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O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 1 O Ambiente e as Doenças do Trabalho O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 2 O Ambiente e as Doenças do Trabalho Toxicologia Ocupacional - Parte 1 1. Introdução De acordo com Ballantyne (1999), Toxicologia é o estudo da interação entre agentes químicos e sistemas biológicos com o objetivo de determinar, quantitativamente, o potencial dos agentes químicos em produzir danos que resultam em efeitos adversos em organismos vivos. O objetivo da Toxicologia é prevenir o efeito adverso causado pela interação da substância química com o organismo vivo. O total de substâncias químicas existentes ultrapassa 11 milhões, sendo que cerca de cem mil são de uso comum na indústria, comércio e no ambiente doméstico. O número de substâncias em que foram realizados estudos de toxicidade por experimentos em animais é de cerca de sete mil apenas. A Toxicologia é dividida nas seguintes áreas: - Toxicologia de alimentos: estuda os agentes tóxicos que podem contaminar os alimentos enquanto estes são processados ou conservados e os alimentos naturalmente tóxicos. - Toxicologia ambiental: estuda a interação entre os agentes químicos que podem contaminar o ambiente e os organismos vivos. - Toxicologia de medicamentos: estuda os efeitos adversos dos medicamentos, seja em doses terapêuticas ou em overdose. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 3 - Toxicologia social: estuda o efeito nocivo de substâcias químicas depressoras, estimulantes ou pertubadoras, utilizadas sem prescrição médica e sem o objetivo de tratamento. - Toxicologia forense: procura esclarecer a causa da morte em caso de intoxicações. - Toxicologia ocupacional: estuda os efeitos sobre o trabalhador da exposição a substâncias químicas no ambiente de Trabalho. Com a monitorização ambiental procura-se verificar a concentração do agente químico no ambiente de trabalho e comparar com os limites de exposição previamente estabelecidos. Mediante essa comparação, fica definido se o ambiente de trabalho é salubre ou insalubre. Caso o ambiente seja insalubre, medidas de engenharia ou de proteção coletiva devem ser tomadas a fim de reduzir a concentração do agente químico no ambiente do trabalho e proteger a saúde do trabalhador. Também é feita monitorização biológica (Toxicologia Analítica) mediante exames em material biológico como sangue ou urina, procurando confirmar o resultado da monitorização ambiental. Caso a monitorização biológica sugira uma exposição acima do limite de exposição ambiental, medidas para redução da concentração da substância química no ambiente de trabalho devem ser tomadas e novas monitorizações ambientais quantitativas devem ser realizadas para confirmar o resultado das ações realizadas. Se o paciente, além da alteração do exame na urina e no sangue, também apresentar sinais e sintomas, está intoxicado e medicamentos devem ser prescritos para tratamento da intoxicação (Toxicologia Clínica). Os trabalhadores podem expor-se a riscos físicos, químicos e biológicos no ambiente de trabalho, sendo que a Toxicologia ocupacional estuda os riscos químicos e o seu gerenciamento adequado. Fornece conhecimentos para o reconhecimento do risco químico nocivo ao trabalhador, para decisão quanto à necessidade de avaliação quantitativa e para decisão pela necessidade de tomada de medidas de controle das exposições. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 4 Paracelsus (1493-1541) já afirmava que "todas as substâncias são venenos, sendo que o que diferencia um veneno de um remédio é a dose". A partir desse conceito, dizer simplesmente que uma substância química é tóxica não é suficiente, já que qualquer substância química tem capacidade de causar uma intoxicação. A princípio, toda substância química deveria ser submetida a uma avaliação toxicológica antes de ser liberada para uso industrial, medicamentos, aditivos alimentares, domissanitários ou agrotóxicos. Essa avaliação toxicológica consiste em estudos esperimentais em animais e extrapolação dos resultados para humanos. O objetivo é fornecer informações dos riscos para o homem e estabelecer os limites de exposição seguros aos agentes químicos. Devem ser realizados testes de toxicidade aguda (DL50 e CL50), testes de toxicidade subaguda, testes de toxicidade crônica, testes de carcinogenicidade, de mutagenicidade, de teratogenicidade e comportamentais. A avaliação toxicológica de uma substância química é realizada em laboratório, em condições padronizadas, sendo estudada a exposição a um agente químico de cada vez. Essa não é a realidade do ambiente de trabalho, onde os produtos químicos estão dispersos, podendo o trabalhador se expor a vários produtos químicos ao mesmo tempo. Essa interação dos agentes químicos no ambiente de trabalho pode levar aos seguintes efeitos resultantes: - Adição: os agentes químicos possuem toxicidade sobre o mesmo órgão-alvo ou sítio de ação, sendo que o resultado tóxico final é a soma dos efeitos. - Sinergismo ou Supra-adição: os agentes químicos possuem toxicidade sobre o mesmo órgão-alvo ou sítio de ação, sendo que o resultado tóxico final é superior à soma dos efeitos. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 5 - Potencialização ou Potenciação: um agente químico é inerte, ou seja, não é toxico, mas, quando absorvido pelo organismo combinado com um agente químico tóxico, aumenta a toxicidade do segundo, sendo que o resultado tóxico final é superior ao efeito esperado. - Antagonismo (antídoto): quando um agente químico interfere com a ação tóxica de um agente químico sobre o organismo, diminuindo o efeito tóxico resultante. - Efeito Inesperado: quando nenhum dos dois tóxicos teria um determinado efeito isoladamente, mas, ao misturá-los, surge um efeito inesperado. Conceitos da Toxicologia: - Toxicidade: capacidade inerente a uma substância química de causar um efeito nocivo a um organismo vivo. Esse efeito nocivo, dano ou lesão, pode ocorrer em qualquer fase do processo, desde a fase de exploração ou mineração da matéria- prima, passando pelo transporte, armazenamento, beneficiamento e consumo. A Toxicidade de uma substância química é determinado por uma manifestação tóxica ou experiência (Toxicologia Experimental) realizada em animais de laboratório, sendo que geralmente é utilizada a DL50, ou a dose necessária do produto químico para matar 50% da população estudada. Quando a substância química é um gás, geralmente utiliza-se a CL50, ou a concentração necessária do gás para matar 50% das cobaias. Os tóxicos podem ser classificados quanto à toxicidade pela classificação de Hodges e Haggard: Toxicidade DL50 (mg/kg peso corporal) Exemplos Extrema < 1 Fluoracetato Alta > 1-< 50 Paration Moderada > 50-< 500 DDT Baixa > 500-< 5.000 (= 5 g/kg) Acetanilina Muito baixa > 5.000-< 15.000 Acetona Relativamente atóxica > 15.000 (= 15 g/kg) Glicerina O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 6 Toxicidade CL50 (mg/m³) Exemplos Extrema ≤ 50 Ozônio Alta > 50-< 100 Fosfogênio Moderada > 100-< 1.000 (= 1 g/m³) Ácido cianídrico Baixa > 1.000-< 10.000 Amônia Muito baixa > 10.000-< 100.000 Tolueno Relativamente atóxica > 100.000 (= 100 g/m³) Fluorocarbonos - Risco Tóxico: probabilidade de uma substância química de causar um efeito nocivo. O Risco Tóxico é a probabilidade estatística de uma substância química causar efeitos nocivos e também depende do tempo de exposição. Substância com alta toxicidade,mas com baixo tempo de exposição tem baixa probabilidade de causar intoxicações O tempo de exposição pode ser classificado em eventual, intermitente ou contínua, havendo variações em relação à porcentagem de exposição do total da jornada, mas pode-se utilizar o que era orientado na Portaria 3.311/89, que foi revogada. - Toxicante: agente químico já absorvido, apto a atuar em seu sítio de ação ou órgão- alvo no organismo. - Xenobiótico: substância química estranha ao organismo, que pode causar efeitos benéficos ou adversos. - Intoxicação: conjunto de efeitos do agente químico sobre o organismo, apresentando-se por manifestação clínica (sintomas e sinais). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 7 A intoxicação por um agente químico pode ser dividida em intoxicação aguda, subaguda e crônica. - Intoxicação aguda: decorre de um único contato ou múltiplos contatos com o agente tóxico, em um período de tempo aproximado de 24 horas. Os efeitos surgem de imediato ou tardiamente, no decorrer de alguns dias e no máximo após 2 semanas. O nexo causal ou nexo técnico ocupacional, em geral, é fácil de ser estabelecido. - Intoxicação sub-aguda: os efeitos do contato com o agente tóxico surgem após 2 semanas e inferior a 1 mês. - Intoxicação sub-crônica: Resulta efeito tóxico após exposição prolongada a doses cumulativas do toxicante ou agente tóxico, num período de 1 a 3 meses. - Intoxicação crônica: o efeito tóxico surge após um período prolongado de exposição, geralmente superior a 3 meses, até anos. O nexo causal é, em geral, mais difícil que na intoxicação aguda. Os efeitos de um tóxico sobre o organismo pode ser local, sendo que o tóxico age no local da exposição do organismo, causando lesão somente na área de contato, sem atingir a circulação sanguínea. Quando o tóxico consegue alcançar o sangue e ser distribuído pelo organismo, causando efeitos em órgãos distantes da área de exposição, o efeito é chamado de sistêmico. É importante determinar qual é o órgão-alvo ou sítio de ação do agente químico tóxico, já que existem órgãos que têm uma boa capacidade de se regenerarem (efeito reversível), como o fígado, e outros que têm uma capacidade menor de recuperação, como o sistema nervoso central (SNC). