Buscar

CULTURA E SOCIEDADE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CULTURA E SOCIEDADE 
TEXTOS ADAPTADOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ementa 
Estudo de temas clássicos e contemporâneos essenciais para o entendimento da 
configuração do mundo atual nas perspectivas histórica, antropológica, sociológica e 
filosófica. Conhecimento dos aspectos caracterizadores da formação étnico-racial e 
cultural da sociedade brasileira. 
 
Objetivos gerais 
Desenvolver a capacidade de reflexão crítica por meio da discussão e da análise dos 
principais temas relacionados às áreas do saber histórico, filosófico, antropológico e 
sociológico. 
 
Objetivos específicos 
- Compreender o processo de constituição da cultura ocidental a partir das matrizes da 
antiguidade clássica greco-romana. 
- Analisar a geopolítica contemporânea, a partir das relações do Brasil com o mercado 
internacional. 
- Reconhecer aspectos relevantes da cultura contemporânea para a formação profissional. 
- Estimular a leitura, a interpretação e a produção de textos relacionados às áreas do 
conhecimento humanístico. 
- Estabelecer relações, comparações e contrastes em diferentes situações. 
- Compreender os aspectos caracterizadores da formação étnico-racial e cultural brasileira. 
 
Conteúdos de plano de ensino 
 
1 O homem e a cultura 
1.1 O homem: ser biológico e cultural 
1.2 A cultura: definições, cultura popular e cultura erudita 
1.3 Multiculturalismo, relações étnico-raciais, história e cultura afro-brasileira e indígena 
1.4 Indústria Cultural 
 
 
2 O conhecimento em seus diversos aspectos 
2.1 Tipos de conhecimento (religioso, vulgar, filosófico e científico) 
2.2 Senso comum X conhecimento científico 
2.3 Ciências exatas/ ciências humanas 
2.4 Método científico 
 
3 Ética e Ideologia 
3.1 Moral e ética 
3.2 Ética geral e profissional 
3.3 Democracia, ética e cidadania 
3.4 Ideologia 
 
4 Meios de comunicação de massa, tecnologia e novas mídias 
4.1 Os meios de comunicação de massa e suas características 
4.2 As velhas e novas mídias 
4.3 Comunicação e tecnologia de informação 
4.4 Mídia e sociedade de consumo 
 
 
5 Reestruturação Produtiva e geopolítica 
5.1 Reestruturação produtiva e toyotismo 
5.2 Globalização e Neoliberalismo 
5.3 A globalização e a crise financeira mundial 
5.4 Reflexos político-institucionais, econômicos e sociais da globalização no Brasil 
 
6 Trabalho, mercado e responsabilidade social 
6.1 Educação e Sociedade do Conhecimento 
6.2 Relações de trabalho e o perfil do profissional no século XXI 
6.3 Empreendedorismo e inovação 
6.4 Responsabilidade social: setor público, privado e terceiro setor 
 
 
7 Geração Y 
7.1 Novas tecnologias e a nova geração de trabalhadores do conhecimento (Y) 
7.2 Contexto histórico do nascimento das gerações Baby Boomers, X, Y e Z 
7.3 O que a Geração Y quer e precisa no trabalho 
7.4 Estratégias e programas para gerenciar a geração Y 
 
8 Ecologia e Biodiversidade 
8.1 Natureza e sociedade como espaço de cidadania 
8.2 O movimento ecológico e políticas públicas 
8.3 Desenvolvimento, sustentabilidade social e ambiental 
8.4 Catástrofes ambientais e sociedade 
 
9 Relações sociais de gênero 
9.1 Configurações de gênero na sociedade atual 
9.2 Machismo e sexismo 
9.3 Feminismo 
9.4 Desigualdade e discriminação da mulher na cultura e na sociedade brasileira. 
 
 
10 Violência urbana e rural 
10.1 Origens da violência 
10.2 Discurso midiático e a violência 
10.3 Políticas públicas e violência 
10.4 Movimentos Sociais 
 
Atividades práticas supervisionadas 
Os discentes farão leituras de ensaios científicos e artigos de revistas selecionados pelo 
professor e assistirão a filmes, cuja abordagem se refira à disciplina, com a finalidade de 
reconhecer, interpretar e analisar os apontamentos teóricos analisados nas aulas. Além 
disso, serão realizados trabalhos e exercícios. 
 
 
Metodologia 
Pretende-se, mediante fundamentação teórica e recortes da realidade, compreender e 
criticar as transformações engendradas pelo homem na sociedade. As aulas serão 
desenvolvidas sob a forma de exposições dialogadas, seminários, análises de textos e 
filmes. 
 
Recursos didáticos 
Quadro, giz, datashow, filmes e livros e textos das obras indicadas na referência 
bibliográfica. 
 
Avaliação 
Durante o semestre letivo, a nota do discente na disciplina será composta pelos seguintes 
indicadores avaliativos: 
a) Quarenta pontos distribuídos pelo docente da disciplina, em exercícios, trabalhos e 
provas. 
b)Vinte pontos distribuídos no Projeto Integrador. 
c) Vinte pontos da Avaliação Colegiada. 
d) Vinte pontos da Avaliação Integradora (AVIN) 
Considerar-se-ão dois critérios, que não se excluem, para a aprovação na disciplina, a 
saber: 
a) Mínimo de sessenta pontos de aproveitamento, conforme nota global da disciplina. 
b) Mínimo de setenta e cinco por cento de frequência na disciplina. 
 
Referência bibliográfica básica 
 
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2008. 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Lei nº 11.645, de março de 2008. Altera a 
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro 
de 2003, ... a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. 
Brasília: SEPPIR/SECAD/INEP, 2005. Disponível em: < 
 
http://www.iteral.al.gov.br/legislacao/http___www.iteral.al.gov.br_legsilacao_Lei-
2011.465_-20de-202008.pdf/view>. Acesso em: 18 abr. 2011. 
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 14. ed. São Paulo: Ática, 2011. 
LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. 24. ed. Rio de Janeiro: Rio de 
Janeiro, 2009. 
 
Referência bibliográfica complementar 
 
ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do 
trabalho. 5. ed. São Paulo: Boitempo, 2009. 
ARANHA, M. L. de A. Filosofando: introdução à filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 
2009. 
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Diretrizes Curriculares Nacionais para 
a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura 
Afro-Brasileira e Africana. Brasília: SEPPIR/SECAD/INEP, 2005. Disponível em: 
<http://www.sinpro.org.br/arquivos/afro/diretrizes_relacoes_etnico-raciais.pdf>. 
Acesso em: 18 abr. 2011. 
BRASIL. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil. Brasília, 
DF, 09 jan. 2003. Disponível 
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm>. Acesso em: 03 
fev. 2011. 
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 14. ed. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2011. 
COLEÇÃO. Os Pensadores. 5. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1991. 
MASI, D. D. A sociedade pós-industrial. São Paulo: Senac, 2003. 
NILO, O. O que é violência. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência 
universal. 7. ed. São Paulo: Record, 2001. 
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1995. 
 
VALLS, A. L. O que é ética. 9. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 
 
TEMA 1 - O HOMEM E A CULTURA 
 
1.1 O HOMEM: SER BIOLÓGICO E CULTURAL 
1.2 A CULTURA: DEFINIÇÕES, CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA 
1.3 MULTICULTURALISMO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E 
CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA 
1.4 INDÚSTRIA CULTURAL 
 
