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Brasília-DF. TreinamenTo Funcional: academias e personal training Elaboração Rodrigo Ferro Magosso Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE I ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA .................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 ESTRUTURA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO .................................................................................. 9 CAPÍTULO 2 PROCESSO DE EXCITAÇÃO-CONTRAÇÃO MUSCULAR E PROPRIEDADES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO ....................................................................................................................... 17 UNIDADE II CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO .............................................................................................. 21 CAPÍTULO 1 SISTEMA NERVOSO E SEUS CONSTITUINTES .............................................................................. 21 CAPÍTULO 2 ESTRUTURAS NERVOSAS RESPONSÁVEIS PELO CONTROLE MOTOR ............................................ 29 UNIDADE III TREINAMENTO FUNCIONAL ................................................................................................................. 37 CAPÍTULO 1 EQUIPAMENTOS DO TREINAMENTO FUNCIONAL ...................................................................... 37 CAPÍTULO 2 EXERCÍCIOS FUNCIONAIS...................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 48 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução O treinamento funcional é uma tendência recente na prescrição de treinamento. Mesmo que pouco comentado, o que norteia essa modalidade de treinamento é o princípio da especificidade do treinamento. Como? Em primeiro lugar, os princípios do treinamento, apesar de serem estudados e descritos para atletas inicialmente, como seu próprio nome diz, são princípios do treinamento, portanto, servem para todas as pessoas que treinam! E o que diz o princípio da especificidade é as adaptações que um indivíduo tem a um exercício ou a um treinamento serem específicas ao segmento corporal solicitado, aos sistemas bioenergéticos envolvidos e à biomecânica do exercício. Quando se transferiu esse princípio para as atividades em academias, percebeu-se que alguns exercícios não possuíam um aspecto biomecânico que pudesse favorecer uma melhora tão eficiente em termos de atividades de vida diária. E, assim, surge o treinamento funcional, que tem por objetivo melhorar a função motora de um indivíduo. Todo esse aspecto funcional motor tem como alicerce o controle nervoso do movimento humano. Esse conhecimento é parte do que difere o treinador realmente capacitado daquele que meramente mimetiza os exercícios que busca em quaisquer fontes de pesquisa, confiáveis ou não. Outro aspecto importante do treinamento funcional está na criatividade do treinador em criar os mais variados exercícios e utilidades para os equipamentos, e, tudo isso, claro, baseados nos conhecimentos necessários da biomecânica e cinesiologia, para que o cliente não se machuque na execução do que foi prescrito. Além disso, é importante que não se prescreva um exercício nunca antes realizado por você mesmo, pois só assim você conhecerá, verdadeiramente, o exercício para analisá-lo qualitativamente e corrigir o seu cliente. Objetivos » Conhecer a estrutura do músculo esquelético. » Compreender os efeitos da estrutura sobre a funcionalidade do músculo esquelético. » Compreender como o sistema nervoso interage com o músculo esquelético para realizar a sua contração. » Conhecer o papel de cada uma das estruturas do Sistema Nervoso Central (SNC) responsáveis pelo controle do movimento e suainteração. » Apresentar o conceito de instabilidade e seus efeitos sobre a ativação muscular. 8 » Apresentar a maneira de aplicar a instabilidade no treinamento com diferentes objetivos. » Conhecer os equipamentos utilizados em treinamento funcional. » Conhecer exercícios que podem ser aplicados em treinamento funcional. 9 UNIDADE I ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA CAPÍTULO 1 Estrutura do músculo esquelético Os nossos músculos são divididos morfologicamente em três tipos: o músculo estriado esquelético, o músculo estriado cardíaco e o músculo liso. O enfoque deste capítulo e desta unidade será o primeiro deles, visto que é o mais solicitado em treinamento funcional. O ponto inicial a ser esclarecido é o termo músculo estriado esquelético. A classificação de estriado é devida às estriações em sua estrutura, causada pela interação das proteínas contráteis actina e miosina, como será abordado mais adiante. Repare que o músculo cardíaco também é designado por estriado, por conter as mesmas estriações. O outro fator é o termo esquelético, vindo do fato que esse tipo de músculo está ligado ao nosso esqueleto. Nos cursos de graduação é comum que se estude a anatomia separada da fisiologia, assim como da biomecânica e cinesiologia. Entretanto, o profissional deve ser ciente de que todas essas ciências estão interligadas e implicam interdependência entre seus conteúdos. Assim, fica a importância de se saber que a estrutura afeta a função. Esta é a justificativa de se conhecer mais profundamente a estrutura do músculo estriado esquelético. Grande parte do nosso corpo é constituída de músculos. Temos mais de 600 deles com funções motoras distintas e nas mais variadas localizações. O músculo estriado esquelético possui as seguintes funções: » Locomoção: sua contração transmite forças ao esqueleto e promove sua movimentação. » Sustentação: nosso esqueleto foi projetado anatomicamente para nos manter em posição ereta, mas precisa da ajuda dos músculos para se sustentar. » Proteção: o músculo também auxilia a proteger nossos órgãos, como na região do abdome onde não há ossos para desempenhar tal função. 10 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA Outro ponto a ser considerado sobre o músculo esquelético é sua contração voluntária. Se você pensar em um determinado movimento, consegue executá-lo. Por exemplo, toque o nariz com a ponta do dedo indicador, ou coloque a palma da sua mão sobre sua testa. Você planeja esse movimento e depois o executa de acordo com a sua vontade. Isto significa que a contração do músculo esquelético é voluntária. E se essa contração é voluntária, ou então que pensamos para realizá-la, é necessário que algo leve a informação da contração para o músculo esquelético. Essa ordem parte de um neurônio classificado como neurônio motor ou, então, motoneurônio alfa. Essa estrutura nervosa tem o seu corpo celular na medula e o seu axônio se projeta até o músculo esquelético que ele irá inervar. A porção terminal do axônio é chamada de sinapse, que representa a comunicação entre dois neurônios ou entre um neurônio e uma fibra muscular. Temos, então, que o músculo é inervado pelo motoneurônio, e ele deve chegar a cada fibra muscular para que elas se contraiam. A partir disso, vamos conhecer o conceito de unidade motora e placa motora. Unidade