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AULA 2 DIREITO COLETIVO DO TRABALHO Prof. Ronald Silka de Almeida 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, efetua-se a análise da organização sindical no Brasil, e para tal, abordam-se: o conceito e o instituto da liberdade sindical; a liberdade sindical no setor público; a unicidade sindical; a questão da base territorial mínima; a representação por categorias; o conceito e origem dos Sindicatos; a natureza jurídica e representação dos Sindicatos; Entidades de Segundo Grau ou de cúpula; e o Direito Coletivo e os Tratados de Direitos Humanos. CONTEXTUALIZANDO Uma determinada associação de empregados integrantes da empresa Y, descontentes com a atuação do sindicato representante da categoria profissional MM, a qual pertencem, segundo a atividade preponderante da empresa Y, resolvem comunicar ao sindicato que não mais participam daquela entidade sindical e que, a partir de então, estão criando um novo sindicato que os represente. Informam também que a atuação do novo sindicato é na mesma base territorial e que, de uma forma mais objetiva, segura e correta, estarão representando a categoria profissional MM, a que pertencem todos os trabalhadores da empresa Y e os que em outras empresas exerçam a mesma atividade econômica e profissional. Assim, dois são os questionamentos: a) A organização sindical brasileira permite a existência de dois sindicatos em base territorial idênticas representar uma mesma categoria profissional ou econômica? b) Está correta a insurgência da associação, podendo assim criar um novo sindicato para melhor representar a categoria profissional dos trabalhadores? TEMA 1 – LIBERDADE SINDICAL É de se esclarecer que a Liberdade Sindical consiste na faculdade que possuem os empregadores e os obreiros de organizarem e constituírem livremente seus sindicatos, sem que sofram qualquer interferência ou intervenção do Estado, cujo objetivo é a defesa dos interesses e direitos coletivos ou individuais da categoria, seja ela econômica (patronal), seja profissional (dos trabalhadores), inclusive em questões judiciais ou administrativas. Explica Brito Filho (2009, p. 97) que, “em relação à liberdade sindical, o Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, passou a adotar o sistema sindical 3 híbrido, em que existe a liberdade de associação e administração, e restrições à liberdade de organização, de exercício das funções e de filiação e desfiliação”. Observe-se que a liberdade sindical pode ser classificada em: a) Liberdade sindical coletiva e que envolve: a liberdade de associação; liberdade de organização; liberdade de administração e liberdade de exercício das funções sindicais; b) Liberdade sindical individual, que está diretamente relacionada à condição de empregados e empregadores do livre exercício de associação profissional ou sindical, podendo participar e até mesmo criar organizações sindicais (Brito Filho, 2009, p. 97). 1.1 Liberdade sindical e manifestação de liberdade A liberdade sindical está diretamente relacionada com a liberdade de trabalhar, posto que é por meio do sistema sindical que o trabalhador pode exercer a exigência do cumprimento de regras em prol da segurança no trabalho e do trabalho. Isso quer dizer que a liberdade sindical encerra um mecanismo de efetivação dos direitos de proteção ao livre exercício das atividades laborativas. Conforme José Augusto Rodrigues Pinto (1998, p. 78): vemos então a liberdade sindical encerrada num círculo protetor que compreende a liberdade de trabalhar, a liberdade de associar-se, a liberdade de organizar-se, a liberdade de administrar-se, a liberdade de atuar e a liberdade de filiar-se. Caracterizamos esses princípios como convergentes, no sentido de que afluem para um estuário comum, o da própria liberdade, no intuito de dar conteúdo consistente ao centro vaporoso que seu conceito, isoladamente nos oferece. Definimo-los como complementares porque completam o sentido abstrato da liberdade com um revestimento concreto e resistente. O exame pormenorizado de cada um desses modos de manifestação da liberdade sindical torna-se indispensável à exata compreensão dos fundamentos do sindicalismo por eles constituído. Desse exame concluiremos haver princípios convergentes de configuração individual, porque dirigidos à pessoa do trabalhador, ao lado de outros, de configuração coletiva, porque voltados para a coletividade de trabalhadores que, organizada, dá lugar à noção de categoria. 