1.1 O HOMEM: SER BIOLÓGICO E CULTURAL 
 
 A cultura interfere no plano 
 
 Vimos, acima, quea cultura interfere na satisfação das necessidades 
fisiológicas básicas. Veremos, agora, como ela pode condicionar outros aspectos biológicos 
e até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros do sistema. 
 Comecemos pela reação oposta ao etnocentrismo, que é a apatia. Em lugar da 
superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada situação de crise os membros 
de uma cultura abandonam a crença nas mesmas e, consequentemente, perdem a 
motivação que os mantém unidos e vivos. Diversos exemplos dramáticos deste tipo de 
comporta mento anômico são encontrados em nossa própria história. 
 Os africanos removidos violentamente de seu continente (ou seja, de seu 
ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos para uma terra 
estranha, habitada por pessoas de fenotipia, costumes e línguas diferentes, perdiam toda a 
motivação de continuar vivos. Muitos foram os suicídios praticados, e outros acabavam 
sendo mortos pelo mal que foi denominado de banzo. Traduzido como saudade, o banzo é 
de fato uma forma de morte de corrente da apatia. 
Foi, também, a apatia que dizimou parte da população Kaingang de São paulo, 
quando teve o seu território invadido pelos construtores da Estrada de Ferro Noroeste. Ao 
perceberem que os seus recursos tecnológicos, e mesmo os seus sobrenaturais, eram 
impotentes diante do poder da sociedade branca, estes índios perderam a crença em sua 
sociedade. Muitos abandonaram a tribo, outros simplesmente esperaram pela morte que 
não tardou. 
Entre os índios Kaapor, grupo tupi do Maranhão, acredita-se que se uma 
pessoa vê um fantasma ela logo morrerá. O principal protagonista de um filme, realizado 
em 1953 por Darcy Ribeiro e Hains Forthmann, ao regressar de uma caçada contou ter 
visto a alma de seu falecido pai perambulando pela floresta. O jovem índio deitou em uma 
rede e dois dias depois estava morto. Em 1967, durante a nossa permanência entre os 
índios (quando a história acima nos foi contada), fomos procurados por uma mulher, em 
estado de pânico, quem teria visto um fantasma (añan). Confiante nos poderes do branco, 
nos solicitou um “añan-puhan” (remédio para fantasma). Diante de uma situação crítica, 
acabamos por fornecer-lhe um comprimido vermelho de vitaminas, que foi considerado 
muito eficaz, neste e em outros casos, para neutralizar o malefício provocado pela visão de 
um morto. 
É muito rica a etnografia africana no que se refere às mortes causadas por 
feitiçaria. A vítima, acreditando efetivamente no poder do mágico e de sua magia, acaba 
realmente morrendo. Pertti Pelto descreve esse tipo de morte como sendo conseqüência 
de um profundo choque psicofisiológico: “A vítima perde o apetite e a sede, a pressão 
 
sangüínea cai, o plasma sangüíneo escapa para os tecidos e o coração deteriora. Ela morre 
de choque, o que é fisiologicamente a mesma coisa que choque de ferimento na guerra e 
nas mortes de acidente de estrada”. E de se supor que em todos os casos relatados o 
procedimento orgânico que leva ao desenlace tenha sido o mesmo. 
Deixando de lado esses exemplos mais drásticos sobre a atuação da cultura 
sobre o plano biológico, podemos agora nos referir a um campo que vem sendo 
amplamente estudado: o das doenças psicossomáticas. Estas são fortemente influenciadas 
pelos padrões culturais. Muitos brasileiros, por exemplo, dizem padecer de doenças do 
fígado, embora grande parte dos mesmos ignorem até a localização do órgão. Entre nós 
são também comuns os sintomas de mal estar provocados pela ingestão combinada de 
alimentos. Quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação perigosa, 
certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses 
alimentos. 
A sensação de fome depende dos horários de alimentação que são 
estabelecidos diferente em cada cultura. “Meio-dia, quem não almoçou assobia”, diz um 
ditado popular. E de fato, estamos condicionados a sentir fome no meio do dia, por maior 
que tenha sido o nosso desjejum. A mesma sensação se repetirá no horário determinado 
para o jantar. Em muitas sociedades humanas, entretanto, estes horários foram 
estabelecidos diferentemetne e , em alguns casos, o indivíduo pode passar um grande 
número de horas sem se alimentar e sem sentir a sensação de fome. 
 A cultura também é capaz de provocar curas de doenças, reais ou imaginárias. 
Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do remédio ou no poder dos 
agentes culturais. Um destes agentes é o xamã de nossas sociedades tribais (entre os Tupi, 
conhecidos pela denominação de pai’é ou pajé). Basicamente, a técnica de cura do xamã 
consiste em uma sessão de cantos e danças, além da defumação do paciente com a fumaça 
de seus grandes charutos (petin), e a posterior retirada de um objeto estranho do interior 
do corpo do doente por meio de sucção. O fato de que esse pequeno objeto (pedaço de 
osso, insetos mor tos etc.) tenha sido ocultado dentro de sua boca, desde o inicio do ritual, 
não é importante. O que importa é que o doente é tomado de urna sensação de alivio, e 
em muitos casos a cura se efetiva. 
A descrição de uma cura dará, talvez, uma ideia mais detalhada do processo. 
Após cerca de uma hora de cantar, dançar e puxar no cigarro, o pajé recebeu o espirito. 
Aproximando-se do doente que etava sentado em um banco, o pajé soprou a fumaça 
primeiro sobre as própias mãos e, em seguida, sobre o corpo do paciente. Ajoelhando-se 
junto a ele, esfregou-lheo peito e o pescoço. A massagem era dirigida para um ponto no 
peito do doente e o pajé esfregava as mãos como se tivesse juntado qualquer coisa. 
Interrompia a massagem para soprar a fumaça nas mãos e esfregá-las uma na outra, como 
se quisesse livrá-las de uma substância invisível. Após muitas massagens no doente, 
levantou-lhe os braços e encostou seu peito ao dele. Queria assim passar o ymaé ( a causa 
da doença, aquilo que um ser sobrenatural faz ao entrar no corpo da vítima) do doente 
para o seu próprio corpo. Não o conseguiu e voltou a repetir as massagens, dessa vez 
dirigidas para o ombro. Aí aplicou a boca e chupou com muita força. Repetiu as massagens 
e sucções, intercalando-as com baforadas de cigarro e contrações como se fosse vomitar. 
Finalmente conseguiu extrair e vomitar o ymaé, que fez desaparecer na mão. Nas curas a 
que assistimos, os pajés jamais mostraram o ymaé que extraiam dos doentes. Guardavam- 
nos por algum tempo dentro da mão, livre do cigarro, para fazê-lo desaparecer após. 
 
Explicavam, porém, à audiência a sua natureza, oque parecia bastante. Dizem que os pajés 
mais poderosos o fazem, e algumas pessoas guardam pequenos objetos que acreditam 
terem sido retirados de seu corpo por um pajé. 
 LARAIA, Roque de Barros. A cultura interfere no plano biológico. In. ____________, 
Cultura: um conceito antroplógico. Rio de Janeiro: 19. ed. Jorge ZAHAR Editor, 2006. 
p. 75 -79. 
 
1.2 A CULTURA: DEFINIÇÕES, CULTURA POPULAR E CULTURA ERUDITA 
 
A origem da palavra CULTURA - Alfredo Bosi 
 
Uma definição da cultura hoje em dia se tornou particularmente difícil, 
porque a cultura pode ser estudada de vários pontos de vista e precisaríamos escolher uma 
perspectiva para poder defini-la. 
Como professor de língua portuguesa e pessoa que sempre se dedicou ao 
estudo do que se chama de Humanidades, eu gostaria de remontar ao primeiro significado da 
palavra cultura na tradição romana. A palavra cultura é latina e sua origem é o verbo colo. 
Colo significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo”; particularmente, “eu cultivo 
solo”. A primeira acepção de colo estava ligada ao mundo agrário, como foi Roma antes de 
se transformar naquele império urbano que nós conhecemos. Os romanos começaram 
efetivamente pela agricultura. A palavra agricultura diz muito: “cultura do campo”. 
Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava,rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. Era um modo verbal que tinha sempre alguma 
relação com o futuro; tanto que a própria palavra tem essa terminação –ura, que é uma 
desinência de futuro, daquilo que vai acontecer, da aventura. As palavras terminadas em –
uro e –ura são formas verbais que indicam projeto, indicam algo que vai acontecer. Então 
a cultura seria, basicamente, o campo que ia ser arado, na perspectiva de quem vai 
trabalhar a terra. 
Esse significado material da palavra, relacionado com a sociedade agrária, 
durou séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia e foram em parte helenizados. 
Nós sabemos a extrema importância da cultura grega, da arte e da filosofia grega para o 
desenvolvimento da cultura romana. E os gregos tinham já uma palavra para o 
desenvolvimento humano, que era paideia. 
Paideia significava o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às 
crianças – paidós (criança é paidós) – daí Pedagogia, que é a maneira de levar a criança ao 
conhecimento. Dessa raiz é que se criou paideia, que por volta do primeiro século antes de 
Cristo, o momento forte da helenização de Roma, passou para o Império Romano e 
carecia de uma tradução em latim. Os romanos sabiam o que era paidéia, pois os seus 
pedagogos eram escravos gregos que iam para a Itália; alguns contratados e outros como 
escravos deveriam trabalhar para os seus donos e tinham a função de ensinar grego e 
retórica para os meninos das famílias patrícias. 
Nessa altura, a Grécia também exercia a função de “emprestar” palavras; 
começava-se a usar palavras gregas frequentemente entre os romanos. Só que, por outro 
lado, o nacionalismo romano também exigia que se traduzissem os termos gregos. E qual 
era o paralelo que eles podiam fazer? Os romanos não tinham nenhum termo que 
significasse “conjunto de conhecimentos que deveriam ser transmitidos à criança”. 
 
