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Origens e evoluções da ciência e da pesquisa
340
Orientações para elaborar um projeto de pesquisa com qualidade e fazer a pesquisa com efetividade de seus resultados no desenvolvimento
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Origens e evoluções das ciências e da pesquisa
2 ORIGENS E EVOLUÇÕES DA CIÊNCIA E DA PESQUISA
A
origem e evolução da pesquisa e de seus métodos estão associadas, mais do que associadas, confundidas com as mesmas fontes de dados - informações e com os mesmos pensadores da origem, desenvolvimento e evolução das ciências. As ciências, por sua vez, tiveram suas origens e evoluções, com vínculos estreitos e diretos em grande parte da história, em especial da história anterior à maior revolução científica, com as origens e evoluções da sociedade e da filosofia. Dessa forma relacionadas, para se entender a origem e evolução da pesquisa e seus métodos é preciso saber a origem e evolução das ciências, da sociedade e da filosofia que se apresentam inter-relacionadas. Tal inter-relacionamento ou engrenagem se da, a partir da sociedade como fonte da filosofia e da sociedade e filosofia como fontes, referências (...) das ciências (Figura 1).
Da sociedade quando passou a considerar, de forma gradativa, as ciências e seus resultados como fatores de desenvolvimento e de mudanças sociais e culturais, econômicas e em sistemas produtivos, organizacionais (...), ajustando e/ou substituindo procedimentos, técnicas, modos de fazer (...), inclusive auxiliando atividades bélicas.
A sociedade ao ser impulsionada, nos últimos séculos, por revoluções tecnológicas como as protagonizadas pela eletricidade com múltiplos benefícios sociais; pelo motor de combustão (explosão) interna, ao transformar energia de reação química em energia mecânica; pela síntese de produtos químicos a partir de outros produtos; pela tecnologia da informação e comunicação que vem aproximando e integrando setores e atores; pela biotecnologia com seus múltiplos benefícios em quase todos os setores (...), colocou a ciência em lugar de destaque. 
Concomitante ou como resultado dessa conquista e destaque, a sociedade precisou compreender como a ciência, pelo seu caminho da pesquisa, realiza suas tarefas, entre outras, as de testar (aceitar ou rejeitar) teorias, descobrir, inventar e adaptar soluções e as de difundi-las na forma de tecnologias e serviços para inovações e de informações científicas para novos conhecimentos. Por sua vez, essa conquista e reconhecimento das ciências na sociedade, representam desafios de comunidades, entre outras as de cientistas - pesquisadores para assegurar a sustentação social da investigação: a sociedade querer o que a ciência pode gerar - disponibilizar e a ciência – pesquisa gerar - disponibilizar o que a sociedade possa adotar com sustentabilidade em várias dimensões.
Destaca Lauda et. al. (1994; adequado ao texto) que uma cultura que se orgulha de sua capacidade de auto-exame crítico deve ter em alta conta, na sua agenda intelectual, o estudo sistemático dos processos de mudança e invenção de teoria na ciência.
O destaque da ciência e pesquisa na sociedade pode ter sua base em propósitos práticos como os de financiar, orientar - controlar a direção e o “progresso” da ciência e aprovar, com a adoção e difusão, seus resultados. Podem ser propósitos intelectuais, como os de determinar a natureza e o escopo do conhecimento humano. Em ambos os casos, segundo Lauda et. al. (op. cit.) “há excelentes razões para [a sociedade moderna] tentar examinar a dinâmica da ciência”. Isto, a despeito de não se ter um quadro geral confirmado de como a ciência funciona, nem de como uma teoria científica mereça seu assentimento, com divergência não apenas na sociedade, mas dentro da comunidade científica.
A evolução das ciências, sob influência da sociedade (às vezes, sob pressão e/ou “determinação” de um poder político, religioso, econômico etc.) ocorreu, no início, segundo Lewis (1982; complementado), a reboque de técnicas existentes, de acordo com evidências históricas da Antiguidade; são exemplos os Egípcios com suas grandes construções e projetos e os Gregos, com invenções e aplicações em diversos campos. Mas tarde, pressões, entre outras da indústria, determinarão parte do direcionamento das ciências e pesquisas.
CIÊNCIA
Conjunto organizado de conhecimentos, relativo a determinada área do saber, com determinadas características (...), obtido com um método especial (...).
Seu caminho: PESQUISA
SOCIEDADE: Busca
Explicações: fenômenos, fatos (...)
Previsões de eventos para (...)
Soluções: saúde, alimentação (...)
“Tecidos” de idéias para auxiliar
Novas formas de pensar: lógica
Pesquisa do conhecimento (...)
Filosofia analítica: Carnap
Filosofia das ciências: Kuhn, 
Lakatos, Bachelard (...)
FILOSOFIA
Figura 1 Inter-relações – engrenagens – sociedade, filosofia e ciência
A relação ciências / pesquisas – sociedade é complexa em suas vias como, p.ex., das ciências e pesquisas para a sociedade, mediadas pela tecnologia, e da sociedade para as ciências e pesquisas, com possíveis origens sociais de idéias científicas e com impactos de fatos sociais em comunidades científicas. Essa relação se tem intensificado com perda, inclusive de direcionamentos, ao se estabelecerem complexos inter-relacionamentos como os que se observam na globalização, mudanças econômicas e ambientais, ajustes e mudanças sociais (...) com impactos sobre as ciências e pesquisas, não apenas sob seus procedimentos, mas para direcioná-las e gerar conhecimentos globais, transdisciplinares e sustentáveis em várias dimensões.
Da filosofia, do filósofo da antigüidade que refletia sobre todos os saberes como desejos e necessidades de conhecer, determinando, nas ciências, posturas objetivas diante de fatos e como resultado dialético de confrontos entre mitos que evoluíram por narrativas transmitidas de uma a outras gerações e civilizações, porém, em função dessas posturas e resultado, com contestações e novas idéias ou concepções. Da filosofia porque estuda o conhecimento que compreende investigação, análise, discussão, formação (tecido) e reflexão de situações gerais e abstratas, reduzidas para as ciências e seus processos de construções através da pesquisa.
No início, com base em inquietações que apareceram na busca de explicações e com o auxílio de procedimentos e experimentos, surgiram as hipóteses e o exercício da razão para organizar padrões de pensamentos na formulação de teorias agregadas ao conhecimento. Nesse processo histórico, segundo Wikipédia (2006h; complementado), o conhecimento científico, por sua própria natureza, tornou-se “susceptível às descobertas de novas ferramentas [procedimentos, técnicas....] que aprimoraram o campo de sua observação e manipulação. Isto, em última análise, implicou tanto a ampliação, quanto o questionamento de tais conhecimentos”. Nesse contexto a filosofia, não apenas se relacionou, mas surgiu e se colocou como a mãe de todas as ciências.
Séculos mais tarde Popper (1993), em artigo A natureza dos problemas filosóficos e suas raízes na ciência, apresentou a tese de que os mais importantes problemas filosóficos, em toda a história da filosofia, foram motivados por preocupações ligadas às ciências, tendo sua mais importante exemplificação no realismo científico: a existência de recursos cognitivos para legitimar uma teoria científica que transcende o nível de percepção. Enfatizou o caráter irredutivelmente conjetural de todo conhecimento científico não como episteme (certeza), mas como doxa (opinião). Leis, teorias (...) são sempre hipóteses que se tornam científicas se forem falseáveis. O progresso da ciência seria constantes conjeturas e refutações de substituições de hipóteses falseadas por melhores hipóteses não-falseadas, porém sempre falseáveis (...).
Na próxima seção se apresentam aspectos gerais da origem da filosofia com tendência para vinculá-la à história das ciências compreendendo, também, fatores sociais, em estreitasinterdependências ou engrenagens, em que a direção desses componentes determina ou influência a direção das ciências.
2.1 Origem da Filosofia
Qual foi a origem da filosofia? Essa prática teórica, porém, não científica, que tem o todo por objeto, a razão por meio e a sabedoria por fim, surgiu, segundo indicações de historiadores, com períodos e locais definidos e com atores e idéias aproximadas: no final do século VII e início do século VI a.C. e em colônias gregas da Ásia Menor, em particular na Jônia e cidade de Mileto; com atores como Tales de Mileto e com um conteúdo comum na cosmologia. Nessas indicações há pressupostos e informações que são não apenas questionáveis por “outros historiadores das ciências”, mas que apresentam possíveis omissões e prováveis faltas de reconhecimento e de originalidade. Alguns exemplos dessas presumidas faltas de originalidades são:
a) O sistema pitagórico: formado por conceitos como o número é o Princípio Primeiro de todas as coisas, a essência do Universo criado, a existência do ser (...). Tais conceitos desse sistema seriam derivados da sabedoria milenar da China.
b) O eleata; um sistema lógico-filosófico, atribuído a Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia. Nele, os argumentos eram rigorosos: tanto o objeto como o critério de conhecimento passariam a ser o mesmo; um pensamento puro, uma noção de unidade absoluta (desprovida de multiplicidade: se o ser não fosse único, mas múltiplo, então, cada ser seria ele mesmo e não os outros; dessa forma, cada ser é e não é ao mesmo tempo, algo absurdo), imobilidade e completude. Nessa unidade, o critério de conhecimento é o próprio pensamento que é abstrato, livre e autônomo, um pensamento que cria suas próprias regras e tem sua lógica interna (...). Esses poucos exemplos, dentre muitos outros conceitos do sistema da Escola Eleata, teriam sua origem na Índia.
c) O heraclitiano, da Escola Itálica de Éfeso. No lastro de preocupações, nessa Escola, o conhecimento da realidade é considerado como um fluxo contínuo e mudanças perpétuas de seres (...). O dia se torna noite, o verão se torna outono, o novo fica velho, o quente esfria, o úmido seca, tudo se transforma no seu contrário (.... A realidade é a harmonia de contrários, que não cessam de se transformar uns nos outros (...), mas, se tudo não cessa de se transformar, como explicar que a percepção ofereça as coisas como se fossem estáveis, duradouras e permanentes? (...) nisso estaria a diferença entre o conhecimento dos sentidos, uma imagem de estabilidade, e o conhecimento que alcança o pensamento, uma verdade como mudança contínua. Esses, entre muitos outros conceitos heraclitianos teriam sua origem na Pérsia.
d) Os conhecimentos de Empédocles, médico, filósofo, legislador e idealizador do mundo constituído por quatro elementos (água, ar, fogo e terra) e de Anaxágoras, filósofo, astrônomo, físico, matemáticos (...), idealizador de que não se pode generalizar nenhuma realidade nova e que, portanto, tudo existe desde sempre; toda substância é composta por partículas que explicam a pluralidade (...), teriam suas origens em Egito e na sabedoria judaica, respectivamente.
