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Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 112 14 ESCORE DA CONDIÇÃO CORPORAL A condição corporal é determinada pela musculatura e gordura de cobertura ou subcutânea perceptível pelo exterior do animal, especialmente em alguns pontos localizados, pela simples observação de uma pessoa experiente, de olhos treinados e pela palpação. Quando o animal está muito magro, as pontas dos ossos ficam evidentes superficialmente e a pele aderida, enquanto o contrário, quando o animal está muito gordo, as pontas desaparecem e alguns pontos do animal ficam estufados e com depósitos de gordura. O escore da condição corporal é uma medida subjetiva, é um avaliador do grau de cobertura em que o animal se encontra. As reservas corporais de energia podem ser estimadas através da avaliação visual, uma vez que o escore da condição corporal é altamente correlacionado com a quantidade de gordura corporal depositada. Por isso é uma forma relativamente segura de se avaliar o estado nutricional do rebanho e pode ser adotado como prática de manejo em qualquer propriedade, já que não há necessidade da utilização de balança, apenas treinamento de pessoal. Os maneios são também indicadores de escore corporal se o animal estiver obeso, como também indicam a qualidade e o rendimento da carcaça em animais de corte. A determinação do escore da condição corporal estima a eficiência reprodutiva do rebanho, auxiliando na correlação entre a produção hormonal e a nutrição, bem como na avaliação do impacto econômico relativo às práticas nutricionais utilizadas. Avaliadores diferentes repetem entre si a mesma nota de escore para um mesmo animal. Há várias escalas para avaliação da condição corporal, algumas aceitando notas intermediárias, mas no Brasil se utilizam duas escalas, uma escala americana para gado de leite que fica entre 1 e 5 e outra para gado de corte que fica na faixa de 1 a 9 (NICHOLSON e BUTTERWORTH, 1986). Os valores de 1 a 9 podem ser subdivididos em três categorias, L de lean (magro), M de medium (médio) e F de fat (gorda) e em três escores por categoria como segue: L+, L, L-; M+, M, M- e F+, F, F-. Pode-se ainda incluir valores intermediários, em caso de dificuldade de enquadramento em escore de valor inteiro, tanto na escala de 1 a 9 (gado de corte), quanto na escala de 1 a 5 (gado de leite), que é uma adaptação da escala inglesa. A avaliação deve ser realizada no meio da gestação com atenção às novilhas e vacas primíparas, uma vez que nessas categorias as exigências nutricionais são maiores devido ao crescimento e gestação. Uma estação de monta de curta duração no gado de corte permitirá um período de maior exigência nutricional e de maior disponibilidade e qualidade de forragens. Godoy et al. (2004) verificaram que a suplementação pré e pós-parto melhorou a condição corporal de vacas da raça Guzerá, embora não tenha sido viável economicamente naquelas condições experimentais. Independente dos resultados alcançados pelos autores, verificou-se a tendência de perda de peso logo após o parto e lenta recuperação na fase seguinte (Figura 1) semelhante ao que acontece com vacas leiteiras. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 113 FIGURA 1- Peso corporal de vacas da raça Guzerá no período pós-parto submetidas à suplementação antes (PRÉ), após o parto (PÓS) e sem suplementação (SS). VANTAGENS A técnica da determinação da condição corporal traz benefícios no bem–estar animal uma vez que as dificuldades reprodutivas e as perdas de bezerros são reduzidas, na criação e manejo, considerando que as dietas podem ser formuladas de acordo com as necessidades da vaca e do bezerro e no desempenho, onde é necessário encontrar o equilíbrio entre a economia de alimentação, a produção e o bem-estar animal. A determinação do escore corporal permite: • a comparação rápida, segura e simples de rebanhos ou de animais sob diferentes condições de manejo, ambiente ou tratamento; • o estabelecimento de correlações entre taxas de concepção, disponibilidade de recursos, peso e rendimento de carcaça; • a seleção de matrizes em programas de reprodução e melhoramento; • a decisão quanto à suplementação alimentar em épocas de escassez de forragem; • o manejo de animais de engorda e • a compra e venda de animais em pé. PONTOS NO ANIMAL PARA DETERMINAÇÃO DO ESCORE A