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DESCRIÇÃO Estrutura, função, tipos de fibras e controle neural do músculo estriado esquelético e sua relação com o exercício físico. PROPÓSITO Compreender a estrutura, a função, os tipos de fibras e o controle neural do músculo estriado esquelético e sua relação com o exercício físico é fundamental para a atuação do profissional de saúde que trabalha com prescrição de exercícios físicos. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar a estrutura e as principais funções do músculo estriado esquelético MÓDULO 2 Definir os diferentes tipos de fibras musculares e sua relação com as diferentes modalidades de exercício físico MÓDULO 3 Reconhecer como o movimento é controlado pelo sistema nervoso MÓDULO 4 Reconhecer como o músculo responde a determinados exercícios e sua relação com o desempenho INTRODUÇÃO O corpo humano dispõe de três tipos diferentes de músculos: o músculo liso, o músculo estriado cardíaco e o músculo estriado esquelético (veja na imagem abaixo). Ao contrário dos dois primeiros, que são músculos que geram movimentos involuntários e inconscientes, a atividade do músculo estriado esquelético é voluntária e consciente, sendo fundamental para o movimento humano. Tipos de músculos. Como futuro especialista do movimento humano, o profissional de saúde deve conhecer profundamente a estrutura e as funções do músculo estriado esquelético, seus diferentes tipos de fibras musculares, como o sistema nervoso controla esse músculo e os seus movimentos e, sobretudo, saber correlacionar todas essas informações aos diferentes tipos de exercício existentes. Todos esses aspectos serão abordados ao longo deste conteúdo. MÓDULO 1 Identificar a estrutura e as principais funções do músculo estriado esquelético MÚSCULO ESQUELÉTICO: ESTRUTURA E FUNÇÃO O músculo estriado esquelético representa uma parcela significativa na massa corporal de um indivíduo, correspondendo a cerca de 40 a 50% do seu total. Dessa forma, um indivíduo com 100kg de massa corporal terá em torno de 40 a 50kg de massa muscular. Não existe um número exato de músculos nos seres humanos, mas podemos afirmar que são mais de 600. VOCÊ SABIA Alguns músculos, pelo desuso, estão entrando em extinção, e algumas pessoas já não os têm mais, como o Iliopsoas menor. Uma característica do músculo estriado esquelético é a de responder rapidamente ao uso e ao desuso, sendo altamente treinável em qualquer idade. Os músculos têm propriedades viscoelásticas e se fixam aos ossos por meio de seus tendões, sendo que, anatomicamente, a região do músculo fixada à parte menos móvel do osso se denomina origem, e a parte que se fixa na região mais móvel do osso se denomina inserção. ESTRUTURA DO MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO Os músculos não são constituídos apenas pelas células musculares, que, na linguagem dos fisiologistas do exercício, são comumente chamadas de fibras musculares em função do seu formato com pequeno calibre e grande comprimento. Além das fibras, podemos encontrar na estrutura do músculo estriado esquelético o tecido nervoso, vasos sanguíneos e uma quantidade considerável de tecido conjuntivo fibroso, a começar pela fáscia que envolve os músculos, como se fosse uma “teia de aranha”. Cada músculo contém três camadas de tecido conjuntivo: EPIMÍSIO Envolve o músculo completamente. PERIMÍSIO javascript:void(0) javascript:void(0) Envolve um feixe de fibras que pode ter até 150 fibras e é denominado de fascículo. ENDOMÍSIO Envolve cada fibra muscular. Na imagem a seguir, apresentamos como essas camadas se organizam para formar a estrutura do músculo esquelético: Estrutura do músculo esquelético. Como observamos na imagem, esses três envoltórios fundem-se nas extremidades do músculo para formar os resistentes tendões, que fixam os músculos aos ossos por meio do periósteo. ATENÇÃO Embaixo do endomísio de cada fibra muscular pode ser encontrado mais um tecido conjuntivo importante, denominado lâmina basal. As fibras musculares possuem algumas características marcantes. Uma delas é que são multinucleadas, e isso lhes confere uma capacidade aumentada de realizarem síntese de proteínas. Por serem células, as fibras possuem diversas organelas como mitocôndrias, lisossomos, ribossomos, entre outras. No entanto, quando nos referimos à célula muscular: O retículo endoplasmático é denominado retículo sarcoplasmático, responsável por armazenar grande quantidade de cálcio, fundamental para desencadear a contração muscular. O citoplasma é denominado de sarcoplasma. javascript:void(0) A membrana plasmática é denominada sarcolema. SAIBA MAIS Acima do sarcolema e abaixo da lâmina basal ficam localizadas as células satélites, as quais desempenham um papel importante no crescimento e no reparo muscular das microlesões provocadas pelo exercício físico. Além disso, as células satélites fornecem núcleos para as fibras musculares à medida que são estimuladas pelo treinamento de força, por exemplo. No interior de cada fibra muscular, são encontrados o sarcoplasma e as miofibrilas que hospedam as proteínas envolvidas na contração muscular. As miofibrilas são compostas por sarcômeros, que são a menor unidade funcional do músculo estriado esquelético. Os sarcômeros podem estar dispostos na fibra muscular de duas formas: UM AO LADO DO OUTRO, OU SEJA, OS SARCÔMEROS EM SÉRIE. & UM SOBRE O OUTRO, O QUE DENOMINAMOS DE SARCÔMEROS EM PARALELO. Observe as seguintes imagens: Estrutura muscular. Sarcômero. Tenha em mente os conceitos apresentados a seguir: LINHA Z Os sarcômeros, que em repouso medem em torno de 2,2μm (micrômetros), são delimitados pela linha Z, que significa “entre” (Z de zwischenscheibe , em alemão). A linha Z funciona como uma espécie de dobradiça, aproximando-se uma da outra durante as contrações e se afastando durante o relaxamento. LINHA M Significa “meio” (M de mittelscheibe , em alemão) e fica bem no meio do sarcômero, cortando-o transversalmente. Tem proteínas como a proteína M, a miomesina e a creatinoquinase M, que auxiliam na arrumação estrutural da miosina, na fixação da titina e na disponibilização de ATP, respectivamente. ZONA H Significa “coloração clara” (H de hellerscheibe , em alemão) e fica entre as duas extremidades das actinas. Dependendo do estado do músculo (contraído ou relaxado), terá seu comprimento menor ou maior, podendo até ficar imperceptível em uma contração intensa. BANDA A Banda em que está localizada a proteína miosina (filamento espesso), que, por ser mais espessa, impede a passagem da luz, fazendo com que esta estrutura fique mais escura quando visualizada no microscópio. O “A” que denomina a banda significa anisotrópico (faixa mais escura, pois a luz não tem uma dispersão igual em todos os sentidos). BANDA I Banda em que está localizado o filamento fino com as proteínas actina, nebulina, troponina e tropomiosina, as quais permitem a passagem de luz. Quando visualizadas microscopicamente, apresentam uma imagem mais clara. O “I” que denomina a banda significa isotrópico (faixa mais clara em que a luz consegue atravessar com a mesma velocidade em todos os sentidos). ATENÇÃO A banda I está disposta de forma alternada com uma banda A no sarcômero, ou seja, uma faixa clara alterna com uma faixa escura e, por essa caraterística, o músculo esquelético é considerado estriado, assim como o cardíaco. O músculo estriado esquelético possui particularidades que estão relacionadas às proteínas que o compõem. A tinina, por exemplo, é uma importante proteína do sarcômero que se estende de uma linha Z até outra. Apelidada de proteína gigante por conter aproximadamente 27 mil aminoácidos e ser a maior proteína encontrada no corpo humano, a titina representa aproximadamente 10% da massa muscular e é uma proteína elástica que oferece resistência ao alongamento do músculo (tensão passiva). Além disso, a tinina mantém a miosina centralizada no sarcômero, conforme observamos na imagem: Filamento de Titina representada no sarcômero.Como já vimos, a banda I é composta pelas proteínas actina, tropomiosina, troponina e nebulina. A actina é composta por duas cadeias entrelaçadas com formato de dupla hélice: Cada cadeia é denominada actina F (filamentosa), sendo que cada uma delas é composta por uma sequência de actinas G (globulares). Cada actina G tem um sítio em que a cabeça da miosina pode se ligar para produzir a contração