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LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Questão 1 A Teoria do Ralo Seu nome é Jean-Paul Quelquechose e ele é o maître de um hipotético restaurante na Côte D’Azur – chamado, aliás, “L’Hypothétique”, um velho observador do mar e das fortunas humanas, ele achava que as duas coisas se pareciam. Os ricos também vinham em ondas como o mar, e mesmo que quebrassem na costa como as ondas, atrás viriam outros, e outros e mais outros. Cada onda era diferente mas o mar era sempre o mesmo, assim como cada geração de ricos era diferente e confiável. Podia subir ou descer – como a maré – mas não falhava. Jean-Paul já passara por períodos de preamar e baixa-mar das fortunas, já vira um nobre arruinado se matar na sua frente, derrubando um faisão flambado na queda, e uma jovem herdeira chorar dentro da “bisque” com a perspectiva da miséria, e uma vez fora obrigado a botar três magnatas falidos e suas mulheres a limpar peixe na cozinha para pagar a conta de um jantar. Mas atrás de cada rico em desgraça vinha um mais rico, onda após onda. Agora não. Que Jean-Paul se lembre, a coisa nunca esteve como agora. As ondas não estão vindo, as ondas só estão indo. É como se o mar se retraísse. Como se o mar que ele via através dos janelões do seu restaurante se esvaziasse. Como se um ralo tivesse sido aberto no fundo do mar. Foi o que Jean-Paul disse para seu entrevistador, que comentara o pouco movimento do restaurante em plena temporada de inverno. A teoria do ralo. - Só pode ser isso. Para onde foi todo o dinheiro? Só pode ter desaparecido por um ralo. - Os ricos não estão mais vindo? - Os ricos não são mais ricos. - Não tem vindo ninguém? - Personne. - Nem os americanos? - Muito menos os americanos. - Nem os árabes? - Poucos árabes. Mas dividem os pratos e não dão mais gorjetas. - Ninguém mais tem dinheiro... - É um ralo. Só pode ser um ralo. - Esta crise, então, não é como as outras, Jean-Paul? - Não é. Passei por todas as outras e sei. Esta é diferente. Esta vai ficar na História. Se houver História depois dela. - Pelo menos você ainda tem essa vista bonita do mar da Côte, e agora com bastante tempo para contemplá-la. - Não me fale. Quando olho o mar só consigo pensar no que ele tem de sobra e ninguém mais tem. - O quê? - Liquidez. - Bom, já vou indo. Obrigado pela... - Epa, você não está esquecendo uma coisa? - O quê? - Minha gorjeta. - Mas nós só conversamos, você não me serviu nada. - E a filosofia? VERÍSSIMO, Luis Fernando. Em algum lugar do paraíso . Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2011. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Na Literatura, crônica é uma história que expõe os fatos em narração simples e segundo a ordem em que eles vão se dando. Assim como a biografia, na crônica prevalecem os fatos reais aos fatos fictícios, pois, nestes textos, são tratados temas relacionados ao cotidiano. É correto afirmar que a crônica “A Teoria do Ralo”, de Luis Fernando Veríssimo, tem como tema central: A. a diminuição da diferença entre as classes sociais com o sumiço da classe mais alta B. os altos preços do Menu francês em restaurantes situados no Brasil C. o costume de se dar gorjeta ao garçom, que tornou-se uma imposição social D. a vida de ostentação levada por famílias ricas brasileiras E. o possível desaparecimento dos clientes ricos que frequentavam o restaurante L’Hypothétique Resolução Questão de interpretação do sentido geral da crônica. Por meio de metáforas e filosofias, o maître discorre sobre sua teoria do ralo, que explicaria o pouco movimento no restaurante em decorrência do hipotético desaparecimento dos clientes ricos que o frequentavam. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 2 A crônica A Teoria do Ralo , de Luis Fernando Veríssimo, descreve um diálogo que se passa num restaurante situado no sul da França ou, mais especificamente, na Côte D’Azur. A o exemplo do nome desta ilha francesa, o emprego de termos do francês é uma marca neste texto. Algumas palavras do português derivam do francês, como abajur , garagem e nécessaire . Assinale dentre os termos abaixo extraídos do texto aquele que não consiste em uma palavra do francês: A. Quelquechose B. maître C. Hypothétique D. bisque E. magnatas Resolução Quelquechose faz referência ao sobrenome de Jean-Paul e, em francês, quer dizer qualquer coisa; maître em francês quer dizer o gerente do restaurante; Hypothétique, em francês, quer dizer hipotético e bisque é uma sopa de origem francesa. O termo magnatas é o plural de magnata, do latim magnates, e designa uma pessoa importante com relação à posição social. _____________________________________________________________________________________________________ LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Questão 3 DUVIVIER, G. In: Percatempos - Tudo que faço quando não sei o que fazer . Companhia das Letras, 2015. As placas de trânsito comunicam convenções que devem ser respeitadas como, por exemplo, onde se deve estacionar ou não um veículo. Mas quem não dirige nem sempre está antenado a esses símbolos. A charge de Gregório Duvivier brinca com os mal-entendidos que podem decorrer disso. É correto dizer que o humor desta charge consiste: A. na fala do garoto, na qual as vogais estão mal empregadas B. na postura do garoto, que para em frente ao guarda com as mãos abertas C. na postura do guarda, que não responde nada ao garoto D. na má interpretação que o garoto faz da placa E. a má interpretação que o guarda faz da placa Resolução Questão de interpretação do sentido geral da charge. Por não entender que se trata de uma placa de proibido Estacionar, o garoto omite todas as vogais E de sua frase, pensando estar seguindo a convenção. _____________________________________________________________________________________________________ LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Questão 4 Disponível em: olimpiadas.uol.com Acesso em: 22 ago., 2016. Nas peças publicitárias, vários recursos verbais e não verbais são usados com o intuito de atingir o público-alvo, influenciando seu comportamento. Considerando as informações verbais e não verbais trazidas no texto a respeito dos jogos olímpicos no Brasil, verifica-se que: A. como pano de fundo há uma imagem que faz referência ao Pão de Açúcar, mencionando o Rio de Janeiro, sede dos jogos olímpicos B. as cores utilizadas na peça publicitária denotam a intenção de convocar os nacionalistas ufanistas a torcerem pelo Brasil nos jogos olímpicos C. o emprego de hashtag , símbolo típico das redes sociais, convoca em especial os jovens a acompanharem os jogos olímpicos D. o intuito da campanha é conseguir mais torcedores para os atletas olímpicos brasileiros E. o intuito da campanha é despertar o sentimento de união entre todos os brasileiros Resolução Questão de interpretação do texto não verbal da peça publicitária. As demais alternativas contêm informações que não encontram suporte no texto. As cores do Brasil, por exemplo, designam o país sede dos jogos olímpicos, e a mensagem após ohashtag incentiva a união entre as diferentes nações. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 5 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Disponível em: http://piada.net/wp-content/uploads/2009/10/olimpiadas-20161.jpg Acesso em: 22 ago., 2016. A tirinha denota a postura assumida por seu autor frente aos investimentos destinados aos jogos olímpicos. Tal posicionamento é crítico e está expresso de forma irônica, resultando do choque entre as ideias dos dois personagens apresentados. O ponto auge do humor nesta tirinha está na atitude: A. crítica, que pode ser lida no primeiro balão de fala B. resignada, expressa pela declaração do segundo balão de fala C. indignada, expressa pelo primeiro personagem D. agressiva, expressa pelo segundo personagem E. alienada, expressa pela negação da realidade por parte do segundo personagem que fala Resolução Questão de interpretação do sentido geral da tirinha. Por se tratar de uma conversa entre dois possíveis moradores de rua, a postura resignada, expressa no segundo balão de fala, acaba sendo irônica. Ele critica seu companheiro, tachando-o de egoísta, quando na verdade lhe faltam os mesmos direitos reivindicados no primeiro balão de fala. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 6 Leia o texto abaixo para responder às questões 6 e 7. Consumo habitual de pimenta reduz mortalidade O consumo de temperos em geral é um hábito muito antigo em várias culturas e atinge finalidades tão diversificadas quanto dar sabor e cor à comida até o seu uso medicinal, tendo sido por séculos, antes do advento da tecnologia, um importante fator de preservação dos alimentos. Vários estudos científicos de pequeno porte têm demonstrado efeitos benéficos à saúde produzidos pelo consumo regular de temperos, especialmente a pimenta, benefícios estes que vão desde a redução da incidência de câncer até a diminuição do risco de sobrepeso e obesidade. Por sua vez, os agentes bioativos dos temperos (o principal chama-se capsaicina e é encontrado na pimenta) parecem ter efeitos positivos sobre doenças de vários sistemas (cardiovascular, gastrointestinal, endócrino), produzem benefícios em doenças dermatológicas, alguns tipos de cânceres e distúrbios urogenitais, além de apresentar também uma atividade antibacteriana. Apesar deste conjunto de resultados apontar para um real benefício dos temperos (especialmente a pimenta) à saúde, até agora nenhum grande estudo havia abordado um possível efeito sobre a mortalidade. Pois nesta semana esta lacuna foi preenchida com a publicação na revista médica The British Medical Journal de um grande estudo prospectivo realizado na China e que teve o objetivo de examinar a associação entre o consumo regular de comida apimentada e a mortalidade total ou a causada por doenças específicas. A pesquisa acompanhou por uma média de sete anos cerca de 490 mil homens e mulheres com idades entre 30 e 79 anos. Cada participante do estudo referiu o seu estado de saúde, o consumo de álcool, de temperos em geral, de pimenta e sua forma (fresca, seca, em óleo ou molho) e o consumo de carne e vegetais. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS No período avaliado, a taxa de mortalidade foi significativamente mais elevada nas pessoas que ingeriam pimenta menos que um dia por semana quando comparada à mortalidade das que ingeriam pimenta 1 a 2, 3 a 5 e 6 a 7 dias por semana. Os participantes que ingeriam 1 a 2 vezes por semana tiveram uma taxa de mortalidade 10% menor no período e os que ingeriam pimenta 3 ou mais vezes por semana a redução chegou a 14%. Na análise da causa de morte específica, o grupo que ingeriu mais pimenta apresentou um risco de morte menor por certas doenças como câncer, isquemia cardíaca e doenças respiratórias. Curioso também é o dado que demonstrou que a ingestão de pimenta fresca tem um efeito protetor muito mais forte contra a mortalidade causada por estas doenças acima mencionadas. Estes resultados demonstraram-se consistentes mesmo após o ajuste dos dados para excluir outros fatores de risco potencialmente conhecidos. Mesmo que a natureza do estudo não permita o estabelecimento de uma relação de causa e efeito (o tipo de estudo só tem poder de demonstrar uma associação entre dois eventos e não que um evento esteja causando o outro), os seus resultados fornecem indícios suficientes para ser sugerido um consumo moderado de pimenta no nosso dia-a-dia. Disponível em: https://www.abcdasaude.com.br Acesso em: 22 ago., 2016. Considerando as ideias desenvolvidas pelo autor, conclui-se que o texto tem a finalidade de: A. descrever e fornecer orientações sobre receitas que contenham pimenta B. justificar o consumo habitual de pimenta tendo em vista e redução das mortes no mundo C. sugerir o consumo moderado de pimenta com base no estudo em The British Medical Journal D. alertar para doenças dos sistemas cardiovascular, gastrointestinal e endócrino e ligadas ao consumo de temperos E. informar a cultura do consumo de temperos Resolução Questão de interpretação de um texto explicativo da área da saúde. As demais alternativas não encontram suporte no texto ou não condizem com sua principal finalidade. Ao apresentar estudo sobre o consumo de pimenta, o texto sugere, sim, que o consumo moderado da pimenta pode trazer benefícios à saúde. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 7 Com relação às informações sobre a pimenta encontradas no texto, é correto dizer que da leitura do artigo Consumo habitual de pimenta reduz mortalidade depreendemos: A. quais tipos de pimenta são mais benéficos à saúde B. de quando data o consumo de temperos nas culturas mais antigas C. que tipo de benefícios se tem ao consumir pimenta D. quais são os agentes bioativos encontrados na pimenta E. como se dá a relação de causa e efeito com relação ao consumo de pimenta e a mortalidade LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Resolução É a única que encontra suporte no texto, na parte em que diz: Vários estudos científicos de pequeno porte têm demonstrado efeitos benéficos à saúde produzidos pelo consumo regular de temperos, especialmente a pimenta, benefícios esses que vão desde a redução da incidência de câncer até a diminuição do risco de sobrepeso e obesidade. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 8 DUVIVIER, G. In: Percatempos - Tudo que faço quando não sei o que fazer. Companhia das Letras, 2015. Aumentativo é uma declinação de grau em português, que serve primordialmente para intensificar ou para indicar tamanho ou quantidade grandes. “Cabelão" pode ser um cabelo comprido, e "filão" pode ser uma fila imensa, por exemplo; mas nem sempre funciona assim. E a charge de Gregório Duvivier aponta palavras que, embora tenham final -ão, terminação típica das palavras noaumentativo, não se tratam de aumentativos. A exemplo da charge, das palavras abaixo, a que não está no aumentativo é: A. abração B. doidão C. provão D. mansão E. golaço Resolução Mansão designa uma casa grande, mas não deriva de outra palavra, portanto é a única dentre as alternativas que não está no aumentativo. Golaço , embora não termine por -ão, é o aumentativo de gol . LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Questão 9 Sudoeste Tenho por princípios Nunca fechar portas Mas como mantê-las abertas O tempo todo Se em certos dias o vento Quer derrubar tudo? Disponível em: https://www.letras.mus.br/adriana-calcanhotto/87098/ Acesso em: 24 ago., 2016. Musicada por Adriana Calcanhotto, Sudoeste é uma canção cujo trecho foi extraído de um poema de Jorge Salomão. Após declaração sobre princípios do eu-lírico, o texto encerra com uma pergunta. Sobre a estrutura do texto, é correto afirmar que: A. os dois primeiros versos são um questionamento sobre os princípios do eu-lírico B. a pergunta contida nele inicia a partir do conector se C. a pergunta contida nele inicia a partir do conector mas D. a pergunta é sobre o vento e concentra-se nos dois últimos versos E. a pergunta contida nele inicia e termina no último verso Resolução No mesmo texto em forma de prosa, teríamos a seguinte frase: Tenho por princípios nunca fechar portas, mas como mantê-las abertas o tempo todo se em certos dias o vento quer derrubar tudo? , sendo que o questionamento inicia com o conector mas. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 10 Leia o texto abaixo para responder às questões 10 e 11. TEXTO I Bossa Nova é um gênero musical que recebeu influência do samba e do jazz americano. A bossa nova surgiu no Brasil no final da década de 50, na intimidade dos apartamentos e boates da Zona Sul do Rio de Janeiro - reduto da classe média - estudantes e jovens em geral. Inicialmente o termo era apenas usado como um novo modo de cantar e tocar naquela época. Em março de 1959, a gravadora Odeon lançou o disco Chega de Saudade, do cantor, violonista e compositor João Gilberto que cantava baixinho e discretamente, onde o acompanhamento do violão possuía uma batida e uma harmonia diferentes, abrindo novo caminho para a nova música. "Devo argumentar que isso é muito natural, é a bossa nova", dizia João Gilberto. Disponível em http://www.significados.com.br/bossa-nova/ (adaptado) Acesso em: 24 ago., 2016. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS TEXTO II Desafinado Se você disser que eu desafino amor Saiba que isso em mim provoca imensa dor Só privilegiados têm ouvido igual ao seu Eu possuo apenas o que Deus me deu Se você insiste em classificar Meu comportamento de antimusical Eu mesmo mentindo devo argumentar Que isto é bossa-nova, isto é muito natural O que você não sabe nem sequer pressente É que os desafinados também têm um coração Fotografei você na minha Roleiflex Revelou-se a sua enorme ingratidão Só não poderá falar assim do meu amor Este é o maior que você pode encontrar Você com sua música esqueceu o principal Que no peito dos desafinados No fundo do peito bate calado Que no peito dos desafinados Também bate um coração Disponível em https://www.letras.com/joao-gilberto/46556/ Acesso em: 24 ago., 2016. Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Apesar de desempenharem diferentes funções sociais, tanto o TEXTO I quanto o TEXTO II têm como tônica: A. fazer uma crítica às desarmonias do gênero musical produzido no Brasil B. fazer uma crítica às influências estrangeiras que a bossa-nova recebeu C. informar ao público sobre o gênero musical bossa-nova D. explicar as dissonâncias características da bossa-nova E. explicar o surgimento da bossa-nova Resolução É sempre importante observar a fonte dos textos. Enquanto o TEXTO I, mais informativo, traz detalhes do surgimento da bossa-nova, o TEXTO II é uma canção, uma bossa-nova, de fato, composta por João Gilberto e que, entre outras coisas, argumenta em favor das possíveis dissonâncias típicas do gênero. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 11 LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Com relação ao TEXTO II, por se tratar de uma letra de música, há diversos possíveis sentidos depreendidos dele. O efeito de sentido da letra da canção é provocado pela combinação de críticas ao compositor (eu-lírico) com exaltações à pessoa a quem ele se dirige como sendo um(a) expert em música. O verso que não consiste numa crítica sobre as habilidades musicais do compositor é: A. Se você disser que eu desafino amor/Saiba que isso em mim provoca imensa dor B. Só privilegiados têm ouvido igual ao seu/Eu possuo apenas o que Deus me deu C. Se você insiste em classificar/Meu comportamento de antimusical D. É que os desafinados também têm um coração E. Você com sua música esqueceu o principal Resolução Neste trecho, o eu-lírico dirige-se à pessoa amada, dizendo que há uma questão principal além da música, a saber, que os desafinados também têm sentimentos. Nas demais alternativas, termos como eu desafino, em A; Eu possuo apenas o (ouvido) que Deus me deu, em B; anti-musical, em C e desafinados, em D apontam para críticas. Questão 12 Observe a tirinha abaixo: Disponível em http://www.malvados.com.br/tirinha1712.jpg Acesso em: 24 ago., 2016. O texto da tira faz uma abordagem crítica ao conteúdos das opiniões que circulam nas redes sociais. A partir de sua leitura não se pode afirmar que o autor faz referência: A. aos resumos e artigos disponíveis na internet B. às discussões de facebook C. à tecnologia avançada de que dispomos no século XXI D. aos discursos retrógrados publicados nas redes sociais E. aos discursos preconceituosos postados nas redes sociais Resolução O autor faz referência ao que consta em todas as alternativas exceto em A, uma vez que artigos e resumos não trazem opinião propriamente, são textos informativos. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS _____________________________________________________________________________________________________ Questão 13 Leia o texto: Mapa-múndi/ 2 No Sul, a repressão. Ao Norte, a depressão. Não são poucos os intelectuais do Norte que se casam com as revoluções do Sul só pelo prazer de ficarem viúvos. Prestigiosamente choram, choram a cântaros, choram mares, a morte de cada ilusão; e nunca demoram muito para descobrir que o socialismo é o caminho mais longo para chegar do capitalismo ao capitalismo. A moda do Norte, moda universal, celebra a arte neutra e aplaude a víbora que morde a própria cauda e acha que é saborosa. A cultura e a política se converteram em artigos de consumo. Os presidentes são eleitos pela televisão, como os sabonetes, e os poetas cumprem uma função decorativa. Não há maior magia que a magia do mercado, nem heróis mais heróis que osbanqueiros. A democracia é um luxo do Norte. Ao Sul é permitido o espetáculo, que não é negado a ninguém. E ninguém se incomoda muito, afinal, que a política seja democrática, desde que a economia não o seja. Quando as cortinas se fecham no palco, uma vez que os votos foram depositados nas urnas, a realidade impõe a lei do mais forte, que a lei do dinheiro. Assim determina a ordem natural das coisas. No Sul do mundo, ensina o sistema, a violência e fome não pertencem à história, mas à natureza, e a justiça e a liberdade foram condenadas a odiar-se entre si. GALEANO, E. In: O Livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM, 1995. Eduardo Galeano, autor desse texto, foi um escritor uruguaio em cuja obra se misturam narração e ensaio bem como poesia e crônica. Sobre este texto em específico podemos concluir que a temática se centra: A. na crítica ao capitalismo e ao socialismo B. na crítica à cultura e à política C. na crítica aos intelectuais e aos poetas D. no elogio ao mercado e aos banqueiros E. no elogio ao Norte e ao Sul Resolução Embora também mencione criticamente o capitalismo e o socialismo, a temática central do texto é a crítica à cultura e à política, a qual se estende a diversos setores, como mídia, arte, economia e história. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 14 Leia a tirinha abaixo para responder às questões 14 e 15. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Disponível em http://img.terra.com.br/i/2010/03/07/1465807-4103-cp2.jpg Acesso em: 24 ago., 2016 Ao circularem socialmente, os textos realizam-se como práticas de linguagem, assumindo configurações específicas, formais e de conteúdo. Considerando o contexto em que circula a tirinha d’As Cobras, da autoria de Luis Fernando Veríssimo, seu objetivo básico é: A. provocar risos ao leitor sem agregar nenhuma grande reflexão B. causar indignação e fomentar uma discussão político-partidária C. apresentar uma pesquisa de opinião sobre a disseminação da corrupção D. incitar o pensamento crítico no ramo da política com uma pitada de humor E. informar o significado do termo corrupção Resolução As tirinhas são textos recorrentes em jornais, revistas e na internet e frequentemente abordam temas atuais de forma bem humorada. A alternativa D é a única que encontra suporte no texto. Com humor, Luis Fernando Veríssimo convida o leitor a refletir sobre a corrupção, sugerindo que ela está presente em todos os setores e definitivamente por tudo. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 15 Fazendo uso de um tom irônico, muitas tirinhas expõem sua crítica social, política ou religiosa. O ponto auge do humor está, muitas vezes, num quadrinho ou numa frase inusitada; a surpresa pode despertar o riso bem como a ironia também pode causar graça. Com relação à estrutura da tira, é correto afirmar que: A. a exclamação do primeiro quadrinho é o ponto auge da piada B. o termo empregado no primeiro quadrinho tem tom irônico C. a pergunta do segundo quadrinho tem tom cômico D. a instrução do terceiro quadrinho é o ponto auge da piada E. o termo „presentinho“ empregado no terceiro quadrinho tem tom irônico LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Resolução Até o segundo quadrinho da tira, não há ironia, parece uma pesquisa séria sobre um assunto que deveria ser sério. Mas o terceiro quadrinho traz algo inusitado, a saber, a tentativa de induzir os entrevistados a responderem „não“ sobre a existência de corrupção. A graça está na contradição disso tudo. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 16 Leia a canção abaixo para responder às questões 16 e 17. Baila Comigo Se Deus quiser Um dia eu quero ser índio Viver pelado Pintado de verde Num eterno domingo Ser um bicho preguiça Espantar turista E tomar banho de sol Banho de sol! Banho de sol! Sol!... Se Deus quiser Um dia acabo voando Tão banal assim Como um pardal Meio de contrabando Desviar do estilingue Deixar que me xingue E tomar banho de sol Banho de sol! Banho de sol! Banho de sol!... Baila Comigo! Como se baila na tribo Baila Comigo! Lá no meu esconderijo Ai! Ai! Ai! Baila Comigo! Ah! Ah! Uh! Uh! Como se baila na tribo Oh! Oh! Baila ba, ba Baila Comigo! Lá no meu esconderijo... Se Deus quiser Um dia eu viro semente E quando a chuva Molhar o jardim Ah! Eu fico contente E na primavera Vou brotar na terra E tomar banho de sol Banho de sol! Banho de sol! Sol!... Se Deus quiser Um dia eu morro bem velha Na hora "H" Quando a bomba estourar Quero ver da janela E entrar no pacote De camarote... E tomar banho de sol… (repete refrão) Disponível em https://www.letras.mus.br/rita-lee/48498/ Acesso em: 24 ago., 2016. O texto Baila Comigo registra um desejo do enunciador, trabalhado em uma linguagem informal, comum na música popular. Outra característica de uma letra de música é o predomínio de figuras de linguagem. De acordo com a leitura desta composição de Rita Lee é possível afirmar que LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A. na primeira estrofe, a construção Pintado de verde é uma metáfora para viver em meio à natureza B. na segunda estrofe, a construção estilingue é uma metáfora para armas de fogo C. na quarta estrofe, a construção primavera é uma metáfora para terra fértil D. na quinta estrofe, a construção bem velha é uma metáfora para maturidade E. na quinta estrofe, a construção Quando a bomba estourar é uma metáfora para guerra Resolução As demais alternativas contêm expressões com sentido literal, como B, C e D ou relações incorretas, como em E, cuja construção em destaque faz referência a um momento difícil prestes a acontecer. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 17 O texto desta canção faz muitas referências à natureza e traz também algumas críticas às coisas que destoam da paz. Dos trechos abaixo extraídos da canção o único que não pode ser considerado uma celebração ao meio ambiente é: A. Um dia eu quero ser índio, na primeira estrofe B. Ser um bicho preguiça, na primeira estrofe C. Um dia eu viro semente, na quarta estrofe D. Vou brotar na terra, na quarta estrofe E. Um dia eu morro bem velha, na quinta estrofe Resolução Esta é a única construção que não se refere diretamente ao meio ambiente nem à natureza, pois indica que o eu-lírico deseja uma vida longa para si. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 18 gro·gue (inglês grog) substantivo masculino 1. Bebida composta de água quente, aguardente ou rum, açúcar e casca de limão. 2. [Cabo Verde] Aguardente de cana. = CACHAÇA adjectivo de dois géneros 3. [Informal] Que ingeriu demasiada bebida alcoólica. = BÊBEDO 4. [Informal] Que está zonzo ou estonteado. Disponível em: https://www.priberam.pt/dlpo/grogue Acesso em: 23 ago., 2016. O texto foi extraído de um dicionário virtual e traz a definição de um termo emprestado da língua inglesa que é bastante usadocom sentido conotativo, ou seja, em sentido figurado em vez daquele LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS descrito em primeira mão no dicionário. Que outro termo, a exemplo deste, é empregado tanto no sentido denotativo quanto no conotativo? A. cansado B. morto C. tonto D. assustado E. sonolento Resolução O termo morto é empregado no sentido denotativo quando designa uma pessoa que morreu; mas ele também é empregado no sentido conotativo intensificando o que se quer dizer. Estou morto = estou muito cansado; estou morto de fome/sede/sono = com muita fome/sede/sono. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 19 Leia a charge abaixo para responder às questões 19. Disponível em http://www.especializadoblog.com.br/2015/02/o-paulista-e-o-baiano-imagem-piada.html Acesso em: 26 ago., 2016. A ironia da charge está relacionada a construções culturais as quais se referem, no contexto apresentado, a paulistas e baianos. Interjeições são palavras ou expressões que enriquecem as produções orais das pessoas e variam especialmente de região para região. É correto afirmar que encontramos uma fala regional em: A. Você sabia que LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS B. Óxente C. numa rede D. trabalhando pesado E. sem se mexer Resolução Sabendo que a interjeição é uma classe gramatical constituída de uma ou mais palavras e que sua função é geralmente expressar emoções ao longo do discurso oral ou escrito, podemos identificar a palavra “óxente!”, cujo sentido se relaciona ao fato do homem, deitado na rede, se surpreender com a fala do outro, paulista. Vale lembrar também que a interjeição sempre está acompanhada do ponto de exclamação! - o que ajuda na identificação dessa classe gramatical! _____________________________________________________________________________________________________ Questão 20: Para o Mano Caetano O que fazer do ouro de tolo Quando um doce bardo brada a toda brida, Em velas pandas, suas esquisitas rimas? Geografia de verdades, Guanabaras postiças Saudades banguelas, tropicais preguiças? A boca cheia de dentes De um implacável sorriso Morre a cada instante Que devora a voz do morto, e com isso, Ressuscita vampira, sem o menor aviso [...] E eu soy lobo-bolo? lobo-bolo Tipo pra rimar com ouro de tolo? Oh, Narciso Peixe Ornamental! Tease me, tease me outra vez 1 Ou em banto baiano Ou em português de Portugal De Natal [...] 1 Tease me (caçoe de mim, importune-me). LOBÃO. Disponível em: http://vagalume.uol.com.br. Acesso em: 14 ago. 2009 (adaptado). Na letra da canção apresentada, o compositor Lobão explora vários recursos da língua portuguesa, a fim de conseguir efeitos estéticos ou de sentido. Nessa letra, o autor explora o extrato sonoro do idioma e o uso de termos coloquiais na seguinte passagem: LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A. “Quando um doce bardo brada a toda brida” (v. 2) B. “Em velas pandas, suas esquisitas rimas?” (v. 3) C. "Que devora a voz do morto” (v. 9) D. “lobo-bolo//Tipo pra rimar com ouro de tolo? (v. 11-12) E. “Tease me, tease me outra vez” (v. 14) Resolução: O recurso fonético da língua é explorado pela repetição dos sons [l], [b] e [o], que formam as palavras lobo e bolo. Além disso, há a rima como o sintagma "ouro de tolo". _____________________________________________________________________________________________________ Questão 21 Desabafo Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento). Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo , a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois: A. o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. B. a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. C. o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. D. o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. E. o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação. Resolução Na função emotiva da linguagem, o enunciador é o centro da comunicação, na qual predomina a expressão de suas emoções em relação ao conteúdo transmitido. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 22 Entrevista com Marcos Bagno Pode parecer inacreditável, mas muitas das prescrições da pedagogia tradicional da língua até hoje se baseiam nos usos que os escritores portugueses do século XIX faziam da língua. Se tantas pessoas condenam, por exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar de “haver”, como em “hoje tem feijoada”, é simplesmente porque os portugueses, em dado momento da história de sua língua, deixaram de fazer esse uso existencial do verbo “ter”. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS No entanto, temos registros escritos da época medieval em que aparecem centenas desses usos. Se nós, brasileiros, assim como os falantes africanos de português, usamos até hoje o verbo “ter” como existencial é porque recebemos esses usos de nossos ex-colonizadores. Não faz sentido imaginar que brasileiros, angolanos e moçambicanos decidiram se juntar para “errar” na mesma coisa. E assim acontece com muitas outras coisas: regências verbais, colocação pronominal, concordâncias nominais e verbais etc. Temos uma língua própria, mas ainda somos obrigados a seguir uma gramática normativa de outra língua diferente. Às vésperas de comemorarmos nosso bicentenário de independência, não faz sentido continuar rejeitando o que é nosso para só aceitar o que vem de fora. Não faz sentido rejeitar a língua de 190 milhões de brasileiros para só considerar certo o que é usado por menos de dez milhões de portugueses. Só na cidade de São Paulo temos mais falantes de português que em toda a Europa! Informativo Parábola Editorial, s/d. Na entrevista, o autor defende o uso de formas linguísticas coloquiais e faz uso da norma padrão em toda a extensão do texto. Isso pode ser explicado pelo fato de que ele: A. adapta o nível de linguagem à situação comunicativa, uma vez que o gênero entrevista requer o uso da norma padrão. B. apresenta argumentos carentes de comprovação científica e, por isso, defende um ponto de vista difícil de ser verificado na materialidade do texto. C. propõe que o padrão normativo deve ser usado por falantes escolarizados como ele, enquanto a norma coloquial deve ser usada por falantes não escolarizados. D. acredita que a língua genuinamente brasileira está em construção, o que o obriga a incorporar em seu cotidiano a gramática normativa do português europeu. E. defendeque a quantidade de falantes do português brasileiro ainda é insuficiente para acabar com a hegemonia do antigo colonizador Resolução Embora afirme que todas as línguas podem exprimir qualquer conteúdo, o autor logo restringe o alcance dessa afirmação, ao admitir que diferenças de vocabulário entre os idiomas podem impedir a expressão do que seja estranho ao léxico de determinada língua a não ser que tal léxico (e com ele o idioma) seja ampliado. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 23 Leia o texto: O léxico e a cultura Potencialmente, todas as línguas de todos os tempos podem candidatar-se a expressar qualquer conteúdo. A pesquisa linguística do século XX demonstrou que não há diferença qualitativa entre os idiomas do mundo — ou seja, não há idiomas gramaticalmente mais primitivos ou mais desenvolvidos. Entretanto, para que possa ser efetivamente utilizada, essa igualdade potencial precisa realizar-se na prática histórica do idioma, o que nem sempre acontece. Teoricamente, uma língua com pouca tradição escrita (como as línguas indígenas brasileiras) ou uma língua já extinta LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS (como o latim ou o grego clássicos) podem ser empregadas para falar sobre qualquer assunto, como, digamos, física quântica ou biologia molecular. Na prática, contudo, não é possível, de uma hora para outra, expressar tais conteúdos em camaiurá ou latim, simplesmente porque não haveria vocabulário próprio para esses conteúdos. É perfeitamente possível desenvolver esse vocabulário específico, seja por meio de empréstimos de outras línguas, seja por meio da criação de novos termos na língua em questão, mas tal tarefa não se realizaria em pouco tempo nem com pouco esforço. BEARZOTI FILHO, P. Miniaurélio: o dicionário da língua portuguesa. Manual do professor. Curitiba: Positivo, 2004 (fragmento). Estudos contemporâneos mostram que cada língua possui sua própria complexidade e dinâmica de funcionamento. O texto ressalta essa dinâmica, na medida em que enfatiza: A. a inexistência de conteúdo comum a todas as línguas, pois o léxico contempla visão de mundo particular específica de uma cultura. B. a existência de línguas limitadas por não permitirem ao falante nativo se comunicar perfeitamente a respeito de qualquer conteúdo. C. a tendência a serem mais restritos o vocabulário e a gramática de línguas indígenas, se comparados com outras línguas de origem europeia. D. a existência de diferenças vocabulares entre os idiomas, especificidades relacionadas à própria cultura dos falantes de uma comunidade. E. a atribuição de maior importância sociocultural às línguas contemporâneas, pois permitem que sejam abordadas quaisquer temáticas, sem dificuldades. Resolução Embora afirme que todas as línguas podem exprimir qualquer conteúdo, o autor logo restringe o alcance dessa afirmação, ao admitir que diferenças de vocabulário entre os idiomas podem impedir a expressão do que seja estranho ao léxico de determinada língua a não ser que tal léxico (e com ele o idioma) seja ampliado. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 24 Leia o texto: A substituição do haver por ter em construções existenciais, no português do Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da história da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na área semântica de “posse”, no final da fase arcaica. Mattos e Silva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergência de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidências, embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro, e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há mais perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma com a própria língua e dessa forma fazer uma LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS avaliação crítica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU, D. A propósito de norma, correção e preconceito linguístico: do presente para o passado. In: Cadernos de Letras da UFF, n. 36, 2008. Disponível em: www.uff.br. Acesso em: 26 fev. 2012 (adaptado). Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que: A. o estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. B. os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. C. a avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. D. a adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguísticos. E. os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguística. Resolução A comprovação da alternativa e está no trecho “Como se vê, nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua”. Questão 25 Lugar de mulher também é na oficina. Pelo menos nas oficinas dos cursos da área automotiva fornecidos pela Prefeitura, a presença feminina tem aumentado ano a ano. De cinco mulheres matriculadas em 2005, a quantidade saltou para 79 alunas inscritas neste ano nos cursos de mecânica automotiva, eletricidade veicular, injeção eletrônica, repintura e funilaria. A presença feminina nos cursos automotivos da Prefeitura — que são gratuitos — cresceu 1 480% nos últimos sete anos e tem aumentado ano a ano. Disponível em: www.correiodeuberlandia.com.br. Acesso em: 27 fev. 2012 (adaptado). Na produção de um texto, são feitas escolhas referentes a sua estrutura, que possibilitam inferir o objetivo do autor. Nesse sentido, no trecho apresentado, o enunciado “Lugar de mulher também é na oficina” corrobora o objetivo textual de: A. demonstrar que a situação das