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Processo Tributário 1 PROCESSO TRIBUTÁRIO NOÇÕES GERAIS A administração tributária coloca-se como uma das principais funções do Estado e, apesar de indesejada pela grande maioria das pessoas, é fundamental para a própria existência do Estado/Socie- dade já que é condição de ordem econômica na realização dos mais variados fins para qual o Estado é criado. Ao tributar, o Estado exerce o chamado poder tributário, atua- ção que representa gravíssima restrição à propriedade particular. Em função disto, em modernos Estados de Direito, cabe à Consti- tuição delimitar o uso de referido poder, definindo regras e princí- pios orientadores da atuação do legislador tributário além de outras normas que orientarão a administração tributária, enquanto ativi- dade própria do Poder Executivo, afinal, ilegalidades e abusos ra- ramente se encerram com a mera positivação de uma lei. Para Kiyoshi Harada , a “administração tributária é a atividade do poder público voltada para a fiscalização e arrecadação tributária. É um procedimento que objetiva verificar o cumprimento das obri- gações tributárias, praticando, quando for o caso, os atos tendentes a deflagrar a cobrança coativa e expedir as certidões comprobatórias da situação fiscal do sujeito passivo”. (HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário) Noutras palavras, administração tributária refere-se ao agir do Estado no sentido de realizar a norma tributária no mundo concreto. Dessa forma se insere o processo tributário enquanto meio – judicial ou administrativo – de garantir em favor do particular o respeito aos mais variados mandamentos constitucionais ou legais 2 por parte do Estado legislador e administrador, afastando incons- titucionalidades, ilegalidades e abusos eventualmente cometidos no exercício do poder tributário. O processo tributário é, portanto, o modo de agir do poder tributário em uma sociedade democrática. Em um Estado democrático o processo, enquanto relação jurí- dica instrumental orientada a princípios e destinada a um fim, se coloca como o mais adequado meio para a solução participativa de eventuais controvérsias. No entanto, ao se afirmar a existência de amplo conjunto de re- gras e princípios orientadores do processo tributário, tanto numa via administrativa como na judicial, faz-se necessário esclarecer uma importante questão já bastante tratada e superada pela dou- trina, porém, cuja discussão é relevante para nosso estudo: existe de fato um processo administrativo? Qual a diferença entre processo e procedimento? PROCESSO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO Definir a existência de uma relação de natureza processual no âmbito administrativo nem sempre foi fácil. Tradicionalmente a concepção do agir administrativo vinculava-se exclusivamente à no- ção de subordinação do administrado ao interesse público. A preo- cupação do administrador público resumia-se à observância da le- galidade que definia competências e etapas a serem seguidas. Todo o atuar administrativo resumia-se ao agir conforme o procedi- mento. Felizmente o atual entendimento é distinto. Entre o adminis- trado e o administrador público pode-se instaurar uma relação pro- cessual bastante similar àquela ocorrida em um processo judicial, daí afirmar-se a existência de um processo administrativo. Processo Tributário 3 No âmbito do direito administrativo, aponta Maria Sylvia Zan- ella di Pietro que “não se confunde processo com procedimento. O primeiro existe sempre como instrumento indispensável para o exercício de função administrativa; tudo o que a Administração Pú- blica faz, sejam operações materiais ou atos jurídicos, fica docu- mentado em um processo; [...] executar uma obra, celebrar um con- trato, editar um regulamento; [...]