muscular. Em repouso, esse sítio se encontra ocupado pelo complexo troponina tropomiosina, em uma sequência consecutiva de um sítio ocupado pela troponina (em amarelo na imagem), e sete sítios ocupados pela tropomiosina (em azul na imagem). Portanto, para que ocorra a contração muscular é necessário que o complexo troponina tropomiosina desobstrua esses sítios. VOCÊ SABIA Alguns autores chamam as proteínas troponina e tropomiosina de proteínas regulatórias, em função de ocuparem esses sítios da actina G impedindo a contração muscular. A troponina é dividida em três partes: TROPONINA T (tropomiosina) – parte ligada na tropomiosina. TROPONINA I (inibitória) – parte que se liga na actina G, impedindo a contração muscular. TROPONINA C (cálcio) – parte onde o cálcio se liga para produzir uma mudança conformacional no complexo troponina tropomiosina para desobstruir o sítio da actina G, permitindo a contração muscular. A nebulina é uma proteína bem grande e que controla o tamanho da actina. Composição proteica do sarcômero. Na próxima imagem, observamos que no interior das fibras musculares existem canais membranosos que envolvem completamente cada miofibrila. Esses canais são organelas denominadas retículo sarcoplasmático (destaque em azul). Miofibrila. Nas fibras musculares, os retículos sarcoplasmáticos armazenam grande quantidade de cálcio (Ca2+), que tem um papel imprescindível na geração da contração muscular. Esse cálcio é constantemente removido do sarcoplasma pelos retículos, o que mantém um gradiente de concentração entre essas estruturas, ficando o retículo sempre com maior quantidade de cálcio em relação ao sarcoplasma. SAIBA MAIS A despolarização da célula consegue se propagar rapidamente por meio dos túbulos transversos (túbulos T), os quais passam do sarcolema para o interior da fibra muscular se conectando com as cisternas terminais, formando a tríade composta por um túbulo T e uma cisterna terminal de cada lado. Cada sarcômero tem duas tríades por fora da região da linha Z, e esse padrão se repete por toda a miofibrila. A imagem apresenta os elementos que compõem a mifibrila a partir de um corte transversal: Miofibrila. JUNÇÃO NEUROMUSCULAR Todas as fibras musculares recebem estímulos por meio das terminações axonais de alguma fibra nervosa. Na fisiologia do exercício, essas células nervosas, que são neurônios eferentes ou motores, são preferencialmente denominadas motoneurônios. Cada motoneurônio forma com as fibras musculares por ele inervadas o que é denominado unidade motora. Um único motoneurônio é capaz de inervar muitas fibras musculares, e as unidades motoras podem envolver até milhares de fibras musculares. A relação motoneurônio e fibras inervadas varia de músculo para músculo e de indivíduo para indivíduo, o que pode inclusive influenciar no desempenho desportivo desse indivíduo. EXEMPLO Nos músculos dos dedos e do globo ocular, por exemplo, poucas fibras estão envolvidas, já no quadríceps, um único motoneurônio vai inervar milhares de fibras. Para que ocorra uma contração muscular é necessário que um estímulo neural seja enviado ao músculo por meio do(s) motoneurônio(s), conforme a imagem a seguir: Neurônio motor e músculo. ATENÇÃO Embora o neurônio não esteja em contato físico com o músculo, pois entre eles existe um espaço denominado fenda sináptica, essa região é chamada junção neuromuscular. Exatamente na junção neuromuscular, já na célula pós-sináptica, o sarcolema apresenta uma invaginação denominada placa motora terminal. Na extremidade do axônio do motoneurônio encontram-se os botões sinápticos que contêm vesículas secretoras repletas de um neurotransmissor denominado acetilcolina (ACh). Assim que um impulso nervoso atinge essa região, as vesículas liberam a acetilcolina por exocitose na fenda sináptica, onde ela se difunde e se liga aos seus receptores nicotínicos específicos localizados na placa motora terminal no sarcolema. A ligação da acetilcolina com seus receptores faz com que os canais rápidos de sódio se abram, possibilitando que esse íon entre na célula muscular iniciando o processo de despolarização da membrana. A seguir, a imagem apresenta esse processo: Junção neuromuscular. CONTRAÇÃO MUSCULAR A teoria do filamento deslizante, criada na década de 1950 por Hugh Huxley e Andrew Huxley, ainda é bastante aceita e descrita nos livros. A teoria descreve que, durante a contração muscular e o relaxamento, os filamentos fino e espesso deslizam uns sobre os outros sem, no entanto, alterar seus comprimentos. De fato, parece que a única proteína capaz de alterar o comprimento dos filamentos no sarcômero é a titina, por seu caráter elástico (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016). HUGH HUXLEY (1924-2013) Cientista britânico especialista em biologia molecular. ANDREW HUXLEY (1917-2012) Cientista britânico, prêmio Nobel de 1963 pelos seus estudos sobre potenciais de ação. javascript:void(0) javascript:void(0) VOCÊ SABIA Hugh Huxley e Andrew Huxley são dois pesquisadores ingleses que, apesar do sobrenome igual, não eram parentes. A teoria sugere o seguinte processo de contração muscular: 1 O estímulo enviado pelo motoneurônio alfa faz com que as vesículas secretoras façam exocitose e liberem a acetilcolina na fenda sináptica. A acetilcolina se difunde e se liga aos seus receptores nicotínicos específicos na membrana pós- sináptica localizados na região da placa motora terminal. 2 3 Após ocorrer essa ligação, os canais rápidos de sódio se abrem e ocorre um grande influxo desse íon na célula despolarizando a membrana. A despolarização atinge os túbulos T, fazendo com que o retículo sarcoplasmático libere cálcio pelas suas tríades no sarcoplasma. 4 5 O cálcio se liga na troponina C e provoca uma mudança conformacional em todo o complexo troponina tropomiosina, desobstruindo os sítios da actina G. A cabeça da miosina se liga a esses sítios, gerando um estado de ligação forte que ativa a enzima miosina ATPase, que degrada um ATP e libera energia. 6 7 A energia fornecida pelo ATP é usada pela cabeça da miosina para arrastar a actina em direção ao centro do sarcômero. Após o estímulo ser interrompido, a concentração de cálcio sarcoplasmático cai rapidamente retornando para os retículos sarcoplasmáticos por transporte ativo, fazendo com que o complexo troponina tropomiosina reocupe os sítios da actina e sua ação inibitória. 8 Movimento da cabeça da miosina na contração muscular. TIPOS DE CONTRAÇÃO (AÇÃO) MUSCULAR Apesar de historicamente o termo “contração muscular” ter sido adotado, atualmente, os fisiologistas do exercício consideram mais adequado o termo “ação muscular” para designar o processo de geração de força no músculo estriado esquelético. São tipos de ação muscular: AÇÃO ISOMÉTRICA O músculo pode gerar força sem que ocorra alteração na angulação articular, como no caso da ação isométrica. Pelo fato de não ocorrer movimento articular, apesar da tensão aumentada no músculo, essa ação é considerada um exercício estático. Esse tipo de ação é prevalente na musculatura postural do corpo humano quando sentado ou em pé, em algumas atividades desportivas como a de velejadores, e laborais, como o trabalho de um dentista. SAIBA MAIS Na reabilitação, a utilização de ações isométricas também pode ser muito útil quando a dor é um fator limitante do movimento. AÇÃO DINÂMICA OU ISOINERCIAL Essa ação muscular, que também já foi denominada isotônica (termo não mais adotado), envolve movimento articular e se subdivide em dois tiposde ações: AÇÃO CONCÊNTRICA Nessa ação, ocorre o encurtamento do ventre muscular e um alongamento dos tendões. AÇÃO EXCÊNTRICA Nessa ação, ocorre um alongamento do ventre muscular e um encurtamento dos tendões. ATENÇÃO As ações excêntricas são capazes de gerar mais força e, ao mesmo tempo, aumentar o risco de lesão da fibra muscular. A imagem demonstra como são realizadas as ações musculares concêntrica, excêntrica e isométrica: Ações musculares excêntrica, concêntrica e isométrica. AÇÃO ISOCINÉTICA É a ação muscular menos utilizada na prática. Caracteriza-se pela velocidade angular constante, mantida por meio de um dinamômetro computadorizado. É, habitualmente, utilizada para verificar desequilíbrios musculares e quantificar o desempenho com muita precisão e segurança. Uso do aparelho isocinético. No entanto, é importante ressaltar que, como forma de treinamento, perde a