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Jairo Carioca Cristologia e Antropologia IBADERJ

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(Reprodução mostrando as cruzes antes de serem levantadas.)�
 "Observemos o indício de seu amor. Recebemos tal penhor da promessa de Deus; temos a morte de Cristo, temos o sangue de Cristo. Quem morreu? O Filho Único. Por causa de quem ele morreu? Oxalá fosse por causa dos bons, dos justos. Mas. Então? Diz o apóstolo:" Cristo morreu pelos ímpios "(Rm 5.6). Quem doou sua morte em prol dos ímpios, que há de reservar aos justos, a não ser sua vida? Erga-se, portanto, a fragilidade humana; não desespere, não se choque, não se aparte, não diga: Não serei eu. Foi Deus quem o prometeu; veio para prometer; apareceu aos homens, veio assumir nossa morte, prometeu sua vida. Veio até a região de nossa peregrinação, receber aqui o que existe aqui fartamente: opróbrios, espinhos, suspensão no madeiro, cruz, morte. De tais coisas há fartura em nossa região; veio para tal comércio. Que deu e o que recebeu? Deu exortação, deu doutrina, deu remissão dos pecados; recebeu injúrias, morte, cruz. Trouxe-nos bens de sua região e em nossa região suportou os males. No entanto, prometeu-nos estarmos no futuro ali de onde Ele veio; e disse:" Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estou, também eles estejam comigo "(Jo 17.24). Houve previamente tamanho amor! Esteve conosco onde nós estávamos, estaremos nós com Ele lá onde Ele está."
 (Agostinho, Bispo de Hipona)�
SUMÁRIO 
Apresentação
CAPÍTULO I
A Natureza Humana de Cristo
CAPÍTULO II
A Natureza Divina de Cristo
CAPÍTULO III
A Expiação de Cristo
CAPÍTULO IV
A Ressurreição e Ascensão de Cristo
CAPÍTULO V
Os Ofícios de Cristo
APRESENTAÇÃO
�ristologia é o estudo dos atributos de Cristo como Deus e como Homem e do relacionamento dessas duas naturezas de forma intrínseca. Totalmente Deus e totalmente Homem, assim como dito foi no Concílio de Nicéia�; "...o Unigênito Filho de Deus,gerado pelo Pai antes de todos os séculos, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma substância com o Pai, pelo qual todas as coisas foram feitas; o qual , por nós homens e por nossa salvação, desceu dos céus, foi feito carne pelo Espírito Santo e da virgem Maria, e tornou-se homem, e foi crucificado por nós sob Pôncio Pilatos, e padeceu e foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras, e subiu aos Céus e assentou-se à direita do Pai, e de novo há de vir com glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu Reino não terá fim...". Portanto, todo aquele que for salvo deve pensar assim, "...creia na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo. Porque a fé correta é que creiamos e confessemos que nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e Homem. Deus da substância do Pai, gerado antes dos séculos; e homem da substância de sua mãe, nascido no mundo. Deus perfeito e Homem perfeito, de alma racional e subsistindo em carne humana. Igual ao Pai quanto à divindade, e inferior ao Pai quanto à humanidade. Que, embora seja Deus e Homem, não é, porém, dois, mas um Cristo...".�
 Também é o estudo de uma verdade revelada pelo próprio Deus através das Escrituras, que nos amou de forma tão intensa, entregando seu próprio Filho para morrer por nossos pecados (Jo 3.16). Estudar Cristologia é conhecer o infindável amor do Pai, é a revelação que o próprio Deus faz de si mesmo, pois conhecer o Filho é conhecer o Pai (Mt 11.27). Conhecimento esse que não depende do racional, da especulação filosófica ou de uma experiência esotérica e mística, não! È fruto de uma revelação gratuita e espontânea de Deus, fruto da graça (Mt 16.13-20).