inclusão dos animais nas categorias é baseada na apreciação visual, mas pode-se usar a palpação manual, principalmente da garupa, lombo e região da cauda. Os principais locais de observações (Figuras 2 e 3) são: Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 114 • processo transverso da coluna vertebral (vértebras lombares, na altura do vazio); • ossatura da bacia, íleos, ísquios e costelas; • forma da musculatura correspondente às ancas (côncava, plana ou convexa); • forma da musculatura do coxão; • cobertura muscular na região dorso-lombar (espinhas dorsais); • cobertura da paleta; • cupim, pescoço e maçã do peito e • inserção da cauda. Processo transverso Tuberosidades do ísqueo e do íleo FIGURA 2 -Locais de avaliação do escore da condição corporal A avaliação deve ser feita de preferência pela manhã, após jejum de água e alimento. O escore é mais preciso para animais adultos, nos quais é mais fácil a análise da cobertura muscular e da deposição de gordura. Portanto, para o gado de corte a condição corporal ideal de vacas ao parto encontra-se ao redor de 5 para obtenção de melhor taxa de prenhez e menor intervalos de partos ou pelo menos na faixa de 5 a 7 para que a recuperação da condição corporal seja mais fácil no início da estação de monta. Escore acima de 7 representa um custo elevado, isto é, o alimento concentrado está sendo fornecido em demasia e ainda pode reduzir as taxas de concepção. Segundo Santos et al. (2009) as vacas de corte devem ter um escore corporal de 5,5 no período pré-parto para se obter probabilidade de parições acima de 80 %. Um exemplo de caracterização de escore corporal pela identificação dos locais pelo exterior do animal está exibido abaixo (Figura 3). Exterior e raças de bovinos e bubalinos 115 Processo Vazio muito Costelas muito Cernelha transverso nítido profundo visíveis muito magra FIGURA 3 – Locais de definição do escore da condição corporal. 14.1 ESCORE DA CONDIÇÃO CORPORAL EM GADO DE CORTE 1 Debilitada (L-) Vaca extremamente magra, sem nenhuma gordura detectável sobre os processos vertebrais espinhosos e transversos, sobre os ossos da bacia e costelas. A inserção da cauda e as costelas estão bastante proeminentes. Processo de emaciação acentuado. Barbela muito fina Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 116 Escore 1 (L−) 2 Pobre (L) Vaca muito magra, inserção da cauda e costelas estão menos projetadas. Os processos espinhosos continuam, mas já se nota alguma cobertura de tecido sobre a coluna vertebral. Processo transverso proeminente e espinhas dorsais acentuadas. Escore 2 (L) Condição corporal 1 Condição corporal 2 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 117 3 Magra (L+) Costelas ainda individualmente perceptíveis, mas não tão agudas ao toque. Existe gordura palpável sobre a espinha e sobre a inserção da cauda e alguma cobertura sobre os ossos da bacia. Processo transverso ainda visível. Escore 3 (L+) 4 Limite (M-) Costelas não são tão óbvias. Os processos espinhosos podem ser identificados com um toque, mas percebe-se que estão mais arredondados. Pouca gordura sobre as costelas, processos transversos e ossos da bacia. Inserçãoda cauda com enchimentos levemente sentidos. Processos no lombo podem ser sentidos, aparência é arredondada. Sobre as costelas a gordura pode ser sentida. Condição corporal 3 Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 118 Escore 4 (M−) 5 Moderada (M) Boa aparência geral. À palpação a gordura sobre as costelas parece esponjosa e as áreas nos dois lados da inserção da cauda apresentam gordura palpável. Costelas ainda visíveis, espinhas dorsais vistas com dificuldades. Condição corporal 4 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 119 Escores 5 (M) 6 Moderada Boa (M+) É preciso aplicar pressão firme sobre a espinha para sentir os processos espinhosos. Há bastante gordura palpável sobre as costelas e ao redor da inserção da cauda. Escore 6 (M+) Condição corporal 5 Condição corporal 6 Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 120 7 Boa (F-) Vaca com aparência gorda e carrega uma grande quantidade de gordura. Sobre as costelas sente-se uma cobertura esponjosa evidente e também ao redor da inserção da cauda. De fato começam a aparecer "cintos" e bolos de gordura. Já se nota alguma gordura ao redor da vulva e na virilha. Escore 7 (F−) 8 Gorda (F) Vaca muito gorda. É