funcionabilidade, pois, no dia a dia, não se fazem movimentos com a velocidade angular constante. Além disso, um dinamômetro isocinético tem um custo elevado. A ESTRUTURA E A FUNÇÃO MUSCULAR O especialista Ercole da Cruz Rubini faz um resumo de todo o conteúdo trabalhado no módulo: VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Definir os diferentes tipos de fibras musculares e sua relação com as diferentes modalidades de exercício físico TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES O músculo estriado esquelético não é formado por apenas um tipo de fibra muscular com as mesmas características em todos os músculos. Nos seres humanos existem dois tipos de fibra muscular com diferentes propriedades contráteis e metabólicas: AS FIBRAS MUSCULARES LENTAS (TIPO I) AS FIBRAS MUSCULARES RÁPIDAS (TIPO II) ATENÇÃO Cada indivíduo tem uma proporção diferente dessas fibras que varia de músculo para músculo. A atividade da enzima miosina ATPase, que, na contração muscular, é responsável por degradar uma molécula de ATP para que energia seja liberada para a contração muscular, é diferente em cada tipo de fibra: Uma maior atividade dessa enzima é característica das fibras rápidas, o que aumenta a velocidade da hidrólise do ATP, produzindo uma contração mais rápida. Uma menor atividade dessa enzima é observada nas fibras lentas, resultando em um processo oposto ao das fibras rápidas. Um ponto que costuma causar confusão é que nos seres humanos só existem fibras do tipo I e do tipo II. As fibras do tipo II, no entanto, subdividem-se em dois subtipos, tipo IIa e tipo IIx, o que difere e muito de alguns animais que possuem outros tipos de fibras com suas respectivas subdivisões. Em ratos, por exemplo, a fibra mais rápida é a IIb, que não existe nos seres humanos. Em humanos, a fibra mais rápida é a IIx. Entretanto, apesar de essa diferença já estar muito bem estabelecida na literatura desde os anos 1980, ainda existe uma confusão a respeito do assunto em relação aos seres humanos e outros animais. Existem diferentes termos utilizados para a classificação das fibras musculares e isso ocorre em função de uma multiplicidade de técnicas adotadas para este fim. O termo adotado depende diretamente da técnica utilizada para analisar essas fibras musculares. Parece que uma das primeiras técnicas utilizadas para classificar os diferentes tipos de fibra muscular foi a de coloração (em 1873) e, por isso, as fibras que tinham maior quantidade de mioglobinas e eram mais vascularizadas foram denominadas de fibras vermelhas, e as que tinham menor quantidade foram denominadas de fibras brancas. Técnicas utilizando-se de características bioquímicas, morfológicas, fisiológicas, histoquímicas e imuno- histoquímicas também costumam ser utilizadas e acabam gerando diferentes denominações (MCARDLE; KATCH, 2016). A seguir, apresentamos as características de cada tipo de fibra: FIBRAS LENTAS (TIPO I) Também são chamadas de fibras vermelhas ou fibras oxidativas. Caracterizam-se pela maior quantidade de enzimas oxidativas, pela maior capilarização e pelas mitocôndrias grandes e numerosas. Por esse motivo, utilizam predominantemente a via metabólica oxidativa para ressíntese de ATP, apresentando mais resistência à fadiga e uma alta capacidade aeróbia. Além disso, são mais eficientes ou econômicas, ou seja, precisam de menos energia para se contraírem, e dessa forma degradam menos moléculas de ATP. FIBRAS RÁPIDAS (TIPO II) Também são chamadas de fibras brancas ou fibras glicolíticas. Caracterizam-se pela maior quantidade de enzimas glicolíticas, o que lhes confere uma alta capacidade anaeróbia e alta atividade da enzima miosina ATPase. Por isso, são menos eficientes, demandando mais energia por trabalho realizado. Destaca-se que essas características são mais visíveis nas fibras do tipo IIx em relação às fibras do tipo IIa. FIBRAS DO TIPO IIA Apesar de serem rápidas, têm suas características bioquímicas e mecânicas sempre entre as fibras do tipo I e a do tipo IIx. Por isso, alguns autores chamam as fibras do tipo IIa de fibras intermediárias ou fibras glicolíticas oxidativas. Embora fiquem sempre entre as duas, são fibras rápidas, assim como a IIx. As propriedades bioquímicas entre os tipos de fibra acarretam diferentes caraterísticas contráteis. Em relação à fibra do tipo I, a fibra do tipo II é mais eficiente na produção de força, na contração com velocidade e na produção de potência máxima. SAIBA MAIS Os fatores genéticos explicam os variados tipos de fibras musculares, entretanto o treinamento físico do indivíduo também pode influenciar a distribuição dos diferentes tipos de fibra muscular. Por exemplo, parece que, em adultos, o treinamento de força é capaz de liberar o fator de transcrição do fator de resposta sérica (serum response fator – SRF) da proteína titina, e isso resulta em um maior crescimento muscular. javascript:void(0) HIPERTROFIA MUSCULAR A hipertrofia muscular corresponde a um aumento do tamanho da fibra muscular, acarretando o aumento da área de secção transversa do músculo. Essa é uma das consequências do treinamento de força. A quantidade das proteínas contráteis actina e miosina aumenta, possibilitando maior ação de pontes cruzadas e maior produção de força. Com o aumento da quantidade das proteínas actina e miosina, ocorre um acréscimo do número de sarcômeros em paralelo, fator preponderante para o aumento da área de secção transversa. ATENÇÃO Para que ocorra a hipertrofia das fibras musculares, é necessário que a quantidade de reações químicas de síntese de proteínas seja maior que as que resultam na sua degradação, ou seja, as reações anabólicas devem se sobrepor as reações catabólicas. Embora a hipertrofia muscular seja um processo lento e crônico que ocorre ao longo de meses de treinamento, é interessante ressaltar que apenas uma sessão de treinamento já é capaz de elevar a síntese proteica muscular por um período de até 24 horas. No entanto, parece que esse aumento retroage aos valores anteriores em um período de 36 horas após o estímulo, evidenciando a necessidade de novos e periódicos estímulos para uma hipertrofia significativa. Parece que o exercício de força torna a segunda fase da síntese proteica (tradução) nos ribossomos mais eficiente, aumentando a quantidade de proteína sintetizada por molécula de RNAm (mensageiro). Um dos principais sinalizadores estimulados pelo exercício de força conhecido é o aumento da síntese de IGF I (Fator semelhante a insulina) a partir de uma secreção autócrina e parácrina: 1 Quando se liga ao seu receptor de membrana, proporciona a ativação da enzima PI3K também estimulada pela ação mecânica da contração muscular, ativando a Akt que inibe a ação da TSC2. javascript:void(0) A inibição da TSC2 estimula a ação da mTOR que induz a uma maior eficiência na tradução, gerando mais proteínas. 2 3 Ao mesmo tempo, o IGF I inibe a síntese de miostatina, que é um importante inibidor da síntese proteica. AUTÓCRINA Secreção em que uma célula secreta hormônios para ela mesma Existem duas mTOR: MTOR RAPTORAtiva a biogênese ribossomal, tendo assim um papel fundamental na hipertrofia muscular, já que a quantidade de ribossomos no interior da fibra muscular está diretamente ligada à sua capacidade de sintetizar novas proteínas. MTOR RICTOR Regula a sensibilidade à insulina e a ativação do Akt. O exercício de força é o principal fator estimulante da mTOR, embora a insulina e até alguns aminoácidos como a leucina também possam ter esse efeito estimulador. O treinamento de força e as consequentes microlesões geram a ativação das células satélites localizadas entre o sarcolema e a lâmina basal. Essas células entram em divisão e diferenciação, fazendo com que novos núcleos sejam adicionados a essa fibra em crescimento. Existe uma relação direta entre o tamanho da fibra muscular e a quantidade de núcleos que ela possui. ATENÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) Destacamos que as fibras do tipo I também são capazes de hipertrofiar, embora em uma magnitude menor que as fibras do tipo II. Um outro fenômeno muito discutido é a possibilidade de hiperplasia: Na hipertrofia, ocorre um aumento do tamanho da fibra muscular. Na hiperplasia ocorre um aumento no número de fibras musculares. A hiperplasia já foi observada em estudos com animais. No entanto, em seres humanos, ainda é algo controverso e sem evidências robustas. Uma das