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ESPELHO DE PRATA Autores: ANDRADE, Izabel; MOTA, Thábita; SANTOS, Rafaella. Resumo: A eletrodeposição trata-se do recobrimento de uma superfície por meio de um metal. Através da reação entre glicose e diaminprata (Ag(NH3)2 +), produzida a partir do nitrato de prata (AgNO3) e da amônia (NH3), em meio aquoso ocorreu a prateação (eletrodeposição de prata metálica) no interior de um erlenmeyer. Posteriormente, foram adicionados ácido clorídrico (HCl) e nítrico (HNO3) no recipiente contendo o espelho de prata, dos quais apenas o último reagiu com a prata metálica. Este experimento pode ser empregado para verificar se uma molécula possui ou não o grupo funcional aldeído. Palavras-chave: Funções orgânicas, reagente de Tollens, galvanoplastia. Introdução A eletrodeposição ou galvanoplastia é a deposição de um metal sobre alguma superfície, sendo que este metal reveste o objeto no qual está se depositando (ATKINS; JONES, 2012). A eletrólise, fenômeno não espontâneo, pois necessita de uma corrente elétrica para forçar reações de oxirredução (ALVARENGA et al., 2013), é “[...] usada na eletrodeposição.” (ATKINS; JONES, 2012). Este processo é realizado com o auxílio de um eletrólito, sendo este uma solução aquosa no qual encontra-se dissociado um sal metálico ”[...] do metal a ser depositado [...]” na superfície do cátodo (condutor metálico que sofre redução). Como há a redução do metal na solução ocorre deposição deste no cátodo (ATKINS; JONES, 2012). O eletrólito é comumente denominado banho, sendo que há o banho eletrolítico e o químico. O primeiro “[...] [necessita] de uma fonte geradora de elétrons na forma de corrente contínua (geralmente usada em pilhas e baterias (QUEIROZ, 2014)”. Já no banho químico não há o uso de uma fonte externa de elétrons, uma vez que a deposição decorre de uma reação de oxirredução em que são “gerados” os elétrons essenciais “[...] entre o íon metálico dissolvido no banho e o substrato da peça a ser revestida” (WAGNER, 2013). No procedimento do experimento em questão foram usados glicose, que possui a função aldeído, reagente de Tollens e água régia. O aldeído é uma das funções orgânicas mais simples e comuns no qual o seu grupo funcional (H-C=O) encontra-se sempre à extremidade da molécula, ligado à um carbono. Os aldeídos apresentam muita particularidade em comum com outro grupo funcional, o das cetonas, pois ambos possuem o grupo carbonila (C=O) (ATKINS; JONES, 2012). “Os aldeídos reduzem íons prata para formar um espelho de prata [...] com o reagente de Tollens [...]”. Deste modo, é possível verificar ou distinguir se um composto apresenta função aldeído ou cetona (ATKINS; JONES, 2012). Essa distinção é, geralmente, realizada na presença do reagente de Tollens, solução amoniacal em que encontram-se dispersos íons Ag+ (SARAN, s/a). A glicose é um exemplo de aldeído, mais especificamente um poliálcool- aldeído, pois apresenta ambos os grupos funcionais (MACHADO, 1998). Quanto a água régia, esta é proveniente da junção dos ácidos nítrico e clorídrico, na proporção de 1:4, é comumente conhecida pela capacidade de corroer o ouro, devido ao elevado poder oxidante do HNO3 e a capacidade de formar complexos do HCl (CECON, 2012). Este experimento tem como propósito conciliar os conceitos vistos acima além de outros abordados em procedimentos posteriores, dentre eles: os aspectos termodinâmicos, cinéticos e espontaneidade de uma reação, além de oxirredução e eletrodeposição, a partir do revestimento de uma vidraria por