Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VIII Manual de Direito Internacional Público Rubens de Mello - I - Rubens de Mello, Tratado de direito diplomático, Rio de Janeiro, 1948, v. 1; Rubens de Mello - 2, v. 2. Russomano - Gilda Maciel Correa Meyer Russomano, Direito internacional pí ba Econômica Exclusiva. ÍNDICE GERAL Ahrc.ttln cla 14° ecliçto ............................................................ XXI INTRODUÇÃO NOÇÃO. FUNDAMENTO E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. AS PESSOAS INTERNACIONAIS Capítulo 1 - Dentes do Direito Internacional ............ 19 Capítulo 2 - Os Tratados .............. 23 Seção 1 - Conceito, terminologia e classificação dos tratados ....... 23 Seção 2 - Condição de validade dos tratados .......... 25 s ) ° - Capacidade das partes contratantes ....... 25 s ?°- Habilitação dos agentes signatários ........ 26 .' 3° - Consenti mento mútuo ...... 26 ,' 4° - Objeto lícito e possível .................................................. 27 X Manual de Direito Internacional Púhlicu Seção 3 - Efeitos de tratado sobre terceiros Estados ........... Seção 4 - Ratificação, adesão e aceitação de tratado .......... Seção 5 - Registro e publicação de tratado ......................... Seção 6 - Interpretação de tratados ..................................... Seção 7 - Aplicação de tratados sucessivos sobre a mesma matéria ................................................................. Seção 8 - Nulidade, extinção e suspensão de aplicação de tratados ................................................................ Capítulo 6 - O Costume Internacional ............................. Capítulo 7 - Os Princípios Gerais do Direito ................... Capítulo 8 - Fontes Acessórias ................................................. Seção I - A jurisprudência dos tribunais ............................. Seção 2 - A doutrina dos autores......................................... Capítulo 9 - Codificação do Direito Internacional ................... Seção 1 - A Convenção de Genebra sobre o Direito do Mar (1958) .................................................................. Seção 2 - A Convenção de Viena sobre Relações Diplomá- ticas ..................................................................... Seção 3 - A Convenção de Viena sobre Relações Consu- lares ..................................................................... Seção 4 - A Convenção sobre Missões Especiais ............... Seção 5 - A Convenção sobre Relações entre Estados e Or- ganizações Internacionais .................................... Seção 6 - As Convenções de Viena sobre a Sucessão de Es- tados .................................................................... Seção 7 -- A Convenção sobre o Direito dos Tratados de Or- ganizações Internacionais.................................... Seção 8 - A Convenção sobre o Direito do Mar de 1982 .... Seção 9 - As convenções sobre assuntos cientíticos e tecno- lógicos e sobre o meio ambiente ......................... Capítulo 10 - Relações do DIP com o Direito Interno ............. Capítulo 1 1 - Os Sujeitos do Direito Internacional .................. 27 28 32 33 34 49 50 51 53 53 55 57 58 59 61 64 Índice Geral XI PRIMEIRA PARTE O ESTADO EM DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 - Elementos Constitutivos do Estado .................... Capítulo 2 - Classificação dos Estados .................................., Seção 1 - Estado simples .................................................... Seção 2 - Estados compostos por coordenação .................. União pessoal ........................................................................ União real .............................................................................. Confederação de Estados ......................................................... Estado federal ou federação de Estados ........................""""""" Seção 3 - Estados compostos por subordinação .................. Seção 4 - O sistema internacional de tutela ........................ Capítulo 3 -Nascimento de Estado......................................"" Capítulo 4 - Reconhecimento de Estado e de Governo ........... Seção 1 - Reconhecimento de Estado ................................, Seção 2 - Reconhecimento de beligerância e de insurgência . Seção 3 - Reconhecimento de governo ............................,.. Capítulo 5 - Extinção de Estado ......................................."".., Capítulo 6 - Sucessão de Estados .........................................." Seção 1 - Sucessão em matéria de tratados ......................... Seção 2 - A Convenção sobre sucessão de Estados em ma- téria de bens, arquivos e dívidas .......................... Seção 3 - Naturalização coletiva, em conseqüência de ces- são ou anexação de território .............................., Capítulo 7 - Direitos dos Estados ..................................,......... Seção 1 - Direito à liberdade ......................................."".." Seção 2 - Direito de igualdade ........................................",. Seção 3 - Direito ao respeito mútuo .................................". Seção 4 - Direito de defesa e conservação .......................... Seção 5 - Direito internacional do desenvolvimento ........... Seção 6 - Direito de jurisdição ............................................ Capítulo 8 - Deveres dos Estados ............................................ 97 101 103 104 105 106 107 108 109 I11 X11 Manual de Direito Internacional Público Capítulo 9 - O Dever de Náo-Intervenção ............................... Seção 1 - Intervenção em nome do direito de defesa e de conservação ......................................................... Seção 2 - Intervenção para a proteção dos direitos humanos . Seção 3 - Intervenção para a proteção dos interesses de seus nacionais ....... Seção 4 - A Doutrina Drago ... Seção 5 - A Doutrina Monroe ..................................-..-..ww Capítulo 10 - Restrições aos Direitos Fundamentais dos Estados Seção 1 - Neutralidade permanente ...................................- Seção 2 - Arrendamento de território .................................. Seção 3 - Imunidade de jurisdição ...................................... Seçáo 4 - Capitulações ........................................................ Seção 5 - As servidões internacionais ................................. Capítulo 1 1 - Responsabilidade Internacional dos Estados ..... Seçáo 1 - Os princípios gerais e sua aplicaçáo .................... Seção 2 - Atos de órgãos do Estado .................................... a) Atos do órgão executivo ou administrativo ..................-........... h) Atos do órgão legislativo ....... c) Atos do órgão judiciário ou relativos às funções judiciárias ........ Seção 3 - Atos de indivíduos .......................................-...w- Seção 4 - Responsabilidade por danos resultantes de guer- ras civis ................................................................ Seção 5 - Esgotamento dos recursos permitidos pelo direito interno .................................. ..... Seção 6 - Nacionalidade das reclamações ........................... Seção 7 - Circunstâncias que excluem a responsabilidade . Seção 8 - Conseqüências jurídicas da responsabilidade ...... Capítulo 12 - A Santa Sé e a Cidade do Vaticano ................... SEGUNDA PARTE OS ÓRGÃOS DAS RELAÇÕES ENTRE ESTADOS 114 116 116 118 119 121 124 124 126 128 128 130 132 132 135 135 138 139 141 146 148 149 150 153 157 r''.",irlr. 1 -Chefe r1e Fstado ................................................... 165 Índice Geral XIII Capítulo 2 -O Ministro das Relações Exteriores..................... Capítulo 3 - As Missões Diplomáticas..................................... Seção 1 - Escolha e nomeação dos agentes diplomáticos ... Seção 2 - Funções das missões diplomáticas ...................... Seção 3 - As prerrogativas e imunidades diplomáticas....... Imunidade de jurisdição ........................................................... Isenção tïscal .......................................................................... Seção 4 - Termo da missão diplomática.............................. Capítulo 4 - As Delegações junto a Organizações lnternacionais Capítulo 5 - As Repartições Consulares .................................. Seção 1 - Nomeação e admissão de cônsules ...................... Seção 2 - As funções consulares ......................................... Seção 3 -Privilégios e imunidades consulares.................... Seção 4 - Termo das funções consulares ............................. TERCEIRA PARTE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS Capítulo 1 - As Nações Unidas ................................................ Seção 1 - A Assembléia Geral ............................................. Seção 2 - O Conselho de Segurança.................................... Seção 3 - O Conselho Econômico e Social ......................... Seção 4 - O Conselho de Tutela .......................................... Seção 5 - O Secretariado ..................................................... Seção 6 - Funções e atribuiçóes da Organização ................ Seção 7 - Os métodos amistosos de solução de contlitos ... Seção 8 - Ação coletiva contra as ameaças à paz, ruptura da paz ou atos de agressão ....................................... Seção 9 - Os acordos regionais ........................................... Capítulo 2 - A Corte Internacional de Justiça .......................... Capítulo 3 - A Organização dos Estados Americanos ............. Seção 1 - O sistema interamericano ................................-.. 168 170 172 173 174 176 178 179 181 185 186 187 188 190 194 195 197 199 200 200 201 201 204 206 209 217 218 XIV Manual de Direito Internacional Púhlico Seção 2 - Estrutura da OEA . ......... Assembléia Geral ...................... ......... ......... Conselhos da Organização...................... . ..... ......... Comissão Jurídica Interamericana ........................ ......... Comissão Interamericana de Direitos Humanos ..................... Secretaria-Geral ................................................................ Capítulo 4 - A Integração Econômica Latino-Americana , Seção 1 - O Tratado de Montevidéu de 1960 ................ Seção 2 - O Tratado de 1980 ........................................ Seção 3 - O Mercosul ................................................... Capítulo 5 - Os Organismos Europeus .............................. Seção 1 - Antecedentes ................................................ Seção 2 - As Comunidades Econômicas Européias ..... Capítulo 6 - A Organização da Unidade Africana ............ Capítulo 7 - A Liga dos Estados Árabes ........................... Capítulo 8 -Organizaçóes Internacionais Especializadas. QUARTA PARTE O TERRITÓRIO Capítulo 1 - Domínio Terrestre ............................. Seção Única - Demarcação .............................. a) Montanhas ...................................................... b) Rios ............................................................... c) Lagos ou mares internos .................................... c Ilhas ... Capítulo 2 - Domínio Fluvial ..... ........ Seção 1 - Rios nacionais .................................. Seção 2 - Rios internacionais .......................... Navegação ......................................................... Aproveitamento industrial e agrícola das águas ....... Pesca ................................................................ 220 220 221 221 222 222 224 225 225 226 230 230 231 235 237 238 243 245 247 247 249 249 251 252 252 253 254 255 Índice Geral XV Proteção do meio ambiente ....................................................... Capítulo 3 - Domínio Marítimo ............................................... Seção 1 - O mar territorial .................................................. Extensão ou largura ........ ................................... Direito de passagem inocente.................................................... Jurisdição do Estado ribeirinho, em matéria civil e penal .............. Seção 2 - A zona contígua................................................... ,Seção 3 - Águas e mares internos ....................................... Golfos e baías......................................................................... Portos e ancoradouros.............................................................. Estuários ............................................................................... Seção 4 - Mares fechados ou semifechados ........................ Seção 5 - Estreitos internacionais ....................................... Seção 6 - Canais internacionais .......................................... Capítulo 4 - Zona Econômica Exclusiva.................................. Capítulo 5 - Plataforma Continental ........................................ Seção 1 - A Convenção sobre a Plataforma Continental de 1958 ..................................................................... Seção 2 - A plataforma continental na Convenção de 1982 Capítulo 6 - Domínio Aéreo..................................................... Seção 1 - A navegação aérea ............................................... Seção 2 - Radiotelegrafia .................................................... Capítulo 7 - Modos de Aquisição e de Perda do Domínio do Estado .................................................................. Seção 1 - A ocupação .......................................................... Área alcançada pela ocupação..... .............. Seção 2 - A acessão ............................................................. Seção 3 - A cessão .............................................................. Seção 4 - A prescrição ........................................................ Seção 5 - A conquista e a anexação .................................... Capítulo 8 - Proteção do Meio Ambiente ................................ Seção 1 - Poluição atmosférica ........................................... Seção 2 - A proteção da camada de ozônio......................... 255 257 257 258 260 261 262 264 265 266 266 266 268 270 273 279 282 283 288 289 292 295 295 298 300 301 302 303 305 306 307 XVI Manual de Dircito Intcrnacicnril Públíco Seção 3 - Poluição nos mares ...................... Seção 4 - Proteção das t7orestas .................. Seção 5 - Proteção do solo. Desertitïcação . Capitulo 9 - Os Espaços Internacionais ........... Seção 1 - O alto-mar ................................... Seção 2 - O espaço ultraterrestre................. Seção 3 - Os fundos marinhos ..................... Seção 4 - Domínio polar. A Antártida ......... QUINTA PARTE OS DIREITOS INTERNACIONAIS DO HOMEM Capítulo 1 - Os Direitos Humanos e as Nações Unidas ........... Seção I - A Declaração Universal dos Direitos do Homem Seção 2 - Os direitos humanos no sistema interamericano . Capítulo 2 - Os Direitos Humanos ........................................... Seção I - A liberdade individual ......................................... Seção 2 - Tráfico de pessoas ........,...................................... Seção 3 - Condições de trabalho eqüitativas e humanas ..... Seção 4 - Direito de asilo .................................................... Seção 5 - A proteção do trabalho intelectual e industrial .... Seção 6 - Melhoria das condições de vida do hometn ........ Seção 7 - Proteção das minorias.......................................... Seção 8 - Da nacionalidade ................................................. Aquisição da nacicmalidade ..................................................... Nacionalidade adquirida .......................................................... Da naturalização .....................................................................Perda da nacionalidade ............................................................ Seção 9 - Condição jurídica dos estrangeiros ...................... Seção 10 - Da extradição ..................................................... Seção 1 1 -Expulsão de estrangeiro.....................,.......,....... Seção 12 - Relações dos Estados com seus nacionais no ex- terior ..... .. ......................................................... Seção I 3 - Proteção diplomática ......................................... 309 312 313 3l6 317 321 324 327 332 333 336 339 341 343 344 345 348 350 354 357 358 359 359 359 361 364 367 369 374 Índice Geral XVII SEXTA PARTE NAVIOS E AERONAVES Capítulo I - Os Navios em Direito Internacional .................... Capítulo 2 -Classificação e Nacionalidade dos Navios........... Capítulo 3 - Navios em Alto-Mar ............................................ Capítulo 4 - Navios Públicos em Águas Estrangeiras .............. Capítulo 5 - Navios Privados em Águas Estrangeiras .............. Capítulo 6 - Aeronaves ............................................................ Capítulo 7 - Classitïcação e Nacionalidade das Aeronaves ..... Capítulo 8 - Aeronave em Espaço Aéreo Estrangeiro .............. Capítule 9 - Aeronave em Vôo ou sobre o Alto-Mar ............... SÉTIMA PARTE SOLUÇÃO PACÍFICA DE LITÍGIOS INTERNACIONAIS Capítulo I - Os Meios Diplomáticos de Solução Pacífica de Controvérsias ....................................................... Seção 1 - As negociações diretas ........................................ Seção 2 - Congressos e conferências .................................. Seção 3 - Bons ofícios ......................................................... Seção 4 - A mediação.......................................................... Seção 5 - Sistema consultivo ............................................... Capítulo 2 - Solução Judíciária de Contlitos ........................... Seção 1 - Os tribunais internacionais permanentes ............. Seção 2 - A Corte Internacional de Justiça ......................... Seção 3 - Comissões internacionais de inquérito e conciliação Seção 4 - Comissões mistas ................................................ Capitulo 3 - Arbitragem ........................................................... Seção 1 - Escolha e poderes dos árbitros ............................ Seção 2 - O processo arbitral .............................................. Seção 3 - A sentença arbitral ............................................... Seção 4 - Formas de arbitragem ..............................,........... 378 380 383 386 389 393 394 395 397 401 401 402 402 403 405 408 409 410 412 414 416 417 419 420 422 XVIII Manual de Direito Internacional Público Capítulo 4 - Soluções Coercitivas de Controvérsias ................ 425 Seção 1 - A retorsão ............................................................ 425 Seção 2 - As represálias ...................................................... 426 Seção 3 - O embargo ........................................................... 428 Seção 4 - O bloqueio pacítico ............................................. 429 Seção 5 - A boicotagem ...................................................... 430 Seção 6 - A ruptura de relações diplomáticas ..................... 43 I OITAVA PARTE A GUERRA Capítulo 1 - A Legitimidade da Guerra ................................... Seção 1 - As fontes das leis de guerra ................................. Seção 2 - Os princípios da necessidade e da humanidade... Capítulo 2 - O Início da Guerra ............................................... Seção 1 - Efeitos no tocante às relações diplomáticas e con- sulares .................................................................. Seção 2 - Efeitos sobre os tratados ...................................... Seção 3 -Efeitos em relação às pessoas.............................. Liberdade de comércio ............................................................ Seção 4 - Efeitos em relação aos bens ................................ Propriedade privada................................................................. Propriedade pública................................................................. Embargos sobre navios inimigos ............................................... Capítulo 3 - A Guerra Terrestre ............................................... Seção 1 -As forças armadas dos beligerantes..................... Seção 2 - Meios de ataque e de defesa ................................ Seção 3 - Direitos e deveres dos beligerantes em relação aos militares inimigos ................................................ Prisioneiro de guerra ............................................................... Feridos e enfermos .................................................................. Mortos . ........ . ............................................ Seção 4 - Direitos e deveres em relação aos habitantes pa- ClllCOS ..... ..................... 434 436 438 440 442 443 444 445 445 445 446 447 449 449 45l 454 454 456 457 457 Índice Geral XIX Seção 5 - Direitos e deveres em relação ao território do Es- tado inimigo ........................................................ Capítulo 4 - A Guerra Marítima .............................................. Seção 1 - As forças armadas dos beligerantes..................... Navios mercantes armados ....................................................... O corso e sua abolição ............................................................. Seção 2 - Meios de ataque e de defesa ................................ Seção 3 - Direitos e deveres dos beligerantes em relação ao inimigo ................................................................ Em relação às pessoas .............................................................. Prisioneiros de guerra .............................................................. Feridos, enfermos, náufragos e mortos ....................................... Pessoal religioso e sanitário ...................................................... Parlamentários ........................................................................ Espiões .................................................................................. Pessoal de navios que não sejam de guerra.................................. Requisição de serviços; guias, pilotos e reféns ............................. Seção 4 - Direitos e deveres em território ocupado............. Seção 5 - Direitos e deveres em relação aos bens dos ini- migos ................................................................... Seção 6 - Determinação do caráter inimigo da propriedade privada ... Seção 7 - O princípio da captura e o da destrutção ............. Seção 8 - Cabos submarinos ............................................... Capítulo 5 - A Guerra Aérea .................................................... Seção 1 - A força armada dos beligerantes ......................... Seção 2 - Meios de ataque e de defesa ................................ Seção 3 - Direitos e deveres dos beligerantes em relação ao inimigo ................................................................ Capítulo 6 - A Neutralidade ..................................................... Diferentes espécies de neutralidade............................................ Regras internacionais sobre a neutralidade .................................. Seção I - Direitos e deveres dos neutros ............................. 459 464 465 466 467 467 469 469 469 469 471 471 471 471 471 472 472 475 477 479 481 482 482 486 488 490 490 491 XX Manual de Direito Internacional Público Seção 2 - Direitos dos neutros ............................ Direito de angária .................................................. Direitos dos neutros no território dos beligerantes ....... Direitos dos neutros aocomércio e à navegação.......... Seção 3 - O bloqueio .......................................... Seção 4 - O contrabando de guerra .................... Seção 5 - Assistência hostil ....................... Seção 6 - O direito de visita ....................................... Seção 7 - Captura e destruição de navios e aeronaves A captura ............................................................ A destruição ........................................................ Capítulo 7 - Relações entre os Beligerantes ......... Salvo-condutos e licenças ..................................... Salvaguarda ........................................................ Cartéis ................................................................ Suspensões de armas e armistícios ........................., Capitulações ......................................................., Capítulo 8 - Terminação da Guerra......................, Seção 1 - As sanções das leis de guerra ........... Seção 2 - Os crimes e os criminosos de guerra a) Crimes contra a paz ......................................... b) Crimes de guerra ............................................. c) Crimes contra a humanidade ............................. Seção 3 - O Tribunal Penal Internacional ....... Capítulo 9 - A Guerra Interna .............................. 494 495 496 496 499 502 504 506 507 507 507 509 509 509 509 510 510 512 514 515 516 516 517 518 522 PREÃMBULO DA 14° EDIÇÃO Diversos fatos ocorridos depois da publicação da 13 edição do Mafiual em 1998, bem como o seu rápido esgotamento, estão a justi- ficar esta nova edição. É difícil identificar quais os principais acontecimentos que in- fluíram no direito internacional. Embora alguns tenham sido mais espetaculares quando apreciados sob um prisma político internacio- nal, cabe aqui tentar pôr em relevo os que tenham, de uma maneira ou de outra, influenciado efetivamente a matéria. Parece-nos que é novamente no campo ambiental e dos direitos humanos que encontraremos fatores que exerceram esse papel. A proteção do meio ambiente passou a ser uma das grandes preo- cupações da comunidade internacional, não só na área governamental mas também entre todos os habitantes da Terra. A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicam-se os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto assim que se calculam em mais de mil os tratados internacionais assinados. Infelizmente, no tocante às maiores ameaças, ou seja, a poluição atmosférica e a poluição do mar, pouco se tem conseguido, dada a pressão dos meios industriais das grandes potências. Antes da Conferência de 1992 alguns dos mais conceituados ci- entistas do mundo já haviam salientado que era indispensável a dimi- nuição dos gases poluentes na casa dos cinqüenta por cento, pois caso contrário o efeito estufa provocaria danos irreparáveis em quase todo o Globo, mas nada foi conseguido em tal sentido. A poluição do mar por óleo já não é a principal ameaça, pois os POPs (poluentes orgânicos persistentes) representam ameaça muito maior e de mais difícil combate. No campo dos direitos humanos, a prisão do General Augusto Pinochet merece ser destacada, pois se trata de exemplo de detenção de um antigo Chefe de Estado em viagem no exterior, por inúmeros crimes contra a humanidade. O Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia teve oportunidade de condenar alguns antigos integrantes daquele Gover- no e do Exército por crimes pratícados contra minorias muçulmanas na Bósnia, principalmente na cidade de Saravejo. A Procuradora-Geral do Tribunal Penal da I-Iaia para crimes cometídos na Iugoslávia indiciou o Presidente Slobodan Milosevic por crimes contra a humanidade cometidos em Kosovo; mas, ao contrário do caso Pinochet, o julga- mento aplicar-se-ia a atos praticados na qualidade de Presidente de seu país. Os casos Pinochet e Milosevic representam uma mudança no concernente ã inviolabilidade de Chefes de Estado por atos condena- dos pela comunidade internacional. A essa relação de crimes contra a humanidade, a exigir punição severa, devemos acrescentar ainda as atrocidades praticadas pelas milícias na Indonésia quando do plebiscito que resultou na indepêndencia de Timor Leste, em setembro de 1999. Ainda no tocante à guerra de Kosovo, deve ser lembrado que o bombardeio de cidades abertas, causando ferimentos e morte na po- pulação civil, é condenado pelo direito internacional, muito embora essa regra tão importante de direito humanitário pareça haver sido definitivamente esquecida. O Tribunal Penal Internacional da Haia, bem como anteriormen- te o tribunal criado parajulgar os criminosos de guerra em Nuremberg depois da segunda guerra mundial, foram tribunais ad hoc estabeleci- dos a po.steriori para o julgamento e punição de casos especíticos. O Tribunal Penal Internacional criado pelQ Estatuto adotado em Roma em 15 de julho de 1908 na Conferência das Nações Unidas representa mais um passo importante na evolução do direito internacional. Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1999 G. E. do Nascimento e Silva INTRODUÇÃO NOÇÃO. FUNDAMENTO E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO. AS PESSOAS INTERNACIONAIS Capítulo 1 DEFINIÇÃO E DENOMINAÇÃO As definições do direito internacional público (DIP) dependem das teorias defendidas pelos diversos estudiosos dessa área, principalmente quanto ao seu fundamento, fontes e evolução histórica. Piédelièvre, escrevendo no fim do século XIX, dizia que "as definições dadas pelos autores a este ramo da ciência jurídica são diversas e, em geral, bastante incompletas, o que se explica pela diversidade dos pontos de vista nos quais eles se colocaram para as formular. Uns apresentam o direito internacional como um ideal que as coletividades humanas devem visar, sem levar em consideração a prática dos fatos, outros não vêem senão uma coleção de regras e de princípios já reconhecidos e definitivamente estabelecidos, alguns o encaram como uma lei universal, superior a todas as legislações positivas, destituída de sanção, mas ainda se impondo ã observância dos Estados na regulamentação de suas relações recíprocas". É de se lembrar que na época a qualidade de sujeito internacional era atribuída apenas aos Estados e não a outras entidades. Díer de Velasco adotou outro enfoque, pois a seu ver antes de plantear o conceito de DIP é necessário ter em mente as dimensões 2 Manual de Direito Internacional Público culturais, materiais e formais ou normativas do sistema internacional, com especial ênfase no consenso na formação das normas. Tendo em vista tais considerações, definiu o DIP como "um sistema de princípios e normas que regulam as relações de coexistência e de cooperação, freqüentemente institucionalizadas, além de certas relações comunitárias entre Estados dotados de diferentes graus de desenvolvimento socioeconômico e de poder". Como exemplo de definição que dá ênfase ao objeto do DIP, pode ser citada a de Jorge Americano, para quem "o objeto do direito internacional é o estabelecimento de segurança entre as Nações, sobre princípios de justiça para que dentro delas cada homem possa ter paz, trabalho, liberdade de pensamento e de crença . Todavia, conforme foi dito, a tendência tem sido tomar por base o sujeito do DI, sendo que até fins do século XIX a doutrina só atribuía essa condição aos Estados. Como exemplo podemos citar duas definições de autores brasileiros do século XIX. Para Pimenta Bueno (l863), "o direito internacional público ou das gentes, "jus gentium publicum ou jus publicum intergentes", é o complexo dos princípios, normas, máximas, atos, ou usos reconhecidos como reguladores das relações de nação a nação, ou de Estado a Estado, como tais, reguladores que devem ser atendidos tanto por justiça como para segurança e bem-ser comum dos povos". Para Antônio de Vasconcellos Menezes de Drummond (1867), "o direito internacional, Direitodas Gentes ou das Nações, enfim o direito público exterior, é o complexo dos direitos individuais e recíprocos entre as mesmas Nações" . A incorporação dos Estados Pontifícios ao Reino da Itália gerou a primeira dúvida, visto que a maioria dos Estados, dentre eles o Brasil, ao reconhecer a incorporação, continuou a manter a sua representação diplomática junto ao Papa, o qual alguns autores passaram a considerar sujeito do DI. Com a criação da Liga das Nações, após a primeira guerra mundial, alguns autores, como Hildebrando Accioly, passaram a mencionar em suas definições as grandes organizações internacionais. A condição jurídica do homem, até então de domínio do direito interno, e prevista nas Constituições de alguns países, passou a ser objeto de estudo de inúmeros internacionalistas, sob o fundamento de que todo direito visa em última análise ao homem. Dentre os autores Introdução 3 que defenderam esse novo enfoque, merece ser citado Nicolas Politis, para quem o DI é "o conjunto de regras que governam as relações dos homens pertencentes aos vários grupos nacionais". Contudo, da mesma maneira que para uns o DI tem por principal objetivo a proteção dos direitos do homem, alguns outros autores pensam que ele visa apenas aos Estados, que podem delegar aos organismos internacionais certos direitos e obrigações, e que dele depende, em última análise, o reconhecimento dos direitos fundamentais do homem. René-Jean Dupuy, que se filia a essa corrente, ensina-nos que o DI "é o conjunto de regras que regem as relações entre os Estados". Seja como for, parece-nos que se deve definir o DI como o conjunto de normas jurídicas que regulam as relações mútuas dos Estados e, subsidiariamente, as das demais pessoas internacionais, como determinadas organizações, e dos indivíduos. Poucos autores ainda negam a existência do direito internacional, e é sintomático que os Estados nunca recorrem a este argumento, mas buscam dentro do próprio DIP justificar as suas ações. Mas convém mencionar os argumentos que têm sido apresentados, geralmente inspirados em noções de direito civil, como o da ausência de leis internacionais, de tribunais e de sanções. O primeiro argumento pode ser descartado pelo simples raciocínio de que não se deve confundir lei com direito. Além do mais, principalmente depois da criação das Nações Unidas, a comunidade internacional tem adotado uma série de tratados multilaterais destinados a regulamentar as relações internacionais, isto sem falar nas regras de direito internacional costumeiro que são observadas pelos Estados em suas relações recíprocas. Existe uma série de tribunais internacionais aos quais os Estados podem submeter as suas queixas, a começar com a Corte Internacional de Justiça, sucessora da Corte Permanente de Justiça Internacional. Convém ainda lembrar que os tribunais são sempre posteriores ao direito e que a maioria dos atos, mesmo em direito civil e comercial, ocorrem fora dos tribunais, que exercem uma função psicológica. Quanto mais perfeita a ordem jurídica, menor a necessidade de coação. A Carta das Nações Unidas enumera nos arts. 41 e 42 uma série de medidas a serem aplicadas no caso de ameaças à paz e segurança internacionais, cabendo ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade neste particular. 4 Manual de Direito Internacional Público A expressão direito internacional (internntional law) surge com Jeremias Bentham, em 1780, que a utilizou em oposição a national law e a municipal law. Traduzida para o francês e demais línguas latinas como direito internacional, a expressão tem sido criticada, visto que para elas a palavra nação não tem o mesmo significado de Estado, como em inglês. Para alguns juristas, o mais correto seria falar em direito interestatal, mas atualmente a expressão se acha consagrada, e modificá-la já não se justifica. A palavra público foi acrescentada a fim de distinguir a matéria do direito internacional privado (conflict of laws dos países de língua inglesa), embora o qualificativo seja dispensável. Muitos autores ainda empregam a expressão direito de gentes (law of nations ou völkerrecht), utilizada por Richard Zouch (1650), ou melhor dito jus inter gentes. Esta expressão tem, contudo, o inconveniente de criar confusão com o direito das gentes do direito romano, cujo objetivo era outro. É, contudo, usada freqüentemente como sinônimo de direito internacional, com a vantagem de evitar confusão com o direito internacional privado. Outras expressões têm sido sugeridas, como direito público internacional, com o objetivo de salientar o primado do direito público sobre o privado. É a expressão adotada por Clóvis Beviláqua. Bibliográfia: Accioly - 1, p. 1; Americano (Jorge), O nnvo,fundamento do direito internacional, São Paulo, 1945; Díez - 1, p. 99; Dupuy (René-Jean), p. 1; Le droit international, Paris, 1963, p. 5; Lafayette - 1, p. 2; Mello - 1, p. 29; Menezes de Drummond (Antônio de Vasconcellos), Preleções de direito internacional, Pernambuco, 1 867, p. 1 ; Piédelièvre, Préci.s de droit international public, Paris, 1894, p. 3; Pimenta Bueno, Direito internacional privado, Rio de Janeiro, 1863, p. 11; Podestà Costa - 1, p. 3; Politis (Nicolas), Les nouvelles tendances du droit international, Paris, 1927, p. 7; Quoc Dinh, p. 16; Rousseau - 1, p. 13. Capítulo 2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO Para R. Redslob, "a diplomacia é tão antiga como as nações" e "é tão antiga como o mundo e só desaparecerá com ele", segundo Maulde la Clavière. Essas noções são compartilhadas por inúmeros autores quanto à antigüidade do direito internacional. É bem verdade que para uns os exemplos citados não justificam esse conceito e, a rigor, só se pode falar em direito internacional a partir dos tratados de Vestefália (1648) ou da obra de Hugo Grocius. Seja como for, o estudo da evolução histórica é indispensável para um correto conhecimento dos princípios fundamentais do direito internacional, bem como a sua evolução através dos tempos. Outrossim, não mais se pode ignorar, principalmente depois da segunda guerra mundial, que, dentre todos os ramos jurídicos, o direito internacional é o que mais tem evoluído, influenciando todos os aspectos da vida humana. Se até o início do século XX o direito internacional era bidimensional, versando apenas sobre a terra e o mar, a partir de então, graças principalmente às façanhas de Santos Dumont, passou a ser tridimensional e, após a segunda guerra mundial, a abarcar ainda o espaço ultraterrestre e os fundos marinhos. Inúmeros autores têm dividido a evolução do direito internacional em quatro ou cinco períodos. Semelhante exercício tem seus méritos, muito embora tais classificações têm muito de arbitrário. Além do mais, de um período a outro não ocorre uma ruptura brusca. Outrossim, verifica-se que características de determinado período tiveram geralmente origem no anterior e que princípios nascidos em um permanecem nos subseqüentes, modificando-se de acordo com o passar dos tempos. 