motora representa um motoneurônio e as fibras musculares que ele inerva. Placa motora é a junção entre motoneurônio e fibra muscular (GUYTON E HALL, 2006). Se considerarmos, então, que para cada fibra muscular deve chegar o motoneurônio, o número de placas motoras é, no mínimo, igual ao de fibras musculares em uma unidade motora. Antes de visualizarmos essas estruturas em uma figura, pensemos no seguinte: Os nossos músculos têm apenas uma ou mais de uma unidade motora? A resposta para a reflexão anterior deve partir de um importante pressuposto: quando um motoneurônio é despolarizado, ele irá promover a contração de todas as suas fibras musculares. Agora, imagine duas situações distintas: você levantar uma caixa vazia, ou levantar a mesma caixa cheia de livros. No segundo caso, a força que você deve fazer para isso é maior, e, portanto, precisa de mais fibras musculares. Mas o que isso tem a ver com a quantidade de unidades motoras de um músculo? É simples. Se você tivesse apenas uma unidade motora nos seus músculos, ou eles estariam relaxados, ou se contrairiam totalmente. Os nossos músculos são divididos em várias unidades motoras, o que permite que realizem respostas intermediárias em termos de produção de força. Assim, quando você carrega a caixa cheia de livros, precisa de mais força e, por isso, recruta um maior número de unidades motoras para erguê-la. 11 ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA │ UNIDADE I Agora que você já conhece essa relação, pode visualizar as diferentes unidades motoras de um músculo representadas na figura a seguir. Figura 1. Representação de unidades motoras em um músculo Ainda há algumas estruturas importantes no músculo esquelético que afetam diretamente sua função. Este tipo de músculo é envolto por uma capa de tecido conjuntivo que lhe dá forma e sustentação, e tem, também, a propriedade de transferir a força da contração muscular para os tendões, que, em seguida, a transferirão para os ossos. Veja que essas estruturas são, então, fundamentais para a função de locomoção do músculo esquelético e recebem os seguintes nomes (AIRES, 1999). » Epimísio: a camada de tecido conjuntivo que envolve todo o músculo. Quando se vê uma peça de carne no açougue, a “capa” que a envolve é o seu epimísio. » Perimísio: são invaginações do epimísio que separam grupos de fibras musculares, chamados fascículos. » Endomísio: uma porção com invaginação ainda maior do tecido conjuntivo. O endomísio reveste cada uma das fibras musculares. Essas estruturas estão representadas em uma imagem histológica na figura 2: 12 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA Figura 2. Imagem histológica do músculo esquelético representando as camadas de tecido conjuntivo que dão sua sustentação. Fonte: <http://www.iceb.ufop.br/decbi/histologia/index.php?option=com_content&view=article&id=33&Itemid=73>. A fibra muscular Agora que você já conhece a estrutura do músculo como um todo, veremos como é cada uma das células musculares, também chamada de fibra muscular. Essa célula é de formato alongado, ou fusiforme, e possui vários núcleos. A quantidade de núcleos que uma célula possui é devido a seu tamanho. E sua organização é impecável. Cada núcleo é responsável por uma porção da fibra muscular, o que se chama de domínio mionuclear. Outra informação importante da célula muscular é o fato de ela ser uma célula excitável. Para que ela se contraia, é necessário que chegue a ela um potencial de ação, que promove trocas iônicas dos meios intra e extracelular e permite que a fibra se altere em comprimento. Esse papel é do motoneurônio. No caso do músculo esquelético, a membrana é chamada de sarcolema, a além dela, para que esse potencial de ação se propague por toda a fibra, ainda são necessários os túbulos transversos (ou túbulos T) e o retículo sarcoplasmático, como descritos por Berne e Levy (2005). » Sarcolema: membrana celular da fibra muscular. Consiste em uma membrana celular verdadeira, denominada membrana plasmática e em um revestimento externo de uma fina camada de material polissacarídeo que contém inúmeras e finas 13 ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA │ UNIDADE I fibras colágenas. Em cada extremidade da fibra muscular, essa camada superficial do sarcolema se funde com uma fibra tendinosa e estas se juntam em feixes para formar os tendões,que ligam o músculo aos ossos. » Retículo sarcoplasmático: é uma modificação do retículo endoplasmático e caracteriza-se por ser um conjunto de tubos longitudinais na fibra muscular, responsável por armazenar grande quantidade de íons cálcio. » Túbulos T: são diminutos túbulos transversais na fibra muscular e mantém as mesmas propriedades elétricas do sarcolema, assim, os potenciais de ação podem atingir o cerne da fibra muscular. Figura 3. Representação dos túbulos transversos e retículo sarcoplasmático em uma fibra muscular. Se olharmos mais de perto a uma célula muscular, veremos, também, que ela possui algumas microestruturas alongadas, que acompanham sua extensão. Estas são as chamadas miofibrilas, que contém a unidade funcional do músculo, os sarcômeros. 14 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA A figura, a seguir, representa uma fibra muscular e suas miofibrilas. Figura 4. Representação de uma fibra muscular e suas miofibrilas. E, ainda, há mais uma divisão. Como acabamos de ver, as miofibrilas são compostas por sarcômeros, que são a unidade funcional da fibra muscular. Um sarcômero compreende o espaço entre duas linhas Z. As estriações ou bandas dos sarcômeros são a alternância entre regiões claras e escuras, causadas pelos filamentos de actina e miosina que formam a sua estrutura. » Banda I (isotrópica): apenas filamentos de actina. » Banda A (anisotrópica): filamentos de actina e miosina. » Banda H: apenas filamentos de miosina. A figura 5 representa um músculo e suas divisões. A parte A é o músculo todo, a parte B são diferentes fibras musculares que o compõem, na parte C, podemos ver apenas uma miofibrila com sua série de 15 ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA │ UNIDADE I sarcômeros. Por último, na parte D, vemos um sarcômero com suas bandas descritas acima. Por esta figura, é preciso que você note algo importante: o que acontece em um sarcômero irá acontecer em toda uma miofibrila e junto dela, em todas as miofibrilas de uma fibra muscular. O mesmo se repete para as demais fibras musculares de uma unidade motora e com as de outras recrutadas, levando a um comportamento geral do músculo. Assim, quando temos a contração do sarcômero, temos a contração muscular, e por essa razão, veremos, a seguir, como é o processo de excitação-contração muscular em um sarcômero, o que você deverá subentender que ocorre no músculo como um todo. Figura 5. Representação de um músculo (A), das fibras musculares (B), uma miofibrila (C) e um sarcômero (D). Os filamentos que compõem o sarcômero O sarcômero, como você acaba de ver, possui dois filamentos: o filamento fino, ou de actina e o filamento grosso, ou de miosina. Filamento fino Apesar de ser chamado de filamento de actina, ele possui um total de três proteínas que totalizam sua constituição. São elas. » Actina: polimerização de diversas G-actinas, formando a F-actina. » Troponina: encontrada a cada 7 monômeros de G-actinas, apresenta 3 sítios importantes, sendo um deles de ligação com o Cálcio (TN-C), um de inibição à interação entre actina e miosina (TN-I) e outro de ligação com a tropomiosina (TN-T). 