“Outros historiadores” indicam, também, datas (anteriores), locais e autores diferentes, bem como idéias sem equivalentes evidências às encontradas na cosmologia da Grécia antiga. Seriam sabedorias como a chinesa, hindu, arábica (...) com traços filosóficos diferenciáveis e com aparentes menores influencias sobre a cultura ocidental européia e sobre fundamentos lógicos da racionalidade, da ética, da ciência (...) nessa cultura. Tais questionamentos e possíveis omissões e diferenças são omitidas, sem um motivo forte de exclusão, nestas Orientações para elaborar um projeto de pesquisa (...).
Considera-se que parte do rumo da civilização ocidental, da lógica e raciocínio das ciências e seus métodos modernos tiveram suas fontes, originais ou não, no pensamento da Grécia antiga que testemunhou o surgimento de uma nova perspectiva cognitiva, como resultado de reflexões, em propostas orientadas para buscar o conhecimento pelo próprio conhecimento, por curiosidade, por amor à sabedoria. Essas primeiras idéias, nos séculos VII e VI a.C., tomaram a forma de um novo modo de pensar e de refletir sobre os saberes disponíveis, desmistificando-os: nascimento da filosofia.
Isso não significa nem deve ser interpretado como se outros povos, tão antigos, ou mais antigos quanto os gregos, não tivessem suas próprias sabedorias e não houvessem desenvolvido seus pensamentos, reflexões e formas de pensamentos peculiares e de conhecer a natureza e seus fenômenos, muitas vezes com características diferenciáveis das registradas em cidades – estados da Grécia antiga: nascimentos de “outras” filosofias. Mas, repetindo, essas outras formas, diferentes ou não, superiores ou não, originais ou não (...) das vivenciadas na Grécia antiga, não são consideradas na resenha histórico–evolutiva da filosofia e das ciências que se apresenta neste livro.
Na antigüidade o homem começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, a se organizar socialmente para viver melhor e buscar soluções, ao pensar melhor, sobre as questões da existência humana. Foram preocupações, indagações e interesses que estiveram presentes no nascimento da filosofia em povos da antiguidade em que se confundia com as ciências (as ciências não se distinguiam da filosofia), com seus “melhores traços e evidências” na Grécia, segundo Chauí (2000). Essas evidências se encontram a partir da fase arcaica, do século VII ao século V, a.C., e com os sete sábios (ver nota de rodapé 11), quando os gregos criaram cidades como Atenas, Esparta, Tebas, Megara e Samos, entre outras, onde predominava a economia urbana baseada no artesanato e no comércio, fatores que favoreceram o nascimento da filosofia.
Para muitos historiadores a filosofia, entendida como a aspiração à superação, o amor à sabedoria e o respeito pelo saber, pelo conhecimento que é racional, lógico e sistemático da realidade natural e humana, suas causas e transformações e do próprio pensamento, nasceu em pequenas comunidades. Eram as polis (ou cidades – estados, localizadas entre a Jônia, Ásia Menor na Grécia antiga e o sul da Itália. Naquelas cidades, como resultado de sucessivas invasões e suas influencias sobre essas comunidades, ocorreu o nascimento da filosofia por interpretações dessacrilizadas de mitos cosmogônicos de religiões da época; mitos que foram, segundo Platão e Aristóteles, a matéria-prima de reflexões de filósofos como os miletianos Tales, Anaximandro e Anaxágoras. 
Nas fases da Grécia clássica, nos séculos V e IV a.C., a filosofia experimentou seu máximo desenvolvimento. Na época helênica, com o desenvolvimento da democracia e da vida intelectual e artística, a filosofia teve grandes períodos como o socrático com a investigação de questões humanas éticas, políticas e técnicas, e o sistêmico, com a reunião e sistematização do saber cosmológico e antropológico (CHAUÌ, op. cit.).
O surgimento da filosofia na Grécia antiga, na Grécia do período clássico, com o início do desenvolvimento cultural e científico nas polis, foi favorecido por diversas situações, circunstâncias ou fatos históricos, destacando-se, sem detalhes, os seguintes:
a) As viagens marítimas que procuravam dos deuses e seres fabulosos explicações dos fatos, dos fenômenos (...). A frustração de navegantes ao não encontrarem tais explicações e a própria desmistificação desses seres passaram a exigirem “outras” explicações que o mito, os deuses (...) não podiam oferecer com sustentação, poder de convicção e sentido global, harmônico e de inter-relação entre todas as coisas apreensíveis pelo pensamento.
Gutiérrez (2002) diz que, desde a origem do pensamento, a idéia do global, da harmonia e da inter-relação das coisas, dos elementos de um todo (...) tem estado sempre presente na mente de filósofos sendo essas idéias, para os orientais, tão antigas quanto eles mesmos. Para os ocidentais, essas idéias foram orientadas pelocorte aristotélico preferencialmente analítico com profundidade das partes e dificuldades para encaixá-las, bem como para entender como interagem e formam uma unidade (sistema).
b) A invenção do calendário, uma forma de medir o “tempo” segundo estações do ano, dos dias de um período como o lunar, das horas do dia etc.
Dessa invenção, destacam-se: o ano tropical devido à revolução da Terra em torno do Sol com relação ao equinócio vernal (a referência é de 365, 2422 dias solares ou 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos); e o calendário egípcio, com início da enchente anual do rio Nilo e duração de 360 dias e, depois, um dia a mais a cada 4 anos (Ptolomeu, em 238 a.C.).
Com essa invenção se revelou uma nova capacidade de abstração como algo natural e não um poder divino incompreensível. Posteriormente, a abstração foi do fator tempo civil, medido de 12 horas e do tempo universal ou tempo civil de Greenwich.
c) A invenção da moeda, no século VIII a.C., que possibilitou uma forma de troca alternativa à realizada através de coisas concretas trocadas por semelhantes, mas uma troca abstrata feita com base no cálculo de valores semelhantes de coisas diferentes: foi a revelação de uma nova capacidade de abstração e generalização.
A invenção da moeda se deu pela de moeda em ouro e prata, condicionador de seu valor como, p.ex., o “tosão de ouro” de carneiro do rei de Aliates, da Lídia. Foi a primeira moeda com monograma de representação de um Estado, para facilitar os negócios de venda-e-compra, pagamentos, cobranças de impostos etc., tendo como referências conceitos abstratos e generalizáveis de um valor semelhante-equivalente aplicado para coisas diferentes como as envolvidas nas transações, no comércio.
d) O surgimento da vida urbana e o desenvolvimento - predomínio de atividades como as do comércio com uma nova classe, os comerciantes. Estes precisavam do poder e prestígio para enfrentar às classes dominantes. Outra classe foi a do artesanato com as técnicas de fabricação, diminuindo o prestígio de famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; o surgimento dessa classe teve impacto, pelo patrocínio e estímulo às artes, entre outros, para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento da filosofia.
e) A invenção do alfabeto que, a semelhança do surgimento do calendário e da moeda, revelou a capacidade de abstração e de generalização ao evidenciar o sentido de idéias, substituindo a representação de figuras, imagens e ideogramas pela escrita com base no alfabeto de sons.
A primeira referência escrita do alfabeto foi a Fenícia e sua migração para a Grécia; essa referência apareceu no 5º. livro de Histórias escrito por Herodotus / Heródoto .[1: Heródoto (Herádotus) de Halicarnasso (485 a 420 a.C.). Historiador grego, “Pai da história” e reconhecido, também, na etnografia e antropologia. Foi o primeiro historiador que narrou a origem do alfabeto em Biblos. Sua obra As histórias de Heródoto, dividido em 9 livros intitulados segundo os nomes das musas, em que os primeiros 6 relatam o crescimento do Império Persa, desde Croesus de Lydia e Cyrus até a Batalha de Maratona; os últimos 3 livros descrevem a tentativa do rei Persa de vingança. Essa obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura não apenas por registrar o passado, mas por considerá-lo como um problema objeto de reflexão filosófica ou um problema de pesquisa (problema que ele considerava sinônimo de história) que podia revelar conhecimento do comportamento humano (HERÓDOTO DE HALICARNASSO, 2005).]
A invenção dos 22 signos do alfabeto fonético de Biblos feita pelos fenícios, 2.000 a.C., mudou a história da civilização e determinou, gradativamente, o desaparecimento de escritas conhecidas como a cuneiforme da Mesopotâmia e a hieroglífica do Egito.
