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Nutrição Funcional

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DOCÊNCIA EM 
SAÚDE 
 
 
 
 
 
 
NUTRIÇÃO FUNCIONAL 
 
 
 
1 
Copyright © Portal Educação 
2013 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
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Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842n Nutrição funcional / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 
2013. 
 132p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-8241-671-6 
 1. Nutrição humana. 2. Alimento funcional. 3. Dietoterapia. I. Portal 
Educação. II. Título. 
 CDD 612.3 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÂO ........................................................................................................................... 5 
1.1 HISTÓRICO ............................................................................................................................... 5 
1.2 NUTRIÇÃO FUNCIONAL X NUTRIÇÃO TRADICIONAL ........................................................... 6 
1.3 A NUTRIÇÃO FUNCIONAL NA ERA DA NUTRIGENÔMICA .................................................. 8 
2 BASES FISIOPATOLÓGICAS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL .................................................. 11 
2.1 ESTRESSE OXIDATIVO ........................................................................................................... 11 
2.2 ENVELHECIMENTO ................................................................................................................. 15 
2.3 FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES ................................................... 18 
2.4 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO .................................................................................................. 24 
2.5 DISBIOSE INTESTINAL ............................................................................................................ 27 
2.6 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER .............................................................................................. 32 
3 COMPOSTOS FUNCIONAIS PRESENTES EM ALIMENTOS ................................................. 38 
3.1 DEFINIÇÃO ............................................................................................................................... 38 
3.2 PRINCIPAIS COMPOSTOS FUNCIONAIS EM ALIMENTOS ................................................... 40 
3.2.1 Polifenóis ................................................................................................................................... 40 
3.2.2 Glicosinolatos ............................................................................................................................ 45 
 
 
3 
3.2.3 Carotenoides ............................................................................................................................. 49 
3.2.4 Isoflavonas ................................................................................................................................ 51 
3.2.5 Ácidos graxos ômega-3 ............................................................................................................. 53 
3.2.6 Fibras Solúveis e Insolúveis ...................................................................................................... 57 
3.2.7 Alil sulfetos ................................................................................................................................ 59 
3.2.8 Lignanas .................................................................................................................................... 61 
3.2.9 Probióticos ................................................................................................................................. 62 
4 ALIMENTAÇÃO FUNCIONAL E NUTRACÊUTICOS ............................................................... 66 
4.1 DEFINIÇÃO ............................................................................................................................... 66 
4.2 LEGISLAÇÃO ............................................................................................................................ 67 
5 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE NUTRIÇÃO FUNCIONAL E SAÚDE ............................. 75 
5.1 SAÚDE CARDIOVASCULAR .................................................................................................... 75 
5.2 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO .................................................................................................. 85 
5.3 CÂNCER ................................................................................................................................... 90 
5.4 SAÚDE REPRODUTIVA ........................................................................................................... 93 
5.5 NUTRIÇÃO FUNCIONAL E ESTÉTICA .................................................................................... 97 
5.6 FUNÇÃO INTESTINAL E DETOXIFICAÇÃO ............................................................................ 99 
6 COMO PRATICAR NUTRIÇÃO FUNCIONAL ......................................................................... 103 
 
 
4 
6.1 ANAMNESE NUTRICIONAL .................................................................................................... 103 
6.2 INTERPRETAÇÃO DE EXAMES BIOQUÍMICOS .................................................................... 107 
6.3 ELABORAÇÃO DE CARDÁPIO ............................................................................................... 120 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 126 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
1 INTRODUÇÃO 
 
1.1 HISTÓRICO 
 
Há mais de 2500 anos, Hipócrates disse a frase: “que o alimento seja teu 
medicamento, e seu medicamento o teu alimento”. No entanto, somente no início do século XX a 
Nutrição emergiu como ciência. As condições históricas para a constituição deste campo 
científico foram acumuladas ao longo da história da humanidade, estimuladas com a revolução 
industrial no século XVIII, e desencadeadas entre 1914 e 1945, período entre as duas grandes 
Guerras Mundiais. 
A história da Nutrição pode ser dividida em três eras, denominadas de: naturalística, 
químico-analítica e biológica. A era naturalística, delimitada no período de 400 a. C. até 1750 d. 
C., teria sido caracterizada pelo empirismo ou observação popular. A era químico-analítica, entre 
1750 a 1900, caracterizou-se pelas grandes descobertas científicas, particularmente aquelas 
associadas a Lavoisier, considerado o pai da ciência da Nutrição. 
Por último, a era biológica, iniciada por volta de 1900, que se caracteriza pelas 
descobertas científicas relacionadas aos nutrientes, ao metabolismo e à fisiopatologia nutricional. 
Nos dias atuais, a Nutrição estaria vivenciando a era pós-genômica, constituindo-se uma ciência 
multidisciplinar, caracterizada pela integração das dimensões biológica, social e ambiental. 
Embora, portanto, há muitos anos se reconheça os benefícios do consumo de 
substâncias provenientes de alimentos para o tratamento de desequilíbriosbiológicos e 
nutricionais, somente na década de 90 a nutrição se estabeleceu como maneira dinâmica de 
abordar, prevenir e tratar desordens crônicas complexas por meio da detecção e correção 
desses desequilíbrios que geram doenças. 
O ramo da Nutrição que se desenvolveu baseando-se no rastreamento a sinais, 
sintomas e características de cada paciente, relacionando-os a situações de carência ou 
excesso de determinados nutrientes, é hoje chamado de Nutrição Funcional. 
 
 
6 
1.2 NUTRIÇÃO FUNCIONAL X NUTRIÇÃO TRADICIONAL 
 
A Nutrição tradicional se preocupa geralmente com a saúde coletiva, buscando o 
estabelecimento de recomendações, as quais, se seguidas por um grupo de indivíduos, 
melhorarão o estado de saúde deste grupo como um todo. O modelo de conhecimento adotado 
geralmente é fragmentado, cartesiano, e fraciona o ser humano, desconsiderando a 
inseparabilidade entre as partes e a totalidade do ser. 
A Nutrição Funcional, por sua vez, considera a individualidade bioquímica do paciente, 
e, dessa forma, as suas necessidades particulares. A Nutrição Funcional considera a interação 
entre todos os sistemas do corpo, incluindo as relações que existem entre o funcionamento físico 
e aspectos emocionais, e possui cinco princípios básicos: 
 
Individualidade bioquímica 
É o conjunto de fatores genéticos que controlam o metabolismo, as necessidades 
nutricionais e a sensibilidade ambiental de cada pessoa. A realização de exames laboratoriais, 
além do exame clínico detalhado, ajuda a conhecer a individualidade bioquímica do paciente, 
sendo fundamental para a prescrição de dietas funcionais. 
 
Tratamento centrado no paciente, e não na doença 
O foco dos tratamentos convencionais em saúde costuma ser a doença, e não o 
paciente. A Nutrição Funcional considera que o cuidado nutricional não deve considerar apenas 
o diagnóstico, e sim decodificar as mensagens expressas pelo paciente segundo as etapas do 
atendimento, que incluem anamnese clínica, psicossocial e econômica, medicamentos utilizados, 
exames bioquímicos e o conhecimento do diagnóstico clínico. 
Assim, o atendimento em Nutrição Funcional considera a integralidade do ser humano, 
uma vez que o corpo humano é único, estruturado em órgãos e sistemas que se interdependem. 
 
 
7 
Equilíbrio nutricional e biodisponibilidade de nutrientes 
Para que haja otimização da absorção de nutrientes, bem como de seu aproveitamento 
pelas células, torna-se importante à oferta de nutrientes em quantidades adequadas e em 
equilíbrio com todos os outros. É fundamental, portanto, conhecer o conceito de 
biodisponibilidade de nutrientes. 
A biodisponibilidade de um nutriente ingerido pode ser definida como sua 
acessibilidade para processos metabólicos e fisiológicos. Ou seja, a eficiência com que um 
componente da dieta é utilizado sistematicamente por meio de vias metabólicas normais. A 
biodisponibilidade é uma resposta da interação entre a dieta, o nutriente e o indivíduo, e em 
níveis fisiológicos pode ter influência para o lado benéfico. Por outro lado, pode afetar a natureza 
e gravidade toxicológica devido ao excesso. 
São fatores que afetam a biodisponibilidade: concentração do nutriente, fatores 
dietéticos, forma química do nutriente, interação entre nutrientes, digestão, transferência, 
distribuição e armazenamento, condição nutricional e de saúde do indivíduo, perdas por 
excreção e, por fim, o metabolismo e utilização biológica do nutriente. 
 
Relações entre fatores fisiológicos 
Todas as funções de nosso corpo estão interligadas. A Nutrição Funcional considera a 
inter-relação de todos os processos bioquímicos internos, de forma que um influencia no outro, 
gerando desordens que abrangem os diversos sistemas. Hoje sabemos, por exemplo, que 
disfunções imunológicas podem promover doenças cardiovasculares, que desequilíbrios 
nutricionais provocam desequilíbrios hormonais e que exposições ambientais podem precipitar 
síndromes neurológicas como a doença de Parkinson. 
Essa “teia” conduz a organização do raciocínio na busca da compreensão dos 
desequilíbrios que estão nas bases funcionais do desenvolvimento das condições clínicas, 
corrigindo a causa, ao invés de apenas os sintomas genéricos. 
 