16 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA » Tropomiosina: encontrada no sulco da F-actina. É fibrosa e “encobre” o sítio ativo do filamento de actina. Figura 7. O filamento fino. Filamento grosso Formado pela reunião de muitas moléculas de miosina, pode ser dividido em meromiosina leve, que constitui o cilindro-base do filamento e meromiosina pesada, que constitui as pontes transversas, as quais podem ser dividias em fragmento S1 e S2. Figura 8. O filamento grosso. 17 CAPÍTULO 2 Processo de excitação-contração muscular e propriedades do músculo esquelético A partir do conhecimento que você tem das estruturas que formam o músculo esquelético e sua função, fica fácil compreender como ocorre todo o processo da contração muscular, que será explicado, aqui, de maneira resumida. Como vimos anteriormente, o papel do motoneurônio é excitar a fibra muscular. Ele realiza esse processo com a liberação de um neurotransmissor chamado acetilcolina na placa motora. A acetilcolina, então, liga-se a receptores no sarcolema e promove a abertura de canais de sódio, que entra na fibra muscular e promove um potencial de ação. Esse potencial de ação deve ser propagado a cada miofibrila dessa fibra muscular para que eles se contraiam. Para isso, ele penetra a fibra muscular através dos túbulos T e chega ao retículo sarcoplasmático, fazendo com que este libere uma grande quantidade de íons cálcio no citoplasma da fibra muscular. Os íons cálcio, agora em maior quantidade, ligam-se ao sítio TN-C da troponina e promovem uma alteração conformacional em sua estrutura que desliza sobre a F-actina e muda o seu direcionamento. Com essa mudança, ela também leva consigo a tropomiosina, que deixa de encobrir o sítio para a ligação entre actina e miosina (figura 9). Figura 9. A remoção da inibição da tropomiosina a partir da ação dos íons cálcio. 18 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA Com a actina exposta, a cabeça da miosina quebra uma molécula de ATP em ADP e se liga a ela, formando as pontes cruzadas. A energia liberada por essa quebra é utilizada para movimentar as pontes cruzadas e encurtar o sarcômero. Em seguida, uma nova molécula de ATP é integrada à miosina e isso quebra a ponte formada, para que a cabeça da miosina possa voltar à sua posição original e repetir esse processo, o que se denomina reengatilhamento do processo contrátil, responsável por 2/3 do gasto de energia da contração muscular (figura 10). Figura 10. Representação do reengatilhamento do processo contrátil Para que o músculo relaxe, os íons cálcio devem ser bombeados de volta ao retículo sarcoplasmático, o que é responsável por 1/3 do gasto de ATP. Sem íons cálcio, a tropomiosina volta a encobrir o sítio de ligação entre actina e miosina, impedindo a formação de pontes cruzadas, o sarcômero volta passivamente a seu comprimento de repouso e a fibra muscular relaxa. Deste processo, um ponto central deve ser ressaltado para que se entenda o que virá a seguir: O que faz com que o músculo produza força são as pontes cruzadas (interação entre actina e miosina). 19 ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA │ UNIDADE I Propriedades mecânicas do músculo esquelético A constituição do músculo esquelético confere-lhe algumas propriedades que nos ajudam a interpretar sua função e compreender seu papel na realização de diferentes tipos de exercícios. O bom personal trainer conhece essas propriedades e as aplica na sua prescrição de treinamento. Hall (2009) descreve como propriedades do músculo esquelético: Extensibilidade e elasticidade A extensibilidade do músculo esquelético diz respeito à sua capacidade de alterar seu comprimento quando sofre uma força de tração. Já a elasticidade é a capacidade que o músculo possui de voltar ao seu comprimento original depois de ser distendido. Irritabilidade e capacidade de desenvolver tensão A irritabilidade do músculo é a sua capacidade de responder a estímulos. Neste caso, o principal estímulo é vindo do motoneurônio para realizar sua despolarização. Entretanto, o músculo, ainda, pode responder a impactos para se contrair. A sua capacidade de gerar tensão, vem da interação entre actina e miosina. Quando o músculo se contrai, as pontes cruzadas geram tensão transmitida aos ossos pelos tendões. Fatores que afetam a produção de força pelo músculo RELAÇÃO FORÇA-VELOCIDADE Figura 11. Relação força-velocidade. Reproduzido de Hall, S. Biomecânica básica. EXCÊNTRICO MÁXIMO ISOMÉTRICO CONCÊNTRICO FO RÇ A 0 VELOCIDADE DO ALONGAMENTO VELOCIDADE DO ENCURTAMENTORelação comprimento-tensão O sarcômero tem a propriedade de gerar tensão máxima em um comprimento que corresponde de 100% a 120% do comprimento de repouso. Como se pode observar na figura 12, em comprimentos acima ou 20 UNIDADE I │ ESTRUTURA E FUNÇÃO MUSCULAR ESQUELÉTICA abaixo desta faixa, a produção de tensão diminui. Isto pode ser explicado pela conclusão do capítulo 1: a produção de força depende da interação entre actina e miosina. Quando alongamos ou estiramos o sarcômero, perdemos parte dessa interação e, consequentemente, a capacidade de gerar tensão. Figura 12. Relação comprimento-tensão muscular. Reproduzido de Hall, S. Biomecânica básica. 100 80 60 40 20 0 1,2mm 1,6mm 2,6mm 3,6mm DIMINUIÇÃO DO TAMANHO AUMENTO DO TAMANHO TAMANHO NORMAL DO MÚSCULO EM REPOUSO TE NS ÃO D ES EN VO LV ID A PE LO M ÚS CU LO C ON TR AÍ DO (P ER CE NT AG EM D O M ÁX IM O) VARIAÇÃO NO TAMANHO DO SARCÔMERO NO CORPO (B) (A) (C) (D) (E) Ciclo alongamento-encurtamento Conseguimos aproveitar deste ciclo quando fazemos uma contração concêntrica precedida por uma contração excêntrica rápida. Neste caso, o músculo armazena energia elástica em forma de deformação, e depois devolve essa energia devido à elasticidade muscular. Um exemplo de como aplicar esse ciclo é por meio dos exercícios pliométricos. Figura 13. Exemplo de exercício pliométrico. A aterrissagem promove uma ação excêntrica rápida que fornece energia extra na contração concêntrica que promove o salto. Reproduzido de <http://eduardoarzua.blogspot. com/2010/01/treinamento-pliometrico.html>. 