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FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Direito Anna Carolina Masiero APLICABILIDADE DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA NO ÂMBITO DO DIREITO Pará de Minas 2016 Anna Carolina Masiero APLICABILIDADE DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA NO ÂMBITO DO DIREITO Monografia apresentada à Coordenação do curso de Direito da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do bacharelado em Direito. Orientadora: Professora Mestre Eunaihara Ligia Lira Marques Pará de Minas 2016 Anna Carolina Masiero APLICABILIDADE DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA NO ÂMBITO DO DIREITO Monografia apresentada à Coordenação do curso de Direito da Faculdade de Pará de Minas como requisito parcial para a conclusão do bacharelado em Direito. Aprovada em _____/_____/_____ __________________________________________________________ Prof.ª Ms. Eunaihara Ligia Lira Marques ___________________________________________________________ (título e nome do professor examinador) ___________________________________________________________ (título e nome do professor examinador) Dedico esse trabalho a todos que me oportunizaram concretizá-lo. Agradeço a Deus, aos meus pais e a contribuição da minha orientadora e coorientadora, Eunaihara e Elaine, que estiveram disponíveis e tanto se empenharam para me ajudar no deslinde deste tema. “O que está em vida é inacabado. Os mortos são completos. A ânsia por perfeição é, na verdade, na profundeza, uma ânsia pela morte. Para que fiquemos em vida, temos que respeitar o inacabado.” Bert Hellinger RESUMO Esta monografia objetiva apresentar a aplicação da abordagem da Constelação Sistêmica no contexto do direito, elucidando o tema jurídico denominado Direito Sistêmico, criado por Sami Storch, Juiz de Direito da Comarca de Amargosa-BA. Essa tese fundamenta-se no recurso terapêutico da Constelação Sistêmica, utilizado como método alternativo de solução de conflitos, para descongestionar o fluxo de processos judiciais, com o máximo de respeito ao ser humano, trazendo para a consciência das partes, a real motivação que as leva ao litígio. Trata-se de um instrumento psicológico que pode ser utilizado pelos operadores do direito que, quando em contato com as partes, proporcionarão a identificação dos antecedentes que ocasionaram, de fato, os pontos de atrito. As Constelações Sistêmicas provocarão nos litigantes a necessidade de perquirir o sentimento que se encontra estagnado no seu subconsciente, advindo, muitas vezes, de desavenças pendentes não solucionadas no âmbito familiar. A proposta do Direito Sistêmico, por ser nova, é passível de adequações, pesquisas e práticas, embora, como se encontra, já vem apresentando resultados positivos. Palavras-chave: Constelação Familiar. Constelação Sistêmica. Direito Sistêmico. Solução de conflitos. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 ACESSO À JUSTIÇA: LIMITAÇÕES E PROPOSTAS ALTERNATIVAS ............. 10 2.1 Métodos tradicionais e alternativos de soluções de conflitos ...................... 11 2.1.1 Jurisdição ......................................................................................................... 12 2.1.2 Equivalentes Jurisdicionais .............................................................................. 13 2.1.2.1 Autotutela ..................................................................................................... 13 2.1.2.2 Autocomposição ......................................................................................... 14 2.1.2.3 Mediação ...................................................................................................... 15 2.1.2.4 Conciliação .................................................................................................. 15 2.1.2.5 Arbitragem ................................................................................................... 16 3 DIREITO SISTÊMICO ............................................................................................ 17 4 COMPREENDENDO A CONSTELAÇÃO SISTÊMICA FAMILIAR E SEUS TERMOS ................................................................................................................... 19 4.1 Fundamentos das Constelações Familiares ................................................... 20 4.1.1 Ordens do amor ............................................................................................... 20 4.1.1.1 Lei do pertencimento .................................................................................. 21 4.1.1.1.1 A consciência pessoal ou individual ........................................................... 22 4.1.1.1.2 A consciência coletiva ou oculta ................................................................. 23 4.1.1.1.3 A consciência ampla ................................................................................... 23 4.1.1.2 Lei da Hierarquia ......................................................................................... 24 4.1.1.3 Lei do equilíbrio entre dar e receber .......................................................... 25 5 APLICABILIDADE E BENEFÍCIOS DO DIREITO SISTÊMICO ............................ 26 5.1 Como se aplica a Constelação Familiar? ........................................................ 29 5.2 Exemplo da aplicabilidade da Constelação Familiar...................................... 30 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 33 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35 8 1 INTRODUÇÃO Sabe-se que a Justiça brasileira possui volumoso número de processos à espera de decisão nos tribunais, acrescido de diversas possibilidades de recursos, que agravam a situação. A esse abarrotamento de trabalho para julgá-lo, Almeida, Almeida e Crespo (2012) afirmam que se deve à morosidade do nosso sistema, da ausência de efetividade de julgamentos, resistência de muitos profissionais e pela carência de novas formas de adequação das soluções. Assim, a percepção entre os profissionais do direito aos chamados meios alternativos de soluções de conflitos, como por exemplo, a arbitragem, a mediação, a conciliação e outros, ainda está prejudicada, pois há poucas tentativas de incorporar outros métodos para desobstruir o fluxo de processos que aumenta a cada dia. Em meio a essas novas possibilidades de soluções de conflitos, a fim de contribuir para a celeridade de seu andamento, além de proporcionar eficácia em seus julgamentos, há uma nova proposta estudada e implantada pelo Juiz brasileiro Sami Storch, desde 2006, que se chama“Direito Sistêmico”. Essa proposta é baseada na teoria da Constelação Sistêmica Familiar desenvolvida pelo terapeuta e filósofo alemão Bert Hellinger. Ciência, esta, que já vem sendo implantada nas Varas de Família, Criminais e de Infância e Juventude, com pleno êxito1. Os conflitos entre os indivíduos, de um modo geral, são sempre delicados para se compreender e trabalhar. Geralmente, as causas variam de forma profunda e complexa. As soluções adotadas atualmente por muitos profissionais do Direito em relação às sentenças determinadas, trazem soluções imediatas, e, às vezes, até uma interrupção da relação conflituosa. Entretanto, em muitos casos não são capazes de solucionar a questão do ponto de vista etiológico e oportunizar maior harmonia entre as partes. Assim, o Direito Sistêmico apresenta a possibilidade de encontrar solução sustentável e equilibrada para todos os implicados, principalmente porque propõe mecanismos de análise do sistema como um todo, ou seja, observando a partir da perspectiva dos envolvidos. Por isso oferece um olhar integral ao ser humano. 