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1  
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS 
 Marcella Ferreira e Silva 
Zulmira Rosa de Sousa Silva Duque 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2014 
 
2  
  
O AMBIENTE E AS DOENÇAS LABORAIS 
Há muito tempo se sabe que o trabalho, quando executado sob determinadas 
condições, pode causar doenças, encurtar a vida ou matar, sem rodeios, os trabalhadores. (8) 
O desgaste do corpo durante o processo produtivo gera patologias específicas para 
cada tipo de atividade ocupacional, além das diferentes modalidades de acidentes do trabalho, 
cujas características encontram-se também diretamente relacionadas com o tipo de trabalho 
executado. (18) 
Em relação às condições de trabalho, os riscos ambientais estão divididos em 
cinco categorias: 
• Riscos Biológicos: são diretamente relacionados com micro-organismos, podendo 
provocar doenças; 
• Riscos Químicos: são substâncias ou produtos que podem contaminar o ambiente de 
trabalho e, consequentemente, o organismo humano; 
• Riscos Físicos: São resultantes da troca de energia entre o organismo e o ambiente de 
trabalho, em quantidade que pode causar o desconforto, acidentes ou doenças do 
trabalho; 
• Riscos Ergonômicos: são as condições de trabalho que não são adaptadas às 
características físicas e psicofisiológicas das pessoas; 
• Riscos Mecânicos ou de Acidentes: são agentes relacionados com os processos de 
trabalho e as condições físicas do ambiente. (1) 
É importante observar que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou 
das atividades que o conformam, mas determinada ou agravada por 2 considerações sobre o 
“tempo de trabalho”, sendo elas pela “duração” ou pela “configuração”, entendido como 
“tempo de trabalho” nas mais distintas acepções, que vão desde o tempo na vida em que se 
começa a trabalhar; o tempo na vida em que se para de trabalhar; o tempo ou duração do 
trabalho numa jornada de trabalho (jornada, do francês jour = dia), nas semanas, nos meses, 
nos anos e, enfim, na vida. “Duração”, no sentido de tempo acumulado, e “configuração”, no 
sentido de sua distribuição, ou forma como a duração está organizada ou distribuída no 
próprio referencial de periodização do tempo: vida, época da vida, ano, estação do ano, mês, 
semana, dia, hora, minuto... (8) 
3  
  
O grau de sucesso ou insucesso dos mecanismos de “agressão” irá depender não 
apenas da natureza e intensidade da “agressão”, e do grau de “vulnerabilidade” aos patógenos 
do trabalho, mas também da eficiência ou eficácia dos mecanismos de “defesa” do 
trabalhador. (8) 
Sobre a ideia de saúde a Organização Mundial da Saúde conceitua da seguinte 
forma: 
“condição em que um indivíduo ou grupo de indivíduos é capaz de realizar suas 
aspirações, satisfazer suas necessidades e mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um 
recurso para a vida diária, e não um objetivo de vida; é um conceito positivo, enfatizando 
recursos sociais e pessoais, tanto quanto as aspirações físicas.” (OMS, 1984 apud Rey, 1999. 
Grifo introduzido). (8) 
Dito em outras palavras: 
“saúde é o estado caracterizado pela integridade anatômica, fisiológica e 
psicológica; pela capacidade de desempenhar pessoalmente funções familiares, profissionais 
ou sociais; pela habilidade para tratar com tensões físicas, biológicas, psicológicas ou 
sociais.” (Rey, 1999. Grifo introduzido). (8) 
Podemos concluir que, o trabalhador ao ser exposto a um agente agressor, seu 
organismo irá reagir com um tipo de mecanismo de defesa, seu resultado pode ser uma 
adaptação ou uma lesão. Por exemplo, o trabalhador exposto a uma natureza 
predominantemente biológica, seu mecanismo de defesa poderá dar resposta imunológica 
competente e adequada, caso não seja adequada irá surgir doenças decorrentes desta 
exposição. 
Antes de iniciarmos nossos estudos sobre as doenças ocupacionais, precisamos ter 
claro algumas definições: 
• Acidente de trabalho 
• Doença do trabalho 
• Doença profissional 
 A Lei 8.213/91 conceitua o acidente de trabalho, primeiro no sentido restrito, 
depois no sentido amplo ou por extensão. (10) 
4  
  
 Do acidente-tipo, ou também chamado de macrotrauma, cuida a lei no art. 19 e 
basicamente define como acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício do trabalho 
provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução 
da capacidade permanente ou temporária para o trabalho. Ou seja, trata-se de um evento 
único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e consequências 
geralmente imediatas. (10) 
 O acidente de trabalho representa uma interrupção súbita no processo de trabalho, 
traumática para o acidentado, diferente das doenças profissionais ou do trabalho que tem 
caráter progressivo e em boa parte dos casos irreversíveis, implicando um processo lento de 
degeneração orgânica do qual muitas vezes o próprio trabalhador não se dá conta. Pela 
ausência inicial de sintomatologia clínica, as patologias profissionais permitem – ao contrário 
dos acidentes – que o indivíduo prossiga trabalhando até que se torne inútil para a produção e 
seja substituído por outro. (18) 
 Deste modo o objetivo deste trabalho é tratar apenas das doenças laborais, das 
quais podemos analisar sob algumas características do ponto de vista de Ramazzini, Schilling 
e da própria Lei 8.213/91. 
 Bernardino Ramazzini (1633 – 1714) parece ter sido o primeiro a tentar classificar 
o que ele denominou de “doenças do trabalhador”, descrevia as doenças como, por exemplo: 
“doença dos mineiros”; “doença dos que trabalham em pé”; “doença dos pintores”, “doença 
dos que trabalham com enxofre”, etc. (8) 
 Da classificação empírica construída por Bernardino Ramazzini, há mais de 300 
anos, é possível pinçar os critérios para uma primeira sistematização da patologia do trabalho: 
• Num primeiro grupo estão aquelas doenças diretamente causadas pela “nocividade da 
matéria manipulada”, de natureza relativamente específica, e que vieram dar origem às 
“doenças profissionais” (8) 
• Num segundo grupo estão aquelas doenças produzidas pelas condições de trabalho: 
“posições forçadas e inadequadas”, “operários que passam o dia de pé, sentados, 
inclinados, encurvados etc.”. São as que mais tarde foram denominadas “doenças 
causadas pelas condições especiais em que o trabalho é realizado”. (8) 
 O professor Richard Schilling, da Inglaterra, desenvolveu uma classificação 
própria, que agrupa as “doenças relacionadas com o trabalho” em três categorias, resumidas 
na tabela 1.1. (8) 
5  
  
Categorias Exemplos 
 
I - Trabalho como causa necessária, exatamente, e pelas 
intoxicações agudas de origem ocupacional. 
* Intoxicação por chumbo 
* Silicose 
* "Doenças profissionais" legalmente prescritas 
* Outras 
 
II - Trabalho como fator de risco contributivo ou 
adicional, mas não necessário, exemplificadas pelas 
doenças comuns, mais frequentes ou mais precoces em 
determinados grupos ocupacionais e para as quais o 
nexo causal é de natureza eminentemente 
epidemiológica. 
* Doença coronariana 
* Doenças do aparelho locomotor 
* Câncer 
* Varizes dos membros inferiores 
* Outras 
 
III - Trabalho como provocador de um distúrbio 
latente, ou agravador de doença já estabelecida ou 
preexistente. 
* Bronquite crônica 
* Dermatite de contato alérgica 
* Asma 
* Doenças mentais 
* Outras 
 
 
A Lei 8.213/91 subdivide as doenças ocupacionais em doenças profissionais e 
doenças do trabalho, estando previstas no art. 20, I e II. 
 As primeiras, também conhecidas como “ergopatias”, “tecnopatias” ou “doenças 
profissionais típicas”, são as produzidas ou desencadeadas pelo exercício profissional peculiar 
a determinada atividade (corresponde à classificação Schilling I). Nessa situação, o trabalho é 
considerado causa direta do agravo, ou seja, se o agente for eliminado, o agravo poderá ser 
completamente prevenido. Dada a sua tipicidade,prescindem de comprovação do nexo de 
causalidade com o trabalho. Há uma presunção legal nesse sentido. Decorrem de 
microtraumas que cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas, e que, por efeito 
cumulativo, terminam por vencê-las, deflagrando o processo mórbido. Por exemplo, os 
trabalhadores da mineração, sabe-se de há muito que estão sujeitos à exposição do pó de 
sílica, e, portanto, com chances de contrair a silicose, sendo considerada uma doença 
profissional. (10) (20) 
 Por sua vez as doenças do trabalho, também chamadas de “mesopatias”, ou 
“moléstias profissionais atípicas”, são aquelas desencadeadas em função de condições 
especiais em que o trabalho é realizado (classificação Schilling II e III), ou seja, o trabalho é 
um dos fatores de risco para a ocorrência do agravo. Contudo, por serem atípicas, exigem a 
comprovação do nexo de causalidade com o trabalho, via de regra através de vistoria no 
ambiente laboral. A retirada do fator de risco reduzirá a incidência do agravo e/ou modificará 
Tabela 1.1 – Classificação das doenças segundo sua relação com o Trabalho 
Fonte: Adaptado de Schilling, 1984 
6  
  
a evolução da doença. Por exemplo, a ocorrência de problemas osteomusculares nos 
profissionais de enfermagem. (10) (20) 
 Enquanto as doenças profissionais resultam de risco específico direto 
(característica do ramo de atividade), as do trabalho tem como causa o risco específico 
indireto. Assim, por exemplo, uma bronquite asmática normalmente provém de um risco 
genérico e pode acometer qualquer pessoa. Mas se o trabalhador exercer sua atividade sob 
condições especiais, o risco genérico transforma-se em risco específico indireto. (10) 
 A Lei 8.213/91 ainda contempla uma terceira categoria de doença, disposto no 
parágrafo 2° do art. 20: “Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na 
relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o 
trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-
la acidente do trabalho”. Estamos diante de uma variante da doença do trabalho, pois há uma 
relação direta com as condições especiais em que é executado o trabalho, por exemplo, as 
doenças ligadas à voz presentes nos trabalhadores das empresas de telemarketing. (10) 
 