Saúde como vitalidade positiva 
 
 
8 
A saúde não é meramente a ausência de doenças, e sim o resultado de diversas 
relações entre os sistemas orgânicos, por isso deve-se analisar os sinais e sintomas físicos, 
mentais e emocionais que podem estar nas bases dos problemas apresentados. 
A Nutracêutica, termo introduzido em 1989 por Stephen DeFelice a partir da conjunção 
dos conceitos de Nutrição e Farmacêutica, se constitui em um campo científico cujo objeto de 
estudo é a investigação dos componentes químicos presentes nos alimentos e plantas 
medicinais e sua influência na promoção da saúde, prevenção e tratamento de doenças. 
Simultaneamente, também passou a ser difundido o conceito de alimento funcional, o 
qual é definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão do Ministério da 
Saúde, como “O alimento ou ingrediente que alegar propriedades funcionais ou de saúde pode, 
além de funções nutricionais básicas, quando se tratar de nutriente, produzir efeitos metabólicos 
e ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem 
supervisão médica”. 
Utilizando as propriedades dos alimentos funcionais, os nutricionistas atualmente 
podem elaborar cardápios individualizados, que proporcionem equilíbrio de nutrientes, hormônios 
e neurotransmissores, dentre outros componentes regulatórios do metabolismo. Dessa maneira, 
podem contribuir para a prevenção e tratamento de distúrbios como obesidade, diabetes, câncer, 
envelhecimento, osteoporose, doenças cardiovasculares, dentre muitos outros. 
 
 
1.3 A NUTRIÇÃO FUNCIONAL NA ERA DA NUTRIGENÔMICA 
 
 
A Nutrigenômica tem sido considerada um novo campo científico que começou a se 
constituir dentro da Nutrição a partir dos avanços científicos verificados no campo da genética e 
do mapeamento do genoma humano, anunciado nos meios de comunicação em junho de 2000. 
 
 
9 
A Nutrigenônica é definida como a ciência que estuda a interação entre os nutrientes e 
os genes humanos. Ou seja, estuda a forma pela qual o DNA e o código genético influenciam a 
determinação das necessidades nutricionais e o metabolismo de nutrientes de cada indivíduo. 
Portanto, parte da premissa de que os distintos nutrientes constituintes da dieta desempenham 
diferentes papéis ou funções nutricionais em cada indivíduo, conforme sua herança ou código 
genético. 
O termo Nutrigenética, por sua vez, refere-se às interações entre hábitos dietéticos e o 
perfil genético de cada indivíduo. Assim, ela é baseada em observações das respostas 
individuais à determinada modificação na dieta e também em hipóteses que estas diferentes 
respostas sejam associadas à presença ou ausência de marcadores biológicos específicos, 
geralmente polimorfismos genéticos, que poderiam, então, predizer a resposta individual à dieta. 
A Nutrigenética aborda estudos das diferenças entre indivíduos em relação à resposta 
a um nutriente ou uma dieta em particular, enquanto a Nutrigenômica estuda as diferenças entre 
os nutrientes com relação à expressão gênica. Mesmo apresentando objetivos imediatos 
distintos, a expectativa a respeito destas duas abordagens é que seja possível identificar uma 
grande variedade de genes cuja expressão possa ser modificada por componentes alimentares a 
fim de serem incorporados em estratégias nutricionais visando melhorar a qualidade de vida, 
otimizar a saúde e prevenir doenças. 
 
Perspectivas 
 
Com o avanço da Nutrigenômicae da Nutrigenética, abre-se a perspectiva de 
prescrição e elaboração de dietas personalizadas de acordo com a composição genética 
individual, ampliando-se as estratégias disponíveis no sistema de promoção da saúde e de 
prevenção e tratamento de doenças como diabetes mellitus tipo 2 e obesidade. 
Ressalta-se que os achados observacionais já existentes devem ser aprofundados 
com experimentos in vitro e in vivo, cujos resultados demonstrarão os mecanismos moleculares 
responsáveis pelas interações observadas. Além disso, ainda que a Nutrigenética já tivesse 
 
 
10 
atingido o patamar de conhecer o real papel de cada variante genética sobre a resposta 
nutricional, a tecnologia para a genotipagem de um grande número de genes ainda não está 
disponível para a maioria da população: até o momento, estes métodos são caros demais até 
mesmo para países desenvolvidos. 
Futuramente, é provável que os custos diminuam, e espera-se que o entendimento da 
importância da Nutrigenética aumente, de maneira que seja possível aplicar o conhecimento que 
está sendo produzido no momento. Os maiores desafios desta nova área de conhecimento 
podem não ser científicos, pois a difusão deste conhecimento é crucial para que o mesmo possa 
ser aplicado com sucesso por nutricionistas e profissionais da área. 
Para que a Nutrigenética se torne útil na saúde pública, deve ocorrer o 
desenvolvimento e utilização de ferramentas matemáticas e de bioinformática que examinem o 
impacto combinado de múltiplas variantes genéticas sobre parâmetros de saúde, bem como as 
alterações nessa relação que podem ocorrer pelo uso de estratégias dietéticas. 
Assim, para que este conhecimento possa ser correto e efetivamente aplicado, fica 
claro que o caminho a ser trilhado nesta área é bastante longo, e a determinação de quais genes 
é importante em cada população, constituindo somente o primeiro passo. Até o momento, não 
existe nenhum dado publicado sobre o papel da Nutrigenética em populações brasileiras, ou 
mesmo sul-americanas. 
Uma vez que tanto a composição genética como os hábitos alimentares são diferentes 
em nossas populações, estudos na área da Nutrigenética devem ser desenvolvidos com a 
população brasileira, para que este conhecimento possa ser aplicado na clínica. Conhecendo o 
perfil genético individual, saberemos quais pacientes responderão melhor a uma dieta específica, 
o que poderá ser aplicado tanto na prevenção, quanto no tratamento de doenças. 
 
 
 
 
 
 
11 
2 BASES FISIOPATOLÓGICAS DA NUTRIÇÃO FUNCIONAL 
 
 
2.1 ESTRESSE OXIDATIVO 
 
Atualmente existe um grande interesse no estudo dos antioxidantes devido, 
principalmente, às descobertas sobre o efeito dos radicais livres no organismo. A oxidação é 
parte fundamental da vida aeróbica e do nosso metabolismo e, assim, os radicais livres são 
produzidos naturalmente ou por alguma disfunção biológica. 
Esses radicais livres cujo elétron desemparelhado encontra-se centrado nos átomos de 
oxigênio ou nitrogênio são denominados espécies reativas de oxigênio (ERO) ou espécies 
reativas de nitrogênio (ERN). No organismo, encontram-se envolvidos na produção de energia, 
fagocitose, regulação do crescimento celular, sinalização intercelular e síntese de substâncias 
biológicas importantes. No entanto, seu excesso apresenta efeitos prejudiciais, tais como a 
peroxidação dos lipídios de membrana e agressão às proteínas dos tecidos e das membranas, 
às enzimas, carboidratos e DNA. 
Dessa forma, encontram-se relacionados com várias patologias, tais como artrite, 
choque hemorrágico, doenças do coração, catarata, disfunções cognitivas, câncer e AIDS, 
podendo ser a causa ou o fator agravante do quadro geral. 
O excesso de radicais livres no organismo é combatido por antioxidantes produzidos 
pelo corpo ou absorvidos da dieta. Antioxidante é qualquer substância que, quando presente em 
baixa concentração comparada à do substrato oxidável, regenera o substrato ou previne 
significativamente a oxidação do mesmo. 
Os antioxidantes produzidos pelo corpo agem enzimaticamente, a exemplo da 
glutationa peroxidase (GPx), catalase (CAT) e superóxido dismutase (SOD) ou, não 
enzimaticamente a exemplo de glutationa redutase (GSH), peptídeos de histidina, proteínas 
ligadas ao ferro (transferrina e ferritina), ácido di-idrolipoico e CoQH2. 
 
 
12 
Além dos antioxidantes produzidos pelo corpo, o organismo utiliza aqueles 
provenientes da dieta como o a-tocoferol (vitamina E), β-caroteno (pró-vitamina A), ácido 
ascórbico (vitamina C), e compostos fenólicos dentre os quais se destacam os flavonoides e 
poliflavonoides. Dentre os aspectos preventivos, é interessante ressaltar a correlação existente 
entre atividade antioxidante de substâncias polares e capacidade de inibir ou retardar o 
aparecimento de células cancerígenas, além de retardar o envelhecimento das células em geral. 
O organismo humano sofre ação constante de ERO e ERN geradas em processos 
inflamatórios, por alguma disfunção biológica ou proveniente dos alimentos. As principais ERO 
distribuem-se em dois grupos, os radicalares: hidroxila (HO•), superóxido (O2•−), peroxila (ROO•) 
e alcoxila (RO•); e os não radicalares: oxigênio, peróxido de hidrogênio e ácido hipocloroso. 
Dentre as ERN incluem-se o óxido nítrico (NO•), óxido nitroso (N2O3), ácido nitroso (HNO2), 
nitritos (NO2−), nitratos (NO3−) e peroxinitritos (ONOO−). 
Enquanto alguns deles podem ser altamente reativos no organismo atacando lipídios, 
proteínas e DNA, outros são reativos apenas com os lipídios. Existem ainda alguns que são 
pouco reativos, mas apesar disso podem gerar espécies danosas. O radical HO• é o mais 
deletério ao organismo, pois devido a sua meia-vida muito curta dificilmente pode ser 
sequestrado in vivo. Esses radicais frequentemente atacam as moléculas por abstração de 
hidrogênio e por adição a insaturações. 
O radical HO• é formado no organismo principalmente por dois mecanismos: reação de 
peróxido de hidrogênio com metais de transição e homólise da água por exposição à radiação 
ionizante. A incidência de radiação no ultravioleta, radiação γ e raios X podem produzir o radical 
HO• nas células da pele. O ataque intensivo e frequente deste radical pode originar mutações no 
DNA e, consequentemente, levar ao desenvolvimento de câncer em seres humanos no período 
de 15 a 20 anos. 
O peróxido de hidrogênio (H2O2) é pouco reativo frente às moléculas orgânicas na 
ausência de metais de transição. No entanto, exerce papel importante no estresse oxidativo por 
ser capaz de transpor as membranas celulares facilmente e gerar o radical hidroxila. Ele 
somente oxida proteínas que apresentem resíduos de metionina ou grupos tiol muito reativos 
GSH por exemplo. O H2O2 é gerado in vivo pela dismutação do ânion-radical superóxido (O2•–) 
por enzimas oxidases ou pela β-oxidação de ácidos graxos. As mitocôndrias são importantes 
 