1.2 Liberdade sindical no setor público Semelhante ao setor privado, em linhas gerais, o direito de sindicalização no setor público passou pela fase de restrição total (proibição absoluta), por outra de tolerância (proibição atenuada), geralmente abrangendo apenas aqueles servidores ligados a atividades econômicas até chegar à sua admissibilidade (reconhecimento genérico), com vedação a algumas categorias, por exemplo, polícia e forças armadas. De acordo com Jorge Neto e Cavalcante (2015, p. 1.302), atualmente 4 essa questão encontra-se superada, é garantido constitucionalmente o direito de sindicalização do servidor público civil. A Constituição de 1988 garante a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar (art. 5.º, XVII). Em relação ao servidor público estatutário a previsão se encontra no art. 37, VI, da Constituição. Observe-se que “a Constituição de 1988 veda ao servidor público militar das forças armadas a sindicalização e a greve (arts. 42, § 1.º, e 142, § 3.º, IV)” (Jorge Neto; Cavalcante, 2015, p. 1302). Aos empregados públicos, a liberdade sindical encontra-se disciplinada no artigo 8.º, da CF. Neste caso, o sistema é semelhante ao da iniciativa privada, sofrendo limitações apenas quanto à celebração de acordos e convenções coletivas de trabalho quando o empregador for a Administração (direta, autárquica e fundacional) (Jorge Neto; Cavalcante, 2015, p. 1.302). Isso significa que, “em relação às empresas públicas, às sociedades de economia mista e suas subsidiárias não há qualquer restrição, salvo aquelas expressamente previstas pela Constituição Federal (art. 37, § 9.º)” (Jorge Neto; Cavalcante, 2015, p. 1.302). 1.2.1 Normas internacionais direcionadas à negociação Coletiva no Setor Público A Organização Internacional do Trabalho – OIT adota diversas convenções direcionadas à negociação coletiva não somente para os trabalhadores em geral (privados), mas também direcionados aos da Administração Pública (servidores), tais como: “ Convenção OIT n.º 87, de 1948 – Liberdade Sindical e Proteção ao Direito de Sindicalização, ainda não ratificada pelo Brasil” (Süssekind, 2007, p. 387) “Convenção OIT n.º 98, de 1949, ratificada pelo Brasil em 1952, já estatuía que os trabalhadores, inclusive os da Administração Pública, deverão usufruir de proteção adequada contra quaisquer atos atentatórios à liberdade sindical e de negociação” (Süssekind, 2007, p. 112) “Convenção OIT n.º 151, de 1978 – Direito de Sindicalização e Relações de Trabalho na Administração Pública – ratificada pelo Brasil em 2010, e que estipula no artigo 1.º “a presente Convenção deverá ser aplicada a todas as pessoas empregadas pela administração pública, na medida em 5 que não lhes forem aplicáveis disposições mais favoráveis de outras Convenções Internacionais do Trabalho” (Süssekind, 2007, p. 439) “Convenção OIT n.º 154, de 1981, ratificada pelo Brasil em 1992, fomenta a negociação coletiva de trabalho, aplicando-se a todos os ramos de atividade econômica e profissional, e inclusive para à Administração Pública. No referido documento há previsão para que sejam adotadas medidas de estimulaà negociação coletiva e de ampla possibilidade de aplicação” (Süssekind, 2007, p. 270) “Recomendação nº. 163, da OIT, de 1981, sobre a promoção da negociação coletiva, para os empregadores públicos e privados (OIT, 1981). TEMA 2 – SISTEMA DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL Em relação à estrutura, a atual organização sindical brasileira adota o sistema confederativo de representação sindical. Como concebido e imposto, apresenta estrutura de forma piramidal, ou seja, na base encontram-se os sindicatos, no centro, as federações e, no topo, as confederações e centrais sindicais. Esclarece Hinz (2012, p. 61) que, “de acordo com esse princípio confederativo, e diferentemente do que muitos entendem, não há hierarquia entre os três entes, mas sim uma relação de coordenação”. Cada “entidade sindical, como pessoa jurídica de direito privado que é, dispõe de autonomia para realizar as atividades que entenda necessárias para bem cumprir o seu papel ante os seus representados” (Hinz, 2012, p. 61). 