Mas, conhecendo a palavra paideia e não querendo usá-la porque era uma 
palavra estrangeira, passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do 
significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado 
intelectual, moral, que significa conjunto de ideias e valores. 
E é tardio isso, só a partir do primeiro século é que se encontram exemplos da 
palavra nessa acepção; se a gente for aos dicionários de latim compilados depois da época 
imperial, encontramos cultura sempre definida em primeiro lugar como o amanho do 
solo, o trabalho sobre o solo, ligado sempre ao verbo colo e seus derivados, por exemplo: 
in-cola – aquele que mora num certo lugar; inquilino – aquele que mora num lugar que 
não é seu; colônia – lugar para onde se deslocam trabalhadores que vão arar em outras 
terras. Culto vem do particípio passado de colo (colo é o verbo, que tem um particípio 
passado: cultus), é aquilo que já foi trabalhado. Depois, passou a ter um significado 
espiritual-religioso. Aliás, entre parênteses, nós não sabemos se o significado religioso foi 
anterior ou posterior ao significado material. Agora, cultura certamente sabemos que 
passou de um significado material para um significado ideal e intelectual. 
Essas observações que estou fazendo, etimológicas, poderão nos servir como 
um fio em nosso discurso, porque ambos os significados sobreviveram nas línguas 
modernas. Podemos falar na cultura do arroz, na cultura da soja, na cultura do trigo, 
entendemos muito bem que é uma terra cultivada; falamos em cultivo (palavra também 
derivada de colo) e mais ainda, com frequência, usamos a palavra cultura na acepção ideal, 
que é muito rica, porque traz dentro de si, na forma verbal terminada em -ura, a ideia de 
futuro, de projeto. 
Se tivéssemos que definir a palavra a partir dessas considerações, teríamos uma 
riqueza de possibilidades, porque a cultura, pensada como um conjunto de ideias, valores e 
conhecimentos, traz dentro de si, em primeiro lugar, a dimensão do passado. Muitos 
conhecimentos foram herdados de outras gerações, não estamos começando do zero, 
muito pelo contrário, cada ano que passa acumula mais conhecimento. Cada vez mais a 
dimensão cumulativa, a dimensão de passado, se impõe. É extraordinário como a nossa 
memória tem que ficar cada vez mais enriquecida, porque o tempo passa e a memória 
cresce proporcionalmente. 
Sem dúvida nenhuma, a primeira ideia que temos quando falamos em cultura é 
a de transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra, de uma 
instituição para outra, de um país para outro; subsiste sempre a ideia de algo que já foi 
estabelecido em um passado – que pode ser um passado próximo ou um passado remoto. 
Evidentemente, nossa cultura tecnológica tem proximidade com a Revolução Industrial e 
com tudo o que veio depois, ao passo que a cultura humanística deve remontar aos gregos 
e aos romanos, há 2.000 ou 3.000 anos atrás. Não importa: seja um passado recente, 
séculos XIX e XX, seja um passado remoto (antes de Cristo, ou épocas arcaicas), sempre a 
palavra cultura carrega dentro de si a ideia de transmissão de ideias e valores. 
Mas, voltando à etimologia, cada vez mais nos preocupamos com a outra 
dimensão, que é a dimensão do projeto. Não basta que nós herdemos do passado todas 
essas riquezas, é preciso que continuemos aprofundando certos veios; se a cultura está 
sempre “in progress”, ela está sempre em fase de desvios, ela não é algo estabelecido para 
sempre. Só as culturas em decadência é que fixam, congelam, tal como a cultura bizantina, 
que, dizem, durante mil anos repetiu as fórmulas do Império Romano do Oriente; ou a 
 
cultura chinesa, antes de a China entrar em contato com o mundo ocidental, também 
codificou formas, comportamentos; a japonesa também. 
No mundo contemporâneo, ao contrário, cada vez menos nos atemos à fixidez 
das fórmulas e cada vez mais (como a cultura é um complexo de conhecimentos 
científicos, técnicos etc., e não só históricos) nos preocupamos em criar projetos de 
cultura; e cada vez mais, além desta criação, os nossos ideais democráticos exigem uma 
socialização do conhecimento. Não só cavar na matéria em si da cultura, mas também 
estendê-la na linha da comunicação, na linha da socialização; e fazer com que este bem seja 
repartido, distribuído, da maneira mais justa e mais ampla possível, o que é próprio da 
sociedade democrática. Disponível em: 
<http://pandugiha.wordpress.com/2008/11/24/alfredo-bosi-a-origem-da-palavra-
cultura/> acessado em 05/02/2011. 
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2006. p. 291-296. 
 
Cultura 
 
O mundo que resulta do pensar e do agir humanos não pode ser chamado de 
natural, pois se encontra transformado e ampliado por nós. Portanto, as diferenças entre 
pessoa e animal não são apenas de grau, porque, enquanto o animal permanece 
mergulhado na natureza, nós somos capazes de transformá-la, tornando possível a cultura. 
A palavra cultura tem vários significados, tais como cultura da terra ou cultura 
de uma pessoa letrada, “culta”. Em antropologia, cultura significa tudo que o ser humano 
produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores 
materiais e espirituais. Se o contato com o mundo é intermediado pelo símbolo, a 
cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo. Dada a infinita possibilidade 
humana de simbolizar, as culturas são múltiplas e variadas: são inúmeras as maneiras de 
pensar, de agir, de expressar anseios, temores e sentimentos em geral. Por isso mudam as 
formas de trabalhar, de se ocupar com o tempo livre, mudam as expressões artísticas e as 
maneiras de interpretar o mundo, tais como o mito, a filosofia ou a ciência. 
Nesse processo de transformação, vale lembrar que a ação humana é coletiva, 
por ser exercida como tarefa social, peal qual a palavra toma sentido pelo diálogo. 
O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de 
modoque, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se 
situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, 
brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares; tudo, enfim, se acha 
codificado. Até na emoção, que nos parece uma manifestação tão espontânea, ficamos à 
mercê de regras que educam desde a infância a nossa expressão. 
O corpo humano nunca é apresentado como mera anatomia, a ponto de não se 
poder pensar em ‘nu’ natural: toda pessoa já se percebe envolta em panos e portanto em 
interdições pelas quais é levada a ocultar sua nudez em nome de valores (sexuais, 
amorosos, estéticos) que lhe são ensinados. Portanto, quando se desnuda, o faz a partir de 
valores, transgredindo aqueles estabelecidos ou propondo outros novos. 
Todas as diferenças existentes no comportamento modelado em sociedade 
resultam da maneira pela qual são organizadas as relações entre os indivíduos. É por meio 
delas que se estabelecem os valores e as regras de conduta que nortearão a construção da 
vida social, econômica e política. 
 