O alfabeto de Biblos, com menor número de letras ou signos que o alfabeto moderno, permitiu maior precisão e mais clareza nas idéias a comunicar, ampliando o poder de comunicação ao permitir descrever sentimentos, analisar pensamentos (...), supondo-se que não apenas se representavam imagens das coisas, mas, as idéias acerca delas: o que se pensa se transcreve pelo símbolo fonético. Essa possibilidade, para outras escritas, não poderia ser feita com certas fidelidade e perspectivas de permanecer no futuro.
O alfabeto é a obra-prima do poder de abstração do espírito humano que facilitou comunicar a reflexão e incentivou a filosofia, as ciências, a organização e os sistemas sociais.
Com a invenção do alfabeto foi possível ter informações apresentadas em tábuas escritas, entre os séculos XIV e início do XII a.C. Partes dessas tabuas foram encontradas pelos fenícios na cidade de Ougarit (Ugarito) em camadas que correspondem ao início da Idade do Bronze, com vestígios de instalações utilizadas na produção de azeite (HISTÒRIA, 2005), além de cartas, contratos, textos literários mitológicos e religiosos como é o caso de a Bíblia Cananéia, com histórias como as de Daniel, Jô, Noé, entre outras. (O ALFABETO, 2005).
f) A invenção da política com a introdução de idéias como a lei expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesmo o que é melhor para ela e que tipo de relação interna prefere.
A legislação que regulou a polis serviu de referência e modelo para a filosofia propor aspectos legislados, regulados e ordenados do mundo com o racional.
Com a invenção da política se teve o surgimento de um espaço público e nele o aparecimento do discurso; do discurso entendido como afirmações articuladas de uma forma coerente e lógica da palavra, como sendo o direito do cidadão para emitir suas opiniões, discuti-las com outros, persuadi-los e tomar decisões. Esse espaço criado pela política e seus desdobramentos foram contrários às informações - orientações do mito, do sobrenatural e do oculto, contribuindo para a valorização do decidir fazer ou não alguma “coisa”, valorizar o ser humano, seu pensamento e para criar condições do surgimento do discurso filosófico, do pensamento filosófico.
Com a política, ao estimular o pensamento e o discurso, procurou-se, ao contrário do pensamento do mítico e sobrenatural, a idéia de um pensamento ensinado, transmitido e discutido; a idéia de um pensamento que todos pudessem compreender e discutir, que todos pudessem comunicar e transmitir. Tais idéias, conceitos e práticas foram fundamentais para a filosofia e seu desenvolvimento.
A preocupação do homem em compreender a realidade em seu entorno, de encontrar explicações “racionais” dessa realidade e de saber as coisas como e por que conhecer (...) tem sido permanente e um atributo comum de quase todas as culturas na história da humanidade. Nessa preocupação sobre o que conhecer se destacam três tipos de relações:
a) Homem – natureza básica para entender os diversos tipos de relações variáveis no tempo, no espaço e com as culturas ao longo da história: de harmonia e equilíbrio em alguns casos como os de culturas tradicionais e do utilitarismo imediato e depredação da natureza, em culturas modernas (...), passando por explicações pré-socráticas com fundamentos em lógica reacional.
b) Homem – sociedade; em abordagens como as dos sofistas que destacaram questões como a de como conhecer, indicando um modo de pensar antropológico; o conhecimento do homem somente ocorre no contexto da comunidade humana (Sócrates) e quem conhece a verdade é o que pode governar os destinos da sociedade (Platão), entre outras idéias da antiguidade.
c) Homem a homem – Criador / DEUS com diferentes concepções míticas, religiosas, filosóficas (...), cada uma com suas explicações sobre a origem, o sentido da vida e o destino ou transcendência.
Em função das respostas de cada uma dessas relações e seus desdobramentos sobre o que conhecer, diferenciaram-se vários tipos de conhecimentos como os da magia, filosofia e teologia, evoluindo conforme situações e circunstâncias locais e de cada povo.
A frustração de navegantes ao não encontrarem explicações nos mitos acerca da realidade;as invenções do calendário e da moeda evidenciando capacidades de abstração do homem; o surgimento da vida urbana que debilitou classes sociais dominantes; a invenção do alfabeto que revelou, também, a capacidade de abstração e possibilitou evidenciar o sentido de idéias; e a invenção da política com novos conceitos como o de vontade de uma comunidade escolher seu destino, entre outros acontecimentos e circunstância na Grécia antiga, determinaram características do pensamento filosófico com elementos que perduraram ao longo da história das ciências e são básicos na pesquisa. No início, as características do pensamento filosófico, eram:
a) A tendência à racionalidade, à razão e somente a razão com seus princípios e regras, como critério de explicação das coisas. 
Para reflexão: Depois de transcorridos mais de dois milênios, determinadas explicações de intervenções, como algumas tecnológicas que afetam o meio ambiente em suas funções e fontes produtivas de excedentes econômicos, mutilam a racionalidade do bem-comum e pretendem “justificar” suas intervenções com sofismáveis argumentações que não comportam a racionalidade e análise lógica social.
b) A tendência a oferecer respostas conclusivas a partir da proposta de um problema submetido à análise, à crítica, à discussão, à demonstração (...), com a rejeição de respostas sem antes terem sido “provadas” / testadas e aceitas, racionalmente. 
A tendência de respostas conclusivas tem sido projetada no pensamento crítico de tal maneira que a filosofia, nem sempre conforme o saber científico, dirige uma análise crítica aos princípios, teorias e hipóteses, ao revisá-las e considerar as razões de justificação de de afirmações, de respostas. Essas respostas e afirmações são susceptíveis de reflexão e revisão. É um elemento da filosofia que foi comunicado às ciências quando, em um de seus postulados, colocam-se as teorias científicas como sempre falseáveis e susceptíveis de teste e revisão.
Para reflexão: A semelhança do caso anterior, nesta tendência secular há, também, evidencias, na atualidade, quando se pretende impor respostas que não são conclusivas, que não se sustentam em necessárias inferências de análises consistentes com bases em dados “consistidos”, possíveis de serem obtidos.
c) A exigência de o pensamento filosófico apresentar suas regras de funcionamento: justificar as idéias com base em regras universais.
d) A recusa de explicações preestabelecidas: para cada problema era necessário investigar e encontrar uma solução própria.
Quando aplicada à ciência, a recusa de explicações preestabelecidas se relaciona, em parte, à discutida neutralidade da ciência: apenas focada no que é objetivo e a isenção de subjetividade na aplicação de métodos e na obtenção de resultados da pesquisa com esses métodos.
e) A tendência à generalização: uma explicação pode ter validade para outras coisas diferentes (locais, situações, condições, períodos, clientes etc.) porque o pensamento, acima de percepções sensoriais, descobre semelhanças e identidades que possibilitam estebelecer generalizações.
As tendências que caracterizaram o pensamento filosófico associadas às condições que favoreceram o surgimento da filosofia, aplicam-se, em variáveis níveis e circunstâncias, às ciências e pesquisa, além de incitar à reflexão acerca de relações (...) entre filosofia e ciências, sociedade e ciências, filosofia – sociedade e ciências. São tendências consistentes com os três meios (instrumentos) disponíveis pelo homem para buscar e/ou aumentar o “domínio” (vale dizer, o conhecimento para a conservação e manejo racionais e sustentáveis) sobre a natureza: a percepção (em um extremo), a intuição (no meio) e a lógica (no outro extremo), com variantes (evoluções, ajustes – adaptações, mudanças etc.) que surgiram ao longo da evolução das ciências e de seus métodos.
Para se ter uma referência, inicial e simpliesta, à necessária reflexão entre filosofia e ciências se apresentam, a seguir, elementos do histórico das ciências. Não se trata de uma introdução da história das ciências, mas de dados esparsos compilados por vários autores citados, sem se ter uma referência de história das ciências. Isto porque, à despeito de se terem obras conhecidas de filósofos da Antigüidade e dos períodos medieval e moderno, com descrições genealógicas de informações e procedimentos científicos, a história das ciências se organizou como disciplina apenas no final do século XIX e início do século XX, quando foi institucionalizada em comunidades como as de cientistas – pesquisadores, historiadores e filósofos, amadurecendo os esforços empreendidos por academias (p.ex., a Royal Society of London e a Academia Francesa; GUSDORF, 1988), preocupadas de cuidarem tanto de suas memórias quanto do papel que elas deveriam desempenhar.
Os dados históricos de sábios da Antiguidade foram transmitidos por compiladores que, de forma sistêmica, dedicaram-se a recolher, classificar, ordenar (...) idéias de filósofos: os doxógrafos. Os resultados correspondem a escritos didáticos com informações e procedimentos “científicos” em cursos naquelas épocas, tais como as primeiras compilações de matemática (aritmética e geometria), astronomia, medicina, agricultura (...) feitas no período helenístico e, depois, por bizantinos, judeus, árabes (...); compiladores da Idade Média Ocidental etc. São escritos que possibilitaram conservar e transmitir parte dos resultados das ciências e seus métodos da Antiguidade até os tempos contemporâneos, muitos deles não escritos pelos próprios sábios, mas por seus discípulos.
2.2 Origem das Ciências Atrelado à Origem e Evolução da Sociedade
As origens das ciências, da investigação e de seus métodos se remontam ao homem primitivo que, como o animal, esteve rodeado e pressionado por “coisas” e fenômenos de um meio hostil e por condições muitas delas desfavoráveis para ele. Mas, enquanto o animal se submetia à natureza, o homem procurou conhecê-la, discernir sobre seus fenômenos e usar seus recursos, adaptando-se às circunstâncias ou modificando-as, quando possível: era a necessidade de se acertar com o meio ambiente sem, contudo, ficar alheio às adaptações e, por força natural, aos ajustes e à evolução “imposta” por esse meio.
