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80 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004 e n g e n h a r i a Materiais SE, POR UM LADO, em climas relativamente quentes, a radiação solar pode ser uma das fontes de ganhos energéticos significativos no Verão, no Inverno representa uma fonte inesgotável de energia. Por outro lado, na ilu- minação do interior de edifícios, a luz solar é mais eficiente do que qualquer outro tipo de luz artificial. Hoje, a oferta em vidro para arquitectura e engenharia civil é muito diver- sificada. Desde o vidro simplesmente recozido, aos vidros serigrafados e impressos, que permitem criar ambientes distintos com diferentes níveis de privacidade, aos vidros revestidos superficialmente por filmes metálicos, com desempenhos óptico e térmico específicos, como sejam os vidro anti- reflexo, vidro espelhado e vidro baixo-emissivo, ou ainda vidros autolimpe- za, que reduzem significativamente os custos de manutenção em edifícios ou os vidros temperados, tratados química ou termicamente de forma a optimizar o desempenho mecânico do vidro, são várias as opções. A gama de vidros laminados, filtros eficazes à radiação ultravioleta (UV) e vidros duplos torna possível uma resposta ao projecto mais exigente. A selecção do vidro, no projecto de arquitectura, passa pelo conhecimento das propriedades ópticas dos materiais. A LUZ O desempenho óptico de um material resulta da interacção deste com a radiação electromagnética. No estudo das propriedades ópticas dá-se especial ênfase à parte visível do espectro electromagnético (Figura 1), designado por luz. Algumas das manifestações da radiação electromagnética são bem inter- pretadas pela teoria ondulatória. A luz faz parte do espectro electromagné- tico e é visualizada como uma onda de comprimento l, à qual estão asso- ciadas um campo magnético e um campo eléctrico. A equação que define a onda electromagnética pode ser descrita em ter- mos da frequência da vibração, n, da velocidade, s, e do comprimento de onda, l, de acordo com: [1] Por outro lado, a energia da radiação, E, relaciona-se com o comprimento de onda, l, e com a frequência, n, de acordo com: [2] onde h é a constante de Planck, c a velocidade da luz no vazio (Tabela 1) e hc a energia do fotão, de acordo com a teoria corpuscular. A comprimen- tos de onda maiores correspondem energias de fotão menores. (h = 6.6261 x 10-34) A reciprocidade entre comprimento de onda e frequência permite expressar a energia radiante de ambas as formas. Por comodidade, a energia electromagnética de longos comprimentos de onda repre- senta-se em frequências ou número de onda (por exemplo, n = 2000 cm-1, para o infravermelho ou 50 Hz, para electricidade) enquanto a de frequência elevada se representa em comprimentos de onda (por exemplo, 500 nm para a cor verde). Ondas rádio e de radar: as ondas de rádio e de radar representam a parte final do espectro electromagnético na região de baixas energias. As ondas rádio e de radar atravessam a atmosfera e chegam à superfície terrestre onde nos envolvem diariamente. Níveis de exposição elevado a este tipo de radiação revelaram-se nocivos em cobaias. Conta-se que durante a II Guerra Mundial, nas manhãs mais frias de Inverno, os soldados britânicos reuniam-se em parada em frente das ante- nas de radar. Ora, a banda espectral de ondas rádio e de radar termina exactamente com frequências de microondas, pelo que o conforto propor- cionado seria real. Infravermelho: a radiação de comprimento de onda superior ao ver- melho é designada por infravermelha (IV), designação que se deve exactamente à proximidade com a região do visível. Embora não per- ceptível pelo olho humano, a radiação infravermelha é sentida na pele como calor. Cerca de um terço da radiação solar que chega à Terra é radiação infravermelha. Os restantes dois terços são constituídos quase exclusivamente por radiação visível. A radiação infravermelha é também a radiação emitida pelos objectos terrestres no intervalo de temperaturas de 10 oC a 100 oC. Os metabolismos biológicos geram calor que é irradiado pela pele a frequências