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Jundiaí 2020 SILVIA KARINA CASTRO SILVA DIREITO SISTÊMICO CONSTELAÇÃO FAMILIAR APLICADA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO DE FAMÍLIA Jundiaí 2020 DIREITO SISTÊMICO CONSTELAÇÃO FAMILIAR APLICADA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO DE FAMÍLIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera Jundiaí, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. Orientador: Ana Paula Matsuo SILVIA KARINA CASTRO SILVA SILVIA KARINA CASTRO SILVA DIREITO SISTÊMICO CONSTELAÇÃO FAMILIAR APLICADA A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS NO DIREITO DE FAMÍLIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Anhanguera Jundiaí, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Ana Paula Janzon Prof.º Geraldo Casoti Jundiaí, 17 de junho de 2020 Dedico este trabalho a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que meu sonho se tornasse realidade. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por ter me fortalecido nesta caminhada, por cada vez que fraquejei e ELE foi pronto a me ouvir. Aos meus pais, que sempre me apoiaram e me impulsionaram a seguir em frente. Agradeço ao meu amor, por ter abraçado esse sonho comigo, por ter abdicado de suas vontades para que eu concluísse essa caminhada, por ter divido comigo todas as alegrais, as tristezas e as dificuldades, sem reclamar, mas sempre me apoiando e me dedicando palavras de incentivo, a você todo o meu amor e admiração. Agradeço também aos amigos e colegas que fiz durante essa jornada de 5 anos, alguns passaram rapidamente pela minha vida, mas deixaram muito aprendizado e lembranças, já outros estão cravados no meu coração e os levarei para vida. CASTRO SILVA, Silvia Karina. Direito Sistêmico: Constelação Familiar aplicada na resolução de conflitos no Direito de Família. 2020. 36 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito – Faculdade Anhanguera Jundiaí, Jundiaí, 2020. RESUMO Esta monografia visa apresentar de maneira objetiva a pratica do Direito sistêmico através da constelação familiar uma nova técnica que vem sendo utilizada no judiciário Brasileiro, para resolução eficaz e consensual de conflitos no âmbito do direito de família, sendo observada as técnicas de sua aplicação para auxiliar as partes envolvidas no litigio, reestabelecendo a ordem sistêmica do amor, desta maneira possibilitando a resolução harmoniosa entre as partes. Será abordado as técnicas das ordens do amor de Bert Hellinger, que é o principal defensor e teórico da constelação familiar. Abordara também a introdução da técnica de constelação familiar no judiciário brasileiro feita pelo Juiz Sami Storch, e apresentara alguns resultados de comarcas que introduziram essa técnica em suas audiências e seus resultados. Versando ainda, sobre a metodologia de aplicação das constelações familiares como meio alternativo de resolução de conflitos na seara familiar, trazendo uma técnica mais harmônica e integrada, capaz de trazer paz as partes envolvidas no litígio. Palavras-chave: Constelação; Sistêmico; Familiar; Conflitos. CASTRO SILVA, Silvia Karina. Systemic Law: Family Constellation applied in the resolution of conflicts in Family Law. 2020. 36 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito – Faculdade Anhanguera Jundiaí, Jundiaí, 2020. ABSTRACT This monograph aims to objectively present the practice of systemic law through the family constellation a new technique that has been used in the Brazilian judiciary, for effective and consensual resolution of conflicts within the scope of family law, observing the techniques of its application to assist the parties involved in litigation, reestablishing the systemic order of love, thus enabling harmonious resolution between the parties. It will be addressed the techniques of the orders of love of Bert Hellinger, who is the main defender and theoretician of the family constellation. He had also addressed the introduction of the family constellation technique in the Brazilian judiciary made by Judge Sami Storch and presented some results of brands that introduced this technique in their hearings and their results. Furthermore, the methodology of application of family constellations as an alternative means of conflict resolution in the family office, bringing a more harmonic and integrated technique, capable of bringing peace to the parties involved in the dispute. Key-words: Constellation; Systemic; Family; Conflicts. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9 2. DIREITO SISTÊMICO E A CONSTELAÇÃO FAMILIAR .................................. 11 2.1 O QUE É DIREITO SISTÊMICO ..................................................................... 11 2.2 O QUE É CONSTELAÇÃO FAMILIAR ............................................................ 13 2.3 ORDENS DO AMOR OU LEIS SISTÊMICAS .................................................. 15 3. CONSTELAÇÃO FAMILIAR APLICADA AO DIREITO DE FAMÍLIA ............... 17 3.1 ADVOCACIA SISTÊMICA ............................................................................... 18 3.2 METODOLOGIA DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR .......................................... 21 4. CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO .......................... 25 4.1 MÉTODOS ALTERNATIVOS E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL .... 26 4.2 INTRODUÇÃO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO JUDICÍARIO BRASILEIRO. ............................................................................................................ 29 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 33 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36 9 1. INTRODUÇÃO Quando se fala em resolução de conflitos, logo associa-se a processos e mais processos judiciais, litígios que afogam o judiciário aguardando uma solução, o que muitas vezes acaba se estendendo por anos, e que torna o convívio ou a relação entre as partes dolorosas, principalmente se tratando em direito de família. Neste contexto, o Direito Sistêmico é aplicado como uma forma de resolução de conflitos terapêutica, aprofundando nas causas escondidas do conflito, buscando compreender os sentimentos das partes litigantes, resolvendo o conflito nunca focado em apenas uma das partes, mas sim considerando o todo do conflito. O direito sistêmico é o operar dos profissionais do direito, com um olhar mais aprofundado e sistêmico do conflito, buscando conhecer as verdadeiras razões que levaram a lide com reuniões coletivas ou individuais ou audiências de conciliação. Para tanto, utiliza-se as técnicas da Constelação Familiar desenvolvidas pelo filosofo alemão Bert Hellinger, que seguem ordens do amor ou leis sistêmicas descobertas por Hellinger, que regem esta relação de conflito buscando uma solução mais harmoniosa. Este método busca a clareza e rapidez nas resoluções de conflitos, otimizando o tempo de tramitação de processos, mostrando e conquistando segurança na atuação jurídica, por meio da resolução de dilemas de forma mais diligente e eficaz, podendo ocorrer, inclusive, antes ou após a interposição de um processo judicial, e, em qualquer fase em que este se encontre uma lide. De acordo com Bert Hellinger, as ordens do amor ou leis sistêmicas são o alicerce organizador e agregador do pensamentosistêmico, que a todos inclui, respeita e que busca o equilíbrio entre o dar e o receber, regendo, assim, as relações humanas. Neste contexto, o Direito Sistêmico e a constelação familiar, busca a resolução do conflito mais humaniza, não focando apenas em uma das partes, mas sim no conflito como um todo, buscando uma solução em que todas as partes “ganhem” e se sintam acolhidas e assistidas pelo poder judiciário. A Resolução 125/2010 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), discorre em seu art. 7º, que os tribunais deverão criar núcleos para resoluções consensuais de conflitos, o direito sistêmico e a constelação familiar entra neste contexto, sendo 10 utilizada no Brasil como uma forma alternativa de solução amigáveis de conflitos, principalmente no direito de família, mas podendo ser aplicada em outras áreas do direito. O direito sistêmico