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1 PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO Graduação PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 43 U N ID A D E 4 PSICOMOTRICIDADE Bem, até aqui falamos sobre a formação do ser humano, tendo como base alguns teóricos expressivos no cenário acadêmico. Mas pouco falamos sobre a importância do corpo neste processo. Nesta unidade, portanto, este será nosso foco. OBJETIVOS DA UNIDADE: • Analisar as diferentes definições para psicomotricidade. • Compreender as diversas idéias sobre a função do corpo nos diferentes períodos históricos. • Identificar as fases do desenvolvimento psicomotor segundo Lê Boulch. PLANO DE UNIDADE: • Conceitos de psicomotricidade. • Evolução histórica do conceito de corpo. • Fases do desenvolvimento psicomotor segundo Le Boulch. Bons estudos! UNIDADE 4 - PSICOMOTRICIDADE 44 Segundo a Associação Brasileira de Psicomotricidade, fundada em 1980, a psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Portanto, é uma aproximação entre os aspectos psicológicos e motores do organismo e envolve as experiências vividas pelo indivíduo. Nesse sentido, afasta-se da perspectiva de “treinamento físico”, do movimento com um fim em si mesmo. Segundo Defontaine(apud OLIVEIRA, 1996,p.36): O homem não é exclusivamente um ser motor ou vir a ser homem não é exclusivamente um ser psíquico ou um querer fazer. O homem é psicomotor, isto é, sincronização de ter, do ser, do querer, do poder, ser e fazer. Ainda quanto ao conceito de psicomotricidade, Ajuriaguerra(1980, p.210) afirma que: “É pela motricidade e pela visão que a criança descobre o mundo dos objetos e é manipulando-os que ela redescobre o mundo(...)” Portanto, segundo Oliveira(1996, p.59) O desenvolvimento de uma criança é o resultado da interação com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e com o mundo onde estabelece relações afetivas e emocionais. Todo ser tem seu mundo construído com base em suas próprias experiências corporais. Sendo assim, o corpo é objeto central no estudo da psicomotricidade. Por isso, vamos fazer um breve histórico da concepção de corpo ao longo da evolução humana e seus diferentes significados e representações. Por meio das pinturas rupestres, é possível identificar o caráter utilitário e indiferenciado do corpo em relação ao mundo e à natureza, sobretudo, considerando a necessidade de subsistência do homem, assim tudo que o cerca está relacionado à sua vida concreta. Na Grécia Antiga havia um culto ao corpo perfeito, à beleza, expresso por meio das artes, nas prosas e versos dos poetas helênicos e nos Jogos Olímpicos. O corpo atlético era o elemento de ascensão política, que gozava de prestigio e status social. Como destaca Dantas(2005,p.38): Atenas, embora com um sistema educativo voltado para a intelectualidade e as artes, não se descuidava de qualquer modo da instrução corporal. A preocupação com este aspecto pode provavelmente ser atribuído em razão das sucessivas guerras travadas com Esparta e com outros povos, (...) Ainda assim, o ideal de homem belo e bom dominava toda sua educação. Além do estudo da gramática, da retórica, da aritmética, o ensino da música e da ginástica encarregava-se de estabelecer a harmonia entre o corpo e a alma. Considerando o aspecto das lutas travadas entre Atenas e Esparta, o povo espartano também reverenciava a educação do corpo, especialmente PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 45 no sentido de transformá-los em exímios guerreiros. O corpo dos homens e mulheres espartanos era controlado pelo Estado. Tanto que, quando a criança espartana nascia, os representantes do Estado iam averiguar sua robustez ou se tratava de um ser saudável, merecedor dos investimentos do Estado. Caso se confirmasse tal expectativa, logo seria encaminhada à Escola para treinamento. Caso se tratasse de criança com deficiência, seria sentenciada à morte. Mesmo com o declínio do poder grego e o apogeu do Império Romano, a herança deixada pelos gregos permaneceu. A educação manteve-se voltada para ação de guerra, de essência militar e de forma rigorosa. Como destaca Dantas(2005, p.39): Algumas das atividades físicas não passavam de espetáculos sanguinários, já que a prática tinha como objetivo adestrar as aguerridas legiões de combatentes. No entanto, nas camadas abastadas podia ser observado o culto ao belo e ao harmônico do corpo. Eram comuns as reuniões nas termas onde havia serviços de banhos, saunas, massagens e exercícios físicos. Entretanto, logo o aspecto educativo das atividades esportivas herdada dos gregos pelos romanos foi distorcida e convertida em barbárie por meio das lutas nas arenas travadas por escravos, assim o corpo foi castigado, oprimido. Na Idade Média, com a ascensão do cristianismo e da subordinação dos indivíduos e de todos os aspectos da vida aos aspectos religiosos e dogmáticos, o corpo toma a concepção de templo de Deus e qualquer forma de atividade física passa a ser entendida como profanação e heresia. O controle do corpo realiza-se, então, por meio da religião e penitência. A partir do século XI, com o Renascimento, período marcado por manifestações culturais e intelectuais e pela busca da liberdade, pelo desenvolvimento de um ser humano criativo, sem, no entanto, romper plenamente com a religião. Nesta perspectiva, há um resgate da importância do corpo humano. Com base em Dantas(2005, p.44) O Renascimento(...) contribuiu para a redescoberta da beleza estética do corpo e ajudou a quebrar dogmas, favorecendo o desenvolvimento das ciências e das artes. A exposição de um corpo masculino seminu, esculpido por Michelangelo, veio a romper com as temáticas artísticas de índole religiosa, estritamente católica. No século XVII, René Descartes, ao proferir a máxima: “Penso, logo