Durante longos períodos de migrações e, depois, de sucessivas adaptações o homem abandonou, de maneira gradativa, sua vida nômade há mais de dez mil anos e começou a se organizar em comunidades. Com elas, surgiram as primeiras civilizações na Mesopotâmia (sumérios e babilônicos), no Egito, na China e na Índia. Foram processos de aprendizagens e de transições em que se desenvolveram, aperfeiçoaram (...) atividades agrícolas, pecuárias e de organização social, entre outras, afeiçoadas ao lugar de residência, às condições e circunstâncias do meio. Em tais processos de aprendizagem o homem começou a construir e utilizar utensílios e instrumentos para dominar forças da natureza e obter benefícios dos recursos desse meio, diferenciando-se dos outros animais por uma característica singular: a preocupação e interesse pelo conhecimento.
Tais preocupações e interesses foram comuns entre todos os povos da antiguidade, ainda que com destaques e orientações de formas de saberes e formas de pensar, decidir (...) diferentes entre um e outro povo como, p.ex., entre os egípcios, a trigonometria; entre os romanos, a hidráulica; entre os indianos e muçulmanos, a matemática e a astronomia; e entre os gregos a geometria, a mecânica, a astronomia, a acústica e, com destaque, pela pertinência com o assunto central destas Orientações para elaborar um projeto de pesquisa (...), da lógica e raciocínio como bases na formação do conhecimento.
Os gregos desenvolveram, também, a intuição, um tipo de reflexão a considerar que, segundo Matallo (2000), possibilitou gerar teorias sobre a natureza e desvincular o saber racional do saber mítico.
No período inicial da história da civilização e com ela, da origem das ciências, cada estágio do cultivo de plantas, da domesticação de animais, da organizaçãosocial (legal, institucional...), econômica e política (...) representou, segundo Bronowski (1992; complementado), inovações técnicas e invenções com fundamentos em “princípios científicos”, em métodos e rudimentos tecnológicos que permitiram aproximações contínuas da realidade. Essa busca e aproximação é um processo permanente, mediante modelos mentais, para compreender melhor. Por causa da melhoria da compreensão e do pensar apareceram as primeiras técnicas na produção de tijolos, na arte da vidraria e metalurgia e em atividades produtivas, de organização e de comércio.
O homem motivado por necessidades do comércio e para o controle de suas atividades criou escritas e sistemas numéricos. O crescimento comercial “estimulou”, por sua vez, a pilhagem e as técnicas de guerra e navegação com a construção de barcos à vela: essa “necessidade” tem estimulado sobremaneira à criatividade em todos os tempos.
Para prever períodos de cheias dos rios e de plantio e colheita surgiram a astronomia, a matemática e o calendário.
O crescimento de cidades trouxe novos desafios como os de abastecê-las de água (surgiram a engenharia hidráulica, os sistemas de aquedutos e esgotos) e alimentos (a irrigação de terras e a colheita, transporte, armazenamento de alimentos).
Desses primeiros tempos há vestígios de obras e fatos (p.ex., monumentos), de escritos (p.ex., os de caracteres cuneiformes na Mesopotâmia, no século XXXIV a.C) e de registros (p.ex., pinturas e gravuras rupestres gravadas em abrigos, cavernas ou superfícies livres, porém, protegidas: período Paleolítico), ainda que incompletos ou com mínimas partes, do registro de culturas em povos como os da Mesopotâmia e Egito (conhecimentos, sobretudo, os de natureza prática), Árabes, Índia, China e em povos da América pré-colombina.
Das civilizações primitivas se têm registros de tecnologias em atividades como a cerâmica (aproximadamente 7.000 a.C.), a metalurgia de cobre (aproximadamente 4.000 a.C.); a roda para veículos de transporte; a canoa (aproximadamente 3.500 a.C.) para o transporte e a tecelagem (aproximadamente 3.000 a.C) para vestimentas e enfeites. As metalurgias de bronze (p.ex., arte egéia: cicládica, minóica e micênica), de ferro (artes celtas e etruscas; WIKIPÉDIA, 2006 b) e de aço são de aproximadamente 3.000, 1.500 e 1.200 a.C., respectivamente.
As construções de grandes pirâmides no Egito foram feitas em torno 2.600 a.C. e pressupõem “avançados” conhecimentos científicos em distintas áreas do saber em “engenharia”, matemática, geometria etc. Mas, esses saberes se manifestaram, também, nas primeiras observações astronômicas, nas primitivas caracterizações de sustâncias químicas, na identificação de sintomas de doenças e em tábuas numéricas matemáticas, segundo consta em escritas cuneiformes da Mesopotâmia, com datas em torno de 2.000 a.C. Outro exemplo de saberes é o da fermentação de substâncias para fins de consumo humano, entre 1.800 a 1.550 a.C. (LLOYD, 1973; complementado).
Têm-se informações, em registros de papiros, de um saber em áreas como a matemática (operações e unidades de medidas), geometria, calendários e medicina: tratamento de feridas como, p.ex., relatos de 48 casos de cirurgias clínicas e de ferimentos de guerra com exames, diagnósticos e tratamentos. Também há registros da agricultura e atividades relacionadas, com suas técnicas de irrigação, domesticação de animais, preparação e preservação de alimentos. Um fato a destacar no início das ciências é o da escrita que surgiu em torno de 3.550 a.C (LLOYD, op.cit.).[2: O papiro é uma planta aquática (Cyperus papyrus) que se encontra, principalmente, no delta do rio Nilo, Egito, cujo talo pode atingir até 6,0 metros de comprimento; era considerada uma planta sagrada utilizada, em especial, na produção de “papel”: rolos de fibras que eram submersos, durante vários dias, em água com vinagre para eliminar o açúcar, sendo secas a pressão: os “pergaminhos” utilizados para escrita eram rolos que mediam 0,25m de altura e 11m de cumprimento, alcançando até 30m e onde a escrita era sem separação das palavras nem pontuação; as folhas, denominadas de cólemas, eram coladas umas as outras, precedidas da primeira ou protocollon. A técnica foi desenvolvida em torno de 2.200 a. C. (PAPIRO, 2005; complementado).]
Segundo History of Scientific Method (2005), a história do método científico inseparável das histórias da ciência, da filosofia e da sociedade, tem suas raízes em Imhotep (2.600, a.C), tido como o autor do papiro de hieróglifos encontrado em Tebas, Egito, conhecidos como papiros de Edwin Smith. Esse documento representa a primeira evidência de referências específicas escritas de aspectos neuroquirúrgicos da antigüidade. Nessa área do conhecimento, contém casos descritos em três modalidades: ações de tratamento; intentos terapêuticos; e medidas profiláticas. Apresenta 48 casos traumáticos do crânio (clínico-cirúrgicos) com descrições (p.ex., circunvoluções cerebrais, pulsações, meningites e líquido craniano) e ordenamentos sistemáticos, além de mostrar 11 casos de fraturas e primeiros registros de câncer de mama (WAGNER, MARTIN e BLAND, 1996).
Nos povos orientais foram desenvolvidos saberes essencialmente religiosos misturados com mitologias (de origem divina) e tradições. Constituíam os patrimônios cultural, social (...) de uma casta sacerdotal que tinha a preocupação de transmitir a sabedoria em sua pureza, destacando-se, nesses povos orientais, filósofos como Buda e Confúcio. Estes, a semelhança de Sócrates e de Jesus Cristo, entre outros, não deixaram todas suas obras (em alguns casos, nenhuma obra) escritas assinadas, mas suas idéias e exemplos de amor à verdade e à humanidade permaneceram, com maior ou menor número de detalhes e descrições, pelos registros de discípulos.[3: Siddhãrtha Gautama (556 – 483 a.C.). Nascido em Kapilavastu (Lumbini), Nepal. A palavra Buda significa aquele que sabe, que despertou para a verdadeira natureza dos fenômenos; iluminismo interior, estado mental de quem atinge a perfeita sabedoria de todas as coisas no nirvana ou eterna paz e realização total da sabedoria. Os principais pontos da filosofia de Buda são: temporalidade; desprendimento; e insatisfação ou sofrimento. As verdades são: a existência do sofrimento; a causa do sofrimento: apego às coisas, cobiça, raiva etc.; extinção do sofrimento: desapego: caminho que leva a extinção do sofrimento (BUDA, 2005).][4: Confúcio (孔夫子) ou Kung-Fu-Tze; é a forma latinizada que quer dizer Grande Mestre, filósofo e teórico político Kong (551-479, a.C.). No final de sua vida, além do ensino, dedicou-se a editar clássicos: são os livros sagrados, os seis Jing (Shi Jing: cânticos; Li Jing: ritos; Shu Jinng: escrituras seletas; Chun Qiu: eventos de sua província, Lu; Yi Jing: mutações; e Yue Jing: música) que possibilitaram a transmissão da tradição chinesa. Os quatro livros da Escola de Confúcio (Lun Yu: Anacletos; Da Xue: grande estudo; Zhong Yonh: harmonia; e Livro de Méncio). No Confucionismo não existia um Deus Criador, nem uma igreja organizada (...), orientando-se para a solução profunda de agitações de seu tempo com a escolha do melhor caminho, o do meio, o do equilíbrio e harmonia (...). Sua filosofia pode ser sintetizada em sete palavras: Jen: humanitarismo, cortesia, bondade, benevolência; (Anacleto); Chun-tzu: o homem superior e viril que para ser perfeito deve ser humilde, magnânimo, sincero, amável; somente assim poderá transformar a sociedade em um estado de paz, reconhecendo, porém, que a realidade é outra, egoísta, soberbo etc.; Cheng-mig: para que a sociedade esteja em ordem, cada um precisa ter um papel, um título designativo: o rei com rei; o pai como pai, o filho como filho; Te: poder e não a força física, autoridade para inspirar os outros; Li: padrão de conduta exemplar e Wen: artes nobres como música e poesia. O ser humano, conforme o Confucionismo, é composto por quatro dimensões: o Eu, a comunidade; a natureza; e o céu e por cinco virtudes essenciais: o amor ao próximo; a justiça;o cumprimento das regras de conduta, a autoconsciência da vontade do céu e a sabidoria e sinceridade desinteressada, sendo a desobediência à piedade o único sacrilégio. Ensinava que o ser humano deve cultuar seus antepassados, de forma a perpetuar o mesmo respeito e amor que tem por seus pais vivos Escreveu: os cinco clássicos (Livro dos documentos: organização política de cinco dinastias da China. Livro das mutações: metafísica. Livro das cerimônias: visão social. Livro das poesias: antologia e religião e Anais das primaveras e outonos: história da China) e quatro livros (Grande aprendizado: ensinamento sobre a virtude. Doutrina do meio: ensinamento sobre moderação. Anacletos: máximas e princípios éticos e Mêncio) (FILOSOFIA VIRTUAL, 2005). Exemplos de suas máximas são: A maior glória não é ficar de pé, mas levantar-se cada vez que se cai. A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantém separados. Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida. A virtude da humanidade consiste em amar os homens; a prudência, em conhecê-los. Aquele que cometeu um erro e não o corrigiu, está cometendo outro erro. O homem de bem exige tudo de si próprio; o homem medíocre espera tudo dos outros. O que eu ouço, esqueço; o que eu vejo, lembro; o que eu faço, aprendo.]
