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Excelentíssimo Senhor Dr.º Juiz de Direito da ... Vara Criminal de Campos, do Estado do Rio de Janeiro
Lauro, já qualificado nos autos, vem, por seu advogado que ao final assina, apresentar Alegações Finais/Memoriais com fulcro no art. 403, §3º, do Código de Processo Penal, pelas razões a seguir expostas.
DOS FATOS
O réu, foi preso em flagrante por policiais militares pela suposta prática do crime de estupro qualificado contra a vítima Maria.
Por tal motivo, o Ministério Público ofereceu denúncia em desfavor do réu, pela prática do crime do art. 213, §1º, pelo fato de Maria ter 17 anos na data dos fatos; cumulado com art. 14, II e com art. 61, II, alínea f, todos do Código Penal.
Na primeira audiência de instrução o réu não participou, visto não ter sido intimado para tanto, momento em que foram ouvidas apenas a vítima Maria, que não paresentou documento idôneo que comprovasse a sua real idade; e José, testemunha dos fatos confirmados conforme descrito na denúncia.
Na segunda audiência, o réu foi ouvido e confirmou os fatos da denúncia.
Por fim, o Ministério Público em memoriais reque a condenação do réu nos termos da denúncia.
DO DIREITO
Preliminarmente, requer seja declarada a nulidade ocorrida na audiência, visto que o réu não foi devidamente intimado para comparecer à audiência, de acordo com o que encontra disposo no art. 400, caput, bem como em seu §1º, o qual dispõe que as provas serão produzidas em uma só audiência, bem como pelo que dispõe o art. 564, IV, do Código de Processo Penal. Desta forma, deverá ser declarada a nulidade dos atos praticados a partir da primeira audiência de instrução e julgamento.
Porém, caso não seja esse o entendimento, resta evidente que o réu não praticou nenhum crime, pois para que seja responsabilizado pela infração penal torna-se imprescindível que ele, ao menos, tenha tentado praticar o crime, ensejando a aplicação do art. 14, I, do Código Penal. Contudo, no caso em tela, o réu não chegou a iniciar a execução do delito de estupro qualificado do art. 213, §1º, do Código Penal, o qual consiste em constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso, contra vítima maior de 14 anos e menor de 18 anos, sendo este um crime material. Desta forma, resta evidente que não houve qualquer lesão ou risco de lesão ao bem jurídico tutelado, tornando a conduta do réu atípica, visto que foram praticados apenas os atos preparatórios, o que não é punível em nosso sistema penal. 
Assim, ante o exposto, torna-se imperiosa a absolvição do acusado, com fundamento no art. 386, III, do Código de Processo Penal.
Entretanto, caso assim não se entenda, no caso de haver condenação do réu, deverá ser observado o fato de que Maria não comprovou de forma inequívoca que possui 17 anos, fato este que é circunstância elementar da qualificador do crime de estupro do art. 213, §1º, do Código Penal. 
Por este motivo, se for do entendimento que haja condenação do réu, deverá ocorrer a desclassificação do crime de estupro qualificado do art. 213, §1º, do Código Penal, para o crime de estupro do art. 213, caput, do Código Penal, visto não ter sido comprovada, de forma hábil, a idade da vítima.
Ainda, em relação à agravante do art. 61, II, alínea f, do Código Penal, a qual consta como agravante para o crime praticado com abuso de autoridade ou prevalência de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, entende-se necessário o seu afastamento, já que não existia qualquer relação de autoridade entre o réu e a vítima, bem como não havia relação doméstica entre eles.
Deverá, ainda, ser fixada a pena no mínimo legal, pois o réu, como apresentado não possui antecedentes, bem como inexistem outras circunstâncias judiciais negativas, conforme art. 59 do Código Penal, bem como deverá ser reconhecida a atenuante da confissão espontânea, de acordo com o disposto no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, já que o acusado confessou espontaneamente em audiência a autoria do crime.
E mais, para fixar o quantum de aumento da pena deverá ser considerado o iter criminis percorrido, ou seja, o quanto o acusado se aproximou da consumação do crime, já que o art. 14, II, parágrafo único, do Código Penal, determina que, no caso de crime tentado, a pena deve ser diminuída de um terço a 2 terços, sendo que no caso em tela, distante foi a possibilidade de ocorrer a consumação do crime, motivo pelo qual deverá ser diminuída ao máximo da tentativa, que é de dois terços.
Por fim, deve ser fixado, quanto ao regime, o regime inicial aberto, já que a pena mínima do crime de estupro é de 6 anos, de acordo com o art. 213, caput, do Código Penal, e ao reduzi-la em 2/3, em virtude do narrado anteriormente, a penal final ficara em menos de 4 anos, razão pela qual o regime inicial deve ser o aberto, com fulcro no art. 33, §2º, alínea c, do Código Penal, segundo o qual o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá, desde o início, cumprir a pena em regime aberto e mesmo que o crime seja hediondo, não impõe que o regime inicial seja o fechado, de acordo com o entendimento do STF ao declarar a inconstitucionalidade do art. 2º, §1º, da Lei nº 8.072/90, que impõe o regime inicial, para tias crimes, obrigatoriamente como sendo o fechado.
DO PEDIDO
Ante o exposto requer:
Seja reconhecida a nulidade do processo desde a primeira audiência, posto que o réu não foi intimado para a realização do ato;
Seja o réu absolvido, com fulcro no art. 386, III, do Código de Processo Penal, pois a conduta não constituiu crime;
Caso haja condenação, requer, subsidiariamente:
c.1) seja afastada a qualificado do crime de estupro do art. 213, §1º, do Código Penal, devendo réu ser condenado pelo crime previsto no art. 213, caput, do Código Penal;
c.2) seja a pena fixada no mínimo legal, com fulcro no art. 59 do Código Penal;
c.3) seja afastada a agravante do art. 61, II, alínea f, do Código Penal;
c.4) seja reconhecida a atenuante da confissão espontânea prevista no art. 65, III, alínea d, do Código Penal; 
c.5) seja reduzido ao máximo a pena em razão da tentativa, de acordo com o art. 14, parágrafo único, do Código Penal;
c.6) seja fixado como regime inicial o aberto, de acordo com o art. 33, §2º, alínea c, do Código Penal.
Campos, Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2018.
Assinatura - OAB

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