meio de prata metálica. Materiais e Métodos Adicionou-se em um erlenmeyer 15 mL (1,5×10-3 mol) da solução de AgNO3 0,1 mol.L-1 e algumas gotas de uma solução de NH3 concentrada. Após observar o que ocorreu no meio reacional acrescentou-se mais algumas gotas de NH3. Posteriormente, acrescentou-se ao mesmo erlenmeyer 7,5 mL (6×10-3 mol) da solução de hidróxido de potássio (KOH) 0,8 mol.L-1. Subsequentemente, misturou-se à solução anterior 1,2 mL (2,4×10-4 mol) de uma solução de glicose 0,2 mol.L-1. Agitou-se constantemente o erlenmeyer até o surgimento da superfície espelhada. Descartou-se na pia o líquido contido no interior da vidraria, sob água corrente. Por fim, pipetou-se pequena quantidade de HCl ao sistema e, posteriormente, acrescentou-se HNO3. Resultados e Discussão A partir da adição de 3 gotas de NH3, proveniente do NH₄OH (Equação 1), ao AgNO3 propiciou-se o meio alcalino para a formação do óxido de prata (Ag2O), um precipitado marrom determinado como produto cinético devido a sua rápida formação. Após a adição de mais gotas de NH3, a solução atingiu a incoloração devido a formação do produto estável diaminprata ([Ag(NH3)2] +) em meio alcalino (Equação 3), sendo este o reagente de Tollens. Equação 1: NH3(g) + H2O(l) ⇌ NH4 + (aq) + OH - (aq) Equação 2: 2 AgNO3(aq) + NH3(aq) ⟶ Ag2O(s) Equação 3: Ag2O(s) + 4 NH3(aq) + H2O(l) ⟶ 2 [Ag(NH3)2] + (aq) + 2 OH - (aq) A coordenação da amônia ao Ag+ resultando na diaminprata (I) diminuiu a reatividade do Ag+, evitando que esta seja reduzida rapidamente pela glicose formando como resultado um líquido negro que prejudicaria a homogeneidade do espelho de prata. Observa-se o decrescimento da reatividade a partir do potencial padrão de redução (E0) do Ag + em comparação ao potencial do [Ag(NH3)2] +: Ag+(aq) + e - → Ag(s) E0 = + 0,80 V Ag(NH3)2 + (aq) + e - → Ag(s) + 2 NH3(aq) E0 = + 0,37 V Nota-se que ao minimizar o E0, a capacidade de redução do Ag + será menor e consequentemente a redução não sucederá tão rapidamente a ponto de formar o líquido negro. Vale ressaltar que reatividade não é sinônimo de velocidade, entretanto, a diminuição do E0 promove ao Ag + menor capacidade de puxar elétrons, o que levará um tempo maior para que se reduza em comparação ao tempo que levaria caso não estivesse no complexo. Seguidamente, tem-se a adição do KOH com o intuito de basificar o meio a fim de acelerar a oxidação da glicose. Apesar da basicidade do NH3, é preciso acrescentar outra base mais forte, neste caso o KOH, já que a amônia é uma base fraca. Ao adicionar a glicose no reagente de Tollens ocorre uma oxirredução no qual o Ag+ é reduzido à Ag0 e a glicose é oxidada (Equação 4). A prata, agora metálica, adere no interior da vidraria produzindo uma superfície espelhada. Equação 4: CH2OH(CHOH)4CHO(aq) + 2 [Ag(NH3)2] + + 3 OH-(aq) ⟶ 2 Ag 0 (s) + CH2OH(CHOH)4CO2 - (aq) + 4 NH3 + 2 H2O Tal reação ocorre somente com a presença de aldeído já que estes são agentes redutores mais fortes que as cetonas, devido ao hidrogênio ligado ao carbono da carbonila (C=O), favorecendo sua oxidação. A fim de retirar as partículas coloidais da prata da superfície interna da vidraria, adicionou-se primeiramente HCl. Observou-se o desprendimento do Ag0 da superfície, no qual pequenos pedaços repousaram ao meio aquoso. Todavia, ao acrescentar o HNO3 notou-se que o Ag 0 dissolveu-se. Isto devido ao potencial de redução: NO3 - (aq) + 4 H + (aq) + 3 e - ⇌ NO(g) + 2 H2O(l) E0 = + 0,96 V Ag(s) ⇌ Ag + (aq) + e - E0 = − 0,80 V Observa-se que o E0 da reação será 0,16 V, sendo assim