 Quem quiser conhecer todos os mistérios que antes estava oculto (Mt 26.28), depende totalmente da revelação das Escrituras Sagradas (Jo 5.39), pois somente ela tem a autoridade de afirmação ou de negação, e somente nela encontraremos palavras de vida eterna, ou seja, encontraremos o próprio Cristo. "Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito e vindo do Pai, cheio de graça e de verdade." �
 Portanto, entremos agora no âmbito dessa Revelação e vejamos de coração contrito o que as Escrituras nos têm reservado sobre o Deus Filho, e que o Espírito de Cristo possa irradiar em nossa mente sua luz para que possamos ver e crer. Vermos sua glória em nós e crermos no Verbo encarnado de Deus que com sua morte nos trouxe a Vida Eterna.
	 
 "É curioso que as comunidades cristãs sempre tiveram mais dificuldade de assimilar, aceitar e seguir o Jesus que é carne e sangue como nós do que o Jesus que é 'um com o Pai'. As interpretações mais equivocadas e mortais acerca de Jesus nestes dois mil anos de cristianismo são, de longe, aquelas relacionadas aos que desprezam, ignoram ou negam a humanidade de Cristo. Ao que parece, para um grande número de pessoas é muito mais fácil crer num Jesus inteiramente divino que não suja as mãos com a humanidade do que crer num Jesus com terra debaixo das unhas."
 (Eugene H. Peterson)�
 "E o verbo se fez carne e habitou entre nós..."
 (Jo 1.14)
	
CAPÍTULO I
A Natureza Humana de Cristo
 De acordo com a antropologia, a natureza humana é o conjunto das características físicas e orgânicas, mentais, psicológicas, afetivas, etc., que, nos seres humanos, são supostamente comuns a espécie e invariáveis, isto e´, independentes das influências das sociedades ou culturas específicas em que os indivíduos nascem e se desenvolvem. Já a filosofia define como o conjunto das qualidades percebidas como idênticas, imutáveis e comuns a todos os seres humanos, e que seria suficiente para caracterizá-los como tais.�
 Essas características por si só já são suficientes para validar a natureza de Cristo, visto que ele era possuidor de todas essas qualidades. A Bíblia demonstra com clareza que Cristo tornou-se homem e morou aqui, em nosso meio, sendo um de nós. Vejamos, portanto, as várias provas de sua humanidade.
Ele nasceu de mulher.
Teve todas as características essenciais da natureza humana.
Teve fraquezas não pecaminosas da natureza humana.
Relacionava-se com Deus como homem.
Ele teve nomes humanos.
Foi, por vezes repetidas, chamado de homem.
Desenvolveu-se de forma humana.
Ele nasceu de mulher.
"Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei". (Gl 4.4)
"Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo". (Mt. 1.18)
"E, entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra". (Mt. 2.11)
"E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te".(Mt. 12.47)
"E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus". (Jo 2.1)
 Observemos que os textos acima são bem enfáticos quanto a afirmação de que Ele nasceu de mulher. Mateus o chama de 'Filho de Davi, filho de Abraão' (Mt 1.1), Lucas traça sua linhagem até a Adão (Lc 3.23-38), Paulo afirma que 'Ele segundo a carne, veio da descendência de Davi' (Rm 1.3)
 Apesar de todas essas afirmações, surgiram no período do cristianismo primitivo, algumas seitas que negavam a realidade do nascimento carnal de Cristo ou outras que até mesmo divinizaram o seu corpo. Vejamos sobre esses movimentos. 
 O Gnosticismo, seita que fez competição com o cristianismo primitivo por aproximadamente cento e cinqüenta anos, ensinava que Cristo não era o verbo encarnado de Deus, mas apenas uma das diversas manifestações angelicais ou 'aeons'. Eles ensinavam que o 'Espírito-Cristo teria vindo possuir o corpo de Jesus de Nazaré, na ocasião do seu batismoe, depois o abandonou por ocasião de sua morte, pelo que a morte de Jesus não teria valor como expiação. Há outra linha de pensamento gnóstico que ensinava que o Cristo possuiu Jesus na ocasião de seu nascimento, como os coríntios, seja como for o apóstolo João refutou esse pensamento e combateu os gnósticos ao escrever sua primeira carta contra o pensamento docetista� dos mesmos, afirmando que   "Vocês podem reconhecer o Espírito de Deus deste modo: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne� procede de Deus; mas todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo." � O Apóstolo Paulo, deixou claro em sua doutrina que Cristo possui toda a "plenitude" de Deus, ou seja; a sua <pleroma>.� Os gnósticos ensinavam que os aeons possuíam apenas partículas dessa plenitude e nunca o todo. Essa heresia foi tão perniciosa no começo do cristianismo que oito livros do Novo Testamento foram escritos para combatê-la, são eles: - As três epístolas Joaninas, as epístolas aos Colossenses, Judas, e em certas passagens, Efésios, o Evangelho de João e o Apocalipse.