2.1 Unicidade sindical Além da estrutura piramidal, também é preciso, ainda, respeitar o seu agrupamento, que se dá por critério de homogeneidade, decorrente da unicidade sindical, sistema este em que há uma única entidade representativa dos trabalhadores, de acordo com a forma de representação adotada (seja por categoria, base territorial, profissão ou empresa) (Pamplona Filho, 1997, p. 42). Em razão da aplicação do sistema de unicidade sindical, não é possível a representação de trabalhadores de categoria já organizada em sindicato por outra 6 entidade sindical, devendo o regime de monopólio ser aceito e defendido, ainda que não seja a melhor opção (Brito Filho, 2009, p. 87). 2.2 Base territorial mínima Outro critério a ser observado, de acordo com o texto constitucional, é o da base territorial mínima que é delimitada pelos interessados, devendo ser, pelo menos, igual a um município. Na ótica de Brito Filho (2009, p. 87), trata-se de um avanço e um retrocesso, ou seja, “um avanço por não mais poder o Ministro do Trabalho impor a base territorial dos sindicatos, o que era feito anteriormente” (art. 517, § 1.º, CLT), e um retrocesso quando “ela é praticamente anulada pela unicidade sindical, pois a livre vontade fica condicionada à inexistência, na base pretendida, de outra entidade sindical que reúna o mesmo grupo, profissional ou econômico”, e complemente “um retrocesso, por ter sido ampliada a base territorial mínima, de distrital para municipal. Nesse caso, observe-se, já havia a restrição, considerando-se o retrocesso a ampliação em si”. 2.3 Representação por categoria A sindicalização por categorias está prevista no art. 8.º, II, da Constituição Federal, e que, segundo Brito Filho (2009, p. 89), “é mais uma das amarras postas em nosso ordenamento jurídico que impede a adoção da plena liberdade sindical”. A sindicalização por categorias pressupõe a união de pessoas em sindicato, desde que existam traços comuns, de profissão ou atividade, portanto, dessa forma, categoria pode ser definida “como o conjunto de pessoas que, por força de seu trabalho ou de sua atividade, possuem interesses comuns, formando um vínculo social básico” (Brito Filho, 2009, p. 89). As regras de sindicalização por categoria estão no artigo 511, parágrafos de 1.º a 4.º, da CLT. As categorias no setor privado formam-se conforme os seguintes critérios de homogeneidade: identidade (atividades ou profissões idênticas), similaridade (atividades semelhantes) e conexidade (atividades que se complementam). No setor público, a formação das categorias obedecerá, também, à atividade, considerada, no caso, a condição do ente público do tomador do serviço. 7 TEMA 3 – SINDICATOS: ORIGEM E CONCEITO Os sindicatos surgiram com a Revolução industrial, quando os obreiros perceberam que precisavam conjugar esforços para lutar por melhores condições de trabalho. São as associações sindicais de primeiro grau, compostas por pessoas físicas e jurídicas, tendo como base territorial de atuação a área correspondente a um município ou superior. Visam defender os interesses de uma categoria econômica ou profissional. O sindicato de pessoas físicas representa os trabalhadores e forma a categoria profissional. O sindicato das pessoas jurídicas representa os empresários e forma a categoria econômica. O sindicato da categoria profissional representa os interesses os empregados no âmbito coletivo e individual. O sindicato da categoria econômica representa os interesses dos empresários no campo coletivo, apenas (Oliveira, 2015, p. 344). Os sindicatos que representam os interesses dos trabalhadores se organizam, em regra, por categoria e não por profissão. Deve existir, portanto, um sindicato representativo da categoria profissional para cada sindicato correspondente à categoria econômica (paralelismo sindical). “O art. 511, § 2.º, da CLT, ao conceituar categoria profissional, incluiu os trabalhadores que se encontravam em situação de emprego na mesma atividade econômica, mesmo que exercessem profissões e funções distintas” (Oliveira, 2015, p. 344). “A exceção consiste na denominada categoria diferenciada (art. 511, § 3.