1 Disponível em: <https://direitosistemico.wordpress.com/> 9 Desta maneira, o Direito Sistêmico visa à aplicabilidade da ciência jurídica a partir de um viés terapêutico. A proposta defendida por Sami Storch é utilizar as leis sistêmicas e o direito como mecanismos de tratamento das questões geradoras dos conflitos, visando proporcionar o restabelecimento da saúde do sistema, como um todo2. Como se observa, o presente estudo possui o objetivo de oferecer melhor compreensão acerca do préstimo das Constelações Sistêmicas no meio jurídico, com o intuito de buscar maior celeridade, respeito e profundidade nas soluções conflituosas. Por se tratar de um método novo e ainda sendo operacionalizado, vale a pena ressaltar que há poucos trabalhos e nenhuma doutrina específica sobre o tema. Entretanto, o estudo fora baseado em obras disponíveis em acervos físicos e eletrônicos de domínio público, como artigos, livros, além de buscas em sites oficiais, igualmente fundamentado pelas ideias e estudos desenvolvidos e disponibilizados por Sami Storch. 2 Disponível em: <https://direitosistemico.wordpress.com/> 10 2 ACESSO À JUSTIÇA: LIMITAÇÕES E PROPOSTAS ALTERNATIVAS O artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição da República de 1988, assegura que "a lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça de direito". (BRASIL, 1988). Pode ser chamado, também, de Princípio do Direito de Ação. Diante da letra da lei, todos têm acesso à justiça, podendo tratar de direitos lesionados ou de ameaças a ele, todavia, este direito social possui obstáculos para quem deseja utilizá-lo, considerando as diferenças impostas pela distribuição de renda atual, que cria camadas e subcamadas populacionais. Muitas pessoas que têm seu direito ofendido, o renunciam diante da burocracia e morosidade do sistema jurisdicional, além dos gastos que necessitam despender por causa de idas e vindas ao fórum para acompanhar o andamento do processo, para obter documentos, sem contar com o essencial pagamento de honorários ao advogado. Vale enfatizar, ainda, que apesar da gratuidade, os nobres defensores públicos encontram-se abarrotados de processos. Conforme o artigo 8º, inciso I, da Convenção Internacional Interamericana sobre Direitos Humanos – Pacto de San José de Costa Rica: Artigo 8º - Garantias judiciais 1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. (AMERICANOS, 1969). Esse acesso à Justiça é bastante criticado por sua demora e onerosidade, sendo a sentença considerada injusta em determinados casos. Diante disso, a sociedade, inúmeros profissionais, instituições e órgãos competentes, clamam por alternativas funcionais e buscam inovações no sistema jurídico que, de acordo com Cappelletti e Garth (1988), vieram através, do que pode se chamar de Ondas. Os mesmos autores asseguram o seguinte: A primeira solução para o acesso – a primeira “onda” desse movimento novo – foi a assistência judiciária; a segunda dizia respeito às reformas tendentes a proporcionar representação jurídica para os interesses “difusos”, especialmente nas áreas da proteção ambiental e do consumidor; e o terceiro – e mais recente – é o que nos propomos a chamar simplesmente “enfoque de acesso a justiça” porque inclui os posicionamentos anteriores, mas vai muito além deles, representado, dessa 11 forma, uma tentativa de atacar as barreiras ao acesso de modo mais articulado e compreensivo. (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p.31). É certo que o direito está em constante transformação, fato que permite corrigir as falhas passadas e adaptar-se a uma sociedade mutável em seus costumes, tradições e crenças. Com essa abertura ao novo, ou seja, às recentes possibilidades de acesso e resolução de conflitos, surgiram alguns métodos alternativos, como por exemplo, a arbitragem, conciliação, mediação, além de tribunais sociais e outros, que visam solucionar pacificamente as divergências, proporcionando maior harmonização das relações interpessoais a partir da celebração de acordos entre os envolvidos. 2.1 Métodos tradicionais e alternativos de soluções de conflitos Em busca de decisões mais justas, eficazes, eficientes e céleres, têm-se utilizado instrumentos de ação social participativa, onde os envolvidos decidem qual a melhor forma de solucionarem os seus problemas particulares. Há casos em que, diante da simplicidade e singularidade de seu objeto de direito, acabam sendo abandonados devido à demora em serem solucionados judicialmente. E, quando abordados, acabam por abarrotar o Judiciário atrasando os demais processos que, muitas vezes, são mais complexos e dispendiosos. Desta forma, as soluções pacíficas de conflitos vêm sendo cada vez mais valorizadas pelos profissionais do direito. O Código de Processo Civil de 2015 traz em seu artigo 3º, a seguinte determinação: Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. (BRASIL, 2015a). Sob esse aspecto vale salientar que a inovada lei reservou toda uma seção para salvaguardar e orientar os profissionais que atuam na área jurídica, a fim de que sejam colocadas em prática as soluções alternativas de conflitos. 12 Segundo Daniel Amorim Assumpção Neves (2016): Ainda que por razões óbvias tal seção se limite a regulamentar a mediação ou conciliação quando já instaurado o processo, quando o ideal seria que elas justamente evitassem sua existência, o diploma processual é inovador e sai da abstração do “conciliar é legal” para a criação de uma estrutura e de um procedimento que realmente possa incrementar a conciliação e a mediação como forma de solução do conflito e por consequência a extinção do processopor sentença homologatória da autocomposição. Entendo extremamente positiva a iniciativa do legislador, até porque, se há essas formas consensuais de solução dos conflitos, é melhor que exista uma estrutura organizada e um procedimento definido e inteligente para viabilizar sua realização da forma mais ampla possível. (NEVES, 2016, p.85). Os princípios norteadores que viabilizam a realização desta prática, de acordo com o artigo 1º, do Anexo III, da Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça, são: a confidencialidade, a decisão informada, a competência, a imparcialidade, a independência, a autonomia, o respeito à ordem pública, as leis vigentes, o empoderamento e a validação. Esses princípios autenticam e conduzem mais esta facilidade de acesso à justiça, onde as partes ficam seguras pela homologação judicial sem o risco da morosidade quanto à sua tramitação e as despesas que um procedimento comum naturalmente acarreta. Em meio às possibilidades de resolução dos litígios que batem à porta do sistema judiciário, torna-se possível falar sobre jurisdição e seus equivalentes, todos resumidamente descritos a seguir: 2.1.1 Jurisdição Entende-se por jurisdição o poder constituído ao Estado para solucionar desavenças, disputas, conflitos dentre outros, com interesse de resguardar a ordem jurídica e a autoridade da lei. Considerado um método tradicional, onde geralmente, há um terceiro envolvido que se denomina “Juiz”, e para ele, são levados os envolvidos através de seus advogados, os pedidos, as defesas e provas. Assim, são analisados todos os documentos e, com fundamento na lei, profere-se uma decisão chamada sentença. Atualmente, este meio, devido ao excesso de lides, vem sendo considerado o mais moroso, despendendo tempo, dinheiro, desgaste físico e mental das partes. 