 Entre 318 e 323, o Bispo Alexandre entrou em conflito com o Bispo da Igreja de Baucalis por nome Ário, a respeito da natureza de Cristo. Em fevereiro de 325, Ário foi condenado num sínodo em Antioquia e no dia 20 de maio de 325, o Concílio ecumênico de Nicéia condenou Ário de forma definitiva com seus ensinamentos. Estava presente neste concílio aquele que no decorrer dos anos foi o maior defensor da fórmula de Nicéia, o Bispo de Alexandria Atanásio, que na época do concílio fez parte da comitiva de Alexandre como diácono. Ário era herdeiro da cristologia oriental do logos, sendo um extremado racionalista grego que reduzia Cristo, em sua teologia, a um simples semideus. Ele propunha em seu postulado que Cristo não era Deus, mas a primeira criatura por Ele criado, através de quem todas as outras coisas são feitas. Pode ser chamado de Deus apesar de não ser Deus na realidade plena, principiou a ser a partir do não existente através de um ato momentâneo da vontade de Deus, antes desse momento, "Ele não existia".
 A longa luta contra o arianismo ainda não terminou de todo já que renasceu na era moderna entre os unitaristas, dentre os quais o mais conhecido são as Testemunhas de Jeová que vem em Ário uma espécie de precursor de Charles T. Russel.
 No século IV surge outra heresia que começou numa tricotomia platônica. O homem era visto como corpo, alma sensível e alma racional. Apolinário, notável Bispo de Laudicéia, dizia que se alguém ensinava que Cristo era um homem completo, por implicação tinha que afirmar que Jesus também possuía uma alma racional humana onde residia o livre-arbítrio; e sempre que havia livre-arbítrio, havia pecado. Portanto, o Logos tomou o lugar da alma racional na humanidade de Jesus, de forma mais clara; em Cristo, o eterno filho, ou Logos, tomava o lugar da inteligência humana. Essa heresia foi condenada pelo Concílio de Constatinopla, em 381 e encontrou sua definição máxima no Concílio de Calcedônia; "Ele mesmo é perfeito tanto na divindade quanto na humanidade. Ele mesmo também é realmente Deus e realmente homem, com alma racional e com corpo".
 Outro movimento surgido na primeira metade do V século e que negou com veemência a encarnação do Cristo, foi chamado de Eutiquianismo.
 Eutíquio, devotado discípulo de Cirilo de Alexandria, era chefe de alguns mosteiros na Igreja Oriental. Entre 448 e 451 D.C., ele defendeu o conceito de que, por ocasião da encarnação, a natureza humana de Cristo foi absorvida pela natureza divina, ou seja; o corpo humano de Cristo tornou-se divino. Essa posição negava tanto a dupla natureza de Cristo como a sua própria humanidade e por isso foi consideradas herética no Concílio de Calcedônia em 451 D.C., e Eutíquico foi desligado de suas funções.
 Justamente por causa de sua natureza humana, é que Ele pôde nos salvar ao derrotar a morte na cruz e anular o poderio que satanás possuía nos homens por causa do pecado, pois "nele não havia pecado algum" (I Jo 3.5). Como bem falou Irineu: - "Tomando nossa carne e fazendo-se homem, recapitulou em si a longa jornada da estirpe humana, obtendo para nós salvação de modo tão sumário, para que em Jesus Cristo recuperássemos aquilo que tínhamos perdido em Adão, ou seja, o sermos a imagem e semelhança de Deus." �
Teve todas as características essenciais da natureza humana.