º, da CLT), pois estes trabalhadores não serão enquadrados segundo a atividade preponderante do empregador, mas sim em função da profissão ou função diferenciada por força de estatuto” (Oliveira, 2015, p. 344). Até a CF/1988, “as partes não podiam, livremente, constituir categoria diferenciada, as quais deveriam estar relacionadas no quadro de atividades e profissões (art. 570, c/c 577, da CLT) proposta pela antiga Comissão de Enquadramento Sindical e referendadas pelo Ministro do Trabalho” (Oliveira, 2015, p. 344). De acordo com Oliveira (2015, p. 344): o sindicato tem como fim principal realizar os supremos objetivos da comunidade, não tanto como parte integrante do organismo estatal, nem como mero instrumento de sua política social econômica, mas como parte da sociedade que integra e para evitar o seu estancamento e melhorar a condição social de seus membros. 8 O sindicato é formado “pela assembleia-geral, o conselho fiscal e a diretoria. A administração será exercida pela diretoria constituída, no máximo, de 7 e, no mínimo, de 3 membros e de um conselho fiscal, composto por 3 membros, sendo que todos esses membros são eleitos (art. 522, CLT)” (Oliveira, 2015, p. 344). O pedido de reconhecimento da entidade sindical é disciplinado pela Portaria 186/2008, alterada pela Portaria 326/2013, ambas do ministro do Trabalho e Emprego. 3.1 Natureza jurídica e representação do sindicato Até a Emenda Constitucional 1/1969, era possível afirmar que o sindicato tinha personalidade jurídica de Direito Público, pois exercia função delegada pelo Estado. Com a atual Constituição, a natureza jurídica do sindicato é de uma associação de natureza privada, autônoma e coletiva. Em outras palavras, podemos afirmar que, atualmente, no Brasil, o sindicato é considerado uma pessoa jurídica de Direito Privado, uma vez que não há possibilidade de nele haver interferência ou intervenção, em função da própria proibição imposta pela Carta Magna (art. 8.º, I). Conforme esclarecem Francisco Ferreira Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante (2015, p. 1.309-1.310), vários eram os enfoques dados à natureza jurídica do sindicato, principalmente, quando se verificavam os requisitos para a aquisição da personalidade jurídica. Destaca-se: a. aqueles que o consideravam como pessoa jurídica de Direito Privado; b. pessoas de Direito Privado que exercem atribuições de interesse público; c. pessoa jurídica deDireito Público; e d. pessoa jurídica de Direito Social. Atualmente, conforme retro mencionado, o sindicato é visto como pessoa jurídica de Direito Privado, não havendo interferência do Estado (art. 8.º, I, CF). A associação é livre (art. 5.º, XX, art. 8.º, CF), possuindo estrutura associativa. 3.2 O Sindicato perante o Judiciário O Sindicato, de acordo com o que dispõe a Constituição Federal de 1988, artigo 5.º, possui mecanismos processuais para atuar perante a jurisdição, ou seja, pode ingressar com ações próprias de interesse coletivo (por exemplo, o 9 mandado de segurança coletivo – art. 5.º, LXX, b), bem como de interesses individuais (art. 513, da CLT). Em razão do disposto no artigo 8.º, III, da CF. de 1988, surgem três posições quanto à legitimação processual do sindicato para atuar, na qualidade de substituto processual, ou seja: a) substituição ampla e geral; b) substituição seletiva; e c) representação processual. Quanto à primeira – substituição ampla e geral –, a mera indicação das funções do sindicato já se faz suficiente para a legitimação processual; a segunda – substituição seletiva – exige um comando e a especificação do substituto processual para o exercício em juízo; e a terceira – representação processual – está calcado na exigência prévia de autorização do interessado para a defesa de seus interesses em juízo (Nascimento, 2015, p. 336). TEMA 4 – ENTIDADES DE SEGUNDO GRAU OU DE CÚPULA Neste tema, passa-se a estudar as entidades de segundo grau na organização sindical brasileira, também denominadas entidades de cúpula, ou seja, as Federações, Confederações e Centrais Sindicais. 