (caudilhismo) pp 180s . f . •. ,pp. 6 165, estruturas militares e orde-
, . s., uPclOnanos pp 193 194' r' - ..
poder real pp. 199-200' "d b _" '. . - ,Imltaçoes fáricas e teóricas do
, , escer e raçao da pclisso no dia 201 D d .
clusões opostas às suas, sua síntese sob . . •. ' '. es e que se tirem as con-
basr, b . re o sistema pc lítico-adminisrrn rivo (pp. 199-229) é
3:~;nte d aa. De grande qualid ade é a síntese de Caio Prado Jr. (Prado Jr., 2000, pp. 313-
do c:nSt:o e:::n;:rmo: algum otimismo quanto à eficácia das intenções regulamenradoras
, mo crença em que a rninúcia da correspondência
marino representava domínio efetivo (ele pró . "com o Conselho Ulrra-
:e mater~al de atender a tamanho acumulo de s::~~;~l;:~;a~rr::::~I::::~i:I::p::~bilida-
e anos as vezes, mas deixava grande número de casos , .ue cezeuas
gavetas dos arquivos", Prado Júnior, 2000 p. c;~~s)<IMdormlrob sonod da eternidade nash' . f ' . as, so re tu o a mais
isrorrogra 1<1brasileira tem levantado essa hipoteca Creia q é' desta recented M. '. Odi . . . ue JUsto estacar o conrriburo
e ar ra tI<ILeite Dias, que promove uma leitura da história b . . '. .
sessiva oposição metrópole-colônia (Di<ls, 1972 pp 160-184)' raSI;el[,1 I,dberra des~a ob-
F . d 1999 . ,., e sin tese a quesrao em
urra o, . Tambérn os contriburos daqueles que têm salientado a tensão entre a n .
de governo e <ISU<lmassiva violação: desde Ioga, Prado Jr. >000 310.. . orrnar r L d M ' - , p. , mas, rnars recen-
emen e, aura e ello e Souza (Souza 1999) a d blic, d .d bre a i di . . " n e pu IC<le estaca inreressanres esru-
os so re <I in isciplina na própria alva central da di . I' . d· C .. _. ISClpma a oroa na seculo XVIII
~amvo :dd~m<lrc<lçaa diamantina (sobre a qual, rarnbérn, Anasrasia, 1998, e Furtado, 1996):
. e <I e, o que se pa~sa com multa da hisroriogr afia brasileira-é que estende <Itodo a
Antigo Regime as inrençoes centr a lizado ras pós-r evo luci :'. .. . _ . Clan<lnaS, rerroprojerando por iss
~ma oposiçao Brastl-Metr_ópal~ de que não é fácil falar antes da década de 70 da s~c. XVI~:
ntes, encontram-se tensoes vanas: antifiscalisma . .. d . di
d
,prtnClpla a in igenaro na .
os cargos, sentimentos co nrra '. pr ovimenro. . o nova emIgrante, localismo, antiurbanismo dccadentisrno
e resraut acro nrsrno de uma época de ouro ··í . . d . .. '
I
destes ró oi J' passa a, sentido de infer ioridade intelectual (v
a guns estes tÓpiCOS em Mora, 1996). .
168
o ANTIGO RE:GIMt:. NO!) lH.Ot'IC.U) A UINAMII...M I M •...e « I 1-toL. t'ut1lvuUt.::tt..
tos (e não sujeitos) da política colonial. Esta situação seria porventura
consistente com a situação dos goeses, mas não decerto com a dos bra-
sileiros."
1.1. Um projeto colonial?
_0 primeiro fato que deve ser realçado é a inexistência de um mode-
lo o~~tr atéglã gerals·p'ar·ãã-exp-àJiSâõ_poftúguesa. Existem;-éViõefite-
~~te, vári~s .t,~p'i~os~~sadõs'in~identalmente ~~ discurso colonial para
justificar a expansão. Um deles era a idéia de cruzada e de expansão da
fé. Mas, a par dele, vinha o do engrandecimento do rei ou o das finali-
dades do comércio metropolitano ou, mais tarde, de população. No-
ent~~,to, esse conglomerado não era harmônico, sendo que cada tópico
_levava fregüentemente a políticas diferentes ou mesmo opostas. Aparen-
temente, o equilíbrio dos vários mudava"com os tempos e com os luga-
res. As praças de Marrocos eram freqüentemente justificadas por razões
cavaleirescas e cruzadísticas, também invocadas em relaçãu à Índia, mas
raramente presentes na justificação da expansão subsaariana, macaense
ou brasileira. Pelo contrário, os interesses mercantis, o proselitismo re-
ligioso e, mais tarde, os intuitos povoadores ou de drenagem demográfica
constituíam, sucessivamente, a justificação oficial da colonização do Bra-
sil. Os estabelecimentos de África não mereceram uma detida literatura
de legitimação; mas a evangelização e a manutenção da paz eram a co-
bertura ideológica oficial para a colonização africana, sempre que esta
não era simplesmente justificada com a prioridade histórica da chegada
dos portugueses ou com os meros interesses econômicos do tráfico ne-
greiro. Assim, parece que não existe uma estratégia sistemática abran-
gendo todo o Império, pelo menos até meados do século XVIII
(Russell-Wood, 1998c, p. 240) .
6Do lado português, um arngo de Luís Filipe Thornaz, hoje clássico, renovou a historiografia
política do Império português, sobretudo do oriental, embora sem ligação. com o nova
contexto teórico da historiografia política moderna, inicialmente descrito (cf. Thornaz,
1985).
169
1.2. hAmoldura i~titucionnl: falta de homogeneidade, de centmlidade e de
remrqurns rigidas
1.2.1. Um estatuto colonial múltiplo
Uma descrição institucional da expansão portuguesa fi
quad ' . con Irma essero atormsnco (Hespanha 1995 pp 9 37) R 1
b 1 . " . - . ea mente ernb
esta ~ eClImentos coloniais portugueses tenham estado sem;re Jig~~:so:
metropo e por um laço de ai . c
d . . . qu quer npo, faltou, pelo menos até ao etio-
o liberal, uma constItUIção colonial unificada.? p
u Desde log.o, faltava ~m estatuto unificado da população colonial. AI-
g ns, os nascidos de pai português, eram "naturais" (Ord Fil. 11 55)
gozando de um estatuto pleno de . "'"
e estando sujeitos às justiças por~u~:;auses~~~s;s do o direito po.rtugu~s .
b d b di ~ . . eram estrangeIros 11-erros a o e iencia ao governo e di it '
"sob . irei o portugueses. Tal era o caso d
so as amigos mas não vassalos" de Angol ferid . os
d 8 a, reren os nos regrmenros dosgoverna ores, e dos "índios bravos"b '1' 9 A _. .
d . rasi erros, sua urnca obrigaçãoera a e aceitarem a pregação e o ,. .
I . . -. comercIO; mas isto decorria não de
qua quer sujeiçao ao direito portUGuês mas de norm d di . d
tes Essa .' - d - . c» , as o rrerto as gen-
. sltuaçao e naçoes livres vizinhas era muito instável ._
colonos usavam dI' Ja que os. e f}ua quer pretexto para as reduzir à obedí ~ .
meio de uma "guerra justa" 10 Entre tu . . iencra por
. na rars e estrangeIros, existiam situa-
'Mesmo então, o estatuto constirucional de al uns dos ter" ..
'Cf. Regimento de 12.2.1676, dado ao g , nt6nos COlOniaIS não era claro.
195904, p. 63). governador Aires de Saldanha e Menezes (apud Rego,
9.. ".
... e os que nao quiserem receber a dita amizade sem fazer mal a m-ue c .
rem a pregação do Santo Evangelho s Ih ._ f • d a meus v-ssalos, nem irnped].
,e es nao ara ano algu" .
de Negreiros 14.4 1655 (apud M d m ,regImento de André Vidal
10 • . ' '. en onça, 1972, voi, Il, p. 712).
