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MANEJO DE VIAS AÉREAS Introdução O funcionamento neural é fundamentalmente dependente de oxigênio e glicose. A prevenção da hipoxemia depende da via aérea protegida e desobstruída e da ventilação adequada, e tem prioridade absoluta sobre o controle de todas as outras condições. Causas de obstrução de vias aéreas: ▪ Restos alimentares; ▪ Relaxamento da língua; ▪ Corpos estranhos; ▪ Traumatismo facial: hemorragias e avulsões dentárias; ▪ Fratura de laringe e traqueia; ▪ Fratura bilateral de mandíbula; ▪ Ferimentos penetrantes no pescoço. Identificação do problema A obstrução da via aérea pode ser súbita e total, insidiosa e parcial e/ou progressiva e recorrente. Embora seja frequentemente relacionada a dor e ansiedade, ou ambas, a taquipneia pode ser um sinal sutil, porém precoce de comprometimento da via aérea ou da ventilação. Assim, a avaliação e frequente reavaliação da permeabilidade da via aérea e da efetividade da ventilação são fundamentais. A medida inicial mais importante é falar com o paciente e estimular sua responsividade verbal. A presença de resposta verbal clara e apropriada indica que a via aérea está permeável, que a ventilação está intacta e que a perfusão cerebral está adequada. Sinais objetivos de obstrução da via aérea: 1. Doente agitado ou torporoso Agitação: Sugestiva de hipóxia Torpor: Sugere hipercapnia Cianose: Sinal tardio de hipóxia OBS.: Devemos sempre verificar tiragem e uso de musculatura acessória na ventilação. Quanto mais alta a tiragem, maior o comprometimento da via aérea/ventilação (ex.: tiragem de fúrcula é mais grave que a intercostal). 2. Vias aéreas com ruídos anormais Roncos, gorgolejos e estridores podem ser manifestação de obstrução parcial da faringe ou da laringe. Rouquidão implica obstrução funcional da laringe. 3. Traqueia fora da posição central 4. Comportamento do paciente Se a ventilação do paciente não melhorar após desobstrução da via aérea, deve-se procurar por outras causas de comprometimento ventilatório (alteração na mecânica ventilatória, depressão do SNC). IDENTIFICAÇÃO DE VENTILAÇÃO INADEQUADA 1. Observar se os movimentos respiratórios são simétricos e adequados. A assimetria sugere fraturas de arcos costais ou tórax instável (retalho costal móvel). 2. Auscultar tórax bilateralmente. Diminuição ou ausência de murmúrio vesicular uni ou bilateral deve alertar o médico quanto a lesão torácica. 3. Utilizar o oxímetro de pulso. Sinais de insuficiência respiratória HIPOXEMIA HIPERCAPNIA Taquidispneia Rebaixamento Tiragem Sonolência Agitação, confusão Coma Cianose Sinais de parada cardiorrespiratória ▪ Sem consciência, sem reflexos ▪ Sem movimentos, sem respiração ▪ Palidez, cianose, frialdade de pele Avaliação das vias aéreas AVALIAÇÃO LEMON L “Look externally”. Buscar características que levem a dificuldades na intubação ou ventilação. E “Evaluate” – Regra do 3-3-2 Para alinhar os eixos da faringe, da laringe e da boca para uma intubação simples, as seguintes relações devem ser observadas: 1) A distância entre os dentes incisivos deve ser de ao menos 3 dedos; 2) A distância entre o osso hioide e o mento deve ser de ao menos 3 dedos 3) A distância entre a proeminência tireóidea e o assoalho da boca deve ser de ao menos 2 dedos. M “Mallampati” – Avalia o grau de visualização da hipofaringe. Classe I: Palato mole, úvula, fauces e pilares visíveis Classe II: Palato mole, úvula e fauces visíveis Classe III: Palato mole e base da úvula visíveis Classe IV: Apenas palato mole visível. ▪ Sem bulhas, sem murmúrio vesicular ▪ Sem pressão arterial, sem pulso ▪ Eletrocardiografia e oximetria O “Obstruction” – Avaliar obstrução N “Neck Mobility” – Avaliar mobilidade da região cervical Equipamento que pode ser eventualmente necessário: Aspirador, O2, tubos orofaríngeo e nasofaríngeo, dispositivo de máscara com válvula e balão, laringoscópio, GEB, dispositivos extraglóticos, kit de cricotireoidostomia por agulha ou cirúrgica, tubo endotraqueal, oxímetro de pulso, detector de CO2 e drogas. Técnicas para manutenção da via aérea Importante (!): Manobras empregadas para permeabilizar a via aérea podem causar ou agravar lesões cervicais, portanto a imobilização da coluna é