e a constelação familiar foram inseridas Brasil, pelo Juiz do tribunal de Justiça do Estado da Bahia Sami Storch, que segundo ele, obteve o sucesso de 100% de acordos nos casos em que aplicou as técnicas constelação familiar. Posteriormente outras comarcas foram aplicando as técnicas terapêuticas, visando obter o mesmo sucesso que Storch. Diante disso, este trabalho visou responder o que é e como e aplicado o direito sistêmico na resolução de conflitos, através da constelação familiar, fundindo-se com o ordenamento jurídico e podendo auxiliar os juízes na resolução do conflito pacífica e satisfatória. Como objetivo geral teve-se a verificação de como essas técnicas contribuem para a resolução do conflito humanizado, que seja a melhor para todas as partes envolvidas na lide, e com objetivos específicos de: conceituar o que é o Direito Sistêmico e a Constelação Familiar e como e foram introduzidas no Judiciário; demonstrar como o uso de métodos alternativos, como a Constelação Familiar, pode ajudar todas as partes envolvidas no litigio, incluindo advogados e juízes na solução de conflitos no Direito de Família. A metodologia utilizada foi de pesquisa bibliográfica em livros, artigos, sites que abordam os assuntos supramencionados de forma a trazer os esclarecimentos necessários para a confecção da monografia, buscando também em outras áreas de conhecimento psicologia e a sociologia. 11 2. DIREITO SISTÊMICO E A CONSTELAÇÃO FAMILIAR O Direito sistêmico e a constelação familiar, visam um forma resolução de conflitos voltada para a pessoa, em seus sentimentos em relação a lide que ali está em discussão, com base em estudos mais aprofundados dos motivos que levaram aquelas pessoas a chegarem até o momento da lide, e através disso propõe formas de resolução que seja benéfica a todas as partes envolvidas no litigio. O dia a dia e as circunstâncias da vida, trazem muitas vezes conflitos internos que as próprias pessoas desconhecem e que muitas vezes acabam transcendendo para os demais que estão a sua volta, causando um emaranhado de coisas e situações que acabam em litígios famílias. A constelação familiar tema a finalidade de revelar os motivos mais profundos que levam as pessoas a agirem de certas formas em face a situações adversas da vida. 2.1 O QUE É DIREITO SISTÊMICO O termo Direito sistêmico foi conceituado pelo juiz federal Sami Storch1 após uma análise mais profunda das técnicas de Hellinger, que regem as relações humanas, segundo a constelação familiar, Storch elucida quanto ao uso do termo: 1 Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia desde 2006. Doutorando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo (1999) e mestrado em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas - EAESP/FGV-SP (2004). Formado em Consultoria Sistêmica Empresarial, Coaching e Constelações Organizacionais - Abordagem Bert Hellinger (Coord.: Hoffmann & Partners / Alemanha - Brasil). Treinamento Avançado Intensivo em Constelações Familiares com Bert Hellinger pela Hellingerschulle - Alemanha ("Hellinger Sciencia - Moving with the Spirit-Mind"). Desde 2006, vem obtendo altos índices de conciliações e encontrando soluções bem-sucedidas com a utilização dos princípios e técnicas das constelações sistêmicas para a resolução de conflitos na Justiça. Pioneiro em nível mundial na utilização da abordagem sistêmico-fenomenológica das constelações familiares para promover conciliações e a resolução de conflitos na Justiça. Autor do projeto "Constelações Familiares na Justiça", recebeu o Prêmio Destaque do Núcleo Integrado de Conciliação do Tribunal de Justiça da Bahia em 2013, pela iniciativa. Agraciado com a Menção Honrosa do Prêmio Conciliar é Legal (V Edição - 2015) - Categoria Juiz Individual, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Autor do blog Direito Sistêmico (direitosistemico.wordpress.com), onde publica artigos e notícias sobre a visão sistêmica do direito e a contribuição da ciência das constelações sistêmicas segundo Bert Hellinger para a resolução de conflitos em diversas áreas. Ministra cursos, palestras e workshops sobre o Direito Sistêmico e a mediação, conciliação e resolução de conflitos com as constelações familiares sistêmicas. (ESCAVADOR, 2020). 12 A expressão “Direito sistêmico”, termo cunhado por mim quando lancei o blog Direito Sistêmico (direitosistemico.wordpress.com), surgiu da análise do Direito sob uma ótica baseada nas ordens superiores que regem as relações humanas, conforme demonstram as constelações familiares desenvolvida por Hellinger. (STORCH, 2011, ONLINE) Ainda segundo Storch: O direito sistêmico propõe a encontrar a verdadeira solução. Essa solução não poderá ser nunca para apenas uma das partes. Ela sempre precisara abranger todo o sistema envolvido no conflito, porque na esfera judicial - e as vezes também fora dela – basta uma pessoa querer para que duas ou mais tenham que brigar. Se uma das partes não está bem, todos os que com ela se relacionam poderão sofrer as consequências disso. (STORCH, 2011, ONLINE). Trata-se de uma técnica terapêutica baseada nas ordens ou leis sistêmicas de Bert Hellinger, essas por sua vez, são leis que trazem uma nova visão sobre a resolução de conflitos, elas podem trazer paz as relações e facilitar a resolução do litígio de forma harmônica e benéfica a todas as partes. Neste sentido, ensinam Oldoni, Lippmann e Girardi: O Direito Sistêmico, em termos técnico-científicos, é um método sistêmico- fenomenológico de solução de conflitos, com viés terapêutico, que tem por escopo conciliar, profunda e definitivamente, as partes, em nível anímico, mediante o conhecimento e a compreensão das causas ocultas geradoras das desavenças, resultando daí paz e equilíbrio para os sistemas envolvidos. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 27). O Direito Sistêmico se propõe a descobrir uma solução ecológica para o conflito, considerando todos os elementos do sistema envolvidos e as demandas das partes. Ele busca encontrar essa solução mais humanizada e esta não poderá nunca ser só para um dos lados envolvidos, conforme Oldoni, Lippmann e Girardi (2018, p. 27). Assim o Direito Sistêmico, visa ouvir as partes de forma a não colocar nenhuma delas como “certo ou errado” e sim buscar do verdadeiro conflito, para que de forma harmônica seja dirimido o conflito. Sami Storch exemplifica, ainda, que numa ação de divórcio, a solução jurídica corriqueira concernente aos filhos menores pode ser meramente a definição de qual dos pais permanecerá com a guarda, como será o regime de visitas e qual será o valor da pensão (STORCH, 2011, online). 13 Isto é o que habitualmente se define, mas de nada adiantará uma decisão judicial imposta, se os pais permanecerem se agredindo. Independentemente do valor da pensão ou de quem será o guardião, os filhos crescerão como se eles mesmos fossem os alvos das agressões e ofensas de ambosos pais. (STORCH, 2011, online) Pela abordagem sistêmica, de nada adianta a resolução do conflito, com uma sentença do juiz, pois ainda assim existira conflitos entre esses genitores, causando aos filhos uma sensação de rejeição dos pais e desenvolvendo traumas que poderá desenvolver outros litígios no seio familiar. Desta forma o julgador promovera a aproximação das partes envolvidas no conflito e mesmo que a solução seja heterocompositiva, todas as partes se sentirão assistidas e acolhidas, fazendo assim que seja uma solução harmoniosa para o determinado conflito. Storch conclui, que “a abordagem sistêmica do Direito propõe a aplicação prática da ciência jurídica com um viés terapêutico – desde a etapa de elaboração das leis até a sua aplicação nos casos concretos” (STORCH, 2011, online). A proposta é utilizar as leis e o Direito como mecanismo de tratamento das questões causadoras de conflito, objetivando à saúde do sistema como um todo, sendo o melhor possível para todas as partes implicadas, respeitando o tempo de cada coisa e o que é viável de ser alcançado. 