13 Segundo Neves (2016): A jurisdição pode ser entendida como a atuação estatal visando a aplicação do direito objetivo ao caso concreto, resolvendo-se com definitividade uma situação de crise jurídica e gerando com tal solução a pacificação social. Note-se que neste conceito não consta o tradicional entendimento de que a jurisdição se presta a resolver um conflito de interesses entre as partes, substituindo suas vontades pela vontade da lei. Primeiro porque nem sempre haverá conflito de interesses a ser resolvido, e segundo porque nem sempre a atividade jurisdicional substituirá a vontade das partes. (NEVES, 2016, p.80) Diante disso, foram criados os equivalentes jurisdicionais, anteriormente mencionados, como a autotutela e as formas consensuais de soluções de conflitos: autocomposição, mediação, conciliação e arbitragem. 2.1.2 Equivalentes Jurisdicionais Os equivalentes jurisdicionais, segundo Sales e Chaves (2014) surgem a partir da complexidade dos conflitos e pela necessidade de oferecer à sociedade mecanismos de solução mais rápidos e especializados. Esses mesmos autores relatam que os equivalentes jurisdicionais podem oferecer o empoderamento entre as partes envolvidas na solução dos conflitos, estimulando o hábito do diálogo e da comunicação pacífica para a resolução da lide. São métodos alternativos fundamentados nos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia, da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada que se acham elencados no artigo 166 do Código de Processo Civil de 2015. (BRASIL, 2015a) Dentre os tipos de equivalentes jurisdicionais podemos citar: 2.1.2.1 Autotutela A autotutela é considerada uma forma arcaica de resolução de conflitos, onde uma parte impele sua vontade ao outro litigante, e não há um terceiro como juiz e nem, a princípio, o envolvimento do Estado. No Direito Civil, a autotutela não é permitida, levando em consideração que é entendida como "fazer justiça com as próprias mãos". Já no Direito Penal, as formas permitidas no Brasil, atualmente, são a legítima defesa, a greve e o desforço 14 imediato (posse). O artigo 23 do Código Penal dispõe que não há crime quando o agente age em legítima defesa, tendo, assim, a ilicitude excluída. A legítima defesa ocorre quando alguém repele uma agressão injusta contra si ou a terceiro. Entretanto, essa defesa deve ser moderada de modo a impedir a investida. Mormente, tal tutela resulta em cometimento de ilícitos que serão excluídos caso comprovada a sua necessidade.(BRASIL, 1940) Já a greve é direito constitucionalmente constituído e trata-se de interrupção temporária, coletiva e voluntária do trabalho com a finalidade de obter benefícios como aumento de salário, diminuição de horas trabalhadas, entre outros. Este direito encontra-se ratificado pela Constituição Federal de 1988, pela Lei 7.783 de 1989 e outras. Além dos supracitados modos de autotutela, existe o desforço imediato que, segundo o artigo 1.210, do Código Civil, “o possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado”. No parágrafo 1º do referido artigo o desforço imediato é garantido no sentido de que o “o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; só atos de defesa ou de desforço os quais não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse”. (BRASIL, 2002) Nestes três casos mencionados, a pessoa poder fazer uso da força, impondo a solução à outra pessoa que esteja lhe ferindo ou tentando ferir o seu o direito. 2.1.2.2 Autocomposição Considera-se autocomposição a forma de solução de conflitos onde uma das partes renuncia ao seu direito, em todo ou em parte, em face de outrem, encontrando respaldo no artigo 3º, §2º, do Código de Processo Civil de 2015. Conforme descreve Neves (2016, p.87): O que determina a solução do conflito não é o exercício da força, como ocorre na autotutela, mas a vontade das partes, o que é muito mais condizente com o Estado Democrático de Direito em que vivemos. Inclusive é considerado atualmente um excelente meio de pacificação social porque inexiste no caso concreto uma decisão impositiva, como ocorre na jurisdição, valorizando-se a autonomia da vontade das partes na solução dos conflitos. 15 Está subdividida em transação, submissão, renúncia e reconhecimento. A primeira ocorre quando ambos os litigantes cedem parte de seu direito, a segunda quando apenas uma das partes desiste de sua pretensão em prol da solução do conflito, a renúncia é a submissão, entretanto é feita em juízo pelo autor, e o reconhecimento é feito pelo réu. 2.1.2.3 Mediação A mediação constitui um método de facilitação para resolução de conflitos que utiliza o recurso e técnicas de comunicação. Com a ajuda de um terceiro neutro e imparcial, entre os envolvidos no conflito, permite que haja “confronto” de ideias e pontos de vista em busca de uma solução consensual3. Fundamentada pela Lei nº 13.140, de 26 de Junho de 2015, a mediação é definida pelo seu parágrafo único do artigo 1º, como “atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia". (BRASIL, 2015b) Quando um terceiro denominado Mediador, imparcial e treinado fomenta o diálogo entre as partes a fim de alcançar a solução da lide, conduzindo a conversa e direcionando as questões debatidas que, em aproximadamente duas ou três sessões, podem ser solucionadas. O § 3º do artigo 165 do Código de Processo Civil, dispõe que o mediadoratuará nos casos onde houver vínculo anterior entre as partes e as instigará sobre as possibilidades para que encontrem a melhor solução para o litígio. 2.1.2.4 Conciliação Assim como a Mediação, a Conciliação tem por objetivo solucionar pacificamente o conflito. Entretanto, o conciliador possui função mais ativa, tendo em vista que, ao contrário de induzir as partes a encontrarem a solução, ele apenas sugere tal possibilidade. 3VIANNA, Marcio dos Santos. Mediação de conflitos: Um novo paradigma na Administração da Justiça. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XII, n. 71, dez 2009. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6991>. Acesso em nov 2016. 16 Insta salientar que o conciliador se prima pela imparcialidade devendo observar a melhor e mais justa possibilidade para a solução do conflito, fazendo com que os litigantes abram mão de parte de suas vontades, para se beneficiarem de outras formas. O Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução 125, de 29 de novembro de 2010, instituiu os Centros Judiciais de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSCs), onde são realizadas audiências de Conciliação e Mediação. Para reforçar esse entendimento, o novo Código de Processo Civil trouxe no artigo 3º, §3º, que os métodos de solução consensual de conflitos devem ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, a qualquer tempo do procedimento judicial. 2.1.2.5 Arbitragem Nesta modalidade, as partes escolhem um terceiro chamado árbitro – qualquer pessoa capaz que obtenha a confiança das partes, que deverá proceder com imparcialidade, independência, competência, diligência e discrição. Porém, se aplica apenas às questões de natureza patrimonial. Está assegurada pela Lei 9.307/96, e sua decisão é impositiva, ou seja, independe da vontade das partes. Esse método encontra parâmetro na referida lei, e como explica Neves (2016), trata-se de corrente majoritária: Para a corrente doutrinária que entende ser a arbitragem uma espécie de jurisdição privada, existem dois argumentos principais: (i) a decisão que resolve a arbitragem é atualmente uma sentença arbitral, não mais necessitando de homologação pelo juiz para ser um título executivo judicial (art. 515, VII, do Novo CPC), o que significa a sua equiparação com a sentença judicial; (ii) a sentença arbitral torna-se imutável e indiscutível, fazendo coisa julgada material, considerando-se a impossibilidade de o Poder Judiciário reavaliar seu conteúdo, ficando tal revisão jurisdicional limitada a vícios formais da arbitragem e/ou da sentença arbitral, por meio da ação anulatória prevista pelos arts. 32 e 33 da Lei 9.307/1996. (NEVES, 2016, p.111-112) Os litigantes poderão escolher as regras de direito que serão aplicadas ou serão observados os princípios gerais do direito. A decisão do árbitro deverá ser escrita, contendo o relatório, os fundamentos da decisão, o dispositivo, a data e o lugar. 