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www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 1 INTERDIÇÃO Professora Fernanda Tartuce www.fernandatartuce.com.br fetartuce@uol.com.br @fernandatartuce Fernanda Tartuce II (Facebook) Para refletir A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum. (Millôr Fernandes) Caso revelado Há alguns anos, a Sra. Cleuza vinha apresentando sinais de que sua saúde mental não vinha bem: esquecia fatos recentes, tinha dificuldade de manusear objetos e apresentava elaboração confusa de ideias em alguns momentos. Tais manifestações levaram a sua filha Neide a buscar diagnóstico e tratamento médico. Cleuza foi, então, diagnosticada com Alzheimer. Dois pontos preocupam Neide: - Cleuza ainda recebe ligações de locatários de duas pequenas casinhas que aluga no bairro; - Cleuza dispõe de uma aposentadoria em seu nome, que saca mensalmente no banco. Incapacidade civil Restrição legal ao exercício dos atos da vida civil. Código Civil, art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Código Civil, art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Tutela e curatela INTERDIÇÃO (“CURATELA DE INTERDITOS”) Meio processual pelo qual se atribui a alguém o encargo de curador da pessoa e/ou de seus bens. Legitimidade Ativa Art. 1.177 do CPC A interdição pode ser promovida: I - pelo pai, mãe ou tutor; II - pelo cônjuge ou algum parente próximo; III - pelo órgão do Ministério Público. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 2 Legitimidade Ativa Art. 1.768 do Código Civil A interdição deve ser promovida: I - pelos pais ou tutores; II - pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III - pelo Ministério Público. Legitimidade do MP - condicionada Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição: I - em caso de doença mental grave; II - se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos incisos I e II do artigo antecedente; Legitimidade do MP - condicionada III - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no inciso antecedente. STJ I - O Ministério Público tem legitimidade ativa originária para propor ação de interdição fundamentada em anomalia psíquica, com base no artigo 1.178 , I , do Código de Processo Civil. II - Improsperável a alegação de inépcia da petição inicial se o pedido de interdição encontra-se devidamente fundamentado, inclusive com respaldo em laudos médicos, o que justifica o prosseguimento do feito, com vistas à aferição da saúde mental do interditando, o qual, cumpre ressaltar, tem não apenas interesse, mas também o direito de provar que pode gerir sua própria vida, administrar seus bens e exercer sua profissão. (RMS 22679, 3ª Turma, Rel. Sidnei Beneti, j. 24/03/2008) PROCEDIMENTO - Petição inicial, com os requisitos do 282. AÇÃO DE INTERDIÇÃO – roteiro da peça Art. 282. A petição inicial indicará: I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida; roteiro da peça COMPETÊNCIA Ausência de previsão legal – Admite-se: a defesa do melhor interesse do interditado e aplicação analógica do art. 94/CPC (domicílio do réu) STJ 2. Em se tratando de hipótese de competência relativa, o art. 87 do CPC institui, com a finalidade de proteger a parte, a regra da estabilização da competência (perpetuatio jurisdictionis), evitando-se, assim, a alteração do lugar do processo, toda a vez que houver modificações supervenientes do estado de fato ou de direito. 3. Nos processos de curatela, as medidas devem ser tomadas no interesse da pessoa interditada, o qual deve prevalecer diante de quaisquer outras questões, devendo a regra da perpetuatio jurisdictionis ceder lugar à solução que se afigure mais condizente com os interesses do interditado e facilite o acesso do Juiz ao incapaz para a realização dos atos de fiscalização da curatela. Precedentes. STJ 4. Conflito conhecido para o fim de declarar a competência do Juízo de Direito da 11ª Vara de Família e Sucessões de São Paulo-SP (juízo suscitado), foro de domicilio do interdito e da requerente. (CC 109840 PE, Segunda Seção, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/02/2011) roteiro da peça QUALIFICAÇÃO DAS PARTES II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu; Segundo o CPC, é procedimento de jurisdição voluntária, mas pode tomar natureza contenciosa caso haja resistência do interditando, podendo se falar em réu. roteiro da peça CAUSA DE PEDIR III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; roteiro da peça CAUSA DE PEDIR Código de Processo Civil. Art. 1.180. Na petição inicial, o interessado provará a sua legitimidade, especificará os fatos que revelam a anomalia psíquica e assinalará a incapacidade do interditando para reger a sua pessoa e administrar os seus bens. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 3 roteiro da peça CAUSA DE PEDIR - FATOS: Existência de incapacidade do interditando para os atos da vida civil. - Demonstrar legitimidade. - Descrever a causa da incapacidade. roteiro da peça CAUSA DE PEDIR - Fundamentos jurídicos: CC, art. 3° ou 4°; art. 1.767 do Código Civil. roteiro da peça PEDIDO - IV - o pedido, com as suas especificações; roteiro da peça PEDIDO - Declaração da interdição; Código Civil Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art. 1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão circunscrever- se às restrições constantes do art. 1.782. Código Civil Art. 1.773. A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso. Código de Processo Civil Art. 1.184. A sentença de interdição produz efeito desde logo, embora sujeita a apelação. Será inscrita no Registro de Pessoas Naturais e publicada pela imprensa local e pelo órgão oficial por três vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição e os limites da curatela. roteiro da peça PEDIDO - Nomeação de curador. Quem pode ser curador? roteiro da peça CÓDIGO CIVIL - Ordem de preferência: Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito, curador do outro, quando interdito. roteiro da peça CÓDIGO CIVIL §1° Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o descendente que se demonstrar mais apto. roteiro da peça CÓDIGO CIVIL § 2° Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos. § 3° Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador. roteiro da peça QUESTÃOA ordem de preferência é absoluta? Mesmo se alguma das pessoas preterida pela lei demonstrar maior capacidade de gerir os interesses do interditando? TJ-DF 1. A NOMEAÇÃO DE CURADOR PROVISÓRIO É FEITA EM BENEFÍCIO DOS INTERESSES DO INTERDITANDO, RAZÃO PELA QUAL NÃO É ABSOLUTA A ORDEM DE PREFERÊNCIA PREVISTA NO ART. 1.775 DO CÓDIGO CIVIL, PODENDO TAL ENCARGO SER ASSUMIDO POR TERCEIRO QUE NÃO POSSUA RELAÇÃO DE PARENTESCO COM O INCAPAZ. 2. Constando dos autos o laudo confeccionado por setor do ministério público, aferindo que o interditando não se encontra sob a responsabilidade da curadora provisória, mas sim de terceira pessoa, justifica-se a substituição deferida. www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 4 3. A definição da controvérsia, contudo, somente poderá ser aferida ao final do processo, quando o douto juiz da causa, obviamente, terá condições de aferir a pessoa que melhor velará pelos interesses do interditado. 4. Recurso conhecido e improvido. (AI 158520098070000, 4ª Turma Cível, Rel. Sandoval Oliveira, j. 14/10/2009) roteiro da peça TUTELA ANTECIPADA? A despeito da falta de previsão legal específica, há a possibilidade de pedido de curatela provisória com base nos artigos 1109 e 273 do Código de Processo Civil. CPC – Jurisdição Voluntária Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna. Nomeação de curador provisório – situações : 1. quando há risco de dano vinculado à demora da sentença definitiva; 2. quando há expectativa de recuperação da capacidade mental (ex: inconsciência decorrente de acidente) TUTELA ANTECIPADA Importante arguir e demonstrar: - É inequívoca incapacidade mental ; - São verossímeis os alegados riscos de dano TJ-SP INTERDIÇÃO. Curatela provisória. Admissibilidade e necessidade. Atendimento dos requisitos do art. 273 CPC. Prova inequívoca de que o interditando possui doença grave e incapacitante. Impossibilidade de prover a própria mantença. Recurso provido. roteiro da peça TJ-SP “Em sede de cognição sumária, vislumbro prova inequívoca do direito alegado, consistente no relatório médico de fls. 23, que corrobora a alegação de