grandes dificuldades em estudos sobre a hiperplasia em humanos é que eles necessitam de um tempo muito prolongado de acompanhamento. Dessa forma, essa é uma questão que ainda permanece em aberto e necessita de um melhor entendimento. A imagem a seguir apresenta uma comparação ente células normais e células que sofreram aumento no tamanho e no número: Hipertrofia e hiperplasia. TIPOS DE FIBRA E DESEMPENHO ATLÉTICO Sabe-se que diferentes músculos apresentam o predomínio de um determinado tipo de fibra muscular em um mesmo indivíduo, e isso impacta diretamente no desempenho. Além disso, os músculos podem ser classificados como: TÔNICOS FÁSICOS TÔNICOS Os músculos tônicos são responsáveis pela manutenção da postura, ou seja, atuam contra a ação da gravidade, mantendo o corpo humano em posição ereta. Para isso, são compostos predominantemente por fibras lentas do tipo I. FÁSICOS Por outro lado, os músculos fásicos são responsáveis pela produção de força e velocidade e contêm predominantemente fibras de contração rápida do tipo II. Sabemos que a ativação das fibras musculares é controlada pelo sistema nervoso por meio de fibras eferentes (motoras), os motoneurônios. Sabemos também que um motoneurônio é capaz de inervar uma única fibra muscular, ou milhares delas. ATENÇÃO O conjunto formado por um motoneurônio e todas as fibras que ele é capaz de inervar é denominado unidade motora. Na fibra muscular, o estímulo elétrico será transformado em mecânico, produzindo o movimento: Unidade motora. Inicialmente, acreditava-se que, quanto maior a carga suportada, maior seria o número de unidades motoras recrutadas, e que essa relação seria diretamente proporcional. Ou seja, ao aumentar a intensidade, aumentaria o recrutamento de unidades motoras e, ao se atingir 100% da força máxima, 100% das unidades motoras estariam sendo recrutadas. No entanto, hoje, sabe-se que, ao atingir 80% da força máxima, o indivíduo já recrutou todas as suas unidades motoras. Sendo assim, outros mecanismos explicariam esse desempenho máximo: FREQUÊNCIA DE ESTÍMULOS Além do recrutamento de unidades motoras, um dos fatores neurais que explicam a capacidade de produzir força é o aumento da frequência dos estímulos enviados pelos motoneurônios em suas respectivas unidades motoras. A taxa em que um motoneurônio dispara seus potenciais de ação influencia diretamente a capacidade de produzir força que uma unidade motora terá, ou seja, aumentando a quantidade de impulsos nervosos por segundo enviados para as fibras musculares por meio dos motoneurônios, a fibra produzirá mais força. COORDENAÇÃO INTRAMUCULAR Outro fator relacionado à ação neural na produção de força é o sincronismo entre as unidades motoras que estão sendo recrutadas, também denominada coordenação intramuscular. Esse mecanismo ocorre quando mais de uma unidade motora é ativada ao mesmo tempo e seus potenciais de ação são sincronizados. Com a repetição e o aperfeiçoamento do gesto, esses fatores neurais são aprimorados, e a capacidade de realizar uma atividade de alta intensidade, aumentada. Essas adaptações neurais já começam a ocorrer no período inicial de treinamento, fazendo com que seja possível ter um ganho de força significativo, sem que tenha ocorrido hipertrofia muscular. Essa adaptação é facilmente observada em indivíduos que estão iniciando a prática do treinamento de força, pois, nota-se uma facilidade para o aumento de carga nos exercícios mesmo com poucos dias de treinamento. O recrutamento das unidades motoras obedece ao “princípio do tamanho”. Segundo esse princípio, primeiro, são recrutadas as unidades motoras com limiares de ativação mais baixos, com menor capacidade de produzir força e velocidade de contração e com mais resistência à fadiga. Depois, desde que o indivíduo aumente a intensidade de sua atividade, são recrutadas as unidades motoras que possuem maior capacidade de produzir força, velocidade e que são mais fadigáveis. De acordo com o princípio do tamanho, descrito pela primeira vez na década de 1960, quanto maior for o calibre dos axônios do motoneurônio, menor é a resistência oferecida à condução do estímulo nervoso, gerando uma maior velocidade de condução nervosa. Em função dessa característica do recrutamento das unidades motoras, temos os seguintes cenários: Um indivíduo que apenas realiza atividades de baixa intensidade irá recrutar e estimular suas fibras lentas do tipo I, que são ativadas por axônios com baixo calibre. Um indivíduo também poderá recrutar as fibras do tipo IIa se realizar atividades mais intensas. As fibras do tipo IIx de mais alto limiar de excitabilidade serão recrutadas se a intensidade da atividade for ainda mais alta. RESUMINDO As fibras musculares são recrutadas em ordem crescente de tamanho (calibre do axônio) e de acordo com a intensidade do exercício. Portanto, quando uma atividade intensa demandar 80% da força máxima, todas as unidades motoras serão recrutadas. Caso contrário, serão recrutadas apenas as unidades motoras de baixo limiar de excitabilidade, que são mais econômicas e precisam de menos energia para realizar suas ações. Toda essa capacidade neural pode ser aprimorada com o treinamento e isso, certamente, implicará um melhor desempenho. O desempenho de atletas de elite, por exemplo, é influenciado pelo tipo de fibra muscular. A seguir, apresentamos alguns padrões de distribuição de fibras: Indivíduos sedentários possuem cerca de 50% de fibras lentas e rápidas. Atletas de atividades que exijam força, velocidade e potência têm uma predominância percentual de fibras rápidas. Atletas de atividades de longa distância ou duração e resistência em geral têm uma predominância percentual de fibras lentas. ATIVIDADE DESPORTIVA FIBRA RÁPIDA FIBRA LENTA Saltadores X Maratonistas X Levantadores de peso X Velocistas X Arremessadores X Fundistas X Quadro: Predomínio do tipo de fibra muscular de acordo com a atividade desportiva. Elaborado por: Ercole Rubini Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COMENTÁRIO Esse padrão de distribuição independe do sexo, embora, na maioria das vezes, os homens atletas apresentem fibras e massa musculares maiores. Cabe ressaltar, no entanto, que o percentual de fibras não é o único fator que determina o desempenho de um atleta de elite, sendo apenas um dos muitos fatores envolvidos. TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES O especialista Ercole da Cruz Rubini faz uma diferenciação entre os tipos de fibras musculares: VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Reconhecer como o movimento é controlado pelo sistema nervosoTIPOS DE MOVIMENTO De maneira bem simplificada, podemos classificar os movimentos como reflexos, automáticos e voluntários. MOVIMENTOS REFLEXOS MOVIMENTOS AUTOMÁTICOS MOVIMENTOS VOLUNTÁRIOS MOVIMENTOS REFLEXOS São movimentos extremamente simples, rápidos, involuntários e estereotipados. São primeiramente medulares, embora as informações sensitivas que chegam à medula espinal também cheguem depois ao encéfalo. MOVIMENTOS AUTOMÁTICOS São movimentos que necessitam ser iniciados e terminados a partir de informações voluntárias provenientes do córtex. Um bom exemplo disso é o que acontece em uma caminhada em que se inicia voluntariamente e, depois, automaticamente, os passos são mantidos, e a caminhada é mantida até que novos sinais provenientes do córtex a interrompem. MOVIMENTOS VOLUNTÁRIOS São movimentos mais complexos e precisos, envolvendo diferentes áreas do Sistema Nervoso Central. Nem sempre a diferenciação dos três tipos de movimento citados (reflexos, automáticos e voluntários) é clara. ATENÇÃO A realização de movimentos complexos, como acontece em um gesto desportivo, ou quando pegamos um garfo para nos alimentar, requer uma integração neuromuscular extremamente coordenada e precisa. Essa perfeita interação entre o sistema nervoso e o sistema musculoesquelético precisa ser bem compreendida pelo futuro profissional de saúde que trabalhará com o movimento. Dentre as funções que o sistema nervoso desempenha, está o controle voluntário e involuntário, consciente e inconsciente do movimento, que será estudado a seguir. ÁREAS DO SISTEMA NERVOSO QUE PARTICIPAM DO CONTROLE DO MOVIMENTO O sistema nervoso divide-se anatomicamente em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). Essa divisão foi elaborada com base nas caixas ósseas, mais exatamente no crânio e na coluna vertebral. Sendo