17 3 DIREITO SISTÊMICO O termo “Direito Sistêmico” desenvolvido por Sami Storch, por volta do ano de 2006, surgiu da interligação de duas áreas das ciências humanas: o direito e a psicologia, a partir da teoria das Constelações Sistêmicas Familiares, desenvolvida Bert Hellinger. Desse modo, pode-se dizer que o direito sistêmico é uma ciência que integra essas duas áreas, com o interesse de propor estratégias de resoluções de conflitos, a partir de uma análise e compreensão profunda das relações interpessoais envolvidas. Assim, o direito sistêmico, pode ser considerado uma nova ferramenta jurídica que objetiva resolver as demandas levadas pelos envolvidos no conflito, a partir de estratégias que possibilitem a compreensão, consciência e harmonização dos litigantes. Para Sami Storch4 os autos de um processo dificilmente apontam com exatidão a complexa e profunda origem dos conflitos estabelecidos pelas pessoas em interação. Sami Storch propõe então que o conhecimento dessa ciência possa oportunizar uma compreensão mais profunda do conflito, o que possivelmente leva a uma resolução mais eficaz e satisfatória. Storch (2015) defende em seu artigo intitulado: "Direito Sistêmico: primeiras experiências com constelações no judiciário", que: Os conflitos surgem no meio de relacionamentos e, nas palavras de Bert Hellinger, “os relacionamentos tendem a ser orientados em direção a ordens ocultas. […] O uso desse método faz emergir novas possibilidades de entender o contexto dos conflitos e trazer soluções que causam alívio a todos os envolvidos”. O mero conhecimento dessas ordens ocultas, descritas por Hellinger como as “ordens do amor”, permite a compreensão das dinâmicas dos conflitos e da violência de forma mais ampla, além das aparências, facilitando ao julgador adotar, em cada caso, o posicionamento mais adequado à pacificação das relações envolvidas.5 4Juiz de Direito no Estado da Bahia, atualmente em exercício na Comarca de Valença. graduado na Faculdade de Direito da USP, Mestrado em Administração Pública e Governo (EAESP-FGV/SP) e Doutorando em Direito na PUC-SP, com tese em desenvolvimento sobre o tema "Direito Sistêmico: a resolução de conflitos por meio da abordagem sistêmica fenomenológica das constelações familiares" - Disponível em: <https://direitosistemico.wordpress.com/2010/11/29/o-que-e-direito-sistemico/> Acesso em:15 set 2016. 5 STORCH, S. O que é direito sistêmico. 2010. Disponível em: <https://direitosistemico.wordpress.com/2010/11/29/o-que-e-direito-sistemico/> Acesso em: 25 set. 2016. 18 Dessa maneira, para uma melhor compreensão sobre o funcionamento, os termos envolvidos e os argumentos utilizados pela constelação sistêmica familiar para sustentar uma compreensão profunda dos conflitos nas relações interpessoais, se faz necessária a exposição das principais questões relacionadas por essa teoria. 19 4 COMPREENDENDO A CONSTELAÇÃO SISTÊMICA FAMILIAR E SEUS TERMOS Segundo Possato6 (2008) a teoria ou método denominado Constelação Sistêmica Familiar é considerado como uma psicoterapia do tipo breve que enfatiza as emoções e as energias do inconsciente, segundo essa perspectiva, elas influenciam e interferem em nossas decisões. Foi desenvolvida por Bert Hellinger (terapeuta e filósofo), por volta da década de 70, e chegou ao Brasil aproximadamente em 1999. Possato (2008) ainda relata que a aplicabilidade tem sido em tratamentos diversos, na busca de soluções no âmbito jurídico e organizacional, até mesmo no desenvolvimento de produtos, estratégias, soluções para criação de roteiros, divulgação e propaganda. “A dinâmica dessa teoria afirma que existe uma ligação inconsciente que influencia mutuamente as pessoas que convivem dentro de um sistema: seja uma família, uma empresa, um departamento, uma cidade ou até um país” (POSSATO, 2008). Desse modo, a aplicabilidade nas mais variadas situações interpessoais está ganhando espaço, inclusive no âmbito da resolução de conflito no sistema judiciário. Segundo Bert Hellinger (2001), citado por Dias (2014, p.6) “sistema significa um grupo de pessoas que está unido pelo 'destino', de maneira que os atos de cada um influenciam nos destinos uns dos outros, inclusive através de gerações”. Para a constelação sistêmica familiar, muitas dificuldades ou problemas interpessoais enfrentados por nós, sãoconsequências de implicações “mal resolvidas” no âmbito do sistema familiar que sobrepuja as relações sociais. Assim, a constelação sistêmica familiar propõe a compreensão e exteriorização da dinâmica do sistema familiar, a fim de identificar os bloqueios, ou as implicações que foram transmitidas de geração a geração, através de “campos morfogenéticos”, que são considerados campos não físicos que levam informações, e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perder sua essência. O que oportunizam as revelações daquilo que se precisa ser posto em evidência. (VERDE, 2000). Verde7 (2000) propõe que é através dessas compreensões e reconstruções do sistema familiar da pessoa que se encontram os bloqueios do “fluxo amoroso”. 6Alex Possato – professor de constelação familiar sistêmica e terapeuta sistêmico 7 Celma Villa Verde é Terapeuta de Formação de Constelação da América Latina e trabalha com Constelações desde 1999. 20 A fim de desvelar a etiologia dessa concepção, ou seja, em que base foi construída a ideia de que informações são transmitidas de geração a geração, vale a pena ressaltar que Dias (2014) descreve acerca da longa experiência que Hellinger teve na África do Sul, além de suas outras vivências como terapeuta, o que o oportunizou a identificar fenômenos de repetições que passavam de geração a geração nas tribos e cultura nas quais ele estava inserido. Mais tarde com influências de muitas correntes como: a fenomenologia, a filosofia, a psicanálise e outras, Heliinger percebeu alguns pressupostos ou leis que concerne a uma compreensão mais ampla do que vem a ser a teoria da constelação familiar (DIAS, 2014). Esses pressupostos ou leis são chamados de Ordens do Amor que serão discutidas posteriormente. Quando estas ordens são ignoradas, possibilitam a geração de caos, conflitos e até mesmo doenças. (DIAS, 2014). 4.1 Fundamentos das Constelações Familiares As Constelações Familiares, como já mencionado, possuem alguns princípios ou ordenações básicas preestabelecidas, que devem presidir nossos comportamentos. Através dessas ordenações, os sistemas familiares se equilibram. São leis que quando contrariadas, podem gerar confusão, conflitos, brigas e etc. 4.1.1 Ordens do amor Para Bert Hellinger (1999): Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas amar bastante e tudo ficará bem. (…). Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor. (HELIINGER, 1999, on-line) As leis sistêmicas regem nossos comportamentos e exercem papel fundamental no equilíbrio e manutenção do sistema familiar. Atuam além do indivíduo, independentemente da vontade das pessoas. A todo o momento, o homem segue determinados padrões e normas para viver pacificamente em sociedade. No sistema familiar e nas relações como um todo não é diferente essa 21 busca. Estas ordens foram chamadas Ordens do Amor, subdivididas em Lei do Pertencimento, Lei da Hierarquia e a Lei do Equilíbrio entre Dar e Receber. Cada uma delas possui profundo significado para o Sistema. A obediência deste campo familiar a uma hierarquia rígida deve ser respeitada, pois seu rompimento traz sérias consequências na ordem e harmonia familiar. (HELLINGER, 1999). 