fundamental durante a execução desses procedimentos. ELEVAÇÃO DO MENTO (CHIN-LIFT) Os dedos de uma mão são colocados sob a mandíbula que é elevada cuidadosamente para deslocar o mento em direção anterior. O polegar da mesma mão afasta levemente o lábio. Essa manobra não deve provocar hiperextensão do pescoço. Sua execução é viável em vítimas de trauma porque não apresenta o risco de converter uma fratura cervical sem lesão medular em uma fratura cervical com lesão medular. TRAÇÃO DE MANDÍBULA (JAW-THRUST) Uma mão é colocada em cada ângulo da mandíbula e a desloca para cima. Quando essa manobra é executada em pacientes sob ventilação com dispositivo de máscara com válvulas e balão, pode-se alcançar vedação e ventilação adequadas. TUBO OROFARÍNGEO (CÂNULA OROFARÍNGEA) O tubo orofaríngeo é inserido na boca por trás da língua. A técnica preferida é deprimir a língua com um abaixador e, então, inserir o tubo posteriormente à mesma, o que poderia bloquear – ao invés de liberar – a via aérea. Esse dispositivo não pode ser usado em pacientes conscientes pois induz o reflexo do vômito, que poderia ser aspirado com evolução para pneumonite química. Uma técnica alternativa é a inserção do tubo orofaríngeo com concavidade voltada para cima em direção cranial até o palato mole, rotacionamos o dispositivo a 180° e deslizamos o tubo por trás da língua. Essa técnica não pode ser usada em crianças pois pode lesionar boca e faringe. Cânulas possuem uma cavidade central para passar uma outra cânula de aspiração, o que é importante para pacientes com hipersecretividade. TUBO NASOFARÍNGEO É introduzido em uma das narinas e empurrado com cuidado em direção à orofaringe posterior. Deve ser previamente bem lubrificado e então introduzido na narina que não esteja aparentemente obstruída. Se for encontrada alguma obstrução, tentar pela outra narina. Esse procedimento não deve ser considerado em pacientes com suspeita ou possível lesão da placa cribiforme. DISPOSITIVOS EXTRAGLÓTICOS OU SUPRAGLÓTICOS Para pessoas que precisam de suporte avançado a vias aéreas, mas a tentativa de intubação foi malsucedida ou dificultada. Entre esses dispositivos temos: ▪ Máscara laríngea (ML) e ML que permite intubação (MLI): Não fornecem uma via aérea definitiva, deve ser substituída. O ideal é que fique até 3h. Indicação: Sempre que a via aérea falhar ou que a intubação ou ventilação estejam sejam dificultadas. Contraindicações: Pacientes acordados, obesos mórbidos, queimaduras de via aérea, refeições volumosas. Sempre saber: peso, tamanho e quantidade de ar insulflável. Não evita broncoaspiração. ▪ Tubo laríngeo (TL): Também não é definitivo. Possui 2 cuffs: Cuff proximal que sela a oro e nasofaringe Cuff distal que sela o esôfago e reduz o risco de insuflação gástrica (complicações fatais) ▪ Tubo esofágico multilúmen: Uma via de comunicação com o esôfago e uma com a traqueia. VIA AÉREA DEFINITIVA Uma via aérea definitiva implica um tubo endotraqueal, com o balão insuflado abaixo das cordas vocais, devidamente fixado e conectado a um sistema de ventilação assistida, com mistura enriquecida de O2. Há três tiposde via aérea definitiva: tubo endotraqueal, tubo nasotraqueal e via aérea cirúrgica (cricotireoidostomia ou traqueostomia). CRITÉRIOS PARA INSTALAÇÃO DE UMA VIA DEFINITIVA 1. Alterações na via aérea (A). Impossibilidade de manter a via aérea permeável de outra forma, com comprometimento iminente ou potencial da via aérea. 2. Alterações na ventilação (B). Impossibilidade de manter oxigenação adequada com dispositivo de máscara com válvula e balão e oxigênio suplementar e presença de apneia. 