2.2 O QUE É CONSTELAÇÃO FAMILIAR Primeiramente, precisa-se conhecer a principal referência em constelação familiar, Bert Hellinger, nascido em 1925, estudou Filosofia, Teologia e Pedagogia, trabalhou 16 anos como membro de uma ordem de missionários católicos com os Zulus na África. Depois ele se tornou psicanalista e desenvolveu a sua própria abordagem de Constelação Familiar a partir das experiências com dinâmica de grupos, terapia primal, análise transacional e vários processos de hipnose terapêutica. Hoje em dia seu trabalho é reconhecido no mundo inteiro em vários setores, na psicoterapia, no trabalho de consultoria de organizações e empresas, na educação e na orientação de vida, da alma e no sentido da vida. Hellinger faleceu em 19 de setembro de 2019 aos 93 anos. Bert escreveu 84 livros, que foram traduzidos para 14 várias línguas, dentre eles o Livro Ordens do Amor, utilizado como leis sistêmicas para a abordagem e desenvolvimento da chamada constelação familiar. Constelação familiar é um método terapêutico desenvolvido por Hellinger, que sistematicamente estuda as emoções e energias do sujeito que, consciente e inconscientemente, acumulam-se, também, compreendendo todos os fatores que pertencem ao seu sistema ou campo familiar, fundamentando-se em conceitos da Sociologia, Psicologia, Fenomenologia, Psicanálise, Terapia Sistêmica, Familiar e Estrutural (HELLINGER, 2003, p. 45). Neste sentido, afirma Hellinger: O método pode ser adotado para auxiliar pessoas a identificar o que deve ser feito e a utilizar as reações dos representantes para mudar a dinâmica familiar, de sorte a restabelecer as ordens sistêmicas ocultas do amor e permitir que ele flua livremente. (HELLINGER, 2003, p. 45). O que importa nas constelações familiares é a superação de traumas, não apenas daqueles que resultaram de experiências pessoais, mas principalmente de traumas de outras pessoas a que nós ligamos pela compaixão, por um amor muitas vezes cego e por um cego desejo de uma compensação, deslocada no tempo e no espaço. O tema das constelações são o amor e suas consequências: o masculino e o feminino, a relação entre pais e filhos, o fluxo da vida e do amor entre as gerações e os fatores que o inibem (SCHNEIDER, 2007, pg. 25). O método consiste na análise das relações familiares como um sistema harmonioso em que as ações dos membros desse sistema, refletem nos outros membros. Bert Hellinger verificou que todo sistema deve obedecer a três leis sistêmicas e todas as vezes que essas ordens eram quebradas criavam-se emaranhados2 e consequentemente geravam conflitos, ele as chama de ordens do amor. 2 Situações ou acontecimentos que ocorrem um membro da família e os efeitos causados por eles, passam para os demais integrantes, geralmente para os filhos, que apenas os desenvolvem com o decorrer do tempo. 15 2.3 ORDENS DO AMOR OU LEIS SISTÊMICAS As ordens do amor ou leis sistêmicas foram desenvolvidas por Bert Hellinger ao decorrer de sua pesquisa, onde chegou à conclusão de que a falta de uma dessas leis se gera conflitos no seio familiar. Hellinger explica a importância dessas leis: Quando a ordem é restaurada, isso gera um sentimento de alívio, de paz, de possibilidades de fazer algo em conjunto. Esse é o significado da frase simples: “Tudo ficará em ordem”. Repentinamente, tem-se uma sensação de alívio. Essas ordens são descobertas, não impostas. Eu as encontro através das constelações familiares. (HELLINGER; HOVEL, 2010, p.44) As leis sistêmicas são leis naturais, percebidas por Hellinger a partir da observação das relações sociais dos zulus3, que necessitam ser obedecidas para que haja equilíbrio no sistema, trabalhando juntas para preservar os grupos sociais a que se pertence. Observe-se que Hellinger não estabeleceu estas leis a partir de um juízo racional ou moral, mas sim, constatando empiricamente, que, quando tais leis não eram cumpridas, começavam a acontecer desordens, a que ele denominou emaranhamentos. A primeira Lei sistêmica é a do Pertencimento trata do direito de pertencer que todos os membros têm dentro do sistema familiar, todos os membros são de extrema importância dentro de uma família, todos devem ter seu espaço respeitado, ou seja, todo membro exerce um papel e não poderá ser excluído. Para Hellinger, a partir desta lei cada pessoa está comprometido com o destino da família, ou grupo a qual ela pertença, assim a pessoa está mais a serviço do grupo o da família do que a ela própria mesmo que o faça inconscientemente (HELLINGER, 2008, p.8). A segunda é a Lei da Precedência ou Hierarquia, o qual consiste que as pessoas mais velhas do grupo ou da família são superiores aos mais novos, e exercem direitos sobre eles, cada um tem o seu lugar no grupo, porem demonstrando respeito e gratidão aos mais velhos, ancestrais, pois é por eles que os mais novos obtiveram a vida. 3 Os Zulus são povos que vivem onde hoje se encontra a África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Zimbábue e Moçambique. Antigamente, mantinham formas de sobrevivência baseadas em guerras. Lutaram, por exemplo, contra a invasão dos britânicos e dos povos Bóeres, ainda no século XX. Hoje em dia, o poder político dentro da tribo funciona de forma restrita (CONHECIMENTO CIENTÍFICO R7.COM, 2020). https://conhecimentocientifico.r7.com/africa-continente/ 16 Assim, preceitua Hellinger: O ser é definido pelo tempo e, através dele, recebe seu posicionamento. O ser é estruturado pelo tempo. Quem entrou primeiro num sistema tem precedência sobre quem entrou depois. Da mesma forma, aquilo que existiu primeiro num sistema tem precedência sobre o que veio depois. Por essa razão, o primogênito tem precedência sobre o segundo filho e a relação conjugal tem precedência sobre a relação de paternidade ou maternidade. Isso vale dentro de um sistema familiar (HELLINGER, 2001. p.25) A terceira lei é a do Equilíbrio, pois que deve haver um equilíbrio entre o dar e o receber nas relações familiares para que não haja um sentimento de dívida de um para com o outro, mas de amor, pois à medida que se dá amor, se recebe amor, havendo um movimento ascendente nesse sentido, em que todos os membros da família se beneficiam e as relações encontram harmonia. Muitos não encaram a desigualdade de forma pacífica, e esperam a reciprocidade mesmo de inconscientemente, nesta lei o ganho a perda deve ser compatíveis e deve haver o equilíbrio entre o dar e receber nas relações familiares. Neste sentido, Hellinger esclarece que: Existe uma outra experiência de culpa que tem a ver com o equilíbrio entre dar e receber ou entre ganho e perda. Bem no fundo da alma, existe a necessidade de equilíbrio. Quem recebe algo tem a necessidade de recompensar, na mesma medida em que recebeu.Isso tem uma função social muito importante: possibilita o intercâmbio e a solidariedade. Um grupo mantém-se unido quando todos dão e recebem de modo equilibrado. (HOVEL; HELLINGER, 2010, p.23) Desta maneira, a família é vista como um sistema, possuindo característica e regras próprias, que fazem com as pessoas membros destas famílias se comportem de determinadas maneiras, para o bom desenvolvimento do grupo, e se essas regras são quebradas de alguma forma, podem causar instabilidades e gerar conflitos. 17 3. CONSTELAÇÃO FAMILIAR APLICADA AO DIREITO DE FAMÍLIA O uso da constelação familiar no Direito de Família, visa facilitar a identificação dos padrões comportamentais dos indivíduos envolvidos no litígio, identificando o gerador do sofrimento psicológico e emocional. Com os problemas expostos os litigantes conseguem compreender as responsabilidades de suas ações, e passam a buscar uma solução verdadeira e não apenas a sentença no processo. Dada a necessidade de se pensar em uma resolução de conflitos mais abrangente e sistêmica, a implementação das constelações familiares como técnica de solução no judiciário, tem como finalidade de clarear para as partes o que está oculto no seu conflito, resulta em uma forma pacifica e benigna na solução do litigio, as Constelações Familiares estão proporcionando um tratamento diferenciado para as discussões familiares que, trazem para os processos a necessidade de resolver magoas, angustias, ressentimentos e aflições.