UNIDADE 1 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS BIOLÓGICOS 
 Consideram-se riscos biológicos os vírus, bactérias, parasitas, protozoários, 
fungos e bacilos. (12) 
Os riscos biológicos ocorrem por meio de micro-organismos que, quando entram 
em contato com o ser humano, podem causar diversas doenças. Muitas atividades 
profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de alimentação, 
hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios etc. (12) 
 Dentre as inúmeras doenças profissionais provocadas por micro-organismos, 
destacam-se: tuberculose, brucelose, malária e febre amarela. (12) 
 Para que essas doenças possam ser consideradas doenças profissionais, deve haver 
exposição do empregado a tais micro-organismos. Alguns agentes infecciosos que podem ter 
relação com o trabalho são: 
7  
  
• Dos vírus: adenovírus; caxumba; citomegalovírus; ebola; hepatite B; hepatite C; 
Herpes simplex; HIV; influenza; parainfluenza; parvovirus B19; poliovirus; rotavirus; 
rubéola; sarampo; varicela-zoster; vírus respiratório sincicial. 
• Das bactérias: bordetella; campulobacter; corynebacyerium diphteriae; mycobacterium 
tuberculosis; neisseria meningitidis; salmonella; shigella; yersínia pestis. 
• Outros: chlamydia psittaci; coxiella burnetti; cryptosporidium; mycoplasma 
pneumonie; sarcoptes scabiei. (12) (8) 
 O conhecimento dos riscos biológicos nos ambientes de trabalho é crucial para a 
prevenção das doenças ocupacionais. A displicência e complacência podem resultar em 
graves e ameaçadoras consequências. Os micro-organismos encontrados nos ambientes de 
trabalho variam de vírus extremamente pequenos e bactérias unicelulares, até fungos e 
parasitas multicelulares. (8) 
 É preciso adotar medidas preventivas para que as condições de higiene e 
segurança nos diversos setores de trabalho sejam adequadas. (12) 
 As medidas de controle mais usualmente adotadas são: saneamento básico, 
controle médico permanente, uso de EPI, higiene rigorosa, higiene pessoal, uso de roupas 
adequadas, vacinação, treinamento, etc. (12) 
 Para que uma substância seja nociva ao homem, é preciso que ela entre em 
contato com o organismo. Há diferentes vias de penetração para os riscos biológicos: (12) 
Ingestão: a água, os alimentos em geral, mãos e objetos quando levados à boca constituem as 
principais maneiras pelas quais a maioria dos agentes infectantes por via oral é transportada e 
introduzida no organismo, por exemplo, ovos de helmintos (Ascaris lumbricoides, Enterobius 
vermicularis, Trichuris trichiura), cistos de protozoários (Entamoeba histolytica, Giardia 
lambia), bactérias entéricas (Salmonella sp., Shigella sp., Escherichia coli enteropatogênica) e 
enterovírus (vírus da poliomielite, rotavírus, e outros). (8) 
Inalação através das vias respiratórias superiores: gotículas expelidas pela boca e pelo 
nariz contendo vírus diversos (gripe, sarampo, etc.); população viável de Mycobacterium 
tuberculosis no escarro em dessecação, associada a micropartículas de poeira; esporos de 
fungos das espécies Histoplasma capsulatum e Paracoccidioides braziliensis, responsáveis, 
respectivamente, pela histoplasmose e pela paracoccidioidomicose; frações de muco nasal 
8  
  
contendo Mycobacterium leprae, agente da hanseníase, e diversos outros exemplos, compõem 
uma vasta lista de biopatógenos que podem estar presentes em suspensão no ar inalado. (8) 
Penetração através das mucosas: de forma geral, as mucosas expostas aos fatores 
ambientais – vagina, uretra, olhos, boca – dispõem de condições biofísico-químicas 
favoráveis à instalação de germes e consequente desenvolvimento de infecções específicas. O 
material chegado à mucosa sadia pode originar-se do contato direto com outra mucosa doente 
ou ser trasnportado por algum veículo ou vetor. A Neisseria gonorrhhoeae, responsável pela 
blenorragia e pela oftalmia neonatorum, e as clamídeas, responsáveis por alguns tipos de 
uretrites e pelo tracoma, são exemplos de micro-organismos que penetram pelas mucosas, aí 
permanecendo e desenvolvendo estado patológico. O Trypanosoma cruzi, agente da doença 
de Chagas, pode penetrar pela mucosa ocular e daí invadir a corrente sanguínea e outros 
tecidos. O Schistosoma mansoni é outro agente que penetra no hospedeiro pelas mucosas. (8) 
Penetração através de solução de continuidade: Feridas cirúrgicas, ferimentos acidentais, 
tecidos necrosados, queimaduras, escarificações, e, de forma geral, toda descontinuidade da 
pele pode servir de porta de entrada para agentes infecciosos. Esses podem ter sido 
depositados sobre a pele antes de ocorrido o seu rompimento naquele ponto e introduzidos 
durante o processo ou podem vir a ser aí depositados por vetores ou veículos após a 
ocorrência da lesão. São conhecidos casos de tétano produzidos por contaminação do coto 
umbilical pela deposição intencional de excremento animal, usado como curativo. No entanto, 
a penetração do Clostridium tetani não se dá, na maioria dos casos, de forma tão inusitada, 
sendo a penetração mais simples. Os esporos são veiculados por poeira e terra contaminadas 
com fezes humanas ou de animais. Em alguns casos, o ferimento que deu acesso ao esporo é 
tão insignificante que passa despercebido. O Trypanosoma cruzi pode ser levado à circulação 
com o rompimento da pele por ação da unha no ato de coçar locais onde o barbeiro defecou 
ao sugar sangue. (8) 
Deposição sobre a pele seguida de propagação localizada: os agentes etiológicos das 
dermatofitoses (fungos dos gêneros Microsporum e Trichophyton) tem acesso ao couro 
cabeludo, às unhas e à pele, por contatodireto com indivíduos infectados, ou indiretamente 
por contato com objetos, pisos úmidos, instrumentos de barbearia e manicure. (8) 
Introdução no organismo com auxílio de objetos e instrumentos: neste caso, o acesso 
pode se dar pelos orifícios naturais ou através de perfurações cirúrgicas ou acidentais. A 
9  
  
transmissão por transfusão de sangue poderia também ser enquadrada neste item, 
considerando que a penetração do bioagente se dá por intrusão no corpo, com auxílio de 
objeto mecânico. Uma grande parte das infecções hospitalares relaciona-se a este mecanismo. 
(8) 
Introdução em tecido muscular ou na corrente sanguínea, por picadas de inseto ou por 
mordedura de animais: através de sua probóscida introduzida na pele, fêmeas dos mosquitos 
anofelinos injetam cargas de plasmódios sob a forma de esporozoítas, que darão origem à 
malária. Mosquitos do gênero Culex são responsáveis pela introdução, no organismo do 
hospedeiro, de larvas infectantes de Wuchereria bancrofti, agente causal da filariose. Neste 
caso também a penetração se faz por inoculação através da probóscida do mosquito. Os 
agentes causais do calazar (leishmaniose visceral) e da úlcera de Bauru (leishmaniose 
tegumentar) são introduzidos no organismo suscetível através da picada da fêmea do 
mosquito flebótomo. O vírus rábico é introduzido no organismo de seres humanos por 
mordedura lacerante de cães e gatos infectados, e em bovinos, por mordedura de morcego. (8) 
Penetração ativa direta do bioagente patogênico: a transmissão da sarna ocorre quando 
indivíduos infectados com Sarcoptes scabiei entram em contato com susceptíveis. As fêmeas 
recém-fecundadas do agente infeccioso abandonam o seu hospedeiro atual e penetram 
ativamente o novo hospedeiro. Cercárias de Schistosoma mansoni saídas do seu hospedeiro 
intermediário, molusco do gênero Biomphalaria e vivendo em coleções de água doce, 
penetram ativamente pela pele de pessoas suscetíveis que estejam imersas na água durante o 
trabalho ou recreação. Larvas infectantes de Strongyloides stercoralis, agente da 
estrongiloidíase, Ancylostoma caninum e Ancylostoma braziliensis, agentes da dermtite 
serpiginosa (larva migrans), podem penetrar ativamente na pele de pessoas que caminham 
com os pés descalços, a partir do solo contaminado. (8) 
 
1.1 – RELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS E TRABALHO 
 As doenças infecciosas e parasitárias relacionadas ao trabalho apresentam 
algumas características que as distinguem dos demais grupos: os agentes etiológicos não são 
de natureza ocupacional, e sim as condições ou circunstâncias em que o trabalho é executado 
é que são favorecedoras do contato, contágio ou transmissão. São causadas por agentes que 
estão disseminados no meio ambiente, dependentes de condições ambientais e de saneamento 
10  
  
e da prevalência dos agravos na população geral; vulneráveis às políticas gerais de vigilância 
e da qualidade dos serviços de saúde. A delimitação ambiente de trabalho/ambiente externo é 
frequentemente pouco precisa. (8) 
 As consequências para a saúde da exposição a fatores de risco biológico presentes 
em situações de trabalho, além dos quadros de infecção aguda e crônica, incluem as reações 
alérgicas e tóxicas. Um amplo espectro de planas e animais produz substâncias alergênicas, 
irritativas e tóxicas com as quais os trabalhadores entram em contato, diretamente, através de 
picadas ou mordeduras ou através de poeiras contendo pelos, pólen, esporos de fungos. (8) 
 A maioria das infecções resulta de exposição não ocupacional. Entretanto, alguns 
ambientes ou doenças específicas sugerem que sua origem foi proveniente da exposição 
ocupacional. Os trabalhadores da área de saúde, nos seus vários âmbitos, quer estejam em 
centros de saúde, hospitais, laboratórios, necrotérios, e os profissionais de saúde que realizam 
investigações de campo – vigilância da saúde, controle de vetores, e aqueles que lidam com 
animais, mantêm contato direto com pacientes ou vetores transmissores de moléstias 
infecciosas. Em se tratando de organismos cuja transmissão se faz através de aerossóis, o 
risco de contrair a doença é várias vezes maior para o trabalhador da área de saúde do que 
para a população geral. O risco também é grande no tocante à manipulação de material 
perfurocortante e no ato de procedimentos invasivos. Neste cenário, torna-se importante 
redobrar a atenção quanto às precauções universais, imunizações, manipulação de material 
contaminado e perfurocortante, e ao hábito de lavar as mãos antes e após cada exame. (8) 
 Os trabalhadores que mantêm contato ou manipulam animais também possuem 
risco aumentado para contrair certas infecções, principalmente os trabalhadores na 
agricultura, as pessoas que trabalham em habitat silvestre (silvicultura), em atividades de 
pesca, produção e manipulação de produtos animais – abatedouros, curtumes, frigoríficos, 
indústria alimentícia, de carnes, pescados, zoológicos e clínicas veterinárias, além dos que 
lidam com pesquisas científicas em espécies animais. (8) 
 É importante destacar que além das infecções propriamente ditas, algumas 
proteínas lideradas através da urina, pela e outros tecidos animais, podem ser carreadas como 
aerossóis, causando erupções, sintomas alérgicos ou até mesmo asma ocupacional. (8) 
11  
  