quase impossível palpar os processos espinhosos. A vaca possui grandes depósitos de gordura sobre as costelas na inserção de cauda e abaixo da vulva. Os "cintos" e "bolos" de gordura são evidentes. O processo transverso não pode ser visto ou sentido. Condição corporal 7 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 121 Escore 8 (F) 9 Extremamente gorda (F+) Vaca obesa com a aparência de um bloco. Os "cintos" e "bolos" de gordura estão projetados. A estrutura óssea não está muito aparente e é difícil de senti-la. A mobilidade do animal está comprometida pelo excesso de gordura. Inserção da cauda, maçã do peito, espinhas dorsais, costelas, íleos e ísquios estão cobertos de gordura. Escore 9 (F+) Condição corporal 8 Condição corporal 9 Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 122 14.2 ESCORE DA CONDIÇÃO CORPORAL EM GADO DE LEITE A avaliação da condição corporal é uma técnica utilizada para determinar o escore corporal de bovinos em intervalos regulares de tempo. Uma vaca com escore e dieta adequados em cada estágio do ciclo é um instrumento de correções de deficiências do rebanho. Vacas amamentando podem depositar gordura quando o alimento é abundante, mobilizando-o se estiver com deficiência nutricional. Em geral, alimentos fornecidos em excesso no final da gestação aumentarão o peso ao nascer do bezerro, mas podem conduzir a dificuldades no parto sem melhorias na condição corporal das vacas. Um nível baixo de alimentação no período de serviço pode ocasionar uma baixa eficiência reprodutiva. A detecção do problema deverá ser corrigida imediatamente em cada ciclo para que não ocorram problemas metabólicos. Os ciclos ocorrem, em geral, antes da parição, na parição, no período de serviço, durante a lactação e na secagem. A obtenção do escore se faz em momentos específicos, cujos procedimentos são mais facilmente obtidos quando o gado é manejado rotineiramente. O escore é utilizado na avaliação preliminar da função ovariana de vacas e novilhas. Embora subjetivo, auxilia na identificação de vacas que não estão apresentando cio e que necessitam de manejo alimentar especial. Vacas de alta produção em lactação são susceptíveis às doenças metabólicas pela ocorrência de balanço nutricional negativo no início da lactação ou devido à superalimentação no período seco, bem como por práticas equivocadas de manejo em qualquer fase do ciclo da vaca leiteira. Essas complicações dificilmente ocorrem em vacas de baixa ou média produção, cujo período de lactação não alcança os 300 dias. Considerando a raça Holandesa, o ciclo se inicia com a concepção e período de gestação de 280 dias (taurinos). Com o nascimento do bezerro inicia-se o período de lactação e o pico da produção ocorre entre a quarta e oitava semana, dependendo da produtividade e da persistência de produção de cada vaca. Se tudo correr bem, a vaca concebe novamente em 60 dias após o início da lactação, isto é, no pico de lactação ou bem próximo deste, estando a vaca, a partir desse momento, produzindo leite e gerando um bezerro. Após o final da lactação, a vaca terá 60 dias para o descanso orgânico a fim de se preparar para o próximo parto e nova lactação. Portanto, toda vaca em produção deve dar um bezerro ao ano, isto é, 300 dias de lactação mais 60 dias de período seco. Muitas vacas não conseguem esse feito por conceber tarde demais, isto é, longos intervalos entre partos e longos períodos de serviço comprometem a meta de uma lactação por ano. Na Figura 4, verifica-se o ciclo da vaca leiteira com quatro fases, iniciando com o nascimento do bezerro. Na primeira fase, o balanço energético é negativo, quando a vaca perde peso, ou seja, o consumo não atende as necessidades de energia para produção de leite. Na segunda fase, a vaca consegue equilibrar o consumo com a produção, enquanto na terceira fase, o balanço é positivo e a vaca consegue recuperar seu peso. Na última fase, denominado período seco, quando a vaca já não está produzindo leite, há ganho de peso e prepara o animal para a parição. Portanto, há Exterior e raças de bovinos e bubalinos 123 muitas oportunidades para desbalanços, que podem ser diagnosticados pelo escore da condição corporal. Incluídas nas doenças relacionadas ao metabolismo energético estão a síndrome da vaca gorda, a cetose, a retenção de placenta e a infertilidade. Entre as doenças associadas à