mulheres mudou na sociedade contemporânea. B. defender a participação da mulher na sociedade atual. C. comparar esse enunciado com outro: “lugar de mulher é na cozinha”. D. criticar a presença de mulheres nas oficinas dos cursos da área automotiva. E. distorcer o sentido da frase “lugar de mulher é na cozinha”. Resolução A referência ao lugar-comum tradicional “lugar de mulher é na cozinha” tem a função de “demonstrar que a situação das mulheres mudou na sociedade contemporânea”, em que as mulheres se dedicam a ofícios que antes lhes eram estranhos. _____________________________________________________________________________________________________ LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Questão 26 Observe o texto publicitário abaixo: Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 1 mar.2012. A publicidade, de uma forma geral, alia elementos verbais e imagéticos na constituição de seus textos. Nessa peça publicitária, cujo tema é a sustentabilidade, o autor procura convencer o leitor a: A. assumir uma atitude reflexiva diante dos fenômenos naturais. B. evitar o consumo excessivo de produtos reutilizáveis. C. aderir à onda sustentável, evitando o consumo excessivo. D. abraçar a campanha, desenvolvendo projetos sustentáveis. E. consumir produtos de modo responsável e ecológico. Resolução Obter a sacola retornável é consumir produtos de modo responsável e ecológico. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 27 Leia o texto: Aquele bêbado — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio. — Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos. ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma: A. metaforização do sentido literal do verbo “beber”. B. aproximação exagerada da estética abstracionista. C. apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem. D. exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”. E. citação aleatória de nomes de diferentes artistas. Resolução O verbo beber aparece em sentido conotativo em: “Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana (...) embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio”. Esse sentido metafórico de beber adquire um efeito irônico. Questão 28 Leia o trecho do poema: O trovador Sentimentos em mim do asperamente dos homens das primeiras eras... As primaveras do sarcasmo intermitentemente no meu coração arlequinal... Intermitentemente... Outras vezes é um doente, um frio na minha alma doente como um longo som redondo... Cantabona! Cantabona! Dlorom... Sou um tupi tangendo um alaúde! ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005. Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador , esse aspecto é A. abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade. B. verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas. C. lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9). D. problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago , de Oswald de Andrade. E. exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Resolução A questão da identidade nacional aparece na síntese de elementos opostos: tupi e alaúde. O primeiro remete ao elemento nativo do Brasil; o segundo, ao proveniente do estrangeiro. A proposta de assimilação crítica da cultura europeia aparece também no Manifesto Antropófago (1928), de Oswald de Andrade. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 29 Leia o texto: Entre ideia e tecnologia O grande conceito por trás do Museu da Língua é apresentar o idioma como algo vivo e fundamental para o entendimento do que é ser brasileiro. Se nada nos define com clareza, a forma como falamos o português nas mais diversas situações cotidianas é talvez a melhor expressão da brasilidade. SCARDOVELI, E. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento, Ano II, nº 6, 2006. O texto propõe uma reflexão acerca da língua portuguesa, ressaltando para o leitor a: A. inauguração do museu e o grande investimento em cultura no país. B. importância da língua para a construção da identidade nacional. C. afetividade tão comum ao brasileiro, retratada através da língua. D. relação entre o idioma e as políticas públicas na área de cultura. E. diversidade étnica e linguística existente no território nacional Resolução De acordo com o texto, um dos poucos (se não o único) meios de definir nossa identidade nacional é dado pela língua falada no dia a dia. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 30 Leia os textos a seguir: TEXTO I O Brasil sempre deu respostas rápidas através da solidariedade do seu povo. Mas a mesma força que nos motiva a ajudar o próximo deveria também nos motivar a ter atitudes cidadãs. Não podemos mais transferir a culpa para quem é vítima ou até mesmo para a própria natureza como se essa seguisse a lógica humana. Sobram desculpas esfarrapadas e falta competência da classe política. Cartas. Isto É. 28 abr. 2010. TEXTO II LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Não podemos negar ao povo sofrido todas as hipóteses de previsão dos desastres. Demagogos culpam os moradores; o governo e a prefeitura apelam para as pessoas saírem das áreas de risco e agora dizem que será compulsória a realocação. Então temos a realocar o Brasil inteiro! Criemos um serviço, similar ao SUS, com alocação obrigatória de recursos orçamentários com rede de atendimento preventivo, onde participariam arquitetos, engenheiros, geólogos. Bem ou mal, esse "SUS" organizaria brigadas nos locais. Nos casos da dengue, por exemplo, poderia verificar as condições de acontecer epidemias. Seriam boas ações preventivas. Carta do Leitor. Carta Capital. 28 abr. 2010 (adaptado). Os textos apresentados expressam opiniões de leitores acerca de relevante assunto para a sociedade brasileira. Os autores dos dois textos apontam para a: A. necessidade de trabalho voluntário contínuo para a resolução das mazelas sociais. B. importância de ações preventivas para evitar catástrofes, indevidamente atribuídas aos políticos. C. incapacidade política para agir de forma diligente na resolução das mazelas sociais. D. urgência de se criarem novos órgãos públicos com as mesmas características do SUS. E. impossibilidade de o homem agir de forma eficaz ou preventiva diante das ações da natureza. Resolução Ambos os textos apontam para a problemática de a classe política sempre culpar o outro ou a natureza quando o assunto são os desastres naturais. Dessa maneira, critica sua incapacidade de agir de forma responsável e de fazer planejamento. _____________________________________________________________________________________________________Questão 31 Disponível em: http://www.ccsp.com.br. Acesso em: 27 jul. 2010 (adaptado). O texto é uma propaganda de um adoçante que tem o seguinte mote: "Mude sua embalagem". A estratégia que o autor utiliza para o convencimento do leito baseia-se no emprego de recusos expressivos, verbais e não verbais, com vistas a: LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A. ridicularizar a forma física do possível cliente do produto anunciado, aconselhando-o a uma busca de mudanças estéticas. B. enfatizar a tendência da sociedade contemporânea de buscar hábitos alimentares saudáveis, reforçando tal postura. C. criticar o consumo excessivo de produtos industrializados por parte da população, propondo a redução desse consumo. D. associar o vocábulo "açúcar" à imagem do corpo fora de forma, sugerindo a substituição desse produto pelo adoçante. E. relacionar a imagem do saco de açúcar a um corpo humano que não desenvolve atividades físicas, incentivando a prática esportiva. Resolução Aqui, é importante notar a diferença das embalagens. A do açúcar parece um corpo fora de forma, na qual se salienta o abdome crescido e sem músculos; a do adoçante, um corpo magro, a ser moldado. Nesse sentido, pode-se inferir o objetivo da propaganda de associar um tipo de corpo a cada produto e embalagem, incentivando as pessoas a consumirem o adoçante. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 32 Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-se ao longo do território, seja numa relação de oposição, seja de complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos que configuram uma norma nacional distinta da do português europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as normas do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas também as chamadas normas cultas locais às populares ou vernáculas, deve-se insistir na ideia de que essas normas se consolidam em diferentes momentos da nossa história e que só a partir do século XVIII se pode começar a pensar na bifurcação das variantes continentais, ora em consequência de mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora ainda, em ambos os territórios. CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado). O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas estão sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o texto mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas socialmente, chamando a atenção do leitor para a: A. desconsideração da existência das normas populares pelos falantes da norma culta. B. difusão do português de Portugal em todas as regiões do Brasil só a partir do século XVIII. C. existência de usos da língua que caracterizam uma norma nacional do Brasil, distinta da de Portugal. D. inexistência de normas cultas locais e populares ou vernáculas em um determinado país. E. necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes de uma língua devem ser aceitos. Resolução LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Ao dizer que podem se opor ambas as normas cultas do Brasil e de Portugal, infere-se a existência de normas distintas nos diferentes países. Questão 33 VERÍSSIMO, L. F. As cobras em: Se Deus existe que eu seja atingido por um raio. Porto Alegre: L&PM, 1997. O humor da tira decorre da reação de uma das cobras com relação ao uso de pronome pessoal reto, em vez de pronome oblíquo. De acordo com a norma padrão da língua, esse uso é inadequado, pois: A. contraria o uso previsto para o registro oral da língua. B. contraria a marcação das funções sintáticas de sujeito e objeto. C. gera inadequação na concordância com o verbo. D. gera ambiguidade na leitura do texto. E. apresenta dupla marcação de sujeito. Resolução De acordo com a norma padrão da língua, o pronome "eles" exerce somente papel se sujeito; para o papel de objeto, usa-se o pronome oblíquo -lo. ____________________________________________________________________________________________________ Questão 34 Leia o texto: MANDIOCA - mais um presente da Amazônia Aipim, castelinha, macaxeira, maniva, maniveira . As designações da Manihot utilissima podem variar de região, no Brasil, mas uma delas deve ser levada em conta em todo o território nacional: pão-de-pobre - e por motivos óbvios. Rica em fécula, a mandioca — uma planta rústica e nativa da Amazônia disseminada no mundo inteiro, especialmente pelos colonizadores portugueses — é a base de sustento de muitos brasileiros e o único alimento disponível para mais de 600 milhões de pessoas em vários pontos do planeta, e em particular em algumas regiões da África. O melhor do Globo Rural. Fev. 2005 (fragmento). LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS De acordo com o texto, há no Brasil uma variedade de nomes para a Manihot utilissima , nome científico da mandioca. Esse fenômeno revela que: A. existem variedades regionais para nomear uma mesma espécie de planta. B. mandioca é nome específico para a espécie existente na região amazônica. C. "pão-de-pobre" é designação específica para a planta da região amazônica. D. os nomes designam espécies diferentes da planta, conforme a região. E. a planta é nomeada conforme as particularidades que apresenta. Resolução O fenômeno de dar vários nomes ao mesmo referente é fruto das variedades linguísticas regionais. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 35 Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita, que, a depender do estrato social e do nível de escolaridade do falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até mesmo em falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade, revelam tendências existentes na língua em seu processo de mudança que não podem ser bloqueadoas em nome de um "ideal linguístico" que estaria representado pelas regras da gramática normativa. Usos como ter por haver em construções existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome objeto na posição de sujeito (para mim fazer trabalho), a não-concordância das passivas com se (aluga-se casas) são indícios da existência, não de uma norma única, mas de uma pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como conjunto de hábitos linguísticos, sem implicar juízo de valor. CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento). Considerando a reflexão trazida no texto a respeito da multiplicidade do discurso, verifica-se que: A. estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar um texto escrito. B. falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos que confirmam a diferença entre a norma idealizadae a efetivamente praticada, mesmo por falantes mais escolarizados. C. moradores de diversas regiões do país que enfrentam dificuldades ao se expressar na escrita revelam a constante modificação das regras de emprego de pronomes e os casos especiais de concordância. D. pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam de apresentar usos não aceitos socialmente para esconderem seu desconhecimento da norma padrão. E. usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da língua portuguesa empregam formas do verbo ter quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo haver , contrariando as regras gramaticais. Resolução LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Em resumo, o texto diz que mesmo os falantes mais cultos de um idioma apresentam em sua fala uma variedade de usos, o que aponta não para uma única norma, mas para várias. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 36 Leia o texto: Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. LISPECTOR, C. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. A autora emprega por duas vezes o conectivo mas no fragmento apresentado. Observando aspectos da organização, estruturação e funcionalidade dos elementos que articulam o texto, o conectivo mas: A. expressa o mesmo conteúdo nas duas situações em que aparece no texto. B. quebra a fluidez do texto e prejudica a compreensão, se usado no início da frase. C. ocupa posição fixa, sendo inadequado seu uso na abertura da frase. D. contém uma ideia de sequência temporal que direciona a conclusão do leitor. E. assume funções discursivas distintas nos dois contextos de uso. Resolução O primeiro mas tem valor aditivo; o segundo, opositivo. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 37 Capítulo III Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a bandeja, - primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu, demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que ele queria pôr na sala, como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um francês, Jean; foi degradado a outros serviços. ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento). LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside: A. no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a essência. B. no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos imigrantes. C. na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião. D. na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade dos bens produzidos pelo trabalho. E. na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia. Resolução Aquilo que se reflete na dualidade essência/aparência é tema da literatura universal, caracterizando, assim, o estilo universalizante do trecho de Quincas Borba. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 38 Leia com atenção o trecho do texto a seguir: Negrinha Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças. Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora em suma - "dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral", dizia o reverendo. Ótima, a dona Inácia. Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. [... ] A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos - e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo - essa indecência de negro igual. LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 (fragmento). A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, no contexto, pela: A. falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS B. receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. C. ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. D. resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. E. rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos. Resolução A contradição aqui se dá na resistência da senhora em aceitar a igualdade civil dos negros em relação aos brancos, mesmo vivendo no Regime Novo, época após a abolição da escravatura no Brasil. Questão 39 Leia a imagem e o trecho do texto abaixo: ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” (1610-1666). Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 jul. 2009. A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago.2009. Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que: LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS A. ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. B. o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. C. a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. D. o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e a cultura indígena. E. há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica. Resolução Ambos texto e pintura representam a figura do índio, que seriam colonizados pelas forças europeias. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 40 Leia: Choque a 36 000 km/h A faixa que vai de 160 quilômetros de altitude em volta da terra assemelha-se a uma avenida congestionada onde orbitam 3 000 satélites ativos. Eles disputam espaço com 17 000 fragmentos de artefatos lançados pela Terra e que se desmancharam - foguetes, satélites desativados e até ferramentas perdidas por astronautas. Com um tráfego celeste tão intenso, era questão de tempo para que acontecesse um acidente de grandes proporções, como o da semana passada. Na terça-feira, dois satélites em órbita desde os anos 90 colidiram em um ponto 790 quilômetros acima da Sibéria. A trombada dos satélites chama a atenção para os riscos que oferece a montanha de lixo espacial em órbita. Como os objetos viajam a grande velocidade, mesmo um pequeno fragmento de 10 centímetros poderia causar estragos consideráveis no telescópio Hubble ou na estação espacial Intemacional - nesse caso pondo em risco a vida dos astronautas que lá trabalham. Revista Veja. 18 set. 2009 (adaptado). Levando-se em consideração os elementos constitutivos de um texto jornalístico, infere-se que o autor teve como objetivo: A. exaltar o emprego da linguagem figurada. B. criar suspense e despertar temor no leitor. C. influenciar a opinião dos leitores sobre o tema, com as marcas argumentativas de seu posicionamento. D. induzir o leitor a pensar que os satélites artificiais representam um grande perigo para toda a humanidade. E. exercitar a ironia ao empregar "avenida congestionada"; "tráfego celeste tão intenso"; "montanha de lixo". Resolução LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Como artigo retirado de revista e que utiliza adjetivação e comentários pessoais a respeito dos acontecimentos, o articulista tem como objetivo influenciar o leitor a seguir sua opinião. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 41 Leia: A carreira do crime Estudo feito por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz sobre adolescentes recrutados pelo tráfico de drogas nas favelas cariocas expõe as bases sociais dessas quadrilhas, contribuindo para explicar as dificuldades que o Estado enfrenta no combate ao crime organizado. O tráfico oferece aos jovens de escolaridade precária (nenhum dos entrevistados havia completado o ensino fundamental) um plano de carreira bem estruturado, com salários que variam de R$ 400,00 a R$ 12.000 mensais. Para uma base de comparação, convém notar que, segundo dados do IBGE de 2001, 59% da população brasileira com mais de dez anos que declara ter uma atividade remunerada ganha no máximo o 'piso salarial' oferecido pelo crime. Dos traficantes ouvidos pela pesquisa, 25% recebiam mais de R$ 2.000 mensais; já na população brasileira essa taxa nao ultrapassa 6%. Tais rendimentos mostram que as políticas sociais compensatórias, como o Bolsa-Escola (que paga R$ 15 mensais por aluno matriculado), são por si só incapazes de impedir que o narcotráfico continue aliciando crianças provenientes de estratos de baixa renda: tais políticas aliviam um pouco o orçamento familiar e incentivam os pais a manterem os filhos estudando, o que de modo algum impossibilita a opção pela deliquência. No mesmo sentido, os programas voltados aos jovens vulneráveis ao crime organizado (circo-escolas, oficinas de cultura, escolinhas de futebol) são importantes, mas não resolvem o problema. A única maneira de reduzir a atração exercida pelo tráfico é a repressão, que aumenta os riscos para os que escolhem esse caminho. Os rendimentos pagos aos adolescentes provam isso: eles são elevados precisamente porque a possibilidade de ser preso não é desprezível. É preciso que o Executivo federal e os estaduais desmontem as organizações paralelas erguidas pelas quadrilhas, para que a certeza de punição elimine o fascínio dos salários do crime. Editorial. Folha de São Paulo. 15 jan, 2003 Com base nos argumentos do autor, o texto aponta para: A. uma denúncia de quadrilhas que se organizam em torno do narcotráfico. B. a constatação de que o narcotráfico restringe-se aos centros urbanos. C. a informação de que as políticas sociais compensatórias eliminarão a atividade criminosa a longo prazo. D. o convencimento do leitor de que para haver a superação do problema do narcotráfico é preciso aumentar a ação policial. E. uma exposição numérica realizada com o fim de mostrar que o negócio do narcotráfico é vantajoso e sem riscos. Resolução LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS Ao argumentar que as políticas sociais não dão conta de retirar as crianças das ruas e do perigo do narcotráfico, o articulista argumenta a favor do aumento do número de policiais, que reprimiriam o crime organizado. _____________________________________________________________________________________________________ Questão 42 Leia: Venho solicitar a clarividente atenção de Vossa Excelência para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, senhor presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar este esporte violento sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas, devido à natureza que dispôs a ser mãe. Ao que dizem os jornais, no Rio de Janeiro, já estão formados nada menos de dez quadros femininos. Em São Paulo e Belo Horizonte também já estão se constituindo outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que em todo o Brasil estejam organizados uns 200 clubes femininos de futebol: ou seja: 200 núcleos destroçados da saúde de 2,2 mil futuras mães, que, além do mais, ficarão presas a uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes. Coluna Pênalti. Carta Capital. 28 abr. 2010. O trecho é parte de uma carta de um cidadão brasileiro, José Fuzeira, encaminhada,
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