 
13 
fontes de O2• – e, como a presença deste ânion-radical pode causar sérios danos, elas são ricas 
em SOD que o converte em H2O2. O peróxido de hidrogênio gerado é então parcialmente 
eliminado por catalases, glutationa peroxidase e peroxidases ligadas à tioredoxina, mas como 
essa eliminação tem baixa eficiência, grande parte do H2O2 é liberado para a célula. 
O radical ânion superóxido (O2•–), ao contrário da maioria dos radicais livres, é inativo. 
Em meio aquoso, sua reação principal é a dismutação, na qual se produz uma molécula de 
peróxido de hidrogênio e uma molécula de oxigênio. Ele também é uma base fraca cujo ácido 
conjugado, o radical hidroperóxido (HOO•) é mais reativo. 
A atuação do radical ânion superóxido como oxidante direto é irrelevante. Dentre os 
aminoácidos, o único quesofre oxidação com o radical O2•– é a cisteína. Além disso, o radical 
ânion superóxido presente no organismo é eliminado pela enzima superóxido dismutase, que 
catalisa a dismutação de duas moléculas de O2•– em oxigênio e peróxido de hidrogênio. Esse 
último, quando não eliminado do organismo pelas enzimas peroxidases e catalase, pode gerar 
radicais hidroxilas. 
Apesar dos efeitos danosos, o radical O2•– tem importância vital para as células de 
defesa e sem ele o organismo está desprotegido contra infecções causadas por vírus, bactérias 
e fungos. O radical O2•– é gerado in vivo por fagócitos ou linfócitos e fibroblastos durante o 
processo inflamatório, para combater corpos estranhos. 
O radical óxido nítrico (NO•) pode ser produzido no organismo pela ação da enzima 
óxido nítrico sintase a partir de arginina, oxigênio e NADPH, gerando também NADP+ e citrulina. 
Esse radical também pode ser produzido em maiores quantidades por fagócitos humanos, 
quando estimulados. O nitrato pode transformar-se em nitrito, que reage com os ácidos gástricos 
gerando o ácido nitroso (HNO2). O óxido nitroso (N2O3) também é precursor do HNO2 por meio 
da sua reação com a água. O HNO2 promove a desaminação das bases do DNA que contêm 
grupo –NH2 livre que são citosina, adenina e guanina, formando-se uracila, hipoxantina e 
xantina, respectivamente. 
O óxido nítrico não é suficientemente reativo para atacar o DNA diretamente, mas pode 
reagir com o radical ânion superóxido produzido pelos fagócitos, gerando peroxinitrito. Esse 
último, por sua vez, pode sofrer reações secundárias, as quais formam agentes capazes de 
 
 
14 
nitrar aminoácidos aromáticos, a exemplo da tirosina gerando nitrotirosina e as bases do DNA, 
em particular a guanina, na qual o produto principal é a 8-nitroguanina. 
Os radicais livres promovem reações com substratos biológicos podendo ocasionar 
danos às biomoléculas e, consequentemente, afetar a saúde humana. Os danos mais graves 
são aqueles causados ao DNA e RNA. Se a cadeia do DNA é quebrada, pode ser reconectada 
em outra posição alterando, assim, a ordem de suas bases. Esse é um dos processos básicos 
da mutação e o acúmulo de bases danificadas pode desencadear a oncogênese. Uma enzima 
que tenha seus aminoácidos alterados pode perder sua atividade ou, ainda, assumir atividade 
diferente. Ocorrendo na membrana celular, a oxidação de lipídios interfere no transporte ativo e 
passivo normal através da membrana, ou ocasiona a ruptura dessa levando à morte celular. A 
oxidação de lipídios no sangue agride as paredes das artérias e veias, facilitando o acúmulo 
desses lipídios, com consequente aterosclerose, podendo causar trombose, infarto ou acidente 
vascular cerebral. 
As proteções do organismo contra as ERO e ERN abrangem a proteção enzimática ou 
por micromoléculas, que podem ter origem no próprio organismo ou são adquiridas por meio da 
dieta. As macromoléculas são representadas pelas enzimas e podem atuar diretamente contra 
as ERO e ERN ou, ainda, reparar os danos causados ao organismo por essas espécies. Um 
exemplo é a catalase (CAT), que converte o peróxido de hidrogênio em H2O e O2. 
Outras são capazes de eliminar a molécula ou a unidade dessa que se encontra 
danificada, como, por exemplo, as enzimas responsáveis pela excisão das bases nitrogenadas 
danificadas e substituição por outras intactas. São conhecidos três sistemas enzimáticos 
antioxidantes: o primeiro é composto por dois tipos de enzimas SOD, que catalisam a destruição 
do radical ânion superóxido O2•−, convertendo-o em oxigênio e peróxido de hidrogênio. A 
decomposição do radical ânion superóxido O2•− ocorre naturalmente, porém, por ser uma reação 
de segunda ordem, necessita que ocorra colisão entre duas moléculas de O2•−, de forma que há 
necessidade de maior concentração do radical ânion superóxido. A presença da enzima SOD 
favorece essa dismutação tornando a reação de primeira ordem, eliminando a necessidade da 
colisão entre as moléculas. 
Existem duas formas de SOD no organismo, a primeira contém cobre (Cu2+) e zinco 
(Zn2+) como centros redox e ocorre no citosol, sendo que sua atividade não é afetada pelo 
 
 
15 
estresse oxidativo. A segunda contém manganês (Mn2+) como centro redox, ocorre na 
mitocôndria e sua atividade aumenta com o estresse oxidativo. O segundo sistema de prevenção 
é muito mais simples, sendo formado pela enzima catalase que atua na dismutação do peróxido 
de hidrogênio (H2O2) em oxigênio e água. 
O terceiro sistema é composto pela GSH em conjunto com duas enzimas GPx e GR. A 
presença do selênio na enzima (selenocisteína) explica a importância desse metal e sua atuação 
como antioxidante nos organismos vivos. Esse sistema também catalisa a dismutação do 
peróxido de hidrogênio em água e oxigênio, sendo que a glutationa opera em ciclos entre sua 
forma oxidada e sua forma reduzida. A GSH reduz o H2O2 a H2O em presença de GPx, 
formando uma ponte dissulfeto e, em seguida, a GSH é regenerada. 
Dentre os antioxidantes biológicos de baixo peso molecular, podem ser destacados os 
carotenoides, a bilirrubina, a ubiquinona e o ácido úrico. Porém, as mais importantes 
micromoléculas no combate ao estresse oxidativo são os tocoferóis e a vitamina C. 
 
2.2 ENVELHECIMENTO 
 
A senescência resulta do somatório de alterações orgânicas, funcionais e psicológicas 
do envelhecimento normal, enquanto a senilidade é caracterizada por afecções que 
frequentemente acometem os indivíduos idosos. As doenças são as causadoras da perda das 
reservas orgânicas e, consequentemente, da aceleração do envelhecimento, processo de 
declínio gradativo da função dos vários sistemas orgânicos. 
No idoso, ocorrem modificações anatômicas na coluna vertebral, que causam redução 
na estatura, aproximadamente um a três centímetros a cada década. Após os 50 anos de idade 
inicia-se a atrofia óssea, ou seja, a perda de massa óssea que poderá levar a fraturas. A 
cartilagem articular torna-se menos resistente e menos estável, sofrendo um processo 
degenerativo. 
Ocorre diminuição lenta e progressiva da massa muscular, sendo o tecido 
gradativamente substituído por colágeno e gordura. As alterações no sistema osteoarticular 
 
 
16 
podem prejudicar o equilíbrio corporal do idoso, reduzindo a amplitude dos movimentos e 
modificando a marcha. 
Além disso, o envelhecimento modifica a atividade celular na medula óssea, 
ocasionando reabastecimento inadequado de osteoclastos e osteoblastos e também 
desequilíbrio no processo de reabsorção e formação óssea, resultando em perda óssea. 
Há tendência a ganho de peso pelo aumento do tecido adiposo e perda de massa 
muscular e óssea. A distribuição da gordura corporal se acentua no tronco e menos nos 
membros. Dessa forma, a gordura abdominal eleva o risco para doenças metabólicas, 
sarcopenia e declínio de funções. O aumento da gordura corporal total e a diminuição do tecido 
muscular podem ocorrer principalmente devido a diminuição da taxa de metabolismo basal e do 
nível de atividade física. 
Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento cerebral, pode-
se destacar: atrofia, hipotrofia dos sulcos corticais, redução do volume do córtex, espessamento 
das meninges, redução do número de neurônios e diminuição de neurotransmissores. 
Há alterações degenerativas da estrutura do olho, levando a diminuição visual, 
aumento da sensibilidade à luz, perda da nitidez das cores e da capacidade de adaptação 
noturna. A perda de audição resulta da disfunção dos componentes do sistema auditivo. Há 
perda da discriminação dos sons mais baixos. As alterações vasculares também alteram a 
audição. São comuns os estados vertiginosos e zumbidos. 
A deterioraçãovisual se deve a modificações fisiológicas e alterações mórbidas. Os 
transtornos mais comuns que afetam os idosos são a catarata, a degeneração macular, o 
glaucoma e a retinopatia diabética. 
Dentre as modificações mais importantes na estrutura e funcionamento cardiovascular, 
pode-se destacar: aumento de gordura, espessamento fibroso, substituição do tecido muscular 
por tecido conjuntivo, calcificação do anel valvar. O envelhecimento também está associado a 
alterações estruturais cardíacas. As paredes do ventrículo esquerdo aumentam de espessura, 
ocorre depósito de colágeno e a aorta torna-se mais rígida. 
 