 Os trabalhadores que lidam com dejetos de esgoto ou lixo, principalmente onde 
não há condições de sanitarismo e proteção adequadas, estão também expostos a vários riscos 
biológicos. (8) 
 A suspeita clínica de possível doença ocupacional deve ser valorizada sempre que 
um paciente pertencer a um grupo onde o risco de exposição a patógenos biológicos é 
aumentado. A avaliação mais específica dependerá muito da apresentação clínica e dos 
diagnósticos diferenciais. Quando se cogitar em origem ocupacional, a história detalhada deve 
ser tomada no sentido de elucidar precisamente como a exposição ocorreu. A avaliação do 
local de trabalho através da visita/inspeção ao espaço físico é mandatória para se compreender 
o ambiente, as funções e as atividades cotidianas, determinando com mais clareza os riscos 
aos quais os trabalhadores estão expostos. Dependendo das circunstâncias e dos recursos 
disponíveis, uma equipe composta por médico e enfermeiro do trabalho, engenheiro e 
higienista industrial, e até um especialista em biossegurança, deverá determinar a necessidade 
de desencadear uma série de ações a nível individual e coletivo. Deve-se lembrar sempre da 
notificação compulsória de determinadas doenças para a vigilância sanitária local. (8) 
 Mesmo para doenças comuns na sociedade, não há um parâmetro limítrofe bem 
estabelecido de quando se deve iniciar uma investigação para explicar o surgimento 
simultâneo de alguns problemas médicos dentre uma comunidade de trabalhadores. A 
natureza da doença, sua prevalência na população de trabalhadores sob risco, e o padrão de 
desenvolvimento de surto são critérios importantes para avaliar tais situações. (8) 
Em síntese, a relação com o trabalho pode ser estabelecida através de: 
• Coleta criteriosa de história ocupacional completa; 
• Comparação com dados e estudos epidemiológicos e de literatura científica; 
• Solicitação de perfil profissiográfico do trabalhador à empresa; 
• Solicitação de dados e avaliações ambientais à empresa; 
• Inspeção na própria empresa/local de trabalho. 
Na tabela 1.2 alguns exemplos de ocupações e suas doenças infecciosas 
relacionadas. 
 
 
12  
  
OCUPAÇÃO PRINCIPAIS DOENÇAS OU AGENTES SELECIONADOS 
Açougueiro Antraz, Tularemia, Erisipelóide 
Explorador de cavernas Bartonella henselae, celulite por pasteurella, raiva, histoplasmose 
Construção civil em grandes 
áreas 
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Leishmaniose, 
Malária 
Processamento de alimentos Tularemia, Salmonelose, Triquinose 
Engenho de algodão Pracoccidioidomicose 
Trabalho com gado leiteiro Brucelose, Febre Q, Tinea barbae 
Trabalhoem creches Hepatite A, Rubéola, Citomegalovirus e outras doenças da infância 
Dentistas Hepatites B e C, AIDS 
Cavador de fossas Larva migrans cutânea, Ascaridíase, Ancilostomíase 
Mergulhador ycobacterium marinum 
Operador de escavadora Paracoccidioidomicose, Histoplasmose 
Trabalho em lavoura 
Raiva, Antraz, Brucelose, Tétano, Leptospirose, Tularemia, 
Paracoccidioidomicose, Histoplasmose, Ascaridíase, 
Esporotricose, Ancilostomíase, Esquistossomose 
Pescador/Comerciante de 
peixes 
Erisipelóde (Erysipelothrix insidiosa), Esquistossomose, 
Mycobacterium marinum 
Jardineiro/Florista Esporotricose, larva migrans cutânea 
Trabalho com pele de animais Tularemia 
Trabalho em armazéns de 
grãos Tifo 
Trabalho em abatedouro Brucelose, Leptospirose, Febre Q, Salmonelose, Estafilococcias 
Médico/Enfermeiro Hepatites B e C, AIDS, Tuberculose, etc. 
Veterinário/Comércio de 
animais 
Antraz, Brucelose, Psitacose, Dermatofitoses, Erisipelóide, 
Raiva, Tularemia, Salmonelose 
Criador de pássaros Psitacose 
Trabalho em limpeza urbana Leptospirose, Ascaridíase, Ancilostomíase 
Lavadeira Dermatofitoses. 
 
 
 
 
 
Tabela 1.2 - Exemplos de Doenças Infecciosas Selecionadas por Ocupação 
Fonte: Mendes, René - 2007 
13  
  
1.2 – PRINCIPAIS DOENÇAS 
 Através da Portaria 1.339 de 18 de novembro de 1.999, é instituído a Lista de 
Doenças Relacionadas ao Trabalho, onde também há uma lista de Doenças Infecciosas e 
Parasitárias Relacionadas ao Trabalho, como segue abaixo. 
DOENÇAS AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES DE RISCO DE NATUREZA OCUPACIONAL 
Tuberculose (A15-
A19.-) 
Exposição ocupacional ao Mycobacterium tuberculosis (Bacilo de Koch) ou 
Mycobacterium bovis, em atividades em laboratórios de biologia, e atividades 
realizadas por pessoal de saúde, que propiciam contato direto com produtos 
contaminados ou com doentes cujos exames bacteriológicos são positivos 
(Z57.8)(Quadro 25) 
Hipersuscetibilidade do trabalhador exposto a poeiras de sílica (Sílico-
tuberculose)(J65.-) 
Carbúnculo (A22.-) 
Zoonose causada pela exposição ocupacional ao Bacillus anthracis, em atividades 
suscetíveis de colocar os trabalhadores em contato direto com animais infectados ou 
com cadáveres desses animais; trabalhos artesanais ou industriais com pelos, pele, 
couro ou lã. (Z57.8) (Quadro 25) 
Brucelose (A23.-) 
Zoonose causada pela exposição ocupacional a Brucella melitensis, B. abortus, B. 
suis, B. canis, etc., em atividades em abatedouros, frigoríficos, manipulação de 
produtos de carne; ordenha e fabricação de laticínios e atividades assemelhadas. 
(Z57.8) (Quadro 25) 
Leptospirose (A27.-) 
Exposição ocupacional a Leptospira icterohaemorrhagiae (e outras espécies), em 
trabalhos expondo ao contato direto com águas sujas, ou efetuado em locais 
suscetíveis de serem sujos por dejetos de animais portadores de germes; trabalhos 
efetuados dentro de minas, túneis, galerias, esgotos em locais subterrâneos; trabalhos 
em cursos d’água; trabalhos de drenagem; contato com roedores; trabalhos com 
animais domésticos, e com gado; preparação de alimentos de origem animal, de 
peixes, de laticínios, etc.. (Z57.8) (Quadro 25) 
Tétano (A35.-) 
Exposição ao Clostridium tetani, em circunstâncias de acidentes do trabalho na 
agricultura, na construção civil, na indústria, ou em acidentes de trajeto (Z57.8) 
(Quadro 25) 
Psitacose, Ornitose, 
Doença dos Tratadores 
de Aves (A70.-) 
Zoonoses causadas pela exposição ocupacional a Chlamydia psittaci ou Chlamydia 
pneumoniae, em trabalhos em criadouros de aves ou pássaros, atividades de 
Veterinária, em zoológicos, e em laboratórios biológicos, etc.(Z57.8) (Quadro 25) 
Dengue [Dengue 
Clássico] (A90.-) 
Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da 
Dengue, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde 
pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) 
Febre Amarela (A95.-) 
Exposição ocupacional ao mosquito (Aedes aegypti), transmissor do arbovírus da 
Febre Amarela, principalmente em atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de 
saúde pública, e em trabalhos de laboratórios de pesquisa, entre outros. (Z57.8) 
(Quadro 25) 
Hepatites Virais (B15-
B19.-) 
Exposição ocupacional ao Vírus da Hepatite A (HAV); Vírus da Hepatite B (HBV); 
Vírus da Hepatite C (HCV); Vírus da Hepatite D (HDV); Vírus da Hepatite E (HEV), 
em trabalhos envolvendo manipulação, condicionamento ou emprego de sangue 
humano ou de seus derivados; trabalho com “águas usadas” e esgotos; trabalhos em 
contato com materiais provenientes de doentes ou objetos contaminados por eles. 
(Z57.8) (Quadro 25) 
14  
  
Doença pelo Vírus da 
Imunodeficiência 
Humana (HIV) (B20-
B24.-) 
Exposição ocupacional ao Vírus da Imuno-deficiência Humana (HIV), 
principalmente em trabalhadores da saúde, em decorrência de acidentes 
pérfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico contaminado, e na manipulação, 
acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados, e contato com 
materiais provenientes de pacientes infectados. (Z57.8) (Quadro 25) 
Dermatofitose (B35.-) 
e Outras Micoses 
Superficiais (B36.-) 
Exposição ocupacional a fungos do gênero Epidermophyton, Microsporum e 
Trichophyton, em trabalhos em condições de temperatura elevada e umidade 
(cozinhas, ginásios, piscinas) e outras situações específicas de exposição ocupacional. 
(Z57.8) (Quadro 25) 
Candidíase (B37.-) 
Exposição ocupacional a Candida albicans, Candida glabrata, etc., em trabalhos que 
requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das mãos, tais como 
trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros. (Z57.8) (Quadro 25) 
Paracoccidioidomicose 
(Blastomicose Sul 
Americana, 
Blastomicose 
Brasileira, Doença de 
Lutz) (B41.-) 
Exposição ocupacional ao Paracoccidioides brasiliensis, principalmente em 
trabalhos agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas. (Z57.8) (Quadro 25) 
Malária (B50 – B54.-) 
Exposição ocupacional ao Plasmodium malariae; Plasmodium vivax; Plasmodium 
falciparum ou outros protozoários, principalmente em atividades de mineração, 
construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e outras atividades que 
obrigam a entrada dos trabalhadores em zonas endêmicas (Z57.8) (Quadro 25) 
Leishmaniose Cutânea 
(B55.1) ou 
Leishmaniose 
Cutâneo-Mucosa 
(B55.2) 
Exposição ocupacional à Leishmania braziliensis, principalmente em trabalhos 
agrícolas ou florestais e em zonas endêmicas, e outras situações específicas de 
exposição ocupacional. (Z57.8) (Quadro 25) 
 