21 UNIDADE II CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO CAPÍTULO 1 Sistema nervoso e seus constituintes Iremos, agora, estudar o que se acredita ser a estrutura mais complexa existente no corpo humano: o sistema nervoso. Esse sistema constitui uma rede integrada de comunicação e controle de diversas funções, com um grande objetivo geral de permitir a nossa interação com o meio ambiente. Anatomicamente, podemos dividi-lo em Sistema Nervoso Central (SNC) e Periférico. O SNC atua na interpretação de informações, mas necessita do periférico como uma espécie de interface para realizar sua captação. Para tanto, o sistema nervoso possui três níveis de atividade (GUYTON E HALL, 2006). » Detecção sensorial: consiste no processo de captação dos estímulos ambientais mais variados (sons, calor, luz etc.) e a sua transformação em sinais neurais (potenciais de ação) para que possa ser interpretada pelo SNC. » Processamento de informações: inclui os processos de aprendizagem e memória. Toda informação que chega ao SNC é interpretada e gera uma resposta quando necessário, entretanto, mais de 99% das informações acaba sendo inconsciente. » Comportamento: é o resultado da interação do sistema nervoso com o ambiente. Tudo o que fazemos é o nosso comportamento. Ele é a soma de nossas experiências e tomada imediata de decisões. Neste momento, é interessante que você realize algumas atividades aqui propostas para realmente compreender como é na interação do nosso sistema nervoso com o ambiente. 0 A primeira proposta é a seguinte: olhe ao seu redor, girando a sua cabeça em 180º em um período rápido de apenas 3 segundos na sala onde está estudando e anote os objetos que conseguiu perceber: 22 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Agora, olhe novamente para a mesma sala, mas leve um período de 30 segundos para girar a sua cabeça em 180º e faça uma nova lista do que consegue lembrar. É muito comum que, quando se faz a segunda visão da sala, se note muito mais objetos, que antes haviam passado despercebidos. Isto acontece, pois, no momento da visão rápida, você teve tempo de se focar em uma menor quantidade de estímulos ambientais. O que vem à nossa atenção é aquilo em que nos focamos. O mesmo serve para o seu estudo. Se você apenas ler rapidamente o texto, não se lembrará de quase nada do que leu, mas se ler atentamente irá se lembrar de muito mais informações. E por falar em leitura e visão, você já se perguntou por que nós temos dois olhos, dois ouvidos e apenas uma boca e um nariz? A nossa anatomia é funcional, fomos projetados para isso. Portanto, termos dois olhos e dois ouvidos também é muito importante. Veja nas atividades a seguir. Em um corredor, trace uma marca no chão. Pode ser um “X”. Agora, fique a uma distância de alguns metros desta marca, olhe para ela e memorize a sua localização. Em seguida feche os seus olhos e ande até quando achar que está sobre a marca. Abra os olhos assim que parar. Faça isso antes de continuar a sua leitura. Figura 14. Representação da triangulação da visão. O objeto vira uma imagem em cada olho e a sua diferença ajuda a dar a noção de profundidade. 23 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II Você deve ter parado bem em cima da marca ou então muito próxima dela. Isso aconteceu justamente pelo fato de você ter dois olhos. Foque sua visão em um objeto e feche um olho de cada vez. Você terá a impressão de que a imagem se desloca, mas na verdade, o que acontece é devido ao fato de que cada olho faz uma imagem. A diferença de imagem dos dois olhos é utilizada pelo SNC para triangular a posição do objeto em foco e nos dá a noção de profundidade. É por isso que você conseguiu se aproximar do “X” marcado no chão. A terceira dimensão não existe, é apenas uma ilusão da sua mente. Literalmente. E isso é possível graças a um fenômeno natural chamado estereoscopia. Apesar do nome complicado, trata-se apenas da projeção de duas imagens, da mesma cena, em pontos de observação ligeiramente diferentes. Seu cérebro, automaticamente, funde as duas imagens em apenas uma e, nesse processo, obtém informações quanto à profundidade, à distância, à posição e ao tamanho dos objetos, gerando uma ilusão de visão em 3D. Para que isso seja possível, no entanto, a captação dessas imagens não é feita de uma forma qualquer. Lembre-se de que o efeito 3D é composto por duas imagens projetadas em pontos distintos. Logo, na captação, devem ser filmadas duas imagens ao mesmo tempo. Essa correção de enquadramento é feita por softwares específicos, em tempo real, que reduzem as oscilações na imagem, deixando a composição mais realista. A câmera estereoscópica simula a visão do olho humano. Cada lente é colocada a cerca de seis centímetros uma da outra (já que essa é a distância média entre os olhos de uma pessoa). E nesse processo ainda devem ser controlados zoom, foco, abertura, enquadramento (que deve ser exatamente o mesmo) e o ângulo relativo entre elas. Não é uma tarefa fácil ou que você possa fazer na sua casa. Ou melhor, até é possível, mas é um processo bem trabalhoso. Um truque utilizado pela indústria é filmar através de uma lente e usar um espelho para projetar uma imagem deslocada em uma segunda lente. A imagem refletida é girada e invertida antes da edição do filme. E, por se tratar de um espelho, é preciso fazer, ainda, as correções de cores e brilhos necessárias para que não dê a impressão de imagens distintas. Fonte:http://www.tecmundo.com.br/2469-como-funciona-a-tecnologia-3d-.htm Acessado em 4/10/2011 às 11h57min. Para a próxima atividade, você necessitará de mais uma pessoa, ou então estar em um lugar com objetos em movimento. Feche seus olhos e tente reparar qual o padrão de movimentação dessa pessoa, apenas pelo som de sua voz ou do barulho, por exemplo, que um carro produz ao passar na rua. 24 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Se uma pessoa conversar com você e se movimentar, é possível que você saiba sua posição e para onde está indo. O mesmo é verdadeiro para o carro passando na rua,ou outro objeto qualquer que produza som e se movimente. O mecanismo para essa detecção é similar ao da profundidade na visão. O som viaja no ar a uma velocidade aproximada de 340m/s e não chega aos nossos ouvidos ao mesmo tempo. A partir da diferença de tempo para que o mesmo som chegue aos dois ouvidos, o nosso SNC tem uma noção de sua localização. Se o objeto estiver à nossa direita, chegará primeiro ao ouvido direito, e o contrário será verdadeiro caso esse objeto esteja à nossa esquerda. À medida que o objeto se desloca, essa relação muda e o nosso SNC também a utiliza para triangular a posição do som. Divisão anatômica do SNC De acordo com a estrutura e função, o SNC pode ser dividido em 7 partes distintas, que serão aqui descritas com o seu papel motor resumido. » Medula espinhal: parte mais caudal. Recebe e processa informações sensoriais oriundas da pele, das articulações e dos músculos dos membros e tronco, além de controlar os movimentos de membros e tronco. » Bulbo: contém diversos centros responsáveis por funções autonômicas vitais, tais como digestão, respiração e controle da frequência cardíaca. » Ponte: transmite informação sobre o movimento do cérebro para o cerebelo. » Cerebelo: modula a força e o alcance do movimento e participa do aprendizado de habilidades motoras. » Mesencéfalo: controla funções sensoriais e motoras, incluindo movimentos oculares e coordenação de reflexos visuais e auditivos. » Diencéfalo: contém o tálamo, que processa a maior parte da informação que chega ao córtex cerebral vinda do resto do SNC e o hipotálamo, que regula as funções autonômicas, endócrinas e viscerais. » Hemisférios cerebrais: consistem no córtex cerebral e três outras estruturas em profundidade: os gânglios da base, o hipocampo e o núcleo amigdaloide. Os gânglios da base participam na regulação do desempenho motor; o hipocampo participa em diversos aspectos do armazenamento de memórias; e o núcleo amigdaloide coordena as respostas autonômicas. 