assim, temos: CONSTITUINTES DO SNC Todas as estruturas que se encontram dentro das caixas ósseas: encéfalo, medula espinal e parte dos neurônios aferentes e eferentes. CONSTITUINTES DO SNP Estruturas que se encontram fora das caixas ósseas: gânglios e parte dos neurônios aferentes e eferentes. Entretanto, fisiologicamente, o sistema nervoso é dividido em Sistema Nervoso Somático e Sistema Nervoso Visceral, sendo aquele o responsável pelo controle voluntário e consciente do músculo estriado esquelético, nosso objeto de estudo. Vejamos agora o encéfalo O encéfalo constitui o centro do sistema nervoso em todos os animais vertebrados. No ser humano, no entanto, é formado por três partes: tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo), cérebro e cerebelo. TRONCO ENCEFÁLICO O tronco encefálico destaca-se pelo controle do movimento das mãos, dos olhos e, principalmente, do tônus muscular e da sustentação do corpo humano em uma postura vertical contra a gravidade. Tronco encefálico. CÉREBRO No cérebro, existe uma camada externa denominada córtex cerebral, contendo mais de 8 milhões de neurônios. No córtex cerebral, mais exatamente no lobo frontal e, anteriormente ao sulco central, localiza-se o córtex motor primário, que é a região diretamente associada ao controle voluntário do movimento, pois, dali, partem os estímulos motores enviados para a medula espinal e depois para os músculos. Córtex motor. CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO Na classificação de Brodmann, o córtex motor primário encontra-se na área 4. As diferentes áreas musculares do corpo são representadas no córtex motor primário como pernas, pé, tronco, braço, mão, face e boca. Essa representação topográfica foi mapeada por Penfield e Rasmussen em 1950 na sua célebre obra The cerebral córtex of man: a clinical study of localization of function . Nesse mapeamento, a boca, a face e as mãos ocupam mais da metade do córtex motor primário. ÁREA 4 As áreas de Brodmann foram definidas e numeradas pelo anatomista alemão Korbinian Brodmann (1868 – 1918). As áreas são organizadas com base na sua composição neuronal e estão correlacionadas às suas funções corticais. javascript:void(0) Áreas de Brodmann. A área 4 representa o córtex motor primário, responsável pelo controle de diversos movimentos e respostas cinestésicas. Córtex motor primário e demais áreas. No entanto, esse controle do movimento voluntário realizado pelo córtex motor primário não é independente de outras áreas, como já se acreditou. O córtex motor primário precisa da participação de outras áreas para iniciar o movimento voluntário. Parece que as áreas subcorticais e cortical emocional são as responsáveis pelo início do processo que desencadeia o movimento muscular voluntário e consciente. ÁREA PRÉ-MOTORA Essa área está localizada anteriormente ao córtex motor primário e, abaixo da área motora suplementar, tem uma organização topográfica muito semelhante à do córtex motor primário. No entanto, os estímulos provenientes da área pré-motora geram padrões de movimento muito mais complexos do que os produzidos no córtex motor primário. A área pré-motora pode enviar sinais diretamente ao córtex motor primário ou, mais comumente, através dos núcleos basais e do tálamo para estimular alguns músculos. SAIBA MAIS Os neurônios espelho, que se localizam na área pré-motora e no córtex parietal inferior, são ativados quando o indivíduo observa uma outra pessoa realizando determinado movimento “espelhando” o gesto de outra pessoa, como se o indivíduo observador estivesse realizando o mesmo gesto. Parece que esses neurônios facilitam a aprendizagem de novos padrões motores por imitação. ÁREA MOTORA SUPLEMENTAR A área motora suplementar tem uma organização topográfica diferente do córtex motor primário e da área pré-frontal, e as contrações oriundas dela normalmente são bilaterais, e não unilaterais, como, segurar uma bola com as duas mãos ao mesmo tempo. ATENÇÃO Essa área também atua com a área pré-motora, controlando a postura, a fixação corporal, o movimento dos olhos e da cabeça, entre outros. TRATO CORTICOESPINHAL Os sinais do córtex motor para os músculos esqueléticos podem ser transmitidos: DIRETAMENTE DO CÓRTEX PARA A MEDULA ESPINAL POR MEIO DO TRATO CORTICOESPINHAL (TRATO PIRAMIDAL). OU INDIRETAMENTE POR VIAS QUE ENVOLVEM OS NÚCLEOS BASAIS, O CEREBELO E O TRONCO ENCEFÁLICO. O trato corticoespinhal (piramidal) tem 30% de sua origem no córtex motor primário, 30% na área pré- motora e na área motora suplementar e 40% em áreas somatossensoriais, que se localizam atrás do sulco central. SAIBA MAIS Normalmente, essa via está envolvida com os movimentos mais detalhados em seguimentos mais distais, como as mãos e os dedos. CEREBELO E NÚCLEOS BASAIS O cerebelo e os núcleos basais (gânglios basais) participam do controle motor global, funcionando em colaboração com outros sistemas de controle motor. VOCÊ SABIA O cerebelo já foi chamado de área silenciosa, pois sua excitação não é capaz de produzir sensação consciente e, dificilmente, é capaz de gerar um movimento. Mas, se os seres humanos não tivessem o cerebelo, seus movimentos seriam todos anormais. Cerebelo Os movimentos rápidos têm uma participação mais efetiva do cerebelo, que controla o ritmo do movimento e a evolução de um movimento muscular para o seguinte de maneira rápida. A ativação de um músculo agonista e a imediata inativação do respectivo antagonista também é mediada pelo cerebelo. Núcleos basais Os núcleos basais são agrupamentos de neurônios derivados do telencéfalo, somados ao núcleo subtalâmico do diencéfalo e a substância negra do mesencéfalo, que ficam na base do cérebro e que ajudam a planejar e controlar movimentos musculares complexos. Depois de passarem pelo cerebelo e pelos núcleos basais, a informação, agora bem mais precisa, é enviada pelo tálamo para o córtex motor. O córtex motor então envia essa informação para a medula espinal onde ocorrerá a sintonização espinal, e esse estímulo será enviado ao músculo estriado esquelético. Tudo isso é monitorado e ajustado ininterruptamente pormeio da retroalimentação proporcionada pelos proprioceptores e receptores musculares e articulares ao SNC, assim os programas motores são reajustados caso seja necessário, aprimorando o padrão de movimento. SAIBA MAIS O cerebelo faz parte do encéfalo e localiza-se atrás da ponte e do bulbo. Atua recebendo estímulos dos proprioceptores e monitorando o movimento complexo e a coordenação, municiando o córtex motor, o tronco encefálico e a medula espinal com informações. MEDULA ESPINAL Finalmente, continuando a abordar as estruturas do SNC, temos a medula espinal, que, além dos reflexos importantes para o controle do movimento, também participa de um fenômeno denominado sintonização espinal. Esse fenômeno ocorre quando os estímulos provenientes das áreas corticais e do tronco encefálico passam por um refinamento ao chegarem na medula espinal, demonstrando uma interação medular importante com os centros encefálicos superiores. Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. PROPRIOCEPTORES MUSCULOTENDINOSOS O Sistema Nervoso Central é ininterruptamente municiado com informações de receptores especializados, que se localizam no músculo estriado esquelético e na sua junção miotendinosa. Essas informações referem-se à posição do corpo humano no espaço, permitindo que pequenos ajustes sejam feitos sem que o indivíduo tome ciência. EXEMPLO São ajustes involuntários realizados a partir de respostas reflexas, como quando pisamos num buraco e torcemos ligeiramente o tornozelo. Nesse momento, entram em ação nossos proprioceptores, que providenciam um ajuste rápido de forma a impedir uma lesão ou algo desconfortante. A medula espinal controla parte da função muscular por meio de reflexos musculares simples e rápidos. As informações trazidas pelos neurônios aferentes (sensitivos) que entram na medula através das raízes posteriores chegam à substância cinzenta da medula espinal e, a partir daí, subdividem-se em duas vias: Uma que termina na própria substância cinzenta e já determina os reflexos. Outra que conduz os estímulos para níveis superiores. Os neurônios motores que se iniciam no corno anterior da medula espinal na substância cinzenta se caracterizam por serem grandes e numerosos aos milhares. Eles partem da medula espinal por meio das raízes anteriores e vão