 
Tuberculose 
É a doença mais comum da humanidade, e representa a principal doença 
infecciosa responsável pela mortalidade de jovens e adultos. Ainda é importante problema de 
saúde pública mundial. Em relatório da Organização Mundial de Saúde estima-se que um 
terço da população mundial está infectada pelo Mycobacterium tuberculosis, com oito 
milhões de novos casos de três milhões de mortes devidas à doença, por ano. (8) 
 No Brasil havia 35 a 45 milhões de pessoas infectadas no início da década de 
1990, sendo esperados 100.000 novos casos e certa de 6.000 mortes por ano (incidência de 
aproximadamente 54/100.000 habitantes). (8) 
 O micro-organismo responsável pela tuberculose humana é o Mycobacterium 
tuberculosis, descoberto por Robert Koch, em 1882. Por ser um aeróbio estrito, infecta os 
pulmões e aí se localiza preferencialmente. A presença de oxigênio facilita sua multiplicação, 
Tabela 1.3 - Doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho (grupo I da CID-10) 
Fonte: Portaria nº 1.339, de 18 de novembro de 1999 
15  
  
e a ligação do órgão com o meio externo favorece sua transmissão. Como não há resposta 
imediata do hospedeiro, ele cresce no interior do organismo, durante certo tempo, sem 
nenhum obstáculo. A transmissão é aerógena através da eliminação de partículas com bacilos 
em suspensão por perdigotos favorecidos pela tosse, fala ou espirro. (8) 
 O conceito quedominou a medicina até o início do século XX foi o de ausência 
de risco de infecção para profissionais de saúde e para outras pessoas em contato com 
pacientes tuberculosos. A partir da década de 1920, vários estudos demonstraram maior 
incidência de tuberculose entre enfermeiras, médicos e estudantes de medicina. Aos poucos, 
foram surgindo relatos de tuberculose em outros membros da equipe de saúde, como técnicos 
de laboratório e de anatomia patológica, mostrando que o risco de infecção é diretamente 
proporcional ao contato do profissional com o paciente. (8) 
 Em determinados trabalhadores, a tuberculose pode ser considerada “doença 
relacionada com o trabalho”, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as 
condições de trabalho podem favorecer a exposição a Mycobacterium tuberculosis ou a 
Mycobacterium bovis, como no caso de trabalhadores em laboratórios de biologia, e em 
atividades que propiciam contato direto com produtos contaminados ou com doentes 
bacilíferos.(9) 
 Em trabalhadores expostos a poeiras de sílica ou portadores de silicose, a 
tuberculose e a sílico-tuberculose deverão ser consideradas como “doenças relacionadas com 
o trabalho”, do Grupo III da Classificação de Schilling, uma vez que a exposição à sílica pode 
favorecer a reativação da infecção tuberculosa latente, pois os cristais de sílica no interior dos 
macrófagos alveolares deprimem sua função fagocitária e aumentam sua destruição. (9) 
 A tuberculose representa também risco ocupacional para trabalhadores em 
laboratórios e salas de necropsia. Os riscos para pessoal de laboratório incluem a manipulação 
de recipientes contaminados, escarros mal fixados, geração de aerossol. Durante a realização 
de exames. Para os trabalhadores em sala de necropsia, o exame em cadáveres de pacientes 
com tuberculose não diagnosticada em vida constitui o principal risco. O risco estimado 
destes profissionais adquirirem tuberculose é de 100 a 200 vezes maior do que o da população 
geral na Inglaterra (Collins & Grange, 1999). (8) 
 O risco de dentistas contraírem tuberculose de SUS pacientes é relativo ao 
ambiente de trabalho, e mais diretamente relacionado ao perfil sócio econômico dos seus 
16  
  
pacientes. Este risco pode ser reduzido através de vigilância, educação e atenção ao perfil do 
paciente atendido (Anders e cols., 1998). (8) 
 
Carbúnculo 
É uma zoonose causada pelo Bacillus anthracis, microrganismo gram-positivo, 
manifestando-se, no ser humano, em três formas clínicas: cutânea, pulmonar e gastrintestinal. 
A meningite e a septicemia podem ser complicações de todas essas formas. (9) 
A doença tem distribuição mundial e ocorre em casos isolados no decorrer do ano, 
ocasionalmente na forma de epidemias. Decorre da exposição humana ao bacilo, em 
atividades industriais, artesanais, na agricultura ou em laboratórios, estando, portanto, 
associada ao trabalho, como, por exemplo, pelo contato direto das pessoas com pelos de 
carneiro, lã, couro, pele e ossos, em especial de animais originários da África e Ásia. Nas 
atividades agrícolas, ocorre no contato do homem com gato, porco, cavalo doente ou com 
partes, derivados e produtos de animais contaminados. (9) 
Os principais grupos de risco são os tratadores de animais, pecuaristas, trabalhadores em 
matadouros, curtumes, moagem de ossos, tosa de ovinos, manipuladores de lã crua, 
veterinários e seus auxiliares. Por sua raridade e quase especificidade em determinados 
trabalhadores, pode ser considerada doença profissional ou doença relacionada ao trabalho, do 
Grupo I da Classificação de Schilling. (9) 
 
Leptospirose 
É uma zoonose ubiquitária causada por uma espiroqueta patogênica do grupo 
Leptospiracea. A apresentação clínica é variável, com formas assintomáticas ou leves até 
quadros graves, que se manifestam com icterícia, hemorragias, anemia, insuficiência renal, 
comprometimento hepático e meningite. A recuperação é, geralmente, total em 3 a 6 semanas. 
A gravidade da infecção depende da dose infectante, da variedade sorológica da Leptospira e 
das condições do paciente. O período de incubação é variável, de 3 a 13 dias, podendo chegar 
a 24 dias. (9) 
17  
  
As leptospiroses constituem verdadeiras zoonoses. Os roedores são os principais 
reservatórios da doença, principalmente os domésticos. Atuam como portadores os bovinos, 
ovinos e caprinos. A transmissão é realizada pelo contato com água ou solo contaminados 
pela urina dos animais portadores, mais raramente pelo contato direto com sangue, tecido, 
órgão e urina destes animais. Não há transmissão inter-humana, exceto a intrauterina para o 
feto. (9) 
A leptospirose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que 
exercem atividades em contato direto com águas contaminadas ou em locais com dejetos de 
animais portadores de germes, como nos trabalhos efetuados dentro de minas, túneis, galerias 
e esgoto; em cursos d’água e drenagem; contato com roedores e com animais domésticos; 
preparação de alimentos de origem animal, de peixes, de laticínios e em outras atividades 
assemelhadas. (9) 
Em determinados trabalhadores, a leptospirose pode ser considerada como doença 
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias 
ocupacionais da exposição à Leptospira podem ser consideradas como contribuintes, no 
conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença infecciosa. (9) 
 
Tétano 
É uma doença aguda produzida pela potente neurotoxina (tetanospasmina) do 
Clostridium tetani. A toxina tetânica impede a inibição do arco reflexo da medula espinhal, 
promovendo reflexos excitatórios tônicos típicos, em múltiplas regiões do organismo. (9) 
O C. tetani é um bacilo anaeróbio, encontrado na natureza em ampla distribuição 
geográfica sob a forma de esporos, no solo, principalmente quando tratado com adubo animal, 
em espinhos de arbustos e pequenos galhos de árvores, em águas putrefatas, em pregos 
enferrujados sujos, em instrumentos de trabalho ou latas contaminadas com poeira da rua ou 
terra, em fezes de animais ou humanas, em fios de sutura e agulhas de injeção não 
convenientemente esterilizados. (9) 
É disseminado pelas fezes de equinos e outros animais e infecta o homem quando 
seus esporos penetram através de lesões contaminadas, em geral de tipo perfurante, mas 
também de dilacerações, queimaduras, coto umbilical não tratado convenientemente, etc. A 
18  
  
presença de tecido necrosado, pus ou corpos estranhos facilita a reprodução local do bacilo, 
que não é invasivo e age à distância por sua toxina. (9) 
A exposição ocupacional em trabalhadores é relativamente comum e dá-se, 
principalmente, em acidentes de trabalho (agricultura, construção civil, mineração, 
saneamento e coleta de lixo) ou em acidentes de trajeto. A doença em trabalhadores 
decorrente de acidente de trabalho poderá ser considerada como doença relacionada ao 
trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9) 
A psitacose ou ornitose é uma doença infecciosa aguda produzida por clamídias 
(C. psittaci e C. pneumoniae). A enfermidade, em geral, é leve ou moderada, podendo ser 
grave em idosos sem tratamento adequado. (9) 
A psitacose é quase sempre transmitida aos seres humanos por via respiratória. 
Em raras ocasiões a doença pode ser contraída através da bicada de um pássaro. O contato 
prolongado não é essencial para a transmissão da doença. Alguns minutos passados no 
ambiente previamente ocupado por uma ave infectada tem resultado em infecção humana. (8) 
O período de incubação varia de uma a quatro semanas, e a transmissibilidade 
dura semanas ou meses. (8) 
As fontes mais frequentes de infecção da C. psittaci são periquitos, papagaios, 
pombos, patos, perus, canários, entre outros, que transmitem a infecção por meio de suas 
fezes dessecadas e disseminadas com a poeira, sendo aspiradas pelos pacientes. Apesar de 
rara, é possível a transmissãovia respiratória, de pessoa a pessoa, na fase aguda da doença. É 
uma zoonose que acomete trabalhadores de criadouros de aves, clínicas veterinárias, 
zoológicos e de laboratórios biológicos. A C. pneumoniae infecta somente seres humanos, 
sendo transmitida de pessoa a pessoa. Por sua raridade e relativa especificidade, a 
psitacose/ornitose poderá ser considerada como doença profissional ou doença relacionada ao 
trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling, nos trabalhadores de granjas e criadores de 
aves (patos, gansos, periquitos, pombos, etc.), empregados de casas de comércio desses 
animais, veterinários, guardas florestais e outros em que se confirme as circunstâncias de 
exposição ocupacional. (9) 
 