 
17 
Nas artérias, ocorre acúmulo de gordura, perda de fibra elástica e aumento de 
colágeno. Dessa forma, a função cardiovascular fica prejudicada, diminuindo a resposta de 
elevação de frequência cardíaca ao esforço ou estímulo, aumentando a disfunção diastólica do 
ventrículo esquerdo e dificultando a ejeção ventricular. Além disso, ocorre a diminuição da 
resposta às catecolaminas e a diminuição a resposta vascular ao reflexo barorreceptor. Ocorre 
maior prevalência de Hipertensão Arterial Sistólica (HAS) isolada, com maior risco de eventos 
cardiovasculares. 
Com relação ao sistema respiratório, as alterações determinadas pelo envelhecimento 
afetam desde os mecanismos de controle até as estruturas pulmonares e extrapulmonares que 
participam do processo de respiração. 
A musculatura da respiração enfraquece com o progredir da idade. Isso ocorre devido 
ao enfraquecimento dos musculosqueléticos somado ao enrijecimento da parede torácica, 
resultando na redução das pressões máximas inspiratórias e expiratórias com um grau de 
dificuldade maior para executar a dinâmica respiratória. 
Na parede torácica, ocorre aumento da rigidez, calcificação das cartilagens costais, 
calcificação das articulações costais e redução do espaço intervertebral. Ocorre ainda redução 
da força dos músculos respiratórios, redução da taxa de fluxo expiratório e redução da pressão 
arterial de oxigênio. 
O sistema digestório, assim como os demais sistemas, sofre modificações estruturais e 
funcionais com o envelhecimento. As alterações ocorrem em todo trato gastrointestinal, da boca 
ao reto. 
Ocorrem alterações na cavidade oral, havendo perda do paladar, redução da inervação 
do esôfago, redução na secreção de lípase e insulina pelo pâncreas, diminuição da 
metabolização de medicamentos pelo fígado, dificuldade de esvaziamento da vesícula biliar e 
discreta diminuição da absorção de lipídeos no intestino delgado. No cólon, observa-se o 
enfraquecimento muscular, havendo alteração de peristalse. No reto e ânus são observadas 
alterações com espessamento e alterações do colágeno e redução de força muscular, que 
diminuem a capacidade de retenção fecal volumosa. A isso se acrescem alterações de 
elasticidade retal e da sensibilidade à sua distensão. 
 
 
18 
Além das alterações de caráter físico, com o envelhecimento podem-se verificar 
modificações nas reações emocionais, como o acúmulo de perdas e separações, solidão, 
isolamento e marginalização social. Algumas características do envelhecimento emocional são: 
redução da tolerância aos estímulos, vulnerabilidade à ansiedade e depressão, sintomas 
hipocondríacos, autodepreciativos, de passividade e conservadorismo de caráter e de ideias. 
 
2.3 FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES 
 
 Hipertensão arterial (HA) 
A hipertensão arterial essencial ou primária (HA) é uma das causas mais comuns de 
doenças cardiovasculares, afetando aproximadamente 20% da população adulta em sociedades 
industrializadas. A HA parece ter causa multifatorial para a sua gênese e manutenção. A 
investigação da sua fisiopatologia necessita de conhecimentos dos mecanismos normais de 
controle da PA para procurar então, evidências de anormalidades que precedem a elevação da 
PA para níveis considerados patológicos. 
A pressão arterial é determinada pelo produto do débito cardíaco (DC) e da resistência 
vascular periférica (RVP). Nos indivíduos normais e nos portadores de hipertensão arterial 
essencial existe um espectro de variação do DC com respostas concomitantes da RVP para um 
determinado nível de PA. 
A contratilidade e o relaxamento do miocárdio, o volume sanguíneo circulante, o 
retorno venoso e a frequência cardíaca podem influenciar o DC. A RVP, por sua vez, é 
determinada por vários mecanismos vasoconstritores e vasodilatadores, como o sistema nervoso 
simpático, o sistema renina angiotensina e a modulação endotelial. A RVP depende também da 
espessura da parede das artérias, existindo uma potencialização ao estímulo vasoconstritor nos 
vasos nos quais há espessamento de suas paredes. Em muitos pacientes portadores de HA a 
elevação da PA é decorrente do aumento da RVP enquanto em alguns, a elevação do DC é o 
responsável pela HA. 
 
 
19 
Na gênese da HA, estão envolvidos mecanismos neurais, bem como o sistema renina-
angiotensina-aldosterona, alterações no metabolismo do sódio e a participação de moléculas 
como óxido nítrico, endotelinas, cininas e peptídeos natriuréticos, os quais serão descritos 
resumidamente a seguir. 
O sistema nervoso autônomo tem participação importante no controle normal da PA e 
pode estar alterado em pacientes com HA essencial. Muitos pacientes com HA essencial 
apresentam frequência cardíaca de repouso mais elevada que o normal. Isso pode sugerir 
alterações na sensibilidade dos barorreceptores nos pacientes com HA. Além disso, vários 
estudos têm demonstrado aumento na liberação, sensibilidade e excreção de norepinefrina em 
hipertensos, notadamente naqueles com HA borderline e com menos severidade da doença. 
Alguns estudos mostraram não existir alterações na biossíntese ou liberação das catecolaminas, 
embora tenham relatado aumento na responsividade dos receptores b-adrenérgicos em 
hipertensos e em certos modelos experimentais de HA. 
A renina é uma enzima liberada pelas células justaglomerulares dos rins quando 
estimulada através da redução do fluxo sanguíneo renal, contração de volume intravascular, 
redução da ingestão de sódio na dieta, estímulo β-adrenérgico nas células justaglomerulares e 
redução nos níveis plasmáticos de aldosterona. A renina liberada atua sobre o angiotensinogênio 
produzido pelo fígado, convertendo-o em angiotensina I, que é imediatamente transformada na 
circulação pulmonar, através da enzima conversora da angiotensina (ECA), em um peptídeo com 
potente ação vasoconstrictora, a angiotensina II. 
A angiotensina II atua na musculatura lisa dos vasos produzindo constrição, no córtex 
adrenal liberando aldosterona, na medula adrenal liberando catecolaminas, em certas áreas do 
sistema nervoso central iniciando a liberação de adrenalina no cérebro e promovendo a ingestão 
de líquidos por meio de estímulo no centro da sede no cérebro. Essas ações, fisiologicamente, 
atuam como uma defesa da PA, aumentando a RVP e a retenção de sódio e água. O feedback 
negativo dessa sequência homeostática fisiológica ocorre quando, na presença de excesso de 
angiotensina II, a liberação de renina é inibida. 
É também de particular relevância considerar as ações dos hormônios e substâncias 
vasoativas não apenas em relação as suas clássicas ações nos órgãos-alvo, mas também pelas 
suas capacidades em modificarem as ações de outras substâncias. A angiotensina II pode 
 
 
20 
aumentar e potencializar as ações adrenégicas, dos peptídeos atriais, das terminações 
nervosas, da endotelina, do neuropeptídeo Y e interagir com as cininas e prostaglandinas nos 
rins. Outro possível exemplo dessa ação cardiovascular modulatória ocorre no endotélio, através 
de ações da angiotensina II sobre a L-argina, óxidonítrico e bradicinina, alterando as funções 
hemodinâmicas locais. 
As alterações no metabolismo do sódio e no volume de líquido extracelular têm 
respostas heterogêneas nos indivíduos normotensos e hipertensos. Vários estudos 
epidemiológicos demonstram uma correlação direta entre a quantidade de sódio ingerida e a 
prevalência de HA. Quando a resposta individual ao sódio é avaliada, muitos estudos 
demonstram que a PA, em alguns indivíduos, é responsiva, ou “sensível” a manipulação do 
sódio, enquanto em outros ela é “resistente”. A despeito do grande número de estudos 
epidemiológicos mostrando a associação entre consumo de sódio e HA, os dados sobre a 
fisiopatologia dessa associação são escassos. 
A endotelina-1 (ET-1) é um peptídeo de origem endotelial que possui muitas 
propriedades que resultam não somente na elevação da PA, mas também em complicações nos 
órgãos envolvidos com a HA. As principais ações da ET-1 são: efeito miocárdio inotrópico 
positivo, fibrose do músculo cardíaco, vasoconstrição coronariana, secreção de peptídeo 
natriurético atrial, vasoconstrição renal, redução do ritmo de filtração glomerular e da excreção 
urinária de sódio, aumento da secreção de aldosterona, vasoconstrição e broncoespasmo 
pulmonar e hipertrofia vascular. 
Os achados do comprometimento da atividade do óxido nítrico em pacientes 
hipertensos podem ser a chave para o entendimento da origem da disfunção endotelial. A 
redução da biodisponibilidade associado à disfunção endotelial em hipertensos pode ser 
consequência da redução da síntese, aumento da degradação ou integração com outras 
substâncias derivadas do endotélio que resultam em diminuição da atividade do óxido nítrico. 
As cininas são autacoides vasodepressores importantes na regulação da função 
cardiovascular e renal. As principais cininas são a bradicinina e a lisil-bradicina, que são 
liberadas a partir de extratos conhecidos como cininogenases. A redução da atividade do 
sistema calicreína-cinina também pode ter papel importante no desenvolvimento da HA. 
 
