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Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 52 CAPÍTULO 05 CISALHAMENTO EM VIGAS No capítulo anterior demonstramos as equações que determinam o valor da tensão normal que surge na seção transversal de uma viga quando submetida a um carregamento de flexão. No estudo das tensões normais em vigas adotamos a hipótese de Bernoulli (as seções planas de uma viga, tomadas normalmente a seu eixo, permanecem planas após a viga ser submetida à flexão) e, a partir dessa suposição verificamos que o momento fletor produz tensões normais linearmente distribuídas sobre a seção analisada (hipótese de Navier). Nesse capítulo, faremos uma demonstração das equações que determinam o valor da tensão cisalhante que surgem em uma viga submetida a um carregamento de flexão. 5.1. Tensão cisalhante em um plano horizontal Seja a viga em balanço da Fig. 37 submetida a uma força vertical P. Fig. 37. Tensão cisalhante em vigas. Analisando um elemento de face ABCD da viga, verificamos que o mesmo está submetido a esforços normais causados devido à flexão. Na seção vertical que passa por AC a tensão normal é determinada por: I y.x.P I y.MAC AC Eq. 31. Tensão longitudinal em uma viga em balanço. Já na seção vertical que passa por BD a tensão normal é determinada por: I y).dxx.(P I y.MBD BD Eq. 32. Tensão longitudinal em uma viga em balanço. As tensões AC e BD geram forças opostas como apresentadas abaixo. Fig. 38. Análise de tensão cisalhante em vigas. Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 53 As forças determinadas por AC e BD podem ser calculadas da seguinte maneira: BD y y BD y y BD y y BDBD dA.yI MdA I y.MdAF 111 AC y y AC y y AC y y ACAC dA.yI MdA I y.MdAF 111 De acordo com as Eq. 32 e Eq. 31 AC < BD, logo FAC FBD e, para o equilíbrio horizontal da face ABCD da viga, deverá existir uma força horizontal H. Dessa maneira temos a seguinte equação de equilíbrio na horizontal: H = FBD - FAC .: y y ACBD y y AC y y BD dA.y I )MM(dA.y I MdA.y I MH 111 Para valores infinitesimais dx o momento irá variar valores infinitesimais dM. Dessa maneira, para o caso demonstrado, a variação do momento (MBD MAC) é igual a dM=Vdx 3. Então: y y y y dA.y I dx.VdA.y I dMH 11 .: dx. I Q.VH Eq. 33. Força horizontal na flexão de uma viga em balanço. A integral y y dA.y 1 , indicado por Q na Eq. 33, representa o momento estático em relação a LN. Vale lembrar que y y y y dA.ydA.y 11 . Para determinarmos a tensão cisalhante no plano horizontal basta dividir H área de cisalhamento dx.t. t.I Q.V dx.t H h Eq. 34. Tensão cisalhante horizontal na flexão de uma viga em balanço. Onde: h= tensão cisalhante no plano horizontal localizado a uma distancia y1 da linha neutra. V= força cortante na seção transversal. Q= momento estático da área limitada pela distância y1 da linha neutra. I = momento de inércia da área total da seção. t= largura da seção no ponto onde se deseja determinar . Observação: - h será máximo no plano que contem a linha neutra. - A tenção cisalhante vertical v é igual h. Isso garante o equilíbrio do elemento. Fig. 39. v é igual h 3 Relação entre a força cortante e o momento fletor. Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 54 Exercício Resolvido 18 A seção transversal de uma viga construída com um perfil retangular, como mostrado na figura, está sujeita a uma força cortante V = 20kN. Determine o valor da tensão tangencial nos pontos B C e D nessa seção. Solução: V= 20.000N 4 33 000450 12 3020 12 m, ,.,bhI t=0,2m Determinação de Q Em B QB = 0,1075.0,2.0,075= 0,0016 m3 Em C QC = 0,075.0,2.0,15= 0,0023 m3 Em D QD = 0,0375.0,2.0,225= 0,0016 m3 Determinação de kPa, ,., ,. t.I Q.V B B 5635520000450 0016020000 kPa, ,., ,. t.I Q.V B C 1151120000450 0023020000 = ( máx na altura da linha neutra) kPa, ,., ,. t.I Q.V B D 5635520000450 0016020000 Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 55 Exercício Proposto 57 A viga com seção transversal mostrada na figura está sujeita a um esforço cortante V = 15 kN. Determine o valor da tensão de cisalhamento nos pontos A e B. Resposta: 1,99 MPa e 1,65 MPa Exercício Proposto 58 Para a viga mostrada na figura, determine: a) a tensão tangencial no ponto B da seção transversal a-a; b) a tensão tangencial máxima na seção a-a. Resposta: 4,41 MPa e 4,85 MPa Exercício Proposto 59 A viga T mostrada na figura abaixo está sujeita ao carregamento indicado. Determine a tensão de cisalhamento máxima nesta viga. Resposta: 14,7 MPa. 5.2. Vigas Compostas A Fig. 40 ilustra três tipos de vigas compostas. A primeira é uma viga-caixão de seção transversal quadrada formada por quatro placas de madeira presas por pregos, parafusos ou cola. A segunda é uma viga formada por três chapas de aço soldadas e a última é formada por dois perfis U reforçada por duas chapas presas por rebites. Fig. 40. Vigas compostas Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 56 As tensões na viga composta são calculadas normalmente, supondo que as partes estejam rigidamente ligadas, de maneira que ela se comporte como uma viga única. O papel da força H (Eq. 34) em uma viga fletida é garantir a colaboração das partes da seção separadas por um corte imaginário, evitando o deslizamento relativo dos elementos separados pelo corte. No caso das vigas compostas, em que as partes são unidas por pregos, parafusos ou rebites, o papel da força H é desempenhado por forças discretas transmitidas pelos elementos de fixação. Para resolução de problemas que envolvem vigas compostas geralmente utilizamos o conceito de fluxo de cisalhamento (q). Esse fluxo a quantidade de força por unidade de comprimento, ou seja: I Q.Vq dx dx. I Q.V dx Hq Eq. 35. Fluxo cisalhante horizontal. O valor do momento estático deve ser identificado corretamente para que o fluxo de cisalhamento corresponda realmente ao que ocorre na junção que está sendo analisada. Nas seções transversais mostradas na figura abaixo, as partes destacadas com hachuras são unidas à viga por elementos de fixação. Nos planos do acoplamento, o valor do momento estático Q é calculado multiplicando-se a área destacada pela distância y do centróide até a linha neutra (LN) da seção. Fig. 41. Momento estático em vigas compostas Convém observar que o valor de q será resistido por um único elemento de fixação no caso da Fig. 41a, por dois elementos nas Fig. 41b e Fig. 41c e por três na Fig. 41d. Em outras palavras, o elemento de fixação na Fig. 41a suporta o valor calculado de q, em Fig. 41b e Fig. 41c cada elemento de fixação suporta q/2 e na Fig. 41d q/3. Exercício Resolvido 19 A seção t ransversal de um a viga é composta de quat ro tábuas coladas conform e m ost ra a figura 7a. Supondo que ela esteja subm et ida à força cortante V = 850 kN, determinar o fluxo de cisalham ento em B e C que deve ser resistido pela cola. Solução: Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 57 Determinação do centróidea partir da parte inferior da viga (medidas em cm): Determinação do momento de inércia em torno da linha neutra Cálculo dos momentos estáticos das áreas hachuradas Como existem duas faces de união para prender cada tábua, a cola deve ser suficientemente forte para resistir a metade do fluxo de cisalhamento calculados para B-B e C-C . Assim temos os fluxos de cisalhamento em B e C: Exercício Proposto 60 Um a viga é const ruída pela colagem de t rês peças de plást ico com