Para Angola, cf. o regrrnenro de Saldanha'u R
declarada pelo governador depois d .' , pra ( ego, 1959a, p. 63). A guerra justa era
'1' ,e tomar conselho com um" de eclesirni rtares, membros da Câmara de Lu d. d a Junta e ec eSlásncos, chefias
an a, prove or da fazenda e ouvíd I
questão da guerra Justa mereceu uma .' _ OUVI or gera. No Brasil, a
I . . ma to r atençao (Puntoni 1998) As . . .eglslatlvas são: lei de 20.03.1570 (Mendon a ,. pnnclpals fontes
donça, 1972, vol, I, p. 331)' lei de iI II IÇ59'51972, vo~. I, p. 335); leide 26.07.1596 (Men-
, ..; provrsao de 5 71605· I .d 30nomeadamente a lei de 13 11 1611 (. . . . . • et e .7.1609; e
, '. a guerra Justa devia serdecla d. . '
pelo governador, bispo, chance/er e juízes da rela ão' ra a por uma Junta formada
caso de rebelião ou ataque índios) C( . bé ç .' prrores das ordens religiosas, mas s6 no
. . rarn em reguneuro de AI d é Vid I d
14.4.1655 (Mendonça, 1972, vol, lI, p. 712). . 1 r I a e Negreiros, de
1 7 O
\J "" (, I I •••,...; n eu. iVI L •••••• .l • n •...•I •.•.•••.•••• ••..•• ••••.•• ,..... .~ ••••• " • "0' •.•• ". • '- " • ••••
ções diversas. Primeiro, a dos vencidos na guerra (justa), cujo destino de-
pendia dos vencedores. De acordo com as leis da guerra, podiam ser
mortos, reduzidos a cativeiro ou mantidos.sob um regime mais ou menos
duro de sujeição legal ou fiscal (Hespanhk, 2000). Era o que se passava
com os reinos angolanos de N'gola (Rego, 1961; Hespanha, 2000) ou com
as nações Tapajós ou Tapuia (Puntoni, 19~8). Finalmente, o estatuto da-
queles que celebravam com o rei de Portugal um tratado de vassalagern; a
sua integração na ordem política ou jurídica portuguesa estava aí fixada,
podendo variar muitíssimo. Os privilégios religiosos eram raros, nome-
adamente para os muçulmanos. 11 Mas já o confucionismo chinês ou o
gentilismo africano (inicialmente, também o hinduísmo, em Goa) eram
freqüentemente tolerados, sobretudo em vista de uma ulterior conversão.
As instituições políticas nativas eram com freqüência preservadas, como
instâncias de mediação com o poder português. Por vezes, portugueses "as-
sistiam" as autoridades locais (como em certas cidades indianas ou sobados
africanos). No Brasil, portugueses "de bons costumes" eram enviados como
"capitães das aldeias" para governar as aldeias índias, já que a capacidade
dos nativos para se autogovernar era tida como problemática."
Absolutamente singular era a situação de Macau. Era obscura a uatu- L
reza do ato formal pelo qual os portugueses tinham sido admitidos na área,
apesar dos esforços para a esclarecer, feitos até aos finais do século XVIII
pelas autoridades portuguesas. Para Portugal, Macau era um "estabeleci-
mento" português (qualquer que fosse o significado da expressão, que
ainda se mantém no constitucionalismo do século XIX, sujeito à lei por-
tuguesa). Contudo, viviam aí magistrados chineses (mandarins, que exer-
ciam sua jurisdição, dentro da cidade, sobre os chineses e frequentemente
a reclamavam em relação a casos mistos). 13 Além disso, os funcionários
portugueses, quando se dirigiam às autoridades chinesas, declaravam-se
IlExistia, contudo. certa tolerância para com os mouros nas praças de Marrocos (os chamados
"rnouros de pazes" gozavam de proteção e certos privilégios) ou em certos estabelecimentos da
costa oriental de África. Os hindus foram razoavelmente tolerados até aos meados do século
XVI. Depois disso, sofreram uma dura repressão, mesmo em relação às suas cerirnômas civis.
12Lei de 13.11.1611,n. 4 (Mendonça, 1972, vol.I, p. 325) V também regimento de André
Vidal de Negreiros. 14.4.1655 (Mendonça, 1972. vol. 11,p. 712).
uSobre as origens do estabelecimento dos pormgueses em Macau, Hespanha, 1995; Fok, 1991;
Alves, 1999. Para os séculos XIX e XX. Guimarães, 2000; Araújo; 2000 .
.(
1 7 1
. '. ~
funcionários imperiais! Na verdade, só assim correspondiam aos pontos
de vista clássicos chineses sobre as relações com potências estrangeiras,
sempre consideradas vassalas (Hespanha, 1995).
Esta heterogeneidade do estatuto político dos vassalos (Santos, 1999,
pp. 40-41) criou uma pluralidade de tipos de laços políticos. Assim, nem a
Coroa, nem seus delegados podiam estabelecer normas uniformes ou ultra-
passar as autoridades nativas reconhecidas por tratado. Mesmo a guerra
contra estrangeiros tinha de respeitar os princípios da guerra justa, quer
quanto aos títulos para ser declarada, quer quanto ao modo de se desenro-
lar. Mesmo quando os motivos alegados eram forjados, fantásticos ou
enviesados pelos interesses ou pela xenofobia, tinham de ser formulados de
maneira verossímil. Ou seja, a heterogeneidade de laços políticos impedia o
estabelecimento de uma regra uniforme de governo, ao mesmo tempo que
criava limites ao poder da Coroa ou dos seus delegados.
1.2.2. Um direito pluralista
Um corpo geral de direito também faltava.
Vários são os fatores que podem ser chamados a explicar o pluralismo
e a inco~sistência do direi to c;lon-iai -~ocler~o:' '-" '"
O primeiro deles decorria da própria arquitetura do direito comum
europeu, baseada no princípIO da p~efe;ê~ciadaS no~(mas_p~rticul~~~
(como os costumes locais, os estilos de decidir dos tribunais locais, os
privilégios; numa palavra, os jura propria) às norm_~~~~~i,s (como a lei
ou a doutrina jurídica geral, ius commune) (Hespanha, 1995, pp. 92-98).
Para além disso, o princípio de que a lei posterior revoga a anterior ile»
posterior reuogat priorem) não vigorava de forma muito rigorosa, já que
os direitos adquiridos à sombra do anterior regime podiam ser opostos
ao novo e quaisquer decisões reais que os violassem podiam ser anuladas
judicialmente (Hespanha, 1994, pp. 472ss).
'Depois, a incoerência do sistema jurídico derivava também de algo que já
foi evocado - a constituição pluralista do Império, em que cada nação sub-
metida podia gozar do privilégio de manter seu direito, garantido por trata-
do ou pela própria doutrina do direito comum, de acordo com a qual o âmbito
de um sistema jurídico era marcado pela naturalidade. Daí que o direito por-
1 72
I
I,
I
I
. O d L"/ II 55) governando-se os nativostuguês só se aplicasse aos naturais ( ra. ru, '" . da
pelo seu direito específico. Isto quer dizer que os JUIzesportugueses, ~n ,
que tivessem jurisdição sobre os nativos, lhe~ deviam aplicar o seu proprdlo
, '~ causa valores supremos adireito exceto para casos em que esnvessern em "14
ordem"urídica ou ética européia, nomeadamente do ~oro r~hglOso. Decer-
to a su!x,rdinaçãodos juizesde primeira instânciaa tribunais de recurso, q~e
" di 'to oficial e letrado podia deformar essa regra, nos casos eseguiam o Irei , izad t: .
A irn como a presença das jurisdições do coloniza or, o erecia aos
recurso. SSI di ntra as suas nor-. ibili d d de recorrer também a este rreito co
:::!v:::i~:=~;, 'o~:e constituíaum importante fator de des~~~~açã~:
lógica política e jurídica autóctones (Subrahmanyam, 19?7, p~ .)
, " , que tendia entao a VIgorar nado que uma versão estnra do direito nativo, o , . .