4.1.1.1 Lei do pertencimento Para Tescarolli e Gonçalves (“s.d.”) a lei do pertencimento diz respeito à vinculação e reconhecimento estabelecidos para cada pessoa que nasce em um sistema. Isto é, cada um de nós necessita do reconhecimento como membro constituinte de um lugar e um papel dentro de uma dinâmica familiar. Isso equivale dizer que ninguém pode ser excluído, independentemente de suas dificuldades, características, ou virtudes pessoais. Quando ocorre uma “exclusão” no sistema familiar acontece o desequilíbrio. “E esta situação pode passar a ser vivida por um descendente, sem que necessariamente tenha conhecimento ou afinidade com o antepassado excluído” 8. De acordo com Hellinger, traduzido por Anand Udbuddha (2009), todos os seres possuem o direito de pertencer a algum grupo e por tanto, o sistema não condescende com exclusões. Exemplo disso é a Alienação Parental. Quando o genitor começa a desmerecer e diminuir o outro genitor para a criança, causando raiva, aversão ao próprio pai ou mãe, ou seja, desenvolvendo a exclusão, para aquele no qual está sendo negada a possibilidade do convívio. Nestes casos, geralmente, a criança deixa de querer ver o pai, de visitá-lo. E esta é uma forma de exclusão. Torna-se um padrão que vai acontecendo de geração em geração. Dias (2014) explica que: Um excluído é algum participante do sistema que sofreu a grave injustiça de ter sido negada sua inclusão no grupo. Muitas vezes um participante mais recente deste grupo tende a representar o participante excluído através de uma “pressão sistêmica”, de modo a restaurar o equilíbrio interno do grupo, passando a cumprir as funções que o excluído exercia na dinâmica do todo. 8 TESCAROLLI, Lilia; GONÇALVES, Fernando AB. Leis Sistêmicas: 1 A hierarquia. Disponível em: <http://carpesmadaleno.com.br/gerenciador/doc/09e7d4994e8515df65380e9e0a690b48leis_sistemica s.pdf>. Acesso em: 04 de nov. de 2016. 22 Isto acontece através das identificações, também nomeadas envolvimentos ou emaranhamentos ao longo dos trabalhos de Hellinger. (DIAS, 2014, p.8) Quando isso ocorre, surge a “necessidade inconsciente de compensação, que faz com que os excluídos ou desprezados sejam mais tarde representados por algum outro membro da família, sem que essa pessoa tenha consciência de fato”. (HELLINGER, 2009, on-line). Comumente este representante, é o membro mais novo da família que começa a ter atitudes semelhantes às do excluído. Hellinger ainda informa que: Muitos acontecimentos infelizes na família como, por exemplo, desvios de comportamento dos filhos, doenças, acidentes e suicídios acontecem pelo fato de que um filho inconscientemente representa um excluído e quer dar- lhe reconhecimento. Nisso se revela ainda uma outra propriedade da instância superior. Ela faz reinar justiça para com aqueles que vieram antes e injustiça para os que vêm depois9. A Lei do Pertencimento trata do fato de que independente da forma como a pessoa aja, ou seja, ela possui um lugar próprio no Sistema. Diante disso, para se falar em pertencer, há que se falar em grupo. Os sistemas familiares são divididos em grupos que também são fragmentados, por exemplo, grupo familiar, empresa, sociedade, comunidade, país etc. Cada grupo possui um tipo de consciência. Cumpre salientar que cada fato determinante em uma família, de vida e de morte, marca o sistema. É um emaranhamento sistêmico e normalmente gera uma exclusão, como por exemplo, quem tira a vida de alguém. O agressor começará a pertencer ao sistema do agredido e vice versa. Segundo Storch (2016) exclui-se pela dor de reconhecer uma verdade. (Informação verbal) 10. Para Hellinger (2001) citado por Dias (2014), a consciência funciona como peça de equilíbrio do sistema do grupo, que acusa imediatamente se o indivíduo encontra-se ou não em equilíbrio e harmonia com o mesmo. Pode-se falar em três tipos de consciência, pessoal, coletiva e ampla. 4.1.1.1.1 A consciência pessoal ou individual 9 HELLINGER, Grupo. Bert Hellinger. Disponível em: <http://www2.hellinger.com/br/pagina/bert- hellinger/bert-hellinger/>Acesso em: 12 out. 2016. 10 Conhecimento obtido através do Workshop ministrado por Sami Storch, em Belo Horizonte/MG no dia 29/10/2016. 23 Hellinger (2001) citado por Dias (2014) diz que a “consciência pessoal ou individual geralmente não está relacionada com verdades universais, e sim com visões de mundo relativas ao grupo que o indivíduo faz parte”, ou seja, retrata a ligação entre o participante e o seu sistema. É como cada Ser Humano se vê e aprende, dentro de seu grupo familiar, o que é bom ou ruim, certo ou errado. Proporcionando as ferramentas básicas para a participação em seu grupo de referência. (DIAS, 2014, p11). Exemplo disso é a Paternidade Socioafetiva. A criança requer seja retirado o nome do genitor para que seja incluído o nome do pai socioafetivo em seu Registro de Nascimento, porque ela acredita que seu pai biológico não lhe deu nada, inclusive afeto, e o outro a criou como se filho fosse e neste momento, o pai ausente é excluído do grupo familiar daquela criança. 4.1.1.1.2 A consciência coletiva ou oculta Dias (2014) afirma que: A consciência coletiva protege os grupos e se refere à humanidade como um todo, atuando num nível sistêmico mais amplo no qual a humanidade forma um único conjunto, e, em seus diversos grupos, se iguala. Enquanto a consciência pessoal é parcial e moral, a consciência coletiva não tolera exclusões. (DIAS, 2014, p.11) Entretanto, para Hellinger (2001) citado por Dias (2014) essa consciência não é diretamente percebida por seus participantes, mas favorece que seus componentes utilizem de fidelidade para o pertencimento naquele grupo. Pois, agindo conforme o que se espera naquele sistema, tendem a pertencer a ele, e consequentemente exclui-se os que não compartilham com as mesmas ideias e desejam fazer diferente. Nela não se tolera espaços vazios, sendo que tudo e todas que são excluídos da consciência familiar, a coletiva abarca. Entretanto, esta consciência coletiva está a serviço da perpetuação do sistema. Nela, não importa quem preencherá o espaço vazio, contanto que ele esteja preenchido. Em geral, se o excluído não preenche seu espaço, o mais novo a entrar no grupo familiar, por amor, preencherá. 4.1.1.1.3 A consciência ampla 24 Para Mattos (2012) trata-se da consciência que supera os limites das demais, para além do bem e do mal e do pertencimento e da exclusão. Diferentemente das outras, abrange todas as consciências, sem julgamentos de certo ou errado. Nela todos pertencem assim como são, com suas boas ou más consciências. O Ministro Luiz Fux, do STF, quando relator da matéria, assim dispôs: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com todas as suas consequências patrimoniais e extrapatrimoniais”11. Esta é uma forma de incluir o que fora excluído. A paternidade socioafetiva tendia a excluir a biológica, entretanto, o sistema encontrou uma forma de dar ao genitor seu lugar no grupo familiar do filho, pois sem ele, aquela criança sequer teria nascido para ter um pai socioafetivo. Todos estão incluídos de alguma forma, até mesmo os que já morreram, ou seja, agrega-se ao sistema, os filhos vivos, os natimortos e os falecidos, os pais e seus irmãos, os ancestrais, dentre eles os que foram mortos e os que mataram, os violentos e suas vítimas, os que contribuíram para a morte e para a vida. 4.1.1.2 Lei da Hierarquia Para Tescarolli e Gonçalves12 a lei da hierarquia ou ordem de chegada, diz respeito à posição ou lugar em que o indivíduo chegou ou surgiu na família. Isto é, refere-se à prioridade de chegada em relação aos demais. Esses mesmos autores descrevem que os mais velhos possuem um lugar prioritário, uma vez que foi através deles que a família veio se mantendo. Assim, por exemplo, ocorre em relação aos pais e filhos, o pai é hierarquicamente superior ao filho e o filho mais velho é hierarquicamente superior ao filho mais novo. Quando a pessoa se casa e tem filhos, esta nova família passa a ter prioridade em relação à família de origem. E nos relacionamentos, o primeiro 11 FUX, Luiz. Voto do Ministro Luiz Fux, relator do Recurso Extraordinário n.