o m ost rado. Se para o plástico adm = 800 psi e sabendo que a cola pode resist ir até 250 lb/ in, determ inar o valor admissível para a carga distribuída w. Resposta: 177 lb/ft Exercício Proposto 61 A viga m ost rada na figura é const ruída com duas pranchas de m adeira unidas por duas filas de pregos, afastados ent re si por 6 in. Se cada prego pode suportar um a força cortante de 500 lb, determ ine a m áxim a força cortante V que pode atuar nesta viga. Resposta: 444 lb Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 58 CAPÍTULO 06 ESTADO DE TENSÕES Durante todo o curso buscamos determinar as tensões normais e cisalhantes correspondentes aos mais diversos tipos de solicitações. No quadro a seguir apresentamos o resumo do que foi até então demonstrado: Quadro 5. Carregamento x Tensão. Carregamento Tensão Normal Tensão Cisalhante Força Axial (F) A F m --- Torção em eixos (T) --- J c.T Flexão em vigas(M) I c.M --- Força Cortante em vigas (V) --- t.I Q.V Relembrando um pouco mais sobre o que foi apresentado durante o curso, no capítulo 01 demonstramos que um carregamento axial pode gerar tensões cisalhantes em planos não perpendiculares ao carregamento axial. Nesse capítulo, estudaremos os efeitos das tensões normais e cisalhantes em planos oblíquos; transformação de tensões. 6.1. Estado geral de tensões Desde o estudo da Estática, realizado na disciplina de Mecânica dos Sólidos I, vimos que para manter um corpo rígido em equilíbrio seria necessária a existência de carregamentos externos capazes de atuar sobre os seis graus de liberdade do elemento. Na figura abaixo ilustramos um cubo elementar submetido a um estado geral de tensões. De acordo com a figura, para a manutenção do equilíbrio, deveram existir três componentes ( x, y e z) normais e três componentes tangenciais ( xy= yx, xz= zx e yz= zy). Fig. 42. Estado geral de tensões. 6.2. Estado plano de tensões Diferente da figura anteriormente apresentado, na Fig. 43 duas faces do cubo elementar se encontram isentas de tensões, ou seja, xz= zx= yz= zy= z= 0. Nessa condição dizemos que o elemento está submetido ao estado plano de tensões. Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 59 Fig. 43. Estado plano de tensões. Nos capítulos anteriores estudamos diversas estruturas submetidas ao estado plano de tensões, mas, nos limitamos à análise das seções transversais. Por exemplo, no estudo de vigas e eixos estudamos apenas as tensões em uma seção transversal. Em alguns casos a tensões principais (tensões máximas) encontra-se em seções inclinadas do elemento. Para analisarmos as seções inclinadas de um elemento submetido a um estado plano de tensões apresentamos a figura abaixo: Fig. 44. Transformações de tensões. Conhecendo as tenções externas ( x, y e xy= yx= ), o equilíbrio nas direções dos eixos x e y do elemento triangular, limitado pela seção inclinada de área A, será estabelecido pelas seguintes equações: cos.Asen.sen.Asen.sen.cosA.cos.cosA.A'.F yx'x 0 22 2 sensen.cos.cos.' yx Eq. 36. Tensão normal em um plano inclinado. sen.Asen.cos.Asen.cos.cosA.sen.cosA.A'.F yx'y 0 )sen.(coscos.sen).(' yx 22 Eq. 37. Tensão cisalhante em um plano inclinado. Identidades trigonométricas: 2 21 2 212 2 2 2222 coscos;cossen;cossencos;sencos.sen Aplicando as identidades trigonométricas acima nas Eq. 36 e Eq. 37, obtemos: Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 60 22 22 sen.cos.' yxyx Eq. 38. Tensão normal transformada em um plano inclinado. 