que o interditado sofreu um AVC, com sequelas motora e cognitiva”. “Outrossim, a certidão exarada pelo Oficial de Justiça, muito embora tenha encontrado o interditado lúcido, relatou também que ‘está com o lado esquerdo paralisado, não se locomove, alimenta, veste e cuida da higiene sem ajuda de outra pessoa’ (fls. 35)”. (AI n. 0006988-23.2012.8.26.0000, Relator: Teixeira Leite, J: 19/04/2012, 4ª Câmara de Direito Privado, DJ: 25/04/2012) TJ-RS Ausente verossimilhança na alegação de que o interditando é incapaz para reger os atos da vida civil, ante atestado que se limita a grifar sua incapacidade laboral, deve ser mantida, por ora, a decisão que indeferiu a curatela provisória. (AI AI 70047597737 RS, 8ª Câmara Cível, Rel. Ricardo Pastl, j. 27/02/2012) roteiro da peça VALOR DA CAUSA V - o valor da causa; Estimado, ante a impossibilidade de avaliar o conteúdo econômico da ação. roteiro da peça PROVAS VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; - Indicar e anexar exames e laudos médicos que comprovem a incapacidade, no caso de doença ou deficiência; - Provas da prodigalidade...? TJ-SC APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. DISPÊNDIO, PELA INTERDITANDA DE TODO O SEU SALÁRIO, COM COMPRAS DESNECESSÁRIAS. REALIZAÇÃO DE DIVERSOS EMPRÉSTIMOS PARA SALDAR OS DÉBITOS. SITUAÇÃO VIVENCIADA ANTERIORMENTE. DESNECESSIDADE DE VERIFICAÇÃO DE DEBILIDADE PARA CONFIGURAÇÃO DE PRODIGALIDADE. Interditanda que, em interrogatório, admite a incapacidade de administração de sua vida www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 5 financeira. Laudo pericial que aponta a tendência ao vício da prodigalidade. Necessidade de proteção do patrimônio familiar. Recurso conhecido e provido. (AC 261963 SC 2011.026196-3, 1ª Câmara de Direito Civil, Rel. Cinthia Schaefer, j. 03/02/2012) Interrogatório CPC, Art. 1.181. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinará, interrogando-o minuciosamente acerca de sua vida, negócios, bens e do mais que Ihe parecer necessário para ajuizar do seu estado mental, reduzidas a auto as perguntas e respostas PROVAS Perícia Art. 1.183. (...) o juiz nomeará perito para proceder ao exame do interditando. PROVAS Possibilidade de prova testemunhal Art. 1.183. (...) Apresentado o laudo, o juiz designará audiência de instrução e julgamento.. roteiro da peça CITAÇÃO DO “RÉU” VII - o requerimento para a citação do réu. CPC Art. 1.181. O interditando será citado para, em dia designado, comparecer perante o juiz, que o examinará... CITAÇÃO DO “RÉU” Art. 1.182. Dentro do prazo de 5 (cinco) dias contados da audiência de interrogatório, poderá o interditando impugnar o pedido. CITAÇÃO DO “RÉU” Problema: - deve-se requerer a citação na própria pessoa do interdito? - ou deve-se requerer a nomeação de um curador para receber a citação? CITAÇÃO DO “RÉU” a) Na própria pessoa do interdito: é viavel se a interdição for por prodigalidade ou se a incapacidade for parcial a ponto de não prejudica-lo em termos de compreensão; CITAÇÃO DO “RÉU” b) Se o interdito for absolutamente incapaz, atenção: Ver regras do CPC. CPC Art. 9º O juiz dará curador especial: I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele; CPC Art. 218. Também não se fará citação, quando se verificar que o réu é demente ou está impossibilitado de recebê-la. CPC § 1o O oficial de justiça passará certidão, descrevendo minuciosamente a ocorrência. O juiz nomeará um médico, a fim de examinar o citando. O laudo será apresentado em 5 (cinco) dias. CPC § 2o Reconhecida a impossibilidade, o juiz dará ao citando um curador, observando, quanto à sua escolha, a preferência estabelecida na lei civil. A nomeação é restrita à causa. CPC § 3o A citação será feita • na pessoa do curador, • a quem incumbirá a defesa do réu. Decisão interessante - tjpe 1. O intérprete da lei deve ter visão mais ampla e moderna do processo ao analisar cada caso concreto. Existente o temor da autora e mãe do réu na receptividade da citação, por ser o interditando considerado violento, faz-se necessária a ponderação das regras processuais. 