acidose estão o timpanismo, a laminite, a indigestão, os abcessos hepáticos, o deslocamento do abomaso e o baixo nível de gordura no leite. Dentre as doenças metabólicas relacionadas aos minerais estão a febre do leite (hipocalcemia) e o imbalanço no controle da cálcio e fósforo, havendo ainda as desordens relacionadas ao manejo alimentar. Verifica-se ainda que a maioria das doenças metabólicas estão interrelacionadas. FIGURA 4 - Ciclo da vaca leiteira relacionando a produção de leite, a ingestão de matéria seca e as mudanças no peso corporal. SÍNDROME DA VACA GORDA O excesso de energia na dieta oferecido durante o período seco causa obesidade em vacas, especialmente às sensíveis aos problemas metabólicos. Uma alimentação adequada é recomendada para restaurar a condição corporal perdida durante o final da lactação, devendo-se alcançar o escore corporal de 3,5 no fim da lactação e manter esta condição durante o período anterior a parição para minimizar a incidência da síndrome da vaca gorda. CETOSE A cetose ocorre em vacas leiteiras durante a fase inicial da lactação (de 10 dias até seis semanas). Uma condição semelhante ocorre durante a prenhês antes do Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 124 início da lactação denominada toxemia da prenhês, que ocorre em ovinos com fetos múltiplos devido ao estresse metabólico comparados aos animais com um só feto na barriga. A desordem metabólica caracterizada pela elevação de corpos cetônicos (ácido acetoacético, ácido betahidróxibutírico e acetona) é devida ao aumento da produção desses compostos e não da redução do metabolismo. Um número de metabólicos do sangue são alterados durante a cetose. Entretanto, a concentração de corpos cetônicos nos fluidos corporais é considerado o mais seguro indicador dessa condição. Sintomas dessa condição incluem a diminuição do apetite, letargia, redução da produção de leite, aumento do percentual de gordura no leite, odor acetônico do leite e da respiração da vaca e redução do peso corporal. As mudanças metabólicas do sangue ocorrem em animais com cetose e incluemo desenvolvimento de hipoglicemia, aumento da concentração de cetonas e ácidos graxos livres no sangue, e diminuição de triglicerídeos no plasma, colesterol livre, éster de colesterol e fosfolipídeos. A sequência de eventos que conduz ao desenvolvimento da cetose é iniciada com balanço negativo de energia em vacas de alta produção. Por razões não compreendidas totalmente, animais com cetose falham para manter as concentrações de glicose sanguínea, resultando em aumento do catabolismo de gordura e transporte de ácidos graxos no fígado em quantidades maiores do que podem ser metabolizados. O resultado é o desenvolvimento de depósitos de gordura e superprodução de corpos cetônicos pelo fígado. A maioria dos tecidos não hepáticos podem metabolizar corpos cetônicos em quantidades limitadas. Durante a cetose em bovinos, a produção hepática excede a capacidade dos tecidos não hepáticos para metabolizar corpos cetônicos, que aparecem na urina (cetonúria) e há um odor acetônico no leite e respiração. O tratamento é baseado no aumento da concentração de glicose no sangue via infusão de glicose e ou injeção de glucocorticoides (ou ACTH). injeções de glucocordicóides estimulam a gliconeogênese e há um maior efeito prolongado sobre o aumento da glicose no sangue do que a administração de glicose. A prevenção da cetose deve ser baseada em práticas de alimentação durante o período seco e no período pós-parto inicial. A superalimentação de bovinos durante o período seco conduz ao ganho de peso excessivo e reduz a capacidade dos animais de mobilizar suficientes nutrientes no início da lactação, recomendando-se alimentação moderada neste período. Entretanto, durante os últimos 2 ou 3 semanas antes do parto, níveis de concentrado podem ser aumentados para preparar animais para a lactação seguinte de acordo com a condição corporal. HIPOCALCEMIA Febre do leite é uma doença metabólica que ocorre em bovinos durante o período após o parto imediato, podendo ser fatal se o tratamento não for imediatamente realizado. Os sintomas incluem baixa temperatura, dificuldade para andar ou ficar de pé e perda de apetite. A incidência da febre do leite é normalmente associada à alta produção de leite. Mudanças nos constituintes do sangue durante a febre do leite incluem