(SCHLICKMANN,2019, p. 84). Significa dizer que a transposição da ciência dos relacionamentos de Bert Hellinger para o Judiciário permite que tenhamos, no âmbito judicial, um novo instrumento eficaz de solução e prevenção de conflitos, consubstanciando um verdadeiro paradigma resolutivo-preventivo.4 O objetivo de fato é trazer a luz o verdadeiro conflito e identificar o principal incentivador do litigio, fazendo com que está de resolva de maneira conclusa, não restando mais, arestas que possam causar uma nova lide e trazer novamente aquelas mesmas partes ao judiciário pelo mesmo motivo ou lides que derivam das anteriores, como ocorre nos casos de divórcio, guarda, alimentos, entre outros litígios na vara da família. A constelação familiar não é a mediação, é uma técnica terapêutica que precede a mediação, para ampliar a consciência dos litigantes e assim quando eles 4 Sami Storch, juiz pioneiro na aplicação das constelações familiares ao Judiciário, defende que a visão sistêmica do direito, à luz das constelações familiares, permite utilizar as ordens sistêmicas cunhadas por Bert Hellinger como paradigma de uma “nova” concepção do direito, o “Direito Sistêmico”, a partir do qual propõe “a aplicação prática da ciência jurídica com um viés terapêutico – desde a etapa da elaboração das leis até a sua aplicação nos casos concretos”. Nessa linha, Sami propugna que as leis e o direito devem ser utilizados como “mecanismo de tratamento das questões geradoras de conflito, visando à saúde do sistema 'doente', como um todo”. In https://direitosistemico.wordpress.com/2010/11/29/o-que-e-direito-sistemico/. Acesso em 25.03.2017. 18 se sentarem na mesa para a mediação, já estarem prontos para a resolução pacífica, harmônica e duradoura do litigio, para que todas as partes envolvidas se sintam amparadas e assistidas de maneira eficaz. Neste sentido, elucidam SCHMIDT, NYS, PASSOS: A utilização das constelações familiares no âmbito judiciário possibilita desvelar determinadas angústias profundas que correspondem à verdadeira genealogia de conflitos que aportam ao Judiciário, atuando, assim, não apenas como mecanismo de resolução ou solução consensual, mas também, vale frisar, de prevenção da litigiosidade. (SCHMIDT, NYS, PASSOS, online) Portanto, a técnica aplicada visa elucidar o real motivo do litígio, ajudando as partes a encontrarem a melhor solução, faz com que elas busquem no seu emocional o verdadeiro motivo de estarem litigando, o que leva muitas vezes a resolução pacífica e simplificada, sem a necessidade de ingresso no judiciário. 3.1 ADVOCACIA SISTÊMICA A Advocacia sistêmica visa o atendimento mais humanizado, consensual e conciliador, é um novo olhar para o mesmo “problema”, o advogado busca aprimorar seus conhecimentos com o direito sistêmico e a constelação familiar, conforme o próprio código de ética e disciplina da OAB, descreve em seu art. 2, parágrafo único, incisos IV e VI: Parágrafo único. São deveres do advogado: IV - empenhar-se, permanentemente, no aperfeiçoamento pessoal e profissional; VI - estimular, a qualquer tempo, a conciliação e a mediação entre os litigantes, prevenindo, sempre que possível, a instauração de litígios; (BRASIL, 2015). Este é o principal objetivo da constelação familiar aplicada ao direito, instigar a resolução do conflito de forma consensual e harmônica para as partes litigantes, sem a necessidade de acionar o judiciário, como por exemplo na mediação. A relação criada com o cliente é através da empatia e escuta ativa, onde a relação de advogado e cliente ficam na mesma base, com igualdade, com o equilíbrio onde cada um sabe o seu papel na relação construída. De acordo Oldoni, Lippmann e Girardi, com o estabelecimento de uma proposta de valor sistêmica, pensando no relacionamento com foco no cliente e utilizando um 19 modelo estratégico consensual, a prática da Advocacia Sistêmica tem como principal base as leis do amor de Bert Hellinger (Pertencimento, Ordem e Equilíbrio), sendo uma forma de exercício da advocacia, constituída por meio de perspectivas. (OLDONI, LIPPMANNE GIRARDI,2018, p. 50). É uma nova maneira de exercer a advocacia com base na gestão estratégica, humanizada e consensual, estratégica porque concentra a competitividade do escritório ou do próprio advogado em suas competências de resolução pacifica de conflitos, Humanizada, pois realiza o atendimento humanizado, observa seu cliente como um ser humano que possui emoções e temores referentes aquela litigio e consensual pois prioriza o diálogo entre as partes e o uso de meios alternativos para a resolução do conflito. Portanto, priorizam-se, aqui, métodos apropriados e adequados de resolução de conflitos, economizando tempo e dinheiro para todas as partes envolvidas. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 50). De acordo com Aguiar et al, para estar preparado para atuar nos processos e conflitos que chegam até ele, o profissional que atua com o novo paradigma da Advocacia Sistêmica precisa saber e reconhecer que seu papel vai muito além do ajuizamento de ações e do acompanhamento do processo, conforme acontece na prática tradicionalista. (AGUIAR et al, 2018, p. 161). Para tanto, é necessário o profissional conhecer um pouco das técnicas comportamentais para ouvir o que não foi expresso pelo cliente, o que não foi verbalizado, a fim de assegurar um atendimento de excelência pelos construtores do Direito. Como se pode perceber, as competências desenvolvidas nos cursos de graduação em Direito não atendem e não prestigiam às necessidades de uma atuação fora do paradigma tradicional. (AGUIAR et al, 2018, p. 162). A pratica tradicionalista, traz a figura do advogado como uma pessoa extremamente técnica, que visa somente os resultados trazidos por sentenças, que muitas vezes nem trazem em seu teor a resolução do mérito ali discutido, o que só prolonga por anos e anos o litigio, no direito da família na maioria das vezes os litígios envolvem menores, filhos de casais que um dia já se amaram e viveram o seu felizes para sempre, e por algum motivo estão em lados opostos em uma lide, seja ela por divisão de bens, guarda, alimentos, entre outras..... 20 A constelação familiar e o direito sistêmico, através da aplicação das técnicas chega nesse ponto, onde está a ferida, para que assim todas elassejam fechadas e cicatrizadas para uma resolução de conflito rápida e eficaz. De acordo com Oldoni, Lippmann e Girardi: Advogados, capacitados em Constelações Familiares, atuam com a visão sistêmica aplicada ao Direito, unindo a profundidade e sensibilidade das Constelações Familiares com a experiência e conhecimento na área do Direito, o que possibilita a efetiva mediação e resolução dos conflitos, levando um novo olhar à letra fria da lei, observando os contextos das partes envolvidas, os padrões repetitivos dos sistemas familiares, sempre como foco nos princípios sistêmicos de Bert Hellinger (Pertencimento, Ordem e Equilíbrio). (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 53). Portanto, o advogado que escolher a aplicação do método das constelações familiares, precisa acolher as leis do amor de Bert Hellinger, suas nuances e colocá- las em prática, acreditando sempre em soluções mais harmônicas paras as partes litigantes. Segundo Hellinger, o advogado, quando ocupa seu verdadeiro lugar, atua com equilíbrio e eficácia. Sistemicamente, essa postura faz muita diferença para o cliente. Esse posicionamento traz paz aos envolvidos, não alimentando ou nutrindo o conflito, além de evitar fenômenos de transferência e contratransferência, evitando que os seus emaranhados interfiram na condição do cliente. (HELLINGER, 2013, p.34) Antes de adentrar a aplicação da constelação familiar, convém esclarecer que de acordo com Schlickmann: a parte litigante quando escolhe um escritório ou adentra o mesmo para uma consulta, não deseja encontrar um terapeuta. Espera, sim, encontrar um profissional qualificado, que informe e esclareça seus direitos, transmitindo segurança e confiança de que a sua demanda será bem resolvida, tendo seus direitos defendidos. Desta forma, destaca que a proposição de acordo amigável não deve ser mais importante do que defender os interesses do cliente. (SCHILICKMANN, 2019, p. 84). Assim sendo, o profissional do Direito que apresentar e propor essa técnica para a parte por ele representada e a parte contraria deve, primeiramente satisfazer os questionamentos jurídicos sobre o litígio observando desde já, se a técnica da constelação de adapta aquela situação. 