 
19  
  
Dengue 
É uma doença aguda febril, endemo-epidêmica, causada por um dos Flavivírus do 
dengue (família Togaviridae), com quatro tipos sorológicos (1, 2, 3 e 4). Os seres humanos 
são reservatórios e a transmissão ocorre pela picada dos mosquitos Aedes aegypti, A. 
albopictus e o A. scutellaris. Após repasto de sangue infectado, o mosquito estará apto a 
transmitir o vírus após 8 a 12 dias de incubação extrínseca. A transmissão mecânica também é 
possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, alimenta-se num 
hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de 
suas secreções para uma pessoa sadia, nem por fontes de água ou alimento. (9) 
O período de incubação da doença é de 3 a 15 dias, em média de 5 a 6 dias. O 
período de transmissibilidade ocorre durante o período de viremia, que começa um dia antes 
da febre até o sexto dia da doença. Quando o agente etiológico for conhecido, o nome 
completo da doença será dengue por vírus tipo 1 ou dengue por vírus tipo 2, etc. (9) 
O dengue pode ser considerado como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II 
da Classificação de Schilling, uma vez que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos 
mosquitos vetores (Aedes) e/ou aos agentes infecciosos (Flavivírus) podem ser consideradas 
como fatores de risco, no conjunto de fatores associados com a etiologia desta doença 
infecciosa. (9) 
O dengue relacionado ao trabalho tem sido descrito em trabalhadores que exercem 
atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em laboratórios de pesquisa, 
entre outras atividades em que a exposição ocupacional pode ser identificada. (9) 
 
Febre amarela 
É uma doença febril aguda causada pelo Flavivírus da febre amarela (família 
Togaviridae), com quadro clínico variável, desde formas inaparentes até as graves e fatais. A 
transmissão se faz pela picada dos mosquitos infectados A. aegypti na febre amarela urbana 
(FAU) e Haemagogus na febre amarela silvestre (FAS). O período de incubação é de 3 a 6 
dias, após a picada do mosquito infectado, e o período de transmissibilidade é de 24 a 48 
horas, antes do aparecimento dos sintomas de 3 a 5 dias após. (9) 
20  
  
A febre amarela persiste na América do Sul apenas como enzootia de macacos, 
tendo por transmissores mosquitos dos gêneros Haemagogus e Aedes. Os casos humanos, 
pouco numerosos, incidem entre as pessoas que trabalham ou mantêm contato com as 
florestas. A febre amarela urbana teve o homem como único reservatório e o A. aegypti como 
transmissor, na América do Sul. Outros trabalhadores eventualmente expostos, por acidente, 
incluem os que exercem atividades de saúde pública e que trabalham em laboratórios de 
pesquisa, agricultores, trabalhadores florestais, em extração de madeira, em áreas e regiões 
afetadas. (9) 
Por sua raridade e por sua relativa especificidade, a febre amarela em 
determinados trabalhadores poderá ser considerada como doença profissional ou doença 
relacionada ao trabalho, do Grupo I da Classificação de Schilling. (9) 
 
Hepatite 
É termo genérico para inflamação do fígado que, convencionalmente, designa 
alterações degenerativas ou necróticas dos hepatócitos. Pode ser aguda ou crônica e ter como 
causa uma variedade de agentes infecciosos ou de outra natureza. O processo inflamatório do 
fígado é caracterizado pela necrose hepatocelular difusa ou irregular, afetando todos os 
ácinos. Suas causas principais são as viroses devidas ao vírus da hepatite A (HAV), ao vírus 
da hepatite B (HBV), ao vírus da hepatite C (HCV), ao vírus da hepatite D (HDV) e ao vírus 
da hepatite E (HEV). (9) 
Na hepatite viral A, a fonte de infecção é o próprio homem (raramente os 
macacos) e a transmissão é direta, por mãos sujas (circuito fecal-oral) ou por água (hepatite 
dos trabalhadores por águas usadas) ou por alimentos contaminados. Vários surtos têm sido 
descritos em creches, escolas, enfermarias e unidades de pediatria e neonatologia, com taxas 
de transmissão que giram em torno de 20% em trabalhadores suscetíveis. Nos EUA, a 
prevalência em trabalhadores da saúde varia de 35 a 54% (comparado com 38% da população 
geral). (9) 
A maioria dos dados estatísticos que se referem à hepatite A em trabalhadores da 
saúde aponta os enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem como principal grupo 
21  
  
acometido ou em risco. Dentre os médicos e dentistas, aqueles que lidam com crianças estão 
mais expostos. (8) 
Os trabalhadores do setor de lavanderia hospitalar, especialmente os 
manipuladores de tecidos antes de serem lavados, apresentam taxa elevada de anticorpos IgC 
para o VHA (Borg & Portelli 1999). (8) 
Os trabalhadores responsáveis pela coleta de lixo estão entre os grupos 
ocupacionais de risco, na dependência direta de suas condições de trabalho. (8) 
Na hepatite viral B o vírus é encontrado em todas as secreções e excreções do 
corpo, mas, aparentemente, apenas o sangue, o esperma e a saliva são capazes de transmiti-lo. 
A infecção é adquirida, em geral, por ocasião de transfusões, de injeções percutâneas com 
derivados de sangue ou uso de agulhas e seringas contaminadas ou, ainda, por relações 
sexuais, homossexuais masculinas ou heterossexuais. Nos trabalhadores da saúde, a 
soroprevalência de HBV é de 2 a 4 vezes maior e a incidência anual é de 5 a 10 vezes maior 
do que na população em geral. (9) 
Na hepatite viral C a soroprevalência em trabalhadores da saúde parece ser similar 
à da população geral. A soroconversão dos trabalhadores que se acidentam com material 
contaminado ocorre em 1,2 a 10% dos trabalhadores acidentados. Estima-se que 2% dos casos 
devem-se à exposição ocupacional. (9) 
A hepatite viral D é endêmica na Amazônia Ocidental, onde, em associação com o 
vírus da hepatite B, é o agente etiológico da chamada febre negra de Lábrea, de evolução 
fulminante. (9) 
Portanto, em determinados trabalhadores, as hepatites virais podem ser 
consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação de 
Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos vírus podem ser 
consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia 
desta doença infecciosa. (9) 
 
 
 
22  
  
HIV 
Vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um distúrbio da imunidade mediada 
por célula, causado por um vírus da subfamília Lentivirinae (família Retroviridae), 
caracterizada por infecções oportunistas, doenças malignas (como o sarcoma de Kaposi e o 
linfoma não-Hodgkin), disfunções neurológicas e uma variedade de outras síndromes. A 
síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS ou SIDA) é a mais grave manifestação de um 
espectro de condições HIV-relacionadas. O risco de que pessoas infectadas, não tratadas, 
desenvolvam a AIDS é de 1 a 2% por ano nos primeiros anos após a infecção e cerca de 5% 
nos anos seguintes. O risco acumulado de desenvolvimento da síndrome em infectados não 
tratados é de cerca de 50%. (9) 
Os profissionais de saúde constituem um grupo com características especiais de 
exposição ao HIV, devido às suas possibilidades de infectar-se durante as atividades do 
trabalho cotidiano. O número desituações de contato com sangue, secreções e fluidos 
orgânicos no trabalho, na área da saúde, é muito grande. (8) 
Desde o início da epidemia, a possibilidade de contaminação dos profissionais de 
saúde motivou investigações dirigidas à quantificação deste risco, e despertou os órgãos 
oficiais para a necessidade de medidas voltadas a sua redução. (8) 
O primeiro caso confirmado de contaminação ocupacional pelo vírus HIV ocorreu 
em 1984, na Inglaterra. Uma enfermeira sofreu acidente pefurocortante por agulha contendo 
sangue de uma paciente que se encontrava internada com pneumonia e era portadora do vírus 
HIV. Duas semanas após o acidente, a enfermeira apresentou os sintomas de infecção aguda 
pelo HIV (febre, cefaleia, mialgia etc.). No segundo mês o seu soro revelava positividade para 
o vírus. Houve confirmação da transmissão ocupacional do HIV da paciente para a 
enfermeira. (8) 
A taxa de soroconversão pós-exposição ocupacional por ferimento percutâneo tem 
variado entre 0,1 e 0,4%, sendo maior em função do tamanho do inóculo, da duração do 
contato e da extensão do ferimento. A literatura científica internacional registra cerca de 55 
casos, confirmados até 1999, decorrentes de exposição ocupacional em trabalhadores de 
saúde, em decorrência de acidentes perfurocortantes com agulhas ou material cirúrgico 
contaminado, manipulação, acondicionamento ou emprego de sangue ou de seus derivados e 
contato com materiais provenientes de pacientes infectados. (9) 
23  
  
Assim, em determinados trabalhadores, a doença pelo vírus da imunodeficiência 
humana (HIV) pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo I da 
Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao vírus são 
acidentais ou ocorrem em condições específicas de trabalho, se bem documentadas e 
excluídos outros fatores de risco. (9) 
 
Dermatofitose 
É o termo geral para infecções micóticas que afetam a superfície epidérmica, 
devido a fungos dermatófitos. Atacam tecidos queratinizados (unhas, pelos e estrato córneo da 
epiderme). As principais dermatofitoses são: Tinea capitis (Tinha tonsurante); Tinea favosa 
(Favo); Tinea barbae (Sicose); Tinea corporis; Tinea manuum; Tinea cruris; Tinea imbricata 
(Tinha escamosa); Tinea pedis e Tinea unguium, causadas por espécies dos gêneros 
Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton. (9) 
Em determinados trabalhadores, a dermatofitose e outras micoses superficiais 
podem ser consideradas como doenças relacionadas ao trabalho, do Grupo II da Classificação 
de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos fungos dermatófitos 
podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com 
a etiologia desta doença infecciosa. (9) 
A dermatofitose relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que 
exercem atividades em condições de temperatura elevada e umidade (cozinhas, ginásios, 
piscinas, etc.) e em outras situações específicas. (9) 
 