na gama do infravermelho. Visível: na gama do visível, o menor comprimento de onda da luz que podemos perceber corresponde à cor violeta (l = 400 nm) e o maior ao vermelho (l = 700 nm). Entre estes dois limiares encontram-se o laranja, o amarelo, o verde, o azul e o índigo (Tabela 2). Propriedades ópticas dos materiais 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 1 MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 81 Ultravioleta: a radiação de comprimento de onda inferior ao violeta designa-se por radiação ultravioleta (UV). Ultravioleta A (UVA) é a região mais próxima da região violeta, e as regiões ultravioleta B e C (UVB e UVC) correspondem a regiões mais afastadas, de compri- mentos de onda ainda menores. Enquanto a radiação de longos comprimentos de onda (por exemplo IV) é completamente inofensiva aos sistemas biológicos, já a sobreexpo- sição à radiação de energia elevada, como UV, pode ser nociva, poden- do causar queimaduras cutâneas, lesões no olho humano ou ainda ini- ciar processos químicos degradativos, como o cancro de pele. No entanto, a exposição à radiação UV é necessária à produção de algu- mas vitaminas nos organismos vivos e ao crescimento saudável das plantas. Por outro lado, um grande número de produtos pode sofrer alterações mais ou menos profundas, devido a processos fotoquímicos. Daqui a importância da incorporação de filtros UV em vidros de jane- la. São exemplo disso os vidro duplo e vidro laminado, que permitem a protecção contra riscos de descoloração e deterioração de mate- riais pela radiação UV. Raios-X e raios Gama: a exposição a radiação de elevada energia é noci- va aos organismos biológicos. No entanto esta é absorvida, quase na tota- lidade, pelos gases das camadas mais elevadas da atmosfera, como acon- tece na reacção de decomposição do ozono. Os vidros comuns são materiais transparentes na gama espectral do visível, embora opacos na gama espectral do IV longínquo e numa larga percentagem da radiação UV (Figura 2). Uma exposição solar, ainda que prolongada, sob um vidro de janela não produz melanina (responsável pelo bronzeado da pele), exactamente porque grande parte da radiação UV é filtrada pelo vidro de janela. Por exemplo, um vidro comum de janela com 1 mm de espessura fil- tra totalmente a radiação IV. Na região UV, para além da espessura e da composição do vidro, a presença de impurezas é determinante – o elemento ferro, por exemplo, absorve na gama de UV. Além de transparentes os vidros são isolantes eléctricos. A origem de muitas das propriedades ópticas e dieléctricas dos materiais transparentes reside na dificuldade de promoção dos electrões da banda de valência para a banda de condução, onde podem conduzir a corrente eléctrica. O limiar de transparência no visível termina, para comprimentos de onda elevados, com a absorção no UV, devida a transições electróni- cas entre níveis da banda de valência e níveis não preenchidos da banda de condução. A unidade estrutural da sílica vítrea e do quart- zo cristalino possui ligações químicas Si-O cujas transições electró- nicas ocorrem na gama do UV. Para comprimentos de onda elevados, o limiar de transparência ter- mina devido às vibrações dos iões na rede em ressonância com a energia imposta. A ausência de fronteiras de grão nos vidros é responsável pela ausência de fenómenos de dispersão e de reflexão internos, fenóme- nos sempre presentes em materiais policristalinos. Embora o espectro de transmitância possa variar de vidro para vidro, as principais diferenças observam-se fora da gama de transparência (Figura 2). O limiar de transparência de um vidro de sílica pura, no UV, pode ir até 160 nm, dependendo do processo de fabrico do vidro. Já os vidros comuns, vidros de silicatos sodo-cálcicos, apresentam limiares de transparência inferiores no UV, por exemplo, de 287 nm para NA2O.3SIO2. O controloda radiação solar é um dos factores determinantes no design sustentado de edifícios Texto de M. Clara Gonçalves* Figura 1 – Espectro electromagnético 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 2 A COR O fenómeno cor refere-se a uma resposta