21 3.2 METODOLOGIA DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR Para se aplicar a constelação familiar, se faz necessário o cuidado com as partes envolvidas, devido a situação muitas vezes delicada a qual se encontram, por isso, e necessário explicar a elas a origem, os fundamentos e a base da constelação, é preciso também o aceite das duas partes para ambas estejam dispostos a se entregar ao método que será aplicado. De acordo com Storch, o método pode ser utilizado como ferramenta não só por juízes, como também por advogados, mediadores, conciliadores, membros do Ministério Público e qualquer profissional cujo escopo do trabalho seja auxiliar pessoas a solucionarem situações conflituosas. (STORCH, 2011, online). As Constelações podem ser em grupos ou individuais, destacando a importância desta última como um recurso para ser usado na esfera dos conflitos judiciais ou extrajudiciais, quando a parte não quer se expor, ou não é conveniente o uso das Constelações em grupo, sempre levando em consideração a natureza do conflito em questão ou as necessidades das partes envolvidas na lide. Também podem ser usados bonecos como representantes de cada parte envolvida no conflito ou no sistema familiar, solicitando que a parte organize conforme seus sentimentos e sensações para com cada membro representado pelos bonecos. O terapeuta pede ao cliente que fale a questão a ser trabalhada, escolha e posicione os representantes, de acordo com os vínculos e relações existentes, sendo também relevante nesta representação trazer indivíduos que possuam um papel significativo no tocante à necessidade partilhada. (STORCH, 2011, online). Importante destacar, que a constelação familiar não é uma sessão de psicoterapia e sim eventos para que as pessoas possam sentir suas emoções, frustrações e traumas, e a partir do movimento causado pela revelação desses sentimentos, observados na constelação, se chegue a um ponto de pacificação do conflito, por meio da aplicação das ordens básicas de Hellinger. Segundo Ivana Rocha: A Constelação Familiar é um método de diagnóstico a partir da imagem interna que o cliente traz e que é exposta no campo de trabalho. Significa trazer um tema pessoal – bem específico – para trabalhar (dificuldades em relacionamentos interpessoais – amorosos, profissionais – desequilíbrios emocionais, medos, separações, doenças crônicas, problemas financeiros, 22 falência, dificuldades com mudanças, repetições de padrões etc.). (ROCHA, 2018, ONLINE) Diante do tema trazido a luz pelos constelados, é feita a análise para começar a dirimir o emaranhado causado pelo “problema” para a partir deste momento começar a solucionar a lide, porém, muitas vezes são necessárias mais de uma sessão, principalmente quando se fala em direito de família. Conforme ensinam Oldoni, Lippmann e Girardi, o uso do método é feito com ambas as partes ou com apenas uma, sendo a Constelação uma forma de ver a razão do comportamento da parte constelada ou de ambas as partes e qual a melhor solução para o caso, ensinam (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI,2018, p. 35). Explicando: observando-se as leis sistêmicas expostas (Pertencimento, Ordem e Equilíbrio), verifica-se onde estas foram descumpridas, gerando desequilíbrio para todo o sistema e interferindo nas relações. O método é organizado em etapas para definir o problema, a escolha dos representantes, a montagem da Constelação, o processo de solução e o ritual de encerramento. Para definir o problema: verifica-se qual a questão que incomoda o cliente, tendo o terapeuta um papel importante na definição do problema, indagando o que o leva a buscar uma Constelação Familiar. O terapeuta deve buscar não a história habitual, interpretações, julgamentos ou explicações, o terapeuta deve perguntar qual é o problema que o cliente tem, o que o leva a buscar ajuda. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 37). Para a escolha dos representantes: diante da problemática citada pelo cliente, o terapeuta solicita que o cliente escolha os representantes para aquela situação, os quais se tornam modelos vivos do sistema do sujeito que tem sua questão constelada, iniciando com um número mínimo de representantes. Destacam que o cliente escolhe os participantes para representar os membros selecionados da família, bem como um membro para representá-lo. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI 2018, p. 37). Para a montagem da Constelação: o terapeuta orienta ao paciente que posicione os representantes no espaço, conforme seu sentimento e impressão da situação inicial. Segundo é importante que o cliente monte a Constelação, ou seja, que disponha os representantes no espaço e que lhes transmita uma orientação inicial, sem fazer muitos comentários, evidenciando as relações que uns mantêm com 23 os outros. A parte deve fazer isso a partir de seu sentimento, sem buscar muitas explicações, justificativas, sem escolher ou imaginar determinadas cenas que vivenciou em família. Deve deixar-se conduzir por uma atitude amorosa, um impulso interno, havendo clareza sobre quem representa uma determinada pessoa da família, ou algum sintoma que está sendo tratado, como medo, angústia, ou ainda algum segredo ou morte. Uma vez posicionados os representantes, o cliente se senta e assiste aos movimentos realizados pelos representantes. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI 2018, p. 37). De acordo com Oldoni, Lippmann e Girardi, já no processo de solução após algum tempo de concentração, o terapeuta se dirige aos representantes orientando- os a fazerem os movimentos que desejam ou que sentem necessidade de realizar, bem como para verbalizarem o que estão sentindo no corpo, eventuais percepçõescomo algum incômodo ou desconforto. Quanto menos souberem os representantes, mais convincente será para o constelado o que emergirá. O terapeuta pode interrogar os representantes sobre o que está acontecendo com eles, como simplesmente deixá- los fazer o que chamou de movimentos da alma5. Essa partilha deve ser feita sem vinculação a crenças pessoais dos próprios representantes e do constelador. Os representantes passam a sentir e a pensar de modo muito parecido com o dos membros verdadeiros, sem o conhecimento prévio (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI 2018, p. 37). O ritual de encerramento é o momento em que a Constelação é encerrada, devendo cada representante deixar seu papel. Para tanto, segundo Oldoni, Lippmann e Girardi, existem muitas maneiras. Uma delas é o cliente aproximar-se de cada representante, pegar-lhe a mão e agradecer-lhe por ter representado seu familiar. (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 37). Neste ritual de encerramento da sessão, Oldoni, Lippmann e Girardi destacam a importância dos conselhos e do conhecimento do terapeuta sobre as Constelações Familiares para integrar o que for relevado pela representação (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 37). 5 Para Stam, os movimentos da alma envolvem uma presença livre de julgamento, estando os representantes a serviço daquele campo, trazendo esclarecimento e ordem para quem constela, por meio da vivência, liberando, integrando e curando o que estava em desarmonia e desequilíbrio. O movimento da alma proporciona aceitação, dando um lugar no coração. (STAM, 2012, p.19). 24 O constelador6 neste momento deve ser capaz d identificar se chegou-se à solução para o conflito ou se naquele caso específico a solução e inexistente, porem o constelador deve avançar somente até onde o campo familiar o permitir. Desta feita, se faz necessário que o constelador seja um profissional, preparado para aplicação dos métodos, a matéria e nova no âmbito jurídico. Assim, ele consegue enxergar o papel de cada ser em um campo familiar, harmonizando o mesmo, viabilizando caminhos para que os pacientes encontrem uma saída aos problemas (SOUZA, S/d, online). Existem atualmente cursos preparatórios para advogados e não advogados que queiram se tornar um terapeuta da constelação familiar com duração de aproximadamente 18 meses, e algumas universidades já oferecem cursos pôs graduação em constelação familiar. 