Todas as manifestações dos saberes e de adaptações às circunstâncias representaram sistemas de relações entre objetos - contornos e percepções, atenções e estados de consciências orientadas para buscar um novo conhecimento que o ser humano não o identifica apenas pelas sensações ou por manifestações imediatas, mas, pelas reflexões, pelas experiências e pelos saberes “acumulados”. Desse modo surgiram crenças e valores que acompanharam e se transformaram em função de pressões de ações com incertezas e de insatisfações quanto às explicações das “coisas” e os desajustes (desacordos) com o contorno, no decorrer dos tempos (HEGENBERG, 1976; complementado). Eram explicações para pautar as adaptações ao meio, organizá-las e aprender a utilizar os recursos desse meio; um fim utilitarista do saber. Mas a busca do saber teve (e terá) outras motivações.
A busca do saber para se ter uma “melhor” explicação das “coisas”, da informação do conhecimento, do dado da informação (...) tem sido permanente e com motivações constantes. Basta citar uns poucos exemplos relativamente recentes: os descontentamentos e as motivações de cientistas e filósofos com relação à explicação mecanicista subjacente nas teorias materialistas e à física newtoniana no estudo de fenômenos físicos. Por causa desses descontentamentos surgiram novas explicações como as que têm alicerces em relações e estruturas sistêmicas.
O paradigma da física newtoniana, que culminou na filosofia kantiana, já não era suficiente para responder a algumas das questões complexas do desenvolvimento de ciências, como as biológicas e do comportamento social. Nesse paradigma dominante, os cientistas identificaram lacunas que lhes permitiram concepções orgânicas e passaram a olhar a realidade a partir dessa perspectiva. Como decorrência, passaram a observá-la como organização complexa em constante mudança. Tratava-se de uma organização com notáveis interdependências entre as partes e com interações dessas partes com o todo.
As características do paradigma newtoniano são qualidades fundamentais inexistentes no paradigma cartesiano. Neste, as partes de um sistema seriam independentes e autônomas, sem vínculo relacional, isto é, sem conexões entre os elementos, na formação e manutenção do todo. Mas, antes de se atingir essa fase de um processo de evolução das ciências e sua filosofia foram diversas as concepções e motivações da busca de “saberes” e de explicações anteriores dos fatos da realidade, exemplificando-se uma motivação não-utilitarista ou de aplicação material.
Foram os gregos da antiguidade “possivelmente” os primeiros a buscar o saber não necessariamente com um fim prático, mas, como um desejo e vontade de conhecer o por quê? e o para que? de tudo o que se pudesse pensar, definindo as bases essenciais da mentalidade e do conhecimento científico como algo abstrato, generalizável e baseado em princípios. Algo que pudesse ser testado, não-esotérico, organizado e coerente, sujeito à correção, à experimentação e até “matematicamente” sedimentado. Tais motivações e idéias de um conhecimento científico eram elementos da ciência da natureza com fundamentos diferentes do mito e da religião que começaram com os primeiros filósofos – cientistas com base em observações. É claro que esses primeiros passos em direção à ciência não poderiam revelar todas as características do conhecimento científico.
Desse começo do conhecimento científico se exemplifica a idéia de Tales de Mileto que, apesar de acreditar em deuses, sua resposta quanto à origem ou princípio das coisas não podia ser mítica; deveria ser algo que por todos pudesse ser diretamente observado na natureza: a água (...). A explicação de tudo surgir da água, ainda que não científica à luz da ciência moderna, não estava baseada em entidades míticas.
Outros filósofos – cientistas como Anaximandro, Heráclito, Pitágoras e Parmênides deram suas contribuições para as ciências. Demócrito defendeu que tudo quanto existia era composto de pequeníssimas partículas indivisíveis, unidas entre si de diferentes formas, e que na realidade nada mais havia do que átomos e o vazio onde eles se deslocavam. Foi o primeiro filósofo naturalista em não acreditar em deuses e propor que a natureza tinha as suas próprias leis: couve às ciências descobrí-las, um processo ainda em curso.
Apesar das limitações de recursos daqueles povos para desenvolverem as ciências foram pensadores como Aristóteles, Arquimedes e Erastóstenes grandes “cientistas” que trouxeram contribuições às ciências, iniciadas como uma atividade organizada na cidade de Alexandria, fundada por Alexandre o Grande, em 331 a.C., situada ao norte de Egito e oeste do delta do rio Nilo, às margens do Mar Mediterrâneo. Essa cidade se constituiu no centro cultural (pesquisa, ciência...), comercial, financeiro e industrial do mundo helênico e foi sede da mais importante biblioteca da antigüidade. Essa biblioteca foi fundada por Ptolomeu e organizada por Demétrio de Falero; nela, reuniam-se filósofos, matemáticos e pensadores em diversas áreas para a construção de novos conhecimentos e das ciências.
As mesmas “forças”, motivações (...) que deram origem às ciências e determinaram a sua natureza deram origem e fundamentou, também, a pesquisa como o caminho da ciência, como um processo histórico e evolutivo para se ter o conhecimento adquirido prático com base em descobertas, invenções, explicações e predições úteis de fatos, fenômenos e coisas.
A origem e evolução da pesquisa colocaram as descobertas, invenções, explicações, predições (...) para fins práticos e/ou teóricos, em similares meios de observação, de análises e de classificações dos conhecimentos religiosos que explicariam a natureza de o próprio ser e o aproveitamento - crescimento espiritual. 
Os processos de descobertas, invenções (...) para fins práticos foi complementado, mais tarde, com a experimentação com a idéia de que tudo o que era científico devia se apoiar nela. Essa idéia teria influenciado ou impactado o pesquisador, assummindo o compromisso de se mostrar fiel ao método científico contendo a experimentação como processo indispensável.
Para reflexão. Quando o pesquisador se baseia no método científico, na observação (o começo da ciência), na experimentação (depois), não significa, conforme acreditam os empiristas e positivistas, que se está bloqueando seu raciocínio e criatividade. Pelo contrário, esse método, com observações, experimentações (...), quando bem entendido e aplicado é um auxiliador e potencializador da criatividade do cientista – pesquisados e não o substituto dela. Tampouco é aceitável a tese de que novas idéias surgem apenas da experimentação. Novas idéias podem ser os resultadosde o livre pensar, da imaginação, da criatividade, do “acaso” (...), sendo por vezes, na primeira oportunidade do surgimento, vistas como idéias absurdas.
Alguns autores admitem a obtenção de certos conhecimentos como sendo revelados; é o caso dos conhecimentos religiosos para explicar a natureza de o próprio ser e do crescimento - evolução espiritual; em outros casos, a revelação para se ter explicações psicofísicas de telecinesia em fenômenos como os de levitação e de potencialidades fluídicas humanas com “pressupostas” capacidades como as de cura.
Em relatos antigos como os da Bíblia, em livros mesopotâmicos, em poemas épicos, em escritos etnográficos (...), estabeleceram-se, em alguns deles, distinções entre conhecimentos revelados e conhecimentos transmitidos por tradições históricas e justificados apenas por observações empíricas e pelo “bom-senso” (PORTER, 1999), além de análises e classificações. É o caso de, p.ex., remédios e poções extraídas de certas plantas para o tratamento de doenças comuns, descobertas por lógicas deduções ou por “acaso”. Essas duas formas de conhecimentos, os revelados e os transmitidos, além de terem fontes de dados e procedimentos diferenciados, não eram equilibrados e uma deles tinha privilégios que favoreciam à revelação (JAEGER, 1995).