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 8 Efeito irreversível é o relacionado com a cancerização (câncer), mutagênese (dano ao cromossomo) e teratogênese (malformações fetais). Classificação dos tóxicos em relação à carcinogenicidade (capacidade de causar câncer): A Conferência Governamental Americana de Higienistas Industriais (American Conference of Governmental Industrial Hygienists – ACGIH) classifica os tóxicos quanto à carcinogenicidade: A1 – tóxico comprovadamente cancerígeno para o homem; A2 – tóxico é suspeito de causar câncer para o homem; A3 – tóxico causa câncer em cobaias em doses elevadas; A4 – as informações disponíveis são insuficientes para classificar o tóxico como capaz de causar câncer; A5 – não há suspeita de provocar câncer no homem ou em cobaias, mesmo em doses elevadas. Classificação dos Tóxicos quanto à Forma de Apresentação no Ambiente: As vias de exposicão mais importantes na toxicologia ocupacional são a respiratória e a cutânea. Por esse motivo, apresentações dos tóxicos que facilitem a entrada pela via respiratória como gases, líquidos que vaporizam e aerodispersoides são as mais importantes. - Gás: estado físico normal de uma substância, nas condições normais de temperatura e pressão (a 25° C e 760 mmHg). - Vapor é o estado gasoso de uma substância sólida ou líquida, em condições normais de temperatura e pressão. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 9 - Líquidos: são mais importantes os lipossolúveis, que penetram pela pele e os que vaporizam, penetrando pela via respiratória (p. ex., solventes). - Aerodispersoide: apresentação de sólidos ou líquidos em pequenas partículas de tamanho menor que 100 μm. Aerodispersoides sólidos são poeiras, fibras, fumos e fumaças. Os Aerodispersoides líquidos são névoas e neblinas. Poeiras são formadas pela desagregação de sólidos por ação mecânica, como mineração, lixar, cortar etc. As mais importantes são as poeiras respiráveis, ou menores que 10 µm (partículas sub 10), que conseguem alcançar os alvéolos podendo causar fibrose pulmonar. Fibras são partículas filamentosas com diâmetro menor que 1,5 µm, comprimento maior que 5 µm e relação comprimento/diâmetro maior que 3 (p. ex., asbesto, fibra do amianto). Os fumos são condensação de vapores de metais, como a que ocorre na fundição de metais (p. ex., soldagem). A fumaça é a combustão incompleta da matéria orgânica. Possui monóxido de carbono (CO), um asfixiante químico, e asfixiantes simples como o dióxido de carbono (CO2). Pode ser contaminada com produtos tóxicos como o ácido clorídrico, pela queima de materiais clorados como o PVC (policloreto de vinila). A espuma de poliuretano quando é queimada em ambiente fechado, com baixo teor de oxigênio, tende a formar monóxido de carbono (CO) e traços de ácido cianídrico (muito volátil e asfixiante químico). Névoa: composta por partículas no estado físico líquido, que são produzidas por substâncias líquidas que sofreram ruptura, se tornando pequenas partículas que acabaram por se dispersar no ar (p. ex., spray de desodorante). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 10 Neblina: composta por partículas no estado físico líquido, mas por meio da condensação de vapores das substâncias que estavam no estado líquido nas condições normais de temperatura e pressão. Efeitos dos Agentes Tóxicos sobre o Organismo: - Irritantes: irritação local, geralmente por substâncias ácidas ou alcalinas. O efeito é, na maioria de vezes, local, mas o agente pode atingir a circulação sanguínea e apresentar atuação sistêmica. - Alérgicos: o tóxico pode determinar uma reação imune com a produção de anticorpos. - Fotoalergia: o contato com um produto químico associado a exposição ao sol pode determinar o surgimento de haptenos e lesões cutâneas. - Fotossensibilização: o contato com um produto químico associado a exposição ao sol pode determinar o surgimento de radicais reativos que causam lesões na pele. - Anestésicos: causam depressão do SNC, sendo o maior exemplo os solventes. - Citostáticos ou Citotóxicos: impedem a divisão celular por meio de interferência com o sistema genético (mediante inibição enzimática ou no encaixe das duplas hélices). - Mutagênicos: alteração do código genético das células germinativas. - Carcinogênicos: alterações cromossômicas que causam divisão celular incontrolável. - Teratogênicos: ação tóxica no embrião ou no feto causando malformações ou distúrbios de desenvolvimento. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 11 - Pneumoconióticos: doenças pulmonares ocupacionais causadas por poeiras, de tamanho inferior a 10 µm (partículas sub 10). A expressão foi extendida as doenças pulmonares ocupacionais causadas por outros agentes, diferentes da poeira (p. ex., metais). Fases da Intoxicação: Para ocorrer uma intoxicação é necessário que exista um agente químico e uma determinada dose. Essa dose é avaliada pela monitorização ambiental, que, mediante uma avaliação quantitativa e comparação com os limites de exposição previamente estabelecidos, determina se o ambiente encontra-se salubre ou insalubre. - Exposição: A partir do momento que existe um agentequímico no ambiente do trabalho e o trabalhador exerce uma atividade junto a esse agente químico (tóxico), ocorre a exposição (respiratória, cutânea ou digestiva), que é a primeira fase da intoxicação. - Toxicocinética: Havendo a exposição, ocorre a absorção, que é o início da segunda fase da intoxicação, chamada de Toxicocinética. Essa fase representa o caminho do tóxico pelo organismo, e é a fase em que o organismo está se defendendo, tentando biotransformá-lo em um produto menos tóxico e eliminá-lo o mais rapidamente possível, a fim de reduzir ou eliminar as possíveis lesões sobre o organismo. As substâncias químicas lipossolúveis não ionizadas (apolares ou eletricamente neutras) são capazes de transpor a camada lipídica bimolecular das membranas biológicas, pelo processo de difusão passiva. Após absorvido, o tóxico é distribuído pelo sangue e armazenado em proteínas plasmáticas, gordura, ossos, fígado e rins. O ideal é que o local de armazenamento do produto tóxico no organismo seja diferente do órgão-alvo ou sítio de ação, pois quando é igual, a ação tóxica é muito mais aguda e grave. O tóxico é biotransformado principalmente no fígado, sempre com a intenção de transformá-lo em um produto menos tóxico e depois é excretado, principalmente pelos rins. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 12 - Toxicodinâmica: é a fase de interação do agente químico no órgão-alvo ou sítio de ação, causando lesão. - Fase Clínica: é a fase das manifestações clínicas, dos sinais de sintomas. Avaliação do Ambiente de Trabalho É a determinação quantitativa da concentração dos agentes químicos no ambiente de trabalho e a comparação com as referências legais e cientificamente aceitas. Essas referências legais são os "Limites de Exposição", ou os limites aceitáveis onde o organismo pode estar exposto a um agente sem sofrer lesão, mantendo o seu equilíbrio interno. Deve-se ressaltar que trabalhadores com maior suscetibilidade individual aos agentes químicos podem apresentar lesões e alterações clínicas mesmo dentro dos limites de exposição citados. Esses limites de exposição são determinados em experimentos com animais, aproveitando-se as informações obtidas com exposições acidentais humanas e pelos dados obtidos em estudos epidemiológicos (exposições reais dos trabalhadores ao longo do tempo). Os limites de exposição foram propostos pela ACGIH-USA (American Conference of Governamental Industrial Hygienist), são os chamados TLV (Threshold Limit Value). - Threshold Limit Value – Time Weighted Average (TLV-TWA): Concentração média ponderada para uma jornada 8 horas por dia ou 40 horas semanais, na qual quase todos os trabalhadores podem ficar expostos sem dano. - Limite de Tolerância (LT) – Anexos 11, 12 e 13 da NR-15: Concentração ou intensidade máxima ou mínima que não causará dano à saúde durante a sua vida de trabalho. Referência para determinação de Insalubridade. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 13 - TLV-STEL (Short Time Exposure Limit): Exposição curta, sem causar efeitos adversos, que serve para controlar flutuações das concentrações das substâncias químicas acima dos valores de TLV-TWA estabelecidos. - TLV-Ceiling (TLV-C) – ACGIH ou Valor Teto (VT) – NR-15: Concentração máxima permitida que não pode ser ultrapassada em momento algum durante a jornada de trabalho. - Nível de Ação: Ações devem ser tomadas quando a exposição estimada ultrapassar o nível de ação que, segundo a NR 09, corresponde à metade do limite de exposição. Monitoramento biológico propriamente dito ou de dose interna: O monitoramento biológico de dose interna foi definido como “a medida e avaliação de agentes químicos ou de seus produtos de biotransformação em tecidos, secreções, excreções, ar exalado ou alguma combinação desses, para estimar a exposição ou o risco à saúde quando comparados com uma referência apropriada”. Os valores encontrados no monitoramento biológico de dose interna devem ser comparados com o Índice Biológico Máximo Permitido (IBMP), que é o valor máximo do indicador biológico para o qual se supõe que a maioria das pessoas ocupacionalmente expostas não corre risco de dano à saúde. A ultrapassagem desse valor significa exposição excessiva. Caso a comparação seja feita para pessoas não expostas ocupacionalmente, deve-se usar o Valor de Referência da Normalidade (VR). Monitoramento biológico de efeito: consiste na realização de exames complementares com a finalidade de detectar alteracões nos órgãos-alvo dos produtos tóxicos. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 14 DOENÇAS DO TRABALHO - Parte 2 1- Introdução As primeiras referências de doenças do trabalho são do Egito antigo (milhares de anos a.C.), condições de trabalho de minas de cobre e de pedreiros, descritas em papiros. Na civilização Greco-Romana, Hipócrates (Grécia, 460-375 a.C.), considerado o pai da medicina, identificou a intoxicação por chumbo dos mineiros. Plínio (Roma, 23-79 d.C.), fez a descrição de uma máscara elaborada com membrana de bexiga de carneiro, considerada a primeira citação de um Equipamento de Proteção Individual (EPI). George Bauer (1494-1555), em seu livro "De Re Metallica", descreveu uma doença denominada "Asma dos Mineiros" que hoje acredita-se se tratar da Silicose. Em 1700, Bernardo Ramazzini (1633-1714), considerado o pai da Medicina do Trabalho, publicou um Tratado sobre as doenças dos trabalhadores, descrevendo doenças que ocorriam em mais de cinquenta profissões. Percival Pott (Londres -1776) fez referências a câncer escrotal em limpadores de chaminés, considerada a primeira citação da relação entre câncer e trabalho. Sabe-se hoje, que a causa seria a presença da substância 3,4-benzopireno na fuligem, sendo que a falta de higiene na época aumentava o tempo de exposição. Isso levou à emissão, em 1778, da "Lei dos Limpadores de Chaminé", que orientava a higiene (banho) após o término do trabalho. O surgimento da primeira máquina a vapor em 1698, inventada pelo inglês Thomas Savery e aperfeiçoada pelo escocês James Watt, desencadeou a Revolução Industrial. Surgiram os ambientes fechados das fábricas, com péssimas condições de trabalho e o aparecimento das doenças das áreas fabris, como o Tifo Europeu (doença bacteriana transmitida por pulgas, piolhos e carrapatos). Em 1830, Dr. Robert Baker foi contratado para trabalhar em uma fábrica têxtil da Inglaterra, surgindo o primeiro Serviço de Medicina do Trabalho. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 15 O Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde (Brasília/DF – Brasil 2001) utiliza a classificação das doenças segundo a sua relação com trabalho, proposta por Schilling em 1984: Grupo I - Trabalho como causa necessária: as doenças profissionais legalmente reconhecidas e as intoxicações agudas de origem ocupacional. Grupo II - Trabalho como fator contributivo, mas não necessário: Nexo causal de natureza epidemiológica, como doenças do aparelho locomotor, câncer, doença coronariana. Grupo III - Trabalho como provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente: asma, dermatite de contato alérgica e distúrbios mentais. Os grupos II e III de Schilling são constituídos por doenças causadas por vários fatores de risco, sendo o trabalho apenas mais um dentro dessas etiologias múltiplas. O nexo causal é epidemiológico, pela observação da maior frequência da patologia em determinados grupos ocupacionais, quando comparado com a população em geral. O Decreto3.048, de 06 de maio de 1999, da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República, aprova o regulamento da Previdência Social e em seu anexo II estabelece os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho, conforme previsto no artigo 20 da Lei 8.213, de 1991. A Lista A correlaciona os agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional com doenças relacionadas com esses agentes, codificadas segundo o CID-10. Já a Lista B correlaciona as doenças com os agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional. Na Lista C, incluída pelo Decreto 6.597 de 2009, são indicados intervalos de CID-10 em que se reconhece Nexo Técnico Epidemiológico entre a entidade mórbida e as classes de CNAE indicadas. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 16 O Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP) foi regulamentado pelo Decreto 6.042/2007 e faz uma relação ou nexo entre as atividades econômicas (Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE) e os agravos descritos no Código Internacional de Doenças (CID-10). Essa relação foi elaborada observando-se os CID mais incidentes por atividade econômica. Mesmo que a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) não tenha sido emitida pela empresa que encaminhou o funcionário para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), para auxílio doença, o perito médico pode conceder um benefício acidentário com base no NTEP. Caso o empregador não concorde com a concessão do benefício em espécie acidentária, poderá interpor recurso com efeito suspensivo a Junta de Recursos da Previdência Social. I- Doenças Infecciosas e Parasitárias Relacionadas com o Trabalho (Grupo I da CID-10) Os agentes etiológicos são de doenças infecciosas não relacionadas ao trabalho, mas que podem ser consideradas do trabalho, caso este favoreça o contágio. O nexo causal pode ser difícil, em virtude do caráter endêmico dessas doenças. 1- Tuberculose (CID-10: A15 e A19) A tuberculose pode ser considerada doença do trabalho, quando as condições de trabalho favorecem a exposição por inalação do Mycobacterium tuberculosis ou ingestão do Mycobacterium bovis (Grupo II da Classificação de Schilling). Isso pode acontecer com trabalhadores de laboratórios de biologia, atividades que possibilitam contato direto com doentes bacilíferos ou com produtos contaminados. É reconhecida, também, a maior incidência de tuberculose em trabalhadores portadores de Silicose. Isso pode ser explicado pela depressão da função fagocitária dos macrófagos causada pelos cristais de sílica em seu interior e pelo aumento de sua destruição, favorecendo a reativação da infecção tuberculose latente (Grupo III da Classificação de Schilling – Trabalho como provocador de um distúrbio latente). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 17 A forma pulmonar é a mais comum, caracterizada por tosse que pode apresentar expectoração amarelada e com sangue (hemoptoicos), febre, dispneia, emagrecimento e sudorese geralmente vespertina ou noturna. A radiografia de tórax revela comprometimento em geral dos lobos superiores dos pulmões (cavitações, infiltrados reticulonodulares, adenopatias mediastinais e retração do parênquima pulmonar). 2- Carbúnculo ou Antraz (CID: 10 A22) Zoonose que se manifesta após exposição ao Bacillus anthracis na forma clínica: - cutânea (90% dos casos): surgimento de pústula necrótica escura. - pulmonar (doença dos cortadores de lã): pneumonia extensa causada pela aspiração de material contaminado. - gastrintestinal: ocorre pela ingestão de alimentos contaminados. Ocorre com uma frequência muito baixa em trabalhadores, especialmente pelo contato direto com lã de carneiro, couro, pele e ossos, na agricultura, laboratórios, atividades artesanais e industriais (Grupo I da Classificação de Schilling). Em trabalhadores de atividades agrícolas, também pode ocorrer pelo contato com outros animais, como porco, cavalo e gato. A prevenção é realizada por vacinação dos trabalhadores de indústrias com alto risco de contaminação e quimioprofilaxia após a exposição a aerossóis ou após a ingestão (Penicilina), orientação e facilitação da higiene dos trabalhadores, limpeza regular dos equipamentos de trabalho e das áreas de trabalho e utilização de equipamentos de proteção adequados (EPI). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 18 3- Brucelose (CID 10: A23) Zoonose que pode ser transmitida aos trabalhadores pelo contato com animais doentes ou tecidos de animais contaminados com a bactéria Brucella (melitensis, abortus, suis e canis) em abatedouros, frigoríficos, manipulação de carne e derivados, ordenha e fabricação de laticínios (Grupo I da Classificação de Schilling). Também pode ser causada pela ingestão de leite ou derivados lácteos contaminados ou acidente em laboratório. Caracterizada por síndrome febril, que pode assumir uma forma ondulante, surgindo daí a referência de "Febre Ondulante" para a doença. A infecção crônica pode levar a comprometimento de órgãos ou sistemas, causando artrites, endocardites, meningites etc. A prevenção da brucelose no homem depende da erradicação da doença nos animais e vacinação dos animais para estirpes da Brucella abortus e melitensis, cuidados com a higiene pessoal, com os utensílios de trabalho e pasteurizar ou ferver os produtos lácteos. 4- Leptospirose (CID 10: A27) Zoonose causada por uma espiroqueta do grupo Leptospiracea, sendo que a transmissão ocorre pelo contato com a água ou solo contaminado pela urina dos animais portadores (roedores principalmente, bovinos, ovinos e caprinos). Ocorre em trabalhadores que atuam dentro de minas, túneis, galerias, esgotos, cursos de água e contatos com roedores e animais domésticos (Grupo II da Classificação de Schilling). Caracteriza-se por casos assintomáticos, leves, simulando quadro gripal, ou graves, com icterícia e insuficiência renal aguda (IRA). A prevenção da doença dos trabalhadores é feita com orientação aos trabalhadores e uso de EPI adequados para atuação em áreas alagadas, esgotos, rios, lagoas, silos e armazéns. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 19 5- Tétano (CID 10: A35) Doença aguda e grave causada pela toxina do bacilo tetânico (Clostridium tetani). Há um aumento da tensão muscular pela inibição do arco reflexo da medula espinhal pela toxina tetânica. A exposição dos trabalhadores ocorre em acidentes de trabalho em que ocorrem lesões com solução de continuidade na pele (Grupo I da Classificação de Schilling). A prevenção é realizada por vacinação e/ou imunização ativa em caso de ferimentos, facilidade para a higiene pessoal e pelo uso de EPI. 6- Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de Aves (CID 10: A70) Doença infecciosa aguda causada por Chlamydia (psittaci e pneumoniae), que pode acometer trabalhadores de criadouros de aves, clínicas veterinárias, zoológicos e de laboratórios biológicos (Grupo I da Classificação de Schilling), pela aspiração da bactéria em fezes dessecadas, disseminadas com a poeira. O quadro clínico varia de casos subclínicos semelhantes a influenza, pneumonia atípica aguda e manifestações extrapulmonares. A prevenção é feita com orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, condições de trabalho adequadas e EPI. 7- Dengue (CID 10: A90) Doença aguda febril causada por um Flavivírus com quatro tipos sorológicos (1,2,3,4), sendo que a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes (aegypti, albopictus e scutellaris). Pode ser considerada relacionada com otrabalho em trabalhadores que exercem trabalhos de saúde pública e laboratórios de pesquisa (Grupo II da Classificação de Schilling). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 20 Caracteriza-se por um quadro clínico de febre alta, cefaleia, dores articulares e mialgias, podendo ser acompanhadas de sintomas gastrintestinais (vômitos e diarreia). Pode surgir exantema morbiliforme (manchas no corpo) no terceiro ou quarto dia e fenômenos hemorrágicos discretos (epistaches e petéquias). Pode ocorrer evolução grave com quadro hemorrágico, choque e óbito. A prevenção é realizada com orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, uso de repelentes e EPI. 8- Febre Amarela (CID 10: A95) Doença aguda febril causada por um Flavivírus da febre amarela, sendo que a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes (aegypti, albopictus e scutellaris) na febre amarela urbana e pela picada do Haemagogus na febre amarela silvestre. Pode ser considerada relacionada com o trabalho em trabalhadores que exercem trabalhos de saúde pública e laboratórios de pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, extração de madeira (Grupo I da Classificação de Schilling). Caracteriza-se por um quadro clínico que varia de quadros benignos até doença fulminante com disfunção de múltiplos órgãos e hemorragias. A prevenção é feita com orientação dos trabalhadores quanto a riscos, vacinação e EPI. 9- Hepatites Virais (CID 10: B15 e B19) Processo inflamatório do fígado, que pode ser agudo ou crônico, causado principalmente por vírus da hepatite A, da hepatite B, da hepatite C, da hepatite D e da hepatite E, mas que pode ser causado por outros agentes infecciosos e de outra natureza. Caracteriza-se por alterações degenerativas ou necróticas dos hepatócitos. Hepatite A - Transmissão fecal-oral (mãos sujas) ou por água e alimentos contaminados, sendo a fonte de infecção o próprio homem. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 21 Hepatite B - Transmissão por sangue, esperma e saliva, sendo que os trabalhadores da saúde são expostos ao vírus em acidentes com material perfurocortante ou respingos em mucosa (Grupo II da Classificação de Schilling). Hepatite C - Transmissão por sangue e fluidos com sangue, sendo que os trabalhadores da saúde são expostos ao vírus em acidentes com material perfurocortante ou respingos em mucosa (Grupo II da Classificação de Schilling). Hepatite D - atua em conjunto com a hepatite B, já que somente consegue se multiplicar com o auxílio desse vírus (Amazônia Ocidental). Hepatite E - forma de contágio semelhante à da hepatite A, sendo que em gestantes pode provocar formas mais graves, com chances de desencadear morte da mãe e/ou do bebê. A prevenção das Hepatites A e B é feita mediante vacinação de todos os indivíduos suscetíveis. Não existe vacina para hepatite C, sendo a prevenção feita com a orientação dos trabalhadores quanto aos riscos e recomendações para atendimento de exposição ocupacional a material biológico (vacinação e/ou imunoglobulina humana hiperimune). O mesmo procedimento deve ser realizado para trabalhadores não vacinados contra hepatite B, que se acidentam e são expostos a material biológico. 10- Doença pelo vírus da Imunodeficiência humana – HIV (CID 10: B20 e B24) Distúrbio da imunidade mediada por célula, causado por um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviridae), caracterizada por infecções oportunísticas, doenças malignas (como o sarcoma de Kaposi e o linfoma não Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade de outras síndromes. Os trabalhadores podem se O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 22 contaminar por acidentes de trabalho perfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado (Grupo I da Classificação de Schilling). Não existe vacina para o HIV, sendo a prevenção feita com a orientação dos trabalhadores quanto aos riscos e recomendações para atendimento de exposição ocupacional a material biológico (quimioprofilaxia). 11- Dermatofitose (CID 10: B35 e B36) Infecções micóticas (TINEA) que afetam a superfície epidérmica por fungos dermatófitos (gêneros Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton). Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato córneo da epiderme). Trabalhadores que exercem atividades em condições de temperatura elevada e umidade, como em cozinhas, ginásios, piscinas etc. (Grupo II da Classificação de Schilling) A prevenção é feita com orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, facilidades para a higiene pessoal e EPI. 12- Candidíase (CID 10: B37) Infecção provocada por fungo da classe Saccharomycetes leveduriformes do gênero Candida, sobretudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo contato com secreções da boca, da pele, da vagina e por contato com dejetos de portadores ou doentes. Trabalhadores que exercem atividades que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, como os de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com exposição ocupacional claramente caracterizada por meio de história O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 23 laborativa e de inspeção em ambiente de trabalho (Grupo II da Classificação de Schilling). A prevenção é feita com a orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, facilidades para a higiene pessoal e EPI. 13- Paracoccidioidomicose (CID 10: B41) Micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A infecção se dá por inalação de conídios em poeiras, em ambientes quentes e úmidos, com formação de foco primário pulmonar (assintomático) e posterior disseminação. Mais raramente, a porta de entrada pode ser a implantação traumática cutaneomucosa, como no hábito de mascar capim. Trabalhadores agrícolas ou florestais, em zonas endêmicas (Grupo II da Classificação de Schilling). A prevenção é feita com orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, facilidades para a higiene pessoal e EPI. 14- Malária (CID 10: B50 e B54) Doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium (vivax, malariae, falciparum, ovale). Febre alta acompanhada de calafrios, sudorese e cefaleia, que ocorre em padrões cíclicos, a depender da espécie do parasita infectante. A transmissão da doença é realizada por intermédio dos esporozoítas, formas infectantes do parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea do mosquito Anopheles. Trabalhadores que exercem atividades em mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que obrigam a presença dos trabalhadores em zonas endêmicas (Grupo II da Classificação de Schilling). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 24 Não existe vacina contra a Malária, sendo a prevenção feita com orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, uso de repelentes, quimioprofilaxia com antimaláricos quando indicado e EPI. 15- Leishmaniose Cutânea e Cutaneomucosa (CID 10: B55.1 e B55.2) Zoonose com duas formas clínicas em humanos: Leishmaniose cutânea (relativamente benigna): Caracterizada por uma ou mais lesões cutâneas, as quais podem ou não causarem dor, com aumento de volume dos linfonodos próximos à lesão. Leishmaniose cutaneomucosa (mais grave): É uma doença parasitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, transmitida pela picada de insetos flebotomíneos do gênero Lutzomia. Geralmente causada por disseminação hematogênica (pelo sangue) dos parasitaspara mucosas nasais, orofaringe, palato, lábios, língua, laringe e, excepcionalmente, traqueia e árvore respiratória superior. Trabalhadores agrícolas ou florestais, em zonas endêmicas e em outras situações específicas de exposição ocupacional, como, por exemplo, em laboratórios de pesquisa e análises clínicas (Grupo II da Classificação de Schilling). Não existe vacina contra a Leishmaniose, sendo a prevenção feita com a orientação dos trabalhadores quanto aos riscos, uso de repelentes e EPI. II- Neoplasias (tumores) Relacionadas com o Trabalho (Grupo II da CID- 10) 1- Neoplasia maligna do estômago (C16) Os adenocarcinomas são as neoplasias malignas do estômago mais frequentes (90 a 95% dos casos), seguido pelos leiomiossarcomas e linfomas (5 a 10%). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 25 A neoplasia maligna ou câncer do estômago relacionado com o trabalho está relacionado com a exposição ao asbesto, fibra do amianto. As rochas serpentinas possuem as fibras crisotila, ou "amianto branco" que é minerado no Brasil no Estado de Goiás (município de Minaçu). O segundo grupo é da variedade anfibólio, que é proibida no Brasil e na maioria dos países (INCA, 2016). Todas as variedades de amianto são cancerígenas. O amianto, pelo seu uso polivalente, foi amplamente utilizado manufatura de artefatos de cimento-amianto para construção civil (telhas, caixas d'água, tubulações, pisos), isolamento acústico e térmico, em lonas e pastilhas de freios, isolamento, vedação, material antichama, tintas e várias outras indústrias. A principal via de exposição ambiental é a inalação de fibras, seguida pela ingestão. O amianto foi classificado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC) como A1 – reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos. 2- Angiossarcoma do fígado (C22.3) O Hepatoma (carcinoma de células parenquimatosas) é o tumor primário maligno mais frequente do fígado (cerca de 85 a 90%), seguido pelos colangiocarninomas (câncer de ductos biliares e hepático) com cerca de 10 a 15% dos casos. Os angiossarcomas de fígado são raros. - Cloreto de Vinila: a exposição ocupacional ao monômero do cloreto de vinila (gás produzido pela cloração do etileno), substância volátil utilizada na polimerização que resulta no Policloreto de Polivinila (PVC), aumenta o risco da ocorrência do angiossarcoma de fígado. Classificado pela IARC como A1 – reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos. A inalação pelos trabalhadores do monômero cloreto de vinila (VC) também foi associado com o surgimento de acrosteólise ou osteólise das falanges distais, fenômeno de Raynaud, caracterizado por crises de palidez dos dedos, seguida de cianose e eritema, nódulos na superfície dorsal das mãos, semelhante ao escleroderma e redução de plaquetas (trombocitopenia), que pode preceder toda a sintomatologia. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 26 - Arsênio e seus compostos arsenicais: Dividido em compostos orgânicos e inorgânicos, sendo os últimos mais tóxicos. Apresentam-se como pó branco, sem sabor, o que facilita o envenenamento por via oral. A inalação de arsênio inorgânico aumenta o risco de câncer de pulmão. A ingestão de arsênio inorgânico por períodos prolongados pode provocar o surgimento de lesões verrucosas na planta dos pés e na palma das mãos, que podem evoluir para câncer de pele. A exposição ocupacional está relacionada com o desenvolvimento do angiossarcoma de fígado. - Bifenilas Policloradas (PCB): Trabalhadores expostos a PCB durante a fabricação de capacitores elétricos apresentaram um maior incidência de câncer de fígado. 3- Neoplasia maligna do pâncreas (C.25) Os tipos histológicos mais comuns, relacionados com o trabalho, são os que têm origem no pâncreas exócrino (adenocarcinomas), mais comuns na cabeça do pâncreas, seguido pelo corpo e menos comum na cauda. São considerados fatores de risco de natureza ocupacional para neoplasia maligna de pâncreas a exposição a cloreto de vinila, epicloridrina ou propileno (usado como combustível industrial, na produção de polipropileno, glicerina sintética e resinas epóxicas) e hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos na indústria do petróleo. 4- Neoplasia maligna da cavidade nasal e dos seios paranasais (C30-C31) A maioria dos tumores dessa região tem origem em mucosa, sendo carcinomas de células escamosas, principalmente nos seios maxilares. As principais causas ocupacionais são a exposição à radiação ionizante, cromo, poeiras de madeira, poeiras da indústria do couro, poeiras orgânicas da indústria têxtil e em padarias (Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária). O processo de purificação do níquel leva à formação de um gás chamado de carbonato de níquel que aumenta o risco de câncer de fossas nasais e pulmão. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 27 5- Neoplasia maligna da laringe (C.32) - Asbesto ou amianto: a principal via de exposição ambiental é a inalação de fibras, seguida pela ingestão. O amianto foi classificado pela IARC como A1 – reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos. O tipo histológico mais comum é o carcinoma. 6- Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C.34) - Radiações ionizantes: os trabalhadores em minas expostos ao radônio apresentam maior incidência de câncer de pulmão, sendo esse um dos principais efeitos da exposição a altas doses de radiação ionizante, que pode ocorrer em trabalhadores da indústria, ambientes hospitalares e laboratórios. O radônio é um gás natural que tende a se concentrar em ambientes fechados como minas subterrâneas e quando inalado deposita-se no trato respiratório e está associado ao câncer de pulmão. - Arsênio e seus compostos arsenicais: metaloide ou semimetal (apresenta algumas, mas não todas as propriedades físicas dos metais) que se divide em compostos orgânicos e inorgânicos, sendo os últimos mais tóxicos. Apresenta-se como pó branco, sem sabor, o que facilita o envenenamento por via oral. A inalação de vapores arsenicais de arsênio inorgânico, principalmente nas fundições de cobre, zinco e chumbo, aumenta o risco de câncer de pulmão, com período de latência de 15 a 30 anos. - Asbesto ou Amianto: a exposição ocupacional no Brasil ocorre atualmente para a variedade crisotila, principalmente pela via respiratória (inalação das fibras) ou pela via digestiva (ingestão das fibras). O tipo histológico mais comum de câncer de pulmão para essa exposição é o adenocarcionoma, com período de latência médio de 20 anos, localizando-se nos lobos inferiores e em áreas periféricas do pulmão. - Berílio: metal leve e de alta resistência à força de tensão, sendo muito utilizado em ligas metálicas, principalmente com cobre. A inalação de fumos de berílio causa pneumoconiose fibrogênica, resultante de reação imunológica ao berílio inalado, de O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 28 prognóstico reservado. Considerado fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. - Cádmio: utilizado em galvanoplastia, varetas de soldagem, baterias de níquel- cádmio, pigmentos de tintas, pirotecnia, ligas metálicas. Meia-vida longa no organismo, 7 a 30 anos. Liga-se a metalotioneínas (proteínas de baixo peso molecular) no fígado e é transportado para os rins onde causa toxicidade e distúrbio no metabolismo do cálcio. - Cromo: utilizado no processo de galvanoplastia (cromeação), ligas metálicas com ferro e níquel para formar o aço inoxidável e ligas especiais com outros metais, fabricação de pigmentos, soldadores de aço inox, produção eprocessamento de cromatos (corantes). Há um aumento da incidência de câncer de pulmão em trabalhadores que manipulam o cromo (principalmente cromo hexavalente), especialmente em trabalhadores da manufatura de dicromato a partir da cromita e da indústria do pigmento de tintas. Período de latência média de 24 anos. - Níquel: muito utilizado em ligas, sendo o aço inoxidável (cromo, ferro e níquel) a liga simples mais utilizada. O processo de purificação do níquel leva à formação de um gás chamado de carbonato de níquel que aumenta o risco de câncer de pulmão e fossas nasais. A exposição ocupacional ocorre em indústrias de galvanoplastias, indústria petroquímica e indústria da borracha. - Cloreto de vinila: a exposição ocupacional ao monômero do cloreto de vinila (gás produzido pela cloração do etileno), substância volátil utilizada na polimerização que resulta no Policloreto de Polivinila (PVC), aumenta o risco da ocorrência do angiossarcoma de fígado. Classificado pela IARC como A1 – reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos. Também foi associado com a ocorrência de câncer de pulmão. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 29 - Clorometil éteres: líquidos altamente voláteis, sendo que a forma bis-clorometil-éter é considerada mais cancerígena para o pulmão. Utilizado na produção de resinas de trocas iônicas, para tratamentos em indústria têxtil, na fabricação de pesticidas, de polímeros, de bactericidas, de agentes dispersantes, de substâncias protetoras contra o fogo e como solventes em reações de polimerização. O tipo histológico mais relacionado com essa exposição ocupacional é o de pequena célula (oat cell carcinoma). - Alcatrão, breu, betume, hulha mineral, parafina: a hulha é um carvão mineral (carvão natural), também chamada de carvão de pedra, resultante da fossilização da madeira, rico em carbono (80% de sua composição). Quando aquecida na ausência de oxigênio, a cerca de 1.000˚ C (pirólise), dá origem ao gás de hulha (gás de iluminação), águas amoniacais (fertilizantes agrícolas), alcatrão da hulha (mistura de hidrocarbonetos aromáticos – benzeno, tolueno, xileno, fenol, naftaleno, cresóis, antraceno, fenantreno, piche) e carvão coque (obtenção do aço e ferro em indústrias siderúrgicas). A hulha foi a principal fonte de hidrocarbonetos aromáticos, sendo substituída pelo petróleo a partir do século XX. O piche é um resíduo do processo de pirólise, sendo um dos componentes do asfalto. Há um risco aumentado de câncer de pulmão nos metalúrgicos do setor de refinaria de carvão (fornos de destilaria), trabalhadores expostos a asfalto e piche, e trabalhadores expostos ao alcatrão da fundição do alumínio. Esse tipo de exposição a hidrocarbonetos policíclicos aromáticos também é associado a cânceres de pele e trato urinário. O piche derivado do petróleo é considerado menos cancerígeno do que o derivado do carvão mineral. - Neblinas de óleos minerais: os óleos de corte ou os solúveis são os mais relacionados com cânceres de pulmão e pele, pois contém nitrosaminas, que são potentes cancerígenos. - Acrilonitrila: há risco aumentado de câncer de pulmão em indivíduos que trabalhavam na polimerização do monômero de acrilonitrila em fábricas de fibras têxteis, sendo o período de latência de 20 anos. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 30 7- Neoplasias malignas dos ossos e cartilagens articulares dos membros (C.40). Inclui Sarcoma Ósseo - Radiações ionizantes: Radiações ionizantes não naturais são encontradas na indústria nuclear e na área de saúde. O desenvolvimento de câncer depende da dose e da duração da exposição, sendo os tecidos mais sensíveis à radiação ionizante: medula óssea, tireoide, mamário e ósseo. O período de latência para as leucemias é de 2 a 5 anos e o para os tumores sólidos é de 5 a 10 anos. 8- Outras neoplasias malignas da pele (C.44) - Arsênio e seus compostos arsenicais: A inalação de arsênio inorgânico aumenta o risco de câncer de pulmão. A ingestão de arsênio inorgânico por períodos prolongados pode provocar o surgimento de lesões verrucosas na planta dos pés e na palma das mãos, que podem evoluir para câncer de pele. - Alcatrão, breu, betume, hulha mineral, parafina: Há um risco aumentado de câncer de pulmão nos metalúrgicos do setor de refinaria de carvão (fornos de destilaria), trabalhadores expostos a asfalto e piche, e trabalhadores expostos ao alcatrão da fundição do alumínio. Esse tipo de exposição a hidrocarbonetos policíclicos aromáticos também são associados a cânceres de pele e trato urinário. - Radiações ionizantes: Radiações ionizantes não naturais são encontradas na indústria nuclear e na área de saúde. O desenvolvimento de câncer depende da dose e da duração da exposição, sendo os tecidos mais sensíveis à radiação ionizante: medula óssea, tireoide, mamário e ósseo. O câncer de pele também tem maior incidência em trabalhadores expostos à radiação ionizante. - Radiações ultravioleta: É apontada como a causa mais comum de câncer ocupacional, sendo que os trabalhadores mais suscetíveis ao câncer de pele são os que trabalham em ambientes externos, como os trabalhadores da agricultura e construção civil. Tem O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 31 também uma maior incidência de câncer de pele, os soldadores, pela exposição à radiação ultravioleta emitida na soldagem. 9- Mesotelioma (C.45) - Asbesto ou amianto: A exposição ocupacional no Brasil ocorre atualmente para a variedade crisotila, principalmente pela via respiratória (inalação das fibras) ou pela via digestiva (ingestão das fibras). A inalação de fibras de asbesto causa uma reação inflamatória que tem como consequência uma fibrose pulmonar, sendo que a sintomatologia (dispneia) somente surge após 20 anos de exposição. O principal câncer causado pela exposição à fibra do asbesto é o de pulmão. No entanto, existe um câncer muito raro, com uma altíssima correlação com a exposição ao asbesto, que é o mesotelioma maligno. Esse câncer tem origem no mesotélio, o tecido da membrana que reveste os pulmões (pleura), da membrana que reveste o coração (pericárdio) e da membrana que reveste a cavidade peritoneal do abdome (peritônio). O mesotelioma mais comum é o da pleura. 10- Neoplasia maligna da bexiga (C.67) - Alcatrão, breu, betume, hulha mineral, parafina: Há um risco aumentado de câncer de bexiga nos metalúrgicos do setor de refinaria de carvão (fornos de destilaria), trabalhadores expostos a asfalto e piche, e trabalhadores expostos ao alcatrão da fundição do alumínio, em virtude exposição a hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. - Aminas aromáticas: Como a benzidina, beta-naftilamina, 2-cloroanilina, o-toluidina, 4-cloro-orto-toluidina, utilizadas como intermediárias na produção de corantes e pigmentos, ou mesmo como pigmentos. São também usadas como intermediárias nas indústrias farmacêutica, química, têxtil e fotográfica, na fabricação de borracha e em produtos cosméticos. - Emissões de fornos de coque: A hulha é um carvão mineral (carvão natural), também chamada de carvão de pedra, resultante da fossilização da madeira, rico em carbono (80% de sua composição). Quando aquecida na ausência de oxigênio, a cerca de 1.000 O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 32 ˚C (pirólise), dá origem ao gás de hulha (gás de iluminação), águas amoniacais (fertilizantes agrícolas), alcatrão da hulha (mistura de hidrocarbonetos aromáticos – benzeno, tolueno, xileno, fenol, naftaleno, cresóis, antraceno, fenantreno, piche) e carvão coque (obtenção do aço e ferro em indústrias siderúrgicas).O coque é utilizado em um alto-forno como redutor, na redução do minério de ferro a ferro metálico. 11- Leucemias (C91-C95) - Benzeno: a intoxicação crônica ao benzeno pode causar as seguintes alterações na medula óssea: depressão das células progenitoras (Stem cells), lesão direta do tecido e formação de células primitivas alteradas por danos cromossomiais. A medula óssea é responsável pela produção das células do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). A alteração mais precoce detectada no sangue, por uma intoxicação benzênica, é a leucopenia (redução de glóbulos brancos), mas a anemia (redução de glóbulos vermelhos) e trombocitopenia (redução de plaquetas) também podem ocorrer associadas à neutropenia, eosinofilia, linfocitopenia, macrocitose e pontilhado basófilo. A redução global das células do sangue é chamada de pancitopenia. Existe correlação entre a exposição ao benzeno e a ocorrência de leucemia, sendo mais comum a leucemia mieloide aguda. Os sinais e sintomas mais comuns da intoxicação ao benzeno são astenia, sonolência, tontura e infecções de repetição. No Brasil, foi criado o valor de referência tecnológico (VRT-MPT), a partir da celebração do Acordo Nacional do Benzeno (Portaria 14, de 1995 do Ministério do Trabalho e do Emprego), sendo de 2,5 ppm para as indústrias siderúrgicas e de 1 ppm para as indústrias de petróleo, química e petroquímica. Não há dose segura para exposição ao benzeno, sendo leucemogênico mesmo em doses inferiores a 1 ppm. - Radiações ionizantes: Radiações ionizantes não naturais são encontradas na indústria nuclear e na área de saúde. O desenvolvimento de câncer depende da dose e da duração da exposição, sendo os tecidos mais sensíveis à radiação ionizante: medula O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 33 óssea, tireoide, mamário e ósseo. O período de latência para as leucemias é de 2 a 5 anos e o para os tumores sólidos é de 5 a 10 anos. - Óxido de etileno: utilizado como agente para esterilizar material médico-cirúrgico, é um gás que é solúvel em água. A exposição ocupacional ocorre por contato cutâneo e pela inalação (via respiratória), com via média curta (78% são eliminados em 48 horas). Há correlação entre a exposição crônica ao gás e o desenvolvimento de leucemia. A American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH), dos Estados Unidos, estabeleceu em 1984 o TLV (limite de exposição para uma jornada laboral de 40 horas) em 1 ppm. - Agentes antineoplásicos: há correlação do uso de agentes antineoplásicos e o surgimento de neoplasias secundárias. Agentes alquilantes, inibidores de topoisomerase II e compostos da platina podem induzir leucemias agudas. Agentes alquilantes melfalana e ciciclofosfamida (mostardas nitrogenadas) estão relacionadas com o desenvolvimento de Síndrome Mielodisplásica Secundária à Quimioterapia (SMD-t), que pode evoluir para leucemia mieloide aguda (Ferdinandi, Ferreira, 2005). - Campos eletromagnéticos: Em 2002, a IARC publicou uma monografia classificando campos magnéticos de frequência extremamente baixa (ELF na sigla em inglês) como “possível carcinogênico” para humanos. Essa classificação foi baseada em análise de dados agregados de estudos epidemiológicos demonstrando um padrão consistente de incremento de duas vezes na leucemia infantil associado a uma exposição média residencial, a campos magnéticos de frequência de potência, acima de 0,3 a 0,4 microtesla (μT). Sob linhas de transmissão campos magnéticos podem ser da ordem de 20 μT, mas os campos magnéticos médios nas casas, na frequencia de potência, são muito mais baixos, cerca de 0,07 μT na Europa e 0,11 μT na América do Norte (World Health Organization, 2007). - Agrotóxicos clorados (Clordane e Heptaclor): Possuem ação residual em virtude de sua estabilidade química, que lhes confere prolongada persistência no ambiente. São muito lipossolúveis e se acumulam na gordura dos organismos, percorrendo facilmente O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 34 a cadeia alimentar. A exposição ocupacional ocorre pela via respiratória, cutânea e digestiva (alimentos contaminados, principalmente os que possuem alto teor de gordura). O Brasil proibiu a comercialização dos organoclorados Aldrin, BHC, Canfenoclorado (Toxafeno), DDT, Dodecacloro, Endrin, Heptacloro, Lindani, Endosulfan, Metoxicloro, Nonacloro, Pentaclorofenol, Dicofol e Clorobenzilato em 02 de setembro de 1985, com exceção de iscas formicidas à base de Aldrin e Dodecacloro e cupinicidas à base de Aldrin. Clordane e Hepaclor são correlacionados com índices elevados de discrasias sanguíneas, incluindo leucemias. III- Doenças do Sangue e dos Órgãos Hematopoiéticos Relacionadas com o Trabalho (Grupo III da CID-10) 1- Síndromes Mielodisplásicas (D.46) As Síndromes Mielodisplásicas (SMD) se caracterizam por um defeito clonal nas células progenitoras hematopoiéticas, causando citopenia de uma ou mais linhagens (anemia, leucopenia, trombocitopenia) e displasia em uma ou mais linhagens mieloides. Há risco de evolução para leucemia mieloide aguda. Podem ser causadas pela exposição ocupacional ao benzeno e às radiações ionizantes. 