fisiológica ao estímulo luz que chega à retina. A sensibilidade à cor não depende apenas da intensidade luminosa, mas também da área estimulada da retina. A sensibilidade do olho humano à luz varia com o comprimento de onda e depende das condições de luminosidade. A máxima sensibilidade do olho humano é observada para um l próximo de 555 nm (verde) em condições de luminosidade diurna, o comprimento de onda a que corresponde também o máximo de intensida- de do espectro solar (Figura 3). As cores que formam o espectro de luz branca são designadas por cores cromáticas (vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e violeta). As cores não cromáticas são aquelas que resultam da mistura de cores cro- máticas e não estão presentes no espectro (por exemplo, o castanho). As cores podem definir-se com apenas três parâmetros – tom (cor), lumi- nosidade do tom (valor do tom) e saturação do tom. O olho humano é capaz de distinguir cerca de dez milhões de cores. - Tom (cor) corresponde ao comprimento de onda ou frequência da radiação dominante. Ao tom é dado o nome amarelo, azul, etc. - Saturação corresponde à quantidade de luz branca misturada com o tom e permite caracterizar as cores pálidas (tons pastel, por exemplo). - Luminosidade (valor) descreve a intensidade da cor, i.e., o número de fotões que chegam à retina. A mistura de cores ocorre sempre que dois ou mais feixes de cores dis- tintas se combinam. A maioria das cores pode produzir-se pela mistura de apenas três cores primárias – o vermelho, o verde e o azul. Uma cor será então constituída pela combinação de determinadas quantidades destas três cores primárias, designadas por valores tri-estímulos e que são, R para o vermelho (do inglês red) , G para o verde (do inglês green) e B para o azul (do inglês blue), pelo que: [3] Este modelo é designado por modelo de cor RGB. Desta forma é possível realizar a representação de uma cor sobre um diagrama plano, designado por diagrama cromático. Nesta diagrama cromático, os vértices do triân- gulo representam o vermelho, o verde e o azul. As outras cores serão representadas de acordo com as suas coordenadas tri-estímulos. O ponto central do triângulo de cor representa a cor branca – caso em que as três cores primárias estão equitativamente presentes. No diagrama cromático estão representadas a saturação e a matiz, mas não o brilho, que deverá ser adicionado como um terceiro eixo, perpendicular ao plano do diagrama cromático. O vidro pode apresentar cor por diversas razões: 1) o vidro, embora inco- lor, pode estar revestido por um filme superficial; 2) o vidro, embora inco- lor, pode estar montado num estrutura de vidro laminado, em que o filme sintético de Butiral de Poliviníl (PVB) tem cor; 3) a massa vítrea pode, de facto, ser colorida. Neste último caso, a cor pode ter origem em fenóme- nos de absorção (pela presença de grupos cromóforos) ou de dispersão (pela presença de partículas coloidais ou de poros, de dimensões da ordem de grandeza do comprimento de onda da radiação). INTERACÇÃO DA LUZ COM A MATÉRIA Em arquitectura, o vidro é tradicionalmente o material transparente. Muitas das aplicações de arquitectura tiram partido das propriedade ópticas deste material. A interacção da luz com materiais transparentes processa-se de várias for- mas, como se ilustra na Figura 4. A luz incidente pode ser reflectida por qualquer superfície. A luz que atravessa o material pode ser dispersada ou absorvida. Parte da luz absorvida pode vir a ser reemitida, fenómeno que se designa por fluorescência. E, finalmente, a luz que atravessa o material é transmitida. Não considerando o fenómeno de fluorescência, a interacção da luz com um material transparente pode esquematizar-se da seguinte forma: Intensidade incidente (I0) = quantidade reflectida (IR) + quantidade dispersada (ID) + quantidade absorvida (IA) + quantidade transmitida (IT) [4] Em materiais de boa qualidade óptica, as fracções dispersada e absorvida podem ser desprezadas, pelo que: 82 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004 e n g e n h a r i a Materiais Figura 2 – Espectros de trans- missão