º 898.060/SP impetrado por A. N versus F. G. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE898060.pdf>. Acesso em 05 de nov. de 2016. 12 TESCAROLLI, Lilia; GONÇALVES, Fernando AB. Leis Sistêmicas: 1 A hierarquia. Disponível em: <http://carpesmadaleno.com.br/gerenciador/doc/09e7d4994e8515df65380e9e0a690b48leis_sistemica s.pdf>. Acesso em: 04 de nov. de 2016. 25 parceiro está em primeiro lugar em relação ao parceiro seguinte e assim por diante. É como se o último reconhecesse que pela perda do primeiro, ele hoje tem um lugar no sistema. 4.1.1.3 Lei do equilíbrio entre dar e receber A Lei do Equilíbrio entre dar e receber, segundo Bert Hellinger citado por Tescarolli e Gonçalves13 é algo de fundamental importância para o funcionamento e manutenção dos sistemas de uma forma geral. O pai dá a vida ao filho, que a recebe. Como o filho não pode dar a vida ao pai, a retribui tendo filhos e vivendo a própria vida plenamente. Sistemicamente, os filhos precisam dos pais, mas os pais não precisam dos filhos e quando essa ordem é invertida os problemas começam. Salienta-se que o equilíbrio entre pais e filhos difere dos outros relacionamentos, pois os pais dão aos filhos no mínimo a vida, e neste caso não se pode retribuir vida devolvendo-a, mas sim fazendo bom uso do presente dado. Em relacionamentos que não sejam de pai e filho, uma pessoa dá algo a outra, fato que gera uma pressão natural em quem recebe, no sentido de retribuir. Como exemplo, quando o marido dá flores para sua mulher. Gera nela uma pressão natural para retribuir-lhe o presente. Por esse motivo ela faz um jantar especial para ele, que sentirá pressionado e a compensará com outra surpresa. 13 TESCAROLLI, Lilia; GONÇALVES, Fernando AB. Leis Sistêmicas. Disponível em: <http://fgmaster.com.br/artigos/artigo.php?id=6> Acesso em: 10 out. 2016. 26 5 APLICABILIDADE E BENEFÍCIOS DO DIREITO SISTÊMICO Sami Storch, precursor na aplicabilidade e desenvolvimento do Direito Sistêmico no Brasil, cita em seu artigopublicado em 2015 que a visão sistêmica vem assessorando-o em sua prática desde que ingressou na magistratura, e que vem lhe dando suporte na compreensão dos casos interpessoais, em ações judiciais nas áreas familiar, criminal e até na área da infância e juventude. Além de colocar em prática a teoria sistêmica nas audiências, Storch realiza palestras vivenciais, através das quais explica o método das Constelações, a partir de seus casos efetivados. Schubert (2016), conta ainda que Storch começou a usar essa técnica em encontros de conciliação, alcançando impressionantes resultados com casais que estavam em conflito. Storch (2015) explica que: Uma das bases do direito sistêmico é a consideração pela pessoa e pela bagagem que ela traz (família). Um indivíduo não pode ser tratado isolado, ele tem que ser encarado como um sistema, formado por ele próprio, pelo pai e pela mãe. Se queremos conhecer alguém ou a nós mesmos nós precisamos assimilar a origem desse ser. Todos gostam de ser reconhecidos. Muitas pessoas ingressam com processos na Justiça por conta de um motivo, mas quando é feita a análise mais profunda, é possível verificar que o problema maioré que elas foram desconsideradas pelo outro ou sofreram um gesto de não reconhecimento14. Para Sami Storch, (2015) a “Constelação Familiar é um instrumento que pode melhorar ainda mais os resultados das sessões de conciliação, abrindo espaço para uma Justiça mais humana e eficiente na pacificação dos conflitos”. Hellinger (2013) citado por Storch (2015) diz que os conflitos surgem no “meio de relacionamentos que tendem a ser orientados em direção a ordens ocultas”. Dessa forma, Storch (2015) defende que o uso dessa teoria possibilita novas oportunidades de compreender o contexto dos conflitos, oportunizando soluções que tendem a harmonizar todos os envolvidos. Vale a pena ressaltar que a Resolução 125/2010 do CNJ, sustenta a abertura para a criação de novas formas razoáveis de solução consensual de conflitos. 14 STORCH, Sami. Direito Sistêmico: primeiras experiências com constelações no judiciário.In Filosofia, Pensamento e Prática das Constelações Sistêmicas – nº 4. São Paulo: Conexão Sistêmica, 2015. Disponível em:<https://direitosistemico.wordpress.com/2015/10/08/revista- filosofia-pensamentos-e-praticas-das-constelacoes-sistemicas-no-4/> Acesso em: 19 out. 2016. 27 Assim, o direito sistêmico pode ser encarado como uma das alternativas possíveis. O parágrafo único do artigo 1º dessa mesma resolução explica que: Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art. 334 do Novo Código de Processo Civil combinado com o art. 27 da Lei de Mediação, antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. 15 Do mesmo modo, o atual Código de Processo Civil defende a natureza consensual de solução de conflitos. E como as Constelações Sistêmicas Familiares vêm ganhando força no meio jurídico, pode-se dizer, portanto, que seria uma boa opção utilizá-la como ferramenta para auxiliar na busca efetiva dessa solução. Para evidenciar alguns resultados positivos com o uso da referida teoria apresentada, Bandeira16 (2014) nos informa o magistrado Sami Storch já atingiu um índice de acordos em 100% dos processos judiciais, onde as partes aceitam e submetem-se ao método terapêutico. Guilherme Fernandes Souza Silva, advogado e palestrante aborda a aplicação das leis sistêmicas no judiciário, no estado do Maranhão, em notícia apresentada pelo Núcleo de Comunicação do Fórum de São Luiz (MA), esclarece que: Queremos mostrar como a observância e a aplicação das Leis Sistêmicas, através da própria Constelação Sistêmica Familiar, uma abordagem eminentemente empírico-filosófica, sem qualquer ligação religiosa, holística ou metafísica, podem ajudar a encontrar a reconciliação e a paz nas famílias, já que a partir da sua percepção é possível alcançar as questões e disputas processuais dos litigantes com um olhar mais amplo, imparcial e verdadeiro17. Storch (2015) aponta que há outras áreas e casos de aplicabilidades da constelação e que também vem obtendo êxito, tais como: interrogatório de crianças 15 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Resolução 125, de 29 nov. 2010. Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2579> Acesso em: 07 de mai.2016. 16 Regina Bandeira da Agência de Notícias do Conselho Nacional de Justiça. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62242-juiz-consegue-100-de-acordos-usando-tecnica-alema-antes- das-sessoes-de-conciliacao 17 SANTANA, Valquíria. Palestra aborda aplicação das leis sistêmicas no Judiciário. Publicado em 23 fev. 2016.Disponível em: <http://www.tjma.jus.br/cgj/visualiza/sessao/50/publicacao/411661> Acesso em 20 out. 2016. 