. , ' de "justiça crioula". De qualquer JeIto, errava-se umaprática era uma especie
- fi' 15ilha de direito autônomo e nao o aa. 'd ' _
A inconsistência do sistema político-jurídico decorre, afinal, a pro
, I ar os conflitos entre nativos era comum, Em Macau,
I4Acriação de [uízes portugueses para 111g , , ' a população chinesa (Hespanha,
' " decidia dos litígios entre a p ,
o procurador dos negócios SIIIICOS v m as aldeias tradicionais hindus
d ' gâocare: governa a
1995, pp, 42-45); em Goa, os tal/a ores ou h 1995 pp 39-41)' no Brasil, os capitães
' " id. d ") (Hespan a, '" ,tgãocarios, tauadarias ou comum a es, , di do um modelo de justiça parnar-
' , r- das comunidades 11I InS, seguu , , ddas aldeias decidiam as ques oes , "d 30 10 1611' o capitão era o JUIZ as
' '- das aldeias e " ,
cal ("Regimento das aldeias e capiraes _ 'd idi composição, embora dando
' struçoes para as eCI Ir porcausas dos gentios, com expressas 11I d dos defuntos da Relação, cf.
id d, , 'r' nia e deste para o prove or , ,
recurso para o OUVI or a capl a, _ d rlnrno magistrado, especializado naI I 327) A mrerveuçao este 11 I
Mendonça, 1972, vor. ,p, , id .. d ixa de ser significativa do modo como os' d Ires ou faleci os, nao er I
cura dos uireresses os auset id, d "defender seus mteresses, ta como
id soas sem capacl a e para 5
índios eram entendi os: como pes imenro d A dré Vidal de Negreiros, de 165 ,N ' normas no regimento e n
os ausentes ou os morros, ovas 711-713), Em África, os juízes e oficiais portugueses
ns. 42-56 (Mendonça, 1972, vol. lI,pp, d s critérios indígenas (Hespanha, 2000);
ib ' ativos Julgando segun o o , , )
participavam em rn unars n , lh iros dos régulos tliurais em
em Timor os frades dominicanos portugueses eram conse e
I25
)
, , ',C- 1867, Rego, 1959, pp, ss ,
matérias de governo e Justiça ( astro, , "à" '" do direito nativo, Antes do
"- ' , as d d m pratica' vlgencloIlExistiam várias limitações decisivas e or e .. f nre sobre ele (em Goa, o Foral
- 'h' uma informação su icie
mais, os [uízes portugueses nao nn arn 'I' indígeuas em matéria de inrerpreração dos
' to de especta rstas 11I , h
de 1526 previa o assessorarnen 39) D os os juizes portugueses nn am aI ' f He panha 1995, p, ,ep I ,
usos e costumes ocats, c , s , ' d _ osrumes cristãos, nomeadamenre
' , di ativo de acor o com os c ,
tendência para mitigar o irerro n " ,I F' almenre no caso de recurso para rribu-
d di , d f mília e direito pena, 11I, ::I
nos domínios o ireiro e a , , i das ldeias brasileiros ames referidos), as eCI-I o caso dos [utze» as as, d
nais portugueses (ra como n " " ouros de vista e ruocêntricos os
sôes da primeira instância mal poderiam resisnr aos p
magisrrados letrados dos tribuuais superiores,
1 73
prra I~atureza da alta administração colonial
pluraltsta na sua base.!6 ' ainda mais claramente
1.2.3. Uma estrutura administrativa centrífuga
1.2.3.1. Vice-reis e governadores
; Se a centralização não pode ser real semI tampouco pode ser efetiva sem h' . um ~uadro legal geral,
; . uma lerarqUla esrnr d fieiimero da qual o poder real possa ch ' '". o a os o icrais, por
Icentralização política deriv egalr adPentena. DaI que a eficiência dae, por um a o da . A • d
Irarquia funcional entre o o' O' ' eXlstencla e laços de hie-
I s varres I1IvelSdo apare/h d " .
outro, negativamente do ârnbir d d o a mmlstrattvo e, por
, 'o os po eres dos fi' . u:» •da Sua capacidade para anui di o icrais perlIencos ou
. ar, rstorcer ou fazer dcebiarn de cima. seus os po eres que re-
Um relance sobre a autonomia dos d . .
perial é então d " po eres na hIerarqUIa pOlítica irn-
, ,eCISIVO.
De acordo com a doutrina da eOpoca os governad ~
poder extraordinário (extr" o di " ' ore .•gozavam de um
27; Santos, 1999 pp 35ss)/ sr.
em
l1t°
lh
napotesldl:s) (Hespanha, 1995, pp. 25-
- ,. , e ante ao os sup h c ..
(dux). Tal como o próprio rei di d remos c eles mIlItares
. - , po Iam errogar o di .
ainda mais perfeita realizaça-o da . _ irerro em vista de uma
sua mlssao Nos .
outorgados!7, estava sempre' .d 1
0
• regImentos que Ihes eram
msen a a c ausula de que poderiam desobe-
16Cf '. .' .
•7Sob para o Bras", as justas considerações de Prado jr., 2000 p 3 10re os reglmeutos dados aos vice-rei ,- -
importante é o de D. Francisco de AI 'd
ls
e dgoveruadores, ver Santos, 1999, p. 37. O mais
mel a, e 5.3.1505 dI. "
(Mendonça, 1884, vol. 1/, pp. 269-334) S b . ,mo e o para ultenores regimentos
pp. 38ss. Alguns dos mais importanres' R' o re os regImentos brasileiros, ver A1den 1968
. I - . eglmento de Torné d S '. ' ,
gera do Brasil, 17.12.1548 Mendo . 197 e ousa, pnmelro governador-
83 ,nça, 2,.voLI .31"R .
. . 1588, Mendonça, 1972 vol I 259. R ' P ,eg. de FranCISco Giraldes
1972 I . ,. ,p, ,eg. de Gaspar de So . 6 O' '
,vo. I, p. 413; Reg. de André Vida I d N . d usa,.1 .1612, Mendonça
Roque da Costa Barreto 1677 (our d I
C
eg rer ros e 1655 (um dos modelos)' Reg d~
, ro mo e o) com pr . . ' .
tugal e Castro. também ele gove . d '. ecrosas notas de Fernaudo José de Por-
I rua ar-geral nos fmals do sé I X
vo. li, p. 753. Sobre as notáveis ob ." d eu o VII/, Mendonça, 1972
. . servaçoes e Fernando José d. . '
como uma fonre baslca para o escudo d .. d '. _ e Castro, consIderando-as
a a mllllstraçao bras'l . . I
porn o governo da c(/pit(/ni(/ de Mi'/{J . G . d J' • eira - ao ado das JnstTUfões
25 ' erae, e ose João "li' .pp. 7-476) -, ver Alden 1968 39' elxelra Coelho (Coelho 1852, ,p. nota46Ma"f - "
veruadores, Rego, 1959. . IS rn ormaçoes sobre regimentos de go-
1 74
i
i
u ~ h I j '"' v n c. v , IV. c:: •••••.•• .) • r\ •••." ..... __•• M •••.' •• ,.....••; ••• ,..••
decer às instruções régias aí dadas sempre que uma avaliação pontual do
serviço real o justificasse. Daí que, apesar do estilo altamente detalhado
das cláusulas regimentais e da obrigação de, para certos casos, consulta-
rem o rei ou o Conselho Ultramarino, os vice-reis e governadores goza-
vam, de fato, de grande autonomia. í
Essa autorização para criar direito - oU!"'p~I~__l!!~_nºsJRl!Ladispen-
sarodireitoexistente -:- era uma conse-qüência normal da natureza das
funções de governo ultramarino que lhes eram confiadas. De fato, eles
lidavam, por um lado, com matérias mutáveis, tal como as militares e
marítimas." Por outro lado, seu contexto político não era o mundo es-
tabilizado da política dos reinos europeus, em que a justiça e o governo
se enraizavam em tradições estáveis e duradouras e se formalizavam em
processos e fórmulas fixados pelo tempo. Pelo contrário, eles atuavam
num mundo estranho e não balizado, ele próprio subvertido nos seus
estilos pefã-erup-çã'õ dos europeus, um mundoem mudança, semelhante
'~1Oque Miêil'iiavefdescrevT;;-no ;~u fam~-;;ratado, em que aj~sti~~ ti-
nha de ser criada, ex novo; pela vontade do príncipe, tirando partido da
oportunidadee das m~táv~is circunstâncias dos tempos. Por fim, os
governadores ultramarinos estavam isolados da fonte do poder por ~ia:-
gens que chegavam a levar anos, tendo necessidade de resolver sem ter
de esperar a demorada respostaàssuasdemoradas perguntas."
