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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA - PIBID/UFSM SUBPROJETO GEOGRAFIA Gustavo Oliveira Kwiatkowski Educação e Geografia: Desafios da Construção do Pensamento Crítico no Aluno do Século XXI 1. Introdução Todas as áreas de conhecimento objetivam desenvolver o pensamento crítico em seus alunos. Todavia, essa função tem forte destaque no Ensino da Geografia. A construção da crítica do ponto de vista intelectual elaborada com bases consolidadas e coerentes, acompanha os temas abordados pela Ciência Geográfica. A relação dinâmica entre sociedade e natureza e a organização espacial resultante desse vínculo gera, quase sempre, inúmeros conflitos sociais, econômicos e ambientais, cabendo ao professor despertar a criticidade do aluno. Os professores do século XXI se deparam com uma grande questão: como despertar as capacidades intelectuais necessárias para o desenvolvimento do pensamento crítico nos alunos, em um período histórico, no qual a Educação enfrenta fortes entraves como a desmotivação do aluno perante aulas monótonas e repetitivas; o desânimo do professor frente a desvalorização profissional; e às utopias em relação a prática do ensino da Ciência Geográfica. 2. Desenvolvimento Sistema Educacional Brasileiro e a Geografia A falta de interesse dos alunos pela Geografia está relacionada, primeiramente, a muitos professores, em pleno século XXI, ainda guiarem seu trabalho pedagógico exclusivamente pelo livro didático e fazerem da “decoreba geográfica” seu principal método de avaliação. Esse perfil de professor é resultado dos processos pelos quais a Geografia passou ao longo de sua consolidação como ciência. Esses profissionais herdaram, em sua ação docente, resquícios do positivismo da Ciência e em especial da Geografia Tradicional e da tendência educacional tecnicista implantada no Brasil durante a Ditadura Militar que priorizava o ensino direcionado à formação do indivíduo para o mercado de trabalho. Assim Kaercher (1997), ao discutir a desmotivação dos alunos perante a escola contemporânea, afirma: A excelente obra de Manacorda (1992) faz um passeio por várias civilizações e em diferentes épocas para mostrar que a escola tem sido, muitas vezes, um espaço de tédio - no lugar da construção do conhecimento - , autoritarismo - no lugar de relações respeitosas entre professores e alunos - e de memorização – no lugar da criatividade e dos desafios. Aliás, sua obra me leva a um misto de riso (como se repetem os problemas da escola!) com indignação, afinal muito já se denunciou a escola tradicional-autoritária, mas ela continua impávida, um colosso. (KAERCHER, 1997, p.20) Kaercher, ao realizar a discussão sobre os desafios da prática educacional, mostra que o desinteresse dos alunos ocorre em parte pela postura tradicional da escola contemporânea que, apesar das críticas, denúncias e avanços, continua ainda sendo um local desconfortante e formador de indivíduos “mecânicos” no lugar de cidadãos críticos, e a sala de aula um lugar de desânimo. Desse modo, cabe ao Sistema Educacional desenvolver as habilidades intelectuais necessárias para a construção do pensamento crítico nos alunos, contudo essa é uma tarefa árdua em um período de adversidades. Motivar os alunos, valorizar o professor e conciliar a teoria acadêmica com a prática docente são lutas permanentes para se alcançar uma escola pública de qualidade em que se possa exercer uma ação docente digna e desenvolver as capacidades imprescindíveis para se pensar criticamente. Professor e sua valorização profissional O desgaste psicológico e físico, o pouco prestígio da profissão e a falta de incentivo ao professor por parte do Estado e da Sociedade é outra questão preocupante. A procura cada vez menor pelos cursos de Licenciatura, associada, às frequentes greves dos professores pelo pagamento do piso salarial e o menor prestígio social da profissão, desmotivam a maioria dos professores da Eduação Básica. Além disso, o plano de carreira não se mostra atrativo, assim a maioria dos professores não buscam se aperfeiçoar com cursos de pós-graduação, resultando no seu distanciamento do magistério. A carga horária, quase sempre excessiva, acaba fazendo com que o professor não consiga inovar em aula, tornando-se repetitivo. Vesentini (2009) ao comparar o Sistema Educacional e a realidade do professor no Brasil com o cotidiano escolar