Como fica, então, a individualidade diante do peso da herança social? Haveria 
sempre o risco de o indivíduo perder sua liberdade e autenticidade? Martin Heidegger, 
filósofo alemão contemporâneo, alerta para o que chama de “mundo do man”: man equivale 
em português ao pronome reflexivo se ou ao impessoal a gente. Veste-se, come-se, pensa-
se, não como cada um gostaria de se vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o faz. 
Os sistemas de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede aparentemente 
sem saída. 
Assim como a massificação pode ser decorrente da aceitação sem crítica de 
valores impostos pelo grupo social, também é verdade que a vida a autêntica só pode 
ocorrer na sociedade e a partir dela. Justamente aí encontramos o paradoxo de nossa 
existência social. Como vimos, se o processo de humanização se faz por meio das relações 
pessoais, será dos impasses e confrontos surgidos nessas relações que a consciência de si 
poderá emergir lentamente. O importante é manter viva a dialética, a contradição fecunda 
de pólos que se opõem, mas não se separam. Ou seja, ao mesmo tempo que nos 
reconhecemos como seres sociais, também somos pessoas, temos uma individualidade que 
nos distingue dos demais. 
Portanto, a sociedade é a condição da alienação e da liberdade; nela o ser 
humano pode ser perder, mas pode também se encontrar. O sociólogo norte-americano 
Peter Berger usa a expressão êxtase (ékstasis, em grego, significa ‘estar fora’, ‘sair de si’) 
para explicar o ato possível de o indivíduo ‘ se manter do lado de fora ou dar um passo 
para fora das rotinas normais da sociedade’, o que permite o distanciamento crítico do 
próprio mundo em que se vive. 
O ‘sair de si’ representa um esforço para nos livrarmos de convicções 
inabaláveis e portanto paralisantes. É a condição para que, ao voltar de sua ‘viagem’, o ser 
humano se torne melhor, menos dogmático ou preconceituoso. TOMAZI, Nelson Dácio. 
Iniciação à Socilogia. 2. ed. São Paulo: Atual, 2000. p.175-178. 
 
Cultura: um conceito com várias definições 
 
Se fôssemos tentar definir o conceito de cultura, teríamos que procurar saber 
como ele surgiu. De acordo com o sociólogo inglês Raymond Williams, a palavra vem do 
latim – colere – e definia inicialmente o cultivo das plantas, o cuidado com os animais e 
também com a terra (por isso, agricultura). Definia, ainda, o cuidado com as crianças e sua 
educação; o cuidado com os deuses (seu culto); o cuidado com os ancestrais e seus 
monumentos (sua memória). Passando por todos esses elementos, chegaríamos, 
finalmente, ao sentido mais comum que o termo possui em nossa sociedade: o de que o 
homem que tem cultura é um homem “culto”. É aquele que “cultiva” (no sentido de 
desenvolver, praticar, cultuar) a inteligência, as artes e o conhecimento presente nos 
livros. 
Mas, se pensássemos em cultura apenas nesse sentido, teríamos que perguntar: 
só quem lê muito, quem passou um longo tempo na escola é que tem cultura? Somente o 
professor, o intelectual, os profissionais de formação universitária? Mas e o bóia-fria, o 
operário, o comerciante, estes não têm cultura? Numa outra perspectiva, poderíamos 
responder que cultura é cinema, pintura, teatro, as manifestações artísticas em geral. 
Nesse caso, só os artistas é que teriam cultura? Mas e as festas populares, as crenças, as 
chamadas tradições, seriam o que? 
 
A maneira de agir, pensar e sentir de um grupo de pessoas ou classe social 
seria ou não cultura? O “modo de ser” dos brasileiros, como se costuma ouvir e dizer, tem 
algo a ver com “cultura”, com “cultura brasileira”? 
Antes de responder a essas perguntas, devemos partir, especificamente, da 
compreensão do próprio conceito. Pensar em cultura requer que se pense, inicialmente, 
em sua relação com outros dois conceitos fundamentais: o de civilização e o de 
história. Foi na Europa, a partir do século XVIII, que o conceito de cultura passou a 
ser associado ao conceito de civilização. Os pensadores do período, preocupados em 
estudar o homem e a sociedade, pensavam a relação entre os conceitos de cultura e de 
civilização de maneiras diversas, como nos mostra a filósofa brasileira Marilena Chauí. 
Segundo Chauí, o filosofo Rousseau (1712-78) definia a cultura de maneira 
positiva. Para ele, um pensador para quem o homem era naturalmente bom, cultura seria 
definida como bondade natural, interioridade espiritual, imaginação, solidariedade 
espontânea. A essa idéia positiva de cultura, Rousseau opunha a idéia negativa de 
civilização. O conceito de civilização era pensado como o aprisionamento da bondade 
humana natural; aprisionamento que Rousseau acreditava dar-se por meio de regras e 
convenções artificiais e exteriores ao homem. 
Já para Voltaire e Kant cultura e civilização representavam ambas, o processo 
de aperfeiçoamento moral e racional da sociedade, sendo a cultura a forma de avaliar o 
estágio de progresso e desenvolvimento de uma civilização. Para esses autores, portanto, 
não havia oposição entre cultura como reino natural e civilização como reino do artificial. 
A cultura seria, para eles, um conceito dinâmico e transformador que definiria aquilo que 
é específico do ser humano, na sua relação com a natureza e na construção de uma ordem 
humana superior (civilizada). E, dessa forma, acabaria servindo para, ao longo do tempo, 
distinguir os homens cultos (educados intelectual e artisticamente) dos incultos e também 
para comparar e classificar civilizações diferentes em mais ou menos “civilizadas”. 
 
Cultura Popular e Cultura Erudita 
 
Cultura é uma construção humana e se opõe à natureza, aquilo que não passa 
pelo trabalho do homem. Para não deixar o conceito tão amplo, algumas divisões são 
criadas, entre elas as de popular e erudita. 
Fala-se em cultura popular e cultura erudita como se houvesse um rio que 
separasse claramente as duas margens. Este rio não existe, mas a divisão tem alguma 
utilidade operacional. A cultura popular seria aquela que é produto de um saber não 
institucionalizado, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o 
crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel. A cultura erudita, por 
outro lado, pressupõe uma elaboração maior e por isso uma institucionalização do saber. 
Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, 
bibliotecas, conservatórios musicais, etc, que selecionam o material e impõem regras 
rígidas e complexas elaborações. Bach, na música, e Ingres, na pintura, são exemplos 
disso. 
Evidentemente, os conceitos popular e erudito escondem também uma 
valoração. Por muitos anos, a cultura popular foi considerada inferior à erudita; e erudito 
mesmo era aquilo que era europeu, de preferência francês, inglêsou alemão. Os brasileiros 
eram os primos pobres, que tinham que beber naquelas fontes para se curar de seu 
 
incurável atraso. Esse pensamento foi se transformando ao longo dos anos, graças às 
contribuições de autores que, dominando o saber erudito, reconheciam o valor imenso da 
cultura popular (Gilberto Freire, Mário de Andrade e Guimarães Rosa são alguns desses 
autores). 
Uma manifestação típica da cultura popular brasileira (junto com a literatura 
de cordel) é a frase de parachoque de caminhão, que condensa muito da experiência e do 
saber popular. O bom humor do brasileiro, por décadas, foi literalmente "veiculado" nos 
parachoques de caminhão. Em estradas muitas vezes em péssimas condições, ficar atrás de 
um caminhão tinha pelo menos uma vantagem: ler a frase do parachoque. "A vida é um 
sutiã: a gente tem que meter os peitos", por exemplo, tem mais força que um tratado 
acadêmico sobre a importância do empreendedorismo! 
A Mókpi está lançando neste mês de julho (de 2009) o Baralho do 
Caminhoneiro, justamente porque acredita no valor das manifestações populares. Como a 
"filosofia de caminhoneiro" corria o risco de se perder (existe uma lei que proíbe a 
colocação das frases no parachoque, porque elas distraem a atenção dos motoristas que 
passam pelo caminhão), a Mókpi está agora eternizando esta manifestação cultural no 
Baralho do Caminhoneiro, para que as novas gerações conheçam estas "pérolas" e 
respeitem os sábios anônimos que as criaram. 
Disponível em < http://mokpi.blogspot.com/2009/07/cultura-popular-e-cultura-
erudita.html> acesso: em 20 jan. 2011. 
 