existo”, propõe o dualismo mente – corpo, reduzindo o corpo a apenas matéria, objeto, máquina. Os anos que sucederam o Renascimento foram marcados pelos movimentos de contestação e a ciência busca a ruptura com o obscurantismo dogmático, religioso, a qual estava submetida. A nova realidade social que se inicia desperta o espírito científico e, com o apoio do cartesianismo, encontra-se subjugada às leis mecânicas e racionais. UNIDADE 4 - PSICOMOTRICIDADE 46 O ideário burguês, que assume o papel hegemônico da época, fundamenta-se em libertar os indivíduos da herança mágica, difusa e absoluta, subordinada à natureza. Dessa feita, torna-se indivíduo do conhecimento, opondo-se duramente ao mito, pois “[...] o que não se submete ao critério da calculabilidade e da utilidade torna-se suspeito [...]”, como destacam Horkheimer e Adorno (1985, p.21). Dessa maneira, o saber converte-se em poder e atropela as barreiras sociais, pois como apontam os referidos autores (1985, p.20) “está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha”, haja vista as grandes invenções tecnológicas em decorrência das demandas das guerras ou para atender às demandas de otimização da produção das grandes indústrias. Assim, sob a ideologia de libertação ou “desencantamento do mundo”, os homens da modernidade substituíram o pensamento crítico e intuitivo pelas regras, cálculos, pela técnica, como destacam Horkheimer e Adorno (1985, p.21): [...] a técnica [...] é tão democrática quanto o sistema econômico com o qual se desenvolve. A técnica é a essência desse saber, que não visa conceitos e imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital. O novo modo de produção capitalista, que chega até os dias de hoje, imprime ao corpo seucaráter utilitário, reducionista e automatizado. Assim exige-se do homem moderno um conjunto de ações psicomotoras capazes de viabilizar sua adaptação ao mundo frenético da globalização. Como destaca Costa(2001, p.25) o mundo moderno exige: (...)uma análise e uma síntese mais organizada, uma melhor consciência de seu espaço-temporal e uma compreensão precisa da simbolização para melhor acompanhar as exigências de uma dinâmica tecnológica rápida e para melhor interpretar os inúmeros estímulos provenientes ou característicos do inicio do milênio. Nesse sentido os estudos sobre o corpo trilham uma perspectiva funcional ou estrutural, sobretudo no que se refere ao funcionamento do cérebro, tendo no campo da neurologia e neuropsicologia suas primeiras sistematizações. Com os avanços nessa direção foi possível compreender alguns fenômenos motores e seus transtornos. Em 1909, Dupré, ao tentar estabelecer relações entre as perturbações psicológicas e motoras buscando identificar a localização dos sintomas no cérebro, inaugura o conceito de Psicomotricidade. Entretanto, ainda tratava-se de uma perspectiva cartesiana, perpetuando a dualidade corpo e mente. Mas, evoluindo nos estudos sobre a psicomotricidade, é possível identificar as contribuições de Henri Wallon, um dos pioneiros no estudo da psicomotricidade em uma perspectiva única, compreendendo aspectos afetivos, intelectuais e sociais. Segundo ele, o movimento, a princípio, conduz ao pensamento. Essa transição do ato motor ao mental é acompanhada pela evolução das condutas imitativas. Wallon acredita que a imitação é PSICOLOGIA E AUTODESENVOLVIMENTO 47 uma forma de atividade que revela, incontestavelmente, as origens motoras do ato mental. Se inicialmente a psicomotricidade assume um caráter reeducativo com o avanço de estudos, como os de Wallon, Piaget, Ajuriaguerra, entre outros, inaugura-se uma perspectiva tanto mais educativa, considerando que, como destaca Costa(2001,p.27) “para que a criança assuma sua corporeidade dentro de uma realidade que possibilite a livre expressão de um sujeito pensante e evite as distorções no processo de sua evolução.” Portanto, a psicomotricidade é, então, uma técnica que se dirige pelo exercício do corpo e do movimento, considerando o ser em sua totalidade. Os exercícios psicomotores não são um fim em si mesmos, mas um meio para atingir a integração do sujeito num meio físico e social, assim o corpo é o instrumento de mediação entre o mundo exterior e o mundo interior. A educação psicomotora deve seguir a seguinte direção: · do global para o específico. · do concreto para o abstrato. Respeitar essa direção significa contribuir para o desenvolvimento saudável, construído sobre bases fortes e seguras. O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR Segundo Lê Boulch apud Oliveira (1996, s/p) o corpo se desenvolve em fases: 1a fase: corpo vivido(até 3 anos): é a fase da exploração do espaço. Ainda não possui uma representação do próprio corpo. Sua experiência é prática e não representativa. Esta fase termina quando a criança é capaz de formar a primeira imagem de seu próprio EU. 2a fase: corpo percebido(3 anos a 6 anos): esta fase caracteriza- se pela capacidade de deslocar a atenção do meio para si próprio, para a tomada de consciência, corresponde à organização do esquema corporal. A criança é capaz de representar-se no tempo e espaço, assimila conceitos de: em cima/embaixo, antes/depois, etc. 3o fase: corpo representado(6 anos a 12 anos): a imagem do corpo representado permite que a criança seja capaz de programar, planejar, organizar e combinar diversas ações no campo mental, a esta capacidade psicomotora Lê Boulch denominou imagem de corpo operatório. UNIDADE 4 - PSICOMOTRICIDADE 48 É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Chegamos ao final da IV unidade, espero que você tenha gostado. Na próxima unidade, estudaremos a instância humana que nos transforma em seres únicos, singulares e especiais. Está curioso? Então, vamos para a quinta unidade.
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