25 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II Tipos de células do sistema nervoso Quando se fala em sistema nervoso, é comum que o único tipo de célula que venha à cabeça sejam os neurônios. De fato, eles são os que realizam o trabalho de troca de informações para a rede neural de controle. Entretanto, seu papel só pode ser desempenhado graças a outra classe de células: a glia. As células do sistema nervoso podem ser divididas em dois grupos principais: os neurônios, ou células neurais e as células da glia. Vamos, agora, conhecer cada uma delas. Células neurais (neurônios) Existem em diversos formatos e tamanhos e, geralmente, são parecidos nas mesmas regiões do SNC. Seus constituintes são o soma, os dendritos e o axônio. Para que você recorde a estrutura de um neurônio, observe a figura a seguir. Figura 15. Representação de um neurônio. As partes do neurônio são: » Soma: ou corpo celular. É considerado a usina metabólica do neurônio, além de conter o núcleo. » Dendritos: ramificações do soma. Sua principal função é receber o estímulo sináptico de outros neurônios. » Axônio: extensão da célula que leva o estímulo a outro neurônio ou fibra muscular. Comprimento e diâmetro muito variados. Além das três estruturas, conseguimos ver a bainha de mielina, que serve como um isolante elétrico no neurônio e os nodos de Ranvier, que são os espaços entre as bainhas de mielina. 26 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Classificação dos neurônios Classificação por número de prolongamentos » Unipolares: apenas um prolongamento, sendo ramificado. Uma das ramificações serve como axônio e outra como dendrito. » Bipolares: o soma tem forma oval e dele se originam o axônio e os dendritos. » Multipolares: têm apenas um axônio e um ou mais dendritos que emergem de todas as partes do soma. » Células piramidais: localizam-se no córtex cerebral e no hipocampo, apresentando corpo celular em formato piramidal com o ápice e um dendrito apical dirigido à superfície pial, e outros dendritos e um axônio emergindo da base. Os axônios podem apresentar ramos colaterais locais, mas também projetam para fora suas regiões corticais. Figura 7. Os tipos de neurônios, classificados pelo número de prolongamentos. BIPOLAR (INTERNEURÔNIO UNIPOLAR (NEURÔNIO SENSORIAL MULTIPOLAR (MOTONEURÔNIO) CÉLULA PIRAMIDAL Adaptado de: <http://neuronios.pbworks.com/w/page/10064179/Estrutura%20dos%20Neur%C3%B4nios>. 27 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II Classificação pela função » Sensoriais: conduzem informação para o SN, tanto para a percepção quanto para a coordenação motora. » Motores: conduzem comandos para os músculos e as glândulas. » Interneurônios: são a classe mais numerosa, consistindo nas células do sistema nervoso que não sejam especificamente sensoriais ou motoras. Células da glia Engloba os principais elementos celulares não neurais do sistema nervoso. Existem cerca de 10 a 50 células para cada neurônio nos vertebrados. A glia não participa diretamente da transmissão de informação, mas possui funções vitais, tais como. » Atuam como elementos de sustentação, dando firmeza e estrutura ao cérebro. Também separam e, ocasionalmente, isolam grupos de neurônios entre si. » Produzem mielina, uma bainha isolante que recobre a maioria dos axônios mais calibrosos. » Algumas células têm função de remover dendritos após morte ou lesão neuronal. » Tamponam e mantém a concentração dos íons K+ no espaço extracelular. Algumas também captam e removem neurotransmissores químicos liberados pelos neurônios nas transmissões sinápticas. » Guiam a migração dos neurônios e dirigem o crescimento do axônio durante o desenvolvimento cerebral. » Criação de revestimento especial e impermeável dos capilares e vênulas cerebrais, criando uma barreira hematoencefálica que impede o acesso de substâncias tóxicas ao cérebro. » Participam da nutrição de células neurais (ainda inconclusivo). As principais células da glia são: Oligodendrócitos e células de Schwann: células pequenas, com número relativamente pequeno de prolongamentos. Exercem a importante função de isolar eletricamente os axônios, formando a bainha de mielina. Os oligodendrócitos estão presentes no SNC e as células de Schwann no SN periférico. 28 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Astrócitos: são os mais numerosos. Realizam ligações com neurônios e capilares, fazendo sua sustentação. Figura 16. Representação das células da glia junto de um neurônio. NÚCLEO NEURÔNIO TERMINAIS DO AXÔNIO DENTRITOS ASTRÓCITO AXÔNIO OLIGODENDRÓCITO Fonte: <http://www.infoescola.com/citologia/celulas-da-glia/> 29 CAPÍTULO 2 Estruturas nervosas responsáveis pelo controle motor Até aqui viemos falando sobre o controle motor. Chegou a hora de conhecermos uma definição mais precisa deste termo. Entenderemos o controle motor como a capacidade de regular e/ou orientar os mecanismos essenciais para o movimento. E isso é muito importante, pois permite a manutenção da postura (ereta) apesar de a força da gravidade, permitir, também, que as mãos sejam menos dependentes para a manutenção da postura, possibilitando a confecção de utensílios e outros. Ademais, propicia a busca pelo alimento, interações sociais, sendo muito funcional no rosto para operar um sistema sofisticado de comunicação, expressão de ideias e sentimentos. Mas, os movimentos não dependem apenas dos músculos. São resultados de diversos processos de programação, comando e controle que envolvem as regiões cerebrais e terminam na contração das fibras musculares, que transmitem a força de deslocamento gerada para o tecido conjuntivo (tendões) que se inserem nos ossos culminandono movimento. Alto comando motor O cérebro possui 4 lobos em cada metade, ou hemisfério. Os lobos são nomeados segundo os ossos do crânio sob os quais se localizam. Tem sulcos com aparência de uma noz. Durante o desenvolvimento, o encéfalo cresce mais rapidamente do que o crânio que o rodeia, fazendo com que o tecido fique enrolado nele mesmo para se adaptar ao pequeno volume. Os lobos cerebrais são designados pelos nomes dos ossos cranianos nas suas proximidades e que os recobrem. O lobo frontal fica localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da nuca; o lobo parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais, nas regiões laterais da cabeça, por cima das orelhas. Estes lobos podem ser visualizados na figura 17: Figura 17. Representação dos lobos cerebrais. LOBO FRONTAL LOBO TEMPORAL LOBO PARIETAL SULCOS (ADAPTAÇÕES EVOLUTIVAS) LOBO OCCIPITAL 30 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO O córtex cerebral é especializado