1.3 MULTICULTURALISMO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, HISTÓRIA E 
CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA 
 
Multiculturalismo 
 
Hibridismo, diversidade étnica e racial, novas identidades políticas e culturais: 
estes são termos diretamente relacionados ao multiculturalismo. Se a diversidade cultural 
acompanha a história da humanidade, o acento político nas diferenças culturais data da 
intensificação dos processos de globalização econômica que anunciam, segundo os 
analistas, uma nova fase do capitalismo, denominada por autores como Ernest Mandel de 
"capitalismo tardio" e por outros, como Daniel Bell, de "sociedade pós-industrial". A 
despeito das querelas acerca das origens dessa nova fase, o fato é que as discussões acerca 
do multiculturalismo acompanham os debates sobre o pós-modernismo e sobre os efeitos 
da pós-colonização na cena contemporânea, o que se verifica de forma mais evidente a 
partir dos anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. A globalização do capital e a 
circulação intensificada de informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de 
uniformizar o planeta (como propalado por certas interpretações fatalistas), trazem a 
afirmação de identidades locais e regionais, assim como a formação de sujeitos políticos 
que reivindicam, com base em garantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, 
negros (ou afro-americanos), homossexuais, populações latino-americanas ("hispanos" ou 
chicanos) e migrantes em geral se fazem presentes como atores políticos com a marcação 
de diferenças de gênero, culturais e étnicas. A cultura torna-se instrumento de definição 
de políticas de inclusão social - as "políticas compensatórias" ou as "ações afirmativas" - 
que tomam os diversos setores da vida social. Cotas para minorias, educação bilíngue, 
 
programas de apoio aos grupos marginalizados, ações antirracistas e antidiscriminatórias 
são experimentadas em toda parte. 
Primeiro, é conveniente esclarecer as diferenças entre multiculturalismo, 
pluralismo, universalismo e relativismo. O pluralismo é uma característica de sociedades 
livres, em que há a convivência pacífica e respeitosa entre pensamentos diferentes, 
atualmente encontrada nos Estados Democráticos de Direito. Não se pode falar em um 
pensamento melhor que outro, pois todos são dignos de respeito. O pluralismo combate o 
pensamento único, o que contraria uma das tendências do processo de globalização. O 
fenômeno da globalização não admite diálogo ou outra opção; se é universal, não pode ser 
local. Não existe alternativa possível, o mundo deve ser unipolar. Pauta-se por uma ética 
individualista, mas sem liberdade para o indivíduo seguir qualquer plano de vida. Há um 
único modelo a ser seguido. A globalização como projeto político e econômico transmuta-
se no neoliberalismo (democracia + livre mercado) e repercute na seara dos direitos 
humanos com o plano de diminuição dos direitos sociais, econômicos e culturais, bem 
como com a sobrevalorização dos direitos de propriedade. Não existem mais pessoas ou 
cidadãos, mas clientes. O projeto político mundial é conduzido conforme interesse de 
grandes multinacionais. 
A Constituição brasileira, em seu preâmbulo, assegura a pluralidade da 
sociedade nacional. 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos 
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a 
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, 
pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem 
interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a 
proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO 
BRASIL (grifo nosso). 
O artigo 5º da mesma Carta assegura a liberdade de pensamento, de opinião, 
de culto, de associação, de ofício, de opção sexual, de casamento, de partido político etc. 
Sem embargo, será que realmente o texto constitucional garante a pluralidade em nosso 
país? Para garantir a pluralidade, para que uma sociedade seja plural, as pessoas devem ter 
a capacidade de optar por esse ou aquele modelo, e essa opção deve ser livre e consciente. 
Liberdade de eleição todos temos, é inerente ao ser humano. Entretanto, essa liberdade 
deve manifestar-se como liberdade moral, que é a ética (opção) privada - de cada 
indivíduo. Esta nem todos temos, pois deve ser livre e individual. Aí entra o Estado, com a 
ética pública, para garantir que todos teremos condições de optar, com a utilização de 
políticas de isonomia, especialmente via garantia de direitos de segunda geração, que são 
os direitos econômicos, sociais e culturais. 
 No multiculturalismo, existe a convivência em um país, região ou local de 
diferentes culturas e tradições. Há uma mescla de culturas, de visões de vida e valores. O 
multiculturalismo é pluralista, como já se pode observar, pois aceita diversos pensamentos 
sobre um mesmo tema, abolindo o pensamento único. Há o diálogo entre culturas diversas 
para a convivência pacífica e com resultados positivos a ambas. 
O problema reside no fato de que o multiculturalismo pode ser abordado de 
forma relativista e de forma universalista. Há a abordagem relativista quando não se 
estabelecem critérios mínimos para o diálogo entre culturas, isto é, tudo é aceito e tudo é 
 
correto. O julgamento interno é mais importante do que o julgamento externo (da 
sociedade internacional). Nessa concepção do multiculturalismo, não se pode falar em 
direitos humanos universais, pois cada cultura é livre para estabelecer seus próprios 
valores e direitos. Não existe a possibilidade de proteção internacional dos direitos 
humanos nessa visão. 
O multiculturalismo também pode ser universalista, ou seja, permitir a 
propagação e convívio de diferentes ideias, desde que esteja estabelecido um denominador 
mínimo, comum entre as partes para o início do diálogo (valores universais). Esse mínimo 
a ser respeitado são os direitos humanos. No universalismo, o julgamento externo 
sobrepõe-se ao interno. Sinceramente, creio que cada cultura possui um peso que não 
pode ser valorado, mas não vejo como deixar de estabelecer um padrão mínimo para aconvivência entre os povos. O relativismo permite que sejam aceitas culturas que desejam 
aniquilar-se umas com as outras, o que inviabiliza a paz. Com o relativismo, a Declaração 
Universal de Direitos Humanos (1948) tem diminuído seu peso, sua importância. As 
conquistas advindas dela deixam de ter seu valor. 
No multiculturalismo universalista, pode-se defender o caráter geral da 
Declaração Universal de Direitos Humanos (para todos, em qualquer nação, em qualquer 
tempo). Esta seria a base para o convívio entre os povos. Imaginem se em um condomínio 
não existissem regras de convivência, sobre como possuir animais, sobre como jogar o lixo 
fora, sobre os horários de festas etc. Imaginem se todas as atitudes de quaisquer moradores 
fossem aceitas. Provavelmente os conflitos seriam maiores. Como realizar intervenções 
humanitárias? No relativismo o peso da soberania ganha novo fôlego na sociedade 
internacional, podendo justificar inação dos agentes globais e graves violações aos direitos 
humanos. 
Assim, a defesa dos direitos humanos universais é compatível com o 
pluralismo e com o multiculturalismo universalista, mas é totalmente inviável em um 
ambiente de multiculturalismo relativista. Pode-se dizer que é uma visão ocidental e 
limitada, mas não vejo possibilidade em conciliar toda e qualquer prática em nosso mundo. 
Não consigo ver como aceitável ou com a possibilidade de me adaptar à circuncisão 
feminina em diversos países da África do Norte, à discriminação feminina em diversos 
países, à sacrifícios humanos etc. O direito à diferença e o respeito às tradições culturais 
devem ter um limite, e este limite são os direitos humanos. 
Falar de tolerância
 
em situações abusivas aos direitos humanos é ser 
indiferente. A defesa do pluralismo não pode ser deturpada, pois o ser humano precisa 
estar acima de qualquer tradição ou prática. Essa deturpação me parece ser o relativismo, 
que permite até a quebra do próprio relativismo, ao permitir que uma cultura destrutiva 
ganhe espaço na sociedade internacional e, com o tempo, destrua essa própria sociedade 
por não seguir seus valores belicosos, acabando com o multiculturalismo relativista (ldem 
p/ democracia s/ direitos fundamentais). 
Destaco que as concepções relativista e universalista do multiculturalismo 
somente serão importantes quando possuírem um objeto moral também importante, que 
são os direitos humanos. Tradições e costumes que não afetam esse catálogo mínimo de 
direitos não devem sofrer alteração por um julgamento externo, o da sociedade 
internacional. Aí, prevalece o entendimento do grupo social. 
A palavra tolerância pode significar a preponderância do meu pensamento 
sobre o do outro. Eu tolero o outro, eu o aguento, eu o suporto. Os relativistas não 
 