Ele possuía um corpo humano visível e palpável. 
"Ora, derramando ela este ungüento sobre o meu corpo" (Mt 26.12); "Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho." (Lc 24.39); "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós." (Jo 1.14); "Mas ele falava do templo do seu corpo." (Jo 2.21); "E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas" (Hb 2.14); "mas corpo me preparaste." (Hb 10.5); "Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez."(Hb 10.10).
Ele possuía uma alma.
"Então, lhes disse: A minha alma está cheia de tristeza até à morte; ficai aqui e vigiai comigo." (Mt 26.38); "Agora, a minha alma está perturbada; e que direi eu?..." (Jo 12.27); "Pois não deixarás a minha alma no Hades, nem permitirás que o teu Santo veja a corrupção." (At 2.27); "nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no Hades, nem a sua carne viu a corrupção." (At 2.31).
Ele possuía um Espírito. 
"E Jesus, conhecendo logo em seu espírito que assim arrazoavam entre si, lhes disse: Por que arrazoais sobre estas coisas em vosso coração?" (Mc 2.8); "E, suspirando profundamente em seu espírito," (Mc 8.12); "E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou." (LC 23.46); "Tendo Jesus dito isso, turbou-se em espírito e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair." (Jo 13.21).
 Como vimos, Cristo possuía todas as características essenciais da natureza humana, tinha corpo, alma e espírito, mas ao afirmarmos que Ele tomou a nossa natureza, precisamos sempre deixar bem claro, de modo enfático, a diferença entre a natureza humana e a natureza carnal que é pecaminosa. Jesus possuía a primeira, mas não tinha a segunda.
Teve fraquezas não pecaminosas da natureza humana.
 Ao mostrarmos as fraquezas não pecaminosas da natureza de Cristo, temos que ter em mente e nunca nos esquecermos que Ele também era, simultaneamente Deus verdadeiro. A tentação só foi possível por causa de suas fraquezas humana, pois é pela tentação que somos postos em circunstâncias onde somos obrigados a escolher entre pecar ou negar a satisfação de um desejo ou apetite realizado. Cristo não pecou, embora fosse tentado.
Ficou cansado. (Jo 4.6)
Teve fome.(Mt 4.2; 21.18)
Teve sede. (Jo 19.28)
Dormiu. (Mt 8.24)
Limitado em seu conhecimento (Mc 1.35; Jo 6.15; Hb 5.7)
Foi tentado. (HB 2.18; 4.15; Tg 1.13)
Relacionava-se com Deus como Homem.
"E, à hora nona, Jesus exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá sabactâni? Isso, traduzido, é: Deus meu, Deus meu,� por que me desamparaste?" ( Mc 15.34)
"Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (Jo 20.17)�
 
Ele teve nomes humanos.
 O nome "Filho do Homem" (em hebraico bem Adam ou em aramaico, bar nasha) ocorre 82 vezes no Novo Testamento, e conforme aparece no evangelho de João 12.34, os judeus entendiam que esta expressão significava o Messias e que havia pouca diferença entre chamá-lo de Filho do Homem ou Filho de Deus. Jesus tinha uma particular afeição a esse nome e por diversas vezes fez uso para referi-se a si mesmo.
 O nomeJesus é a forma grega do nome Josué, que após o exílio (Ne 8.17) é chamado de Jesua de onde surge o grego Iesous, " for since the days of Jeshua� the son of Nun unto that day had not the children of Israel done so. And there was very great gladness.�"(Desde o dias de Josué, filho de Num, esta era a primeira vez que faziam isso, e todos estavam muito alegres.)� 
 Também é chamado de filho de Abraão (Mt 1.1), e de filho de Davi em diversas passagens do livro de Mateus.
Foi, por vezes repetidas, chamado de Homem.
 Ele é o Homem por excelência. 