No seu regimento como primeiro governador da Índia (5.3.1505), D.
Francisco de Almeida era autorizado a avaliar pessoalmente a situação para,
depois de ouvido seu conselho, decidir de acordo com sua opinião pesso-
al (Mendonça, 1884,vol. II, pp. 332-333). Numa carta para o rei, Pero
Borges, ouvidor geral do Brasil nos meados do século XVI (7.2.1550),
escrevia:
18"E porque as causas do mar são incertas e há casos que se não podem prevenir antecipada-
menre: hei por bem que Vós, com o Almirante da dita frota, auditor, e sargento-mar, e capitão
de mar e guerra da capitania, disponham, nos tais casos, o que se vencer por mais VOtos... ",
regimento de Salvador Correia de Sá, de 25.3.1644 (apud Mendonça, 1972, vol. Il, p. 621).
1'''Qllanto mais longe apartado esse Estado está de minha presença quanto mais carrego sobre
vós a obrigação deste ponto [da justiça]", Reg. de André Vidal de Negreiros, governador e
capitão geral do Estado do Pará e Maranhão, 14.4.1655, (apud Mendonça, 1972, vai. lI, p.
702, n" 9). Sobre as atribuições jurídicas dos vice-reis, decisivo, ver Santos, 1999, p. 53
1 75
"Esta terra Se ih, 1 or, para se C01"'er .
d s-o t/âr e Ir avallte h" -arem em algumas coi~'([, . O d. _ .' a mister nao se guar-
. ' s a,' "ellaçoes, que j . . _
respeito aos moradores dela, ( ) , oram [eitas nao havendo
. e as ... a(;Olltecem mil c , , _
terminado, pelas Orde1 '-. j" (;{1~Osque nao estão de-
. taçoes, e tcam ao alvedrio d . I
se houver de apelar. IUIO . P d/'" o lU 'gador, e se nestes
P 571 ,_'e o e azer tusuça (... ) (Meudowa 1972 I I• /. -y , , lia. J
Assim em re . .
. ' glmentos SucessIVOS dados a
sil, sempre se declarou q I der i os governadores do Bra-
ue e es po erram de idi _tos nos seus regimentos ' c . CI Ir os casos nao previs-
, apos COI1!CrenCIarem bi
da Relação da Bahia e o prov d d F com o ISpO, o chanceler
bí e or a azenda Re I .
mação que torna manifest ,,_ a , numa curiosa com-
as as razoes do Est d " I' .e fazenda. a o - re rgiâo, justiça
Para além da J'ustiça tamb'
, em a graça co tituf
(Hespanha, 1994a pp 215 )20 . ns I ura um atributo real
, . ss que pe ti .
pensar ale''') - '. rnu Ia agir Contra o direito ("d' _
. I ,em atençao a uma Justiça excelsa e aci rs
va contida no rigor do direito A . irna daquela que esta-
b . parentementea instir . - d .o edeceu ao propósito de d ,I urçao a vlce-realeza
. atar os governadores I .
dIgnidade quase real permí: d Ih ' . u tramarmos com uma
, iun c- eso CxerCICIOd d
concessão de mercês dada d f" e atos e graça, tal como
, - e o lCI0S Outorga d d _
rnes (Santos 1999 pp 50 ) P , ' e ren as, perdao de cri-. ' ,. ss. orem, mesmo . I
recebiam atribuições desse ri b os simp es governadores
Por isso, no re imento ~po, em . ora em escala mais restrita.
1972 I I g e FranCISCO Geraldes, de 1588 (M d
, ,vo. ,p. 277), o governador estava autoriz en onça,
ate ao montante (anual glob P) d'l ado a conceder tenças
'. a . e ml cruzados u .
muito mais elevada do que o sal' . I d ,ma soma Importante,
alé . ano anua e um de b d
em dISSO, o regimento de Gas d S sem arga or1; para
par e Ousa (6 10 1612) ..
vernador o exercício da g al '. permItia ao go-
. raça re num leque't .
assim como renovou a autori _ d mUI o vasto de sltuaçõesll,
zaçao e conceder mercês até ao referido
2OSobre o uso da graça I . .
l'p pe o vIce-rei, ver Santos 1999 pp 55 .'
ara cOmparação Com os salários dos trib '. ,. 55.
H h I unals supremo . liII espan a, 1994, pp. 244 e 253. s, cmq enta anos mais tarde, ver
DIspensa do processo devid . . . .
Mf It o nos casos CIVIS e cnmina's' . _
rn tas (Mendonça, 1972 vol I p 43 O o I , auronzaçao de lançamenro de
d ' ',. n 42)· cf t· bé
or-geral do Grão-Pará e Maranhão, And'ré Víd. i . arn em o regimenro dado ao governa-
707, n? 32). a de NegreIros (Mendonça, 1972 vol II, ., p.
176
I
i
I
o A N T I G o R E GIM E NOS 1 Ro P I I...V) M 1..1' (\. ~ I •. , ' •••.•.••. • o •• ' ~.' '. ~
montante"; para além do direito a dar ofícios, em propriedade ou em
serventia." Na Índia, diferentemente do que acontecia no Brasil, a Coroa
promulgou legislação restritiva do exercício da graça pelos governadores
e vice-reis, como reação contra uma política de generalizados abusos e
excessiva liberalidade." Na seqüência da guerra holando-brasileira, os
governadores receberam o direito de conceder aos soldados o título de'
cavaleiros das ordens militares, embora esta prerrogativa se tenha manti-
do aparentemente em desuso até ao fim do século XVIII. 26
1.2.3.2. Donatârios, governadores locais e juizes
o que acaba de se dizer sobre a autonomia de vice-reis e governado-
res pode ser dito também de níveis inferiores, embora a fundamentação
doutrina! e as razões políticas não sejam as mesmas. No Brasil, os capitães
donatârios e, mais tarde, os governadores das capitanias tinham também
uma larga autonomia de decisão. É certo que, a partir de 1549, os gover-
nadores-gerais eram a cabeça do governo do Estado, gozando de supre-
macia sobre donatârios e governadores das capitanias, devendo estes
obedecer-lhes e dar-lhes conta do seu governo." No entanto, essa depen-
dência ficava bastante limitada pelo fato de que, simultaneamente, eles
deviam obediência aos secretários de Estado em Lisboa. Essa dupla sujei-
ção criava um espaço de incerteza hierárquica sobre o qual os governado-
lJSobre o regime das mercês, nomeadamente de hábitos de ordens militares no ultramar, ver
Olival, 1000, pp. 127ss. e 168ss. Para ~ coufirmaçáo desta prerrogativa de concessão de mer-
cês, até o século XIX, cf, as notas de D. Fernando José de Portugal ao regimento de 1677
(Mendonça, 1972, vol. 11, pp. 837, n? 52): aparenrerneure, ~ interpretação que prevalecia
nesta época mais tardia era a de que o governador podia conceder tenças até ao montante
anual de 400.000 rs. Em conrraparrida, não estava em prática a prescrição de enviar para
Lisboa a lista 011 ementa das mercês.
l·Embora nâo pudessem criar novos ofícios ou aumentar os salários dos existentes (regimento
de Gaspar de Sousa, 6.10.1612, ns. 43/44, apud Mendonça, 1972, vol. 11, p. 431).
2SAsmercês parrimoniais concedidas pelos governadores da índia não podiam ser executadas
sem confirmação real: Alvarás de 29.3.1618, e 28.3.1619. Em geral sobre tenças de governa-
dores da índia, ver Santos, 1999, p. 57.
26Cf. regimento de Roque da Costa Barrete, 1677 (Mendonça, 1972, vo l, li, p. 772; com noras
de D. Fernando José de Portugal, inícios do séc. XIX).
vCf. Resolução (Res.) 16.5.1716, Provisão (Prov.) 26.10.1722, Carta Régia (CR) 14.11.1724,
rodas elas referidas em Mendonça, 1972, vol. 11.
