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Resistência dos Materiais I
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CAPÍTULO 05
CISALHAMENTO EM VIGAS
No capítulo anterior demonstramos as equações que determinam o valor da tensão normal que
surge na seção transversal de uma viga quando submetida a um carregamento de flexão.
No estudo das tensões normais em vigas adotamos a hipótese de Bernoulli (as seções planas de
uma viga, tomadas normalmente a seu eixo, permanecem planas após a viga ser submetida à flexão) e,
a partir dessa suposição verificamos que o momento fletor produz tensões normais
linearmente
distribuídas sobre a seção analisada (hipótese de Navier).
Nesse capítulo, faremos uma demonstração das equações que determinam o valor da tensão
cisalhante que surgem em uma viga submetida a um carregamento de flexão.
5.1. Tensão cisalhante em um plano horizontal
Seja a viga em balanço da Fig. 37 submetida a uma força vertical P.
Fig. 37. Tensão cisalhante em vigas.
Analisando um elemento de face ABCD da viga, verificamos que o mesmo está submetido a
esforços normais causados devido à flexão.
Na seção vertical que passa por AC a tensão normal é determinada por:
I
y.x.P
I
y.MAC
AC
Eq. 31.
Tensão longitudinal em uma
viga em balanço.
Já na seção vertical que passa por BD a tensão normal é determinada por:
I
y).dxx.(P
I
y.MBD
BD
Eq. 32.
Tensão longitudinal em uma
viga em balanço.
As tensões AC e BD geram forças opostas como apresentadas abaixo.
Fig. 38. Análise de tensão cisalhante em vigas.
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As forças determinadas por AC e BD podem ser calculadas da seguinte maneira:
BD
y
y
BD
y
y
BD
y
y
BDBD dA.yI
MdA
I
y.MdAF
111
AC
y
y
AC
y
y
AC
y
y
ACAC dA.yI
MdA
I
y.MdAF
111
De acordo com as Eq. 32 e Eq. 31 AC < BD, logo FAC
FBD e, para o equilíbrio horizontal da
face ABCD da viga, deverá existir uma força horizontal H. Dessa maneira temos a seguinte equação de
equilíbrio na horizontal:
H = FBD - FAC .:
y
y
ACBD
y
y
AC
y
y
BD dA.y
I
)MM(dA.y
I
MdA.y
I
MH
111
Para valores infinitesimais dx o momento irá variar valores infinitesimais dM. Dessa maneira,
para o caso demonstrado, a variação do momento (MBD MAC) é igual a dM=Vdx 3. Então:
y
y
y
y
dA.y
I
dx.VdA.y
I
dMH
11
.: dx.
I
Q.VH
Eq. 33.
Força horizontal na flexão de
uma viga em balanço.
A integral
y
y
dA.y
1
, indicado por Q na Eq. 33, representa o momento estático em relação a LN.
Vale lembrar que
y
y
y
y
dA.ydA.y
11
.
Para determinarmos a tensão cisalhante no plano horizontal basta dividir H área de cisalhamento
dx.t.
t.I
Q.V
dx.t
H
h
Eq. 34.
Tensão cisalhante horizontal na
flexão de uma viga em balanço.
Onde:
h= tensão cisalhante no plano horizontal localizado a uma distancia y1 da linha neutra.
V= força cortante na seção transversal.
Q= momento estático da área limitada pela distância y1 da linha neutra.
I = momento de inércia da área total da seção.
t= largura da seção no ponto onde se deseja determinar .
Observação:
- h será máximo no plano que contem a linha neutra.
- A tenção cisalhante vertical v é igual h. Isso garante o equilíbrio do elemento.
Fig. 39. v é igual h
3
Relação entre a força cortante e o momento fletor.
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Exercício Resolvido 18
A seção transversal de uma viga construída com um perfil retangular, como
mostrado na figura, está sujeita a uma força cortante V = 20kN. Determine o valor
da tensão tangencial nos pontos B C e D nessa seção.