 Aplicou o termo a si mesmo (Jo 8.40), João Batista (Jo 1.30), Pedro (At 2.22) e Paulo (At 13.38; I Co 15.21 e Fp 2.8) o chamaram de homem. Era reconhecido como judeu (Jo 4.9), acharam que Ele era mais velho do que realmente o era (Jo 8.57) e foi acusado de blasfêmia por dizer ser algo maior que homem (Jo 10.33). Após a sua ressurreição continuou com sua aparência de homem (Jo 20.15; 21.4,5). Existe hoje como homem na glória (I Tm 2.5) e em sua vinda julgará o mundo com justiça como homem, "Pois ele marcou o dia em que vai julgar o mundo com justiça, por meio de um homem que escolheu. E deu prova disso a todos quando ressuscitou esse homem." �(At 17.31).
Desenvolveu-se de forma humana.
 O desenvolvimento físico e mental de Cristo não foi um fato divino, mas de forma natural como o é todas as crianças regidas pelas leis comuns do desenvolvimento humano que o próprio Deus estabeleceu ao criar o homem no Édem. Seu desenvolvimento mental não foi fruto de um aprendizado nas escolas de sua época, mas foi o resultado de uma educação em um lar que temia a Deus, sua regularidade na sinagoga (Lc 4.16), sua visitas ao Templo (Lc 2.14, 46, 47), através do estudo incansável das Escrituras (Lc 4.17) e sua intensa comunhão com o Pai (Mc 1.35). Assim sabemos portanto que "Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele." (Lc 2.40) e que "crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens." (Lc 2.52).
 
	
 "...porquanto divindade e humanidade são duas naturezas, como a alma e o corpo, mas não há dois filhos nem dois deuses...Ambas as naturezas, por meio da união, são uma, seja divindade feita homem, seja humanidade feita Deus, ou seja qual for a expressão correta..."
(Gregório Nazianzeno, arcebispo de Constantinopla)�
 "Tão profundo é o abismo - agora fica claro quão profundo ele é - que nos separa dEle, que para transpô-lo nada menos que o próprio Deus será suficiente. Mas o próprio Deus faz isto, e ao fazê-lo, mostra que Ele pode fazê-lo, pois Ele é o Deus triuno, o Pai do Filho, o Filho do Pai, ambos estes não apenas em sua revelação, não apenas em seu reconciliamento nosso para Consigo Próprio, mas ambos estes em verdade e poder na Sua revelação e reconciliação, pois de eternidade a eternidade Ele não é nenhum outro senão exatamente este Deus".
 (Karl Barth)�
 "O cristianismo não nasceu com o nascimento do ser humano chamado 'Jesus', mas no momento em que um de seus seguidores foi levado a dizer-lhe: 'Tu és o Cristo'. E o cristianismo continuará existindo enquanto houver pessoas que repitam essa afirmação."
 (Paul Tillich)�
	 
CAPÍTULO II
A Natureza Divina de Cristo
 O cristianismo só é de fato uma realidade se aceitarmos de forma convicta que o 'Jesus de Nazaré', não era apenas um Galileu que andou entre nós, ou como prefere o método histórico crítico, o 'Jesus histórico', não! A mensagem cristã só pode ser sustentada mediante a asserção de que Jesus é o Cristo.
 Vemos na Bíblia que a primeira pessoa a aceitar o Jesus de Nazaré como Cristo foi o Apóstolo Simão Pedro (Mt 16.16), e por causa disso Jesus lhe confiou a Igreja para ser apascentada pelo mesmo. Deve ficar bem claro que Jesus de Nazaré não era um Cristo (Xristós - grego) que de acordo com a tradição mitológica diz respeito a um personagem especial que desenvolve uma função especial; mas o Messias (Ungido) que recebeu uma unção única de Deus para estabelecer em Israel e no mundo o reinado de Deus. 'Jesus Cristo' significa literal, original, essencial e permanentemente - 'Jesus que é o Cristo'. Vejamos, portanto, as várias provas de sua divindade:
Pelo Testemunho vétero-testamentário.
Pelo ensino Neotestamentário.