1 77
\,. A"'I I lJ l O 5
res locais podiam criar um espaço de poder autônomo efetivo. Dai que a
relação hierárquica entre o governador-geral (ou vice-rei) e os governado-
res locais podia ser descrita, ainda nos inícios do século XIX, da forma se-
guinte: os governadores das capitanias eram autônomos no que respeitava
ao governo local ("eccin~f!:!~~o'I~~}uas-p.r.ovíncias, estando sujeitos ao go-
vernado~-~r.:U ape~~_~~ m~térias que dissessem respeito à política gerare
à d(~fe~~~e_~~()_()J:~t~_<i9--ªr_~~JMendõnça, 1972, vol. n, pp. 805-8(7).
A mais importante das atribuições dos donatários, mais tarde dos go-
vernadores locais, era a concessão de sesmarias, a forma mais tradicional,
contínua e decisiva de concessão de terras no Brasil (cf., v.g., Reg. Torné
de Sousa, 1549, caps. 8 e 10).28
Qualquer que fosse o título de aquisição - questão que remete à ce-
lebrada questão dos títulos originários das colonizações européias _, os
reis de Portugal consideravam a si mesmos como senhores das terras do
Brasil que não estivessem ocupadas por colonos ou nativos (e, neste últi-
mo caso, ainda sob condição de seu domínio ser reconh::cido como tal
nos termos das doutrinas primo-modernas sobre a legitimidade do uso
das coisas). E autorizaram os donatários a conceder terras a pessoas (não-
eclesiásticas)29, que as quisessem cultivar.ê? De acordo com o primeiro
regimemo dado a um governador-geral (Torné de Sousa, 1549, caps. 8 e
10), as terras vagas deviam ser dadas em sesmaria a livre-arbítrio do go-
vernador, isentas de impostos (excero de dízimos eclesiásticos). Legisla-
ção ulterior
3
] não apenas limitou a quantidade de terra a conceder32, mas
28Base legal: Ord. Fil., 1V,43,IJ; para o enquadramento dourrinnl, ver Cabedo, 1601.
zoAurorizando expressamente a doação de sesmarias a enridades edesf:isricas, CR de 7.8.1727
(apud Mendonça, 1972, vol. 11,p. 782).
JOBase jurídica: Ord. FiI., 1\(43,13; enquadramento dourrinal, Cabedo, 1601, vol. lI, decisio
112; ulterior legislação (para além da anteriormente citada): CR. de 16.3.1682; 20.1.1699,
27.11.1711, 28.3.1743. Alvará de 3.5.1770, sobre o regime das sesmarias na Bahia. Houve
uma nova regulamentação global nos fins do século XVIII, Alvará de 5.10.1795; a sua execu-
ção foi, todavia, suspensa um ano mais tarde (l 0.12.1796) (M~ndonça, i972, vol, lI, p. 785);
sendo instituído um novo sistema pela Carta de Lei (CL) 22.6.1808 (concessão pelos gover-
nadores, carta pelo (então brasileiro] Desembllrgo do Paço). Cf. rambém, para detalhes pro-
cessuais, Alvará de 25.1.1809.
J'Nomeadamenre, CR de 27.12.1695 (Mendonça, 197i, vol. lI, pp. 780ss).
nCR de 27.12.1695: uma s6 concessão a cada benefici:irio, Com a área máxima de 4 x Ilé.
guas; CR de 7.12.1697: 3 x 1 léguas (ou 1,5 légua quadrada); CR de 15.6.1729, e 15.3.1531:
áreas menores nas estradas para Minas Gerais e nas terras minérias.
t. r.-'
178
TRO·PICOS A DINÃMICA IMPERIAL PORTUGUESAO ANTIGO REGIME NOS
garantiu ainda a proteção das terras dos índios", estabelecendo o paga-
mento de uma renda", apesar de as sesmanas, de acordo tanto com a
doutrina como com a lei", não serem "bens da Coroa", de modo a que
, I' 36sua concessão tivesse de ser conhrmada pe o rei. .
Os ouvi dores dos donatários deviam inspecionar a legalidade da con-
cessão e do uso da terra, depois de concedida. Com a contínua incorpor~-
ção das capitanias à administração direta da Coroa, seja ~or vacatura, seja
por compra, a concessão das sesmarias passou ~ competir aos g?ver~a~o-
res das capitanias, enquanto a inspeção da legalidade era cometida a tutzes
I A 37demarcantesletrados propostos pe as camara. . .
Resumindo, podemos dizer que um dos atos de poder mais Imp.ortan-
tes numa colônia "de plantação" - a concessão de terras para ~gn~ultar
- dependia dos governadores das capitanias, enquanto a avaliação su-
cessiva da legalidade do uso da terra pelos sesmeiros :st~va a cargo de
magistrados mais ou menos dependentes das elites lOCaIS.
Também no domínio da justiça, era central o papel dos governad~res
e dos seus ouvi dores, que; de acordo com as primeiras do~çõ~s ~e_caP:ta-
nias gozavam de plena jurisdição criminal e de uma vasta Jumdlç~o ~lv~1
, • - 39 E urisdi-(até 100 000 rs.) em relação aos escravos, nativos e peoes. ssa.J
ção só veio a se. parcialmente restringida (nomeadamente, no cnrne, re-
lativamente a ingênuos) pela criação do governo-geral, em 1549. "
Nos níveis mais baixos da administração, nomeadamente em matérias
de justiça, havia novos fatores de incoerência e autonomia, originados p~las
.. - direitov s - "de pessoas slm-deformações, intencionais ou nao, do ireito, aS"mao~ .
pies e ignorantes, que não sabem ler nem escrever ,facIlme~te corro~~I-
das ou assustadas pelos poderosos das terras. Com freqüência, os capitaes
. d . s de nativos em sesrnaria, CR deJJEnfaticamente, contra os abusos na coucessao e terra
17 11691 Provisão de 28.2.1716 (Mendonça, 1972, vol. li, pp. 783). . •
.. , d ti do sem sucesso pra·!4Nos finais do séc, XVII foi aventado o pagamento de uma ren a, con I ,
rico (Mendonça, 1972, vol. 11,pp. 783·784). F. 1789
"C!. provisão de 5.12.1653; sobre as classificações dournuars de bens da coroa, rerre, ,
tom. I, rir. 7, §§ 3·4; Hespauha, 1994, p. 414.
J6Cf. CR de 23.11.1698.
J'C!. resolução de 27.11.1761 (Mendonça, 1972, vol. 11,pp.,780 ss.).
.. M do Iça 1971 vol I p. _95."Sobre concessões mmerras, ver en I, -, ., I 1 131 (j . di
M d . 1972 vo pp. ss uns 1-J'Cf. carta de doação a Dnarre Coelho, 25.9.1534 ( en onça, ,. '72 I 1 83)
id . 11 3 1669 (Mendonça, 19 ,vO., p. .ções, 132); mais tarde, regimento OUVIores geraIs, ..
nomeavam condenados ("d d d " "
d. egre a os, desorelh d ")40ores, situação que se mantev . d a os ,como ouvi-
I e Contmua amenre 41 NA'CUo para o seguinte a si tu - . o trânsito desse sé-
. ,açao era, aparentem e t
de COISasnão era incomum n e, a mesma. Esse estado
, mesmo na Europa o d . .
freqüentemente iletradas e . d ' n e as JustIÇas locais eramIncapazes e us . .
aI e letrado. ar o SIstema Jurídico real/ofici-
. Embora magistrados desse tipo exist{ssem e .
qurstas e, com eles a referid bl " , m todo o remo e con-
, a pro ematIca a Sua fu - d "
- no Império _ do pode ,nçao e penfenzação
r somava-se rarnbe d Iloniais. em a os a tos tribunais co-
1,2.3.3 Relações e desembargadores
As Relações coloniais - v.g., as de Coa " '
tinham prerrogativas sernelh .', Bahia e RIO de Janeiro _
dantes aos tribunais su d'a Suplicação, Casa do Cív I) A d . . ,. premos o remo (Casa
ib . I e. outnna Jundlca c idtn unais soberanos "colare '" " . onsr erava-os como, rars', camaraís" id
o rei.42 As suas de . - A ' CUJopresi ente natural era
crsoes tem a mesma di .d d d .
podendo, no entanto ser revo d grn . a: as deCIsões reais, não
. ,. ga as ou resrringidne ' .
que a admll1istração da jusri . I . por atos regIOS. Daí
, ça, quer pe os auvldares I
constituísse uma área basta t A quer pe as Relações,
n e autonoma e auto-r I d .
porque os governadores não di egu a a, nao apenas
. '" po Iam controlar o co t ' d d '
JudIcIaIS, mas ainda porque se d disci n eu o as deCIsões
déb . us po eres Isclplmare b "e eIS e efêrneros.v s so re os JUIzeseram
Salientar a autonomia das Relaçõe' , .
histórico. Desde o estudo clá . d SSe muito mais do que um detalhe
assICO e tuart Schwartz sobre a Relação da
"'Carta de Pero Borg " ides, OUVI ar geral do Brasil" .
dança, 1972, v. 1. pp, 53ss). • para o rer (7.2.1550), ns. 3·4, 7, 12 (Meu.