6 Constelador é um buscador do autoconhecimento e um conhecedor do seu próprio sistema familiar. Geralmente, já passou ou vivencia continuamente um processo de transformação profundo, o que possibilita compreender melhor seu próprio lugar e o papel que ocupa em cada um dos seus sistemas (SOUZA, (S/d, online). 25 4. CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO O Conselho Nacional de Justiça em 2010 expediu a resolução 125/2010 que trouxe a instituição da Política Judiciária Nacional de Tratamento de Conflitos de Interesses, implementando mecanismos de solução prévia de conflitos, como a mediação e a conciliação. A citada resolução em seu art.1º7, institui a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade, nos art. 4º e 5º 8 institui a competência ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) a organização dos programas para promover a autocomposição dos litígios por meio de mediação e conciliação e também a obrigação a implementação do programa em todo o sistema judiciário, inclusive nas universidades e instituições de ensinos. Esta resolução abriu as portas para implementação do método das constelações familiares para resolução amigável de resolução de conflitos no Brasil, conforme podemos verificar no Anexo I da Resolução n.º 125/2010, quando aborda o conteúdo programático dos cursos de formação para conciliadores e mediadores, especialmente nas alíneas "d" e "j": Resolução n.º 125/2010 - Anexo I d) Teoria da Comunicação/Teoria dos Jogos Axiomas da comunicação. Comunicação verbal e não verbal. Escuta ativa. Comunicação nas pautas de interação e no estudo do inter-relacionamento humano: aspectos sociológicos e aspectos psicológicos. Premissas conceituais da autocomposição. 7 Resolução n.º 125/2010. Art. 1º Fica instituída a Política Judiciária Nacional de tratamento dos conflitos de interesses, tendente a assegurar a todos o direito à solução dos conflitos por meios adequados à sua natureza e peculiaridade. (Redação dada pela Emenda nº 1, de 31.01.13) Parágrafo único. Aos órgãos judiciários incumbe, nos termos do art. 334 do Novo Código de Processo Civil combinado com o art. 27 da Lei de Mediação, antes da solução adjudicada mediante sentença, oferecer outros mecanismos de soluções de controvérsias, em especial os chamados meios consensuais, como a mediação e a conciliação, bem assim prestar atendimento e orientação ao cidadão. (Redação dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16). (BRASIL, CNJ,2010) 8 Art. 4º Compete ao Conselho Nacional de Justiça organizar programa com o objetivo de promover ações de incentivo à autocomposição de litígios e à pacificação social por meio da conciliação e da mediação. Art. 5º O programa será implementado com a participação de rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de ensino. (BRASIL, CNJ,2010). 26 (...) j) Interdisciplinaridade da mediação Conceitos das diferentes áreas do conhecimento que sustentam a prática: sociologia, psicologia, antropologia e direito. A partir desta medida, juntamente com as reformas que foram introduzidas as normas brasileiras no que tange as resoluções de conflitos pacíficas e amigáveis, o método da constelação familiar foi introduzido ao judiciário Brasileiro, ainda com pouca visibilidade, porem gerando muitos resultados positivos, o que será abordado mais adiante. 4.1 MÉTODOS ALTERNATIVOS E O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL O Novo Código de processo Civil, trouxe com ele muitas mudanças e inovações em relação a resolução de conflitos alternativos, o que organizou e legalizou esses métodos como uma forma de ajuda e uma esperança para desafogar o judiciário brasileiro. Segundo Oldoni, Lippmann e Girardi a previsão da conciliação e da mediação e de outros métodos de solução consensual de conflitos, da oportunidade para a utilização das Constelações Familiares, que devem ser estimuladas por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 67). Em seu art. 3,§ 3º, o NCPC, discorre sobre os meios de solução consensual de resolução de conflitos9 e estabelece no art.6º, do mesmo dispositivo, que todos os sujeitos do processo devem adotar uma postura cooperativa e pacificadora, modificando o modelo antigo competitivo e buscando um modelo novo de colaboração e cooperação para a solução do conflito.10 9 NCPC, art. 3º “Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei; § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos; § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos, e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial”. 10 NCPC, art. 6º “Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. 27 Neste sentido, o objetivo da Resolução 125/2010 que é um cenário pacificador e humanizado do judiciário brasileiro, vai tomando forma e incentivando nas normas jurídicas, dando sustentabilidade e ferramentas para a introdução de métodos de autocomposição de conflitos. SegundoOldoni, Lippmann e Girardi, este norte foi adotado de modo a organizar os serviços prestados no curso da relação processual (atividades processuais) como também os que possam incentivar a atividade do Poder Judiciário de prevenção de demandas, com as chamadas atividades pré-processuais, chamadas de conciliação e mediação (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 47). A resolução 125/2010, esperou cinco longos anos para ser legitimada pelo NCPC, o que ocorreu pela lei 13.105/2015, que deu uma atenção especial aos métodos alternativos de resolução de conflitos. Segundo Rezende Neto, a arbitragem, a conciliação e a mediação são os basilares métodos de resolução de conflitos. Trazem, além do aspecto objetivo e funcional, no sentido de aliviar o sistema Judiciário, o conceito da cooperação responsável dos atores sociais envolvidos, e acolhe a peculiaridade de cada circunstância conflituosa. (NETO, 2014, online). De acordo com os ensinamentos de Rezende Neto: A mediação é capaz de atravessar a desigualdade de contextos sociais, permitindo a compreensão entre os envolvidos, construindo ações ordenadas, e reconhecendo a capacidade das partes quanto ao compromisso com as decisões e acordos, que apresentam mais efetividade. Os acordos mediados respeitam as diferenças, coordenam as incoerências e contradições, estruturam soluções. Possibilitam a convergência de díspares pontos de vista de cada partícipe. Ampliam a colaboração e favorecem a criatividade. (NETO, 2014, online). Essas alterações mechem na postura do judiciário, que após a introdução dos meios alternativos de resolução dos conflitos, busca uma solução que atenda todas as partes e que possibilite uma maior celeridade nos processos de resolução de conflitos. Analisando, o método de constelação familiar chega-se ao mesmo objetivo da atual posição do judiciário brasileiro, que é uma solução de conflito pacífica e humanizada, não regrada ao “um ganha e o outro perde” e sim em “todos ganhando”, mesmo que uma das partes tenha sucumbido no conflito. 28 Ganha-se no sentido de ter assistida todas as dúvidas e necessidades, com escuta ativa por parte do judiciário e a própria parte participando ativamente na resolução do conflito, pois estas têm mais segurança e poder de resolução em suas mãos. Isso ocorre devidos as decisões proferidas na mediação e arbitragem não precisarem passar por toda a burocracia e espera para se ter uma sentença, por obvio, esses métodos alternativos também possuem seus pressupostos e tem suas leis próprias para que sejam regulados, no caso da mediação é a Lei 13.140/2015 e da arbitragem a lei de Arbitragem 9.307/1996. O Novo Código de Processo Civil (NCPC) em seu art. 334, §11, discorre que a autocomposição alcançada em audiência de mediação judicial será reduzida a termo e homologada por sentença, pressupondo esse procedimento que o juiz leia o acordo e perceba eventuais ilegalidades que possam ser cometidas (MEIRA e RODRIGUES, 2017, p. 103). Já na arbitragem, as partes acordam entre si as condições para tal, podendo ser feita antes mesmo de haver um conflito por meio de contrato, por exemplo, ou após a instalação do conflito. Segundo Silva, é um método alternativo de solução de conflitos, permitido às pessoas capazes de contratar, com o objetivo de dirimir lides relativas a Direitos Patrimoniais disponíveis, com uso constante para contratos internacionais (SILVA, 2013, p. 36). A decisão proferida na arbitragem, produz os mesmos efeitos de uma sentença proferida pelos órgãos do poder judiciário, conforme art. 31 da lei 09.307/1996.11 Destaca Queiroz e Sousa a importância do mediador sistêmico como um terceiro imparcial, sem intenção, a serviço do caso para facilitar que as partes possam olhar suas questões e seus sistemas familiares, oportunizando a cada um a admissão de suas responsabilidades e a ocupação de seus lugares. Destacam, ainda, que não é possível mensurar o real impacto e alcance dessa nova abordagem por meio da mediação, da conciliação e das Constelações Familiares, mas consideram ser um 11 Lei 9.307/1996 Art. 31. Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e, sendo condenatória, constitui título executivo. 29 bom instrumento a serviço da resolução de conflitos e um benefício para os profissionais do Direito (QUEIROZ E SOUZA, 2018, p. 73). Essas inovações e alternativas trazem ao poder judiciário o desafogar que é necessário para que os processos realmente inevitáveis sejam recebidos e analisados com mais atenção e celeridade que a própria norma constitucional promete aos cidadãos e que no momento não é possível cumprir, a celeridade dos processos. 4.2 INTRODUÇÃO DA CONSTELAÇÃO FAMILIAR NO JUDICÍARIO BRASILEIRO. O método da constelação familiar foi introduzido no judiciário Brasileiro, pelo juiz de Direito Sami Storch, no interior do Estado da Bahia, que conseguiu evitar que conflitos familiares e pessoais transformassem-se em longos processos judiciais com a utilização de técnica de psicologia antes das sessões de conciliação. De acordo com Bandeira, com ajuda da chamada Constelação Familiar, dinâmica criada pelo teólogo, filósofo e psicólogo alemão Bert Hellinger, o magistrado Sami Storch conseguiu um índice de acordo de 100% em processos judiciais onde as partes participaram do método terapêutico. (BANDEIRA, 2014, online). O Juiz Sami Storch iniciou os estudos do assunto Constelações Familiares em 2004, quando percebeu que, além de ser uma terapia eficaz na solução de questões pessoais o conhecimento dessa ciência tem um potencial imenso para utilização na área jurídica, na qual tenho formação acadêmica e profissional. (STORCH, 2011, online). O magistrado diante da sua inovadora técnica, o projeto “Constelações na justiça aplicada nas comarcas de Amargos e Castro Alves, em 2015 ganhou uma menção honrosa pelo Conselho Nacional de justiça (CNJ). Segundo Oldoni, Lippmann e Girardi, o magistrado já aplicava sua técnica durante algumas audiências, pedindo que as partes fechassem os olhos e se imaginassem dizendo frases de reconhecimento para a outra pessoa (OLDONI, LIPPMANN E GIRARDI, 2018, p. 56). A primeira vez que o magistrado aplicou a técnica foi em uma ação de guarda de uma criança de 4 anos de idade entre avos e a mãe da menina, onde exista um grave conflitos e inúmeras trocas de acusações serias de ambas as partes, 30 percebendo que aquela situação trazia um grande sofrimento para a criança, e que qualquer sentença ali proferida não amenizaria aquele sofrimento, Storch então resolveu aplicar sua técnica. Storch resolveu levar o kit de bonecos12, que utilizava nos atendimentos individuais, chamou a menina para ser ouvida, colocou os bonecos em cima da mesa, pedindo para que ela os posicionasse e montasse a história da sua família, colocando os bonecos para representar cada membro envolvido no conflito, a menina pôde, então, por meio do uso daquele recurso, expressar o que sentia, afirmar o carinho que tinha por sua mãe e por sua avó e apresentar com quem se sentia melhor, demonstrando qual era seu real desejo, livre da pressão da mãe e da avó. As partes puderam observar a verdade dos fatos por meio do uso dos bonecos, ficando claro para todos qual era o real desejo da menina, o carinho que ela guardava pela mãe e pela avó, independentemente da escolha (OLDONI, LIPPMANN e GIRARDI, 2018, p. 56). Quando se revela o real sentimento e trona possível para as partes verem o que está acontecendo, trona-se mais claro e possível chegar-se ao resultado mais justo e pacífico atendendo as necessidades de todos, e principalmente resolvendo o conflito na raiz para que ele não se torne outro conflito lá na frente. O direito sistêmico se propõe a encontrar a verdadeira solução. Essa solução nãopoderá ser nunca para apenas uma das partes. Ela sempre precisará abranger todo o sistema envolvido no conflito, porque na esfera judicial – e às vezes também fora dela – basta uma pessoa querer para que duas ou mais tenham que brigar. Se uma das partes não está bem, todos os que com ela se relacionam poderão sofrer as consequências disso. (STORCH, 2011, ONLINE). As vivências conduzidas pelo magistrado Sami Storch acontecem em eventos coletivos, sendo as partes envolvidas convidadas a participarem de palestras sobre vínculos sistêmicos, considerando processos que versem sobre o mesmo tema. Concluída a palestra, é realizada uma meditação, levando os participantes a refletirem sobre suas próprias questões e emaranhamentos. Finalizando, algumas questões das famílias presentes são consteladas. Como todos os processos versam sobre questões 12 kit de bonecos: são bonecos Playmobil, utilizados para representação simbólica de pessoas na prática das Constelações Familiares, durante os atendimentos individuais. Funcionam como instrumentos de ajuda, sendo cada membro da família representado por um boneco. 31 semelhantes, é comum que os aspectos e considerações apresentados gerem uma identificação das pessoas. Segundo Storch, essa identificação gerada e a reflexão alcançada já são suficientes para favorecer a solução, sendo encontradas alternativas que satisfaçam as partes (STORCH, 2017, online). Sami Storch obteve vários resultados positivos com a introdução do método dentre elas segundo Storch, 100% de acordo em processos judiciais em que as partes participaram do método terapêutico. Em Goiânia, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) premiou o trabalho “Mediação baseada na técnica de Constelação Familiar”, com o primeiro lugar na categoria “Tribunal Estadual do V Prêmio Conciliar é Legal”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), coordenado por Rosângela Montefusco (GOIAS, 2015, online). O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, por meio da Coordenadoria Familiar da Infância e Juventude, em parceria com o Procurador de Justiça aposentado, Dr. Amilton Plácido da Rosa, firmou um convênio no intuito de atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, vítimas de maus tratos, abuso sexual ou violência (GOIAS, 2015, online). No Distrito Federal, o projeto Constelar e Conciliar, introduzido pela pesquisa acadêmica de Adhara Campos, voluntária e idealizadora do projeto, é atendido em várias unidades: Vara da Infância e Juventude, Vara Cível, Órfãos e Sucessões do Núcleo Bandeirante, 1ª Vara Criminal, CEJUSC Brasília e Taguatinga, 1ª, 2ª e 3ª Vara de Família de Taguatinga, Programa dos Super Endividados e Vara de Medida Socioeducativa (2015, online). Em março de 2018, o Ministério da saúde através da portaria nº 702, inclui a prática da constelação familiar no rol de procedimentos no Sistema Único de Saúde no escopo das Práticas Integrativas e Complementares (PICs). De acordo com Vieira, a técnica foi levada também as ações judiciais na Vara de Família do município de Castro Alves, interior da Bahia. A maior parte dos conflitos dizia respeito a Direito de Família, como guarda de filhos, alimentos e divórcio. Foram realizadas reuniões, analisando três casos por dia. Das 90 audiências dos processos nos quais pelo menos uma das partes participou da vivência de Constelações, o índice de conciliações foi de 91%; nos demais, foi de 73%. Nos processos em que ambas as partes estiveram presentes e participaram da vivência de Constelações, o índice de acordos foi de 100%. (VIEIRA, 2015, online). 