em áreas sensitivas para percepção, áreas motoras que direcionam o movimento e áreas de associação que integram a informação. Áreas sensitivas incluem regiões de percepção de sensações a partir de receptores periféricos, bem como de regiões devotadas a visão, audição e olfato. Dano no córtex primário sensitivo leva à redução da sensibilidade da pele do lado oposto do corpo, já que as fibras sensitivas cruzam para o lado oposto da linha média quando sobem através do bulbo. O córtex visual recebe informações dos olhos, córtex auditivo das orelhas, olfatório de quimiorreceptores no nariz. O córtex gustatório recebe informação sensitiva dos botões gustativos. Se uma parte da área motora for danificada por um acidente vascular cerebral, o resultado será paralisia do lado oposto do corpo. O lado esquerdo do encéfalo controla os movimentos do lado direito e vice-versa. Figura 18. As áreas do SNC responsáveis por diferentes funções no controle motor Áreas: movimento, audição, visão, percepção, olfato, paladar... CÓRTEX PRIMÁRIO SENSITIVO SOMÁTICO LOBO PARIETAL GOSTO CÓRTEX GUSTATÓRIO ÁREA DE ASSOCIAÇÃO AUDITIVA CÓRTEX AUDITIVO AUDIÇÃO VISÃO ÁREA DE ASSOCIAÇÃO VISUAL LOBO OCCIPITAL CÓRTEX VISUAL LOBO TEMPORAL INFORMAÇÃO SENSITIVA A PARTIR DA PELE, DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO, VISCERAS E BOTÕES GUSTATIVOS ÁREA DE ASSOCIAÇÃO SENSITIVA MOVIMENTO DO MÚSCULO ESQUELÉTICO CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO ÁREA DE ASSOCIAÇÃO MOTORA (CÓRTEX PRÉ-MOTOR) CHEIRO CÓRTEX OLFATÓRIO LO BO F RO NT AL CO OR DE NA A IN FO RM AÇ ÃO A P AR TI R DE O UT RA S ÁR EA S DE AS SO CI AÇ ÃO , C ON TR OL A AL GU NS C OM PO RT AM EN TO S ÁR EA D E AS SO CI AÇ ÃO P RÉ -F RO NT AL Cerebelo Cerebelo é a parte do encéfalo responsável pela manutenção do equilíbrio e postura corporal, controle do tónus muscular e dos movimentos voluntários, bem como pela aprendizagem motora. É formado por dois hemisférios – os hemisférios cerebelosos, e por uma parte central, chamada de Vermis. O termo cerebelo deriva do latim e significa “pequeno cérebro”. Embora represente apenas 10% do volume total do cérebro, contém, aproximadamente, metade do número de neurônios do cérebro. 31 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II Quando o cerebelo é lesado, os principais sintomas são: » descoordenação dos movimentos (ataxia); » perda do equilíbrio; » diminuição do tônus da musculatura esquelética; » dismetria: dificuldade para “calcular” o movimento. Pode-se testar pedindo ao paciente para que toque a ponta do nariz com dedo indicador; » decomposição: os movimentos são decompostos, realizados em etapas por cada articulação; » disdiadococinesia: dificuldade para realizar movimento rápido e alternadamente. Pode-se testar pedindo ao paciente que toque com o polegar os dedos indicador e médio; » rechaço: ao se pedir ao paciente que flexione cotovelo contra resistência, ao retirar a mão, o braço do paciente tende a ir contra o tórax pela demora da ação da musculatura extensora; » tremor: tremor que se acentua ao final do movimento (tremor intencional). Figura 19. Localização do cerebelo no encéfalo. Apesar de corresponder a apenas 10% da massa encefálica, contém, aproximadamente, 50% dos seus neurônios. CEREBELO 32 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Medula espinal Porção alongada do sistema nervoso central. Trata-se da continuação do encéfalo, que se aloja no interior da coluna vertebral em seu canal vertebral, ao longo do seu eixo crânio-caudal. Ela se inicia na junção do crânio com a primeira vértebra cervical e termina na altura entre a primeira e a segunda vértebra lombar no adulto, atingindo entre 44cm e 46cm de comprimento, possuindo duas intumescências, uma cervical e outra lombar. Figura 20. As regiões da medula espinhal e suas áreas de controle. A medula é dividida em segmentos, e cada segmento dá origem a pares bilaterais de nervos espinais ou medulares. C1 a C8 representam as vértebras cervicais; T1 a T12 representam as vértebras torácicas; L1 a L5 representam as vértebras lombares; S1 a S5 representam as vértebras sacrais. C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 T9 T10 T11 T12 L1 L2 L3 L4 L5 S1 S2 S3 S4 S5 NERVOS CERVICAIS CABEÇA E PESCOÇO DIAFRAGMA DELTOIDES, BÍCEPS EXTENSORES DO PULSO TRÍCEPS MÃO NERVOS TORÁCICOS MÚSCULOS DO TÓRAX MÚSCULOS ABDOMINAIS NERVOS LOMBARES MÚSCULOS DA PERNA NERVOS SACRAIS BEXIGA E INTESTINOS FUNÇÕES SEXUAIS A secção transversal da medula espinal tem uma forma de borboleta ou de letra H, com a parte central feita de substância cinzenta e a parte circundante de substância branca. Corpos celulares (núcleos) no corno dorsal recebem informações sensitivas, somáticas e viscerais. Neurônios eferentes que levam sinais para os músculos e as glândulas são organizados dentro dos núcleos somáticos motores e autônomos. Essas áreas são mostradas aqui somente em um lado, mas existem em ambos os 33 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II lados. A cor da substância cinzenta vem dos corpos celulares dos neurônios. Os gânglios da raiz dorsal, intumescidos, são encontrados nas raízes dorsais antes que eles entrem na medula espinal, e contêm corpos celulares de neurônios sensitivos. A substância branca consiste de tratos ascendentes que levam informações sensitivas para o encéfalo (ocupam as porções dorsal e laterais externas) e tratos descendentes que levam comandos para os órgãos efetores (ocupam posição ventral e porções laterais interiores da substância branca). Esses tratos são de axônios que transferem informações que sobem e descem pela medula. Figura 21. Áreas especializadas da medula. Cornos anteriores são especializados em levar informações enquanto os cornos posteriores recebem as informações sensoriais. ESPECIALIZAÇÃO DA MEDULA ESPINAL NÚCLEO SENSITIVO VISCERAL NÚCLEO SENSITIVO SOMÁTIVOCORNO DORSAL GÂNGLIO DA RAIZ DORSAL CORNO LATERAL CORNO VENTRAL NÚCLEO SOMÁTICO MOTOR NÚCLEO EFERENTE AUTÔNOMO INFORMAÇÃO SENSITIVA AFERENTE SINAIS EFERENTES PARA OS MÚSCULOS E GLÂNDULAS VIA RAIZ VENTRL Outro ponto importante a respeito da medula é o fato de que nem toda informação que ela recebe vai até o encéfalo. A medula é, também, um centro de processamento de informações e possui atividade reflexa. Essa atividade é iniciada nos receptores sensoriais, células que tem a propriedade de transformar um tipo de energia (mecânica, química eletromagnética etc.) em potências de ação (energia elétrica) com especificidadeao tipo de estímulo. Para a atividade muscular, temos dois receptores importantes: o fuso muscular, que detecta o estiramento muscular e os órgãos tendinosos de Golgi (OTG), que detectam a tensão nos tendões. Reflexos dos receptores sensoriais O Reflexo Miotático (ou de estiramento) origina-se quando o músculo é rapidamente estirado. A excitação dos fusos musculares promovem a contração reflexa do músculo. É um reflexo monosináptico e excitatório sobre a via motora alfa. Exemplo: adição de peso durante uma série de treinamento resistido. 