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Resenha Policarpo Quaresma

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Centro de Comunicação e Expressão
Departamento de Jornalismo
Curso de Jornalismo
Professor Elias Machado
Disciplina Comunicação e Realidade Sócio-Econômica e Política Brasileira I
Policarpo Quaresma, O Herói do Brasil
 
Júlia Orige
Florianópolis, 20 de maio de 2014
O amor pela pátria é tema central de diversos filmes: Coração Valente, Independence Day. O tema não é estranho no cinema, veja que até mesmo a obra-prima O Poderoso Chefão abre com uma linha de diálogo que abraça todo o sentimento patriota (no caso, a hoje clássica fala "I believe in America" – “Eu acredito na América”). Porém nenhum desses exemplos é tão errante (ou até mesmo excêntrico), quanto Policarpo Quaresma, Herói do Brasil.
 Com toques realistas que expõem o patriotismo de maneira até mesmo caricatural, mas que ainda assim não perde sua credibilidade. É impossível analisar o filme sem falar do protagonista. Policarpo Quaresma é um dos mais atípicos protagonistas do cinema nacional: possuindo a lábia de um João Grilo (de O Auto da Compadecida), o ar sonhador de um Dom Quixote, o dom da persuasão (mesmo defendendo claras mentiras) digno de um Barão de Munchausen. Todas essas características fazem com que Policarpo seja um personagem nada menos que maravilhoso de ser observado. E Paulo José não apenas faz jus ao personagem, também conferindo dignidade e até mesmo veracidade nas suas falas. Veja que o ano de lançamento do filme era 2001, até então o Brasil estava recomeçando a produzir longas. Passadas as obras do cinema novo, a tendência era fazer um filme comercial e tolo (tal como Sexo, Amor e Traição ou O Casamento de Romeu e Julieta). Porém, Policarpo e Quaresma-Herói do Brasil não apenas foi um ponto fora da curva na sua época de lançamento, como também abriu caminho para outras adaptações de livros com pinceladas de um universo fantástico (O Coronel e o Lobisomem, o maior destes) Claro que apesar de ter pontos positivos (a atuação de Paulo José, o maior deles), o filme está recheado de problemas. Que poderiam muito bem ser resolvidos numa revisão do roteiro, ou por uma escalação melhor do elenco. Mas nada é tão grave quanto o ritmo do longa. Fazendo com que suas míseras duas horas soem como quatro. Se tivessem melhorado (ou cortado na edição) certos trechos (a personagem Olga conversando com o pai), o filme seria muito melhor de ser visto. Afinal, qual a necessidade de cenas que nada adicionam a narrativa?
O filme trás a tona um assunto que merece ser discutido mais profundamente: o nacionalismo, coisa difícil de se definir num país que cresceu baseado em várias culturas diferentes. A identidade nacional brasileira ainda não foi conceituada. Alguns defendem que a cultura brasileira deveria ser a indígena, já que esse era o povo que foi encontrado nas terras quando o Brasil foi redescoberto. Mas não se pode negar que após a chegada dos primeiros portugueses no território brasileiro muito mudou, não foram os índios que construíram o Brasil, e sim os europeus que aqui chegaram depois. Não excluindo os de outras nacionalidades além da portuguesa, nem esquecendo dos japoneses do começo do século XX, ou dos fugitivos da primeira guerra ou dos judeus da segunda. O Brasil não esqueceu os índios, nem deixou de usar seus ensinamentos, mas eles não são os protagonistas na história, infelizmente colocados como vítimas. Policarpo Quaresma defende que a língua Tupi-Guarani deve ser adotada como oficial do país e luta para que a cultura indígena seja incorporada ao dia a dia brasileiro. É lamentável, porém verdadeiro, dizer que isso nunca vai acontecer. Não que não merecesse. Os índios tem também sua parcela de culpa na cultura hoje vivida e devem ser lembrados, contudo não podem ser os únicos. 
Policarpo é nacionalista, mas para ele o “nacional” é a cultura indígena. O ponto principal a ser discutido é se o indígena deve realmente ser considerado como principal cultura nacional. O nacionalismo dentro do Brasil depende primeiro de ser definida a identidade brasileira. Claro que hoje, vendo do exterior, pode-se apontar alguns aspectos típicamente brasileiros, e observando mais de perto pode-se perceber que cada um deles tem origem em outra mais antigo e proveniente de outra cultura, às vezes nascida longe da América do Sul. No Brasil todos tem uma descendência, seja polonesa, portuguesa, espanhola, indígena ou japonesa... e por aí vai, há pessoas de quase todos os lugares do mundo, assim como seus filhos e netos, vivendo em território brasileiro. 
A cultura brasileira nada mais é que a mistura de muitas outras que aqui vieram parar por intermédio de imigrantes. Policarpo Quaresma é uma crítica aos que aqui vivem mas que desejam manter os costumes de seu país de origem, mas também aos que desejam que o índio seja reconhecido como único brasileiro de verdade. O Brasil, na verdade, foi um dos primeiros passos para a globalização. E agora, com a facilidade de comunicação e de deslocamento, o mundo tende a perder seu caráter protecionista em relação à cultura local e isso não é necessariamente ruim. Cada um deve viver conforme seu desejo e não ser obrigado a seguir certos costumes com os quais não se sente bem apenas porque são da mesma origem que ele. O direito de seguir a cultura que desejar deve ser reivindicado. É fácil observar o cerceamento dos direitos individuais nessa questão nos países do Oriente Médio, onde por uma questão religiosa as mulheres são proibidas de saírem sozinhas na rua, de dirigirem e de mostrarem seu corpo. Países onde a lei se confunde com a religião e é alegada como cultura, porém fere os direitos humanos. 
A cultura, mesmo que milenar, deve ser deixada para os que a adoram e não imposta àqueles que com ela sentem-se reprimidos. A cultura é como uma consciência coletiva, que paira sobre as cabeças em uma região. O mundo está em constante mudança e não é saudável se agarrar àquilo que não cabe mais para a realidade atual. É lamentável, talvez, mas a cultura indígena não cabe mais na atualidade. É uma herança importante, claro, todavia não faz sentido obrigar ninguém a praticar rituais que não fazem parte de sua história pessoal. O Tupi-Guarani deve ser deixado para os que desejam aprendê-lo e não torná-lo uma obrigação.

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