 
21 
O envolvimento do peptídeo natriurético atrial (PNA) na regulação da PA e patogênese 
da HA é controverso. Alguns estudos mostram que a redução do PNA pode resultar em retenção 
de sódio e HA sódio-sensível. Essa possibilidade é suportada pelo fato de que a destruição do 
gene pró-PNA em ratos causa HA sódio-sensível. Em contraste, ratos transgênicos com 
superexpressão do gene para PNA têm níveis de PA inferior aos ratos normais. Diversos outros 
mecanismos fisiopatológicos relacionados com a HA ainda estão sob estudo. 
 
 Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) 
O infarto agudo do miocárdio (IAM) é definido como um foco de necrose resultante de 
baixa perfusão tecidual, com sinais e sintomas consequentes da morte celular cardíaca. A 
concepção tradicional é de que a maioria dos casos de IAM resulta de doença aterosclerótica 
coronariana. Outros exemplos de possíveis mecanismos são: doença arterial coronária não 
aterosclerótica (arterite, trauma, espasmo, dissecção, espessamento intimal), êmbolos para a 
artéria coronária (endocardite, mixoma), anormalidades congênitas (origem anômala das 
coronárias), alterações hematológicas (hipercoagulabilidade), drogas (cocaína) e aumento no 
consumo de oxigênio (estenose aórtica, insuficiência aórtica, hipertireoidismo). 
Atualmente, o conceito de que o IAM é precipitado por um trombo oclusivo sobre uma 
placa aterosclerótica complicada tem aceitação generalizada. Este conceito torna imperativo o 
conhecimento sobre as alterações que ocorrem na placa aterosclerótica e que posteriormente 
vão predispor a um evento coronariano agudo. Estudos patológicos estabeleceram que a perda 
da integridade da placa aterosclerótica é o mecanismo fisiopatológico primário na maioria dos 
casos das síndromes coronárias agudas. Existem duas formas de perda de integridade da placa: 
a erosão e a ruptura da placa. 
A erosão consiste de perda superficial da integridade endotelial com posterior 
exposição do tecido conectivo subendotelial. O colágeno exposto ativa a adesão e a agregação 
plaquetária, com posterior formação de trombo aderente à superfície da placa. A análise destas 
placas tem demonstrado acúmulo de macrófagos intensamente ativados. 
Estas células liberam proteases e induzem apoptose das células endoteliais, que por 
sua vez vão resultar em denudação endotelial. 
 
 
22 
A segunda forma de perda da integridade da placa é a ruptura da capa fibrosa. 
Análises histológicas revelaram algumas características das placas que apresentam maior 
probabilidade de ruptura. Classicamente, as placas vulneráveis apresentam um núcleo lipídico 
grande ocupando, no mínimo, 50% do volume total da placa. Pode-se identificar, no interior da 
placa, alta concentração de células inflamatórias (macrófagos e linfócitos) e de fator tissular, 
capa fibrosa fina, com pobreza de células musculares lisas e conteúdo colágeno desorganizado 
(Figura 1). 
 
 
FIGURA 1 - PATOGÊNESE DA PLACA ATEROSCLERÓTICA 
 
A) lesão inicial; B) remodelamento positivo e afilamento da capa fibrosa; C) Ruptura da capa 
fibrosa sem hemorragia intraplaca; D) Hemorragia intraplaca determinando ruptura da capa 
fibrosa. FONTE: Albuquerque et al. 2006. 
 
O principal fator responsável pela integridade da capa fibrosa é o colágeno intersticial, 
particularmente o tipo I, que é sintetizado pelas células musculares lisas. Estudos identificaram 
que as placas vulneráveis apresentam tanto diminuição na síntese como aumento na 
degradação do colágeno. Acredita-se que o mecanismo responsável pela redução das células 
 
 
23 
musculares lisas seja a liberação de citocinas (interferon, interleucinas e fator de necrose 
tumoral) pelas células inflamatórias ativadas. Essas substâncias inibem a migração e 
proliferação das células musculares, ao mesmo tempo em que ativam a apoptose destas células. 
As citocinas também aumentam a produção das metaloproteinases, enzimas sintetizadas pelos 
macrófagos e capazes de degradar todos os componentes da matriz intersticial, incluindo o 
colágeno. Todos esses fatores favorecem a ruptura da placa, com exposição de seu núcleo 
altamente trombogênico. 
 
 Insuficiência Cardíaca (IC) 
A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, 
definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento sanguíneo para atender 
necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo somente 
com elevadas pressões de enchimento. 
As alterações hemodinâmicas comumente encontradas na IC envolvem resposta 
inadequada do débito cardíaco e elevação das pressões pulmonar e venosa sistêmica. Na 
maioria das formas de IC, a redução do débito cardíaco é responsável pela inapropriada 
perfusão tecidual (IC com débito cardíaco reduzido). De início este comprometimento do débito 
cardíaco se manifesta durante o exercício, e com a progressão da doença ele diminui no esforço 
até ser observado sua redução no repouso. 
O mecanismo responsável pelos sintomas e sinais clínicos pode ser decorrente da 
disfunção sistólica, diastólica ou de ambas, acometendo um ou ambos os ventrículos. Nos 
adultos, em aproximadamente 60% dos casos está associada à disfunção ventricular esquerda 
sistólica e nos restantes à disfunção diastólica, devendo ser realçado que essa última vem sendo 
mais observada com o aumento da expectativa de vida da população. 
A IC envolve a ativação de múltiplas vias celulares, metabólicas e neuro-hormonais 
perante uma agressão miocárdica. Diversos agentes neuro-hormonais têm sido implicados na 
progressão para a IC, em parte devido ao fato dos seus níveis plasmáticos estarem elevados 
nesta síndrome(norepinefrina, epinefrina, endotelina, renina, angiotensina II, aldosterona, 
neuropeptídeo Y, insulina, cortisol, TNF-α, IL-6, dopamina, prostaglandinas e bradicinina). 
 
 
24 
Os mediadores neuro-hormonais liberados, atuando de forma endócrina, parácrina ou 
autócrina, promovem um espectro de efeitos que, embora possam ser considerados inicialmente 
compensadores, rapidamente se tornam deletérios, contribuindo para o ciclo vicioso de 
autoagravamento que caracteriza esta síndrome. Reforça ainda a importância dos mecanismos 
neuro-hormonais o fato do seu bloqueio representar um dos avanços mais significativos da 
terapêutica farmacológica da IC, com reflexos diretos no prognóstico da doença e, assim sendo, 
na sobrevida dos doentes. 
À medida que a disfunção ventricular progride, ocorre a ativação de diversos sistemas 
neuroendócrinos, incluindo o sistema nervoso simpático e o sistema renina-angiotensina. Esses, 
embora fisiologicamente promovam o aumento da contratilidade e da frequência cardíaca e 
preservem o equilíbrio hidroeletrolítico, contribuem para o remodelamento cardíaco, 
vasoconstrição periférica, retenção de sódio e cardiomegalia progressiva. 
Além desses, também são ativados outros sistemas vasoconstritores, como o sistema 
da arginina-vasopressina e da endotelina-1 (ET-1). Em oposição a estes, ocorre à ativação de 
outros mecanismos neuro-hormonais (peptídeos natriuréticos, prostaglandinas vasodilatadoras e 
provavelmente o sistema dopaminérgico), predominantemente vasodilatadores, natriuréticos e 
antiproliferativos. 
Durante muito tempo, considerava-se que os mediadores neuro-hormonais apenas 
seriam capazes de alterar cronicamente as propriedades diastólicas do miocárdio mediante a 
indução de fibrose e hipertrofia. Contudo, a literatura sugere que a rigidez diastólica pode ser 
modulada de forma aguda por alguns destes mediadores, caso do óxido nítrico, da ET-1 e da 
angiotensina II. Outros sistemas neuro-hormonais envolvidos na fisiopatologia da IC ainda estão 
sob estudo. 
 