34 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO Figura 22. Cadeia de eventos do reflexo miotático, desencadeado pelo fuso muscular. O Reflexo Tendíneo (ou miotático inverso) origina-se quando a tensão sobre o tendão muscular é excessiva e os Órgãos Tendinosos de Golgi são estimulados, promovendo a inibição da contração muscular, através de uma sinapse inibitória medular sobre o motoneurônio alfa, com o relaxamento muscular impedindo, assim, a ruptura muscular ou tendínea. Exemplo: levantar um peso excessivo. 35 TCONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO │ UNIDADE II Figura 23. Cadeia de eventos do reflexo tendíneo. A CONTRAÇÃO MUSCULAR ESTIRA O ÓRGÃO TENDINOSO DE GOLGI ÓRGÃO TENDINOSO DE GOLGI NEURÔNIO MOTOR NEURÔNIO MOTOR 1 NEURÔNIO DO OTG DISPARA 2 NEURÔNIO MOTOR É INIBIDO 3 MÚSCULO RELAXA 4 PESO É LIBERADO Controle do SNC do movimento voluntário Os movimentos voluntários podem ser divididos em três fases: planejamento, iniciação e execução. O planejamento envolve a mudança e a coordenação da informação entre as áreas corticais de associação, os núcleos da base e o cerebelo. A iniciação é responsabilidade do córtex motor. A execução dos movimentos voluntários é feita através das vias descendentes dos neurônios somáticos motores. A informação sensitiva a partir de articulações e músculos provém a retroalimentação para o encéfalo que permite que ele corrija qualquer desvio entre movimento planejado e o movimento real. Por exemplo, se você estiver sentado e deseja ficar em pé, a decisão para realizar esta ação é tomada pelo córtex motor primário, enquanto todo o seu corpo é, cuidadosamente, mapeado. As áreas que exigem o controle motor mais fino apresentam uma maior representação no córtex motor e, por essa razão, é fornecido um maior controle neural a elas. 36 UNIDADE II │ CONTROLE NERVOSO DO MOVIMENTO As estruturas responsáveis por esse controle consciente são as seguintes. » Córtex motor primário: Controle dos movimentos musculares finos e definidos, armazenamento de habilidades motoras repetitivas ou padronizadas e banco de memória das atividades motoras especializadas. » Gânglios da base: Não fazem parte do córtex cerebral. Estão localizados na substância branca, profundamente em relação ao córtex. Fazem o início dos movimentos sustentados e repetitivos (balanço dos braços na marcha). » Cerebelo: Auxilia as funções do córtex motor primário e dos gânglios da base. Facilita os padrões de movimento, suavizando-os. Se isso não ocorresse, os movimentos seriam espasmódicos e descontrolados. Os receptores sensoriais (proprioceptores) mantêm o cerebelo informado sobre a posição atual do seu corpo. Recebendo essas informações, ele determina o melhor plano de ação para produzir o movimento desejado. O córtex motor primário toma a decisão de ficar em pé e a retransmite ao cerebelo, considerando o exemplo do córtex motor primário, ele decide, a partir das informações sensoriais, qual é o melhor plano de ação para realizar o movimento desejado. 37 UNIDADE IIITREINAMENTO FUNCIONAL CAPÍTULO 1 Equipamentos do treinamento funcional Para que se possa aplicar o treinamento funcional, vários equipamentos foram criados e tornaram- se uma nova tendência de mercado. A cada dia, eles são atualizados e novos são criados para permitir diferentes movimentos e aperfeiçoar o treinamento. Neste capítulo, conheceremos alguns dos principais equipamentos, descritos por Campos e Neto (2004). Bosu O termo BOSU vem da sua abreviação na língua inglesa da expressão both sides up (ambos os lados para cima). Ele pode ser utilizado com a superfície plana ou a superfície de meia-lua para baixo, sendo a segunda mais instável. Ele aumenta a exigência de praticamente todos os mecanismos de propriocepção do corpo humano devido à falta de estabilidade que sua superfície proporciona durante o exercício. O usuário pode inflar ou desinflar o BOSU para alterar a exigência de estabilidade do exercício. Figura 24. BOSU. Fonte: <http://www.multfit.com.br/ver_produto.php?pro_codigo=51&produto=BOSU>. 38 UNIDADE III │ TREINAMENTO FUNCIONAL Bola suíça A bola suíça proporciona o mesmo tipo de exigências ao controle neuromuscular e ao equilíbrio no corpo humano, tendo como principal diferença em relação ao BOSU a menor área de contato com o solo, o que lhe confere ainda mais instabilidade. Ela, também, pode ser inflada ou desinflada para alterar sua exigência. Figura 25. Bola suíça. Fonte: <http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-176017414-bola-suica-com-75-cm-bomba-anti-estouro-pilates-cheia-55- cm-_JM>. Mas fique atento, pois nem sempre a bola suíça irá diminuir a dificuldade de um exercício. Os dados a seguir são extraídos do estudo de Marshal e Murphy (2006). Figura 26. Os três exercícios realizados com bola. SUSTENTAÇÃO DAS PERNAS FLEXÃO DE BRAÇOS AGACHAMENTO Adaptado de Marshal e Murphy (2006) A priori, deve-se imaginar que a bola suíça aumenta a dificuldade do exercício, devido sua instabilidade. Essa dificuldade foi medida pela percepção subjetiva de esforço dos voluntários, que classificam a dificuldade com números de 6 a 20, sendo 20 o mais difícil. Os resultados são apresentados a seguir. 39 TREINAMENTO FUNCIONAL │ UNIDADE III Figura 27. Resultados de percepção subjetiva de esforço nos exercícios com e sem bola suíça. 6 8 10 12 14 16 18 20 X X X FLEXÃO DE BRAÇOS AGACHAMENTO SUSTENTAÇÃO DAS PERNAS BOLA SUÍÇA ESTÁVEL INCLINADO Adaptado de Marshal e Murphy (2006). Para a flexão de braços e sustentação das pernas, a percepção subjetiva de esforço é maior quando estes exercícios são realizados com bola suíça.Para o agachamento, a maior percepção subjetiva de esforço ocorreu quando foi realizado sem bola, pois a bola suíça não garante instabilidade no agachamento, na verdade ela auxilia na manutenção da postura ereta. A figura 28 apresenta uma maneira de combinar a bola suíça e o BOSU para fornecer um ou dois graus de instabilidade: Figura 5. Opções de treino estável (a), instabilidade de membros superiores com a bola suíça (b), instabilidade de membros inferiores com BOSU (c) e dupla instabilidade com bola suíça e BOSU (d). A) SUPERFÍCIE ESTÁVEL B) INSTABILIDADE DE MS C) INSTABILIDADE DE MI D) DUPLA INSTABILIDADE Adaptado de Norwood et al. (2007). 40 UNIDADE III │ TREINAMENTO FUNCIONAL Cama elástica A cama elástica possui uma superfície mais estável e, por isso, apresenta menor grau de dificuldade e instabilidade que a bola e o BOSU. A sua grande base proporciona maiores deslocamentos e um baixo impacto articular durante os exercícios. Nas prescrições de exercícios, ela precede o CORE, que por sua vez deve preceder o BOSU. Uma desvantagem é a impossibilidade de ajustes que regulam o nível de exigência do aparelho. Figura 29. Cama elástica. Fonte: <http://www.ibiubi.com.br/produtos/loc/esporte-e-lazer+muscula%C3%A7%C3%A3o-e-gin%C3%A1stica/ subcategoria+camas-el%C3%A1sticas+preco-vd+entre-100-e-1000/>. Balance disc São discos infláveis que proporcionam grande instabilidade, e podem ser inflados ou desinflados para alterar seu grau de exigência. Porserem independentes, também, é possível modificar sua separação, para deixar os membros inferiores mais abertos ou fechados, ou mesmo posicionar um deles à frente do outro. Figura 30. Balance disc. Fonte: <http://www.ecodayspa.com/yoga/ yogasupplies.html>. Core É um aparelho desenvolvido para estimular os mecanismos de propriocepção e controle neuromuscular do corpo, da mesma maneira que o BOSU e as bolas suíças. Ele possui superfície plana e dura, porém instável, com diferentes níveis de regulagem para se ajustar ao praticante. Figura 31. Plataforma CORE. Fonte: <http://www.prosport.pt/product/core- board>. 