Solução:
V= 20.000N
4
33
000450
12
3020
12
m,
,.,bhI
t=0,2m
Determinação de Q
Em B
QB = 0,1075.0,2.0,075= 0,0016 m3
Em C
QC = 0,075.0,2.0,15= 0,0023 m3
Em D
QD = 0,0375.0,2.0,225= 0,0016 m3
Determinação de
kPa,
,.,
,.
t.I
Q.V B
B 5635520000450
0016020000
kPa,
,.,
,.
t.I
Q.V B
C 1151120000450
0023020000
= ( máx na altura da linha neutra)
kPa,
,.,
,.
t.I
Q.V B
D 5635520000450
0016020000
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Exercício Proposto 57
A viga com seção transversal mostrada na figura está sujeita a um esforço
cortante V = 15 kN. Determine o valor da tensão de cisalhamento nos
pontos A e B.
Resposta: 1,99 MPa e 1,65 MPa
Exercício Proposto 58
Para a viga mostrada na figura, determine: a) a tensão tangencial no ponto B da seção transversal a-a;
b) a tensão tangencial máxima na seção a-a.
Resposta: 4,41 MPa e 4,85 MPa
Exercício Proposto 59
A viga T mostrada na figura abaixo está sujeita ao carregamento indicado. Determine a tensão de
cisalhamento máxima nesta viga.
Resposta: 14,7 MPa.
5.2. Vigas Compostas
A Fig. 40 ilustra três tipos de vigas compostas. A primeira é uma viga-caixão de seção
transversal quadrada formada por quatro placas de madeira presas por pregos, parafusos ou cola. A
segunda é uma viga formada por três chapas de aço soldadas e a última é formada por dois perfis U
reforçada por duas chapas presas por rebites.
Fig. 40. Vigas compostas
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As tensões na viga composta são calculadas normalmente, supondo que as partes estejam
rigidamente ligadas, de maneira que ela se comporte como uma viga única.
O papel da força H (Eq. 34) em uma viga fletida é garantir a colaboração das partes da seção
separadas por um corte imaginário, evitando o deslizamento relativo dos elementos separados pelo
corte. No caso das vigas compostas, em que as partes são unidas por pregos, parafusos ou rebites, o
papel da força H é desempenhado por forças discretas transmitidas pelos elementos de fixação.
Para resolução de problemas que envolvem vigas compostas geralmente utilizamos o conceito
de fluxo de cisalhamento (q). Esse fluxo a quantidade de força por unidade de comprimento, ou seja:
I
Q.Vq
dx
dx.
I
Q.V
dx
Hq
Eq. 35.
Fluxo cisalhante horizontal.
O valor do momento estático deve ser identificado corretamente para que o fluxo de
cisalhamento corresponda realmente ao que ocorre na junção que está sendo analisada. Nas seções
transversais mostradas na figura abaixo, as partes destacadas com hachuras são unidas à viga por
elementos de fixação. Nos planos do acoplamento, o valor do momento estático Q é calculado
multiplicando-se a área destacada pela distância y do centróide até a linha neutra (LN) da seção.
Fig. 41. Momento estático em vigas compostas
Convém observar que o valor de q será resistido por um único elemento de fixação no caso da
Fig. 41a, por dois elementos nas Fig. 41b e Fig. 41c e por três na Fig. 41d. Em outras palavras, o
elemento de fixação na Fig. 41a suporta o valor calculado de q, em Fig. 41b e Fig. 41c cada elemento de
fixação suporta q/2 e na Fig. 41d q/3.
Exercício Resolvido 19
A seção t ransversal de um a viga é composta de quat ro
tábuas coladas conform e m ost ra a figura 7a. Supondo que
ela esteja subm et ida à força cortante V = 850 kN,
determinar o fluxo de cisalham ento em B e C que deve ser
resistido pela cola.
Solução:
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Determinação do centróidea partir da parte inferior da viga (medidas em cm):
Determinação do momento de inércia em torno da linha neutra
Cálculo dos momentos estáticos das áreas hachuradas
Como existem duas faces de união para prender cada tábua, a cola deve ser suficientemente
forte para resistir a metade do fluxo de cisalhamento calculados para B-B e C-C . Assim temos
os fluxos de cisalhamento em B e C:
Exercício Proposto 60
Um a viga é const ruída pela colagem de t rês peças de plást ico com o m ost rado. Se para o
plástico adm = 800 psi e sabendo que a cola pode resist ir até 250 lb/ in, determ inar o valor
admissível para a carga distribuída w.