32 No Nordeste, oito Tribunais de Justiça estão utilizando o Direito Sistêmico. No Ceará, as Constelações Familiares são utilizadas na Vara Única de Execução de penas e Medidas Alternativas (VEPMA), por meio do programa “Olhares e Fazeres Sistêmicos no Judiciário”, implantado por Maria das Graças de Almeida Quental em meados de 2017. (VALL E BELCHIOR, 2019, p. 197). Segundo Aguiar et al, as Constelações realizadas pelo programa são voltadas para os apenados da Vara Única de Execução de penas e Medidas Alternativas (VEPMA), contando com a participação de um grupo de voluntários, o apoio das advogadas e da psicóloga idealizadoras do programa e um constelador formado, que aplica a técnica com os casos selecionados. O programa, idealizado pelas advogadas Ana Tarna dos Santos Mendes e Gabriela Nascimento Lima e pela psicóloga Maria do Socorro Fagundes, desenvolve o pensamento e vivências com abordagem sistêmica, dentre as quais, a utilização de Constelações Familiares, proporcionando clareza aos emaranhados dos processos judiciais e contribuindo para uma postura de inclusão e humanização. (AGUIAR et al 2018, p. 84). Como se pode observar as técnicas de constelação familiar, vem sendo muito utilizada no judiciário brasileiro, já reconhecido pelo Conselho nacional de justiça, como forma de método alternativo para resolução de conflitos, pois auxilia no entendimento do conflito pelas partes envolvidas e proporciona conforme os resultados obtidos com uso da técnica, um auto índice de sucesso nas conciliações e mediações. 33 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um dos objetivos desde trabalho era identificar o que o direito sistêmico e a constelação familiar, abrangendo o uso da técnica em resolução de conflitos familiares, buscando as resoluções profundas e duradouras. O direito sistêmico, é a uma análise do direito mais humanizado, seguindo técnicas devolvidas por Bert Hellinger, para aprimorar as relações humanas, tratar de litígios com um estudo mais aprofundado de sua causa, permitindo as partes buscar lá no fundo de sentimentos as reais causas de suas lides, e consequentemente tratando o problema pela raiz, trazendo a resolução do conflito de forma consensual e duradoura, de forma que as partes não voltem a se enfrentar em uma lide futura, pois aquele problema foi realmente resolvido. O uso do direito sistêmico no direito de família, através da Constelação Familiar, busca não só a resolução do conflito, mas também a “cura da ferida”, aquela real razão pela qual as partes estão conflitando, como por exemplo em uma ação de divórcio, as partes muitas vezes estão profundamente machucadas, o que causa sempre conflitos recorrentes, o objetivo da constelação Familiar aplicado ao direito de família é fazer com que essa ferida se feche e não cause mais nenhum conflito para ambas as partes, para que elas possam ter uma resolução harmoniosa, principalmente nos litígios que envolvem os filhos, pois nesse caso, haverá uma relação entre os genitores mesmo após a separação que deverá ser harmoniosa e saudável principalmente para os filhos. Bert Hellinger fundamentou a harmonização da constelação em três pilares, ou ordens como ele mesmo as denomina, quais são de precedência, pertencimento e equilíbrio, essas ordens conseguem fazer com o indivíduo alcance o autoconhecimento, e se veja enquanto ser, dentro de um sistema, um conjunto, no qual sua posição e comportamento são de suma importância para vida. E quando um desses pilares está fora do “sistema”, todo resto não irá bem, assim, as sessões de constelação familiar deve colocar todos os pilares de volta a sua orbita normal para cada parte envolvida no litígio. O direito sistêmico representa ação dos construtores do Direito, com um olhar mais humanizado, não com um olhar apenas processualista, onde as leis sistêmicas 34 (Precedência, pertencimento e equilíbrio), são aplicadas ao conflito, sejam em vivências coletivas ou em audiências de medição. O advogado sistêmico foca seu trabalho nos valores sistêmicos, no relacionamento com o cliente, não possui um perfil litigantes, mas sim estratégia consensual promovendo as demais formas de resolução de conflitos como uma via alternativa de acesso à justiça. Neste contexto, sua advocaciaé diferenciada e se separa das demais, pois o ser humano é o grande diferencial. Sua proposta é a adoção de uma advocacia humanizada, pacificadora, fazendo o uso de outras formas de transformação de conflitos e refletindo no conflito de forma positiva e transformadora. A constelação é uma técnica terapêutica de curta duração, que visa a resolução de conflitos mais complexos e trabalha com a técnica da representação, onde as partes envolvidas no processo escolhem pessoas ou bonecos para que estes representem a eles e aos seus problemas em relação àquela lide. É um recurso de compreensão e solução, trazendo ordem, aproximando os envolvidos, utilizado para mostrar o que permanece obscuro nas relações familiares, por meio de uma visão sistêmica das relações. O método da constelação familiar é organizado em etapas para definir o problema, a escolha dos representantes, a montagem da Constelação, o processo de solução e o ritual de encerramento. Nesse contexto, e de suma importância que o conciliador tenha uma qualificação e preparação adequada para que ao fim de cada sessão as partes envolvidas possam ter uma justiça curativa, para que reconheçam as causas do conflito e entendam as decisões ali tomadas. Por fim, buscou se entender a aplicação da constelação familiar no judiciário brasileiro, com apresentação de alguns resultados obtidos por comarcas já fizeram a introdução dessa técnica. A Constelação familiar aplicada ao Judiciário vem se confirmando como auxiliar na resolução de conflitos, como método alternativo, o que de forma clara contribui para a desburocratização do Judiciário e resolvendo de forma célere o problema encravado no processo judicial. Por meio de resoluções do CNJ e Lei de mediação, tornou-se obrigatório a tentativa de resolução alternativa de conflitos, o que dá mais força judicial ao uso da Constelação Familiar, buscando uma relação harmoniosa entre as partes do processo. 35 A técnica da constelação pode ser usada antes das audiências de mediação, objetivando mostrar as partes o que está oculto em seu conflito. O mediador encontra a cauda da lide, trabalha nas ideias contrarias para que a partir do entendimento, seja encontrada uma forma de solucionar o problema, de forma que todas as partes envolvidas se sintam verdadeiramente ouvidas e acolhidas, para que a solução do conflito seja harmoniosa e duradoura. Na esfera jurídica, a aplicação da Constelação Familiar se ajusta ao conflito, mesmo que ao deliberar uma sentença que venha a ser impositiva a uma das partes, observa-se que ao empregar a técnica sistêmica sua conclusão e recebida por todas as partes de forma mais harmoniosa. Conclui-se que a assim como as demais formas de resolução de conflitos, a constelação familiar é uma forma de acordo amigável, que vem construindo resultados e efeitos satisfatórios, conforme demonstrado na redação do trabalho, o que constrói praticas hábeis e colaborativas para desafogar o judiciário Brasileiro de litígios que muitas vezes podem ser resolvidos com uma conversa mais ampla e focada nas partes propriamente dita. A pesquisa teórica sobre a aplicação da técnica sistêmica demonstra que o seu uso e o seu entendimento colaboram de modo preventivo quando ao surgimento de novas demandas no judiciário, além de trazer celeridade para a resolução dos conflitos 36 REFERÊNCIAS AGUIAR, Ana Cecília Bezerra de et al. Direito Sistêmico: o despertar para uma nova consciência jurídica. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2018. BORGES, Dayane. Zulus – Conhecimento científico. 16 de jan. de 2020. Disponível em:. Acesso em: 21 de abril de 2020. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 125/2010, de 29 de novembro de 2010. Disponível em: https://atos.cnj.jus.br/atos/detalhar/atos- normativos?documento=156. Acesso em 21 de abril de 2020. BRASIL. Ordem dos advogados do Brasil. Código de ética e disciplina da OAB. 2015. Disponível em: https://www.oab.org.br/arquivos/resolucao-n-022015-ced- 2030601765.pdf. Acesso em: 06 de mai. de 2020. CARVALHO, Bianca Pizzatto. 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