6 Manual de Direito Internacional Público Seja como for, sobretudo para fins didáticos, podem-se identificar quatro períodos: 1) da antigüidade até os tratados de Vestefália; 2) de 1648 até a Revolução Francesa e o Congresso de Viena de 1815; 3) do Congresso de Viena até a primeira guerra mundial; 4) de 1918 aos dias de hoje, com especial ênfase nos acontecimentos que se seguiram à segunda guerra mundial. Seção 1 O direito internacional até os tratados de Vestefália Os primeiros rudimentos de um jus inter gentes surgiram entre as tribos e os clãs de povos diferentes na antigüidade, sendo que alguns destes rudimentos jurídicos ainda sobrevivem. À medida que a civilização desses agrupamentos humanos se desenvolve, as suas relações tornam-se mais complexas e, por isso mesmo, as normas que as regulam adquirem também maior grau de complexidade. Entretanto, na remota antigüidade, como nem todos os povos haviam alcançado o mesmo grau de civilização, e como, além disto, cada continente ou certas regiões de cada continenteformavam como que mundos à parte, isolados uns dos outros, não poderia evidentemente haver regras idênticas para todos os povos, e o jus inter gentes primitivo muito longe estaria de possuir o caráter de universalidade que se reclama para o verdadeiro direito internacional, ou para o direito internacional tal como se entende nos tempos mais próximos de nós. Por outro lado, o isolamento em que quase sempre viviam os povos da antigüidade pagã e os sentimentos de hostilidade existentes entre uns e outros eram pouco propícios à formação e ao desenvolvimento de um direito destinado a reger suas relações recíprocas. O referido isolamento era rompido, em geral, por meio de guerras, guerras de agressão e de conquista, determinadas pelo sentimento do interesse material e pela consciência da força. Em todo caso, já na Grécia antiga, talvez devido à sua situação geográfica e política, se encontram as primeiras instituições conhecidas do direito das gentes. Entre elas, ali vemos a arbitragem, como modo de solução de litígios; o princípio da necessidade da declaração Introdução 7 de guerra; a inviolabilidade dos arautos; o direito de asilo; a neutralização de certos lugares; a prática do resgate ou da troca de prisioneiros de guerra etc. É verdade que as regras admitidas eram antes de natureza religiosa do que de natureza jurídica. Em Roma, após as conquistas, a situação era diferente. A universalidade do império tornava, por assim dizer, impossível a existência de um direito internacional. No jus fetiale, entretanto, ali instituído, há quem pretenda encontrar os germes desse direito. O jus fetiale, de caráter nitidamente religioso, continha alguns preceitos relativos à declaração da guerra e à sua conclusão. Roma, porém, havia concorrido para o conhecimento mútuo dos povos e para que esses se habituassem a relações pacíficas normais, de maneira que, após o desmembramento do império romano, era natural que pudessem surgir e desenvolver-se relações internacionais e, concomitantemente, um direito internacional. Foi, contudo, só o advento do Cristianismo que pôde restabelecer no mundo a ordem e a civilização. Com ele, surgiram as doutrinas de igualdade e fraternidade entre os homens, e a lei da força, predominante na antigüidade, foi condenada. Certos princípios jurídicos, certas instituições jurídicas foram assim se impondo e se desenvolvendo. Ao lado dessa corrente de idéias, apareciam novas concepções jurídicas ou políticas, trazidas pelos povos bárbaros do norte da Europa, as quais puderam, de certo modo, influir sobre o desenvolvimento dessas instituições. O papel da Igreja, em todo caso, foi preponderante durante todo esse período, que se estende até o fim da Idade Média ou começos da Idade Moderna. No tocante ao ponto que aqui nos interessa basta lembrar as instituições da Paz de Deus e da Trégua de Deus, estabelecidas contra a guerra, e, por outro lado, as cruzadas pregadas e levadas a efeito contra os infiéis. O desenvolvimento do comércio marítimo era outro elemento que concorria então para a formação de novas regras de direito internacional, que se inscreveram em certas coleções de leis ou costumes marítimos. De entre essas coleções, as mais famosas foram: 1°) as Leis de Rhodes, de data desconhecida, mas que se supõe remontarem ao 8 Manual de Direito Internacional Público século VII; 2°) a Tabula Amalfitana, do século X ou XI; 3°) as Leis de Oléron, do século XII; 4°) as Leis de Wisby, do século XIII ou XIV; e 5°) especialmente, o Consolato del Mare, elaborado em Barcelona, segundo uns, nas proximidades do ano 1300, segundo outros, nos meados do século XIV. Data também da mesma época a constituição de ligas de cidades comerciais, para proteção do comércio e dos cidadãos, ligas das quais a mais importante foi a hanseática, que durou do meio do século XIII ao meio do século XV. Já então, com a decadência do regime feudal no ocidente, a noção de Estado se torna mais precisa. Os povos vão tomando consciência da unidade nacional e esta permite o estabelecimento de relações continuadas entre os Estados. A assinatura do Tratado de Vestefália de 24 de outubro de 1648 pôs fim à Guerra dos TrintaAnos, que ensangüentou a Europa de 1618 a 1648. O Tratado de Vestefália marca o fim de uma era e o início de outra em matéria de política internacional, com acentuada influência sobre o direito internacional, que estava em seus primórdios. Esse tratado acolheu muitos dos ensinamentos de Hugo Grocio, surgindo daí o direito internacional tal como o conhecemos hoje em dia. Seção 2 De Vestefália ao Congresso de Viena No fim do século XV, ocorreu o descobrimento da América, que teve inegável importância na evolução do direito internacional. Nessa época, já havia na Europa diversos Estados independentes e como que se impunha a necessidade de regulamentar as suas mútuas relações e conciliar os seus interesses divergentes. Foi então que começou a surgir propriamente o direito internacional público como ciência. Os seus fundadores foram teólogos e canonistas, entre os quais se salientou um dominicano espanhol: Francisco de Vitória. Vitória, que viveu entre 1480 e 1546, professava a teologia na Universidade de Salamanca. Das suas lições, publicadas após sua morte, duas se ocupavam de matéria estreitamente relacionada com o direito das gentes e ambas se referiam à situação resultante, para a Espanha, do descobrimento da América. Introdução 9 Ao lado ou depois de Vitória, a Espanha ainda forneceu outros escritores católicos, que figuram entre os fundadores do direito internacional moderno: Domingos Soto, Fernando Vázquez Menchaca, Baltazar de Ayala e, principalmente, o jesuíta Francisco Suaréz, de quem um internacionalista nosso contemporâneo disse que, "por sua lógica penetrante, sua clareza e suas considerações filosóficas, ultrapassou Vitória". Foi só, entretanto, no começo do século XVII que o direito internacional público apareceu, na verdade, como ciência autônoma, sistematizada. Esse novo período surgiu com Hugo de Groot ou Grotius ou Grócio, nascido em Delft, na Holanda, e que viveu entre 1583 e 1645. Sua primeira obra, Mare liberum (parte da De jure praedae), veio a lume em 1609. Sua obra-prima, a De jure belli ac paci.s, inspirada, segundo se diz, na Guerra dos Trinta Anos, foi publicada em 1625 e suscitou enorme interesse nos principais círculos cultos europeus. Poucos anos depois, começava, com os tratados de Vestefália (1648), uma nova era na história política da Europa. Com a paz de Vestefália, que pôs termo à Guerra dos Trinta Anos, triunfava o princípio da igualdade jurídica dos Estados, estabelecia-se em bases sólidas o princípio do equilíbrio europeu, surgiam os primeiros ensaios de uma regulamentação internacional positiva. Desde então, o desenvolvimento do direito internacional público marchou rapidamente. Naquele século, além de Grotius, figuram entre os internacionalistas de mais renome: Richard Zouch, Samuel Puffendorf, John Selden, Frei Seraphim de Freitas, de nacionalidade portuguesa, autor do De Justo Imperio Lusitanorum Asiatico. No século XVIII, os internacionalistas mais famosos foram Cornelius von Bynkershoek (1673-1743), Christian de Wolff (1679-1754), J. J. Burlamaqui (1694-1748), Emerich de Vattel (1714-1767), G. F. von Martens ( 1756-1821 ). No fim desse século, a Revolução Francesa, com o grande movimento de idéias por ela suscitado, exerceu influência grandíssima sobre os espíritos, influência que se propagou por toda a Europa. As suas guerras e as suas conquistas - continuadas sob Napoleão - destruíram, porém, o sistema criado pelos tratados de Vestefália e foram pouco propícias ao desenvolvimento do direito internacional público. 10 Manual de Direito Internacional Público Seção 3 O século XIX até a primeira guerra mundial O impulso ao direito internacional verificado no século XVIII continuou com mais vigor no século seguinte. Novos princípios de direito internacional surgiram com o Congresso de Viena (1815), que não se limitou a consagrara queda de Napoleão e estabelecer nova ordem de coisas políticas na Europa, mas, ao mesmo tempo, levantou o princípio da proibição do tráfico dos negros, afirmou a liberdade de navegação em certos rios e instituiu uma classificação para os agentes diplomáticos. Os imperadores da Rússia e da Áustria e o rei da Prússia pensaram manter melhor a obra de Viena por meio da chamada Santa Aliança, que, sob aparências místicas e religiosas, visava principalmente sustentar interesses dinásticos. A política intervencionista da Santa Aliança e a emancipação das antigas colônias espanholas e portuguesas na América levaram o Presidente Monroe, dos Estados Unidos, a proclamar, em fins de 1823, a doutrina que traz o seu nome. Mais tarde, a segunda metade do século XIX foi assinalada por vários fatos favoráveis ao progresso do direito internacional, entre os quais podem ser mencionados os seguintes: o Congresso de Paris, de 1856; a 1ª Convenção da Cruz Vermelha, em 1864; a Declaração de 1868, contra projéteis explosivos ou inflamáveis; o Congresso de Berlim, de 1878; a Conferência Africana de Berlim, de 1884-1885; a Conferência de Bruxelas, de 1889-1890, contra o tráfico de escravos; a 1ª Conferência Internacional dos Países Americanos, realizada em Washington, de outubro de 1889 a abril de 1890; a 1ª Conferência da Paz de Haia, em 1899. Entre os internacionalistas do século XIX, citam-se os seguintes: em Portugal: Silvestre Pinheiro Ferreira; na França: Chrétien Piédelièvre, Pradier-Fodéré, Frantz Despagnet, Henri Bonfils; na Grã-Bretanha: Robert Phillmore, Travers Twiss, J. Lorimer, William Edward Hall; na Alemanha: J. L. Kluber, A. W. Heffter, Franz von Holtzendorff; na Itália: Pasquale Fiore, Carnazza-Amari; na Suíça: J. C. Bluntschli, Introdução 11 Alphonse Rivier; nos Estados Unidos da América: James Kent, Henri Wheaton, Theodore-Woolsey, Dudley-Field, Francis Wharton, Henry Halleck; na Rússia: F. von Martens; na