28 e adolescentes; constelações em instituições de acolhimento (abrigo); adoção; área criminal com agressores, vítimas e agentes do Estado; constelações com adolescentes autores de atos infracionais, suas famílias e vítimas; etc. O Direito Sistêmico vem se ampliando na formatação do judiciário. Seus proveitos estão registrados nas várias reportagens e manifestações publicadas nos Tribunais do Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Maranhão, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Goiás, dentre outros18. Como depoimento há uma matéria disponibilizada pelo site do Poder Judiciário do Mato Grosso, a advogada Rosana Kally S. de Medeiros, relatou que: Achei que iria encontrar uma audiência comum de conciliação, mas ao chegar me deparei com uma técnica muito interessante, que é a constelação familiar. Tanto eu quanto as partes estávamos um pouco céticos no início, mas quando chegou a vez deles, o envolvimento e a comoção foram tão grandes, que não tínhamos mais como negar que funciona19. À medida que é testado e estudado no Brasil, o Direito Sistêmico ganha força e recursos para ser aplicado, ampliando conhecimentos e oportunidades para que o ser humano encontre, cada vez mais, o equilíbrio entre os seus. Ainda como exemplo, em outra entrevista20 à TV Brasil, Magáli Gomes21 afirmou que a partir da incorporação do direito sistêmico no judiciário possibilitará “para muitas famílias uma oportunidade, que muitas vezes elas não têm em casa, no trabalho e etc. de conversar, de ver e de olhar com novos olhos”. Em síntese, o Direito Sistêmico, além de trazer resultados favoráveis para os envolvidos, tende a diminuir custos, desafogar o fluxo de processos que vieram se acumulando ao longo dos anos, bem como os novos que chegam a cada dia. Ademais, a aceitação das Constelações no meio jurídico cresce a cada dia, em diversos estados e em inúmeras áreas, obtendo conciliações em quase todos os casos em que elas são aplicadas. 18 https://direitosistemico.wordpress.com 19 VIANNA, Mariana. Oficina de Direito Sistêmico muda vida de casal. 2016. Disponível em: <http://www.tjmt.jus.br/noticias/45137#.WB4KkNIrLIW>. Acesso em: 05 de nov. de 2016. 20 GOMES, Magali. (2016, março). Entrevista: Tribunal de Justiça do DF começa a usar técnica das constelações familiares para resolver conflitos Entrevista concedida a Tv Brasil.TV Brasil. Recuperado a partir de: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=2mTtrVjoRcY. Acesso em 04 de nov. de 2016. 21Magáli Gomes é juíza da Vara Cível, de Família e de Órfãos e Sucessões do Núcleo Bandeirante no Distrito Federal. 29 5.1 Como se aplica a Constelação Familiar? Segundo Ulsamer (2010), citado por Verde (2012), o método da Constelação Familiar, em uso prático, por exemplo, ocorre da seguinte forma: Primeiro é necessário para o cliente ter uma razão específica para colocar sua constelação. O requisito é frequentemente uma pergunta acerca da causa de certos sentimentos conflitantes (depressão, sentimento de culpa, etc.) ou acerca da causa de relações perturbadas na família. Primeiro o cliente dá ao terapeuta fatos essenciais acerca da sua família nas últimas 02 ou 03 gerações. Perguntas importantes que precisam ser respondidas são: Quem morreu cedo (antes dos 25 anos)? Houve crimes cometidos por membros da família? Por acaso algum membro da família carrega um pesado sentimento de culpa por alguma razão? Os pais tiveram relações amorosas prévias, e elas tiveram consequências dignas de nota (ex: agressões, emigrações, nascimentos fora docasamento, adoção, etc.)? Então o cliente escolhe entre os membros do grupo, pessoas para representar seus pais, irmãos, a si mesmo e outros membros importantes da família. Também são representados membros da família que já morreram. Espontaneamente e centrado, o cliente posiciona cada representante, um em relação ao outro, na área de trabalho. Os representantes em seus respectivos lugares, sentem as relações desse sistema e percebem sentimentos das pessoas que elas representam. Esse efeito é ainda um fenômeno inexplicável. Durante o trabalho prático com constelações, o terapeuta aprende a confiar nesse fenômeno mais e mais e a deixar-se levar por ele. (Traduzido do inglês do texto original extraído do site do Dr. BertholdUlsamer, com permissão do autor. Tradutor Décio Fábio de Oliveira Júnior). 22 É formado um grupo, sendo que nele está incluído o cliente, o facilitador (pessoa orientada que conduz a Constelação) e os representantes (podem ser pessoas, bonecos, ou qualquer outro instrumento). Dentro do espaço físico demarcado para que se realize a Constelação, ocorre o efeito fenomenológico onde surgem os movimentos advindos dos representantes que se direcionam a solução do problema. O cliente vê onde ele está paralisado e sente a necessidade, a partir daí, de modificar a questão, que, através da intervenção do facilitador, são utilizadas frases que levam na direção da solução. A maioria dos conflitos está além do indivíduo, atuando independentemente da vontade das pessoas. Os envolvidos não percebem que existe uma estória por trás das adversidades que estão vivendo. Como exemplo, é o caso do Divórcio Litigioso. 22 VERDE, Celma Nunes Villa. Constelações familiares em diferentes contextos nacionais. 2012. Disponível em: < http://www.constelacaofamiliar.com.br/index.php/artigos/69-contelacoes-familiares- em-diferentes-contextos-nacionais>. Acesso em: 04 de nov. de 2016 30 Em geral, um dos litigantes não deseja se separar e por isso busca várias formas de protelar o andamento do processo e em alguns casos graves, usa até mesmo os filhos como pretexto, fazendo com que as crianças entrem na relação conflituosa dos pais e optem por um lado, sendo que não deveriam ter que escolher, pois somente se divorciamos cônjuges, e não dos filhos. Portanto, é notório que a utilização da técnica tem, como principal objetivo, enxergar de forma profunda e atenta, o que os papéis de um processo, muitas vezes, encobrem. Storch (2015) ressalta que não há embasamento jurídico para obrigar as partes a fazerem qualquer tipo de terapia, assim os envolvidos antes das audiências de conciliação são convidados a participar desse “diálogo”, e os que se prontificam, ou seja, concordam espontaneamente, informam qual o tipo de ação judicial e posteriormente colocam suas questões. Assim, o profissional habilitado nesta técnica dá início ao desenvolvimento e aplicabilidade da constelação. 5.2 Exemplo da aplicabilidade da Constelação Familiar A título de exemplo, um trecho da aplicabilidade da teoria será relatado abaixo, a fim de possibilitar uma melhor compreensão da utilidade, bem como da eficácia da terapia. Em ações de divórcio litigioso, envolvendo guarda de filhos menores, existe a possibilidade de se escutar o que a criança tem a dizer sobre os pais. Basicamente, nessas audiências, o filho precisa dizer quem é o genitor "bom" e quem é o genitor "mal". Naturalmente a criança possui dentro de si, parte da genética e características da mãe e parte do pai. Quando ela precisa decidir com quem deseja viver e quem é melhor para criá-la, ela é forçada, internamente, a dizer que uma parte dela não é boa. Sistemicamente, o filho nunca deve opinar nas decisões a serem tomadas pelos pais, que são hierarquicamente superiores. Se ele interfere, automaticamente escolhe um lado. Sabendo disso, o juiz pode fazer com que os litigantes tomem a melhor decisão, observando os interesses do filho, sem que ele tenha de suportar uma carga que não é dele. 31 Sami Storch organiza palestras vivenciais, seleciona um tema específico, por exemplo, Divórcios Litigiosos com pedido de guarda, chama as partes destes procedimentos. No local explica sobre os vínculos sistêmicos e como funciona a Constelação. Pergunta quem deseja olhar para o próprio litígio, daí a pessoa se apresenta e faz a Constelação. Os conflitos podem surgir em qualquer lugar e entre quaisquer pessoas. Na igreja, dentro de casa, nas escolas, no trabalho, na rua, no trânsito, etc. Atualmente, um