de outros países disserta: Escolas de qualidade não quer dizer apenas- embora também – equipamentos com laboratórios, bibliotecas, computadores à disposição dos alunos e professores, conexão à internet e/ou às intranets, videotecas, projetores multimídia, programas obrigátorios e bem elaborados para estudos do meio etc. Mas quer dizer, principalmente, docentes bem formados e bem remunerados, que se atualizam constantemente, que possuem no máximo 30 alunos por sala de aula e 25 horas-aula por semana (o restante do tempo, remunerado, deve ser preenchido por estudos, pesquisas, preparação de aulas, correção de trabalhos etc.). (VESENTINI, 2009, p. 56) Vesentini lembra que uma escola não é feita somente de uma infraestrutura de qualidade mas também de recursos humanos competentes e com oportunidades de constante aperfeiçoamento, lembrando ainda que a valorização desse profissional é prioritária visto a importância do professor para o desenvolvimento de um país. Teoria e Prática do Ensino da Geografia É notável a importância de se debater sobre os problemas enfrentados pela Educação Básica Brasileira e o Ensino da Geografia. Contudo, os acadêmicos dos Cursos de Licenciatura em Geografia e os professores da Ciência Geográfica poucas vezes conseguem se desprender dos debates, do levantamento de ideias, da teoria, do como pode ser o ensino da geografia. Raramente, vê-se o contato dos graduandos com a realidade escolar. Fixam-se no meio acadêmico, nas reflexões filosóficas, às utopias a cerca do Ensino da Geografia. Dialogar sobre a Educação é imprescindível, no entanto, há uma necessidade de se romper com a discussão pela discussão e desenvolver uma atividade prática. Assim, ao continuar com a prática teórica, cai-se no abismo do “reclamacionismo”, do comodismo, do ler sobre o assunto, tornar-se um experts no tema, porém ter pouca ou quase nenhuma experiência prática. Retoma-se Kaercher, que ao discutir sobre a questão do distanciamento entre o ensino teórico da Universidade e a prática docente, aponta: Centenas de profissionais são, quer estejam bem ou mal preparados, lançados a cada ano das faculdades para frente de seus alunos. O que fazer para que este contato – obrigatório – entre professor e aluno seja um espaço não autoritário e, ainda criativo, estimulante e formador de cidadania para as duas partes? Levanto a hipótese de que, sem dúvida, os professores, individualmente, precisam repensar seus métodos de ensino e sua relação com os alunos mas, o problema não é individual. São as universidades, as faculdades – formadoras desses profissionais – que também devem repensar seus cursos de licenciatura, seus currículos, remover anacronismos, apontar novos rumos para um ensino que vá mais ao encontro do aluno e da sua realidade. (KAERCHER, 1997, p.20) Ao continuar a discussão Kaercher (1997, p.26) complementa que “se o trabalho acadêmico não se comunica com seu público (comunidade escolar) ele é morto.” Assim, os Cursos de Licenciatura não podem cair no isolacionismo acadêmico e no comodismo visto que a construção de uma Educação Pública de qualidade dependeem grande parte da formação profissional e da maior reciprocidade entre a universidade e a escola. 3. Considerações Finais Formar cidadãos críticos, esclarecidos e atuantes na sociedade é uma das principais funções da escola do século XXI e do professor de Geografia, visto que essa disciplina “tem a função de contribuir na formação da consciência do aluno a cerca de sua realidade espacial local, regional e global”(MARTINS, 2011, p.65). Entretanto, o desinteresse crescente dos jovens pelos estudos, as aulas enfadonhas dos professores herdeiros da Escola Tradicional, a desvalorização do magistério e a formação precária dos profissionais nas universidades impede que a Educação consiga exercer seu papel social com êxito. Referências Bibliográficas KAERCHER, Nestor André. Desafios e Utopias no Ensino da Geografia. 1ª Ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1997, 146 p. MARTINS, Rosa Elisabete Militz Wypyczynski (org.). O Ensino de Geografia e suas composições curriculares. 1ª Ed. Porto Alegre: UFRGS, 2011, 180 p. VESENTINI, José William. Repensando a Geografia Escolar para o Século XXI. 1ª Ed. São Paulo: Plêiade, 2009, 160 p. VESENTINI, José William (org.). O Ensino de Geografia no Século XXI. 2ª Ed. Campinas: Papirus, 2004, 288 p.
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