41"S . f
ou 1JI armado que por a povoação do Rio Gr d .
modo de governo, nem quem admilll.Str. .. au e Ir em crescimento e não haver nela
.. asseaJustlçael!· di I '
prraes estarem absoluros", reglJueuto de Gas ar d ' aver :sso a gumas queixas, e os Ca-
416, n? 10). Exemplos pitorescos desr • p d e $OUS;\, 1612 (Mendonça, 1972, vo]. I, p
Altavila, 1925. e genero e Justiça de k"adi, comum nas periferias cf.
4lCf •
. Hespanha, 1994a, pp. 235ss N· [ di, .. . a n Ia e no Brasil o d
servia como presidente da Relação (R . ' governa ar, Como a/ter ego do rei
1972, vo l, I, pp. 385ss). egrmenro da Relação da Bahia, 7.3.1609) (Mendonça'
"Cf '. regimento de Gaspar de So usa, 6.10.1612 (M d
. . . . en onça, 1972, vol, I, p. 431, nO 46).
'-o :: .•......, '. l , ,-,-
180
o ANTIGO REGIME NOS TRÓPICOS A DINAMICA IMPERIAL PORTUGUESA
Babia (Schwartz, 1973), sabemos como eram fortes as solidariedades en- ~
tre seus desembargadores e as elites coloniais, nomeadamente a dos se-
nhores de engenhos. Daí que os juizes fossem muito mais do que simples
técnicos de direito, esforçados aplicadores do direito régio. Muito freqüen-
temente, eles veiculariam com eficiência ~s interesses dos poderosos lo-
cais, no julgamento de questões tão estratégicas como a interpretação de
cartas de doação, a revogação de sesmarias, a instituição, sucessão ou
desmembrarnento de propriedade vinculada (morgados e capelas). Pode-
mos então entender como esses órgãos podiam funcionar como fatores
de periferização da política colonial.
Mas mais do que isso. O regime estabelecido para a sindicância dos
governadores e vice-reis realça ainda mais a importância das Relações. De
fato, um alvará régio de 9.4.1623 atribuiu às Relações, nomeadamente na
Índia, a competência tomar residência" aos governadores cessantes, em-
bora isso tenha desencadeado dura polêmica, já que os governadores se
sentiam diminuídos por essa supremacia outorgada às Relações, para além
de que temiam seus resultados práticos, numa altura em que já nem se-
quer se encontravam na colônia para organizar (ou manipular) sua defesa
(Mendonça, 1972, vol. 11,p. 826).
No Brasil, a Relação já exercia o poder de controle sobre os funcioná-
rios civis (ouvidares) e militares (capitães) postos pelos donatârios", para
além do controle judicial geral sobre todos os atos de governo. Segundo o
direito comum do reino, a Relação tinha ainda o poder de tomar residên-
cia aos governadores e vice-reis que terminassem seus mandatos, embora
este último princípio não estivesse em uso. Em 1711, uma questão lateral
(controle da navegação estrangeira ao longo da costa brasileira) levou à
sua implementação. O vice-rei Marquês de Angeja reagiu fortemente, ar-
gumentando que tal medida poria o governador na dependência da Rela-
ção, com grave prejuízo da sua autoridade e dos interesses superiores do
rei (Mendonça, 1972, vol. lI, p. 826). Embora a solução final não tivesse
acolhido sua pretensão de controlar o Judiciário, uma provisão de 1.2.1717
reafirmou a submissão dos governadores à sindicância da Relação, selan-
""Residência" ou "sindidncia" era a inspeção trienal de magistrados ou oficiais.
<sCf. regirneuro de Gaspar de Sonsa, 6.10.1612 (Mendonça, 1972, vol. I, p. 429, n? 41).
.f. c::; /- : "- (/' " / .
1 8 1
CAPiTULO 5
do sua efetiva dependência em rela ão a u .
manente (Mendonça 1972 I 11ç ma elite local enraizada e per-
, , vo. ,pp. 826-827).
1.2.3.4 Câmaras municipais
Os desembargadores eram apenas uma d .
usavam para colonizar a ad '. _ as Vias que as elites locais
. mll1Jstraçao. Outra v' •
as quars os governadores mantinham freot Ia era~ as camaras, com
Leonzo, 1986 pp 321ss' B h equentes conflitos (Boxer 1965·
,. ,et encourt 1998 I "
III, pp. 270-280).46 O exe I " vo . II, pp, 343-361; vol.
d d mp o porventura mais' t 'e e Macau, no sul da China. lJ1eressante e o da cida-
O município de Macau foi criado por VOltad
dor Wan Li (1583-1620) arrib ido o rr e 1584, tendo o impera-n UI o o título de m d .vereadores, o procurador da cidad d d lhe ~ .anm a um dos seus
lação chinesa. A câmara de M e, (Lan,0- e ° direito de julgar a popu-
. .. -._ acau ea Senado) at de fUID.IJ:LedJador.remoto entre dOI~sI ~-~_.~_ .. __~av~~_e_tato, como
d . ------- mpenos, sempre " d . --.. as~I~~e~}~~is. A sua indcpend~-;;;-;:n;--.'-- na OtIC~ ~~I~esses
':.otável. Mantinha ;éTaç6es djretãsc~m :~?~~a~o d~p.I.?má~a
controlava todo o trânsito p Iíri di I ,. rei (Sunto) de Cantão e
. I' o I ICO- ip Omatlco co E
me uindo as Molucas e o J - I . . m o xtremo Oriente
apao, sso perrrunu uma f ' '
com o Império espanhol do O . . ase aurea de relações
I " nente e, por interm 'd' d F'I"O mpeno espanhol das Arné . e lO as I ipruas, com
rrcas mesmo du .
(1640-1688) (Hespanha 199'5 '2 ranre a guerra da Aclamação
I,' "pp. 2e76ss)
470 .. I
po rnca da Coroa portugues I _ . pnncipa esforço da
a em re açao a M d d
culo XVIII foi o de redu' L I 5 acau, es e os finais do sé-
, zir o ea enado s di -
câmara municipal o que só as imensoes de uma simples
, se consumou em m d d '
(Hespanha, 1995, pp. 22, 54-56, 76ss). ea os o século seguinte
1.2.3.5. Oficiais e servidores
A administração do Brasil - que '.
d cousrrnu o exe I "te e uma colônia de plantação . mp o mais Importan-
. , com uma populaç- id
e socIalmente bem estruturada _ h ao resi ente enraizada
con eceu outra forma singular de cornbi-
"Sobre a câmara de Coa .. , .
.,. e seus pnvIleglos, Lopes 1993
ConsIderando, enfaricamell[ M.. ,.