Desde os tempos primitivos, com os filósofos gregos, quando a ciência, como resultado da investigação, teve um novo status, os conhecimentos adquiridos serviram não apenas como instrumento de progresso, mas, de humanização ao procurar o bem-estar social, inicialmente restringido, na medida em que se internalizavam dimensões como a ética e social.
Os primeiros beneficiários da nova perspectiva da ciência foram, de acordo com Jaeger (op. cit.), os filósofos – cientistas helênicos e latinos, com destaque para Aristóteles, sistematizador do método científico e os sábios no contexto de conquistas alexandrinas projetadas (pesquisa aplicada).
O legado de conhecimentos científicos greco-romano foi estabelecido como um paradigma para as civilizações que emergiram após esse período como, p.ex., a muçulmana e a ocidental, fazendo parte de processos evolutivos (dinâmica) da ciência.
De acordo com Bruckhardt (1990), a dinâmica de desenvolvimento daquelas civilizações se encarregou de gerar o movimento dialético de crítica e de superação do paradigma clássico-escolástico de ciência, agindo de várias formas. Por um lado, mediante fatores exógenos, como a expansão geográfica e comercial, a semelhança do ocorrido nos períodos helenístico e romano e, por outro, fatores endógenos, como o avanço da análise crítica das fontes a partir da confrontação das diversas versões e traduções, assim como da confrontação destas com a própria realidade.
Para reflexão: depois de mais de dois milênios, parece que a internalização de conceitos éticos, morais (...) no avanço da ciência e do conhecimento científico não foram suficientes para aplicar os resultados da pesquisa no bem-estar do homem, uma vez que conhecimentos científicos têm servido como instrumentos de destruição humana, do meio ambiente (...) e de marginalização – exclusão social. Isto, por ocasião do uso indevido e/ou do viés socialmente (economicamente, ecologicamente...) indesejável da criatividade do cientista - pesquisador e/ou do incentivo financeiro às atividades “destrutivas”; um incentivo que deveria ser aplicado na pesquisa para o progresso e bem-estar social, mas, que se tem orientado, por vezes, por outros interesses e objetivos.
A internalização na ciência e na pesquisa – tecnologia de dimensões como: a social, a cultural, a econômica, a meio ambiente (...) e de critérios como os éticos, precaução (...) não é (nem será) um processo concluído ou definitivo que possa limitar o uso indevido e/ou o viés indesejável do conhecimento científico e de suas aplicações tecnológicas. Nesse processo há desafios e novos problemas a considerar, não apenas na formação do profissional (desafios para a ciência modelo) conforme exigências - possibilidades da realidade em que se espera atuarae, mas na ciência processo, no exercício da investigação ao buscar explicações, soluções (...). Problemas e desafios no “controle da natureza” (vale dizer, na conservação e manejo) para descobrir novos fatos e resultados como instrumentos de progresso e bem-estar social social.
Parte dos desafios e dos problemas para tornar o conhecimento (ciência e tecnologia) fator de progresso está na prospectiva tecnológica, na necessidade de criar formas de observação – interpretação da dinâmica social [econômica, ambiental...] capaz, segundo Martinez (1994), de integrar rupturas, saltos qualitativos e inter-relações, além da simples visão técnica.
No contexto da realidade brasileira o profundo sentido estratégico da ciência e tecnologia tem seu principal desafio para: adequar-se à realidade de extensas dimensões territoriais; atender a diversidade de ambientes e recursos naturais (p.ex., da biodiversidade); consultar condições sociais, culturais, econômicas (...) variáveis; e definir a participação da ciência e pesquisa na política e na economia mundiais.
À internalização de princípios como os do “bem-agir” de uma “nova ética” integrada ao devir humano, centrada no conhecimento, na lógica da racionalidade e na sustentabilidade, acrescentam-se novos problemas como os de conhecer a natureza (o suficiente) para valorizá-la e valorizar seus recursos, ambientes, estruturas, funções, potencialidades (...) para conservá-los com o adequado manejo integrado. Esse mesmo conhecimento leva à classificação do meio ambiente e à proteção e preservação de fontes e ciclos, à parcimônia no “uso racional” de “excedentes” (...) na ausência de meios tecnológicos “seguros” para “garantir” o uso sustentável, vale dizer, a conservação da natureza e seus recursos. Esta deveria ser uma inquietação importante e destacada a considerar na formação do profissional pesquisador, bem como uma preocupação constante da organização e dos envolvidos na pesquisa (p.ex., clientes, pesquisador, financiador, indústria, mercados, sociedade etc.) em conservação para o desenvolvimento sustentado. Tal preocupação tem fundamentos na história e na evolução do pensamento científico e se torna cada vez mais importante com o crescimento de externalidades negativas tecnológicas e pecuniárias. Por outro lado, essa história e evolução, em seus fundamentos são oportunidades para refletir acerca do conhecimento que se tem, que poderia / deveria se ter e de que como melhorá-lo ou adequá-lo às circunstâncias e às exigências de cada caso, período, local, comunidade, oportunidade (...).
Mazursky (2005; complementado), ao tratar aspectos históricos da ciência e suas relações com a filosofia e a sociedade em um contexto geral, considerou que “todas as formas de saber humano estiveram reunidas em duas modalidades de discursos: a do mito e a do senso comum”.
O discurso do senso comum primitivo era o uso prático e imediato da linguagem, enquanto que o discurso do mito, especializado e com conteúdo estruturado que, posteriormente se diferenciaria para dar origens à religião, à arte, à ciência e à filosofia, era para explicar o mundo e dar sentido à vida. O autor (MAZURSKY op. cit.) destacou a Grécia Antiga como a raiz da cultura européia e da cultura que se generalizou no Ocidente.
Nas polis o discurso da filosofia ganhou autonomia e preferência em relação ao mito e ao senso comum, com postulados que perduraram por séculos como os de “ordem, harmonia e equilíbrios das forças que regem o mundo”, derrubando crenças do senso comum como a do mundo regido por forças arbitrárias e caprichosas.
Do mito restaram as narrativas de grandes poetas épicos como fontes de inspiração das artes clássica e, posteriormente, renascentista. Mais tarde o mito fui substituído pelo logos que na filosofia Grega era a razão colocada como o princípio constituinte e controlador do universo e sendo expresso pela fala, como uma abstração da intuição racional do filósofo o que resultava socialmente acessível.Dessa forma, os filósofos realizaram os primeiros trabalhos científicos com base em observações empíricas explicitamente racionais, objetivas e universais (MAZURSKY, op. cit.; complementado). Tais atributos são elementos, alguns persistentes, em atividades da ciência e pesquisa e que é preciso destacar com os devidos ajustes, mudanças e complementações ou revisões.
Os interesses dos filósofos nos mais variados campos científicos, dividiam-se em dois: no estudo da natureza e no estudo de assuntos de ética e política (humano), sendo que o ideal de harmonia, de equilíbrio e de eqüidade, tanto em assuntos humanas como em explicação da natureza, presidia a visão do mundo, com uma tendência para todo encontrar seu lugar mais justo e mais adequado (MAZURSKY, op. cit.; complementado).
Entender a origem e evolução da pesquisa passa e, por vezes, confunde-se com a origem e evolução da filosofia no tratamento da ciência, da filosofia da ciência, ao se ocupar de idéias e não de conceitos restritos, com elementos básicos da própria história do desenvolvimento científico. Essa filosofia, segundo Quintanilla (1987), ocupa-se da análise e fundamentação das ciências consideradas como formas de conhecimento.
A importância (mais do que isso, a relação – complementação) da história da ciência e da filosofia da ciência pode ser sintetizada pro uma frase de Lakatos, inspirada em Kant, “a filosofia da ciência sem a história da ciência é cega; a história da ciência sem a filosofia é vazia”.
A lição dessa relação- complementação pode ser colocada em perspectivas, tanto internalista (análise filosófica como as de pressupostos e fundamentos das ciências) de análises e compreensão das ciências, desde dentro, a partir de problemas e constituição – desenvolvimento específico, como externalista (análise sociológica) ao buscar caracterizá-la com base no exame de suas relações com o meio externo. Uma referência para este tema se encontra em The origins of modern science (BUTTERFIELD, 1985).
Uma síntese de aspectos históricos, da evolução do pensamento científico e, em especial, de pontos destacados da filosofia da ciência e suas contribuições (poucos exemplos) às ciências é um ponto de partida para a reflexão e compreensãom da importância da história e filosofia das ciências para a pesquisa, esclarecendo-se que que em descobertas, invenções (...) interferem, com freqüência, fatores não-científicos (p.ex., te elógicos, religiosos), não-racionais (...) considerados apenas na historiografia moderna das ciências. A atitude da maioris dos escritores da primeira metade do século XX desprezava elementos não-científicos no surgimento e evolução de teorias científicas, dificultando o pleno entendimento do processo de criação das ciências (THORNDIKE, 1923-1958). Expressava que “nenhum escritor medieval, seja de ciência ou de magia, pode ser entendido por si próprio, mas precisa ser avaliado com respeito a seu ambiente e antecedentes” se o que se quer é uma visão abrangente da evolução das idéias científicas.
Para isso é precissodescrever como essas idéias surgiram e progrediram em diferentes cultutras e sociedades. Thorndike (op. cit.) exemplifica dois casos famosos limitados em seus entendimentos por omissões nas narrativas: a influência da alquimia sobre Newton, na concepção da idéia de gravitação, e sobre Kekulé, ao imaginar a estrutura da molécula de benzeno.