Candidíase 
Infecção provocada por fungo da classe Saccharomycetes leveduriformes do 
gênero Candida, sobretudo pela Candida albicans. A transmissão é feita pelo contato com 
secreções originadas da boca, pele, vagina e dejetos de portadores ou doentes. A transmissão 
vertical se dá da mãe para o recém-nascido, durante o parto. Pode ocorrer disseminação 
endógena. O período de transmissibilidade dura enquanto houver lesões. (9) 
24  
  
A candidíase relacionada ao trabalho poderá ser verificada em trabalhadores que 
exercem atividades que requerem longas imersões das mãos em água e irritação mecânica das 
mãos, tais como trabalhadores de limpeza, lavadeiras, cozinheiras, entre outros, com 
exposição ocupacional claramente caracterizada por meio de história laborativa e de inspeção 
em ambiente de trabalho. Nesses casos, a candidíase poderá ser considerada como doença 
relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling. (9) 
 
Paracoccidioidomicose 
Infecção fúngica sistêmica, micose causada pelo fungo Paracoccidioides 
brasiliensis. A infecção dá-se por inalação de conídios em poeiras, em ambientes quentes e 
úmidos, com formação de foco primário pulmonar (assintomático) e posterior disseminação. 
Em pacientes com grande resistência imunológica, as formas são localizadas, com reação 
granulomatosa e poucos parasitos. Nos demais, os parasitos são abundantes, os processos são 
predominantemente exsudativos e as formas disseminadas predominam, com variados graus 
clínicos. (9) 
 O trabalho com o solo e vegetais em área rural, a exemplo dos lavradores e 
operadores de máquinas agrícolas, é fator predisponente importante da 
paracoccidioidomicose. Inquérito epidemiológico realizado em 417 trabalhadores da mina 
Morro Velho em Nova Lima – MG detectou 13,4% de positividade em teste cutâneo para 
paracoccidioidomicose. (8) 
 Portanto, em determinados trabalhadores, a paracoccidiodomicose pode ser 
considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de Schilling, 
posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao fungo podem ser consideradas 
como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com a etiologia desta grave 
doença infecciosa. (9) 
 
Malária 
Doença infecciosa febril aguda, causada por parasitas do gênero Plasmodium 
(vivax, malariae, falciparum, ovale), caracterizada por febre alta acompanhada de calafrios, 
25  
  
sudorese e cefaleia, que ocorre em padrões cíclicos, a depender da espécie do parasito 
infectante. (9) 
A transmissão da doença é realizada por intermédio dos esporozoítas, formas 
infectantes do parasita, inoculados no homem pela saliva da fêmea anofelina infectante. (9) 
Esses mosquitos, ao se alimentarem em indivíduos infectados, ingerem as formas 
sexuadas do parasita – gametócitos – que se reproduzem no interior do hospedeiro 
invertebrado, durante 8 a 35 dias, eliminando esporozoítas, durante a picada. A transmissão 
também ocorre por meio de transfusões sanguíneas, compartilhamento de seringas, 
contaminação de soluções de continuidade da pele e, mais raramente, por via congênita. (9) 
A transmissibilidade da infecção ocorre do homem para o mosquito enquanto 
houver gametócitos em seu sangue. O homem, quando não tratado, poderá ser fonte de 
infecção durante mais de 3 anos da malária por P. malariae, de 1 a 3 anos da malária por P. 
vivax e menos de 1 ano da malária por P. falciparum. (9) 
O período de incubação é, em média, de 7 a 14 dias para o P. falciparum, de 8 a 
14 dias para o P. vivax e de 7 a 30 dias para o P. malariae. (9) 
A malária tem sido descrita em garimpeiros, agricultores, lenhadores, motoristas 
de caminhão, em trabalhadores que exercem atividades em mineração, construção de 
barragens ou rodovias, extração de petróleo, e em outras atividades que obrigam a presença 
em zonas endêmica. (8) 
A malária pode ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II 
da Classificação de Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição aos 
anofelinos transmissores podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de 
fatores de risco associados com a etiologia da doença. (9) 
A malária relacionada ao trabalho tem sido descrita em trabalhadores que exercem 
atividades em mineração, construção de barragens ou rodovias, em extração de petróleo e 
outras atividades que obrigam à presença dos trabalhadores em zonas endêmicas. (9) 
Leishmaniose 
Leishmaniose ou leshmaníase por Leishmania braziliensis é zoonose do 
continente americano que apresenta, nos seres humanos, duas formas clínicas: a leishmaniose 
26  
  
cutânea, relativamente benigna, e a leishmaniose cutaneomucosa, mais grave. É uma doença 
parasitária da pele e mucosas, de caráter pleomórfico, transmitida pela picada de insetos 
flebotomíneos do gênero Lutzomia. Período de incubação: pode variar de 2 semanas a 12 
meses, com médiade um mês. (9) 
A leishmaniose comporta-se geralmente como doença profissional, ocorrendo em 
áreas onde se processam desmatamentos para a colonização de novas terras, construção de 
estradas e instalação de frentes de trabalho para garimpo, mineração, extração de madeira e 
carvão vegetal. Também estão expostos os profissionais que trabalham sob as matas nas 
plantações de cacau, extração de látex da seringueira. Outras atividades de risco são o 
treinamento militar nas selvas, as expedições científicas e incursões de caçadores em áreas 
florestais. (8) 
Em determinados trabalhadores, a leishmaniose cutânea ou a cutaneomucosa pode 
ser considerada como doença relacionada ao trabalho, do Grupo II da Classificação de 
Schilling, posto que as circunstâncias ocupacionais da exposição ao mosquito transmissor 
podem ser consideradas como fatores de risco, no conjunto de fatores de risco associados com 
a etiologia desta doença infecciosa. (9) 
1.3 – PREVENÇÃO 
 A prevenção de doenças infecciosas e parasitárias relacionadas com o trabalho 
inclui medidas de educação e informação sobre os efeitos e riscos à saúde, sobre os modos de 
transmissão e controle, pelo reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde 
existam agentes biológicos. (8) 
 São medidas preventivas muito eficazes para ambientes onde há exposição 
prolongada ou potencialmente grave. O controle do ambiente visa conter os riscos biológicos 
em sua fonte, reduzir a concentração de aerossóis e limitar seu movimento pela atmosfera do 
trabalho. Sistemas de ventilação, ar condicionado e aquecimento devem ser adequadamente 
projetados e periodicamente vistoriados para prevenir a contaminação por fungos ou 
bactérias. Para ambientes fechados, tais como hospitais e laboratórios de pesquisa, a 
ventilação deve ser projetada de modo a proporcionar fluxo unidirecional e dirigido. O ar 
proveniente de áreas com alto risco de contaminação por agentes infecciosos tais como 
enfermarias de pacientes isolados, pode ser descontaminado através de filtração. (8) 
27  
  
 O uso de equipamentos de proteção individual está indicado toda vez que os 
riscos não forem totalmente eliminados através das medidas anteriores. Deve-se sempre calçar 
luvas quando em contato com secreções biológicas de qualquer tipo. O uso de aventais ou 
capotes, gorros, óculos especiais de proteção, devem sempre fazer parte dos cuidados dos que 
lidam com materiais, animais ou indivíduos potencialmente infectados. Deve-se salientar que 
máscaras cirúrgicas ordinárias somente protegem o paciente, o animal ou o produto, da 
exposição de organismos exalados pelo trabalhador. Para que o trabalhador seja protegido de 
patógenos provenientes do ambiente é necessário que ele utilize máscaras especiais ou até 
respiradores específicos. (8) 
 A manipulação, descontaminação ou armazenamento apropriados dos dejetos 
biológicos são importantes medidas de controle de infecção em qualquer ambiente de 
trabalho. Em hospitais e laboratórios, os dejetos potencialmente infectados devem ser 
inicialmente segregados dos outros dejetos e adequadamente identificados em embalagens 
próprias para resíduos biológicos. Todas as lâminas e agulhas devem ser colocadas em 
contêineres seguros e à prova de furos. Agulhas nunca devem ser encapadas ou cortadas antes 
de serem desprezadas. A descontaminação pode ser alcançada através da esterilização, 
desinfecção ou antissepsia. (8) 
 Para exposição a atentes patógenos de transmissão sanguínea estão prescritas 
numa série de normas conhecidas como “Normas de Biossegurança ou Prescrições 
Universais”, detalhadas na tabela 1.4. (8) 
Precauções Universais 
 1. Evitar contato direto com fluidos orgânicos: sangue, fluido cérebro-espinhal, sêmen, secreções 
vaginais, leite materno. Os demais como saliva, lágrima, suor, urina e líquido amniótico não são 
considerados meios de transmissão. 
 
* Colocar luva quando da presença de qualquer desses fluidos. A utilização de luvas é 
obrigatória quando da execução de punções venosas, em razão do extravasamento de sangue ser 
muito grande. 
 
* Se houver contato da boca com esses fluidos, lavar e fazer bochechos com água oxigenada a 
3%. 
 
* Se houver contato com a pele, remover os fluidos cuidadosamente, lavar com água e sabão 
degermante; não usar escovinhas devido à escarifação da pele, a fim de evitar porta de entrada. 
A pele deve estar íntegra, sem abrasão ou cortes. 
 
* Usar máscaras durante os procedimentos em que exista a possibilidade de sangue e outros 
fluidos corpóreos atingirem as mucosas da boca e nariz. 
28  
  
 
* Usar óculos durante os procedimentos em que houver a possibilidade de que sangue e fluidos 
corpóreos atinjam os olhos, principalmente em procedimentos cirúrgicos, endoscópicos e em 
hemodiálise. 
 
* Usar aventais protetores durante procedimentos em que exista a possibilidade de 
contaminação das roupas dos trabalhadores de saúde com sangue ou fluidos corpóreos. 
 2. Quando o profissional tiver alguma lesão de pele, tampá-la bem com curativo impermeável. 
 3. Evitar picada de agulhas e lesões que provoquem solução de continuidade. 
 * Não recapar as agulhas, pois esse é procedimento de risco. 
 