2- Outras anemias devidas a transtornos enzimáticos (D55.8) De acordo com a OMS, anemia é a redução da concentração de hemoglobina circulante menor que 13 g/dL nos homens e menor que 12 g/dL nas mulheres. - Chumbo ou seus derivados tóxicos: A exposição ocupacional ao chumbo pode causar anemia por interferência enzimática (ALA –desidratase, heme-sintetase e coproporfirinogenase) e por causar hemólise (Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 35 3- Anemia Hemolítica adquirida (D59.2) Não há alteração nas células progenitoras da medula óssea, e sim uma redução da vida média das hemácias, que é de cerca de 120 dias, por causa do aumento de sua destruição. Pode ser hereditária e adquirida. - Derivados nitrados e aminados do benzeno: são tóxicos que, em uma exposição ocupacional, podem causar destruição das hemácias (Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária). 4- Anemia Aplástica devida a outros agentes externos (D61.2) Consiste na redução acentuada de células eritroides, mieloides e magacariocíticas da medula óssea, e consequente pancitopenia. - Benzeno: a intoxicação crônica ao benzeno pode causar as seguintes alterações na medula óssea: depressão das células progenitoras (stem-cells), lesão direta do tecido e formação de células primitivas alteradas por danos cromossomiais. A medula óssea é responsável pela produção das células do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). A alteração mais precoce detectada no sangue, por uma intoxicação benzênica, é a leucopenia (redução de glóbulos brancos), mas a anemia (redução de glóbulos vermelhos) e trombocitopenia (redução de plaquetas) também podem ocorrer associadas à neutropenia, eosinofilia, linfocitopenia, macrocitose e pontilhado basófilo. A redução global das células do sangue é chamada de pancitopenia. - Radiações ionizantes: Radiações ionizantes não naturais são encontradas na indústria nuclear e na área de saúde. O desenvolvimento de câncer depende da dose e da duração da exposição, sendo os tecidos mais sensíveis à radiação ionizante: medula óssea, tireoide, mamário e ósseo. O comprometimento da medula óssea pode se manifestar como leucopenia, anemia e trombocitopenia. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 36 Também pode ocorrer, mas com menor frequência,em trabalhadores expostos a compostos arsenicais, óxido de etileno, 2-etoxietanol, 2-netoxietanol, TNT, pentaclorofenol (pó da China) e hexaclorociclohexano (lindano ou BHC). Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária. 5- Anemia sideroblástica secundária a toxinas (inclui "Anemia Hipocrômica, Microcítica com Reticulose") (D64.2) - Chumbo e seus compostos tóxicos: a redução na hemoglobina na intoxicação pelo chumbo é detectada a partir de valores de 50 µg/dL de chumbo sanguíneo. A exposição ocupacional ao chumbo pode causar anemia por interferência enzimática (ALA-desidratase, heme-sintetase e coproporfirinogenase) e por causar hemólise (Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária). Na intoxicação pelo chumbo, o tecido hematopoiético (medula óssea) é comprometido, inibindo vários passos metabólicos da via do heme. Ocorre uma anemia microcítica e hipocrômica com presença característica de ponteados basófilos, sendo que os reticulócitos podem estar discretamente aumentados, com níveis de ferro sérico normais. 6- Púrpura e outras manifestações hemorrágicas (D69) Manchas na pele devidas a hemorragia são chamadas de púrpura e podem ser causadas por trombocitopenia (redução de plaquetas no sangue). Essas manchas são chamadas de petéquias, quando são puntiformes, de sufusões, quando tem até 3 cm, e de equimoses quando maiores de 3 cm. A exposição ocupacional ao benzeno e às radiações ionizantes causando Síndromes Mielodisplásicas e pancitopenia, pode se manifestar como Púrpura, em virtude da trombocitopenia. 6- Agranulocitose ou Neutropenia tóxica (D70) Redução do número de granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) no sangue periférico, com o aumento do risco de infecções. As lesões de medula óssea causadas pelo benzeno e as radiações ionizantes, destacam-se entre os agentes ocupacionais. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 37 7- Leucocitose, Reação Leucemoide (D72.8) O aumento de leucócitos no sangue periférico acima de 10.000/mm3 é denominado leucocitose, o surgimento de mais de 600 bastões por mm3 ou de um metamielócito, ou mais, de desvio a esquerda. Ocorre geralmente em resposta a infecções bacterianas. Um desvio a esquerda com aparecimento de mielócito é chamado de Reação Leucemoide, e pode ser um sinal precoce de efeito leucemogênico da exposição ao benzeno e às radiações ionizantes. 8- Metahemoglobinemia (D74) A meta-hemoglobina é formada pela oxidação do átomo de ferro da forma ferrosa (Fe2+) à forma férrica (Fe3+), tornando a molécula incapaz de ligar-se ao oxigênio. A sua presença no sangue em valor superior a 1% é chamada de Meta- hemoglobinemia. Aminas aromáticas são substâncias derivadas de hidrocarbonetos aromáticos pela substituição de um átomo de hidrogênio por um grupo amino (-NH2). Exposição a: anilina; dimetilanilina; dietilanilina; cloroanilina; nitroanilina; nitrobenzeno; toluidina; clorotoluidina; fenilenodiamina; acetanilina; benzidina; o- toluidina; o-dianisidina; 3,3-diclorobenzidina; naftilaminas; 4-aminodi-fenilo; aminoantracenos (Grupo I da Classificação de Schilling – trabalho como causa necessária). IV- Doenças Endócrinas, Nutricionais e Metabólicas Relacionadas com o Trabalho (Grupo IV da CID-10) 1- Hipotireoidismo decorrente de substâncias exógenas (E03) - Chumbo ou seus compostos tóxicos: Estudos indicam que o chumbo pode causar danos na função da tireoide pelo impedimento da entrada de iodo, provavelmente por interferência no eixo hipotálamo-pituitária-tireoide (Moreira, Moreira, 2004). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 38 - Hidrocarbonetos halogenados (clorobenzeno e seus derivados): O hexaclorobenzeno foi utilizado com fungicida, intermediário na fabricação de corantes, matéria-prima da borracha e síntese de substâncias químicas. Considerado um disruptor endócrino. 2- Outras Porfirias (E.80.2) - Clorobenzeno e seus derivados: A Porfiria ocorre por um aumento de precursores do grupo heme, chamados de porfirias, levando a uma coloração avermelhada das fezes, pigmentação e ulceração da pele, artrites, comprometimento hepático e do sistema nervoso. O hexaclorobenzeno interfere na síntese do heme, porção da molécula de hemoglobina que transporta oxigênio, causando um aumento das porfirias no sangue (FIT, 2015). V- Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da CID-10) 1- Demência e outras doenças específicas classificadas em outros locais (F02.8) Deficiência das funções corticais superiores, comprometendo a memória, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento. A consciência não é afetada, mas pode ocorrer perda de controle emocional e da conduta social. - Manganês: os trabalhadores que podem ser expostos ao manganês são os da mineração, siderurgia, fabricação de ligas de manganês, fabricação de pilhas secas e soldas. Fungicidas à base de maneb ou manconzebe (etileno bis-ditiocarbamato de manganês) podem causar toxicidade pelo manganês. O SNC é o órgão-alvo, principalmente gânglios basais. A exposição crônica ao manganês desencadeia inicialmente um distúrbio psíquico (agitação, risos ou choro incontroláveis) e mais tarde pode desencadear distúrbios extrapiramidais do movimento, um quadro clínico semelhante à Doença de Parkinson (tremor simétrico, distúrbios na fala e no equilíbrio, dificuldade para caminhar e demência). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 39 - Sulfeto de carbono: utilizado na indústria do Raiom e da Viscose, solvente volátil, utilizado na síntese química da borracha. Exposição a altos níveis em curto prazo podem causar desde alterações de humor até delirium e psicose. A exposição crônica pode causar sintomas semelhantes ao Parkinson, neurite ótica, neuropatia periférica e ateroesclerose (Olson, 6 ed.). - Substâncias asfixiantes – CO, H2S etc. (sequelas): exposição crônica a asfixiantes pode levar a sofrimento dos neurônios cerebrais e consequente quadro de demência que se caracteriza por alterações das funções corticais superiores, como memória, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, capacidade de aprendizagem, linguagem, julgamento (Antero de Camargo, 2005). 2- Delirium, não sobreposto a demência, como descrita (F05.0) Rebaixamento do nível de consciência, distúrbio da orientação no tempo e no espaço, distúrbio de atenção e comprometimento das funções cognitivas, podendo ocorrer irritabilidade, alucinações, alterações do pensamento (delírio) e comportamentais (medo e agitação). - Brometo de metila: exposição ocupacional em fumigação para controle de insetos, fungos e ratos em alimentos estocados, laboratórios químicos, aplicação de herbicidas. Exposição por via respiratória e pele, podendo causar confusão mental, perturbações nervosas e convulsões (Antero de Camargo, 2005). - Sulfeto de carbono: utilizado na indústria do Raiom e da Viscose, solvente volátil, utilizado na síntese química da borracha. Exposição a altos níveis em curto prazo podem causar desde alterações de humor até delirium e psicose. A exposição crônica pode causar sintomas semelhantes ao Parkinson, neurite ótica, neuropatia periférica e ateroesclerose (Olson, 6 ed.). O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 40 3- Transtorno Cognitivo Leve (F06.7) Caracterizado por dificuldade de aprendizagem, cansaço mental e dificuldade de concentração em tarefas prolongadas e por alterações da memória. Pode ser encontrado como sintomas iniciais de vários agentes que causam alteraçãodas funções corticais superiores, como tolueno, chumbo, tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano, brometo de metila, manganês, mercúrio e sulfeto de carbono. 4- Transtorno Orgânico da Personalidade (F07) Alteração do comportamento ou da personalidade (emoções, necessidades e impulsos), que pode ser encontrado como transtorno concomitante ou residual de vários agentes que causam alteração das funções corticais superiores, como tolueno, tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano, brometo de metila, manganês, mercúrio e sulfeto de carbono. 5- Transtorno Mental Orgânico ou Sintomático Não Especificado (F09) Transtornos mentais agrupados por terem uma doença cerebral de etiologia demonstrável (uma lesão cerebral ou um dano). Pode ocorrer na exposição ocupacional aos seguintes agentes: tolueno, tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano, brometo de metila, manganês, mercúrio e sulfeto de carbono. 6- Alcoolismo crônico (Relacionado com o Trabalho) (F10.2) Alcoolismo é um modo crônico e descontinuado de usar bebidas alcoólicas, com episódios frequentes de intoxicação. Considerada uma doença crônica, foi considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um dos problemas relacionados com o trabalho. Caracteriza-se por ingestão contínua e periódica de álcool sem o reconhecimento do problema pelo usuário (negação). - Problemas relacionados com o emprego e o desemprego; - Circunstância relativa às condições de trabalho: ocupações socialmente desprestigiadas (contato com cadáveres, lixo ou dejetos em geral), trabalho perigoso O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 41 (transporte coletivo, bancos, construção civil), atividade mental intensa (bancos e repartições públicas), trabalho monótono, trabalhos isolados (vigias), viajantes ou trabalhadores que ficam afastados do lar (plataformas, mineração). 7- Episódios Depressivos (F32) Perda do prazer e do interesse nas atividades do dia a dia e tristeza, dificuldade de concentração, pessimismo, perda da autoconfiança e ideias suicidas, variando de leve a moderado e grave, sendo que no pior estágio surgem sintomas psicóticos. Pode ocorrer na exposição ocupacional aos seguintes agentes: tolueno, tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano, brometo de metila, manganês, mercúrio e sulfeto de carbono. 8- Estado de Estresse Pós-traumático (F43.1) Resposta tardia a um evento ou situação estressante que foi extremamente ameaçadora e que, certamente, causaria angústia extrema em quem presenciasse. - Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho: reação após acidente de trabalho grave ou catastrófico, ou após assalto no trabalho: testemunho de morte violenta, testemunho de crime etc; - Circunstância relativa às condições de trabalho: relacionada com trabalhos perigosos que envolvem responsabilidade com vidas humanas, com risco de grandes acidentes, como o trabalho nos sistemas de transporte ferroviário, metroviário e aéreo, o trabalho dos bombeiros etc. 9- Neurastenia (Inclui "Síndrome de Fadiga") (F48.0) Caracterizada pela presença de fadiga constante, desde o acordar até o dormir, física e mentalmente. Queixas de dificuldade com o sono, irritabilidade e desânimo. Sintomas como cefaleia, mialgias e mal-estar geral. Pode ocorrer na exposição ocupacional aos seguintes agentes: tolueno, tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano, brometo de metila, manganês, mercúrio e sulfeto de carbono. O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 42 10- "Neurose profissional" (F48.8) É definida por Aubert (1993) como “uma afecção psicógena persistente, na qual os sintomas são expressão simbólica de um conflito psíquico cujo desenvolvimento encontra-se vinculado a uma determinada situação organizacional ou profissional”. Os sintomas apresentados são inespecíficos: cansaço, desinteresse, irritabilidade, alterações do sono (insônia ou sonolência excessiva) etc. - Problemas relacionados com o emprego e o desemprego; - Desemprego; - Mudança de emprego; - Ameaça de perda de emprego; - Ritmo de trabalho penoso; - Desacordo com patrão e colegas de trabalho (condições difíceis de trabalho); - Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho. 11- Transtorno do Ciclo Vigília-Sono por Fatores Não Orgânicos (F51.2) Alteração do ciclo vigília-sono do indivíduo causada por trabalhos noturnos ou alternados entre noturnos e diurnos. Os trabalhadores podem apresentar sonolência excessiva durante a vigília, dificuldade para adormecer e interrupções frequentes do sono. - Problemas relacionados com o emprego e o desemprego: Má adaptação à organização do horário de trabalho (trabalhos em turnos ou trabalho noturno); - Circunstâncias relativas às condições de trabalho (Y96) 12- Sensação de estar acabado ("Síndrome de Burn-out". "Síndrome do Esgotamento Profissional") (Z73.0) O trabalhador que antes era envolvido com o seu trabalho, seus clientes, seus pacientes, em virtude de estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho, entra em um estado de exaustão emocional, desinteressando-se do público que O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 43 deveria receber os seus serviços (despersonalização) e reduzindo o envolvimento pessoal. O trabalhador passa a ter atitudes e condutas negativas que vão prejudicá-lo e também a empresa. - Ritmo de trabalho penoso; - Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho. VI- Doenças do sistema nervoso relacionadas com o trabalho (Grupo VI da CID-10) 1- Ataxia Cerebelar (G11.1) Exposição ocupacional a produtos químicos, como o mercúrio, pode acarretar ataxia (falta de coordenação dos movimentos voluntários do corpo) e tremores semelhantes ao que ocorrem em doenças degenerativas do cerebelo. A Ataxia Cerebelar é caracterizada por uma fala com pausas depois de cada sílaba e lentificação da voz (fala escandida, ou como se estivesse digitando), marcha descoordenada, desequilíbrio, tremores de ação (ocorre quando existe contração voluntária dos músculos) e eretismo psíquico (irritabilidade excessiva associada a extrema timidez e depressão). Essas alterações neurológicas foram descritas nos chapeleiros, que sofriam exposição crônica ao mercúrio, empregado para tratar o feltro e o tecido na manufatura dos chapéus (New Jersey, EUA, 1860). Conhecida como Tremor dos Chapeleiros, que em virtude das alterações de fala, marcha e eretismo psíquico, eram chamados de Chapeleiros Malucos pela população. Serviu de inspiração para o personagem do Chapeleiro de Alice no País das Maravilhas (1865). Existe ainda hoje uma expressão popular em inglês, "mad as hatter", que significa "louco como um chapeleiro" (Toxicologia, 2016). - Mercúrio e seus compostos tóxicos: Dois grupos toxicológicos principais, compostos inorgânicos (elementar, monovalente e bivalente) e compostos orgânicos (monometil mercúrio e cloreto de etilmercúrio). É clássica a descrição da contaminação ambiental O AMBIENTE E AS DOENÇAS DE TRABALHO 44 da Baía de Minamata, no Japão, com compostos orgânicos do mercúrio (metil e etilmercúrio), causando o que foi denominado "Mal de Minamata". As mães que ingeriam peixes da baía, contaminados com mercúrio, se contaminavam, e as que estavam grávidas tinham os seus fetos afetados pelo mercúrio, causando o nascimento de crianças com deficiências neurológicas (sistema nervoso central e periférico). A exposição ocupacional ocorre na extração do ouro (garimpo), na produção de ligas metálicas, na metalurgia e na indústria química.
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