2.4 OBESIDADE E INFLAMAÇÃO 
 
A obesidade foi inicialmente reconhecida como uma condição de inflamação crônica de 
baixo grau no começo da década de 1990, quando se constatou o aumento da expressão do 
 
 
25 
gene que codifica para a citocina pró-inflamatória, denominada fator de necrose tumoral-alfa 
(TNF-α), no tecido adiposo e a redução da sensibilidade à insulina em roedores submetidos a 
um protocolo de obesidade induzida pela dieta. 
Posteriormente, outras pesquisas verificaram que a obesidade está diretamente 
relacionada a alterações nas funções endócrinas e metabólicas do tecido adiposo. Em indivíduos 
obesos, esse tecido aumenta a capacidade de síntese de moléculas com ação pró-inflamatória, 
denominadas adipocitocinas ou adipocinas, como a enzima óxido nítrico sintase induzível 
(iNOS), a proteína C reativa, o fator de transformação do crescimento-beta (TGF-β), a proteína 
quimiotática para monócitos (MCP-1), a molécula de adesão intracelular solúvel (sICAM), o 
angiotensinogênio, o inibidor-1 do ativador do plasminogênio (PAI-1), o TNF-α, a interleucina-6 
(IL-6) e a leptina. A capacidade de síntese dessas proteínas, a partir do tecido adiposo de 
indivíduos magros, é muito inferior. Além disso, o aumento da concentração plasmática do PAI-1, 
o principal inibidor da fibrinólise, correlaciona-se à presença de obesidade abdominal e de outros 
componentes da SM. Esse biomarcador é um preditor do status da síndrome metabólica mais 
eficaz que a proteína C reativa. 
A resposta inflamatória promove, por um lado, o aumento da síntese de diversas 
adipocinas com ação pró-inflamatória e, por outro, a redução da concentração plasmática de 
adiponectina, que apresenta ação anti-inflamatória. Esse processo reduz a expressão gênica de 
moléculas de adesão em células endoteliais: a liberação de TNF-α a partir de monócitos e a 
proliferação de células da musculatura lisa. Verifica-se forte correlação entre a redução da 
concentração plasmática de adiponectina e o aumento da resistência periférica à ação da 
insulina. 
A redução da gordura corporal resulta em aumento da concentração plasmática de 
adiponectina, em redução da resposta inflamatória e, como consequência, em diminuição da 
resistência periférica à ação da insulina. 
O tecido adiposo é um tecido heterogêneo composto por adipócitos maduros e por 
células da fração estromal-vascular. Essa fração inclui pré-adipócitos, fibroblastos, células 
endoteliais, histiócitos e macrófagos. Na obesidade, verifica-se que o aumento de macrófagos no 
tecido adiposo, em particular no tecido adiposo visceral, é inicialmente precedido pela migração 
 
 
26 
de monócitos do sangue para esse tecido em indivíduos obesos, cujas células, quando 
presentes no tecido adiposo visceral, diferenciam-se em macrófagos. 
Esse aumento do processo de quimiotaxia de monócitos, a partir do sangue para o 
tecido adiposo visceral, é mediado pela MCP-1, sendo que o receptor para essa proteína, 
denominado CCR2, é expresso em monócitos presentes no sangue periférico e em macrófagos 
teciduais. Além disso, a expressão da MCP-1 correlaciona-se positivamente à adiposidade, 
sendo a sua expressão gênica maior no tecido adiposo visceral quando comparada ao 
subcutâneo. 
O conjunto de fatores compreendendo a síntese de adipocinas, quimiocinas e 
citocinas; hipertrofia de adipócitos; hipoxia (deficiência de oxigênio) no tecido adiposo e 
endotoxemia devido ao aumento da concentração sanguínea de LPS levam a uma maior 
infiltração de macrófagos no tecido adiposo. 
O recrutamento e a infiltração de macrófagos no tecido adiposo acarretam em 
inflamação local, que tem papel crucial no desencadeamento da resistência periférica à insulina, 
cuja gênese está diretamente relacionada ao aumento da concentração plasmática de diversas 
citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α e a IL-6. 
O TNF-α causa resistência à insulina por inibir a fosforilação da tirosina presente no 
substrato-1 do receptor de insulina (IRS-1). Outros mecanismos de inibição da fosforilação do 
IRS-1 por mediadores inflamatórios incluem a ativação crônica das proteínas Jun N-terminal 
quinase (JNK), proteína quinase C (PKC) e quinase do inibidor do fator de transcrição NF-κB 
(IKK). Além da síntese do TNF-α, o tecido adiposo produz outras adipocinas, como a resistina, a 
leptina e a MCP-1, que atuam em diversas vias metabólicas, bem como na resposta inflamatória. 
A cultura simultânea de macrófagos e adipócitos promove a alteração da expressão da 
proteína transportadora de glicose 4 (GLUT4) e do IRS-1 nos adipócitos, o que pode ser 
parcialmente reversível pela adição de anticorpos anti-TNF-α. 
O processo inflamatório estimula a diferenciação de adipócitos, o que favorece o 
aumento da liberação de ácidos graxos não esterificados a partir dessas células para a 
circulação sanguínea. Ácidos graxos não esterificados inibem o IRS-1 e, consequentemente, 
induzem a resistência periférica à insulina no musculoesquelético e no fígado. Entre os 
 
 
27 
mecanismos associados à resistência periférica à insulina induzida por ácidos graxos não 
esterificados estão: (i) o estresse oxidativo, (ii) a ativação da PKC e (iii) o estresse do retículo 
endoplasmático. 
O aumento do fluxo de ácidos graxos não esterificados a partir do tecido adiposo para 
o fígado promove resistência periférica à ação da insulina nesse tecido, devido ao aumento da 
expressão e atividade da enzima glicose-6-fosfatase, da gliconeogênese e da glicogenólise. 
Verifica-se também elevação da lipogênese e da síntese de triacilgliceróis hepática, que está 
relacionada à ativação do fator de transcrição denominado proteína ligadora ao elementoregulatório de esteróis (SREBP). 
 
2.5 DISBIOSE INTESTINAL 
 
A microbiota intestinal saudável forma uma barreira contra os microrganismos 
invasores, potencializando os mecanismos de defesa do hospedeiro contra os patógenos, 
melhorando a imunidade intestinal pela aderência à mucosa e estimulando as respostas imunes 
locais. Além disso, ela também compete por combustíveis intraluminais, prevenindo o 
estabelecimento de bactérias patogênicas. 
A microbiota benéfica ajuda a digerir os alimentos e a produzir ácidos graxos de cadeia 
curta (AGCC) e proteína, que são parcialmente absorvidos e utilizados pelo hospedeiro. 
Apresentam ainda importantes funções metabólicas e nutricionais, incluindo a hidrólise de 
ésteres de colesterol, de sais biliares e a utilização dos carboidratos, proteínas e lipídeos. As 
bactérias colônicas dão sequência à digestão de alguns materiais que resistiram à atividade 
digestiva prévia. Nesse processo, vários nutrientes são formados pela síntese bacteriana, 
disponíveis para a absorção, contribuindo para o suprimento de vitamina K, vitamina B12, 
tiamina e riboflavina. 
A microbiota intestinal auxilia a fermentar carboidratos que tenham permanecido mal 
absorvidos ou resistentes à digestão e ajuda a converter as fibras da dieta em AGCC (butirato, 
propionato, acetato e lactato). O ácido butírico ou butirato é o substrato preferencial para os 
 
 
28 
colonócitos e é produzido pela ação da fermentação das bactérias intestinais sobre as fibras da 
dieta, particularmente a fibra solúvel. 
Atualmente, é reconhecido que os AGCC exercem papel fundamental na fisiologia 
normal do cólon, no qual constituem a principal fonte de energia para os enterócitos e 
colonócitos, estimulam a proliferação celular do epitélio, o fluxo sanguíneo visceral e intensificam 
a absorção de sódio e água, ajudando a reduzir a carga osmótica de carboidrato acumulado. 
A colonização do trato gastrointestinal compreende uma população bacteriana estável. 
As bactérias nativas não se proliferam aleatoriamente no trato gastrointestinal, sendo que 
determinadas espécies são encontradas em concentrações e regiões específicas. A regulação 
ocorre pelo próprio meio, devido à presença dos diversos grupos que se estabelecem à medida 
que as condições apresentam-se favoráveis em relação às interações microbianas e substâncias 
inerentes ao seu metabolismo, aos fatores fisiológicos do hospedeiro e nutrientes provenientes 
da alimentação. 
Outros fatores que podem ser citados são: estado clínico do hospedeiro; idade; tempo 
de trânsito intestinal e pH intestinal; disponibilidade de material fermentável; interação entre os 
componentes da microbiota; suscetibilidade a infecções; estado imunológico; requerimentos 
nutricionais e o uso de antibióticos e imunossupressores. 
A cavidade oral contém uma mistura de microrganismos, sendo encontradas 
principalmente bactérias anaeróbicas. As bactérias nesta região são encontradas na 
concentração de 106-109 UFC/ml, sendo as espécies: Bifidobactéria, Propionibactéria, 
Bacterioides, Fusobactéria, Leptotrichia, Peptostreptococci, Estreptocci, Veillonella e Treponema. 
Normalmente, há pouca ação bacteriana no estômago, pois o ácido clorídrico atua 
como um agente bactericida. Geralmente estão presentes na concentração de 0-103 UFC/ml, a 
Helicobacter pylori, que tem sido encontrada em pacientes com úlceras pépticas e neoplasia de 
estômago. Outras espécies encontradas neste órgão são Lactobacillos e Streptococos. As 
condições marcadas pela secreção diminuída de ácido clorídrico podem diminuir a resistência à 
ação bacteriana, ocasionalmente levando à inflamação da mucosa gástrica ou um risco maior de 
supercrescimento no intestino delgado, que em geral é relativamente estéril. 
 