4.1 Federações São as entidades de grau superior ou também denominadas segundo grau (arts. 533 a 562, CLT), formadas pela organização de cinco ou mais sindicatos de determinada categoria profissional ou econômica, normalmente estadual. Sua natureza jurídica é a mesma dos sindicatos, ou seja, são pessoas jurídicas de direito privado, integrantes do gênero associação, com personalidade jurídica de Direito Sindical. O objetivo principal é coordenar os interesses dos sindicatos a ela filiados, embora não os possa representar. Pode, ainda, de forma supletiva, a federação representar, para fins de contratação coletiva, o ajuizamento de dissídio coletivo, trabalhadores e empregadores, desde que isso ocorra na ausência de sindicato, ou seja, em relação às categorias inorganizadas em sindicato. 4.2 Confederações Referidas entidades poderão ser organizadas com a participação de no mínimo três federações, tendo sede em Brasília, com âmbito nacional. Seu 10 objetivo é coordenar os interesses das federações, agrupando, nacionalmente, as atividades ou profissões, ou seja, conforme explica José Claudio Monteiro de Brito Filho (2009, p. 107), enquanto a federação coordena interesses, via de regra, regionais, a confederação o faz nacionalmente. Da mesma forma que as federações, as confederações podem atuar, supletivamente, na defesa de interesses de trabalhadores e empregadores. Apenas, nesse caso, é necessário que, além de não existir sindicato representativo da categoria, não exista, também, federação que possa representá-la. Atualmente, os pedidos de registro da Federação e Confederação são disciplinados administrativamente pelo art. 20 e seguintes, das Portarias 186/2008 e 126/2013, do Ministro do Trabalho e Emprego. Conforme cita Octavio Bueno Magano (1990, p. 95), “em nosso sistema jurídico não é função principal das federações e confederações negociar convenções coletivas. Aparecerão nas negociações e nos dissídios coletivos para suprirem lacunas sindicais, cobrindo espaços em aberto, nos quais não há sindicato constituído”. 4.3 Centrais Sindicais Servem como órgão superior aos demais, com conotação tipicamente política. As centrais sindicais são entidades situadas acima das categorias profissionais e que agrupam organizações situadas tanto em nível de sindicatos como de federações ou confederações. Além disso, estão amparadas na liberdade associativa constitucional (art. 5.º, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI, CF). Centrais, segundo Amauri Mascaro Nascimento (2003, p. 193) são a maior unidade representativa de trabalhadores na organização sindical. São entidades de cúpula. Situam-se na estrutura sindical, acima das confederações, federações e sindicatos. Representam outras organizações sindicais que a elas se filiam espontaneamente. São intercategoriais, expressando-se como um referencial de concentração da pirâmide sindical. Surgem em congressos de organizações interessadas ou institucionalmente – mas podem ser previstas em lei –, como uma necessidade natural, do mesmo modo como que são criados grupos econômicos. São organizações intercategoriais, numa linha horizontal, abrangentes de diversas categorias. Das mesmas, são aderentes, não os trabalhadores diretamente, mas as entidades de primeiro grau que os representam ou as de segundo grau que integram os sindicatos. Portanto, representam sindicatos, federações e confederações de mais de uma categoria. Atuam numa base territorial ampla, quase sempre, todo o país. 11 As centrais sindicais foram legalizadas mediante a Lei n. 11.648, de 2008, que entrou em vigor na data de sua publicação em 1º/4/2008, precedida de exposição de motivos com destaque para os seguintes e principais aspectos: a) as suas atribuições, de coordenação e representação dos trabalhadores por meio de organizações sindicais a ela filiadas e a participação em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores; b) a sua criação composta por organizações sindicais de trabalhadores e a sua natureza de entidade associativa de direito privado; c) os requisitos de representatividade autorizantes da sua criação como o número mínimo de entidades que a ela deverão filiar-se; d) a aferição dos seus índices de representatividade pelo Ministério do Trabalho e Emprego, órgão que anualmente os divulgará com a relação das Centrais com base no número de sindicatos às mesmas filiados; e) a recomposição de percentuais da contribuição de negociação com a parcela destinada ao financiamento das Centrais (Nascimento, 2015, p. 237). Conforme se depreende da Lei 11.648/2008, as “centrais sindicais não concorrerão com os sindicatos ou comprometerão as prerrogativas de