A importância da “história” da ciência e da filosofia das ciências para a educação científica de qualidade e com resultados esperados com efetividade tem sido destacada na literatura, entre outros, por Mattews (1998) ao afirmar que a aprendizagem da prática científica precisa ser complementada pelas aprendizagens sobre as ciências (natureza das ciências) e sobre a história e filosofia das ciências, importantes tanto para pesquisadores como para professores.
Os professores precisam pelo menos de três competências: o conhecimento e a apreciação da ciência que ensinam; a compreensão da história e da filosofia das ciências; e alguma teoria que proporcione uma base racional no processo de ensino.
O contexto da pesquisa científica não se limita a um ambiente “neutro” de um laboratório, de um campo experimental, de um ambiente fechado de investigação (...), mas compreende inúmeros fatores e circunstâncias abertas e com interações com o meio interno, tais como: a diversidade de pessoas e de conflitos e interesses compreendidos pela investigação; a questão legal e ética cada vez mais complexa em suas relações com as invações; as relações ambíguas, difusas (...) entre as ciências e os interesses da comunidade científica, dos financiadores das ciências e da tecnologia com o meio ambiente. Tudos esses processos compreendem aspectos históricos e sociais.
À filosofia das ciências caberia mostrar não que a ciência existe, mas, que ela existe com as características do conhecimento científico, entre outras as de lógica e racionalidade: certa legitimação e diferenciação do conhecimento científico dos demais conhecimentos.
Para reflexão. A complexidade de ambientes, de interesses, de atores (...) pressupõe habilidades – competências do pesquisador para gerir e tomar decisões; pressupõe, antes de tudo, reflexão e análise crítica para combinar interesses por vezes conflitantes e com base em processos históricos, culturais (...). Parte dessas reflexões é obtida da leitura atenta da história das ciências e da filosofia das ciências. Esse é um dos propósitos da primeira parte do livro que trata da origem e evolução das ciências e da pesquisa para entender o desenvolvimento científico, ao se admitir que a garantia desse conhecimento estivesse associada à forma de uso – aplicação e à resposta da ciência, pela sua utilidade, em cada período.
À historia das ciências caberia mostrar como os cientistas e pesquisadores construíram, histórica e culturalemnte, as formas de ver, ler, analisar, narrar e se relacionar com a natureza; de como se relacionavam e organizavam para o exercício da investigação, com notáveis exemplos. É o caso, na antiguidade, da biblioteca de Alexandria, onde várias correntes de idéias se cruzavam em um intercâmbio fecundo, com influências, apropriações, empréstimos etc., no desenvolvimento de variados conhecimentos. Na Idade Média, esse intercâmbio se acentuou, mas foi a invenção da imprensa que levou a sua intensificação permitindo, a partir do século XXVII, que as obras científicas foram lidas por considerável número de pessoas e fossem estabelecidas freqüentes correspondências entre autores; fundaram-se academias científicas e publicaram-se periódicos como o Journal dês Scanvans, Philosophical Transactions (...) que permitiu identificar, com relativa facilidade, cientistas. No século XVIII se fundou a Encyclopédie com pensadores como Diderot e D´Alembert – genealogia das ciências - (BUTTERFIELD, 1985; complementado).
Os narradores de fatos históricos das ciências, os compiladores, consideravam apenas os fatos de maior importância, segundo suas perspectivas, dispensados aqueles que julgavam sem interesse. É o caso, p.ex. da História da química, escrita pore Partington (1965), em que o autor trata com desprezo a alquimia por não lhe merecer atenção. Apenas descobrimentos, técnicas e procedimentos dos alquimistas foram levados em consideração, sem menção de disquisições sobre a matéria, suas transformações e propriedades. Isso, à despeito de que em aproximadamente dois milênios a alquímica ocupou posição fundamental, em diferentes culturas e civilizações, como a explicação essencial dos fenômenos de transformação da matéria. O paradigma mudou com o surgimento da química e o abandono da alquimia; entretanto, é função do historiador da ciência investigar os vários paradigmas, mesmo aqueles superados, assim como o processo de superação. Isso não aconteceu em narrativas históricas.
Com o surgimento da ciência moderna se tevê a preocupação de cuidar da história das ciências. Com essa preocupação surgiram filósofos das ciências como F. Bacon. A importância da história para essepensador pode se compreendida pelas frases: “a verdade é filha do tempo” e a “(...) a necessidade de uma história exata do saber, contendo as antigüidades e as origens das ciências (...), as invenções, as tradições, os diversos tipos de preparação e organização; os momentos de expansão, as oposições, as decadências, depressões e esquecimentos; com as suas causas e possibilidades (...) que dizem respeito ao saber (...)”. Destacou o valor da história no desenvolvimento do conhecimento e elaborou um esboço dessa história como uma pedagogia da ciência, uma tomada de consciência da experiência adquirida pelas gerações anteriores.
Mas não foi apenas a história da ciência que teve seu reconhecimento recente. O próprio conceito - sentido moderno da ciência teve sua origem, segundo Herrnshaw, citado por Gauer (1996), apenas no início do século XIX. Porém, o conceito é muito mais antigo, tanto quanto sua história e as histórias da sociedade e da filosofia.
As civilizações orientais chinesas, hindus (...) e as do Meio Ocidente tinham empreendimentos da ciência e fundamentos científicos. Contudo, foram os gregos os que assentaram as bases da mentalidade científica e definiram conceitos como os de abstrato, generalizável (...) com base em princípios de evidências, de testes (...). Tais bases e conceitos, apesar de limitados, foram essenciais para provocarem mudanças e revoluções na evolução das ciências.
2.3 Revoluções Científicas
Na “história” das ciências (descrições) se têm diversas teorias sobre as revoluções, em diversos campos, tais como o político, com impactos nas ciências; o sociocultural, com interações e desdobramentos nas ciências; e o econômico – industrial, com efeitos nas ciências: financiamento de suas atividades e aplicação de seus resultados através da tecnologia; além das revoluções científicas. São revoluções definidas como fases de progresso das ciências, com substituições, abruptas ou graduais, de um conjunto de bases (suposições) diretivas por outro, de paradigmas tradicionais por novos paradigmas durante as transições de uma época para outra. Foram revoluções que assinalaram períodos de crises e deram lugar à evolução científica.
O debate a respeito das características da revolução científica é amplo, complexo e comporta grande número de conceitos e definições, obtidas de numerosos e diferentes pontos de vista, um deles é o de Koyré (1961; ver seção 4.39 Alexandre Koyré). Esse autor afirma que a revolução científica representa o abandono, pelo pensamento científico, de idéias baseadas em conceitos de valor, tais como perfeição, harmonia, significado e objetivo, substituindo-as por um universo indefinido e até mesmo infinito, mantido coeso pela identidade de seus componentes e leis fundamentais, e no qual todos esses componentes são colocados no mesmo nível de ser.
Outro conceito de revolução científica a ser destacado neste livro é o de Kuhn (1978) que o formulou com base, entre outras idéias, na rejeição de transformação linear, em favor da idéia de revolução, com sentido parecido ao de revolução política: quando se atinge o momento de uma revolução política, os recursos disponíveis para resolver os problemas dentro do sistema político se esgotam e, pela necessidade de transformar esse sistema, é preciso recorrer a meios externos à política como os de persuasão e o da força – violência. De forma parecida, quando se esgotam os recursos internos da ciência normal, é necessário transformar o próprio paradigma que orienta as pesquisas, recorrendo a argumentos externos à ciência. No período de “competição” entre paradigmas, estabelecem-se discussões de “surdos” a ponto de não ser possível demonstrar que um paradigma é melhor que outro; tal situação de não entendimento não pode perpetuar-se. O autor define condições e estabelece conceitos para a se efetivar a transição, a revolução científica, sintetizados na seção 4.53 Thomas Samuel Kuhn.
Conforme diversos autores, a idéia da Revolução Científica como um fenômeno apenas europeu, livre de influências externas, não é sustentável. Basta considerar os elementos levados à Europa durante os períodos de navegações e ocupações de terras na América, na África e na Ásia, carregados de conhecimentos provenientes de povos e culturas diversas, de lugares e tipos de naturezas diferentes em minerais, plantas, animais (...). Foram elementos que mudaram (ou que contribuíramn para a mudança) a mentalidade herdada da Idade Média e sua visão de mundo. Perante essa nova realidade era difícil resistir às contestações e reavaliações. Se a realidade do mundo era tão diferente, como confiar em doutrinas enunciadas por quem ignorava tanta diversidade? A resenha “histórica” que se apresenta não considera, apesar de relevantes, influencias externas na Revolução Científica.
São exemplos de revoluções científicas:
a) Na antiguidade, o tratamento matemático na descrição dos movimentos dos planetas, iniciado pelos babilônicos e, depois (um novo paradigma), aperfeiçoado pelos gregos; e o sistema de classificação de seres vivos, introduzido por Aristóteles e, posteriormente, aperfeiçoado por outros (outros paradigmas).
b) No período contemporâneo, a informática, na “sociedade conhecimento” e a nanotecnologia não limitada apenas a conhecer a matéria em suas formas e funções elementares de átomos e moléculas, de interações e organização (...), mas, a tomar decisões em qualquer escala e ter acesso nas menores delas, em ordem de milionésimos de milímetros para entender leis da natureza.
A mais importante revolução científica teve início com as descobertas de Galileu e Kepler, entre outros pensadores do século XVII, quando a ciência, até então atrelada à filosofia, iniciou a sua “independência” e passou a ser um conhecimento mais estruturado e prático (WIKIPÉDIA, 2006; RONAN e ZAHAR, 1987; complementado).