admitem o termo tolerância, pois afirmam que desiguala os conceitos e tradições, com a 
existência de uma superior. 
Garantir direitos mínimos, que são os direitos humanos, é assegurar que todos 
terão liberdade moral (dignidade), capacitando os indivíduos a que realizem seus planos de 
vida com liberdade e consciência. Uma lista mínima de direitos não me parece atentar 
contra identidades culturais deste ou daquele povo. Creio ser plausível pelo menos uma 
regra mínima como ponto de partida para o diálogo entre culturas: a de não prejudicar 
terceiros. Parece-me que universalizar um direito tem um peso muito forte na sociedade 
internacional, o que permite tirar um pouco da carga desta expressão com a 
universalização de um valor, que é o de respeito à dignidade humana, como ocorre em 
quase todas as religiões do mundo. A partir daí pode-se permitir que as mais diversas 
tradições culturais se manifestem com toda plenitude e liberdade. 
Universalizar, ao contrário do que pensam alguns autores, não é uniformizar 
as ideias, criar um pensamento único. Trata de levar a todo o planeta um marco mínimo 
de respeito entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre elas. Esse diálogo 
deve ser produtivo, ao contrário do que ocorreria com o relativismo, pois não haveria 
como chegar a um mínimo de entendimento. A partir deste marco, que são os direitos 
fundamentais, cada povo tem a máxima liberdade de expressar suas tradições e crenças. 
É verdade que a universalidade dos direitos humanos tem sido utilizada no 
curso da história para justificar intervenções imperialistas de alguns Estados em outros 
povos, como ocorreu no colonialismo e no neocolonialismo, assim como, mais 
recentemente, na invasão americana ao Estado soberano do Iraque. Apesar disso, essas 
manipulações do Direito devem ser vistas como patologias e não como o próprio Direito, 
pois este tem como meta a convivência pacífica entre os povos, com a proibição de 
excessos na seara internacional. 
Confesso que se existisse a possibilidade de um diálogo entre culturas em um 
marco relativista, eu seria relativista. Isso poderia acontecer se eu acreditasse no caráter 
bom e pacífico do ser humano, o que não é verdade. Se não houvesse a possibilidade de 
que determinado povo fizesse o mal a outro grupo ou indivíduo, não necessitaríamos de 
um catálogo mínimo de direitos, pois a base já estaria pronta – respeito à dignidade 
humana. Entretanto, não é isso que temos visto na história do homem. Ao contrário, 
mecanismos artificiais de contenção do homem têm sido desenvolvidos desde o seu 
aparecimento no planeta, por intermédio da religião, da filosofia, da ciência e, mais 
recentemente, do Direito. (Adaptado de Multiculturalismo e direitos humanos, artigo de 
Marcus Vinícius Reis, disponível em 
http://www.senado.gov.br/sf/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf.) 
Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo no Brasil mereceriam uma 
discussão à parte, dada a sua complexidade. País de raízes mestiças, e que não constitui 
historicamente minorias que se organizam como comunidades apartadas do conjunto - os 
migrantes assimilam à sociedade nacional -, o Brasil parece ficar à margem dessas 
discussões até a década de 1980, data do fortalecimento e visibilidade das chamadas 
minorias étnicas, raciais e culturais. A pressão dos novos atores sociais reverbera 
diretamente no texto da Constituição de 1988, considerada um marco em termos da 
admissão do nosso pluralismo étnico. Os efeitos dessas formas renovadas de engajamento 
podem ser observados no campo da produção artística, sobretudo da literatura fala-se em 
"escrita feminina", em "vozes negras", homoerótico etc.). Na música jovem, das periferias 
 
urbanas, define-se o espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip hop. O campo das 
artes visuais recebe o impacto dessas problemáticas - a experiência das minorias aparece 
tematizada em um ou outro artista -, ainda que pareça difícil localizar aí uma produção de 
cunho multicultural com contornos definidos. 
 
Relações étnico-raciais 
 
É muito importante que as crianças e adolescentes do Semi-árido tomem 
conhecimento de suas culturas locais, como parte integrante da cultura da nação brasileira, 
que se empenhem na sua valorização, sobretudo a partir das escolas onde estudam, 
atendendo ao que determina a legislação específica em vigor. 
A Lei 10. 639/03, por exemplo, é da maior importância, na medida em que 
altera a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ao instituir a 
obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo, em 
todos os sistemas e modalidades de ensino do país. 
Entre a população indígena, a luta maior é por uma educação escolar 
diferenciada, que respeite a sua diversidade cultural e lingüística, garantida pela 
Constituição de 1988 e pela Resolução 03 da Câmara de Educação Básica – CEB, de 
novembro de 1999. 
Segundo o Censo Escolar de 2003, existem 149.311 estudantes indígenas que 
freqüentam a educação básica no Brasil, em mais de 2000 escolas indígenas. 
Indígenase afro-brasileiros ainda são vistos na escola de forma preconceituosa 
e estereotipada, ou seja, sem respeito a suas características étnicas e culturais. Dois 
documentos podem ajudar a comunidade e a escola a mudar essa visão, com uma 
abordagem que garanta os direitos educacionais e culturais dessas populações. Esses 
documentos são o Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas – RCNEI e as 
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações étnico-raciais e para o 
Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana. 
As políticas públicas para o Semi-árido deverão estar comprometidas com a 
superação das desigualdades raciais na região, a partir da escola e de seus principais agentes 
– professores e alunos – para que educação e cultura caminhem juntas na promoção da 
igualdade e da justiça social. 
 
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena 
 
A força da cultura de negros/ as e indígenas pode ser vista em todos os 
momentos cotidianos da vida. Nos seus modos diversos de falar, andar, comer, orar, 
celebrar e brincar, estão inscritas as marcas civilizatórias desses povos que, ancorados na 
dimensão do sagrado, celebram e respeitam a vida e a morte, mantendo uma relação ética 
com a natureza. É através destas formas cotidianas de se expressar e de ver o mundo que 
indígenas e afro-brasileiros/as têm resistido culturalmente na manutenção de sua história. 
A importância de crianças e adolescentes, independente da raça, etnia ou cor 
da pele, serem estimuladas a reconhecer e valorizar as identidades culturais da sua região – 
que podem estar presentes em quilombos, terreiros, aldeias, bairros populares, 
assentamentos e outros territórios – é que elas podem se orgulhar de que a cultura da sua 
localidade integra a diversidade que caracteriza a cultura brasileira. 
 
Cultura, como sabemos, é tudo que as pessoas lançam mão para construir sua 
existência, tanto em termos materiais como espirituais, envolvendo aspectos físicos e 
simbólicos. A cultura é um patrimônio importante de um povo, porque resulta dos 
conhecimentos compartilhados entre as pessoas de um lugar, e vai passando e sendo 
recriada, de geração em geração. É a cultura que nos diz em que acreditar, influencia os 
nossos modos de ser e estar no mundo, de agir, sentir e nos relacionar com o natural e o 
social. 
Como são e como vivem as pessoas de cada município? Como se relacionam 
com as culturas indígena e afro-brasileira? Como lembram os antepassados, quais suas lutas 
para sobreviver, seus valores, crenças, suas formas de lazer? As culturas de origem africana 
e indígena possuem uma diversidade enorme, mas, de modo geral, é possível identificar 
algumas características bastante semelhantes. Trata-se de povos que incluem crianças, 
jovens, adultos/ as, idosos/as, preservam a vida natural e social, se organizam por meio da 
participação coletiva, se juntam em torno de objetivos comuns... Mas, os modos como 
vivenciam essas experiências variam bastante. A dimensão sagrada é outra característica 
importante. Possuem vários deuses e deusas – a lua, a água, o sol, as plantas; acreditam no 
poder de cura desses elementos, sempre relacionando corpo físico e espiritual. 
Nestas sociedades, o ensinar/aprender está muito presente. Historicamente, 
essas sociedades foram atingidas por diversas formas de violência física e cultural, ameaças 
de dissolução e deformação. Por isso, é tão importante trazer à tona suas histórias e 
culturais, nem sempre valorizadas e reconhecidas como deveriam. 
Importante também é observar como as pessoas de mais idade ou as envolvidas 
nas religiões de matriz africana e indígena elaboram visões de mundo, a partir das suas 
vivências e sentimentos. Isso é um legado, um patrimônio, uma herança, “bens de família”, 
uma memória. 
Ouvindo as histórias das pessoas mais velhas, se conhecem mais as tradições, 
identifica-se um patrimônio que se perpetuou e se recriou nos mais diversos contextos e 
situações. Assim, independente da forma como são denominados ou se autodenominam na 
região – negros/ as, índios/ as, caboclos/ as, sertanejos – as influências indígenas e afro-
brasileiras podem estar presentes nas suas formas de ser e viver, embora isto nem sempre 
seja explicitamente mencionado. 
 
