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David Harvey: o capitalismo e a acumulação flexível Ananda Moraes David Harvey é um geógrafo pensador contemporâneo da ordem política e econômica sob a visão marxista por quarenta anos, analisa geograficamente as dinâmicas do capital, incluindo a adaptação do fordismo as novas condições de mercado englobando o modelo de acumulação flexível. Suas obras de relevante importância a geografia crítica atual trazem suas conclusões a partir do marxismo sobre a atual formulação dinâmica do capitalismo. Em sua obra “Os limites do capital”, Harvey assinala vários pontos sobre sua constatação ao capitalismo, a exemplo de alguns como o desenvolvimento geográfico desigual, alegando que no âmbito das diferenciações geográficas estas parecem ser o que não são, e explica: “meros residuais históricos em vez de aspectos ativamente reconstituídos dentro do modo de produção capitalista. ” p. 603. Explicitando que o capitalismo cria a manutenção de antigos hábitos preconceituosos como racismo e sexismo. Retrata pontos opostos da acumulação definidas por Marx, onde a acumulação de riqueza crescente num polo, e a de pobreza no outro, acarretando desigualdades sociais significativas originadas da aplicação da lógica capitalista, explanado no livro, onde a aglomeração de produção em centros urbanos, atraem investimentos em transporte e indústrias, mas em contrapartida ocasiona várias mudanças sobre as forças de trabalho. Harvey acentua algumas dessas mudanças como as formas de exploração as classes mais baixas, a elevação nos índices de aluguel de imóveis, a ignorância, o trabalho árduo e a acumulação da miséria. O geógrafo ainda acentua que os capitalistas buscam lucros de todos os lados não importando tais explorações. Em a “Condição pós-moderna” Harvey manifesta o que se seria a modernidade e a pós-modernidade, traz diversos autores, como Habermas e Max Weber, e diversos conceitos geográficos implícitos, que se interligam a lógica da construção do moderno ao pós-moderno. Harvey evidencia que modernidade é como alegria, poder, transformação de si, mas que, ao mesmo tempo, é um aniquilamento ao que somos e sabemos, é a união da humanidade e ao mesmo tempo são renovações angustiantes. O autor destaca o que Habermas chama de o “projeto de modernidade” que se desdobrou no século XVIII, onde pensadores iluministas se esforçavam para desenvolver ciência objetiva e arte, fomentando espaço a moralidade e leis universais, o foco deste projeto seria acumular conhecimento e criatividade de trabalhadores livres, prometia a emancipação humana através da racionalidade, libertando as pessoas de irracionalidades como mitos e religião. Esse era o plano de progresso humano, rompendo com a história e tradição, a fé na humanidade em primeiro lugar, a compreensão do mundo, a justiça das instituições, a dominação da natureza. Após os acontecimentos tortuosos do século XX, de militarismo e guerras, e a abordagem nietzschiana do novo modernismo, o pensamento iluminista se torna, para muitos, utópico. Harvey demonstra a análise de Marx do projeto iluminista dentro do capitalismo, onde, só existiria emancipação humana quando o proletariado - enquanto classe dominada pelos capitalistas - estivesse em plena liberdade social de suas escolhas. No campo das artes observamos o início de venda cultural, a comercialização de arte e cultura evidencia uma “destruição criativa”, a separação da arte das causas sociais reflete em mais um fenômeno impiedoso gerado pelo capitalismo. O “espetáculo vazio” das promoções publicitárias evidenciam o pós-modernismo, mas também a arquitetura é expressada como sendo fabricada para as pessoas, em ambientes urbanos mais satisfatórios. O pós- modernismo é uma corrente de mudança de ação e de pensamento, com preocupação na performance e no happening, onde a personalidade, os comportamentos e as motivações são embasadas no espetáculo, na aparência, no material, na intensidade aumentada, etc. A flexibilidade dos processos de trabalho, produtos e consumo é uma necessidade oriunda da falha da rigidez fordista, chamada por Harvey de “acumulação flexível”. É caracterizado por novas maneiras de produzir, mudando os “padrões do desenvolvimento desigual”. A flexibilidade ocasionada do mundo capitalista proporciona o que Harvey chama de “compressão do espaço-tempo” e