Resposta: 177 lb/ft
Exercício Proposto 61
A viga m ost rada na figura é const ruída com duas
pranchas de m adeira unidas por duas filas de
pregos, afastados ent re si por 6 in. Se cada prego
pode suportar um a força cortante de 500 lb,
determ ine a m áxim a força cortante V que pode
atuar nesta viga.
Resposta: 444 lb
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CAPÍTULO 06
ESTADO DE TENSÕES
Durante todo o curso buscamos determinar as tensões normais e cisalhantes correspondentes
aos mais diversos tipos de solicitações. No quadro a seguir apresentamos o resumo do que foi até então
demonstrado:
Quadro 5. Carregamento x Tensão.
Carregamento Tensão Normal Tensão Cisalhante
Força Axial (F)
A
F
m
---
Torção em eixos (T) ---
J
c.T
Flexão em vigas(M)
I
c.M
---
Força Cortante em vigas (V) ---
t.I
Q.V
Relembrando um pouco mais sobre o que foi apresentado durante o curso, no capítulo 01
demonstramos que um carregamento axial pode gerar tensões cisalhantes em planos não
perpendiculares ao carregamento axial. Nesse capítulo, estudaremos os efeitos das tensões normais e
cisalhantes em planos oblíquos; transformação de tensões.
6.1. Estado geral de tensões
Desde o estudo da Estática, realizado na disciplina de Mecânica dos Sólidos I, vimos que para
manter um corpo rígido em equilíbrio seria necessária a existência de carregamentos externos capazes
de atuar sobre os seis graus de liberdade do elemento.
Na figura abaixo ilustramos um cubo elementar submetido a um estado geral de tensões. De
acordo com a figura, para a manutenção do equilíbrio, deveram existir três componentes ( x, y e z)
normais e três componentes tangenciais ( xy= yx, xz= zx e yz= zy).
Fig. 42. Estado geral de tensões.
6.2. Estado plano de tensões
Diferente da figura anteriormente apresentado, na Fig. 43 duas faces do cubo elementar se
encontram isentas de tensões, ou seja, xz= zx= yz= zy= z= 0. Nessa condição dizemos que o elemento
está submetido ao estado plano de tensões.
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Fig. 43. Estado plano de tensões.
Nos capítulos anteriores estudamos diversas estruturas submetidas ao estado plano de tensões,
mas, nos limitamos à análise das seções transversais. Por exemplo, no estudo de vigas e eixos
estudamos apenas as tensões em uma seção transversal. Em alguns casos a tensões principais
(tensões máximas) encontra-se em seções inclinadas do elemento.
Para analisarmos as seções inclinadas de um elemento submetido a um estado plano de
tensões apresentamos a figura abaixo:
Fig. 44. Transformações de tensões.
Conhecendo as tenções externas ( x, y e xy= yx= ), o equilíbrio nas direções dos eixos x e y
do elemento triangular, limitado pela seção inclinada de área A, será estabelecido pelas seguintes
equações:
cos.Asen.sen.Asen.sen.cosA.cos.cosA.A'.F yx'x 0
22 2 sensen.cos.cos.' yx
Eq. 36.
Tensão normal
em um plano
inclinado.
sen.Asen.cos.Asen.cos.cosA.sen.cosA.A'.F yx'y 0
)sen.(coscos.sen).(' yx 22
Eq. 37.
Tensão
cisalhante em
um plano
inclinado.
Identidades trigonométricas:
2
21
2
212
2
2 2222 coscos;cossen;cossencos;sencos.sen
Aplicando as identidades trigonométricas acima nas Eq. 36 e Eq. 37, obtemos:
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22
22
sen.cos.'
yxyx
Eq. 38.
Tensão normal transformada em um plano inclinado.
22
2
cos.sen'
yx
Eq. 39.
Tensão cisalhante transforma em um plano inclinado.
As Eq. 38 e Eq. 39 representam as leis de transformação de tensões em um estado plano de tensão.
Exercício Resolvido 20
Duas peças de madeira de seção transversal uniforme de 90 x 150 mm são coladas uma a outra em um
entalhe inclinado. A tensão admissível de cisalhamento da cola é de 483,33 kPa. Determine a maior
carga axial P que pode ser aplicada sem que as peças se soltem.
Solução:
O elemento encontra-se sob estado uniaxial de tensões com ilustrado abaixo.