América espanhola: Andrés Bello (Venezuela) e Carlos Calvo (Argentina). A contribuição brasileira ao DIP no século XIX no campo teórico foi pequena: podem ser mencionadas as contribuições de Alcântara Bellegarde (Noções elementares de direito das gentes, Rio de Janeiro, 1845), Pedro da Matta e Albuquerque (Elementos de direito das gentes, Pernambuco, 1851), Antônio Pereira Pinto (Apontamentos para o direito internacional, Rio de Janeiro, 1864-1869, 4 v.); Carlos de Oliveira Freitas (Elementos de direito internacional marítimo, Rio de Janeiro, 1884) e João Silveira de Sousa (Lições elementares de direito das gentes, 1889). Se do ponto de vista doutrinário a contribuição foi de pouco peso, os Relatórios do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil-Império representam um importante manancial. As notas e ofícios dos titulares e altos funcionários do Ministério rebatendo gestões de governos estrangeiros em defesa de interesses descabidos de seus nacionais, reclamações relativas ao tráfego de escravos, pretensões quanto à navegação do Amazonas e outros rios nacionais, o reconhecimento da condição de beligerantes dos Estados confederados por ocasião da Guerra de Secessão nos Estados Unidos podem ser mencionados neste particular. Mas a principal contribuição brasileira ao DIP foi a consolidação do princípio do uti possidetis, que sustentou com sucesso ao anular a tese oposta do uti possidetis juris de 1810, defendida pelos países vizinhos na solução das controvérsias fronteiriças. Seção 4 O direito internacional no século XX O DIP atingiu no século XX seu pleno desenvolvimento. Até então era bidimensional, isto é, limitava-se à terra e ao mar. Em 1902, Paul Fauchille chamava atenção para o espaço aéreo, provavelmente influenciado pelas façanhas de Alberto Santos Dumont. Em 1898, num balão no qual instalara um motor, subiu a 400m de altura e voltou ao ponto donde decolara. Em l901 , ganhou o Deut,sch de la Meurthe, 12 Manual de Direito Internacional Público prêmio outorgado ao primeiro homem capaz de decolar de determinado ponto, dar a volta à Torre Eiffel e retornar ao ponto de partida em menos de 30 minutos. No ano seguinte, Fauchille submeteu ao Institut de Droit Internacional um relatório sobre os aspectos legais das aeronaves. É sintomático que esse instituto tenha adotado uma resolução sobre a condição jurídica do espaço aéreo em 1906, ano em que Santos Dumont voou num aparelho mais pesado do que o ar, em Bagatelle, perto de Paris, sendo aclamado como o inventor do aeroplano. Dentre os acontecimentos que mais concorreram para isso merecem ser citadas: as Conferências Internacionais Americanas (a 2ª, no México, em 1901-1902; a 3ª, no Rio de Janeiro, em 1906; a 4ª, em Buenos Aires, em 1910; a 5ª, em Santiago do Chile, em 1923; a 6ª, em Havana, em 1928; a 7ª, em Montevidéu, em 1933; a 8ª, em Lima, em 1938; a 9ª, em Bogotá, em 1948; a 10ª, em Caracas, em 1954), especialmente as cinco últimas; as Conferências Internacionais da Cruz, Vermelha, em 1906, 1929 e 1949; a 2á Conferência da Paz de Haia em 1907; a Conferência Naval de Londres, de dezembro de 1908 a fevereiro de 1909; a Conferência da Paz de Paris, em 1919; a criação da Liga das Nações e da Corte Permanente de Justiça Internacional; a instituição da Academia de Direito Internacional, em Haia, cujos cursos têm contribuído enormemente para o progresso do direito internacional; o pacto Briand-Kellogg, de proscrição da guerra; a 1ª Conferência para a Codificação Progressiva do Direito Internacional, em Haia, em 1930; a Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, realizada em Buenos Aires em dezembro de 1936. A segunda guerra mundial foi sumamente prejudicial ao direito internacional bem como à Liga das Nações; tanto assim que o projeto primitivo de Dumbarton Oaks, base de Carta das Nações Unidas, nem mencionava o direito internacional. Seja como for, no pós-guerra, e mesmo no decorrer da guerra, surgem inúmeros organismos internacionais a começar com as Nações Unidas, cuja Carta foi firmada em São Francisco a 26 de junho de 1945. Com a criação da Comissão do Direito Internacional das Nações Unidas (CDI) em 1947, o desenvolvimento do DIP entra numa nova e importante fase. Como resultado dos trabalhos da CDI. foram assinadas em 1958 em Genebra quatro importantes Convenções sobre o direito do mar; posteriormente foram assinadas em Viena as seguintes Introdução 13 Convenções: Relações Diplomáticas (1961), Relações Consulares (1963), Direito dos Tratados (1969), Representação de Estados em suas Relações com Organizações Internacionais de Caráter Universal (1975), Sucessão de Estados em Matéria de Tratados (1978), Sucessão de Estados em matéria de Bens, Arquivos e Dívidas Estatais (1983) e sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais (1985). A esta relação é necessário ainda acrescentar a Convenção sobre o Direito do Mar, assinada em Montego Bay em 1982, e uma série de convenções firmadas sob a égide das organizações intergovernamentais. O período posterior à segunda guerra mundial foi ainda influenciado pela chamada Guerra Fria e pela ameaça de uma guerra nuclear, fenômenos estes que exerceram influência sobre o DIP. Além do mais, o DIP, que até então era tridimensional, passou a se ocupar do espaço ultraterrestre, da lua e dos corpos celestes, dos fundos marinhos e do subsolo dos leitos marinhos, sendo que em todas estas novas situações foram assinados pela comunidade internacional tratados específicos. Outra área que passou a exigir do DIP especial atenção foi a da proteção do meio ambiente. Em 1972, realizou-se em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que teve importantíssimo impacto e foi seguida por uma série de tratados e pela criação de organizações especializadas encarregadas de sua proteção. A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), ocorrida no Rio de Janeiro em junho de 1992, foi a mais importante conferência realizada sob a égide das Nações Unidas, pois a ela compareceram178 delegações e os Chefes de Estado ou de Governo de 115. Na ocasião foram adotadas uma importante Declaração bem como a Agenda 2l , na qual se acha elaborado um programa minucioso destinado a melhorar o meio ambiente durante o resto do atual século entrando no século XXI, além de duas importantes convenções sobre mudança de clima e biodiversidade biológica. São inúmeras as organizações regionais e sub-regionais que se têm ocupado de problemas de DIP, como a Comunidade Econômica Européia (o Mercado Comum Europeu) e demais organizações européias (o Conselho da Europa, a Corte de Justiça e a Comunidade do Carvão e do Aço). Acresce a esta lista a Organização da Unidade Africana e a Liga Árabe. 14 Manual de Direito Internacional Público O sistema interamericano também se desenvolveu, e, em 1945, a Conferência Interamericana sobre Problemas de Guerra e Paz, reunida na Cidade do México, fixou não só as linhas a serem seguidas pelas nações da América Latina em relação às Nações Unidas, senão também os princípios básicos que deveriam nortear suas relações mútuas. Em 1947, terminada a Conferência Interamericana para a Manutenção de Paz e de Segurança no Continente, celebrada em Petrópolis, foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca. No ano seguinte, foi assinada em Bogotá a Carta da Organização dos Estados Americanos. Em junho de 1965, realizou-se no Rio de Janeiro a Segunda Conferência Interamericana Extraordinária, pouco depois da Revolução de 1964 no Brasil e da Revolução dominicana de 1965. Dois anos mais tarde, em decorrência da citada reunião, a Carta da Organização dos Estados Americanos foi modificada através do Protocolo de Buenos Aires. A relação de internacionalistas surgida no século XX é enorme, e basta mencionar os nomes de alguns que tiveram maior influência na matéria. Na América Latina podemos salientar os de Daniel Antokoletz, Isidoro Ruiz Moreno, Podestà Costa, José Maria Ruda e Julio A. Barberis (Argentina); Alejandre Alvarez, Miguel Cruchaga Tocornal e F. Orrego Vicuna (Chilej; Antonio Sanchez de Bustamante e F. Garcia Amador (Cuba); Ricardo Alfaro (Panamá); Victor Maúrtua e Alberto Ulloa (Peru); Jiménez de Aréchaga, Hector Gros-Espiel e Felipe Paolillo (Uruguai). Dentre os autores europeus, limitamo-nos a citar apenas Arnold McNair, J. Westlake, A. Pierce Higgins, L. Oppenheim, H. Lauterpacht, Ian Brownlie, Robert Jennings e James Crawford (Grã-Bretanha); Paul Fauchille, Georges Scelle, Marcel Sibert, Charles Rousseau, Suzanne Bastid, René-Jean Dupuy, Daniel Bardonnet e Michel Virally (França); Albéric Rolin, Charles de Visscher e Jean Salmon (Bélgica); Jean Spiropoulos, Nicolas Politis e Constantin Eustathiades (Grécia); Franz von Liszt, Th. Niemeyer, Karl Strupp, Schúking, Wilhelm Wengler e R. Bernhardt (Alemanha); Giulio Diena, Dionisio Anzilotti, Santi Romano, Roberto Ago, Rolando Quadri, Prospero Fedozzi, Riccardo Monaco e G. Sperduti (Itália); Alfred von Verdross, Hans Kelsen e Karl Zemanek (Áustria); Manfred Lachs e K. Skubiszewski (Polôniaj; P. Guggenheim (Suíça); C. Barcia Trelles, Antonio Truyol, J. Pastor Introdução 15 Ridruejo, M. Díez de Velasco, Juan Carrillo Salcedo e J. M. Castro Ryal (Espanha); Grigory Tunkin (Rússia); Shabtai Rosenne e K. Dinstei (Israel); Boutros-Ghali, Ibrahim Shíhata, EI-Erían e K. Yassim (Egito); e S. Oda (Japão). No Brasil, são inúmeros os autores que se têm ocupado do DIP no século XX. Dentre os já falecidos, cumpre mencionar Lafayette Rodrigues Pereira, Sá Vianna, Epitâcio Pessoa, Clóvis Beviláqua, Rodrigo Octavio, Raul Pederneiras, Luiz de Faro Junior, Hildebrando Accioly, C. A. Dunshee de Abranches e Ilmar Penna Marinho. Entre os vivos, muitos com projeção internacional, podemos destacar J. Sette Camara, Celso de A. Mello, A. A. Cançado Trindade, V. Marotta Rangel, Gilda M. Russornano, Gerson Britto de Mello Boson, Adherbal Meira