acordo se faz mais importante que uma demanda, tendo em vista que as partes se sentem injustiçadas e por isso buscam recursos e sobrecarregam acumulam o judiciário, em vez de solucionarem e decidirem por conta própria. Sami Storch diz que “quando uma das partes chega para fazer audiência você precisa conversar com ela, enxergar a situação além da pessoa e realmente entender o problema que ela está passando”23. Segundo Storch (2016), a Constelação pode ser aplicada a qualquer momento do processo, tendo a aceitação das partes e podendo ser feita de forma individual, com bonecos e outras ferramentas, ou em grupo, com a colaboração de pessoas que serão os representantes. (Informação verbal24) O método é amplo e pode ser utilizado em qualquer situação, principalmente nas que são complexas, como na de Infância e Juventude, Empresarial, Família, Sucessões e Criminal. São inúmeras as possibilidades. Atualmente, nas diversas comarcas onde a técnica tem sido utilizada, como nas Varas de Família, Sucessão e na Justiça Restaurativa25, pode ser utilizado a qualquer momento do processo e com qualquer uma das partes ou com todas. Nos tempos atuais, é feita, geralmente, antes da audiência de mediação ou conciliação. Insta salientar que, se uma das partes decide, sozinha, por fazer a constelação familiar, afeta todas as outras que com ela estão conectadas. Em caso 23 STORCH, Sami. Direito Sistêmico: primeiras experiências com constelações no judiciário.In Filosofia, Pensamento e Prática das Constelações Sistêmicas – nº 4. São Paulo: Conexão Sistêmica, 2015. Disponível em:<https://direitosistemico.wordpress.com/2015/10/08/revista- filosofia-pensamentos-e-praticas-das-constelacoes-sistemicas-no-4/> Acesso em: 19 out. 2016. 24 Palestra proferida por Sami Storch em Workshop em Belo Horizonte/MG no dia 29 de out. 2016. 25Segundo o CNJ, a Justiça restaurativa é uma técnica de solução de conflitos que prima pela criatividade e sensibilidade na escuta das vítimas e dos ofensores. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62272-justica-restaurativa-o-que-e-e-como-funciona> Acesso em: 21 out. 2016. 32 análogo, numa ação de divórcio litigioso, a mulher que está com raiva do marido porque ele teve um relacionamento extraconjugal, decide se separar. Designa-se audiência preliminar conciliatória e ela não comparece. O requerido decide por fazer a Constelação Sistêmica sem a presença da autora. Utiliza-se representantes, ele fala frases de efeito, dizendo que sente muito por seu ato e que ele não mediu as consequências, mas que ainda a ama. A representante concorda e se sente aliviada. É determinado que sejam as partes intimadas para apresentarem contestação e impugnação. Alguns dias após a audiência frustrada, o marido procura a mulher, que teve, sem entender porque, sua raiva dissipada, os dois conversam, entram em acordo, reatam o casamento e pedem a extinção do processo sem o julgamento do feito. Na sentença, não há necessidade de constar que fora realizada uma ConstelaçãoSistêmica. Ela deve servir para uma orientação das partes e do magistrado, sobre qual a melhor decisão a ser tomada. Os litigantes não são obrigados a fazer uma Constelação, vão apenas os que desejam, até porque, para que ela se realize, há a necessidade de que pelo menos uma das partes queira. Cumpre ressaltar, ainda, que as Constelações podem ser realizadas por pessoas que tenham treinamento na área. O facilitador não precisa necessariamente ter conhecimento em Direito,e pode agir em conjunto com o profissional jurídico. O Direito Sistêmico ainda não pode ser considerado uma ciência, tendo em vista que está em fase de definição. A psicoterapia Constelações Sistêmicas, nesta proposta, está sendo introduzida como uma ferramenta para o Direito, que pode ser aplicada em qualquer momento da lide, antes ou durante o processo. 33 6 CONCLUSÃO O Direito Sistêmico, conforme já conceituado e explicitado, é um mecanismo de suporte que pode ser utilizado para a solução rápida e consensual de conflitos. Sua aplicação pressupõe prévio conhecimento pelo juiz, dos fatos geradores do litígio, que colocado à disposição das partes, as conscientiza sobre a necessidade de reflexão do passado para reduzir o atrito e solucionar o impasse. Trata-se de instrumento psicológico utilizado pelos operadores do direito e principalmente pelo magistrado, que quando em contato com as partes, proporcionará a identificação dos antecedentes que ocasionaram a obstrução de fatos passados, e com a utilização do recurso terapêutico denominado Constelações Sistêmicas, gerará nos litigantes a necessidade de perquirir o sentimento que se encontra estagnado no seu subconsciente, advindo, muitas vezes, de atritos pendentes até então não solucionados no âmbito familiar. Insta salientar que no fulgor do litígio, a emoção “ofusca” a razão e a busca de fatos antecedentes que se fazem imprescindíveis, nem sempre, devido ao acúmulo de audiências e a necessidade da celeridade processual, tão reclamada pela sociedade, permite a análise mais acurada de tais elementos. Porém, quando aplicado este recurso, o julgador acaba por economizar tempo, porque após a realização de suas atividades nas audiências conciliatórias, é capaz de solucionar definitivamente alguns impasses. É pertinente ressaltar que a eficácia e o êxito são atestados pelo precursor do Direito Sistêmico no Brasil, Dr. Sami Storch, que incentiva o uso desse método entre os operadores do direito, a fim de possibilitar mais um recurso para a tão almejada solução pacífica de conflitos. Storch relata em suas palestras vivenciais sobre Direito Sistêmico, desenvolvidas em várias regiões do Brasil, “que atingiu êxito utilizando o método sistêmico em 100% de suas conciliações”, o que nos permite acreditar que há uma funcionalidade prática no método, oportunizando alívio, conforto, resolutividade e harmonia para os envolvidos nos mais variados tipos de conflitos. Portanto, a aplicação desse método faz com que cada magistrado e envolvidos se moldem a cada situação específica, ou seja, a operacionalidade desta ciência irá variar de acordo com cada demanda apresentada. Desse modo, é possível que ao utilizar com maior frequência esse método alternativo para a solução de problemas ele se torne mais consolidado, como 34 suporte eficaz em benefício, tanto dos operadores do direito quanto da sociedade. Entretanto, por se tratar de uma teoria recente inserida no campo do direito, houve certa dificuldade para encontrar pesquisas em livros e publicações em periódicos conceituados, por isso não há um número expressivo de citações de artigos científicos. O tema é vasto, complexo e demanda investimentos e mais sustentabilidade, assim, sugere-se que outros acadêmicos e pesquisadores venham a discutir, pesquisar e refletir sobre o tema apresentado para que se possa oferecer um respaldo e suporte mais cientifico na aplicabilidade e eficácia deste método. 35 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. A.; ALMEIDA, T.; CRESPO, M. H. Tribunal Multiportas: investindo no capital social para maximizar o sistema de solução de conflitos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012. AMERICANOS, Organização dos Estados. PACTO DE SAN JOSÉ DE COSTA RICA. San José: Organização dos Estados Americanos, 1969. BANDEIRA, Regina. Juiz consegue 100% de acordos usando técnica alemã antes das sessões de conciliação. 2014. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/62242-juiz-consegue-100-de-acordos-usando- tecnica-alema-antes-das-sessoes-de-conciliacao>. Acesso em: 04 de nov. de 2016. BRASIL. Código Civil. In: palácio do Planalto, 2002. 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