Identidade, Ancestralidade e Resistência: Marcas das Culturas Indígenas e 
Afro-brasileiras no Brasil 
 
Identidade indígena e identidade negra têm a ver com as tradições desses 
povos, encontradas nas memórias, nas manifestações artísticas e religiosas, muitas vezes 
recriadas ou reinterpretadas em função dos contextos socioculturais onde ocorrem. Assim, 
em cada região ou município, essas culturas apresentam características distintas, que 
formam uma identidade étnico-racial. Crianças e adolescentes no Semi-árido, portanto, 
possuem identidades diferenciadas. Daí a necessidade de procurar perceber as muitas 
formas como a identidade indígena e a identidade negra se apresentam na cultura do 
município. 
A ancestralidade – respeito aos que existiram e aos que virão – consiste numa 
relação equilibrada entre o passado, o presente e o futuro, remetendo para a valorização 
das pessoas que nos antecederam, suas lutas, suas histórias e o papel das gerações atuais na 
 
continuidade de seus feitos, transmitindo a um tempo futuro aquilo que fizeram e tiveram 
de melhor. 
A resistência mostra o processo de luta pela sobrevivência física e cultural dos 
povos indígenas e negros no Brasil, por meio de práticas sociais, políticas, culturais e 
religiosas, fazendo com que se mantivessem conhecimentos ancestrais próprios que 
fortalecem a identidade étnico-racial. 
 
Expressões Culturais Afro-Brasileiras e Indígenas 
 
O selo Município Aprovado 2008 está dando visibilidade às formas como 
indígenas de diversas etnias e afro-brasileiros, em modos de vida também diferenciados, 
têm preservado suas culturas, através de diversas expressões e linguagens, destacando-se 
grupos de hip-hop, capoeira, blocos carnavalescos, afoxés, maracatus, bumba-meu-boi, 
caboclinhos, ternos de reis e muitos outros eventos, histórias, personalidades da cultura 
brasileira, como exemplificado nos quadros a seguir. 
 
 EVENTOS compreendem festas, festivais, acontecimentos, apresentações 
teatrais, de dança, recitais, poéticos, exposições de artes plásticas; bumba-meu-boi, 
maracatus, reinados do congo, afoxés maculelê, ternos e folias de reis, tambor-de-crioula, 
cantos de trabalho, ritos de passagem, casamentos, cantorias, cordel, quadrilhas juninas, 
sambas, que tenham a cultura negra e/ou indígena evidenciada. 
 
 OFÍCIOS E MODOS DE FAZER são processos de trabalho e produtos 
obtidos, próprios do município ou da região e que são característicos do viver, celebrar, 
conviver, cuja origem e história se baseiam nas civilizações indígenas e/ou africanas. Estas 
expressões culturais podem ser encontradas nas artes e no artesanato, na fabricação de 
instrumentos e outros objetos de uso religioso, na culinária. São exemplos: cerâmica, 
cestarias, cocares, pinturas corporais, ferramentas de orixás, carranca, acarajé, panos-da-
costa, penteados, trançados e outros. 
 
 MITOS, CONTOS, HISTÓRIAS são contados, geralmente, pelas pessoas 
mais velhas, que conhecem a história e a cultura e têm prazer de repassar aos que não 
vivenciaram, os quais passam a conhecer e se orgulhar de seu pertencimento étnico-racial. 
A memória cultural de uma localidade é o maior bem que ela possui. É a tradição oral que 
faz este bem circular, ganhar mundo, organizando a vida, as ideias, mantendo e 
preservando a riqueza cultural de um povo. Isto faz parte da cultura de cada localidade, 
mostrando o jeito como as pessoas se relacionam, se vinculam ao passado e à tradição, 
dando continuidade à existência. Nas culturas indígena e negra, essas histórias são a forma 
principal de transmissão e preservação do conhecimentoe da sua cultura, que assim têm 
resistido, com o passar do tempo, à massificação e suas tendências uniformizantes e 
descartáveis. 
 
 LUGARES E CONSTRUÇÕES são espaços construídos ou naturais, como 
terreiros, territórios quilombolas, aldeias e reservas indígenas, mercados, feiras, rios, 
cachoeiras, praias, mangues, açudes, que traduzem a experiência afro-brasileira e indígena 
no município e são testemunhos de passagens importantes da história local. 
 
 
 HISTÓRIAS DOS LOCAIS E DOS TERRITÓRIOS são narrativas que 
contam um pouco da vida do município e /ou de uma comunidade específica, resgatando 
suas origens, como surgiu, se existe há muito tempo, quem foram seus pioneiros, se já foi 
maior, se já pertenceu a outro município etc., além de explanações sobre como o 
município se encontra atualmente e também a história dos seus bairros, comunidades e 
distritos. 
 
 LIDERANÇAS E PERSONALIDADES são pessoas que têm um trabalho 
reconhecido por grande parte da população. Geralmente, são grandes líderes religiosos, 
artistas, com conhecimentos importantíssimos e enorme experiência de vida, que se 
incubem de representar e cuidar de seu povo e repassar os modos de celebração e de cura 
aprendidos de seus ancestrais, como caciques, mães e pais de santo, pajés, guerreiros e 
outros. 
 
 INTITUIÇÕES, ENTIDADES E LOCAIS representativas da população 
indígena e negra do município, tais como: associações e grupos culturais ou comunitários 
– filarmônicas, grupos de folguedos, danças populares –terreiros, organizações não 
governamentais, etc. Esta área permite perceber o grau de organização popular no 
município, quem são as lideranças, o reconhecimento dos trabalhos realizados por essas 
organizações. 
 
 EXPRESSÕES E VOCÁBULOS locais e regionais são expressões 
lingüísticas de origem indígena e africana que permanecem no falar cotidiano do povo, sua 
linguagem específica e seus mais diversos significados. 
 
As formas de participação nessas expressões culturais são mais coletivas que 
individuais. As atividades de identificação, escolha e registro da expressão, fiéis a este 
princípio de participação, envolverão professores e professoras, alunos e alunas, lideranças 
culturais e religiosas, reconhecendo o valor e a legitimidade, não só das expressões 
culturais, mas das pessoas e civilizações que as geram. 
Expressões culturais afro-brasileiras e indígenas buscam fortalecer a identidade 
étnico-racial; promovem a auto-estima e a autoconfiança de negros e negras e de 
indígenas; têm forte relação coma memória e a tradição oral; resgatam processos de luta e 
resistência, valorizam e mostram os feitos dessas populações; trazem aspectos negados 
dessas culturas. 
 
Adaptado de: (Fonte: Selo UNICEF. Guia de orientação para os municípios. Elaboração 
CEAFRO (Educação e profissionalização para Igualdade Racial e de 
gênero). Edição 2008. Pág. 6 à 17.) 
 
1.4 INDÚSTRIA CULTURAL 
 
A indústria cultural ou cultura de massa 
 
 
A expressão “cultura de massa” foi muito usada, principalmente pelos 
norte-americanos. Os sociólogos americanos criaram a expressão mass culture, que foi 
moeda corrente até os anos 1950. Nos anos 1950 falava-se em mass communication, mass 
culture, muitos livros traziam esses títulos. Mas na Europa, particularmente na Alemanha, 
com a Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, filósofos marxistas) implantou-se uma 
forte tendência humanista. Estes filósofos eram críticos da cultura de massas e eles 
próprios, sobretudo Adorno, julgaram que essa expressão era inadequada, porque 
cultura de massas poderia dar a impressão de que é uma cultura produzida pelas massas; 
cultura de massas, como se as massas, que são alguma coisa anônima, (massas de uma 
cidade, massas de um país – a palavra “massa” já é por si anônima) produzissem cultura. 
 