também é responsável pelos novos movimentos do trabalho no setor de serviços. O desemprego “estrutural”, o aumento da competição, a rápida destruição e reconstrução de habilidades, são algumas implicações da acumulação flexível. Harvey aponta que o propósito da flexibilidade é satisfazer as necessidades cada vez mais específicas de cada empresa, diante da forte volatilidade do mercado. Tais necessidades específicas por vezes implicam no que alguns sociólogos, como Giovanni Alves, chamam de “precarização do trabalho”, que provém também de uma crise do capitalismo. A condição de subemprego ou de emprego informal evidenciam essa precarização. O estímulo ao que se caracteriza como novo modelo de “trabalho flexível”, sem garantias e direitos, onde o trabalhador faz seu horário, e vai atrás de seus lucros, o auto empreendedorismo, o “seja seu próprio chefe”, joga o trabalhador a um setor precário de benefícios ilusórios. Alves demonstra em “Dimensões Da Precarização Do Trabalho” a análise marxista de que os indivíduos se sentem livres em sua imaginação, mas ainda assim se encontram sob dominação burguesa. A precariedade, na visão do autor, é questão social-estrutural, histórico-ontológica, que evidencia a força de trabalho como mercadoria, caracterizando o trabalho vivo onde estes estão despossuídos dos meios de produção. A acumulação flexível, por fazer parte de um processo que atende a necessidades cobradas cada vez mais rapidamente em espaços cada vez mais amplos, tendem a gerar impactos “estruturais” como desemprego, enfraquecimento dos sindicatos, precarização do trabalho como informalidade, subcontratação, sem garantias ou direitos, e também aceleração do ritmo de inovação e consumo que fazem parte da vida pós-moderna. Tal aceleração reflete ocasionalmente ao estilo de vida preconizado na atualidade. Estilo de vida do status, do espetáculo, da moda, do consumo instantâneo, da felicidade momentânea, da ilusão causados pelo preenchimento do vazio existencial com coisas sem muito significado real, mas com expressivos significados ao sistema econômico capitalista. Harvey ratifica que no modelo de acumulação o aperfeiçoamento do transporte e da comunicação são indispensáveis, e a acumulação implica numa superação a barreiras espaciais. Numa análise a Marx em sua teoria da acumulação acredita-se que o processo de acumulação pela acumulação provoca “tendência de produzir sem levar em consideração os limites do mercado”, ou seja, o entendimento dos limites do mercado é o que faz evitar as crises. Levando em consideração que os capitalistas tendem a elevar os valores de suas mercadorias mantendo os salários em condições lineares, visando maximizar seus lucros, limita-se o acesso das massas as produções. Marx pontua que o capitalismo tende a criar as barreiras ao seu desenvolvimento o que justificam suas crises, pois as ofertas de trabalho, produção e de infra-estrutura são reguladas pelo modo capitalista de produção, significando assim que as crises são endêmicas. Harvey afirma que se preciso for, para sustentar o sistema capitalista acontecerá criações de condições que proporcionem a manutenção da acumulação. Crises (desemprego, excedente de capital, falta de oportunidades de investimento, etc) tem o efeito de propagar capacidades de produção e renovação para gerar condições deacumulação, além de ser terreno fértil para o desenvolvimento de fascismo. Em contrapartida Harvey sustenta que as crises são necessárias por impor ordem e racionalidade ao desenvolvimento econômico capitalista. Como uma espécie de ciclo a acumulação irá se renovar. Após a existência de uma crise, e a realização de novos tipos de acumulação, Harvey chama de “novo nível”, que será caracterizado por: aumento de mão-de-obra e diminuição de seu custo, já que o desemprego oriundo da crise precisava ser amenizado; o excedente de capital será apaziguado por novas e mais lucrativas linhas de produção; o mercado será esvaziado dos bens produzidos. Deste último exemplo, David Harvey faz uma série de análises sobre sua forma de desenvolvimento, como novas formas de organização e expansão do sistema de produção, estímulo ao crescimento populacional e expansão geográfica. Graduada em Licenciatura em Geografia – UPE Graduanda em Bacharelado em Ciências Sociais - UFRPE
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