Pelos escritos de Paulo e João.
Pelos nomes divinos.
Pelo culto que lhe é prestado.
Pela firmeza de seu caráter.
Pelo Testemunho Vétero- testamentário.
 Certa vez um pregador afirmou que o Evangelho não começava em Mateus, mas em Gênesis, e é fato que todo aquele que reconheça Jesus como Messias precisa o identificar na promessa proferida pelo próprio Deus em Gênesis 3.15 "E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Esta promessa continua por todo o Antigo Testamento, pois em várias ocasiões Deus prometeu enviar o seu Filho ao mundo (Is 7.14; 9.6; Mq 5.12 etc.). Ele é prefigurado nos sacrifícios apresentados e é ensinado nos Salmos e nos Profetas.�
 Existe pluralidade de pessoas na linguagem empregada no registro de criação do homem, "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gn 1.26), onde a única explicação satisfatória cabível é aquela fornecida pela doutrina da Trindade. As Teofanias também sugerem a presença do divino sob forma humana que já prerrogava a possibilidade da encarnação de Cristo. O Anjo do Senhor que descortina em todo o Antigo Testamento, onde se imputam títulos, atributos e as obras de Deus não é outro senão o próprio Cristo, que possui autoridade divina, exerce prerrogativa divina e recebe homenagem divina (Gn 16.10; 28.11-22; Os 12.4-5 etc).
 Outro exemplo no Antigo Testamento da presença de Jesus, é o termo Mashiah (Messiah em sua forma transliterada, traduzida em grego como Christos) cujo significado é 'o ungido'. Esse nome tão facilmente confundido com um sobrenome, é na verdade um título que só pode ser compreendido em sua totalidade à luz do Antigo Testamento em relação à vinda do Messias de Deus. 
 Resumindo, o Cristo seria aquele que reuniria em sua pessoa as três grandes funções mediadoras do Antigo Testamento: profeta, sacerdote e rei. Calvino denominou como o 'múnus triplex Chisti'�, como profeta Ele é aquele que testemunha e apregoa a graça de Deus; como rei Ele inaugura um reinado celestial e espiritual, um reino que não é físico e como sacerdote pôde se oferecer através de sua morte em expiação por nossos pecados; portanto somente Jesus de Nazaré - o Cristo - cumpre os ministérios de mediação previstas na Antiga Aliança testemunhada em todo o Antigo Testamento. 
Pelo Ensino Neotestamentário.
� Nessas cruzes, os criminosos seriam amarrados ou pregados à barra transversal, que seria levantada lentamente, asfixiando o condenado até a morte.
� Agostinho, Comentário aos Salmos, 148.8, v.3, p. 1132-3. Col. Patrística. Editora Paulus
� 325 a.d. - Revisado em Constantinopla em 381 a.d. 
� Credo de Atanásio. Séc. IV e V
� João 1.14 - Nova Versão Internacional
� Peterson,Eugene H. A Maldição do Cristo Genérico - Mundo Cristão - p. 375
� Novo Aurélio século XXI - verbete 'natureza humana'.
� Vem do termo grego dokéo, (parecer). Uma seita surgida dentro do gnosticismo, que negava a realidade humana do corpo de Cristo.
� Grifo meu
� I João 4.2,3 NVI
� A Natureza de Deus e seus atributos.
� Bettenson, H., Documentos da Igreja Cristã p.69 , Aste.
� Grifo meu.
� Idem
� Idem
� Versão King James
� Tradução livre
� Nova Tradução na Linguagem de Hoje
� Bettenson, H., Documentos da Igreja Cristã p.92 , Aste
� Barth, Karl; Credo, Comentários ao Credo Apostólico, pg 76, Fonte Editorial
� Tillich, Paul; Teologia Sistemática, pg 388, 5ª Edição Revista,Sinodal-Est
� Para uma melhor compreensão do Messianismo no Antigo Testamento, indico a leitura do livro de Gerard van Groningen, "Revelação Messiânica no Antigo Testamento", Editora Cultura Cristã.
� Três ministérios ou funções de Cristo.
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