. O Procedimento é o conjunto de formalidades que devem ser observados para a prática de certos atos administrativos; equivale a rito, a forma de proceder; o proce- dimento se desenvolve dentro de um processo administrativo.” Ou seja, não se abandona a ideia de procedimento, o que verifica na realidade é a necessária absorção deste conceito pela noção mais ampla de processo administrativo. Tal discussão é encarada ainda hoje pelo direito tributário, po- dendo-se identificar tanto um conceito relativo à procedimento fis- cal como a processo fiscal. Em rápida análise da doutrina tributária, verifica-se a coexistên- cia de duas correntes doutrinárias que divergem sobre a expressão procedimento administrativo fiscal: a) uma primeira, que afirma que procedimento administrativo fiscal é todo e qualquer conjunto de atos que precede à fase contenciosa da cobrança de tributo ou multa; e b) uma segunda corrente indica que por procedimento ad- ministrativo fiscal entende-se somente o lançamento (por qualquer de suas modalidades) não impugnado pelo sujeito passivo, exau- rindo-se com o pagamento do montante do tributo e seus acrésci- mos legais. Ou seja, qualquer que seja a corrente adotada, a noção fiscal de procedimento indica a atuação da administração tributária relativa à prática de atos anteriores à participação do sujeito passivo (contribuinte ou responsável). Assim, advoga a doutrina contem- porânea que na medida em que o sujeito passivo formaliza uma re- lação dialógica com a administração tributária passa-se a afirmar a 4 existência de uma verdadeira relação processual, ou seja, ultrapassa- se a concepção de um agir procedimental para um agir processual. Para Hugo de Brito Machado, o processo administrativo Fiscal compreende, em sentido amplo, o conjunto de atos administrativos tendentes ao reconhecimento, pela autoridade competente, de uma situação jurídica pertinente à relação fisco-contribuinte. Portanto, o processo administrativo Fiscal abarcaria todas as fases compre- endidas na chamada dinâmica da relação fisco-sujeito passivo, isto é, desde os atos preparatórios ao lançamento até a solução do con- tencioso administrativo. Celso Antônio Bandeira de Mello sintetiza a controvérsia e as distintas posições doutrinárias de forma precisa, nos seguintes ter- mos: “Temos, até o presente, nos referido a procedimento ou pro- cesso porque os autores e até as leis mencionadas divergem a ter- minologia adequada para batizar tal fenômeno. Não há negar que a nomenclatura mais comum no direito administrativo é procedi- mento, expressão que se consagrou entre nós, reservando-se, no Brasil o nomen juris processo para os casos contenciosos, a serem solutos por um “julgamento administrativo”, como ocorre no “pro- cesso tributário” ou nos “processos disciplinares dos servidores pú- blicos”. Não é o caso de armar-se um “cavalo de batalha” em torno de rótulos. Sem embargo, cremos que a terminologia adequada para designar o objeto em causa é “processo”, sendo o “procedimento” a modalidade ritual de cada processo”. Ressalta-se, dessa forma, a distinção de procedimento tributá- rio/fiscal e processo tributário/fiscal, sendo o primeiro usado para designar ora a atuação unilateral do fisco, ora para designar o rito a ser adotado em uma determinada relação processual. Sendo que por processo tributário entende-se a relação jurídico processual que se instaura entre fisco-sujeito passivo em torno de um dado interesse de ordem fiscal. Processo Tributário 5 PRINCÍPIOS GERAIS DO PROCESSO TRIBUTÁRIO ISONOMIA Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contri- buinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encon- trem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independen- temente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou di- reitos; PRINCÍPIODA AUTOTUTELA VINCULADA AO ENTE TRIBUTANTE Trata-se da necessidade que o Estado reúna meios céleres para a atuação da norma tributária. Esta autotutela comporta dois momentos distintos: • O acertamento da obrigação tributária; • Julgamento de eventual resistência deduzida pelo contribu- inte (conflito de interesses deduzido pelo cidadão ante o órgão administrativo com funções julgadoras); 6 E deve haver a conformação da atuação do julgador administrativo ao devido processo legal; PRINCÍPIO DA DUALIDADE DE COGNIÇÃO Princípio que advém da necessidade política dos governantes em trazer para si a solução dos problemas tributários. A lide tributária deve passar por uma etapa de julgamento adminis- trativo. Portanto, coaduna com o princípio do Estado de Direito a proces- sualização dos trâmites administrativos. PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO PROCESSUAL É princípio derivado do princípio da dualidade de cognição. Este princípio destina-se a evitar