diminuição do cálcio do plasma, fósforo e hormônios, bem como Exterior e raças de bovinos e bubalinos 125 aumento da calcitonina do plasma. Bovinos têm balanço negativo de cálcio durante a lactação, devido à alta concentração de cálcio no leite. Capacidade de bovinos mobilizar cálcio dos ossos e absorver cálcio do trato digestivo é essencial para manter o cálcio sanguíneo durante esse período. O tratamento padrão da doença é a administração intravenosa de gluconato de cálcio. A diminuição do inchaço do úbere com maior taxa de síntese do leite, é um velho tratamento que pode ser usado se a solução de cálcio não está disponível como um último recurso. Práticas preventivas incluem a alimentação com dieta baixa em cálcio durante o período seco para estimular a mobilização de cálcio, ordenha incompleta durante os três primeiros dias após a parição e injeção de vitamina D três dias antes da data esperada para a parição. Uma vez que o comprimento da gestação é variável em bovinos é difícil prever a hora certa do parto. Numerosos experimentos mostram que a superalimentação de cálcio durante o período seco aumenta muito a incidência de febre do leite. Assim, o manejo da vaca seca é um dos mais importantes fatores na redução da incidência da doença. TETANIA HIPOMAGNESIANA Essa doença é algumas vezes referidas como tetania de forrageiras, uma vez que sua ocorrência é muito comum em bovinos com dieta rica em forrageiras ou feno. Pode ocorrer em animais que consomem concentrado e passam a ser alimentados com forrageiras ou quando há uma troca de pastagens. Os sintomas incluem baixo nível de magnésio no sangue, espasmos musculares, salivação excessiva, incoordenação, convulsões e morte. Acredita-se que redução do teor de magnésio da dieta seja a principal causa da tetania. Tratamentos empregados são a administração intravenosa de gluconato de cálcio contendo magnésio. Medidas preventivas incluem suplementação de magnésio na dieta. Além disso, o magnésio pode ser aumentado na alimentação pela adição de fertilizantes magnesianos usados em adubação do solo. INFERTILIDADE A infertilidade causada por problemas nutricionais como em vacas muito gordas ou muito magras podem ser são corrigidos com base no escore corporal. As fêmeas muito gordas tem problemas no pós-parto como retenção de placenta, metrites e cistos ovarianos enquanto as muito magras demoram a ciclar. RETENÇÃO DE PLACEN TA Ocorre quando as membranas que envolvem o feto não se desprendem e retenção de placenta acontece. É principalmente um problema de manejo, que provoca infertilidade devido à involução retardada do útero, à metrite crônica, ao atraso na concepção e à menor produção de leite. Dieta balanceada no período seco, exercícios diários, asseio e utilização de áreas de maternidade seca e confortáveis minimizam as chances de retenção de placenta. Vacas deficientes em vitaminas A e D e selênio têm maior incidência de retenção. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 126 DESLOCAMENTO DO ABOMASO Ocorre quando o abomaso se torna distendido por gás, fluidos ou ambos, levando-o a uma posição anormal. Um nível alto de concentrados na ração de vacas secas durante o final da gestação e após o parto parece aumentar substancialmente a incidência de deslocamento. Os sinais são anorexia, ingestão alimentar intermitente, movimentos intestinais escassos, redução da produção de leite, desconforto geral e apatia. O tratamento se dá por cirurgia abdominal, corrigindo o deslocamento no qual o abomaso é levado de volta à sua posição normal através de suturas para que o deslocamento não volte a ocorrer. BAIXO NÍVEL DE GORDURA NO LEITE A baixa relação forragem/concentrado é associada com acidose, bem como os problemas alimentares e as lesões dolorosas no casco. A correção da alimentação e fornecimento de tampões como o bicarbonato de sódio tem auxiliado bastante. O sistema britânico usa escala de 0 a 5 com aumento de 0,5 ponto, resultando em uma escala de 11 pontos, enquanto o sistema americano (Tabela 1) é uma adaptação do britânico , portanto no Brasil se usa o sistema americano com opção para aumento de 0,5 (Teixeira, 1997). TABELA 1 – Tabela de conversão para diferentes sistemas de avaliação da condição corporal. Sistemas Escore da Condição Corporal Americano 1 2 3 4 5 Britânico 0 1 2 3 4 5 Australiano 1 2 3 4 5 6 7 8 A condição corporal de fêmeas