para vários vidros planos. Os vidros de janela comuns são materiais transparentes na gama espectral do visível, embora opa- cos na gama espectral do IV lon- gínquo e numa larga percenta- gem da radiação UV Figura 3 – Espectro da sensi- bilidade do olho humano à radiação visível, em condições de visibilidade diurna (CIE, Commission International de Éclairage) Figura 4 – Interacção da luz com um material transparente 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 3 [5] REFLEXÃO ESPECULAR Quando a luz atinge uma superfície, se esta for lisa e não apresentar rugosidades, a luz é reflectida espectacularmente, i.e., obedece às leis da reflexão (uma fracção da luz incidente é reflectida pela super- fície com um ângulo igual ao ângulo de incidência, encontrando-se o raio incidente, o raio reflectido e a normal à superfície no ponto de incidência no mesmo plano). Este é o fenómeno que se observa em espelhos ou em superfícies polidas. É a regularidade da reflexão especular que permite a formação de imagens em espelhos. A reflexão especular é a única forma de reflexão que obedece às leis da reflexão. A fracção de luz que é reflectida especularmente por uma superfície rela- ciona-se com o índice de refracção do material pela fórmula de Fresnel (válida para incidência normal em materiais transparentes): [6] onde R – fracção de luz reflectida (especularmente) n1 – índice de refracção do meio 1 n2 – índice de refracção do meio 2 Quando a luz é transmitida, por exemplo, do vácuo ou do ar para o interior de um vidro de janela, então: [7] pois o índice de refracção do ar é aproximadamente um. Quanto maior for o índice de refracção de um sólido, maior será a sua reflexão especular (Tabela 3). Por exemplo, o elevado índice de refracção do diamante (nD = 2.43) faz com que este, quando multifacetado, brilhe intensamente devido a múltiplas reflexões (R = 17,4 %). O mesmo se passa com o vidro cristal de chumbo (R = 18,4 %), cujo índice de refracção (nD ~ 2,50) é bastante superior ao do vidro comum de silicato sodo-cálcico (nD ~ 1.5; R = 4,0 %). A perda da luz por reflexão especular num vidro comum, de índice de refracção n = 1,5, é de acordo com [7], (1,5-1)2 / (1,5+1)2 = 0,04 por superfí- cie; ou seja, sempre que um raio luminoso atravessa uma superfície vidro / ar, a sua intensidade reduz-se 4 %. Ora, num vidro comum, após a reflexão na primeira superfície, a intensidade luminosa é reduzida a 96%. Depois de atravessar a segunda interface a redução será novamente de 4% (agora 0,04 de 96%), pelo que a fracção de luz transmitida será de 92,16%. Em alguns projectos de arquitectura e engenharia civil pretende minimizar- se a componente reflexão como, por exemplo, em expositores comerciais ou em expositores de museus, recorrendo-se ao vidro anti-reflexo. Para diminuir as perdas por reflexão é comum a utilização de vidros com reves- timentos de índice de refracção inferior ao do vidro base, e com uma espessura da ordem de 1⁄4 do comprimento de onda da radiação, de forma a permitir uma interferência destrutiva entre a reflexão do vidro e a reflexão do filme (Figura 5). Noutras soluções de arquitectura pretende-se exactamente o inverso, ou seja, minimizar a componente transmissão à custa da componente reflexão. É esta muitas vezes a solução encontrada para revestimentos exteriores de edifícios de serviços, pelo que se recorre a vidro espelhado. O efeito de vidro espelhado é obtido pelo revestimento superficial do vidro-base com um filme de índice de refracção superior ao do vidro base.REFLEXÃO DIFUSA Quando a luz atinge uma superfície rugosa, a reflexão passa a ter uma componente difusa, como se ilustra na Figura 6. É a componente reflexão difusa que nos permite ver os objectos quando iluminados, a sua textura e a sua cor, e nos permite distingui-los do ambiente. A componente reflexão difusa cresce à custa da componente reflexão especular. Uma superfície formada por pó granulado fino apresenta somente a componente reflexão difusa, ao contrário da superfície de um espelho em que só se manifesta a componente reflexão especular. [8] MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 