O começo da separação entre as ciências da filosofia teve formas próprias de abordagens da realidade; no caso das ciências, em particular das ciências modernas, essa independência da filosofia teve início com método experimental, com o surgimento das chamadas ciências particulares, tais como física, astronomia, química, biologia, sociologia, economia (...) e suas correspondentes delimitações. O tratamento empírico adscrito ao domínio das ciências não atinge o conhecimento filosófico que, segundo Kant, é racional a partir de conceitos. Entretanto, se as ciências compreendem, também, conhecimentos racionais elaborados a partir de conceitos, então essa separação não foi (não tem sido e, possivelmente, não será) definitiva ou total nem igualmente aplicada em qualquer situação e/ou em todas as áreas do conhecimento. São os casos de ciências que conservam estreitas relações e interdependências com a filosofia: disciplinas da filosofia como a lógica, a ética, a teoria do conhecimento e a epistemologia, entre outras, têm funções no conhecimento, seja ele científico ou não.
Em outro sentido, conforme Habermas (1990) e dentro do fundamentalismo da teoria do conhecimento, citando a Kant (Crítica da razão pura), a filosofia indica às ciências o seu lugar e define limites do que pode ser objeto de experimentação: o caso da biotecnologia em seres humanos, em que a pesquisa é “limitada” (vale dizer, disciplinada) por normas e critérios da ética da investigação científica em humanos.
Para Habermas (ver 4.57 Jürgen Habermas), mais do que indicar o lugar e definir limites, a filosofia é o guardião da racionalidade e interprete das ciências.
Independente da discussão acerca da independência entre as ciências e a filosofia há casos freqüentes em que as ciências conservam estreitas relações e interdependências com a filosofia, tais como:
a) No direito; este caso é considerado, entre outros, por Habermas, na filosofia da práxis: entender o homem é, em parte, entender o direito diante do qual se torna possível a convivência humana; nessa convivência há questões morais, éticas.
b) Na sociologia em que, segundo Weber, a compreensão de fenômenos históricos e sociais, a reflexão sobreo método das ciências e os problemas metodológicos como produtos de inumeráveis variáveis culturais não podem estar desvinculados da autonomia lógica e teórica, porém, não submetida a entidades metafísicas do espírito do povo.
c) Na economia que, de acordo com Adam Smith, a explicação básica para a lógica dos fenômenos coletivos; a ordem social como emergência que harmoniza o caos potencial de interesses individuais e o traduz em bem-estar social.
Outras áreas da ciência e pesquisa modernas como a biotecnologia e a conservação de recursos naturais encontram suportes explícitos na filosofia em assuntos como os de ética (p, ex., bioética) e responsabilidade, apenas para citar dois casos.
As causas principais que provocaram a revolução científica dos séculos XVI e XVII tida como a maior de todas por ter modificado a estrutura, a forma e a função da ciência a ser repensada em relação à nova sociedade, não foram isoladas ou somente por motivos próprios, das ciências, além de sua indeterminação histórica, com sua origem em fatos anteriores.
Para entender essa revolução ampla e complexa é preciso entender os elementos que a precederam e para ela contribuíram, bem como as interações e suportes em conceitos vigentes na época. Isto, porque, tão importante quanto entender o Estudo anatômico sobre o movimento do coração e do sangue nos animais, de Harwey, o Diálogo sobre os dois maiores sistemas, de Galileu, a Harmonices mundi, de Kepler etc., é preciso entender a época, suas transformações e os meios que possibilitaram aos cientistas elaborarem seus trabalhos; as atitudes e novos comportamentos frente aos antigos e novos conceitos, às antigas e modernas filosofias (...) que vieram a influenciar ou determinar essa revolução.
Sem detalhes e apenas relacionando grandes grupos, apresentam-se, a seguir, as principais causas da revolução científica dos séculos XVI e XVII, sintetizadas com base em informações de várias fontes (WIKIPÉDIA, 2006; RONAM e ZAHAR, 1987; KOYRÉ, 1961; GUSDORF, 1988):
a) O renascimento cultural que trouxe o humanismo: a pregação do senso crítico e a maior atenção às necessidades humanas, ao contrário do teocentrismo (crença que considera Deus como o centro de tudo) da Idade Média.
A exigência de maior senso crítico permitiu observar, de maneira mais atenta, os fenômenos naturais e como efeito se registrou crescente interesse pela observação motivada contre o preconceito da magia natural e favorecida pelo desenvolvimento e auge da matemática.
O grande interesse e intensa busca que trouxe o Renascimento pelos textos clássicos como p.ex., a Geografia de Ptolemeu, o De rerum natura de Lucrécio, o De medicina de Celso (...); o interesse por novas teorias como a do ímpeto que procurava explicar como um movimento continuava mesmo cessando a causa que lhe deu origem.
b) A invenção da imprensa (ver nota de rodapé 25) que, naquele período, teve papel fundamental na revolução científica, além de minimizar erros de interpretações e cópias que deturpavam as traduções de textos; a impressão de textos em língua vernácula possibilitou uma maior divulgação de material se comparado aos escritos em latim, de acesso limitado.
A invenção da imprensa de caracteres móveis pode ser considerada a origem da comunicação de massas ao constituir o primeiro procedimento de disseminação de informações a partir de uma única fonte para um alvo numeroso e disperso.
c) A reforma religiosa com reformistas que pregavam, entre outras idéias, uma forma de existência de Deus através de descobertas científicas e, por isso, tais práticas cientificas foram incentivadas.
d) O hermetismo; ao pregar idéias quase mágicas, mas que exaltava a matematização do universo encorajou o desenvolvimento e uso da matemática para relacionar grandezas e demonstrar verdades essenciais; o desenvolvimento e difusão da matemática criaram um “ambiente propício para o desenvolvimento de um método científico mais rigoroso, crítico e que modificou a forma de fazer ciência”.
e) Segundo Koyré (1961), a revolução científica representou o abandono, pelo pensamento científico, de idéias baseadas no conceito de valor, como perfeição, harmonia, significado e objetivo, substituindo-os por um universo indefinido (e até infinito) mantido pela identidade de seus componentes e por suas leis.
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No texto a seguir se apresentam traços históricos da origem e evolução da ciência seguida da origem e evolução da pesquisa, com ênfase em aspectos relacionados com o conhecimento científico e os métodos de investigação. Apresentam-se, também alguns resultados (exemplos) científicos de filósofos cientistas e de pesquisadores, com elementos gerais do pensamento filosófico de cada autor; essa apresentação se inicia com dados biográficos e a relação das principais obras de cada pensador. 
Não se trata de uma síntese da história da ciência nem da filosofia da ciência, mas, apenas informações esparsas, suficientes para despertar a curiosidade do leitor que, se interessado em determinado assunto ou autor, deverá buscar as obras pertinentes de história da ciência e de filosofia da ciência para maiores informações. O texto relaciona algumas referências para essa pesquisa bibliográfica e documental.
Os pontos destacados nos traços históricos da origem e evolução se relacionam diretamente com aspectos considerados no livro e se referem à evolução do pensamento científico e à evolução de procedimentos do método científico, apresentados como incitações à reflexão crítica e ao desenvolvimento do pensar crítico e criativo, habilidades necessárias do “bom” pesquisador.
2.4 Filósofos e “Cientistas” - Pesquisadores da Antigüidade
É possível que a primeira civilização tenha surgido na Mesopotâmia, onde, em torno de 3.500 a.C., os sumérios desenvolveram as primeiras bases. Naquela região e época acreditava-se que a dor seria uma forma de punição; que as doenças diagnosticadas e prognosticadas por adivinhações resultariam de interferências de deuses ou de demônios no ser humano; e que a cura (p.ex., com resinas, temperos e extratos de plantas como a papoula (Papaver rhoeaus), com propriedades narcóticas e da qual se extrai o ópio) poderia ser proporcionada por orações, exorcismos (praticados por sacerdotes) e sacrifícios oferecidos aos deuses (TEIXEIRA e OKADA, 2006; p. 17).
Na Babilônia, as ciências eram consideradas parte da religião e os “médicos” interagiam com os deuses. Naquela civilização antiga considerava-se o coração o centro das sensações e sede da inteligência; o fígado, a sede das emoções; o útero, a sede da compaixão; e o estômago, a sede da astúcia. (TEIXEIRA e OKADA, op. cit.).
No Egito antigo, acreditava-se que havia no corpo uma grande rede de vasos (Metu) que veicularia a respiração e as sensações para o coração; acreditavam que as sensações dolorosas não relacionadas aos ferimentos eram causadas pelos deuses ou pelos espíritos dos mortos que emergiriam das trevas penetrando ao corpo pelas narinas e orelhas; por esse motivo, ocluíam os orifícios do nariz e das orelhas de seus mortos, para evitar que os espíritos do mal penetrassem em seu interior e fossem afetados para a reencarnação (TEIXEIRA e OKADA, op. cit).
O entendimento do processo da pesquisa passa pelo pensamento reflexivo, com a conseqüente quebra da unidade do mito e com o surgimento da filosofia, da ciência, da pesquisa para explicar, auxiliar, entender (...) fatos e fenômenos. Essa quebra ou passagem da consciência mítica para a consciência filosófica e, depois, para o pensamento científico teve início na antiguidade em várias partes do mundo: Ásia, Médio Oriente e América pré-colombiana.
Muitos estudos filosóficos da antiguidade tinham a preocupação de descrever certa genealogia de conhecimentos e fazer compilações de ideais, com referências aos seus antecessores, registrando-as e classificando-as. É o caso das descrições “científicas” (históricas) de matemática, escrita por Eudemo e de medicina escrita por Menon na forma de descrições em que

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