espontâneo. Já em relação ao HCl, tem-se que o íon H+: H+(aq) + 2e - ⇌ H2(g) E0 = 0 V Nota-se que ao comparar o E0 com o Ag, tem-se que a reação não será espontânea (E0 = − 0,80 V), logo não sucederá sem o fornecimento de energia. Caso a proporção da mistura entre HNO3 e HCl fosse 1:4 haveria a formação da água régia, sendo este capaz de reagir com metais nobres como o Ag. No qual o HNO3 dissolveria pequenas frações do metal (Equação 5)enquanto o Cl -, oriundo do HCl, capturaria estas pequenas frações, podendo formar cloreto de prata (AgCl) (Equação 6). Equação 5: Ag0(s) + NO3 - (aq) + H + (aq) ⟶ Ag + (aq) + NO2(g) + H2O(l) Equação 6: Ag+(aq) + Cl - (aq) ⟶ AgCl(s) Entretanto, não observou-se a formação de um precipitado branco em razão da insolubilidade do AgCl em meio aquoso e de sua cor característica. Além disto, não é possível afirmar as proporções dos ácidos, já que não houve a aferição do volume. Conclusão Foi perceptível a junção de muitos dos conceitos abordados nas aulas práticas para a compreensão do experimento, além da introdução de algumas noções básicas que irão ser exploradas de forma mais abrangente nos campos de estudo físico-químico e orgânico. O experimento foi bem sucedido, uma vez que formou-se uma camada homogênea de prata metálica sobre a superfície de interesse. Todavia, a estética do espelho seria otimizada caso houvesse a limpeza adequada da vidraria no ínicio do procedimento. O êxito se deve a simplicidade do procedimento empregado, simplicidade esta que, entretanto, abarca vários conceitos com a finalidade de entender os mecanismos envolvidos no processo, mostrando ser este um experimento rico na exploração de concepções químicas. Referências Bibliográficas ALVARENGA, Gabriel; ANHESINE, Naira; ZANETTI, Renan; BOTERO, Weslei. Eletrólise da água e Eletrodeposição. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Set./2013. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAggAEAL/eletrolise-eletrodeposicao>. Acesso no dia: 10/12/2016. ATKINS, Peter; JONES, Loretta. Princípios da Química: Questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 5ª ed., 2012, p. 547, 761, 765. CECON, Kleber. A tradução química de experimentos alquímicos envolvendo água régia em Robert Boyle. São Paulo: Scientiae Studia, vol. 10, nº 4, 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678- 31662012000400005>. Acesso no dia: 10/12/2016. MACHADO, Ubiratan. Transportadores de Glicose. Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. São Paulo: Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, vol. 42, nº 6. Dez./1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/abem/v42n6/v42n6a03.pdf>. Acesso no dia: 10/12/2016. SARAN, Luciana. Identificação de Aldeídos e Cetonas pelo Teste de Tollens e Identificação de Açúcares Redutores pela Prova de Benedict. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP. Disponível em: <http://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/tecnologia/LUCIANAMARIASARAN/ aula-02-de-laboratorio.pdf>. Acesso no dia: 09/12/2016. QUEIROZ, Allan. Corrente contínua e alternada. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fev./2014. Disponível em: <http://equipe.nce.ufrj.br/adriano/circlog/provas/p20141/t1/ENTREGUES/teste1Pime ntel.pdf>. Acesso no dia: 10/12/2016. WAGNER, Edson. Noções básicas de Eletrodeposição. Nov./2013. Disponível em: <http://www.portaldagalvanoplastia.com.br/galvanoplastia/cobre/nocoes-basicas-de- eletrodeposicao.html>. Acesso no dia: 09/12/2016.
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