inervar diretamente as fibras musculares. Existem dois tipos de neurônios motores: NEURÔNIOS MOTORES DO TIPO ALFA Na fisiologia do exercício, são comumente denominados motoneurônios alfa e são bem calibrosos, com aproximadamente 14 micrômetros, tendo, por isso, uma velocidade de condução muito alta. NEURÔNIOS MOTORES DO TIPO GAMA São menores e que também partem do corno anterior da medula espinal e inervam as fibras que existem no fuso muscular. São denominadas fibras intrafusais e desempenham um papel importante no controle do tônus muscular. SAIBA MAIS Na medula espinal, também existem em maior quantidade os interneurônios, que conectam um neurônio a outro, e estão presentes em toda substância cinzenta medular. Para que ocorra um controle eficiente dos músculos esqueléticos, é necessário que exista uma permanente retroalimentação (em inglês, feedback) de estímulos sensoriais provenientes dos músculos esqueléticos na direção da medula espinal. Isso ocorre, por exemplo, em situações em que há um estiramento ou tensão excessiva, em que a velocidade, o comprimento e a tensão muscular estão sendo modificados. Essas informações são captadas por dois receptores sensoriais musculares que se encontram nos músculos esqueléticos e seus respectivos tendões: Fusos musculares, que se prendem paralelamente às fibras no ventre muscular. Órgãos tendinosos de Golgi, que se localizam perpendicularmente entre as fibras colágenas do tendão. FUSO MUSCULAR O fuso muscular é um importante receptor sensorial (proprioceptor) que se localiza no ventre muscular paralelamente às fibras musculares e aderido pelas suas extremidades ao endomísio que recobre a fibra. javascript:void(0) javascript:void(0) Em suas extremidades, estão as fibras intrafusais, que são estimuladas pelo neurônio motor gama. Na região central (que não é contrátil) dessas fibras, em uma estrutura denominada ânulo espiralado, estão seus receptores. Quando a região central sofre um estiramento, os receptores são ativados. Dois fatores podem gerar o estímulo dos receptores do fuso muscular: AUMENTO DO COMPRIMENTO DO MÚSCULO As extremidades do fuso muscular se fixam ao endomísio da fibra. Quando ocorre um aumento do comprimento do músculo, essa região central do fuso é estirada estimulando o receptor ali localizado. CONTRAÇÃO DAS FIBRAS INTRAFUSAIS Essas fibras se localizam nas extremidades do fuso muscular e provocam o estiramento da região central do fuso para ativação dos seus receptores. A contração das fibras intrafusais pode ocorrer independentemente de uma alteração do comprimento muscular. Na atividade dos fusos musculares, deve-se levar em consideração os tipos de receptores e a classificação das fibras que são estimuladas: Tipos de receptores na região central do fuso muscular: Classificação das fibras intrafusais: Receptores primários – são compostos por fibras do tipo Ia de grande calibre (± 17 micrômetros) e que têm uma velocidade de condução nervosa extremamente alta, em torno de 70 a 120m/s. Fibras intrafusais de saco nuclear (uma a três por fuso muscular) – são fibras em que os núcleos da fibra muscular estão reunidos em estruturas denominadas de “sacos” no centro da região de recepção. Receptores secundários – são compostos por fibras do tipo II e, portanto, de menor calibre (± 8 micrômetros) e menor velocidade de condução nervosa. Fibras intrafusais de cadeia nuclear (três a nove em cada fuso muscular) – são menores em relação às de saco nuclear, com metade do comprimento e diâmetro e com os núcleos posicionados lado a lado. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COMENTÁRIO As terminações dos receptores primários podem ser estimuladas pelos dois tipos de fibras intrafusais, enquanto as terminações dos receptores secundários só podem ser estimuladas pelas fibras de cadeia nuclear. Quanto ao estiramento... Um estiramento lento leva ao que denominamos resposta estática, e a estimulação enviada pelos receptores primários e secundários é diretamente proporcional ao tamanho do estiramento. No entanto, quando ocorre um estiramento rápido, a resposta dinâmica acontece, e apenas os receptores primários são ativados. O fuso muscular é ativado pelo estiramento excessivo do músculo. Como resposta, produz uma contração involuntária desse mesmo músculo num ato reflexo denominado reflexo miotático ou reflexo de estiramento. Comumente vemos esse reflexo sendo testado por meio de uma “martelada” sobre o ligamento patelar e abaixo da patela; mas o teste pode ser igualmente realizado no tendão de outras articulações. Observe a imagem: Teste do reflexo patelar (miotático) e ação do fuso muscular. A martelada produz um estiramento no quadríceps ativando o fuso muscular, e um impulso será enviado para a medula espinal através de um neurônio aferente (em verde). O estímulo entrará pela parte posterior da medula espinal e fará sinapse com um neurônio eferente (em vermelho). Este enviará um estímulo para o músculo quadríceps que foi estirado para que ele contraia. ATENÇÃO O reflexo miotático ocorre muito rapidamente e envolve apenas dois neurônios (um aferente e um eferente), protegendo, assim, os músculos de um estiramento excessivo. Observe que, ao mesmo tempo que o neurônio aferente fez sinapse com o neurônio eferente, ele também fez uma sinapse com um interneurônio, que por sua vez fez uma nova sinapse com um outro neurônio eferente (em azul), este produzirá uma resposta de relaxamento na musculatura antagonista à musculatura do quadríceps (que foi estirada). Essa ação facilita o movimento protetor e ocorre ao mesmo tempo em queocorre o reflexo miotático. Esta ação é denominada de inibição recíproca. SAIBA MAIS Os músculos envolvidos em movimentos grosseiros, como o quadríceps, contêm menos quantidade de fusos musculares, enquanto músculos como os que se localizam nas mãos e realizam movimentos finos e mais complexos contêm mais fusos musculares. ÓRGÃO TENDINOSO DE GOLGI (OTG) O outro proprioceptor muito importante é o órgão tendinoso de Golgi (OTG) que se localiza perpendicularmente na junção miotendinosa do músculo. Cada OTG está relacionado a um conjunto de 10 a 15 fibras musculares. Quando uma tensão excessiva é produzida por uma contração muscular, o OTG gera um relaxamento reflexo no músculo que está realizando a contração: o reflexo miotático inverso ou reflexo de estiramento inverso. Esse reflexo também é muito simples e envolve apenas três neurônios: 1 Um aferente que conduz o estímulo do OTG até a medula espinal. Um interneurônio. 2 3 O eferente que conduz o estímulo inibitório até o músculo que estava realizando uma tensão excessiva. COMENTÁRIO Parece que indivíduos com maior tempo de treinamento de força conseguem de forma voluntária se opor a ação do OTG e, dessa forma, manter uma tensão elevada por mais tempo, o que, provavelmente, implique melhor desempenho. No entanto, não podemos esquecer que os proprioceptores (fuso muscular e OTG) exercem uma função protetora do músculo estriado esquelético, seja de um estiramento, seja de uma tensão excessiva. O estiramento passivo do músculo estriado esquelético também parece ser capaz de ativar o OTG e gerar um relaxamento da musculatura estirada. Em função disso, é comum observarmos atletas com câimbras sendo alongados passivamente para aliviar o desconforto gerado provavelmente por uma hiperestimulação dos motoneurônios alfa, em função de uma maior sensibilidade dos fusos musculares e uma menor atividade dos OTGs gerado pela fadiga imposta pelo exercício. O CONTROLE NEURAL DO MOVIMENTO O especialista Ercole da Cruz Rubini explica como se dá o controle neural do movimento e a ação dos proprioceptores: VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 4 Reconhecer como o músculo responde a determinados exercícios e sua relação com o desempenho. RELAÇÃO COMPRIMENTO/TENSÃO E O DESEMPENHO DA FORÇA O músculo estriado esquelético altera a sua capacidade de produção de força durante a sua amplitude de movimento articular. EXPLICAÇÃO BIOMECÂNICA EXPLICAÇÃO FISIOLÓGICA EXPLICAÇÃO BIOMECÂNICA Sugere que a variação do braço de alavanca do músculo esquelético, à medida que o movimento acontece, interfere diretamente na sua capacidade de produção de força. EXPLICAÇÃO FISIOLÓGICA Sugere que a capacidade de fazer mais conexões entre a cabeça da miosina e o sítio da actina G gera mais pontes cruzadas, explicando essa capacidade alterada de produção