. _ e. acau COmo uma "ReplÍblic .. '1"a merc,lnn ,ver Lcssa 1974
,__ ,_ - J"'I.I"....r.::-V'\...C..- • ,.- .....• , .. :, .•. ~"-~'''' . I .
o ANTIGO REGIME NOS TRÓPICOS A DINÂMICA IMPERIAL PORTUGUESA
nar rnteresses sociais e poderes administrativos: a venalidade dos ofícios. A l
monarquia portuguesa nunca admitiu o princípio de que os cargos públi-
cos podiam ser vendidos, ao contrário doi que aconteceu com os exem-
plos típicos da Espanha e de França. A ,venda privada de cargos era
formalmente proibida (Ord.Fil., I, 96 [venda pelos titulares]; 11,46 [ven-
da por aqueles que tinham o poder de prover ofíciosl), embora seja mais
do que provável que a maior parte das renúncias "nas mãos do rei" enco-
brissem vendas. A venda de ofícios pela Coroa também estava excluída,
embora apenas por lei especial (CL 6.9.1616), sendo considerada como
não admissível peladoutrina da época (Hespanha, 1994, p. 513; Olival,
2000, pp. 245ss). Durante os anos 20 e 30 do século XVII, bem como
depois de 1640, a condenação da venda dos ofícios era um tópico corren-
te na literatura anrifilipina." f\ PéltriIp9piaJização dos ()fí1::.0~exis.!!a.,_~
antes sob a f~!.!!1~~e~trib_uiçãode direitos sucessórios aos filhos dos ofi-
ciais que tivessem servido bem; e era justamente o reconhecimento desses
direitos que, ·-pI:õvavéltn.~~~e.,jnlpedi~ 4~-f~~~a decisiva a venalidade, já
que.a Coroa não podia vender os ofícios vacantes sem violar estes direitos
de sucessão, ao .conrrário do queacontecia com a concessão de hábitos ou
de -i~~õs"d~J!:~~.Ig:ti~.49
A situação no Brasil evoluiu, porém, num sentido diferente.
O pnrnerro regimento de governo" proibia a criação de novos ofícios
pelos governadores com base numa disposição das Ordenações que reser-
vava para o rei a criação de ofícios (cf Ord. Fil., lI, 26, 1; 11,45, 1,3,13,
15, 31). Para os ofícios já existentes, os governadores podiam nomear
serventias, mas não dá-I os em propriedade. Em causa, não estava apenas
O privilégio real de dada de ofícios (Hespanha, 1994, pp. 3985S), mas ain-
da o já referido direito dos filhos.
48"Fa2.iam prática neste reino coisa nunca vista entre portugueses: venderem-se a quem mais
dava os ofícios que antigamente se davam de graça" (apud Arte de furtar, capo XVII).
"No entanto, existiam também obstáculos de natureza ideológica, como a condenação da
simonia (Hespanha, 1994, pp. 498ss).
sOCf., v.g., regimentos de Francisco Geraldes, 30.5.1588; e Gaspar de Sousa, 6.10.1612 (Men-
donça, 1972, vol. I, pp. 275 e 431); de Roque da Costa Barrete, 23.1. 1677 (Mendonça, 1972,
vol. 1\, P: 753). Em contraparrida, os primeiros "capitães donatários" tinham o direito de
criar c prover os ofícios: carta de doação de Duarte Coelho, 25.9.1534 (Mendonça, 1972,
vol. I, p. 133).
, -
Porém, no início do século XVITI .
d '. ~ , o regime começou a d Uecreto real!' estabeleceü -_.. -".-. ". mu ar. m
. ... ... . que os novos ofícios (cnados o . 1 'dos os da Fazenda) c-····d···d·.- _ u a errar, exc UI-u 1Üssem a os a _.__.- - . ' .., F d .. ... .- . _.- .. _.. .quern tivesse oferecido um "do ti "a azen a No f d na IVO. '. un o, tratava-se de uma espécie d" .;, .... .: .
cana a "mercê" do ofi-'c' .. e serviço., q.ue iustifi-10, nos quadros de u I" "b .. '...h' . ._.. _~.: .. - .. " ..- . ma ogica eneficial" (H
pan a, 1993ai Olival, 2000) já conhecida M' d . es-
d '. -.' ais rar e o regime doriativo veio a ser estendido a todosos ofícios '. ._.. . .?são de 23.12.1740) D ' f . ,.' mesmo os antigos (ProVI-
1_ . . ai para o uturo, os ofícios foram vendidos em lei-
ao, a quem rnars oferecesse, segundo a uilo a ue - .." ...
antidoral e consuetudinário. -"52 q q se chamou o direito
real~~:~~:~~~od: século XVIII, o,r~gime começou a mudar. Um decreto
dados e . que os novos ofícios (já criados ou a criar)54deviam ser
'd m propnedade aos que prometessem um "donativo" . os ffci
provi os em serventias pagariam à Fazenda Real u ,o ICI~S
mento anual (terça)S5 tal f . m terço do seu rendi-
ouvidor).56 Mais tard~ (pr~~:~o ~s:~;V~~d;4~)e10 tx:(ou pelo
foi ai d d ' . ", o regime o donativo
f .arga o a to os os ofícios (exceto os de tesoureiro) Daí em di
o ICIOS vagos passaram a ser vendidos em leilão' I· ~ante, os
c' 57 Ti" ' aque es que mais ofere-
Iam. eoncamenr-, ISSO n50 correspondia a lima verdadeira venda, pois
S/Decrero de 18.5.1722, rrdllsmitido or r . - d
754) P P OVISdO e 23,9.1723 (Mendollçd 1972 I 11
. , I VQ. ,p.
J2Por " id I". antJ ora entende-se o dever que se funda na randã . ~
slllaldgmático ou mercenário como. g ao, nao o que decorre de um aro
. . . ,a compra e venda (Clavero 1991) J"
dlllano é usado nos meados do século XVIII ara '..' . •• o termo consueru-
que não obedecem ao novo padrão (mod p) d def~lgnar as normas do regime dos ofícios
D . erno o o ICIOcomo ca -,' ..ai que fossem "consuerudinários" d d ,rgo nao patnmoOlallZddo.
- e acor o Com a leg' I, ,~ d n b
(CL, 23.11.1770 alvará 20 5 1774 di IS açao e rorn aI relatiVd d ofícios
, . . - os Ireltos dos filhos dOS f· d .
concepção dos ofícios, ver Freire 1789 I 2 20 o ICIOS os pais. Sobre a nova
SJDecreto de 185 1722 rr, . idc " .' '
54 . :. .rransrmn o por provisão de 23.9.1723 Mend .
Exclullldo ofícios de tesoureiros d d. (onça, 1972, vol.Ij, p. 754).
H. . e ren as reais.
A terça era o rendJnlento normdlmenre pago pelos· uá .
. seruent rtos aos propri ,. d ".no sistema de arrendamento de ofícios es . b I . netanos o OIlCIO,
1994, p. 515), ta e ecido nos meados d? século XV/I (Hespanha,
S6Este regime foi estendido ao Rio pelas provisões de 27.7 e de 23 . . ~
29.1.1726, este pagamento . I' '. d . . .12. 1723. Pela provrsao de
era Imita o aos OflCIOSde renda su .
bém, provisão de 29.1.1727. perior a 200. 000 rs. Cf ram-
s'A base para o cálculo do dountioo devido era o monran. ..
ou o valor dvaliado da serve ri, ( . ~ d te pago pelo antenor titular do ofício
. n Ia pro vtsac e 2.4.1756). Se f· .. _" ..
ninguém pagaria nada por ele o d o o ICIOera rao InSignificante que
, governa or podi, d ~ I dlaconce e- o e graça (Alvaráde 10.3.1740).
o montante pago era uma mera doação, correspondendo ao dever de gra-
tidão para com o rei que lhe concedera o ofício, tudo de acordo com o
chamado "direito antidoral e consuetudinário". A prática seguiu o direi-
to: de 1761 a 1767, um membro do Conselho Ultramarino vendeu em
leilão a propriedade ou as seruentias de todos os ofícios de justiça da Bahia,passando as cartas de ofício aos que mais tin~am oferecido. Para além disso,
os proprietários de novos ofícios podiam arrendá-Ios a seruentuános
(Mendonça, 1972, vol. II, p. 735).58 No entanto, depois de 1767, a venda
era limitada às seruentias, pagando o seruentuário como meias-anatas
(Hespanha, 1994, p. 48) o terço do rendimento avaliado iterçay", para
além de um donatiuo prefixado. O leilão era, assim, substituído pela ven-
da a preço fixo.