* Recolher as agulhas em local apropriado com solução de Hipoclorito de Sódio a 0,5%, e só 
depois colocá-las no lixo. 
 
* Caso haja picada de agulhas, pressionar imediatamente para expelir o sangue, lavar com água 
e sabão degermante e fazer curativo oclusivo. 
 
* Sempre usar luvas para procedimentos invasivos: injeção endovenosa, intramuscular, colher 
sangue, passar sonda vesical, nasogástrica e traqueostomia. 
 4. Lavar sempre as mãos com água e sabão e secá-las após atendimentos de cada paciente, 
inclusive ao se administrar cuidados no leito. 
 5. Cuidados com o lixo e seu destino. 
 
* O lixo hospitalar deve ser coletado em saco plástico, amarrado e acondicionado em um novo 
saco mais resistente, amarrado e encaminhado para incineração. 
 * A pessoa que coleta o lixo deve estar paramentada com luvas, avental e botas. 
 6. Cuidados na limpeza com a unidade, utensílios e roupas de cama. 
 
* Fluido corpóreo no chão, bancada, mesa: jogar Hipoclorito de Sódio a 1% no local, por 30 
minutos. 
 * Manipular as roupas sem agitação. Recolhê-las e rotular "contaminado". 
 
* Para lavar as roupas com fluidos contaminantes: detergente mais água a 71°C por 25 minutos; 
com temperatura inferior: deixar e molho em Hipoclorito de Sódio a 0,5% por 30 minutos. 
 
A vacinação nos ambientes de trabalho é realizada de acordo com indicações 
específicas. Existem algumas indicações gerais: 
Os trabalhadores podem ser vacinados visando à proteção a organismos infecciosos tais como 
agentes do tétano e hepatite B; 
Os profissionais de saúde podem ser vacinados, por exemplo, contra Influenza para evitar que 
contaminem inadvertidamente algum paciente; 
Algumas vacinas como a da febre amarela são recomendadas para trabalhadores em viagens a 
áreas endêmicas. 
Tabela 1.4 – Precauções Universais 
Fonte: Normas de Biossegurança ou Prescrições Universais 
29  
  
UNIDADE 2 – DOENÇAS RELACIONADAS AOS RISCOS QUÍMICOS 
 Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho encontram-se na forma sólida, 
líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas, 
substâncias compostas e produtos químicos em geral. Poeiras, fumaças, névoas, gases e 
vapores estão dispersos no ar; trata-se dos aerodispersóides. (12) 
 Poeira: as poeiras são partículas sólidas geradas mecanicamente por ruptura de 
partículas menores. São classificadas em: 
• Poeiras minerais: sílica, asbesto e carvão mineral, por exemplo. As consequências são: 
silicose (quartzo), asbestose (amianto), penumoconiose dos minérios de carvão 
(mineral). 
• Poeiras vegetais: algodão e bagaço de cana-de-açúcar, por exemplo. As consequências 
são: bissinose (algodão), bagaçose (cana-de-açúcar) etc.• Poeiras alcalinas: calcário, por exemplo. As consequências incluem: doenças 
pulmonares obstrutivas crônicas, enfisema pulmonar. 
• Poeiras incômodas: incluem consequências como interação com outros agentes 
nocivos presentes no ambiente de trabalho, potencializando sua nocividade. 
 Fumos: Trata-se de partículas sólidas produzidas a partir da condensação de 
vapores metálicos. Por exemplo: fumos de óxido de zinco nas operações de sondagem de 
ferro. As consequências são: doença pulmonar obstrutiva, intoxicação específica de acordo 
com o metal. 
 Névoas: as névoas são partículas líquidas que resultam da condensação de vapores 
ou da dispersão mecânica de líquidos. São exemplos: névoa resultante do processo de pintura 
a revólver, monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros. 
 Gases: diz respeito ao estado natural das substâncias em condições normais de 
temperatura e pressão. Exemplos: GLP, hidrogênio, ácido nítrico, butano, ozona etc. 
 Vapores: os vapores consistem em dispersões de moléculas no ar que podem se 
condensar para formar líquidos ou sólidos em condições normais de temperatura e pressão. 
Por exemplo: gasolina, naftalina etc. 
 Névoas, gases e vapores podem ser classificados em: 
30  
  
• Irritantes: causam irritação das vias aéreas superiores. Exemplo: ácido clorídrico, 
ácido sulfúrico, soda caustica, cloro, etc. 
• Asfixiantes: produzem dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte. 
Por exemplo: hidrogênio, nitrogênio, hélio, metano, acetileno, dióxido de carbono, 
monóxido de carbono etc. 
• Anestésicos: em sua maioria, incluem solventes orgânicos, promovendo ação 
depressiva sobre o sistema nervoso, danos a diversos órgãos, ao sistema formador de 
sangue (benzeno) etc. São exemplos: butano, propano, aldeídos, cetonas, cloreto de 
carbono, tricloroetileno, benzeno, tolueno, álcoois, percloritileno, xileno, etc. 
 As vias de penetração dos agentes químicos são: via cutânea (pele); via digestiva 
(boca) e via respiratória (nariz). 
 A penetração dos agentes químicos no organismo depende de seu modo de 
utilização. 
 Para avaliar o potencial tóxico das substâncias químicas, alguns fatores devem ser 
levados em consideração: 
• Concentração: quanto maior for a concentração, mais rapidamente seus efeitos nocivos 
irão se manifestar no organismo. 
• Índice respiratório: a quantidade de ar inalado pelo trabalhador durante a jornada de 
trabalho. 
• Sensibilidade individual: o nível de resistência varia de indivíduo para indivíduo. 
• Toxicidade: o potencial de ação tóxica da substância no organismo. 
• Tempo de exposição: o tempo de exposição do organismo à substância contaminante. 
 
2.1 DOENÇAS RELACIONADAS À EXPOSIÇÃO AO RISCO QUÍMICO 
2.1.1 DOENÇA RESPIRATÓRIA 
Há diversas formas de classificação das doenças ocupacionais pulmonares, 
baseadas na reação tecidual, nos tipos de agentes envolvidos ou no quadro clínico 
predominante. A tabela 2.1 mostra uma classificação destas doenças. (8) 
 
31  
  
Doenças Agudas 
 1 Trato respiratório alto 
 
• Irritação/inflamação de cavidades nasais e seios 
da face, faringe e laringe, por inalação de gases 
ou particulados irritantes e/ou tóxicos. 
 • Rinite alérgica 
2 Trato respiratório baixo 
 
• Asma ocupacional (incluindo bissinose e 
síndrome de disfunção reativa das vias aéreas) 
3 Doenças do parênquima pulmonar 
 • Pneumonites por hipersensibilidade 
 • Pneumonites tóxicas 
4 Doenças pleurais 
 • Derrame pleural 
 Doenças Crônicas 
 1 Trato respiratório alto 
 • Úlcera de septo nasal 
2 Trato respiratório baixo 
 • Bronquite crônica ao fluxo aéreo 
 • Enfisema pulmonar 
 • Limitação crônica ao fluxo aéreo 
3 Doenças do parênquima pulmonar 
 • Silicose 
 • Asbestose 
 • Pneumoconiose dos trabalhadores do carvão 
 
• Outras pneumoconioses (incluindo reações 
granulomatosas) 
4 Doenças pleurais 
 • Fibrose pleural (em placas ou difusa) 
5 Carcinomas do trato respiratório 
 • Adenocarcinomas dos seios da face 
 • Carcinoma broncogênico 
 • Mesotelioma 
 
 
Doenças do trato respiratório alto 
Podem ser classificadas conforme sua localização e etiologia em: 
Tabela 2.1 - Classificação Clínica das Doenças Pulmonares 
Fonte: Mendes, René - 2007 
32  
  
1. Ulcerações e perfurações de septo nasal por ação direta devidas a metais pesados 
como cromo hexavalente e níquel, antimônio, arsênico e cobre (Newman, 1996) (8). 
2. Rinites irritativas e/ou alérgicas secundárias à inalação crônica de substâncias de alto e 
baixo peso molecular com potencial alergênico, como material proteico animal, 
enzimas, isocianatos, anidridos ácidos e outros. Nesse tipo de situação pode ocorrer 
lesão de conjuntiva ocular e de outras mucosas de via aérea como orofaringe, e 
traqueia e eventuais sinusites secundárias ao processo obstrutivo alto. (8) 
3. Rinolitíase formação de concreções na cavidade nasal secundárias à presença de 
substâncias higroscópicas como o cimento (calcário calcinado, desidratado), podendo 
produzir desde apenas incômodo local até sangramentos (Parker, 1994) (8). 
4. Carcinoma da cavidade nasal e laringe secundários à exposição a metais pesados como 
o cromo hexavalente e níquel e poeiras diversas contendo hidrocarbonetos aromáticos 
absorvidos nas mesmas, ou poeiras de madeiras (Doll, Morgan & Speizer, 1970; 
Spiegel & Sataloff, 1996; Vieren & Imbus, 1989). (8) 
 
Asma ocupacional 
A definição mais citada é “a obstrução reversível ao fluxo aéreo e/ou 
hiperresponsividade brônquica devido a causas e condições atribuíveis a um determinado 
ambiente de trabalho e não a estímulos externos” (Bernstein e cols., 1999). Esta definição é 
problemática, pois, com frequência, nota-se o desencadeamento de crises por estímulos 
inespecíficos tais como exercício físicos, infecções e outros (Burge & Moscato, 1999). (8) 
Trabalhadores com asma preexistente podem ter o quadro agravado por estímulos 
inespecíficos no ambiente de trabalho, assim como desenvolver sensibilização a agentes 
específicos. Esta primeira condição pode não ser considerada como AO, e sim como asma 
agravada pelas condições de trabalho (Chan-Yeung & Malo, 1995), mas, do ponto de vista 
prático deve ser investigada, orientada e encaminhada da mesma forma que a AO. (8) 
Os mesmos mecanismos que levam um agente ocupacional a causar asma são 
semelhantes aos mecanismos da asma brônquica (Gandevia, 1970) e, pode ser assim 
sumarizados por ordem de importância: (8). 
33  
  