bovinas pode ser relacionada com seu estádio reprodutivo: magras (escores 1 e 2) quase sempre apresentam ausência de cio com regular ou boa condição corporal (escores 3 e 4), quase sempre estão prenhes ou ciclando (apresentam cio); gordas (escore > 4) quase sempre estão prenhes ou ciclando, mas às vezes necessitam maior número de coberturas para que haja concepção A avaliação do escore da condição corporal pode ser resumida na Figura 5, com detalhes nas páginas seguintes. As avaliações quantitativas do escore da condição corporal são limitadas, mas há um consenso de que a mudança de uma unidade no escore corporal está relacionada a uma mudança no peso corporal em torno de 30 a 60 kg. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 127 FIGURA 5 – Escore da condição corporal em vacas leiteiras de forma resumida. 1 Pobre ou Muito Magra Animais debilitados, raquíticos, enfraquecidos e excessivamente magros, caracterizados por pronunciada atrofia muscular, olhos fundos, ossos da anca e das vértebras lombares muito profusos e proeminentes, pele penetrando entre os ossos das vértebrastransversas lombares, costelas bem visíveis e individualizadas, ausência total de gordura palpável ou visível sobre os ossos da anca, costelas e espinha dorsal cortantes. Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 128 2 Magra ou Moderada Animais com aspecto de subnutridos, caracterizados por atrofia muscular pouco pronunciada, ossos da anca e das vértebras lombares ainda profusos e proeminentes, costelas continuam visíveis e individualizadas, com a pele firmemente aderida ao tecido inferior, é um pouco mais arredondada, pouca ou nenhuma gordura palpável sobre os ossos da anca, costelas e espinha dorsal. A inserção da cauda é mais superficial e com pontas dos ossos ainda proeminentes; A pele é pouco flexível, mas alguma gordura subcutânea pode ser observada. O lombo no processo horizontal pode ser identificado individualmente com final arredondado. Condição corporal 1 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 129 3 Regular ou Bom Animais moderadamente nutridos (condição corporal de transição), caracterizados por ausência de atrofia muscular; ossos da anca com pouca ou nenhuma proeminência; costelas quase não são individualizadas, e a pele sobre elas pode ser facilmente elevada; presença de um mínimo de gordura palpável sobre os ossos da anca, costelas e inserção de cauda. Esta última tem cobertura sobre toda área, é uniforme, contínua, mas a pélvis pode ser sentida com pressão firme. No lombo, o final do processo horizontal, pode ser sentido apenas com pressão, com uma leve pressão local. Condição corporal 2 Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 130 4 Boa ou gorda Animais com boa aparência geral, caracterizados por estruturas ósseas ainda visíveis, mas não proeminentes; considerável cobertura de gordura sobre as costelas, ossos da anca e espinha dorsal. A inserção da cauda está completamente cheia e com dobras e enchimentos de gordura evidentes e levemente sentidos. Os processos podem ser sentidos e a aparência é visivelmente redonda no lombo. Sobre as costelas há dobras de gordura desenvolvidas Condição corporal 3 Exterior e raças de bovinos e bubalinos 131 e) Escore 5 (Muito gorda) Animais com estruturas ósseas não-visíveis; grande depósito de gordura sobre as costelas, espinha dorsal, ossos da anca e ao redor da inserção de cauda. A estrutura óssea do animal não é perceptível. No lombo, a pelvis não é sentida, palpável, mesmo com pressão forte. Costelas com grossa espessura de gordura de cobertura. Condição corporal 5 Condição corporal 4 Victor Cruz Rodrigues – DRAA/IZ 132 A seguir estão as Figuras de cinco condições corporais com vacas vistas por trás. Escore 1 Escore 2 Escore 3 Escore 4 Escore 5 O escore da condição corporal desejado está relacionado na Tabela 2, devendo se observar a mudança entre uma fase e outra do ciclo da vaca leiteira. Exterior e raças de bovinos e bubalinos 133 TABELA 2 – Condição corporal recomendada para fêmeas de leite conforme sua categoria. Animal Fase Escore Variação do escore Vacas Parto 3,5 3,0 a 4,0 Pico de lactação 2,5 2,0 a 2,5 Meio da lactação 3,0 3,0 a 3,5 Fim da lactação 3,5 3,0 a 3,5 Novilhas 6 meses de idade 3,0 2,5 a 3,0 Época de cruzamento 3,0 2,0 a 3,0 Parto 3,5 3,0 a 4,0
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