83 Figura 5 – Princípio de um revestimento anti-reflexo. A luz reflectida pela superfí- cie do vidro está 180º ou l/2 em oposição de fase, relativamente à luz reflectida pela superfície mais exter- na do filme, pois atra- vessa este revestimen- to de espessura l/4, duas vezes Figura 6 – Reflexão difusa numa superfície rugosa. À medida que a rugosidade da superfície aumenta, a componente reflexão difusa cresce à custa da componente reflexão especular 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 4 84 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004 e n g e n h a r i a Materiais REFLEXÃO MISTA A reflexão mista é uma combinação da reflexão especular e da reflexão difusa e é, provavelmente, a que melhor traduz a reflexão da maioria dos objectos. É a razão da componente reflexão difusa sobre a componente reflexão especular que determina a aparência de um sólido. O brilho de uma superfície é exactamente a medida desta razão. O projecto de arquitectura pode exigir vidros com uma elevada componen- te de reflexão difusa, por exemplo, quando se pretende definir espaços com níveis de privacidade distintos, como acontece em open spaces, pelo que é comum recorrer-se a vidro impresso ou vidro serigrafado. REFRACÇÃO Quando a luz atravessa dois meios transparentes de densidades dis- tintas, como por exemplo ar/água ou ar/vidro, não só a direcção do feixe luminoso é alterada, como a própria velocidade e o comprimen- to de onda da luz variam abruptamente na interface. Este fenómeno, designado por refracção da luz, é responsável pela distorção da ima- gem de objectos imersos em copos com água, no interior de piscinas (Tabela 4) ou ainda de objectos perto do solo em dias de calor inten- so (o índice de refracção depende da temperatura, pelo que perto do solo o índice de refracção terá um valor máximo, diminuindo à medi- da que nos afastamos do solo). A forma mais simples de descrever o índice de refracção é através da razão entre a velocidade da luz no vazio e a velocidade da luz no meio: [9] Sempre que a luz passa de um meio para outro opticamente mais denso, a sua trajectória sofre um desvio, aproximando-se da normal de incidência. Se, pelo contrário, a luz passar de um meio de índice de refracção mais ele- vado para outro de índice de refracção inferior, a sua trajectória também sofre um desvio, mas agora afastando-se da normal. Neste caso, existe um ângulo de incidência crítico (ângulo limite) acima do qual ocorre reflexão interna total da luz . O valor deste ângulo limite, r, depende do índice de refracção do meio, de acordo com: [10] Sabendo que nos vidros comuns o índice de refracção varia entre 1.5 e 1.7, o valor do ângulo limite estará então entre 42o e 36o em relação à normal no ponto de incidência, respectivamente. Se i for o ângulo de incidência, e r o ângulo de refracção, então estes rela- cionam-se com a velocidade da luz no vazio, VVAC a partir do índice de refracção, n, de acordo com a lei de Snell: [11] Se a luz viajar de um material 1 para um material 2, então a equação [11] pode escrever-se : 12] O índice de refracção, e logo a reflexão especular, são função do compri- mento de onda da radiação. Em vidros de silicatos, quer o índice de refracção, quer a reflexão especular, decrescem monotonamente com o comprimento de onda, até cerca de 8 mm, aumentando depois para um valor máximo, situado entre 9 e 10 mm. É esta a razão pela qual o índice de refracção deve indicar sempre o comprimento de onda a que foi medido. É comum efectuar-se a medida de índice de refracção com a luz monocromática de comprimento de onda 598,3 nm (risca D do espectro de sódio), indicando-se então o índice com a notação nD. Nos vidros, o índice de refracção é independente da direcção (i.e., são materiais isotrópicos) mas função do comprimento de onda da radiação. Em geral, o índice de refracção decresce quando o com- primento de onda aumenta, pelo que, para um mesmo material, o índice de refracção para o vermelho é menor do que este para o vio- leta. É este o fenómeno que está na origem do arco-íris. Meio Vazio Ar (1 atm) Gelo (0ºC) Água (20 ºC) Vidro (chapa de vidro float) Velocidade da luz (m/s) 299 792 458 299 702 547 228 849 204 225 407 863 199 861 638 Tabela 1 – Velocidade da luz em vários meios (Adaptado de The Science and Design of Engineering Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders and Warner, McGraw-Hill, Boston, 1999). NOTA: Ao contrário da velocidade do som, a velocidade da luz diminui quando a densidade do meio aumenta. Figura 7 – Transmissão de luz num material translúcido. Ambas reflexão e transmissão apresentam componentes especulares e difusas. 