41 TREINAMENTO FUNCIONAL │ UNIDADE III Slide O slide é um aparato que exige dos mecanismos de propriocepção e controle motor de maneira diferente dos demais aparelhos citados neste capítulo. Possui uma superfície lisa e vem equipado com uma capa, que pode ser colocada nos pés e nas mãos, para diminuir o atrito entre sua superfície e as bases de sustentação do corpo. Isto aumenta as exigências de equilíbrio e estimula diversos proprioceptores durante os exercícios executados sobre ele. Figura 32. Slide. Fonte: <http://www.kasports.com.br/ ecommerce/>. 42 CAPÍTULO 2 Exercícios funcionais O treinamento funcional recebe esse nome por melhorar a função e o controle motor dos seus praticantes. Elaborar exercícios e rotinas de treinamento funcional não consiste apenas em acrescentar a instabilidade ao treinamento, mas, sim, em utilizar os seus conhecimentos, aliados à sua criatividade para melhorar a qualidade de vida de seus clientes. Com o aumento da popularidade, ou o chamado boom do treinamento funcional, os exercícios e os sistemas de treinamento foram sendo, paulatinamente, desenvolvidos. Muitos personal trainers simplesmente colocavam seus clientes para fazer os mesmos exercícios de musculação que faziam antes, mas em superfícies instáveis e acreditavam estar prescrevendo o treinamento funcional. Sim, eles estavam. Mas é um treinamento limitado, que não explora, nem de perto, tudo o que o treinamento funcional pode oferecer. Neste capítulo, veremos alguns exercícios que você pode aplicar a seus clientes. No mais, utilize sua criatividade e os conhecimentos desta disciplina. Outro ponto fundamental: nunca prescreva um exercício que você não realizou. O seu cliente pode ter dificuldades na execução e apenas com o conhecimento da realização do exercício é que você conseguirá corrigi-lo e dar as dicas necessárias para sua correta execução. Além disso, você deve estar familiarizado com o que o exercício provoca. Figura 33. Sequência de execução do cone quadrado CONES QUADRADO A B C 43 TREINAMENTO FUNCIONAL │ UNIDADE III Objetivo: agilidade Descrição: ficar no centro do quadrado e deslocar-se ao cone de comando correspondente. Variação: o comando em direção ao cone pode ser feito de maneira verbal ou visual e o quadrado pode ter variação de tamanho, de acordo com o condicionamento do indivíduo. Figura 2. Sequência de execução do suicídio SUICÍDIO A B D C Objetivo: agilidade Descrição: deslocar-se até o cone da frente e retornar ao cone inicial. Posteriormente, deslocar-se para o próximo cone. Variação: realizar o mesmo exercício, porém o deslocamento pode ser lateral. Figura 3. Avião imprevisível no BOSU BOSU – AVIÃO IMPREVISÍVEL 44 UNIDADE III │ TREINAMENTO FUNCIONAL Objetivo: estabilidade Descrição: ficar na posição de avião com um peso em cada mão, tentar manter estável. Variação: ficar na posição de avião com um peso em cada mão, soltar um dos pesos de acordo com o comando solicitado, tentar manter estável. Figura 36. Apoio bola suíça APOIO BOLA SUÍÇA Objetivo: estabilidade Descrição: realizar o apoio tradicional com os membros superiores apoiados na bola suíça. Variação: realizar o mesmo exercício, porém com contração isométrica. Figura 4. Afundo no balance disc BALANC DISC – AFUNDO 45 TREINAMENTO FUNCIONAL │ UNIDADE III Objetivo: estabilidade Descrição: Realizar o afundo sobre o balance disc. Variação: realizar o mesmo exercício, porém com contração isométrica ou variação da posição de membros superiores (braços ao longo da cabeça, ou flexionado). Figura 38. Agachamento com pneu AGACHAMENTO COM PNEU A B Objetivo: força Descrição: dentro do pneu, flexionando joelhos e quadril com a coluna reta, segurar nas bordas interiores do pneu e realizar a total extensão de membros superiores levantando o pneu. Após a extensão total, soltar o pneu no chão. Materiais: pneu de caminhão. Figura 39. Arremesso de pneu ARREMESSO DE PNEU A B C 46 UNIDADE III │ TREINAMENTO FUNCIONAL Objetivo: força Descrição: de frente com o pneu, abaixar e segurar em baixo do pneu por fora, com a coluna reta, realizar total extensão de membros inferiores, lançando o pneu a frente. Materiais: pneu de caminhão. Figura 40. Subida na corda SUBIDA NA CORDA A B C Objetivo: força Descrição: partindo da fase de repouso, sem dar impulso e mantendo as pernas estendidas, subir na corda fazendo alternância de mãos, hora o membro direito realiza a puxada, hora o membro esquerdo. Materiais: corda de algodão grossa. Figura 41. Amplitude de ombros AMPLITUDE DE OMBROS A B 47 TREINAMENTO FUNCIONAL │ UNIDADE III Objetivo: mobilidade articular Descrição: por meio de peso corporal e abdução horizontal, forçar a amplitude articular dos ombros. Variação: realizar o mesmo exercício em pé, segurando em uma barra. Figura 12. Mobilidade de ombros no elástico MOBILIDADE DE OMBROS A B C Objetivo: mobilidade articular Descrição: Realizar flexão e extensão de ombros. Figura 43. Apoio de solo (frenagem + aceleração) APOIO NO SOLO (FRENAGEM E ACELERAÇÃO) A B C D E Objetivo: potência muscular Descrição: em posição de flexão de braço, com as mãos na largura dos ombros, realizar uma flexão rápida de cotovelos abrindo, assim, as mãos mais na lateral, ao tocar a mão no solo novamente realizar uma frenagem antes do corpo tocar o chão, na fase de volta, realizar uma aceleração rápida saltando no final do movimento, voltando as mãos para a posição inicial (largura dos ombros). Variáveis: esse movimento pode ser realizado, também, abrindo as pernas na fase de frenagem e fechando elas na fase de aceleração. Realizando, deste modo, o corpo todo irá ficar em flutuação na fase de frenagem e na fase de aceleração. 48 Referências AIRES, M. M. Fisiologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. BERNE, R. M.; LEVY, M. N. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. CAMPOS, M. A.; NETO, B. C. Treinamento functional resistido. 1. ed. s/l. Revinter, 2004. GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. HALL, S. J. Biomecânica básica. 5. ed. Barueri: Manole, 2006. MARSHAL, P.; MURPHY, B. Changes in muscle activity ans perceived exertion during exercises performed on a swiss ball. Apllyed Physiology Nutrition and Metabolism. n. 31, p. 376-383, 2006. NORWOOD, J. T.; ANDERSON, G. S.; GAETZ, M. B.; TWIST, P. W. Electromyographic activity of the trunk stabilizers during stable and unstable bench press. Journal of Strength and Conditioning Research v. 21, n. 2, p. 343-347, 2007.
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