de força conforme o comprimento do sarcômero. Existe uma relação direta entre a capacidade que uma fibra muscular tem de gerar força e o número de pontes cruzadas de miosina diretamente conectadas com o sítio da actina. Dessa forma, quanto mais conexões existirem, maior a geração de força e vice-versa. Portanto, o comprimento inicial do músculo determina essa quantidade de conexões, existindo um comprimento “ótimo” para geração de força. Em um músculo muito alongado, existem poucas ou nenhuma possibilidade de conexões entre a cabeça da miosina e a actina, diminuindo ou até mesmo impedindo a produção de tensão. Por outro lado, um músculo muito encurtado terá uma aproximação grande das suas linhas Z e o desparecimento da zona H, limitando também a possibilidade de conexões. Estudos realizados em animais já demonstraram que uma alteração no comprimento muscular é capaz de alterar a curva de comprimento/tensão. Naqueles que realizaram uma imobilização do músculo numa posição de encurtamento, foram demonstradas uma queda significativa da quantidade de sarcômeros em série, diminuindo o comprimento do músculo e, consequentemente, alterando a curva comprimento/tensão. Sarcômeros com diferentes distâncias entre as linhas Z Imagem: Shutterstock.com Existem também estudos em animais que fizeram o contrário, em que imobilizaram o músculo numa posição alongada, e verificaram que a quantidade de sarcômeros em série aumentou, assim como o comprimento muscular, o que também alterou a curva comprimento/tensão. RESUMINDO Sabe-se que o treinamento muscular pode desencadear uma possível alteração do comprimento do músculo, alterando sua curva comprimento/tensão. Assim, temos uma relação clara em alterações da curva comprimento/tensão, e um aumento ou uma diminuição no comprimento do músculo. A avaliação da movimentação da curva pode ser usada para uma possível intervenção. ALONGAMENTO MUSCULAR E O DESEMPENHO DA FORÇA O alongamento muscular ainda é um assunto que envolve muitos mitos e dúvidas. É por meio de exercícios de alongamento muscular que se treina a capacidade motora flexibilidade. Existem diferentes métodos de exercícios de alongamento muscular. Entre os mais conhecidos estão: O alongamento estático (passivo ou ativo) ALONGAMENTO ESTÁTICO Exercícios de alongamento em que se sustenta uma posição por alguns segundos. Pode ser passivo, quando realizado com ajuda de alguém ou anteparo; ou ativo, quando realizado pelo próprio indivíduo a ser alongado. javascript:void(0) Alongamento estático ativo à esquerda e alongamento estático passivo à direita. O alongamento dinâmico ALONGAMENTO DINÂMICO Pode ser realizado em baixa velocidade ou alta velocidade. É conhecido na literatura como alongamento balístico. São exercícios de flexibilidade realizados em movimento com grandes amplitudes. Normalmente, são utilizados em esporte de alto rendimento. A facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) COMENTÁRIO O alongamento estático é o mais executado e o mais estudado. Por isso, há mais evidências científicas para responder a algumas questões e desmistificar outras. Em relação ao desempenho da força, é imprescindível separar o efeito agudo do crônico no desempenho. Um outro ponto importante é considerar se os exercícios de alongamento realmente estão sendo realizados de acordo com o que a literatura científica preconiza. Infelizmente, ainda existe uma grande confusão em função de termos inadequados que foram criados por alguns autores sem a aprovação da comunidade científica, além de protocolos que utilizam variáveis de treinamento completamente diferentes das recomendadas pela literatura e das utilizadas na prática. Isso compromete a validade e aplicabilidade desses estudos. Caso esses dois aspectos não sejam atentamente observados, pode haver uma série de pontos de confusão, e não é raro isso acontecer. Agudamente, ou seja, logo depois do exercício de alongamento, parece que o alongamento estático e a FNP podem causar uma diminuição do desempenho da força. Segundo recentes revisões da javascript:void(0) literatura, alguns fatores devem ser considerados em relação a essa diminuição do desempenho da força. Ao que parece, a força é diretamente afetada pelo tempo de manutenção na posição, pois há evidências de que, quando um mesmo grupo muscular é alongado por períodos iguais ou maiores que 60 segundos, esse efeito deletério é intensificado. ATENÇÃO Quando outros exercícios dinâmicos fazem parte das atividades de preparação, sem a realização de alongamento estático antes do exercício principal, esse efeito deletério é diminuído. A intensidade do alongamento, entre outros fatores, é outra variável que tem gerado equívocos, pois ela é baseada em parâmetros subjetivos, tendo como recomendação que seja realizada no ponto em que se inicia a sensação de dor ou desconforto, tornando-se algo impossível de ser quantificado devido à grande variabilidade entre os indivíduos. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Recentemente, o American College of Sports Medicine (ACSM) recomendou que não se realize exercício de alongamento estático antes deatividades que exijam força ou potência. Em relação ao alongamento dinâmico, alguns estudos apontam ser uma boa estratégia a realização antes da atividade física principal, inclusive como parte do aquecimento. Cronicamente, sabe-se que a realização do alongamento estático aumenta a secreção de hormônios altamente anabólicos, como o Mecano Fator de Crescimento (MGF, do inglês Mechano Growh Factor ), e isso irá contribuir para que o indivíduo hipertrofie e ganhe mais força muscular, melhorando seu desempenho. Essa premissa é reforçada por diversos estudos experimentais que, embora não tenham investigado os mecanismos fisiológicos, já mostraram um efeito crônico positivo do alongamento estático sobre o desempenho. Estudos com indivíduos destreinados demonstraram ganhos de força com a realização de exercícios de flexibilidade com alongamentos estáticos de forma isolada. Os efeitos crônicos do alongamento dinâmico e da FNP sobre a força ainda são uma incógnita. Sendo assim, parece estar bem definido que o indivíduo que pretende aumentar a sua força ou hipertrofiar não pode prescindir do treinamento de flexibilidade. Nesse caso, o profissional de saúde responsável deve planejar corretamente como e quando esse tipo de treinamento será realizado para que uma capacidade motora não seja afetada negativamente pela outra. TREINAMENTO FUNCIONAL Uma modalidade de exercício que ganhou a simpatia dos praticantes foi o treinamento funcional (TF), que, conforme o próprio nome sugere, baseia-se na funcionalidade, com exercícios o mais próximo possível das atividades de vida diária (AVDs). Dessa forma, os movimentos devem ser todos multiplanos e integrados, tentando reproduzir ao máximo as AVDs do beneficiário com o objetivo de assegurar que no dia a dia esses movimentos sejam realizados com maior eficiência, autonomia e segurança. ATENÇÃO Nessa modalidade existe uma preocupação com o movimento, e os músculos e os segmentos não são isolados como muitas vezes pode ocorrer no treinamento de força tradicional. A capacidade funcional está relacionada com a competência para executar tarefas simples do cotidiano com qualidade e sem o auxílio de alguém, ou seja, com total autonomia. Para esse fim, as capacidades motoras como a força, a flexibilidade, a coordenação, o equilíbrio, a resistência muscular e cardiovascular são necessárias. Na realidade, essa premissa não é uma particularidade do TF, pois o treinamento desportivo sempre teve essa prerrogativa, tendo em vista que uma de suas bases é o princípio da especificidade. No entanto, é relevante ressaltar que a preocupação com a especificidade do movimento não é importante apenas para atletas e deve ser considerada para todos os indivíduos. RESGATANDO O CONCEITO! Um treinamento que obedece ao princípio da especificidade é aquele que reproduz da forma mais fiel possível a modalidade em que há necessidade de melhoria de desempenho. No caso de não atletas, treinar para o dia a dia requer que os movimentos similares aos do cotidiano sejam realizados. RECOMENDAÇÃO Embora nenhum profissional da área da saúde possa prescrever sem antes avaliar seu beneficiário, ainda acontecem casos de profissionais que não avaliam ou avaliam de forma negligente. No TF é fundamental que o profissional conheça bem quais