1. Broncocosntrição imunológica: é o tipo de reação mais comum em AO. A maior parte 
das respostas orgânicas é media por IgE específica, porém há casos em que também 
anticorpos da classe IgG estão envolvidos. (8) 
2. Broncoconstrição inflamatória: exposições a gases ou particulados irritantes, em altas 
concentrações, podem levar à inflamação das vias aéreas, atingindo ocasionalmente, a 
zona de trocas gasosas. (8) 
3. Broncoconstrição reflexa: causada pela ação direta de particulados, gases e mesmo ar 
frio sobre os receptores da parede brônquica, levando a uma quebra do equilíbrio 
adrenérgico. (8) 
4. Broncoconstrição farmacológica: alguns agentes ocupacionais têm o potencial de atuar 
como agonistas farmacológicos, apresentando uma ação semelhante a drogas, com 
relações dose-efeito. (8) 
Pneumonite por hipersensibilidade (PH) 
Manifestação clínica característica de um grupo de doenças pulmonares, 
resultantes da sensibilização por exposições recorrentes a inalações de partículas antigênicas 
derivadas de material orgânico e de algumas poucas substâncias químicas sintéticas. Na tabela 
2.2 apresenta-se uma listagem de algumas denominações específicas da PH conforme o 
antígeno ou o ambiente de trabalho causador da mesma, o tipo de aerossol veiculador do 
antígeno e o antígeno específico. (8) 
Doença / Exposição Aerossol Antígeno 
 Pulmão do fazendeiro (ou 
agricultor) Feno/palha/grãos mofados Actinomycetestermophilico 
Pulmão dos criadores de aves Excremento e penas de aves Proteínas de aves 
Bagaçose Cana mofada Thermoactinomyces viridis T. sacharii 
Pulmão dos trabalhadores de 
malte, cogumelos, cortiça e 
boldo. 
Cascas e córtex mofados 
Thermoactinomyces vulgaris. 
Aspergillus clavatus. Penicillium 
frequentans. Cryptostoma 
corticale 
Sequoiose Poeira mofada Pullulania sp 
Trabalhadores em serrarias, 
carpintarias e marcenarias 
Madeiras e poeira de 
madeira mofadas Alternania sp 
Pulmão dos manipuladores 
de animais e peixe 
Epitélio animal, proteínas 
de peixe 
Proteína animal e de peixes. 
Fungos saprófitos 
Exposição a isocianatos MDI/TDI Hapteno inorgânico 
 Tabela 2.2 - Pneumotinte por Hipersensibilidade 
Fonte: Mendes, René – 2007 
34  
  
Pneumonite tóxica ou edema pulmonar 
 Resultantes a exposição de altas concentrações de gases irritantes, como amônia, 
cloro e dióxido de nitrogênio, a poeiras e fumos metálicos de berílio, cádmio, mercúrio, 
níquel, vanádio e zinco, a produtos químicos de pH extremo ou fortemente reagentes, como o 
metilisocianato. Sua patogenia envolve diretamente a citotoxicidade das células mucosas, com 
liberação de proteínas séricas e mediadores da reação inflamatória. (8) 
 
Derrame pleural benigno 
Acometimento de diagnóstico retrospectivo, pois é necessário que o paciente seja 
acompanhado durante algum tempo para afastar outras possibilidades diagnósticas, como a 
tuberculose e o câncer de pulmão. Outros acometimentos pleurais como espessamento pleural 
em placas e espessamento pleural difuso, são mais prevalentes, associadas a exposição ao 
asbesto. (8) 
 
Bronquite crônica (BC) 
Limitação crônica ao fluxo aéreo (LCFA) são duas entidades distinta, podendo ou 
não estar relacionadas. A principal causa de ambas é, sem dúvida, o tabagismo, que agride 
tanto grandes vias aéreas, preferencialmente acometidas na BC, como nas pequenas vias 
aéreas, preferencialmente acometidas na LCFA. (8) 
 Há um consenso de que a exposição a poeiras na mineração de carvão leva a um 
aumento na prevalência de BC, assim como as poeiras orgânicas, exemplo a poeira de 
algodão, também leva a um aumento de prevalência de BC e LCFA. Assim, podemos dizer 
que o tabagismo, as exposições ocupacionais e a poluição ambiental têm em ordem 
decrescente de grandeza, direta influência em relação às doenças de vias aéreas. (8) 
 
Enfisema 
Estado de irritação respiratória crônica, de lenta evolução, quase sempre causada 
pelo fumo, mas também por outros agentes (poeira, poluentes, vapores químicos). No 
35  
  
enfisema, os alvéolos transformam-se em grandes sacos cheios de ar que dificultam o contato 
do ar com o sangue, uma vez que foram destruídos os septos alveolares por onde passavam os 
vasos. (22) 
Pneumoconioses 
São divididas em não-fribogênicas (ou “benignas”) e fibrogênicas de acordo com 
o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de existirem tipos bastante polares 
de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um 
lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não 
fibrogênicas produzirem algum grau de fibrose dependendo da dose, das condições de 
exposição e da origem geológica do material. (4) 
O Quadro 1, abaixo, apresenta uma lista de pneumoconioses com denominações 
mais específicas, seus agentes etiológicos e sua apresentação anatomopatológica. Ressalte-se 
que a lista não é exaustiva, não excluindo outras possibilidades etiológicas mais raras, ou 
ainda não contempladas pela literatura científica. (4) 
Pneumoconiose Agente(s) Etiológico(s) Processo Anatomopatológico 
Silicose Sílica livre Fibrose nodular 
Asbestose Todas as fibras de asbesto ou amianto Fibrose difusa 
Pneumoconiose do 
trabalhador do 
carvão (PTC) 
Poeiras contendo carvão 
mineral ou vegetal 
Decomposição macular sem fibrose ou 
com diferenciados graus de fibrose 
Silicatose Silicatos variados Fibrose difusa ou mista 
Talcose Talco mineral (silicato) Fibrose nodular e/ou difusa 
Pneumoconiose 
por poeira mista 
Poeiras variadas contendo 
menos que 7,5% de sília livre 
Fibrose nodular estrelada e/ou fibrose 
difusa 
Siderose Óxidos de ferro 
Deposição macular de óxido de ferro 
associado ou não com fibrose nodular 
e/ou difusa 
Estanose Óxidos de estanho Deposição macular sem fibrose 
Baritose Sulfato de bário (barita) Deposição macular sem fibrose 
Antimoniose Óxidos de antimônio ou Sb metálico Deposição macular sem fibrose 
Pneumoconiose 
por rocha fosfática Poeira de rocha fosfática Deposição macular sem fibrose 
Pnemoconiose por 
abrasivos 
Carbeto de silício (SiC) / 
Óxido de alumínio (Al2O3) Fibrose nodular e/ou difusa 
36  
  
Berilliose Berílio Granulomatose tipo sarcóide. Fibrose durante evolução crônica 
Pneumopatia por 
metais duros 
Poeiras de metais duros (ligas 
de W, Ti, Ta contendo Co) 
Pneumonia intersticial de células 
gigantes. Fibrose durante evolução 
Pneumonites por 
hipersensibilidade 
(alveolite alérgica 
extrínseca) 
Poeiras orgânicas contendo 
fungos, proteínas de penas, 
pelos e fezes de animais 
Pneumonia intersticial por 
hipersensibilidade (infiltração 
linfocitária, eosinofilica e neutrofilica na 
fase aguda e neutrofilica na fase aguda e 
fibrose difusa na fase crônica) 
	
  
	
  
 
Silicose 
Doença respiratória causada pela inalação de poeira de sílica que produz 
inflamação, seguida de cicatrização do tecido pulmonar. A silicose decorre da exposição à 
sílica livre (quartzo), especialmente na mineração subterrânea de ouro, nas indústrias 
extrativas de minerais, no beneficiamento de minerais (corte de pedras, britagem, moagem, 
lapidação), nas indústrias de transformação (cerâmicas, marmorarias, abrasivos, fundições), 
na fabricação do vidro e de sabões, na construção civil e, em algumas atividades como 
protéticos, jateadores de areia, trabalhos com rebolos ou esmeril de pedra, escavação de 
túneis, cavadores de poços e artistas plásticos. É uma das mais antigas doenças provocadas 
pelo trabalho, sendo que atualmente, no Brasil, é a principal doença pulmonar de origem 
ocupacional. (22) 
 
Asbestose 
Doença pulmonar causada por depósitos de asbesto ou amianto, que é um silicato 
que ocorre na natureza sob a forma de fibras que podem ser fiadas e tecidas. A sua grande 
resistência à abrasão e ao calor, a alta resistência à tração e a grande flexibilidade das fibras, 
dão aos asbestos propriedades ainda não conseguidas por fibras artificiais. Assim, mais de mil 
usos industriais para o amianto têm sido descritos: misturado ao cimento, dá origem às placas 
e telhas de cimento-amianto, muito utilizadas para coberturas de edificações, e a tubulações 
de vários diâmetros e de baixo preço; é utilizado nas lonas de freio de automóveis, na 
fabricação de equipamentos individuais de proteção (luvas, aventais, capuzes, etc.) resistentes 
ao calor e ao fogo, na isolação térmica de caldeiras, tubulações de vapor e na isolação elétrica 
Tabela 2.3 - Pneumoconioses, poeiras causadoras e processos anatomopatológicos subjacentes 
Fonte: Mendes, René - 2007 
37  
  
e térmica de equipamentos elétricos. Sob forma de pó, atinge os pulmões de indivíduos que 
estão expostos, tais como: mecânicos, operários de indústria de cimento-amianto etc. (22) 
 
Pneumoconiose dos trabalhadores de carvão (PTC) 
Na pneumoconiose dos trabalhadores de carvão a deposição de poeiras 
desencadeia um processo inflamatório orquestrado inicialmente pelos macrófagos alveolares, 
de menor intensidade do que a gerada pelas partículas de sílica, mas suficiente para promover 
lesão do epitélio alveolar. Em decorrência, ocorre a passagem de partículas para o interstício e 
tem início a formação de acúmulos de carvão e de macrófagos com partículas fagocitadas, ao 
redor dos bronquíolos respiratórios, com presença de fibras de reticulina e deposição de 
pequena quantidade de colágeno. Estas lesões,

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