Mattos, Cachapuz de Medeiros, Guido Fernando Silva Soares e José Carlos Magalhães. Bibliografia: Accioly - 1, p. 5 I ; Amancio Alcorta, Caur.r de drnit international public, Paris, 1887, v. 1, p. 163; Arthur Nussbaum, A concise history of the Intv af ncrtinn.s, New York, 1947; Carrillo Salcedo (Juan Antonio), EI derechn internacional r n ¡er.spection hi.stóricn, Madrid, 1991 ; Fauchílle - l, p. 67; T. J. Lawrence, Prinoihle.s of'intc:rnatinnal lcrve, 7. ed., London, 1929, p. 14-45; L. F. le Fur, Le développement historique du droit international, in RCADI, 1932, v. 41, p. 501- 601 ; Mangas Martins (Araceli), la Escuela de Salamanca y el derecho internacional na América del pasado al futuro, Salamanca, 1993; Mello - I , p. 111 ; Pederneiras (Raul), Direito internacional compendiado, 8. ed., Rio de Janeiro, 1944, p. 42; Quoc Dinh, p. 26; Redslob (Robert), Histoire des grandes principes du droit des gens, Paris, 1923. Capítulo 3 FUNDAMENTO DO DIREITO INTERNACIONAL O estudo do fundamento do DIP busca explicar a sua obrigatoriedade. Trata-se do problema mais complexo da matéria, pois a formulação das regras de DIP poderão variar conforme a posição apriorística adotada. Mas, não obstante a importância atribuída à questão pela grande maioria, para vários conceituados autores o estudo do fundamento não faz parte do direito internacional propriamente dito. Seja como for, ao DIP não interessam os motivos reais, econômicos, políticos, sociológicos ou históricos, mas apenas as razões jurídicas que explicam o motivo de sua aceitação pelo homem. São inúmeras as doutrinas que procuram explicar a razão de ser do DIP, mas verifica-se que todas podem ser filiadas a duas correntes, ou seja, a voluntarista e a positivista. Para os defensores das doutrinas voluntaristas, ou do direito positivo, a obrigatoriedade do DIP decorre da vontade dos próprios Estados; para a outra corrente, a obrigatoriedade é baseada em razões objetivas, isto é, acima da vontade dos Estados. A importância da matéria surgiu com a chamada Escola Espanhola do direito internacional, principalmente nos ensinamentos de Francisco de Vitória e de Francisco Suárez. O que a caracteriza é a aplicação dos princípios de moral e do direito natural a novas condições da comunidade internacional e em conseqüência reconhecimento da personalidade jurídica internacional das comunidades indígenas às quais as normas até então admitidas no caso de uma guerra justa deveriam ser aplicadas. Introdução 17 A influência de F. Suárez sobre Grocius é evidente. Para Grocius o direito natural não é baseado na vontade divina, pois tem valor próprio. Segundo ele, "consiste em certos princípios de razão sã (est dictatum rectae rationes), que nos fazem conhecer quando uma ação é moralmente honesta ou desonesta, segundo sua conformidade ou "desconformidade com uma natureza razoável e sociável. São inúmeras as doutrinas baseadas quer no positivismo, quer no voluntarismo. As teorias voluntaristas baseiam-se ora numa idéia de uma vontade coletiva dos Estados, ora num consentimento mútuo destes. Dentre as teorias expostas, merece ser mencionada a da autolimitação, desenvolvida por Jellinek e segundo a qual o DIP se funda na vontade metafísica do Estado, que estabelece limitações ao seu poder absoluto. Em outras palavras, o Estado obriga-se para consigo próprio. Esta teoria, que contou no Brasil com a aceitação de Clóvis Beviláqua, tem sido criticada, dada a possibilidade de o Estado de um momento a outro modificar a sua posição. A noção de que o DIP se baseia em princípios superiores acima da vontade dos Estados tem merecido a aceitação dos autores modernos, especialmente os autores da escola italiana, cujas teorias têm o seu fundamento no direito natural. Dentre eles, merece ser destacado Dionisio Anzilotti, que foi buscar na norma pacta sunt servanda o fundamento do DIP. Segundo Anzilotti, a norma tem "um valor jurídico absoluto, indemonstrável e que serve de critério formal para diferençar as normas internacionais das demais". Embora a idéia de um princípio indemonstrável tenha sido criticada, é importante salientar que a Convençãode Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 consagrou o princípio em seu artigo 26, nos seguintes termos: "Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé". A Convenção sobre o Direito dos Tratados, ao aceitar a noção do jus cogens em seus artigos 53 e 64, deu outra demonstração de aceitação dos preceitos derivados do direito natural. Com efeito, o artigo 53 declara nulo "o tratado que no momento de sua conclusão conflite com uma norma imperativa de Direito internacional geral". O artigo 53 ainda dá a seguinte definição de jus cogens: "é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu 18 Manual de Direito Internacional Público conjunto, como uma norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por uma norma de Direito Internacional geral da mesma natureza . Bibliografia: Accioly - I . p. 10; Ag<f (Roberto). Positive law and international law, AJIL, 1957, v. 51; Anzilotti, Cours, p. 42; Beviláqua - l, p. 17; Costa (João Frank da), O fundamento do direito internacional segundo Léon Duguit e Georges ,Scelle, Boletim, 1954, v. 19-20, p. 39; Díez - 1, p. 64; Fauchille - I, p. 6; Grocius, Livro I, Capítulo 1, parágrafo 10; Lachs (Manfred), The development and general trends of international law in our times, in RCADI, 1984, v. 169, p. 19; Le Fur (Louis). Règles générales du droit de la paix, in RCADI, 1935, v. 54, p. 1 ; Mello - I , p. 9R; Podestà - 1 , p. 24; Quadri (Rolando), Le fondement du caractère obligatoire du droit international, in RCADI, 195?, v. 8, p. 579; Rezek - ?, p. 3; Rousseau - l, p. 29 e 34; Shearer, p. 16: Sihert - 1 , p. 2; Truyol, p. 56; Valladão - 1 , p. 50; Verdross, p. 47. Capítulo 4 FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL Por fontes do DIP entendemos os documentos ou pronunciamentos dos quais emanam os direitos e os deveres das pessoas internacionais; são os modos formais de constatação do direito internacional. Variam os conceitos de fontes, visto que muitos autores vinculam a sua noção com a de fundamento. Para os defensores do DIP positivo, os direitos e os deveres internacionais dos Estados só podem resultar da vontade expressa ou tácita dos Estados. Em outras palavras, só podem existir fontes positivas. Accioly, por exemplo, insiste em que toda relação jurídica deve ser concebida sob dois aspectos: "um fundamental, racional ou objetivo; e o outro, formal, positivo. No primeiro caso, existe uma fonte real, que ê verdadeira, a fundamental; no segundo caso, existem fontes formais ou positivas, isto ê, que dão forma positiva ao direito objetivo, preexistente, e o apresentam sob o aspecto de regras aceitas e sancionadas pelo poder público". Segundo o mesmo autor, a primeira é constituída pelos princípios gerais do direito, e as outras são o costume e os tratados. O Estatuto da CIJ contém em seu artigo 38 uma relação das fontes ou mais precisamente os elementos aplicáveis em suas decisões, ou seja: a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo de direito; c) os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas; Manual de Direito Internacional Público d) e, excepcionalmente, as decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados. No parágrafo 2 o Estatuto esclarece que a CJI tem a faculdade de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes com isto concordarem. O artigo 38 tem sido objeto de inúmeras críticas e interpretações, mas é fora de dúvida que, conforme esclarece Charles Rousseau, depois de meio século o texto exerceu uma influência considerável no direito positivo e sobre o desenvolvimento do direito convencional. O empenho de inúmeros autores em esclarecer que o artigo não estabelece uma hierarquia entre as diferentes fontes mencionadas parece-nos de somenos importância. Dentre as críticas feitas, cita-se que o artigo enumera as fontes sem fazer distinção entre as fundamentais e as formais e que inclui na enumeração as fontes secundárias ou acessórias. Dada a importância das fontes fundamentais, serão elas estudadas separadamente, mas convém examinar inicialmente algumas fontes ou pseudofontes que têm sido mencionadas pela doutrina. Neste sentido, a norma ex aequo et bono, mencionada expressamente no Estatuto, é um dos pontos mais importantes e que, na opinião da grande maioria dos juristas, corresponde à eqüidade, o equity do direito anglo-saxão. O conceito de eqüidade é um dos mais controvertidos em DIP, bem como na própria jurisprudência internacional. Antes de mais nada, embora de forte influência anglo-saxônia, não deve ser confundido com o equity dos tribunais ingleses e norte-americanos. Recorrendo ao direito romano, verifica-se que a função da eqüidade pode ser a de adaptação ao direito existente (infra legem), na hipótese de a lei não ser suficientemente clara (praeter legem), ou a de afastar o direito positivo a critério do juiz (contra legem). Embora a CIP nunca tenha sido convidada a proferir decisão ex aequo et bono, já teve ensejo, em mais de uma oportunidade, de fazer referência à eqüidade. A eqüidade em DIP é um meio supletivo que visa ao preenchimento de lacunas do direito positivo. Conforme previsto no Estatuto da CIJ, o recurso à eqüidade não pode ser subentendido: deve ser aceito pelas partes. O Institut de Droit Internacional teve ensejo de adotar em sua sessão de Luxemburgo (1937) resolução Introdução 21 na qual salientou que "a eqüidade é normalmente inerente a uma aplicação sadia do direito e que o juiz internacional, bem como o juiz interno, é chamado, em virtude da natureza de suas funções, a levar em consideração, na medida do possível, o direito existente". Seja como for, embora controvertida, a eqüidade tem tido uma aceitação cada vez maior, com o objetivo de garantir uma justiça pautada nos conceitos de justiça e ética. No