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 5 DISPERSÃO A dispersão ocorre sempre que pequenos cristais ou outras heterogenei- dades estejam presentes no vidro. Em geral, a dispersão é indesejável, embora por vezes se possa tirar partido deste fenómeno. São exemplos disso os vidros opala e rubi, fabricados intencionalmente com centros de dispersão. A dispersão é maximizada sempre que o diâmetro das partícu- las é da ordem de grandeza do comprimento de onda da radiação – 400- 700 nm, para dispersão no visível (Tabela 5). ABSORÇÃO Quando ao fazer incidir luz sobre um vidro, este transmite na mesma pro- porção todas as frequências, o vidro diz-se incolor. No entanto, se parte da luz que entra no vidro for absorvida com intensidade desigual e de forma selectiva, então o vidro apresentará cor. Quando não existem centros dispersores e os centros de absorção estão uniformemente distribuídos pelo material, a quantidade de luz absorvida é dada pela lei de Lambert-Beer: [13] I – intensidade da luz à saída I0 – intensidade incidente l – espessura óptica Como a maioria dos componentes principais do vidro são incolores, é necessário adicionar agentes corantes para produzir a cor desejada. Em vidros é comum a adição de iões metálicos como centros de cor (Tabela 6). A presença de cor obtida pela incorporação de óxidos metálicos na massa vítrea conduz a um produto com maior pureza de cor, relativamente aos MAIO 2004 ARQUITECTURA E VIDA 85 Cor Vermelho Laranja- avermelhado Laranja Amarelo Verde amarelado Verde Verde azulado Azul Violeta l (nm) 700 650 600 580 550 525 500 450 400 n (Hz) 4.29 x 1014 x 1014 5.00 x 1014 5.17 x 1014 5.45 x 1014 5.71 x 1014 6.00 x 1014 6.66 x 1014 7.50 x 1014 Energia (J) 2.84 x 10-19 3.06 x 10-19 3.31 x 10-19 3.43 x 10-19 3.61 x 10-19 3.78 x 10-19 3.98 x 10-19 4.42 x 10-19 4.97 x 10-19 Energia (eV) 1.77 1.91 2.06 2.14 2.25 2.36 2.48 2.75 3.10 Tabela 2 – Espectro do visível (Adaptado de Colour and the optical properties of materials, Richard Tilley, John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, 2000) Índice de refracção n 1.45 1.50 1.55 1.60 1.70 1.80 1.90 2.00 2.43 2.50 Perda por reflexão R (%) 3.36 4.00 4.65 5.33 6.72 8.16 9.63 11.11 17.4 18.4 Tabela 3 – Perdas por reflexão especular em vidros Nota: Os valores da tabela não devem ser usados para ângulos de incidência superiores a 20o 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 6 86 ARQUITECTURA E VIDA MAIO 2004 e n g e n h a r i a Materiais Material Vazio Ar Água Gelo Cerâmicos Quartzo (SiO2)Ametista (SiO2) Cristal de rocha (SiO2) Corundum (Al2O3) Zircónia (ZrO2) BaTiO3 Diamante (C) Vidros Vidro de sílica Pyrex® Vidro de silicato sodo-cálcico Vidro flint denso Vidro de cristal de chumbo Polímeros Teflon Politetrafluoroetileno Polimetacrilato de metilo Polipropileno Polietileno de alta densidade Nylon 6,6 Epoxy Poliestireno Policarbonato Índice de refracção médio 1.00000 1.00029 1.333 1.31 1.544, 1.553 1.54 1.54 1.76 1.96 2.40 2.43 1.458 1.47 1.51-1.52 1.6-1.7 2.50 1.30-1,40 1.30-1.40 1.48-1.50 1.49 1.50-1.54 1.53 1.58 1.59-1.60 1.60 Tabela 4 – Índices de refracção médios para vários materiais (Adaptado de The Science and Design of Engineering Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders, Warner, Mcgraw-Hill, 2nd ed., Boston, 1999). Nota: Os índices de refracção são superiores à unidade, uma vez que a velocidade da luz num material é sempre inferior à velocidade da luz no vazio Grau de divisão Iónica ou molecular Coloidal ou microcristalina Grosseira Estado Dissolução Dispersão coloidal ou microcristalina