Indústria cultural 
 
 Conceito formulado pelos filósofos alemães Adorno e Horkheimer, em 
1947. 
 É fruto de uma sociedade capitalista industrializada, onde até mesmo a 
cultura é vista como produto a ser comercializado. 
 É a exploração com fins econômicos e comerciais de bens considerados 
culturais. 
 Tudo que é produzido pelo sistema industrializado de produção cultural 
(TV, rádio, jornal, revistas, etc) elaborado de forma a influenciar, aumentar o consumo, 
transformar hábitos, educar, informar, etc. 
 I.C. tem como único objetivo a dependência e a alienação dos homens. Ao 
maquiar o mundo nos anúncios que divulga, ela acaba seduzindo as massas para o consumo 
de mercadorias culturais. 
 I.C. promove a resignação, manipula as distrações, permanece ligada aos 
clichês ideológicos e chavões que perpetuam os estereótipos e que são repetidas à 
exaustão. 
Indústria cultural é o nome genérico que se dá ao conjunto de empresas e 
instituições cuja principal atividade econômica é a produção de cultura, com fins 
lucrativos e mercantis. No sistema de produção cultural encaixam-se a TV, o rádio, 
jornais, revistas, entretenimento em geral; que são elaborados de forma a aumentar o 
consumo, modificar hábitos, educar, informar, podendo pretender ainda, em alguns casos, 
ter a capacidade de atingir a sociedade como um todo. 
Desde a década de 1990, seis empresas transnacionais tomaram conta de 96% 
do mercado mundial de música. No que se refere ao cinema a situação é ainda mais 
chocante. Mais de 90% das telas norte-americanas só exibem filmes feitos no próprio país. 
O americano comum, portanto, não conhece o que se faz no estrangeiro. E o que se 
produz, na verdade, é pouco -- 85% dos filmes exibidos em todo o planeta brotam de 
Hollywood. 
Para a filósofa Marilena Chauí, a indústria cultural vende cultura. Para vendê-
la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, 
provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve 
devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A “média” é o senso 
comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova 
 
Ela define a cultura como lazer e entretenimento, diversão e distração, de 
modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade, 
da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não “vende”. 
Massificar é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e 
divulgar a cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a 
vulgarização das artes e dos conhecimentos. 
É dentro deste contexto que ele formula o conceito de Indústria Cultural 
que ocorre, pela primeira vez, em 1947, na obra Dialética do Iluminismo, escrita em 
parceria com Horkheimer, na qual defende que o Iluminismo, tido como um esforço 
consciente de valorização da razão . 
Indústria Cultural é a exploração, com fins comerciais e econômicos, de 
bens considerados culturais, não só daqueles criados unicamente para os fins citados, mas 
também daqueles genuinamente culturais, como por exemplo, a festa dos bois bumbás de 
Parintins (AM), que se descaracterizou a partir da exploração econômica que a 
transformou numa indústria. 
A Indústria Cultural é a indústria da cultura, indústria stricto sensu. Nela, há 
classificação e padronização dos consumidores através das distinções entre filmes A e B, 
por exemplo, as quais não estão calcadas na realidade – são artificiais: prevê-se, para 
todos, um tipo de arte a ser “consumida”, assim, ninguém escapa. 
A publicidade é, hoje, um exemplo forte da Indústria Cultural porque 
ambas estão fundidas. A função de um publicitário é fazer com que o consumidor compre 
aquilo que ele não precisa com o dinheiro que ele não tem; ele, de fato, consegue cumpri-
la: quando produz uma propaganda, já sabe qual público atingir porque pesquisou, 
anteriormente, suas necessidades (que foram construídas por ele próprio).Deste modo, o 
consumidor é o objeto da Indústria Cultural. A Indústria Cultural extermina o que é 
particular, nega a particularização, seja a cor, a composição, a arquitetura. 
O que a Indústria Cultural fornece, de fato, é a vida cotidiana, a verdadeira 
imagem do mundo tal qual ela se apresente; ela promove a resignação que se quer 
esquecer nela, estraga o prazer, manipula as distrações, permanece voluntariamente ligada 
aos clichês ideológicos da cultura em vias de liquidação, defende e justifica a arte física em 
confronto com a arte espiritual, não tem substância e despersonaliza o humano contra o 
mecanismo social. 
O melhor sinônimo para Indústria Cultural é, hoje, a globalização: processo 
de aceleração capitalista que vem ocorrendo desde a Pré-história, mas que só 
recentemente ganhou a velocidade da luz; pode criar uma civilização genuinamente 
transnacional alimentada pela exposição à tecnologia e pelas mesmas fontes de informação; 
possui um tremendo potencial para solucionar os problemas do homem contemporâneo e 
pode criar riquezas num ritmo alucinante. 
 
Arte, Indústria Cultura e Educação 
 
Quando a Indústria Cultural privilegia um produto pseudo-artístico padronizado, 
calculado tecnicamente para surtir efeitos determinados de modo a serem por todos 
desejados e repetidos, na forma e na medida adequados a garantir o poder e o lucro do 
sistema dominante. 
 
Como consequência dessa massificação, podemos considerar que o fato de 
se ter acesso somente à cultura de massa acaba por não permitir ao indivíduo a 
aquisição do conhecimento de outros aspectos culturais que expressam a cultura do povo, 
seus valores e suas lutas. Em nosso entender, a música é a expressão do pensar e do sentir 
das pessoas de uma determinada época. Além de proporcionar prazer, ela também pode 
informar e conscientizar. Portanto, para nós, esta postura de consumo significa estar à 
margem da cultura como um todo. 
Adorno considera que a Indústria Cultural prostitui os valores estéticos 
da arte, dando-lhe uma falsa imagem. A música tornou-se um fundo convencionalmente 
necessário e repetitivo. O público a escuta de forma infantil ou não a escuta. Vemos que 
essa crítica é muito atual quando sintonizamos qualquer emissora de rádio ou de 
televisão preocupadas, tão somente, com o sentido mercadológico da arte musical. Os 
ritmos e as letras das músicas são sempre idênticos, não acrescentando absolutamente nada 
à nossa formação cultural e como pessoa. 
As implicações da chamada "música de mercado" influenciam, tanto no 
aspecto cultural como no social, a formação das crianças. De maneira especial, 
seduzem-nas pela sensualidade das danças e das letras musicais, acarretando um 
desenvolvimento precoce de aspectos da sexualidade que atropelam, de alguma forma, seu 
desenvolvimento afetivo. Isso sem falar em outros aspectos, pois o vocabulário pobre e 
equivocado de muitas músicas acaba por interferir, também, em seu processo de 
desenvolvimento cognitivo. Veja este funk: “Mas se liga aí novinha, por favor tu não se engane. 
Abre as pernas e relaxa. Que esse é o Bonde do Inhame. Que esse é o Bonde do Inhame. Esse é o bonde 
dos cria que enfogueta as novinhas. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Vai na treta do 
Nem que a Kátia tá também eeemmm. Larga o inhame na Silvinha.” 
No dizer de Adorno (1999, p. 67), a música atual, ao invés de entreter, 
parece contribuir "para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como 
expressão, para a incapacidade de comunicação". 
A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se 
instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de 
escravos sem exigências. Assume ela em toda parte, e sem que se perceba, o trágico papel 
que lhe competia ao tempo e na situação específica do cinema mudo. A música de 
entretenimento serve ainda e apenas como fundo. 
 
A cultura popular individualizada 
 
Feita a exposição dos três tipos de cultura, a erudita, a popular e a de massa, é 
provável que o leitor esteja se perguntando onde encaixar algumas produções 
culturais como, por exemplo, a música de Caetano Veloso, Chico Buarque e de 
Adoniran Barbosa, as peças de teatro de Guarnieri ou o teatro de revista. 
Trata-se da cultura popular individualizada, que se caracteriza por ser 
produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, 
cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e 
portanto não produzem cultura erudita), nem são típicos representantes da cultura 
popular (que se caracteriza pelo anonimato) nem da cultura de massa (que resulta do 
trabalho de equipe). 
 
O criador individual sofre a influência de todas essas expressões 
culturais e, "nessa luta, a obra é tanto mais rica e densa e duradoura quanto mais 
intensamente o criador participar da dialética que está vivendo a sua própria cultura, 
também ela dilacerada entre instâncias 'altas', 'internacionalizastes' e instâncias populares". 
 
Educar para qual cultura? 
 
As diversas manifestações culturais são expressões diferentes de uma 
sociedade pluralista, e não tem sentido tecer considerações a respeito da superioridade 
de uma sobre outra, o que leva à depreciação, quando a avaliação é feita segundo 
parâmetros válidos para outro tipo de cultura.

Outros materiais