 
29 
A microbiota do intestino delgado consiste em 103-104 UFC/ml do íleo proximal, com 
predominância de bactérias gram-positivas aeróbicas, e 1011-1012 UFC/ml do íleo distal, com 
concentração de bactérias gram-negativas aneróbicas. O curto espaço de trânsito através do 
intestino delgado não permite maior crescimento bacteriano. Ao contrário, no cólon, no qual o 
tempo de trânsito é mais prolongado, entre outros fatores, ocorre, o estabelecimento de uma 
microbiota bastante rica. 
O trato gastrointestinal humano contém aproximadamente 1014 bactérias, 
representando mais de 500 espécies diferentes. No intestino grosso, há três níveis distintos que 
podem ser observados: a microbiota dominante (109-1011 UFC/ml de conteúdo), constituída 
somente por bactérias anaeróbias estritas: Bacteroides, Eubacterium, Fusobacterium, 
Peptostreptococcus, Bifidobacterium; a microbiota subdominante (107-108 UFC/ml de conteúdo), 
predominantemente anaeróbia facultativa: Escherichia coli, Enterococcus faecalis e algumas 
vezes Lactobacillos e a microbiota residual (< 107 UFC/ml de conteúdo), contendo uma grande 
variedade de microrganismos procarióticos: Enterobacteriaceae, Pseudomonas, Veillonella, além 
de eucarióticos: leveduras e protozoários. 
Em diferentes regiões do trato gastrointestinal estão presentes grupos específicos de 
micro-organismos, que são capazes de produzir uma grande variedade de compostos, com 
efeitos variados na fisiologia. Esses compostos podem influenciar a nutrição, o metabolismo, a 
eficácia de drogas, a carcinogênese e o processo de envelhecimento, assim como a resistência 
do hospedeiro à infecção. 
O acúmulo de maus-tratos com a função intestinal afeta o equilíbrio da microbiota 
intestinal, fazendo com que as bactérias nocivas aumentem, configurando uma situação de risco. 
Algumas destas bactérias podem colonizar o intestino delgado, com sérias consequências, como 
nutrientes digeridos de forma inadequada e a combinação de toxinas com proteínas, formando 
peptídeos potencialmente prejudiciais. 
Este processo é chamado disbiose, um distúrbio cada vez mais considerado no 
diagnóstico de várias doenças e caracterizado por uma disfunção colônica devido à alteração da 
microbiota intestinal, na qual ocorre predomínio das bactérias patogênicas sobre as bactérias 
benéficas. Esse termo foi popularizado na Europa, no final do século XIX. 
 
 
30 
Alguns fatores que podem ser atribuídos às causas desta alteração da microbiota 
intestinal são: o uso indiscriminado de antibióticos, que matam tanto as bactérias úteis como as 
nocivas e de anti-inflamatórios hormonais e não hormonais; o abuso de laxantes; o consumo 
excessivo de alimentos processados em detrimento de alimentos crus; a excessiva exposição a 
toxinas ambientais; as doenças consumptivas, como câncer e síndrome da imunodeficiência 
adquirida (AIDS); as disfunções hepatopancreáticas; o estresse e a diverticulose. 
Considera-se também outros fatores que levam ao estado de disbiose, como a idade, o 
tempo de trânsito e pH intestinal, a disponibilidade de material fermentável e o estado 
imunológico do hospedeiro. Um dos fatores que concorrem muito para esse desequilíbrio da 
microbiota intestinal é a má digestão. Nem sempre o estômago está ácido o suficiente para 
destruir as bactérias patogênicas ingeridas junto com os alimentos, e assim as bactérias nocivas 
ganham uma boa vantagem sobre as úteis. A fraca acidez estomacal é comum entre pessoas 
mais idosas, e ainda entre os pacientes com diabetes, que costumam ter deficiência de produção 
de ácido clorídrico. 
A integridade intestinal está ligada a um equilíbrio das bactérias intestinais e à nutrição 
saudável de enterócitos e colonócitos. Uma das principais funções da mucosa intestinal é sua 
atividade de barreira, que impede as moléculas ou microrganismos antigênicos ou patógenos de 
entrarem na circulação sistêmica. 
A mucosa gastrointestinal é composta de células epiteliaisque estão bem adaptadas, 
são finas e semipermeáveis, com junções firmes entre as células. Quando a mucosa é rompida, 
a permeabilidade intestinal pode ocorrer e as bactérias do intestino, alimento não digerido ou 
toxinas podem se translocar por essa barreira. 
A translocação bacteriana é a passagem potencial de bactérias do lúmen intestinal ou 
de endotoxinas através da mucosa epitelial do trato gastrointestinal para o sangue ou sistema 
linfático e inicia uma resposta inflamatória sistêmica. A exata etiologia da alteração da 
permeabilidade intestinal não é clara, porém, a ingestão dietética e o desequilíbrio bacteriano no 
intestino foram sugeridos como fatores. 
A disbiose torna-se ainda mais deletéria quando se combina com outros distúrbios, 
como o aumento da permeabilidade intestinal. Em um quadro de microbiota anormal, ocorre uma 
 
 
31 
inadequada quebra de peptídeos e reabsorção de toxinas do lúmen intestinal. Estas toxinas 
caem na circulação portal e podem produzir efeitos farmacológicos, “efeito exorfina”, causando 
quadro de letargia observado nos casos de múltipla sensibilidade a alimentos. Este fenômeno 
pode produzir uma grande quantidade de doenças, desde depressão até artrite reumatoide. 
A constipação intestinal leva à presença no cólon de fezes putrefativas, gerando placas 
duras e aderentes na mucosa intestinal, que liberam toxinas para todo o organismo. Estas 
toxinas podem ser absorvidas pela pele, resultando em um quadro de urticária e acne, ou para 
as articulações, gerando quadros de inflamação e até mesmo lesões articulares como a artrite 
reumatoide. Outras alterações que afetam a válvula ileocecal, que separa o intestino delgado do 
grosso, também podem fazer com que isso aconteça. 
Os indivíduos que estão sempre às voltas com dificuldades intestinais têm grande 
possibilidade de apresentar disbiose. Um sinal claro disso é a síndrome do cólon irritável, em 
que o desequilíbrio da microbiota intestinal chega a ponto de impedir as funções normais do 
cólon, provocando diarreias constantes. 
Embora a etiologia das doenças inflamatórias intestinais permaneça desconhecida, 
evidências sugerem que o desequilíbrio da microbiota intestinal seria o possível fator 
responsável pelo início, cronificação e recidivas destas doenças. Os gatilhos para o 
estabelecimento inicial das doenças e exacerbações subsequentes provavelmente envolvem 
interações virais ou bacterianas com células imunes que recobrem a parede mucosa do trato 
intestinal. 
A ligação entre disbiose e o desenvolvimento de certas doenças está apenas 
começando a ser explorada. Por exemplo, o papel destas bactérias no desenvolvimento de 
câncer foi estudado pela agência norte-americana “US Environmental Protection Agency”. Os 
pesquisadores descobriram que os agentes potencialmente carcinogênicos (corantes de 
alimentos, aflatoxinas, pesticidas, nitritos) e agentes que causam câncer em não alimentos 
(tabacos sem fumaça, medicações prescritas) eram bioativados por sistemas de enzimas das 
bactérias intestinais. Estas bioativações, que podem levar ao câncer, são promovidas em uma 
velocidade maior nos sistemas gastrointestinais com populações microbianas desequilibradas. 
 
 
32 
A microbiota intestinal sintetiza vitaminas, principalmente as do complexo B. Se ela 
está anormal, então a hipovitaminose pode surgir. A predominância de bactérias patogênicas 
pode ainda afetar a produção de enzimas importantes e com isso diminuir a capacidade de 
absorção dos nutrientes, causando um déficit nutricional que, entre outros prejuízos, concorrerá 
para a perda de peso. 
 
2.6 FISIOPATOLOGIA DO CÂNCER 
 
O organismo humano encontra-se exposto a múltiplos fatores carcinogênicos, com 
efeitos aditivos ou multiplicativos. Sabe-se que a predisposição individual tem um papel decisivo 
na resposta final, porém não é possível definir em que grau ela influencia a relação entre a dose 
e o tempo de exposição ao carcinógeno e a resposta individual à exposição. 
Independentemente da exposição à carcinógenos, as células sofrem processos de 
mutação espontânea, que não alteram o desenvolvimento normal da população celular como um 
todo. Estes fenômenos incluem danos oxidativos, erros de ação das polimerases e das 
recombinases e redução e reordenamento cromossômico. Há também que se considerar a 
vigilância imunológica como mecanismo de correção ou exclusão das células mutantes. 
Os fenômenos de mutação espontânea podem condicionar uma maior ou menor 
instabilidade genômica, que pode ser crucial nos processos iniciais da carcinogênese, como 
consequência de aneuploidia e amplificações genéticas. 
Em síntese, a carcinogênese pode iniciar-se de forma espontânea ou ser provocada 
pela ação de agentes carcinogênicos (químicos, físicos ou biológicos). Em ambos os casos, 
verifica-se a indução de alterações mutagênicas e não mutagênicas, ou epigenéticas nas 
células. 
A incidência, a distribuição geográfica e o comportamento de tipos específicos de 
cânceres estão relacionados a múltiplos fatores, incluindo sexo, idade, raça, predisposição 
genética e exposição à carcinógenos ambientais. Desses fatores, os ambientais são, 
provavelmente, os mais importantes. 
 
 
33 
Os carcinógenos químicos (particularmente aqueles presentes no tabaco e resultantes 
de sua combustão e metabolismo), bem como determinados agentes, como os azocorantes, 
aflatoxinas e benzeno, foram claramente implicados na indução de câncer no homem e animais. 
Certos vírus de DNA do grupo herpes e papiloma, bem como vírus de ácido 
ribonucleico (RNA) do tipo C, foram também implicados como agentes produtores de câncer em 
animais, podendo ser igualmente responsáveis por alguns tipos de câncer no homem. 
O tempo para a carcinogênese ser completada é indeterminável, podendo levar muitos 
anos para que se verifique o aparecimento do tumor. Teoricamente, a carcinogênese pode ser 
interrompida em qualquer uma das etapas, se o organismo for capaz de reprimir a proliferação 
celular e de reparar o dano causado ao genoma. Seria redundante salientar que a suspensão da 
exposição a agentes carcinogênicos é condição sine qua non para a interrupção da 
carcinogênese. A figura 2 sintetiza as diversas etapas da carcinogênese. 
 