e corrigir os desacertos tão fre- quentes no confronto entre as duas etapas processuais tributárias, a administrativa e a judicial. É princípio racional que busca evitar a superposição de “esferas cog- nitivas”, com evidente e desnecessário desgaste do aparelho estatal. PRINCÍPIO DA TUTELA EFETIVA Trata-se do fortalecimento dos poderes judiciais em sua função de controle dos atos administrativos em matéria tributária. Processo Tributário 7 • Através de procedimentos céleres (através de remédios constitucionais como o mandado de segurança ou medidas cautelares ou mesmo antecipatórias), logra-se obter a pro- teção aos eventuais desvios na atividade administrativa, seja de fiscalização, lançamento ou mesmo de solução de conflitos tributários deduzidos administrativamente. PRINCÍPIO DA JUSTIÇA TRIBUTÁRIA A busca pela justiça no âmbito do processo tributário é elemento de aproximação e harmonização entre a etapa administrativa e a judicial, ainda cada qual com seu método próprio. E quando o fim administrativo específico vem a colidir com o fim genérico de justiça este último deve prevalecer. 8 PROCESSO ADMINISTRA- TIVO TRIBUTÁRIO NOÇÕES GERAIS Processo Administrativo Tributário ou Fiscal é todo aquele que se destina à determinação, exigência ou dispensa do crédito tributário, bem como a fixação do sentido e alcance de normas de tributação em casos concretos ou hipotéticos. • Visa disciplinar dentro da esfera administrativa as relações entre o fisco e o contribuinte; • É disciplinado por lei; • Devido ao principio federativo que prevê a autonomia e in- dependência de cada entidade tributante, cada qual cria seus tributos e estabelece as formalidades para sua fiscali- zação e arrecadação. • O processo administrativo federal é regido pelo Decreto Federal n° 70.235/1972, que disciplina tanto a fase conten- ciosa quanto não contenciosa; • Ainda contamos com as normas contidas no Código Tri- butário Nacional nos arts. 142, 149, 151 e 194 a 200, e, o art. 2º § 3º da Lei nº 6.830/80, além de inúmeros disposi- tivos pertinentes do regulamento do imposto de renda. INICIO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBU- TÁRIO Processo Tributário 9 LANÇAMENTO FISCAL Com a finalização dos atos fiscalizatórios e apurado o crédito tri- butário sua exigência será formalizada pela lavratura do Auto de Infração e Imposição de Multa – AIIM, ou a Notificação de Lan- çamento (instruídos de documentos indispensáveis para a compro- vação do ato). Com a notificação do lançamento, tem-se por definitivamente constituído o crédito tributário, cessando, portanto, a cogitação de decadência para iniciar a de prescrição. Tem por objetivo formalizar o crédito tributário em decorrência da concretização do fato gerador (fato imponível) que se apresenta como ato ilícito, possibilitando o recolhimento do tributo. AUTO DE INFRAÇÃO O Auto de Infração e Imposição de Multa – AIIM – é o documento forma no qual a Fazenda Pública aponta o ilícito praticado pelo sujeito passivo da obrigação tributária, impondo-lhe a respectiva penalidade, possibilitando o recolhimento da multa fiscal. Elementos: i. A qualificação do autuado; ii. O local, a data e a hora da lavratura; iii. A descrição do fato; iv. A disposição legal infringida e a penalidade aplicável; v. A assinatura do agente público que está realizando o auto de infração, além da indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. • Concordando com o lançamento notificado, o contribuinte efetiva o pagamento; 10 • Caso discorde do auto de infração ou do lançamento noti- ficado, o contribuinte: – Pode ofertar a Defesa (ou Reclamação ou Impug- nação) prevista no art. 151, III, CTN., em regra, no prazo de 30 dias. • Antes de efetuado o lançamento ou qualquer outro ato ten- dente à apuração ou fiscalização do tributo pela adminis- tração tributária pode ainda o sujeito passivo provocar o início do PAT por iniciativa própria através da Consulta ou da Denúncia. Afirma-se, desta forma que o PAT abrange a impugnação, a con- sulta e a denúncia espontânea. PRINCÍPIOS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRI- BUTÁRIO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE OBJETIVA O processo administrativo deve ser instaurado com base na lei e para a preservação dela. A administração compele o contribuinte a cumprir a lei, ao passo que a autoridade administrativa também será obrigada a atuar den- tro dos limites legais PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE Processo Tributário 11 A Administração Pública pode instaurar por iniciativa própria, pro- cedimentos tendentes à realização de sua atividade. A movimentação do processo caberá à Administração pela autori- dade tributária, dispensando o impulso das partes. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE No processo administrativo não são necessárias formas rígidas para o trâmite processual, devendo a norma reguladora exigir apenas as formalidades que sejam necessárias para assegurar a certeza e a lici- tude do procedimento. Não é obrigatória a representação por advogado. PRINCÍPIO DA VERDADE MATERIAL No processo administrativo serão consideradas todas as provas e fa- tos novos, ainda que desfavoráveis a Fazenda Pública, mesmo que não tenham sido alegados ou declarados, desde que sejam provas lícitas. Interessa à Administração que seja apurada a verdade real dos fatos ocorridos. PRINCÍPIO DA REVISIBILIDADE Ao contribuinte é dado o direito de submeter às autoridades hie- rarquicamente superiores à revisão de decisões administrativas. Tal princípio não encontra previsão legal expressa, mas derivam de normas que tratam do devido processo legal e da ampla defesa. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL 12 É previsto em nosso ordenamento jurídico no art.5º, inciso LIV, este assegura que ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem que haja um processo regulado por normas legais previa- mente estabelecidas que garantam a igualdade das partes envolvidas no conflito. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA O princípio do contraditório garante à parte adversa o direito de se manifestar e, impõe exposição de motivos como requisito de vali- dade do processo. A ampla defesa consiste na oportunidade para contraditar e se ma- nifestar. IMPUGNAÇÃO Deverá conter: I. A autoridade julgadora a quem é dirigida; II. A qualificação do impugnante; III. Os motivos de fato e de direito em que se fundamenta os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; “O processo administrativo tributário na área federal é regido pelo Decreto nº 70.235 de 06/03/1972, baixado pelo Executivo por de- legação do Decreto Lei nº822/69, e com fundamento no poder de regular inscrito, atualmente no art. 84 inciso IV da Constituição Federal.” (HARADA, Kiyoshi Harada. Direito Financeiro e Tribu- tário. 9ª ed. São Paulo: Atlas.2002, p. 473.) Processo Tributário 13 O Decreto nº 70.235/1972 tanto define os atos e termos a que estão sujeitos a Administração para se instaurar um procedimento fiscal, como também estabelece os mecanismos a serem adotados pelo Contribuinte para que, no caso de algum equívoco cometido pela Fazenda Pública, possa opor suas alegações contra o lançamento, mediante impugnação ou recurso voluntário. O Decreto nº 70.235/1972, que dispõe sobre o Processo Adminis- trativo Fiscal federal possui vários elementos que podem servir de orientação para os Processos Administrativos Fiscais das três esfe- ras de governo. A exigência tributária decorre de uma relação jurídica, que nasceu por conta da ocorrência de fato gerador de um tributo ou em razão de obrigação acessória não cumprida, surge a figura do lançamento tributário. Até que ocorra o lançamento, os atos que o antecedem configuram mero procedimento, isto é, uma sequência ordenada de atos, com vistas a atingir um fim: a constituição do crédito tributário. Na forma do art. 7º do Decreto nº 70.235/1972 o procedimento fiscal tem inicio com: I. o primeiro ato de oficio, escrito, praticado por servidor competente, cientificado o sujeito passivo da obrigação tri- butária ou seu preposto; II. a apreensão de mercadoria, documentos ou livros; III. o começo de despacho aduaneiro de mercadoria importada. Iniciado o procedimento fiscal: i. exclui-se a espontaneidade do sujeito passivo em relação aos atos anteriores; ii. torna ineficaz eventual consulta que venha a ser formulada diante do objeto de fiscalização; 14 iii. obsta a retificação da declaração de rendimentos, sem au- torização da autoridade competente. A impugnação É dirigida à autoridade de primeira instância do ente federativo; No