Dispersão cristalina Tabela 5 – Classificação de grupos cromóforos de acordo com tamanho, em vidros de cor (Adaptado de El Vidrio, José Maria F. Navarro, Consejo Superior de Investigaciones Científicas Fundación Centro Nacional del Vidrio, Madrid, 1991). Ordem de grandeza 1 nm 1 nm – 100 nm > 100 nm Exemplos Fe2+, Fe3+, Co2+, Ni2+, Cr3+, Cu2+, V5+, VO2+, Ce4+, etc. Cu2O, Ag0, Au0, Cd(x+y)SxSey Cu0, Cr2O3 CONFIGURAÇÃO ELECTRÓNICA 3d1 3d2 3d3 3d4 3d5 3d6 3d7 3d8 3d9 IÃO Ti3+ V4+ V3+ Cr3+ V2+ Mn3+ Mn2+ Fe3+ Fe2+ Co2+ Ni2+ Cu2+ VIDRO fosfatos, borosilicatos silicatos Silicatos, boratos, fosfatos, borofosfatos Silicatos, boratos, aluminofosfatos, silicatos, aluminofosfatos Silicatos, boratos Silicatos Silicatos, boratos Silicatos, boratos, aluminofosfatos Boratos ricos em alcalinos Boratos pobres em alcalinos silicatos Boratos ricos em alcalinos Boratos pobres em alcalinos Silicatos, aluminofosfatos Silicatos, aluminofosfatos, boratos NC 6 6 6 6 6 6 4 ou 6 4 ou 6 4 ou 6 4 6 4 4 6 6 6 COR Violeta azul verde Verde claro violeta Amarelo pálido Amarelo/castanho Verde azulado Azul Rosa azul Azul Amarelo/castanho azul CONCLUSÃO O grau com que a radiação solar é reflectida, transmitida, absorvida ou dispersa determina a aparência de um material. O vidro de janela comum, por exemplo, é um material transparente, em que os fenómenos de absorção e de dispersão são prati- camente desprezáveis. A reflexão especular é da ordem de 7,84 % da radiação inci- dente, e os restantes 92,12 % são transmitidos sofrendo, no entanto, uma refracção pelo facto do vidro ser um meio mais denso do que o ar. A composição química, a espessura e o índice de refracção são variáveis intrínse- cas que condicionam, em maior ou em menor grau, a aparência de um sólido trans- parente. Em projecto sustentado de arquitectura, as propriedades ópticas são de importância vital. Pela selecção adequada de um vidro é possível controlar a transmissão vs. reflexão, a reflexão especular em detrimento da reflexão difusa, proporcionar dis- persão ou conferir cor. * professora do departamento de engenharia de materiais do IST BIBLIOGRAFIA • Colour and the Optical Properties of Materials, Richard Tilley, John Wiley & Sons, Chichester, 2000. • El Vidrio, José Maria F. Navarro, Consejo Superior de Investigaciones Científicas Fundación Centro Nacional del Vidrio, Madrid, 1991. • Les Verres et l´Etat Vitreux, J. Zarzycki, Masson, Paris, 1982. • Properties of Materials, Mary Anne White, Oxford University Press, Oxford, 1999. • The Science and Design of Engineering Materials, Schaffer, Saxena, Antolovich, Sanders and Warner, McGraw-Hill, Boston, 1999. • Glass Engineering Handbook, G. W. McLellan and E. B. Shand, McGraw-Hill, New York, 1984. • http://www.squ1.com/site.html obtidos pela utilização de pintura ou de outros revestimentos superficiais em vidros. No caso dos vidros laminados, por exemplo, a cor poderá ser incorporada facilmente no filme sintético de PVB. No entanto, a incorporação da cor na massa vítrea confere, a par com uma maior durabilidade, um efeito estéti- co superior. TRANSLUCIDEZ, OPACIDADE A transparência é a propriedade óptica que permite a transmissão nítida de uma imagem. A translucidez e a opacidade são dois termos menos objec- tivos. Um material não transparente mas que ainda assim é atravessado pela luz diz-se translúcido. Neste caso, a luz transmitida tem uma componente especular e uma componente difusa (Figura 7). T = T difuso + T especular [14] Quando ocorre perda total da luz transmitida, diz-se que o material é opaco. Muitos vidros e vidrados contêm compostos opacificantes que for- mam uma segunda fase de índice de refracção superior ao do vidro base (ND 1.5). O grau de opacificação causado pela existência de poros ou partículas depende do seu tamanho médio e concentração, assim como da diferença entre os índices de refracção. Tabela 6 – Coordenação de iões de metais de transição em várias matrizes vítreas. (Adaptado de Les Verres et l´Etat Vitreux, J. Zarzycki, Masson, Paris, 1982) =˜ 080-086 Eng.qxp 1/3/06 7:17 PM Page 7
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