estudo das fontes do DIP, uma referência especial deve ser feita às resoluções de organizações e de conferências internacionais, com especial ênfase nas resoluções da Assembléia Geral das Nações Unidas (AGNU), cuja importância no desenvolvimento do DIP não pode ser ignorada. As resoluções não figuram expressamente na enumeração do artigo 38 do Estatuto da Corte, mas como eventual manifestação do costume podem ser invocadas. A importância das resoluções e declarações tem sido analisada pela doutrina, mas na prática é difícil estabelecer regras genéricas capazes de cobrir todas as hipóteses. Quando das discussões em São Francisco, aventou-se a possibilidade de dar à Assembléia Geral funções legislativas, mas a iniciativa não logrou aceitação, o que não tem impedido a tentativa de alguns membros, através da aprovação de Declarações, de atribuir erroneamente valor normativo a elas. Na análise das recomendações é necessário distinguir entre duas hipóteses: ou a regra existia antes da intervenção das Nações Unidas e a ação da Assembléia Geral equivale a um reconhecimento desta regra pela organização; ou então a regra ainda não existia e a resolução da AGNU como tal não obriga os Estados-membros; em compensação, ela exerce certa pressão política sobre os Estados; se estes se conformarem com a pressão, uma prática pode desenvolver-se e resultar depois de algum tempo na consciência de que existe uma obrigação jurídica que pode dar origem ao nascimento de um costume. Tem-se atribuído especial importância à prática seguida de invocar repetidamente na AGNU determinadas resoluções. Não há dúvida de que a pressão política poderá acabar por criar uma opinio juris, surgindo daí um costume legal. Mas a repetição só terá esta conseqüência se ela corresponder a um sentimento da maioria dos membros da 22 Manual de Direito Internacional Público organização. A repetição não é necessária quando se tratar de uma nova situação. provocada na maioria dos casos pela ciência e pela tecnologia, que está a exigir soluçãorápida. Em tais casos, tem-se verificado que a resolução é seguida pela adoção de uma convenção que incorpora as regras nela acolhidas. Capítulo 5 OS TRATADOS A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 1989, é uma das mais importantes fontes do DIP, pois nela as regras costumeiras sobre a matéria foram devidamente codificadas num documento quase perfeito. A Convenção de 1969 foi complementada pela Convenção de 1986 sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais, cujo objetivo foi precisamente o de reconhecer o direito das organizações internacionais de firmar tratados e convenções. Seção 1 Conceito, terminologia e classificação dos tratados Por tratado entende-se o ato jurídico por meio do qual se manifesta o acordo de vontades entre duas ou mais pessoas internacionais. As Convenções de Viena de 1969 e de 1986 tiveram o grande mérito de estabelecer que o direito de firmar tratados deixou de ser atributo exclusivo dos Estados e pode ser exercido também pelas demais pessoas internacionais, sendo que em 1986 ficou ainda esclarecido que tal direito pode ser exercido por sujeitos do direito internacional que não os Estados e organizações intergovernamentais, havendo o direito da Cruz Vermelha Internacional neste particular sido lembrado em mais de uma oportunidade. Outro ponto importante consolidado pelas duas convenções é que a palavra tratado se refere a um acordo regido pelo direito internacional, "qualquer que seja a sua denominação". Em outras palavras, 24 Manual de Direito Internacional Público tratado é a expressão genérica. São inúmeras as denominações utilizadas conforme a sua forma, seu conteúdo, o seu objeto ou o seu fim, citando-se as seguintes: convenção, protocolo, convênio, declaração, modus vivendi, protocolo, ajuste, compromisso etc., além das concordatas, que são os atos sobre assuntos religiosos celebrados pela Santa Sé com os Estados que têm cidadãos católicos. Hoje em dia, o tipo de tratado hierarquicamente mais importante é a Carta, expressão utilizada no tocante às Nações Unidas e à Organização dos Esta- dos Americanos. A palavra Estatuto, outrora sem maior expressão, é a que se nos depara em relação à Corte Internacional de Justiça. A palavra convenção tem sido utilizada nos principais tratados multilaterais, como os de codificação assinados em Viena. Várias classificações têm sido utilizadas para os tratados. A mais simples é a que os divide conforme o número de partes contratantes, ou seja, em bilaterais (quando celebrado entre duas partes) ou multilaterais, quando as partes são mais numerosas. Em 1968 a Delegação da França submeteu proposta visando à inclusão na Convenção do conceito de tratado multilateral restrito relativo aos tratados cujo objetivo é a vinculação apenas dos Estados mencionados num tratado cuja entrada em vigor depende do consentimento de todos os Estados que o negociaram. A proposta francesa visava a determinados tratados com um número restrito de partes, mas no ano seguinte ela foi retirada, embora fosse aceitável na opinião de diversas delegações. Accioly, baseando-se em diversos autores, ensina que a melhor classificação é a que tem em vista a natureza jurídica do ato. Sob este aspecto, podem ser divididos em tratados-contratos e tratados-leis ou tratados-normativos. Os tratados-leis são geralmente celebrados entre muitos Estados com o objetivo de fixar as normas de DIP; as convenções multilaterais como as de Viena são um exemplo perfeito deste tipo de tratado. Os tratados-contratos procuram regular interesses recíprocos dos Estados, isto é, buscam regular interesses recíprocos e são geralmente de natureza bilateral, mas existem diversos exemplos de tratados multilaterais ou de tratados multilaterais restritos. Nada impede que um tratado reuna as duas qualidades, como pode suceder nos tratados de paz ou de fronteiras. Os tratados-contratos podem ser executados ou executórios. Os primeiros, também chamados transitórios ou de efeitos limitados, são Introdução 25 os que devem ser logo executados e que, levados a efeito, dispõem sobre a matéria permanentemente, uma vez por todas, como ocorre nos tratados de cessão ou de permuta de territórios. Os tratados executórios, ou permanentes ou de efeitos sncessivos, são os que prevêem atos a serem executados regularmente, toda vez que se apresentem as condições necessárias, como nos tratados de comércio e nos de extradição. Dentre os tratados-normativos citam-se os de criação de uniões Internacionais administrativas, que exercem importante papel na vida internacional contemporânea, como é o caso da União Postal Internacional, da União Internacional para a Proteção da Propriedade Internacional, da Organização Mundial de Saúde e da Organização Mundial de Meteorologia. Os tratados são, geralmente, escritos, sendo raros os exemplos modernos em contrário. Embora a Convenção de 1969 não mencione os tratados não-escritos, esclarece que tal silêncio não os prejudicará. Seção 2 Condição de validade dos tratados Para que um tratado seja considerado válido, é necessário que as partes (Estados ou organizações internacionais) tenham capacidade para tal; que os agentes estejam habilitados; que haja consentimento mútuo; e que o objeto do tratado seja lícito e possível. § 1° - Capacidade das partes contratantes A doutrina tradicional, baseada na prática dos Estados, ensinava que apenas os Estados soberanos tinham o direito de assinar tratados. Quando em 1924 o Governo do Brasil informou o Secretário-Geral da Liga das Nações de sua intenção de criar em Genebra uma representação permanente a ser dirigida por um Embaixador, tal decisão trazia, in statu emergente, o eventual direito da Liga das Nações de firmar tratados. A questão chegou a ser suscitada mas só foi com a Carta das Nações Unidas que passou a ter aceitação, embora de maneira tímida 26 Manual de Direito Internacional Público no início. Atualmente, não padece a menor dúvida a respeito, tanto assim que a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986 trata especificamente da questão. § 2° - Habilitação dos agentes signatários Os representantes de um Estado para a adoção ou autenticação do texto de um tratado ou para expressar o consentimento do Estado em obrigar-se pelo mesmo demonstram a sua capacidade mediante a apresentação dos plenos poderes. O artigo 7 da Convenção de 1969, espelhando uma tendência no sentido de simplificar as formalidades na matéria, diz que os plenos poderes podem ser dispensados em certas circunstâncias. Hoje em dia, a apresentação de plenos poderes é dispensada no caso dos Chefes de Estado ou de Governo e dos Ministros das Relações Exteriores. A carta de plenos poderes deverá ser firmada pelo Chefe de Estado ou pelo Ministro das Relações Exteriores. § 3° - Consentimento mútuo O tratado é um acordo de vontades e, como tal, a adoção de seu texto efetua-se pelo consentimento de todos os Estados que participam na sua elaboração. No caso dos tratados multilaterais, negociados numa conferência internacional, a adoção do texto efetua-se pela maioria de dois terços dos Estados presentes e votantes, a não ser que, pela mesma maioria, decidam adotar uma regra diversa. Os princípios de direito civil relativos aos vícios de consentimento não podem ter a mesma aplicação em DIP. visto existir um interesse superior da comunidade internacional de que os tratados sejam respeitados. Além do mais, conforme veremos, a Conferência de Viena de 1968-1969, seguindo a orientação da CDI, se ocupa dos vícios (erro, dolo, coação etc.) como motivos de nulidade. No caso de coação exercida contra representante de um Estado, a Convenção de Viena estabelece em seu artigo 51 que o tratado "não produz efeito jurídico". Na prática, em tal hipótese, o Estado que ele representa pode deixar de ratificar o tratado ou contestar a sua validade. Introdução
Compartilhar