O sistema de leilão foi reintroduzido em 1799 (CR 11.12) para as
serventias dos ofícios de justiça. Esta informação está contida num comen-
tário ao regimento dos governadores do Brasil, escrito por um vice-rei no
início do século XIX60, em que se diz que a prática brasileira era seme-
lhante à corrente em quase todo o ultramar. Ainda que o sistema de leilão
tenha elevado ligeiramente (apenas no relativo ao donatiuo, não ao terço,
fixado por avaliação) a renda fiscal, o autor do comentário exprime uma
opinião fortemente negativa acerca dele, já que a experiência teria demons-
trado que as seruentias com freqüência eram vendidas a grupos rivais que,
por causa de seus ódios mútuos, ofereciam doações mais vantajosas, com
prejuízo do "interesse público" e dos oficiais de mais mérito mas menor
fortuna.s' No Rio de Janeiro, o sistema de leilão também foi estabelecido,
apenas com diferenças de detalhes", para as seruentias dos ofícios de jus-
S8Fonte CR 20.4.1758.
S9De acordo com uma lei de 1666, os seruentuârios tinham de pagar aos titulares do ofício um
terço do seu rendimento. O regime brasileiro é uma extensão desta regra: aqui, o terço dos
ofícios VdgOS dados em serventia devia ser pago à Coroa, como proprietária do ofício, pois
não existia 11m titular dele (Hespanha, 1994, p. 515).
6OD. Francisco José de Portugal, que anotou o regimento dado em 1677 a Roque da Costa
Barrero (Mendonça, 1972, vol. lI, p. 756).
·'Para mais - diz-se ainda - esta mudança trienal virtual dos oficiais criava o caos nos arqui-
vos, devido à transferência dos livros e papéis de umas casas para outras (Mendonça, 1972,
vol. lI, P 757).
6lQ donauuo não se distinguia da terça, oferecendo o candidaro uma soma global (Mendonça,
1972, vol. /I, p. 757).
. tiça (CR 24.10.1761). Os únicos ofícios excetuados eram os da Relação,
providos pelo seu governador.
<?_I}_~eja,desde o início do século XVIII a propriedade - ou, pelo
menos, as serventias - de todos os ofícios de justiça (notários e escrivâes)
estavam à disposição das elites econômicas das colônias, nomeadamente
do Brasil. A importância deste fato não pode ~er desconhecida º!!.li.!l.~es-
timada. Não sobretudo por causa do rendimento que a propriedade dos
ofícios produzia (Hespanha, 1994; p.p.uÚOssr;-mas-antes pela centraI Úíade
.desses ofícios num ambiente político-cultural que já foi desÍgrlaôoae-âViltà-- ._---_.. -'-.' .-- - - ..- '. _.-. ----------
della carta bollata. Nesse tipo de cultura política - que era o da Europa
;;-oderna e das suas colônias -, os documentos escritos eram __decisiYQ.~
para certificar matérias decisivas, desde o estatuto pessoal aos direitos e
E..everes patrimoniais. As cartas régias de doação (v.g., de capitaniasfOú
de foral, as concessões de sesrnarias, a constituição e tombo dos morga-
dos, as vendas e partilhas de propriedades, os requerimentos de graças
régias, a concessão de mercês, autorizações diversas (desde a de desmern-
brar morgados até à de exercer ofícios civis), processos e decisões judici-
ais, tudo isto devia constar de documento escrito, arquivado em cartórios
que se tornavam os repositórios da memória jurídica, social e política. Tudo
aquilo que importava nesta sociedade tinha de deixar traços aí. Em
contrapartida, a preservação, extravio, manipulação ou falsificação de
documentos tinha um enorme significado político. Nesse contexto, pode-
se imaginar a amplitude das lutas para o controle dos arquivos e dos car-
gos da justiça, bem como os investimentos que os poderosos estariam
interessados em fazer em sua compra ou arrendamento, quer para desem-
penho próprio, quer para beneficiar apaniguados. De fato, parece que
muitas compras se destinavam justamente à remuneração de favores ou a
atos de proteção; com o que, além do mais, se recebia em troca a garantia
de que os papéis, cômodos ou incômodos, estavam em boas mãos.
Em suma, explica-se a partir daqui o quadro traçado por Manuel
Antônio de Almeida, logo na página de abertura das suas Memórias de
um sargento de milícias (1852-1855):
Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos
do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeita-
" IMPERIAL PORTUGUESA
o ANTIGO REGIME NOS TRÓPICOS: A DINAMICA
" o d I' lIlidiÍvel cadeia [tuiicutrit! lJue euuol-
J 'I' !OflllllUllllI uni dos extremos ti ar , ,
(U , d ndo era entre 1/0514m
°a todo o Rio de [aneiro 1/0 tempo em que a errtat O'VI d b adores ra os ex-
I to J - uida: o extremo oposto eram: os esem arg .e emen (UI • ' , d d I 'e
, s. t. " Ido-se lechavam o círculo entro o qua s
tremes se tocam, e estes, ocat 'o ~, 'o nzões priru;ipais e
" b t i das atacoes provara", rpassavam os ternueis com a es s '". , E t-, di o o 'e -hnma o processo... rtt er-
IO/'1uI/
o"e todos esses tre;eitos;u tcuus (l qt~,es c - d '
-', o d ha e sua casa o
ríve/ qunudo, ao voltar de uma esquina ou aoosalr e num, 'ldo't,a:to
"o J -d 10 esbarrava com uma daquelas solenes jIguras que, desdobrm I o,
cuui l - lê I ' ljidelu;/(/l' Por mnts
dele UlIlI1loIha de papel, começava fi e- 11 em tom cal - d" '" _
(Jue çe fizesse não havia remédio em tais circullst!lIU;/{/~ sellabo elXll~oe~j~_
, ", íve/- Dou-me por citado. Ninguém sa e que stgn: /
par dos lábios o terr o' I IS' Eram uma sentença
"at"ÍÍo[ntalissima e cruel tinham estas poucas pa (/vr~ . o di
c ".-- o tra s me~mo' quenam Izer
de peregrinação eter1Ulque se pro1llu/.Cu!VaCOIl ra s/,' 'b di u t
o' o d o 'a em CUJO termo em IS ml e
que se começava uma longa e ala Igosa VI g " r im arte de
, da Rela "ão e durante a qual se tinha que paga p
era a auxa ~ , d do o procurador, o, de pontes' o a voga ,
passagem em um sem numero ,o· "' - rta de mão
" ""d "" o -c o [uiz inexoravets Carentes; e~tavam a po
111.(]I.ITIor, (l escnua " " "deixado não um óbolo,
o 'p 'SfIva sem que lhe' tivesse •
;~;;~i~;d: ';'~~:I:;:Jd;sde SU:1S a[gibejra~~,e aié li última parcela da sua
paciêtu;ia.
1.3. Conclusão
. _ 'em dos equilíbrios políticos entre a
O quadro acima nao esgota a imag d N erdade ele ape-
.' d ' oca mo erna. a v ,metrô ole e as colônias urante a ep " d ode
nas fo~nece um rastreio dos nichos instituCl~naIsI·ddedoensdpeo~t~coas~e~ada
d d b vemente as virtua 1 aser construído, escreven o re d' tal como a descri-
f de um qua ro vazro,um deles. De certa orrna, trata-se Q nada fica dito sobre
çâo de um tabuleiro de xadrez c de suas peças. ouase 'orn elas se cons-
. concreto as peças se ammam e c
o modo como, num Jogo " . al se pode entender
. N t t mpouco um jogo retroem estratéglas. o entan o, a
do - puramente formal. .sem essa escnçao d . - formal está incompleta, pois
Resta esclarecer que mesmo esta ~scr~çaoo r - da vida colonial,
nada se disse sobre o~t~OSpl~nos ~~ ll1stlt~ClOn;alZ;~~: como for, parece
como a Igreja, a adml~lstraçao mllttar, a. az:ntradici~nal imagem de um
difícil sustentar, a partir do quadro descnto,
'"
Império centrado, dirigido e drenado unilateralmente pela metrópole. Essa
agonia dos enviesamentos imperialistas vai obrigar à revisão de uma grande
quantidade de trivialidades pouco consistentes sobre o imperialismo e a
exploi:ação metropolitanos ou a redução das tensões políticas no Brasil
colonial à tensão entre a colônia e o reino. O que leva, por sua vez, a exa-
gerar as rupturas da independência.
CApiTULO 6 As câmaras ultramarinas e o
governo do Império"
Maria Fernanda Baptista Bicalho
- Gon alo Mo nreiro e de José Pcssô a .• Agradeçoa leitura arenra e as sugesroes de Nuno ç

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