22 2 cos.sen' yx Eq. 39. Tensão cisalhante transforma em um plano inclinado. As Eq. 38 e Eq. 39 representam as leis de transformação de tensões em um estado plano de tensão. Exercício Resolvido 20 Duas peças de madeira de seção transversal uniforme de 90 x 150 mm são coladas uma a outra em um entalhe inclinado. A tensão admissível de cisalhamento da cola é de 483,33 kPa. Determine a maior carga axial P que pode ser aplicada sem que as peças se soltem. Solução: O elemento encontra-se sob estado uniaxial de tensões com ilustrado abaixo. Assim, 0y 103348370210150902 22 2 6 .,).(sen)...( P cos.sen' yx P = 20,30kN 6.2.1. Circulo de Mohr As equações Eq. 38 e Eq. 39 que representam as leis de transformação de um estado plano de tensão podem ser representadas graficamente de modo muito conveniente; Circulo de Mohr. Transpondo para o primeiro membro da Eq. 38 o termo ( x+ y)/2 elevando, em seguida, ao quadrado os dois membros da equação e elevando ao quadrado os dois membros da Eq. 39, somando os membros das duas equações vamos ter: 22 22 22 sen.cos.' yxyx + 2 2 22 2 cos.sen' yx 2 2 2 2 22 yxyx '' Eq. 40. Dedução do círculo de Mohr. Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 61 Fazendo agora, 2 yx med e 2 2 2 yxR , podemos reescrever a Eq. 40 da seguinte forma: 222 0 R'' med Eq. 41. Equação do círculo de Mohr. A equação Eq. 41 representa a equação de uma circunferência de raio R com centro no ponto de abscissa med e ordenada 0 (zero). Abaixo encontra-se a representação gráfica da equação Eq. 41. Fig. 45. Círculo de Mohr. Está construção gráfica foi apresentada pela primeira vez pelo engenheiro alemão Otto Mohr, em 1882, e é chamada de Círculo de Mohr. 6.2.2. Tensões e planos principais Os pontos A e B em que a circunferência intercepta o eixo horizontal (Fig. 45) tem um aspecto especial. O ponto A corresponde ao máximo valor da tensão normal (tensão normal principal) de enquanto o ponto B corresponde ao menor valor dessa tensão. Ao mesmo tempo, os dois pontos correspondem a um valor nulo de tensão cisalhante . Nos pontos D e E do círculo de Mohr a tensão cisalhante atinge o seu máximo valor (tensão cisalhante principal). De acordo com Fig. 45, temos: 2 2 22 yxyx médmáx R Eq. 42. Tensão normal máxima. 2 2 22 yxyx médmín R Eq. 43. Tensão normal mínima. 2 2 2 yx máx R Eq. 44. Tensão cisalhante máxima. Resistência dos Materiais I Prof.: Bruno Ceotto / Prof.: João Sedraz 62 correspondente ao ângulo formado pelo plano principal(onde ocorre máx) e o eixo x (referencial para determinação da tensão x). yx tg 22 Eq. 45. Ângulo principal de tensão. Exercício Proposto 62 Determinar, para cada um dos estados de tensões representados, a tensão normal e a tensão de cisalhamento que atuam em um plano paralelo à linha a-a. Resposta: a)-1,17 MPa e 35,19 MPa; b) 17,86 MPa e 50,3 MPa; c) -64,50 MPa e 7,40 MPa. Exercício Proposto 63 Determinar, para cada um dos estados de tensão abaixo representados: a orientação dos planos principais; as tensões principais; a máxima tensão de cisalhamento; a orientação dos planos das tensões máxima de cisalhamento; atensão normal associada à tensão máxima de cisalhamento. Resposta: a) 18,52 o e 108,52 o ; 66,10 MPa e -53,10 MPa; 59,60 MPa; -26,42 o e 63,57 o ; -2,5 MPa; b) 18,4 o e 108,4 o ; 151,7 MPa e 13,8 MPa; 69 MPa; -26,6 o e 63,4 o ; +82,75 MPa; c) -37 o e 53 o ; -27,2 MPa e -172,8 MPa; 72,8 MPa; 8 o e 98 o ; -100 MPa; d) -31 o e 59 o ; 130,0 MPa e -210,0 MPa; 170 MPa; 14 o e 104 o ; -40MPa.) Exercício Proposto 64 Várias forças são aplicadas ao tubo mostrado na figura. Sabendo-se que o tubo tem diâmetro, interno e externo, de 40 mm e 48 mm, respectivamente, determine as tensões normal e de cisalhamento no: a) ponto H, com lados paralelos aos eixos x e z; b) ponto K, com lados paralelos aos eixos x e y; c) os planos principais e as tensões principais relativas ao ponto K e H.
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