 
FIGURA 2 - AS ETAPAS DA CARCINOGÊNESE 
 
FONTE: INCA, 2008. 
 
 
 
 
34 
A descoberta de que os oncogêneses causadores de tumores estão relacionados aos 
genes normais levantou várias questões sobre o papel destes genes no crescimento e 
desenvolvimento (diferenciação) das células normais e tumorais. Parece certo que etapas da 
iniciação e promoção de um tumor e a própria existência de uma neoplasia maligna depende da 
expressão (manifestação do efeito) aumentada de oncogênese, ocasionada por amplificação 
(aumento do número de cópias do gene), por expressão alterada de genes repressores ou por 
mutações críticas em áreas de determinado oncogênese. 
A estimulação da proliferação celular normal é quase sempre desencadeada por 
fatores de crescimento que se ligam aos receptores dispostos nas membranas celulares. O sinal 
recebido por esses receptores é transmitido para o citoplasma e, por fim, para o núcleo. Os 
fatores de crescimento (FC) são polipeptídeos que regulam a proliferação celular, bem como 
outras funções celulares, como a deposição e resolução de proteínas da matriz extracelular, a 
manutenção da viabilidade celular, a diferenciação celular, a quimiotaxia, a ativação de células 
da resposta inflamatória e o reparo tecidual. Os FC também são implicados na patogênese de 
determinadas doenças. A secreção anormal de FC resulta em doenças caracterizadas por 
resposta celular proliferativa ou por fibrose. A expressão aumentadade FC pode estar envolvida 
numa variedade de doenças, incluindo a aterosclerose, fibrose pulmonar, mielofibrose e 
neoplasias. 
As células cancerosas e as normais se dividem mais rapidamente quando os volumes 
teciduais ou tumorais são menores e, mais lentamente, se esses volumes são maiores. Isso leva 
a um crescimento exponencial com curtos tempos de duplicação em tumores de menor volume. 
A fração proliferativa do tumor decresce à proporção que o mesmo cresce, aumentando seu 
tempo de duplicação. Assim, um tumor apresenta tempos diferentes de duplicação em 
momentos diferentes de sua história natural. Três aplicações práticas derivam destes 
conhecimentos sobre a cinética celular: 
 Quanto menor o tumor, maior a sua fração proliferativa, portanto mais sensível 
será aos medicamentos antiblásticos (quimioterapia) e às radiações ionizantes (Radioterapia). 
 Quanto mais precoce for a aplicação de quimioterapia ou radioterapia após o 
tratamento cirúrgico do tumor, mais eficazes elas serão, pois maior será o número de células em 
fase proliferativa. 
 
 
35 
 Os tecidos normais que apresentam alta fração de crescimento são os que 
sofrem a ação da quimio e radioterapia, neles se concentrado os efeitos colaterais agudos 
desses tratamentos (náusea e vômitos, diarreia, leucopenia, alopecia etc.). 
Quando um tumor maligno alcança cerca de 1 cm de diâmetro, torna-se detectável 
pelos métodos diagnósticos disponíveis e contém cerca de 109 células. Acredita-se que é 
necessário um longo período de tempo para o tumor alcançar este tamanho, talvez alguns anos. 
Ele apresenta tempos diferentes de duplicação em momentos diferentes de sua história natural 
e, em alguns deles, bem antes desta detecção provavelmente já ocorreu a metastatização 
hematogênica. 
Os tumores malignos apresentam duas propriedades peculiares: invasão dos tecidos 
circunvizinhos e comprometimento a distância (metástase). 
A metástase é definida como o comprometimento a distância por uma parte do tumor 
que não guarda relação direta com o foco primário. A disseminação tumoral é um processo 
complexo e não de todo esclarecido, que pode ser dividido em cinco etapas: 1) invasão e 
infiltração de tecidos subjacentes por células tumorais, dada a permeação de pequenos vasos 
linfáticos e sanguíneos; 2) liberação na circulação de células neoplásicas, tanto isoladas como 
na forma de pequenos êmbolos; 3) sobrevivência dessas células na circulação; 4) sua retenção 
nos leitos capilares de órgãos distantes; 5) seu extravasamento dos vasos linfáticos ou 
sanguíneos, seguido do crescimento das células tumorais disseminadas. 
Ao longo de todo esse processo, fatores mecânicos e imunológicos devem ser 
superados para que as células neoplásicas consigam implantar-se em um novo órgão e terem 
crescimento autônomo em relação ao tumor primário. 
As vias pelas quais o tumor dissemina são: transcavitária, linfática e sanguínea. 
• Disseminação transcavitária: As metástases transcavitárias (ou transcelômicas) 
ocorrem quando células de um tumor maligno penetram alguma cavidade corporal e aí crescem 
e disseminam-se. Na prática, as cavidades mais afetadas são a peritoneal e a pleural, porém a 
pericárdica, subaracnoidea e articular podem também ser atingidas. 
• Disseminação linfática: As metástases linfáticas são geralmente o padrão inicial de 
disseminação das neoplasias de origem epitelial, podendo ser utilizada por outros tipos de tumor. 
 
 
36 
Elas seguem a drenagem linfática normal da área do tumor primário, ocupando os linfonodos 
mais próximos e que recebem maior número de vasos linfáticos aferentes. Exemplo disto é a 
disseminação linfática do câncer de pulmão, que invade inicialmente os linfonodos mediastinais 
e, em sequência, os supraclaviculares e cervicais. O mesmo se verifica com o câncer de mama, 
que invade inicialmente os linfonodos axilares homolaterais, só posteriormente estendo-se aos 
de outras cadeias linfáticas supraclaviculares, infraclaviculares, cervicais, mediastinais e axilar 
contralateral. Por um tempo não determinado, é possível que os linfonodos consigam impedir a 
disseminação das células tumorais, pois, chegando aos linfonodos, elas entram em contato com 
células do sistema imunológico e, então, podem ser destruídas. De outra forma, se resistirem e 
encontrarem condições vitais favoráveis poderá multiplicar-se. 
• Disseminação sanguínea: As metástases por via hematogênica têm seu início quando 
células tumorais invadem os vasos sanguíneos. As veias e vênulas, por possuírem paredes mais 
frágeis, são mais facilmente penetradas do que artérias e arteríolas. As metástases por via 
arterial podem ocorrer, por exemplo, quando células metastáticas cruzam o leito capilar 
pulmonar, quando atravessam comunicações arteriovenosas ou quando as próprias metástases 
pulmonares funcionam como foco de novas células tumorais capazes de metastatizar. Em todo o 
organismo, os órgãos que mais são comprometidos por esse tipo de disseminação são, 
obviamente, os mais vascularizados: pulmão e fígado, em parte por receberem, 
respectivamente, grande volume de sangue, procedente das circulações cava e porta, ossos e 
cérebro. 
Em relação à escolha dos órgãos-alvo, sabe-se que a distribuição das metástases é 
variável, e depende principalmente do tipo histológico e da localização do tumor primário. De 
fato, a localização mais comum de metástases de vários tipos histológicos é o primeiro leito 
capilar que as células encontram. Exemplos o câncer de pulmão metastatizando para o sistema 
nervoso central e o câncer de cólon para o fígado. Entretanto, locais específicos parecem ser 
preferidos pelas células tumorais circulantes, como no caso do câncer de próstata para ossos. 
Isto demonstra um processo de íntima correlação entre célula tumoral e órgão-alvo, denominado 
tropismo seletivo. 
A metástase deve ser vista como um novo tumor, diferente do primário, com ampla 
autonomia para crescimento e propagação. Uma compreensão mais abrangente sobre a 
 
 
37 
patogênese da disseminação do câncer provavelmente resultará em mudanças significativas no 
tratamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
3 COMPOSTOS FUNCIONAIS PRESENTES EM ALIMENTOS 
 
 
3.1 DEFINIÇÃO 
 
A constatação de que dietas ricas em frutas e hortaliças, como a da população 
mediterrânea contemporânea e da população asiática, reduzem o risco das doenças crônicas 
não transmissíveis (DCNT) impulsionou pesquisas que identificaram substâncias nutrientes e 
não nutrientes atuantes em alvos fisiológicos específicos e que, dessa forma, interferem nos 
processos patogênicos dessas doenças. 
Essas evidências resultaram, entre outras coisas, em mudanças nas recomendações 
dos guias alimentares, os quais passaram a indicar a ingestão de maior número de porções de 
frutas e de hortaliças na dieta. Alimentos de origem vegetal são fontes de energia, proteína, 
vitaminas e minerais e a única ou principal fonte de vitamina C, folato, fibras e compostos 
bioativos (CBAs), dos quais o metabolismo humano também é dependente. 
Em um novo paradigma, a ingestão insuficiente de CBAs provenientes de vegetais 
constitui importante componente de risco das DCNT, contribuindo na mesma magnitude do 
consumo excessivo de energia e de gorduras totais e saturadas na dieta. Isso indica que os 
CBAs, da mesma forma que os demais nutrientes, são essenciais para que se atinja a carga 
completa (geneticamente determinada) de longevidade. Segundo esse novo paradigma, as 
DCNT seriam doenças relacionadas também à deficiência de substâncias “essenciais para a 
longevidade”. 
Essa visão é complementar àquela que assume

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