processo federal é dirigida às Delegacias da Receita Federal de Julgamento, conforme o órgão que administra a receita. Efeitos: • Com a apresentação da impugnação instaura-se a fase liti- giosa do procedimento; • Suspende a exigibilidade do crédito tributário impedindo o ajuizamento da execução fiscal; • O impugnante deverá formular as diligências ou pericias que pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem com a formulação dos quesitos, referentes aos exames desejados, assim como, no caso de pericia, o nome, o endereço e a qualificação profissional de seu perito Julgado procedente: em regra, a autoridade fiscal, de ofício, reme- terá o expediente à autoridade superior para reexame. Julgado improcedente: caberá recurso voluntário ao órgão de se- gunda instância, observado o prazo da legislação específica Órgãos preparadores: São as autoridades locais dos órgãos encar- regado da administração do tributo a quem é atribuída a função de preparar o processo, isto é, instruir e promover o andamento do processo. Órgãos julgadores: Conforme dispõe o art. 25 os órgãos julgado- res são: Primeira Instância: Processo Tributário 15 a) Delegacias da Receita Federal de Julgamento, órgãos de deliberação interna e natureza colegiada da Secretaria da Receita Federal, ligadas ao tributo questionado; b) As autoridades mencionadas na legislação de cada um dos demais tributos, ou na falta dessa indicação aos chefes de proteção regional ou local da entidade que administra o tri- buto; c) Segunda Instância: d) Os Conselhos de Contribuintes (são em número de três, subdivididos em câmaras, cada uma com oito membros, quatro representante do fisco e os outros quatro represen- tante dos contribuintes, indicados por entidades de classe) do Ministério da Fazenda a quem cabe julgar recursos, de ofício e voluntário, de decisões de primeira instância. Segunda Instância: Das decisões proferidas pelas câmaras dos conselhos de contribuin- tes cabe interposição de recurso especial ao Conselho Administra- tivo de Recursos Fiscais – CARF: a) pela Procuradoria da Fazenda Nacional nos casos de deci- são não unânime da Câmara, quando for contraria à lei ou evidência de prova; b) pelo contribuinte ou pela Procuradoria da Fazenda Nacio- nal, nos casos de decisão que der à lei interposição diversa da que lhe tenha dado outra Câmara ou o próprio CARF. CARF: É órgão colegiado, paritário; integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, com atribuição de julgar recursos de ofí- cio e voluntários de decisão de primeira instância, bem como re- cursos de natureza especial. Depósito para recurso Administrativo A exigibilidade, por lei, de depósito ou arrolamento prévios de di- nheiro ou outros bens para que o recurso administrativo pudesse ser 16 admitido foi muito contestado e criticado pela doutrina e exami- nado pelo Supremo Tribunal Federal em várias oportunidades. ADI 1.976/DF (Joaquim Barbosa, 28-03-2007), Dje-018 public. 18-05-2007) Súmula Vinculante nº 21 – É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade de re- curso administrativo. Súmula Vinculante nº 28 – É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pre- tenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. Decisões Definitivas Nos termos do art. 42. São definitivas as decisões: I. de primeira instância esgotado o prazo para recurso volun- tário sem que este tenha sido interposto; II. de segunda instância de que não caiba recurso ou, se cabí- vel, quando decorrido o prazo sem sua interposição; III. de instância especial. Parágrafo único. Serão também definitivas as decisões de primeira instância na parte que não for objeto de recurso voluntário ou não estiver sujeita a recurso de ofício. 1. Em caso de decisões favoráveis ao contribuinte, e em caso de desfavoráveis o mesmo será intimado para dar cumpri- mento, sob pena de encaminhamento do processo respec- tivo à autoridade competente para promover a cobrança executiva. 