são as atividades que o beneficiário realiza no seu cotidiano, caso contrário se torna impossível realizar uma programação de exercícios que atenda as particularidades envolvidas em cada caso. javascript:void(0) O treinamento da capacidade motora força é bastante enfatizado no TF apesar de todas as capacidades motoras serem importantes e treinadas. O treinamento de força é amplamente recomendado por seus inúmeros benefícios, mas a musculação tradicional pode ser muito analítica e ter essa limitação em relação a sua falta de funcionabilidade, embora cada vez mais existam aparelhos e estratégias adotadas pelos profissionais para o beneficiário fazer exercícios mais próximos dos movimentos de seu cotidiano. Embora o treinamento tenha avançado bastante nesse sentido e nada impeça que o treinamento de força seja completamente funcional, essa crítica ainda é recorrente e pertinente em alguns casos. No treinamento de força e em todo o TF, os exercícios devem priorizar a melhora de padrões de movimento que são necessários para diversas ações, trabalhando sempre nos três planos, com aceleração, desaceleração e estabilização dinâmica, como acontece no dia a dia das pessoas. VOCÊ SABIA Existem estudos que investigaram se o treinamento de força associado a exercícios que exigem também as capacidades motoras flexibilidade, agilidade, equilíbrio, estabilidade central e potência são mais eficientes que o treinamento de força tradicional em alguns marcadores de desempenho funcional em jovens, adultos e idosos. A preparação do indivíduo para o treinamento funcional é algo que também merece um destaque, pois existe um grande foco no padrão de movimento e no desenvolvimento de diversas capacidades motoras de maneira simultânea. Desse modo, alguns autores recomendam que nessa preparação tenham exercícios de mobilidade, coordenação motora, estabilidade central e pré-ativação da musculatura. O TF é mais uma opção de treinamento com múltiplos benefícios aos seus praticantes que, embora já venha sendo praticado por décadas, ganhou notoriedade e maior divulgação recentemente. TREINAMENTO SENSÓRIO-MOTOR E FORÇA Comumente, o treinamento sensório-motor é chamado de treino de propriocepção ou treino proprioceptivo. VOCÊ SABERIA DESCREVER EM POUCAS PALAVRAS O QUE SIGNIFICA PROPRIOCEPÇÃO? RESPOSTA Propriocepção é a capacidade que o indivíduo tem de perceber a localização do seu corpo no espaço, a tensão exercida pelos seus músculos e a posição de cada pedaço do seu corpo em relação aos outros. Tudo isso sem utilizar a visão. A propriocepção foi descrita pela primeira vez por Sherrington em 1906, que em 1932 recebeu o prêmio Nobel de fisiologia. Na época ele descreveu essa capacidade como sendo um feedback que os membros do corpo humano davam constantemente ao sistema nervoso central. Observe que, já nessa época, o entendimento, embora rudimentar, era correto. Os receptores localizados nas articulações, nos tendões e nos músculos recebem estímulos mecânicos initerruptamente que são enviados ao sistema nervoso central, onde são processados. Caso necessário, respostas motoras são enviadas para ajustes do movimento e, dessa forma, manter as estruturas preservadas de possíveis lesões. Tudo isso ocorre com muita rapidez e de maneira inconsciente e involuntária. O treino sensório-motor é mais uma ferramenta disponível para os profissionais de saúde que trabalham com o movimento aprimorarem a propriocepção e a resposta muscular, aumentando a estabilidade estática e dinâmica por meio de programas profiláticos e terapêuticos de lesões musculares. Atualmente, sabe-se que, quando um indivíduo faz atividade física, automaticamente ele desenvolve respostas e adaptações benéficas com maior consciência postural e maior coordenação entre seus membros. Entretanto, o risco de uma lesão é permanente, principalmente em se tratando de atletas que dependem de um desempenho sempre muito próximo do seu limite físico. Sendo assim, um comprometimento proprioceptivo aumenta o risco de quedas, entorses e lesões em geral. Esse déficit é comum em indivíduos sedentários e agravado, à medida que se envelhece, por fadiga devido ao excesso de exercício, estresse ou intervenções cirúrgicas, como uma reconstrução do ligamento cruzado anterior. javascript:void(0) Treinamento sensório-motor sem implemento. Dessa forma, o treinamento sensório-motor foi inserido em praticamente todos os programas de treinamento, fazendo parte de uma rotina, inclusive na preparação para a atividade principal nos trabalhos de aquecimento, por sua atuação preventiva de diferentes tipos de lesões. Com esse tipo de exercício, desenvolve-se uma proteção para asestruturas envolvidas na realização do movimento humano, conseguindo um menor tempo entre a ativação do proprioceptor e a resposta reflexa protetora. Além disso, parece que são exercícios altamente motivantes, possibilitando uma excelente aderência por parte dos seus beneficiários. Treinamento sensório-motor unilateral em plataforma instável. Além disso, atualmente contamos com uma série de equipamentos disponíveis no mercado para facilitar a execução dos exercícios, embora possam ser realizados sem nenhum tipo de implemento, bastando que o profissional tenha amplo domínio sobre o assunto. Treinamento sensório-motor bilateral em plataforma instável. RESPOSTA MUSCULAR AO EXERCÍCIO O especialista Ercole da Cruz Rubini explica a relação comprimento/tensão, o alongamento, o treinamento funcional e o treinamento sensório-motor: VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo, abordamos a estrutura e a função do músculo estriado esquelético, e como se dá processo de contração muscular desde os impulsos neurais. Aprendemos a diferença entre hipertrofia e hiperplasia e a influência do tipo de fibra muscular no desempenho esportivo. Conhecer esses parâmetros é fundamental para a prescrição de exercícios de forma a atender objetivos variados. Em seguida, foram vistos os mecanismos fisiológicos da ação protetora involuntária do fuso muscular e do órgão tendinoso de Golgi, que respaldam alguns tipos de treinamento, como o sensório-motor. A aplicação prática desse e de outros tipos de treinamento, como o de flexibilidade e funcional, também foram abordados. Ainda existem muitas questões a serem respondidas sobre o funcionamento do sistema músculo esquelético, mas, com as novas técnicas investigativas, algumas começam a ser desvendadas pelos cientistas. Por isso, ao profissional, recomenda-se uma constante atualização por meio da leitura de artigos científicos, da participação em congressos, cursos e similares para atualização e, consequentemente, melhor atendimento aos seus beneficiários. PODCAST Agora, o especialista Ercole da Cruz Rubini encerra o conteúdo falando sobre os principais pontos de cada módulo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ERHMAN, J. K.; GORDAN, P. M.; VISICH, P. S.; KETEYIAN S. Fisiologia do exercício clínico. 3. ed. São Paulo: Phorte, 2017 KENNEY, W. L.; WILMORE, J. H. e COSTILL, D. L. Fisiologia do esporte e do exercício. 7. ed. São Paulo: Manole, 2020. McARDLE, W. D.; KATCH, F. I. e KATCH, V. L. Fisiologia do Exercício: Nutrição, Energia e Desempenho Humano. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. PENFIELD, W.; RASMUSSEN, T. The cerebral cortex of man; a clinical study of localization of function. Macmillan, 1950. POWERS, S. K. e HOWLEY, E. T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 9. ed. São Paulo: Manole, 2017. RASO, V.; GREVE, J. M. D.; POLITO, M. D. Pollock. Fisiologia Clínica do Exercício. 1. ed. São Paulo: Manole, 2012. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo: Leia o artigo sobre a proteína titina, de Ercole C. Rubini e Paulo S. C. Gomes: A titina e suas implicações na elasticidade muscular: uma breve revisão. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. 3(1): 20-25, 2004. Consulte também o artigo sobre treinamento funcional, de Marzo E. S. Grigoletto, Antônio G. R. Neto e Cauê V. L. S. Teixeira. Treinamento funcional: uma atualização conceitual. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desenvolvimento Humano. 22: 1-6, 2020. Consulte o artigo A importância da propriocepção na prevenção e recuperação cinético- funcional esportiva de Bauer. CONTEUDISTA Ercole da Cruz Rubini CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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