Assim,
0y 103348370210150902
22
2 6
.,).(sen)...(
P
cos.sen'
yx P = 20,30kN
6.2.1. Circulo de Mohr
As equações Eq. 38 e Eq. 39 que representam as leis de transformação de um estado plano de
tensão podem ser representadas graficamente de modo muito conveniente; Circulo de Mohr.
Transpondo para o primeiro membro da Eq. 38 o termo ( x+ y)/2 elevando, em seguida, ao
quadrado os dois membros da equação e elevando ao quadrado os dois membros da Eq. 39, somando
os membros das duas equações vamos ter:
22
22
22
sen.cos.'
yxyx
+
2
2 22
2
cos.sen'
yx
2
2
2
2
22
yxyx
''
Eq. 40.
Dedução do círculo de Mohr.
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Fazendo agora,
2
yx
med
e
2
2
2
yxR
, podemos reescrever a
Eq. 40 da seguinte forma:
222 0 R'' med
Eq. 41.
Equação do círculo de Mohr.
A equação Eq. 41 representa a equação de uma circunferência de raio R com centro no ponto de
abscissa med e ordenada 0 (zero).
Abaixo encontra-se a representação gráfica da equação Eq. 41.
Fig. 45. Círculo de Mohr.
Está construção gráfica foi apresentada pela primeira vez pelo engenheiro alemão Otto Mohr, em
1882, e é chamada de Círculo de Mohr.
6.2.2. Tensões e planos principais
Os pontos A e B em que a circunferência intercepta o eixo horizontal (Fig. 45) tem um aspecto
especial. O ponto A corresponde ao máximo valor da tensão normal (tensão normal principal) de
enquanto o ponto B corresponde ao menor valor dessa tensão. Ao mesmo tempo, os dois pontos
correspondem a um valor nulo de tensão cisalhante . Nos pontos D e E do círculo de Mohr a tensão
cisalhante atinge o seu máximo valor (tensão cisalhante principal).
De acordo com Fig. 45, temos:
2
2
22
yxyx
médmáx R
Eq. 42.
Tensão normal máxima.
2
2
22
yxyx
médmín R
Eq. 43.
Tensão normal mínima.
2
2
2
yx
máx R
Eq. 44.
Tensão cisalhante máxima.
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correspondente ao ângulo formado pelo plano principal(onde ocorre máx) e o eixo x (referencial
para determinação da tensão x).
yx
tg 22 Eq. 45.
Ângulo principal de tensão.
Exercício Proposto 62
Determinar, para cada um dos estados de tensões representados, a tensão normal e a tensão de
cisalhamento que atuam em um plano paralelo à linha a-a.
Resposta: a)-1,17 MPa e 35,19 MPa; b) 17,86 MPa e 50,3 MPa; c) -64,50 MPa e 7,40 MPa.
Exercício Proposto 63
Determinar, para cada um dos estados de tensão abaixo representados:
a orientação dos planos principais;
as tensões principais;
a máxima tensão de cisalhamento;
a orientação dos planos das tensões máxima de cisalhamento;
atensão normal associada à tensão máxima de cisalhamento.
Resposta:
a) 18,52
o
e 108,52
o
; 66,10 MPa e -53,10 MPa; 59,60 MPa; -26,42
o
e 63,57
o
; -2,5 MPa;
b) 18,4
o
e 108,4
o
; 151,7 MPa e 13,8 MPa; 69 MPa; -26,6
o
e 63,4
o
; +82,75 MPa;
c) -37
o
e 53
o
; -27,2 MPa e -172,8 MPa; 72,8 MPa; 8
o
e 98
o
; -100 MPa;
d) -31
o
e 59
o
; 130,0 MPa e -210,0 MPa; 170 MPa; 14
o
e 104
o
; -40MPa.)
Exercício Proposto 64
Várias forças são aplicadas ao tubo mostrado na figura. Sabendo-se
que o tubo tem diâmetro, interno e externo, de 40 mm e 48 mm,
respectivamente, determine as tensões normal e de cisalhamento
no:
a) ponto H, com lados paralelos aos eixos x e z;
b) ponto K, com lados paralelos aos eixos x e y;
c) os planos principais e as tensões principais relativas ao ponto K e H.