2. Havendo fortes indícios de que o réu sofre alienação mental, deverá existir a prévia www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 6 realização de visita domiciliar médica para avaliar o grau de comprometimento da capacidade do réu, nomeando-se em seguida, se for o caso, curador provisório. 3. Inteligência do art. 218 e parágrafos do CPC. (TJPE; APL 0076300-69.2011.8.17.0001; Quinta Câmara Cível; Rel. Des. José Fernandes de Lemos; Julg. 11/07/2012; DJEPE 06/08/2012; Pág. 101) CITAÇÃO DO “RÉU” b) Se o interdito for absolutamente incapaz, atenção: requerer a citação do réu, destacando-se que, constatada a incapacidade pelo Sr.Oficial de Justiça, o juiz determinará a nomeação de um curadorespecial, nos termos dos artigos 9º e 218 do CPC. Decisão interessante - TJSP A apelante é representada por curador provisório (fs. 174), de modo que sua citação deveria ter sido realizada na pessoa de seu representante legal, nos termos dos artigos 8 e 215 do CPC. Na hipótese, a citação foi realizada pessoalmente na pessoa da apelante (fs. 164/165), que levou a conhecimento de seu curador e conseguiu exercer seu direito de ampla defesa... (TJSP; APL 0040993-05.2010.8.26.0562; Ac. 6479549; Santos; Trigésima Segunda Câmara de Direito Privado; Rel. Des. Hamid Bdine; Julg. 31/01/2013; DJESP 14/03/2013) roteiro da peça INTIMAÇÃO DO MP Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir: II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade; PEÇA – Caso CLEUSA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DA FAMÍLIA E DAS SUCESSÕES DO ____ FORO REGIONAL DA COMARCA DE SÃO PAULO- SP (domicílio da interditanda) NEIDE (sobrenome), brasileira, solteira, professora, portadora da carteira de identidade RG (número), inscrita no CPF/MF (número), residente e domiciliada nesta comarca, no (endereço), pelo procurador que a representa, vem, respeitosamente, à presença de vossa excelência, propor AÇÃO DE INTERDIÇÃO com pedido de antecipação de tutela em face de CLEUZA (sobrenome), viúva, aposentada, portadora do RG (número), inscrita no CPF sob o n. (número), residente e domiciliada nesta comarca, na Rua (endereço), com fulcro nos arts. 1.767 e ss. do Código Civil e 1.177 do Código de Processo Civil, com base nos motivos a seguir expostos I – DOS FATOS A interditanda CLEUZA é mãe da autora, conforme comprova certidão de nascimento anexa (doc. X). Em 2012, a interdita começou a apresentar sinais de que sua saúde mental não ia bem: esquecimentos recentes, dificuldade em manusear objetos, elaboração confusa de ideias. Em julho deste ano, a Sra. CLEUZA foi diagnosticada com Doença de Alzheimer, como demonstram os exames e laudos médicos anexos (doc. X). Segundo atestado dos médicos que acompanham seu tratamento (doc. X), a doença vem se desenvolvendo rapidamente e já foi recomendada assistência e companhia integrais à interditanda, pois ela não pode mais praticar a maioria das atividades diárias sozinha. A situação é preocupante não apenas do ponto de vista médico, mas também civil, pois a interditanda, até então, administrava dois contratos de locação de pequenas casas (doc. X). Além disso, há também a sua aposentadoria (doc. X), que, por exigência do banco, não pode ser movimentada por terceiros a não ser que estes sejam representantes nomeados judicialmente. II – DO DIREITO www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 7 A Lei confere ao filho (“parente próximo”) legitimidade para promover a interdição de seus pais (art. 1768, II, CC; art. 1.177, II, CPC). Sendo a interditanda acometida de Doença de Alzheimer, e não possuindo mais discernimento para a prática dos atos da vida civil, ela é absolutamente incapaz nos termos do art. 3°, II, do Código Civil, devendo ser submetida a curatela, nos termos do art. 1.767, I, do mesmo diploma. Sendo o cônjuge e os pais falecidos (docs. X, Y e Z), compete ao ascendente mais apto exercer a curatela, nos termos do art. 1.775, §1°, do CC. No caso, a requerente é a mais apta, pois já reside com a mãe há anos e vem cuidando dela desde que os sintomas começaram a se manifestar, além de ter familiaridade com a locação dos imóveis. III – DA TUTELA ANTECIPADA Estão presentes os requisitos da tutela antecipada exigidos pelo art. 273 do CPC, devendo ser deferida a curatela provisória. A prova inequívoca da