negociação coletiva destes porque o seu papel será representar e articular os interesses gerais dos trabalhadores, articulando-os de modo estratégico numa ação coletiva de maior importância” (Nascimento, 2015, p. 237). Poderão “praticar o diálogo social sob outras formas, não pela pactuação de convênios coletivos de trabalho, atribuição esta que continua sem alterações em nosso sistema sindical” (Nascimento, 2015, p. 237). Conforme explica Nascimento (2015, p. 237), as centrais sindicais terão competência para indicar integrantes de alguns Conselhos e Colegiados de Órgãos Públicos, para desenvolver uma política comum aos interesses gerais dos trabalhadores e para uma atuação integrativa dos setores que a apoiam, tarefas de inegável relevância para o aperfeiçoamento do nosso modelo sindical. TEMA 5 – O DIREITO COLETIVO E OS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS Os direitos coletivos e também os individuais estão protegidos na Constituição Federal de 1988 (Capítulo II – Dos Direitos Sociais – arts. do 6.º a 11), e estes estão ligados ao conceito de pessoa humana, da personalidade e da dignidade da pessoa humana, por conseguinte estão diretamente relacionados não somente à vida e à liberdade da pessoa,mas também aos direitos sociais de observância obrigatório em um estado social de Direito, que tem como objetivos principais a igualdade social, através da melhoria das condições de vida do trabalhador, seja através do meio ambiente de trabalho ou das condições de trabalho e empregabilidade, fundamentos estes base do Estado Democrático de Direito. (art. 1.º, IV, CF/1988) (Vaz, 2016, p. 50). 12 O arcabouço jurídico internacional, leia-se as normas (Convenções e Recomendações da OIT – Organização Internacional do Trabalho), envolvem em sua totalidade normas de direitos humanos, razão pela qual a sua recepção no sistema brasileiro obedece a uma sistemática diferenciada, conforme se passa a observar nos itens seguintes. 5.1 Hierarquia dos Tratados de Direito Humanos e a Constituição de 1988 Os direitos fundamentais, no ordenamento constitucional brasileiro vigente, assumem posição de destaque, haja vista que estão positivados no início da Constituição, logo após o preâmbulo e os princípios fundamentais, ou seja, no Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, pois possuem aplicabilidade imediata e se consagram ao estarem incluídos no rol das “cláusulas pétreas” do art. 60, parágrafo 4.º, da Carta Constitucional. Entretanto, “se deve ressaltar que a enumeração constante no Título II é exemplificativa, haja vista que em diversos pontos da Constituição também são mostrados direitos fundamentais” (Moraes, 2012, p. 233), e mesmo porque a Carta Constitucional admite a existência de direitos implícitos, cujas condições são asseguradas em razão dos termos da cláusula de abertura do art. 5.º, parágrafo 2.º, da Constituição da República Federativa do Brasil, e que decorrem “dos princípios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que o país for parte” (Ferreira Filho, 2011, p. 122), como é o caso das Convenções e Recomendações da OIT – Organização Internacional do Trabalho. Determina o parágrafo 3.º do art. 5.º, inserido no texto Constitucional pela Emenda Constitucional n. 45/2004, que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Por óbvio, persistem dúvidas com relação ao status normativo dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos não aprovados em consonância com o §3.º do art. 5.º da Constituição Federal, e ainda em relação aos aprovados em período anterior à vigência da Emenda Constitucional n.º 45/2004, mas é de se registrar que a tendência do Supremo Tribunal Federal é a de considerar que todos os tratados sobre direitos humanos tem status de norma constitucional, neste sentido: Habeas Corpus TO 87.585-8 STF; o Recurso Extraordinário 349.703 e do Recurso Extraordinário 466.343, todos do STF – Supremo Tribunal Federal. (STF) 13 5.2 Convenções da OIT e a Liberdade Sindical Ressalte-se que uma das funções fundamentais da Organização Internacional do Trabalho – OIT é a elaboração, adoção, aplicação e promoção das Normas Internacionais do Trabalho, sob a forma de convenções, protocolos, recomendações, resoluções e declarações, sendo que que os referidos instrumentos são discutidos e adotados pela Conferência Internacional do Trabalho – CIT, órgão máximo de decisão da organização (OIT, 2017). A Organização Internacional do Trabalho – OIT indica a negociação coletiva de trabalho como sendo um dos melhores mecanismos de solução de conflitos, fato este citado na Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no trabalho de 1998, em seu art. 2.