3. Alterações na função neurológica (D). Presença de traumatismo fechado de crânio que demande ventilação assistida (escala de coma de Glasgow menor ou igual a 8), necessidade de proteger a via aérea pelo risco de aspiração de sangue ou vômitos, ou convulsões persistentes. Intubação endotraqueal Imediatamente indicada para pacientes com pontuação menor ou igual a 8 na GCS. Se não houver necessidade imediata de intubação, a avaliação radiológica da coluna cervical pode ser obtida. Em pessoas com - PaO2 < 60 mmHg em uso de O2; - PaCO2 > 50 mmHg em uso de O2. CONTRAINDICAÇÕES ▪ Condições relativas ▪ Lesão parcial de traqueia – “falso trajeto” ▪ Lesão de coluna cervical MATERIAL ▪ Luvas, máscara e óculos ▪ Sistema de sucção ▪ Fonte de oxigênio ▪ Máscara com AMBU© ▪ Capnógrafo ▪ Estetoscópio (para avaliar possível “ventilação seletiva”). ▪ Tubo ▪ Dispositivo guia Introdutor e tubo traqueal Eschmann ou guia introdutor para intubação (Bougie) – Gum Elastic Bougie (GEB): É utilizado quando as cordas vocais não são visualizadas através de laringoscopia direta. O GEB é introduzido às cegas pela epiglote com a ponta angulada posicionada anteriormente. A posição traqueal é confirmada com a sensação de “cliques” durante o atrito entre a ponta do introdutor e os anéis cartilaginosos da traqueia, com rotação do guia para a direita ou esquerda quando alcança os brônquios. ▪ Cordão e seringa ▪ Laringoscópio De lâmina curva: Se apoia na valécula (Macintosh) De lâmina reta: Abaixa a epiglote junto ▪ Lâminas ▪ Fibroscópio PREPARAÇÃO ▪ Cânula orofaríngea ▪ Ventilação não-invasiva ▪ Ventilação invasiva ▪ Drogas INTUBAÇÃO ▪ Posicionamento do laringoscópio ▪ Dispositivo-guia ▪ Manobra de Sellik – Oclusão do esôfago ▪ Manobra BURP – Traqueia para trás, para cima fazendo pressão na cartilagem cricóide para expor a glote. ▪ Afastamento do lábio COMPLICAÇÕES ▪ Intubação seletiva ▪ Intubação esofágica Ordem de preferência ▪ Broncoaspiração, apneia ▪ Laringospasmo, broncoespasmo, bradicardia ▪ Traumatismo oral ou laringotraqueal ▪ Exacerbação de lesão medular. Cricotireoidostomia “Acesso cirúrgico emergencial das vias aéreas através de uma abertura na membrana cricotireóidea” INDICAÇÕES ▪ Obesidade, pescoço curto, macroglossia, trismo ▪ Edema de glote, paralisia de cordas vocais, abscesso retrofaríngeo ▪ Intubação complicada. CONTRAINDICAÇÕES ▪ Possibilidade de intubação endotraqueal ▪ Transecção parcial ou total de vias aéreas ▪ Lesão de cartilagem cricóide ▪ Fratura de laringe ▪ Recém-nascidos ▪ Crianças abaixo de 12 anos TÉCNICAS Cricotireoidostomia Por Punção Envolve a inserção de um cateter sobre agulha pela membrana cricotireoidea em situações emergenciais para fornecer oxigênio ao doente em um curto espaço de tempo, até que a via aérea definitiva possa ser realizada. Com a cricotireoidostomia por punção oferta-se oxigênio suplementar de forma temporária e a intubação endotraqueal passa a ser necessária de forma urgente e não mais emergencial. Cricotireoidostomia Por Incisão Incisão na pele que se estende até a membrana cricotireoideana. Uma pinça hemostática curva pode ser utilizada para dilatar a abertura e um tubo endotraqueal ou um tubo de traqueostomia de pequeno calibre pode ser inserido. COMPLICAÇÕES ▪ Sangramento ▪ Deslocamento da cânula ▪ Enfisema subcutâneo e mediastinal ▪ Lesão do aparelho fonador ▪ Lesão laringotraqueal ▪ Perfuração esofágica ▪ Infecção ▪ Disfasia ▪ Disfonia ▪ Estenose de laringe ▪ Estenose de traqueia Traqueostomia “Abertura na traqueia que mantém comunicação com o meio externo, geralmente por meio de uma cânula” INDICAÇÕES ▪ Intubação prolongada (3 – 21 dias) ou difícil ▪ Idade avançada ▪ Disfunção faríngea ▪ Doenças mioneurais ▪ Redução da consciência ▪ Diminuição dos reflexos ▪ Infecções ▪ Neoplasias ▪ Traumatismos ▪ Corpo estranho ▪ Inalação de gases ▪ Edema de vias aéreas ▪ Paralisia de cordas vocais ▪ Proteção de anastomoses ▪ Estenoses congênitas ▪ Traqueomalácia Precoces Tardias CONTRAINDICAÇÕES ▪ Queimaduras ▪ Traqueíte (Condições relativas) BENEFÍCIOS ▪ Alimentação via oral ▪ Conforto para o paciente ▪ Higiene orotraqueobrônquica ▪ Facilitação da comunicação ▪ Facilitação do desmame ▪ Menor dano laringotraqueal DESVANTAGENS ▪ Deficiência no mecanismo de tosse ▪ Acúmulo de secreções traqueobrônquicas COMPLICAÇÕES ▪ Sangramento ▪ Perda da via aérea ▪ Mal-posicionamento da cânula ▪ Lesão de tireóide, traquéia, esôfago, n. laríngeo recorrente ▪ Pneumomediastino, pneumotórax ▪ Parada cardiorrespiratória ▪ Sangramento ▪ Infecção ▪ Enfisema sucutâneo ▪ Desposicionamento ou oclusão da cânula ▪ Alteração na deglutição ▪ Broncoaspiração ▪ Estenose traqueal ▪ Formação de granuloma ▪ Traqueíte, traqueobronquite ▪ Fístula traqueoesofágica ▪ Fístula traqueoinominada ▪ Traqueomalácia Perioperatórias Imediatas Tardias
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