verossimilhança das alegações consiste na farta prova documental médica, realizada inclusive em instituições públicas, que demonstra ser a interditanda acometida pela Doença de Alzheimer e não manter o discernimento necessário para os atos da vida civil. Ante a prova apresentada, é verossimil a alegação de necessidade de submissão da interditanda à curatela de sua filha. O dano grave e de difícil reparação consiste na impossibilidade de movimentação de sua aposentadoria, o que vem comprometendo seu sustento. IV – DO PEDIDO Ante o exposto, pede-se que Vossa Excelência conceda a tutela antecipada, nomeando a requerente como curadora provisória da Sra. CLEUZA. Ao final, pede-se que V. Exa confirme a tutela antecipada e julgue totalmente procedente o pedido da presente ação, declarando a interdição da Sra. CLEUZA e nomeando definitivamente a requerente como sua curadora. V – DOS REQUERIMENTOS Requer ainda: a) a citação da interditanda, por Oficial de Justiça, para que compareça à audiência de interrogatório e, querendo, apresentar defesa no prazo legal. Caso constatada a demência da interdita, requer-se que V. Exa nomeie curador para receber a citação , nos termos do art. 218 do CPC. V – DOS REQUERIMENTOS Requer ainda: a) a citação da interditanda, por Oficial de Justiça, para que compareça à audiência de interrogatório e, querendo, apresentar defesa no prazo legal; b) a intimação do digníssimo representante do Ministério Público para intervir no feito (CPC, art. 82, II); c) a expedição de mandado determinando a averbação da sentença de interdição junto ao cartório de registro civil competente, com a publicação no órgão oficial por três vezes, nos termos do art. 1.184 do CPC; Requer provar o alegado por todos os meios admitidos em direito, especialmente pela juntada de documentos, interrogatório da interditanda, realização de perícia médica e oitiva de testemunhas em audiência de instrução, a serem oportunamente arroladas. Dá à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais). Nestes termos, pede deferimento Local, data. Nome do advogado, número da OAB. Procedimento DEFESA DO RÉU Art. 1.182. Dentro do prazo de 5 (cinco) dias contados da audiência de interrogatório, poderá o interditando impugnar o pedido. Procedimento DEFESA DO RÉU www.cers.com.br CURSO DE PRÁTICA FAMÍLIA E SUCESSÕES Interdição Fernanda Tartuce 8 § 1° Representará o interditando nos autos do procedimento o órgão do Ministério Público ou, quando for este o requerente, o curador à lide. Procedimento DEFESA DO RÉU § 2° Poderá o interditando constituir advogado para defender-se. § 3° Qualquer parente sucessível poderá constituir-lhe advogado com os poderes judiciais que teria se nomeado pelo interditando, respondendo pelos honorários. QUESTÃO Após a interdição do réu, é válida a renúncia ao direito de recorrer formulada pelo seu advogado constituído? STJ 1. A sentença de interdição tem natureza constitutiva, pois não se limita a declarar uma incapacidade preexistente, mas também a constituir uma nova situação jurídica de sujeição do interdito à curatela, com efeitos ex nunc. 2. Outorga de poderes aos advogados subscritores do recurso de apelação que permanece hígida, enquanto não for objeto de ação específica na qual fique cabalmente demonstrada sua nulidade pela incapacidade do mandante à época da realização do negócio jurídico de outorga do mandato. 3. Interdição do mandante que acarreta automaticamente a extinção do mandato, inclusive o judicial, nos termos do art. 682 , II , do CC . 4. Inaplicabilidade do referido dispositivo legal ao mandato outorgado pelo interditando para atuação de seus advogados na ação de interdição,sob pena de cerceamento de seu direito de defesa no processo de interdição. 5. A renúncia ao direito de recorrer configura ato processual que exige capacidade postulatória, devendo ser praticado por advogado. 6. Nulidade do negócio jurídico realizado pelo interdito após a sentença de interdição. (REsp 1251728, 3ª Turma, Rel. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 14/05/2013) REFLEXÃO FINAL Nunca existiu uma grande inteligência sem uma veia de loucura. (Aristóteles)
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