º, que assim dispõe: Declara que todos os Membros, ainda que não tenham ratificado as Convenções, têm um compromisso derivado do simples fato de pertencer à Organização de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas Convenções, isto é: (a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório; (c) a efetiva abolição do trabalho infantil; e (d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação. (OIT, 1998) Pela OIT são adotadas as seguintes Convenções relativas à negociação coletiva: Convenção n.º 87, de 1948, foi adotada para defender e fomentar a liberdade sindical e proteção ao direito de sindicalização, ainda não ratificada pelo Brasil, haja vista os obstáculos constitucionais relativos à unicidade sindical. Convenção n.º 98, de 1949, ratificada pelo Brasil em 1952, e que trata da aplicação dos princípios do direito de sindicalização e de negociação coletiva, conforme o disposto no art. 2.º e incisos do documento, ou seja, “estatui que os trabalhadores deverão usufruir de proteção adequada contra quaisquer atos atentatórios à liberdade sindical” (Santos, 2015, p. 172). FINALIZANDO O estudo da organização sindical envolve a análise da estrutura externa do sistema sindical e sua composição, tais como o conceito e o instituto da liberdade sindical; a liberdade sindical no setor público; a unicidade sindical; a questão da 14 base territorial mínima; a representação por categorias; o conceito e origem dos sindicatos; a natureza jurídica e representação dos sindicatos; Entidades de Segundo Grau ou de cúpula; e o Direito Coletivo e os Tratados de Direitos Humanos, e que envolve a estrutura sindical pátria e, por conseguinte, o fixado nas normas Constitucionais de 1988 – Direitos Sociais (arts. do 6.º ao 11) e as normas constantes da CLT., (art. 511 e seguintes). Dessa forma, a entidade sindical, consoante colocado na problematização, deverá promover a união de pessoas com a finalidade de realizar os objetivos da comunidade, como parte da sociedade que integra, e para evitar o seu estancamento e melhorar a condição social de seus membros. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica O Direito Coletivo e a Organização Sindical no Brasil podem ser analisados por meio da leitura do artigo “Princípios do direito coletivo do trabalho”, de autoria do ministro do TST José Ajuricaba da Costa e Silva. Disponível em: <https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/93698/017_silva.pdf? sequence=1>. Acesso em: 10 jun. 2018. Texto de abordagem prática Sobre os princípios da liberdade de associação e do princípio constitucional da liberdade de associação sindical, inscrito nos arts. 8.º, inciso V, e 5.º, inciso XX, da Constituição Federal, sugere-se a leitura do texto do acórdão da 3.ª Turma do TST: PROC. N.º TST-ED-AIRR-1124/2003-037-02-40.3, e que pode ser lido de forma integral no site do TST. Disponível em: <http://aplicacao5.tst.jus.br/ consultaunificada2/inteiroTeor.do?action=printInteiroTeor&format=html&highlight =true&numeroFormatado=ED-AIRR%20-%20112440-41.2003.5.02.0037&base= acordao&rowid=AAANGhAAFAAAAD8AAD&dataPublicacao=03/10/2008&localP ublicacao=DEJT&query=direito%20and%20da%20and%20oit>. Acesso em: 10 jun. 2018. 15 Saiba mais Sobre os aspectos da atuação da Organização Sindical no Brasil e a atuação do Ministério Público do Trabalho, sugere-se o texto disponível na biblioteca virtual disponível em: <http://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/resultList/document?&src=rl&srg uid=i0ad6adc60000016205f16ba48c00e1e9&docguid=Ia97abf20f25511dfab6f01 0000000000&hitguid=Ia97abf20f25511dfab6f010000000000&spos=18&epos=18 &td=3060&context=67&crumb-action=append&crumb- label=Documento&isDocFG=false&isFromMultiSumm=&startChunk=1&endChun k=1>. Acessoem: 10 jun. 2018. 16 REFERÊNCIAS BRITO FILHO, J. C. M. de. Direito Sindical. 3. ed. São Paulo: LTr, 2009. CASSAR, V. B. 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