2. Nas decisões desfavoráveis cabe ainda ao contribuinte se socorrer do judiciário questionando o referido crédito tri- butário. Processo Tributário 17 CONSULTA TRIBUTÁRIA A consulta é o meio de que dispõe o sujeito passivo para dirimir dúvidas acerca da interpretação e aplicação da legislação tributária. Durante o período de análise, isto é, enquanto não houver decisão, a Fazenda Pública está impedida de adotar quaisquer medidas co- ercitivas com o objetivo de exigir o tributo sobre o qual versa a con- sulta formulada. Em âmbito federal, os artigos 48, 49 e 50 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, dispõe sobre os processos administrativos de consulta tributária. LEGITIMIDADE ATIVA Art. 2º da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013: • Sujeito passivo da obrigação tributária; • Órgão da Administração Pública; • Entidade representativa de categoria econômica ou profis- sional. REQUISITOS • -deve ser formulada nos limites das competências tributá- rias constitucionalmente fixadas; • poderá versar unicamente sobre a interpretação e aplicação da lei tributária; • deve existir real interesse do consulente, haja vista sua di- reta ligação com a possível exação fiscal; 18 • não pode ter sido iniciado procedimento administrativo tributário ou processo judicial sobre o fato ou situação. EFEITOS • Impedir o Fisco de adotar quaisquer medidas coercitivas com o objetivo de exigir o tributo sobre o qual versa a con- sulta formulada; • Suspensão da exigibilidade do tributo, enquanto não apre- ciada a consulta;• Enquanto pendente de resposta, evita a cobrança de juros moratórios, a imposição de penalidades ou a aplicação de medidas de garantia (art. 161, § 2º, do CTN); • A consulta não afasta a atualização monetária do eventual débito existente. DENÚNCIA ESPONTÂNEA A denúncia espontânea da infração é espécie de privilégio ou favor legal fixado pela lei, no art. 138 do CTN. Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbi- trada pela autoridade administrativa, quando o montante do tri- buto dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apre- sentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração. Processo Tributário 19 O instituto se revela como pagamento espontâneo, pelo contribu- inte, do seu débito tributário. Da leitura do dispositivo supraci- tado, verifica-se que, para que o mesmo reste caracterizado, é in- dispensável que a conduta do contribuinte se antecipe a qualquer ato fiscalizatório ou administrativo por parte da autoridade com- petente. Em razão da denúncia espontânea, o contribuinte se beneficia com o pagamento do montante devido, acrescido apenas de juros de mora, restando excluída a multa. • O STJ tem o entendimento no sentido de que não se aplica o benefício da denúncia espontânea às obrigações tributárias acessórias autônomas, não excluindo a multa moratória. • Súmula 30 do STJ: O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo. • Parcela da doutrina (Hugo de Brito Machado, Leandro Paulsen) sustenta o entendimento no sentido de que o instituto da denúncia espontânea é aplicável tanto para obrigação principal como para a acessória. "TRIBUTÁRIO. AUTO-LANÇAMENTO. TRIBUTO SE- RODIAMENTE RECOLHIDO. MULTA. DISPENSA DE MULTA (CTN , ART. 138). Contribuinte em mora com tributo por ele mesmo declarado não pode invocar o art. 138 do CTN para se livrar da multa relativa ao atraso (RESP 180.918 /HUMBERTO)" (RESP 402.706/SP , 1ª Turma, Min. Humberto Gomes de Barros, julgado em 18.11.2003). 20 SOLUÇÃO DE CONSULTA INTERNA COSIT Nº 8, DE 30 DE MAIO DE 2016 Publicada no sítio da RFB na internet em 02/06/2016. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁ- RIO DENÚNCIA ESPONTÂNEA. PENALIDADES PECUNIÁ- RIAS ADMINISTRATIVAS. Somente é possível admitir denúncia espontânea, tributária ou ad- ministrativa, se não for violada a essência da norma, suas condi- ções, seus objetivos e, consequentemente, se for possível a repara- ção. Inadmissível a denúncia espontânea para tornar sem efeito norma que estabelece prazo para a entrega de documentos ou informa- ções, por meio eletrônico ou outro que a legislação aduaneira de- terminar. Dispositivos Legais: Art. 138 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), art. 102, § 2º, do De- creto-Lei nº 37, de 18 de novembro de 1966, com redação dada pelo art. 40 da Lei nº 12.350, de 2010, e art. 683, § 2º, do De- creto nº6.759, de 5 de fevereiro de 2009, com redação dada pelo Decreto nº 8.010, de 2013. Tributo lançado por homologação: obrigação acessória vinculada à apuração do quantum: admissão da denúncia espontânea.
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